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A IDEOLOGIA DA RACIONALIDADE
TECNOLÓGICA: a educação no ensino superior como
(semi)formação para o mercado de trabalho
Taubaté – SP
2007
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Carlos Eduardo Ramos
A IDEOLOGIA DA RACIONALIDADE
TECNOLÓGICA: a educação no ensino superior como
(semi)formação para o mercado de trabalho
Taubaté – SP
2007
CARLOS EDUARDO RAMOS
Data: _______________________________
Resultado:___________________________
BANCA EXAMINADORA
Assinatura____________________________
Assinatura____________________________
Assinatura____________________________
Assinatura____________________________
Assinatura____________________________
R175i Ramos, Carlos Eduardo
A ideologia da racionalidade tecnológica: a educação no
Ensino superior como (semi)formação para o mercado de
trabalho./Carlos Eduardo Ramos.- 2008.
52f.
Este trabalho tem como objetivo discutir algumas questões relativas ao ensino superior no
Brasil, em especial a utilização do sistema apostilado de ensino em sala de aula. As principais
questões levantadas foram: quais os fatores socioeconômicos e políticos que levaram este
sistema a ser valorizado; quais as teorias que fundamentam e legitimam a utilização deste
sistema de ensino; e quais as conseqüências que este sistema pode trazer para a constituição
do indivíduo e para o desenvolvimento da sociedade. Para responder a essas questões,
recorremos a conceitos desenvolvidos pelos teóricos da escola de Frankfurt, mais
especificamente Horkheimer e Adorno, que trabalharam, na obra “Dialética do
Esclarecimento”, o conceito de Indústria Cultural, de Semiformação e de Ideologia da
Racionalidade Tecnológica. A compreensão destes conceitos pode contribuir para elucidar os
questionamentos supracitados, quando auxiliados pela contextualização histórica e uma
análise crítica da sociedade e das Instituições escolares.
ABSTRACT
This study intends to discuss some issues relating to College education in Brazil, in particular
the use of the booklet learnship system in the classroom. The main issues studied were: what
are the socioeconomic and political factors that led the system to be valorized; which theories
that support and legitimize the use of this educational system, and what are the consequences
that this system can bring to the constitution of the individual and to society’s development.
To answer these questions, concepts developed by theorists of the Frankfurt School were
used, more specifically Horkheimer’s and Adorno’s, who, in the book "Dialectic of
Enlightenment" the concept of Cultural Industry, Semi-formation and Ideology of
Technological Rationality. The understanding of these concepts can help to elucidate the
questions above, when assisted by historical contextualization and a critical analysis of the
society and school’s institutions.
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................................... 6
Referências Bibliográficas........................................................................................................ 50
6
1. Introdução
decisão tomada pelas instituições escolares de aderir a esse discurso interfere diretamente na
formação pessoal e profissional dos alunos. Ao optarem pela imposição deste discurso e deste
emancipatório.
atua na contemporaneidade. Como afirma Zuin (1992), tanto a produção de bens quanto a
produção cultural se encontram em sua maioria nas mãos de empresas ou do próprio Estado, e
a educação não se exclui desta produção. Para melhor compreender os motivos que
conceitos serão discutidos nesse trabalho na medida em que apresentamos algumas questões
que serviram de base para a visão de homem e de sociedade que possuímos hoje, verificar
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compreender como esse pensamento atua em algumas universidades que se utilizam deste
O método empregado nesta pesquisa foi o bibliográfico, pois segundo Gil, permite a
“cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla” [...] com o objetivo do
delineamento o trabalho foi estruturado em capítulos, sendo que o primeiro capítulo busca a
uma relação entre os rumos da sociedade brasileira no século XX, os rumos tomados pela
educação brasileira no século XX e sua relação com o mundo do trabalho. O terceiro capítulo
acerca do tema.
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constatar que, cada vez mais, a sociedade está sendo consumida por um processo de
decadência que vai desde a aprendizagem escolar até o mundo do trabalho. Este processo,
determinado por fatores que envolvem a submissão do conhecimento científico pela lógica do
capital, já foi objeto de estudo dos teóricos da Escola de Frankfurt, mais especificamente
ciência, e já no prefácio da obra, tecem críticas severas à noção de ciência estabelecida pela
filosofia, acusando-a de que, “[...] na atividade científica moderna, o preço das grandes
invenções é a ruína progressiva da cultura teórica” (2006, p. 11). O movimento que se iniciou
conseqüências não apenas no âmbito da pesquisa científica, mas para toda a estrutura da
sociedade. No momento em que trouxeram, cada um a sua maneira, uma proposta de controle
da natureza e da sociedade pela ciência, o pensamento desses autores serviu como justificativa
para impulsionar o sistema capitalista, e por conseqüência, definir as diretrizes para uma
(2005) reforça a afirmação de que a filosofia de René Descartes foi um marco para a filosofia,
pois seu pensamento serviu como ponto de referência para trazer ordem e soluções para as
que, como afirma Figueiredo (2000), conduziram a sociedade da época a uma perda de
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referências coletivas, tais como religião, família e leis. Tais crises obrigaram o homem a
construir referências internas para se reorganizar, e desta tarefa se ocupou Descartes, que com
sua intenção era submeter toda e qualquer idéia, impressão ou crença a uma
dúvida metódica: as idéias erradas seriam descartadas; as incertas seriam
igualmente descartadas, ao menos provisoriamente; somente idéias
absolutamente claras e distintas poderiam ser consideradas verdadeiras e
servir de base para a filosofia e as ciências (2000, p.29).
Este modo de pensar conduz Descartes a sua primeira realidade. O ato de pensar revela
a existência de algo que pensa. Esse algo é nada mais do que aquele que pensa. Assim,
Descartes chega a sua primeira verdade: Cogito ergo Sum (Penso, logo existo). A dúvida em
si mesma demonstra a existência do duvidador, sendo que, de outra maneira, nem a própria
Valendo-se dos princípios metafísicos, Descartes apresentou uma visão de homem que
definirão o homem, sendo a alma responsável pelo ato de pensar e produzir conhecimento, e o
corpo será compreendido como qualquer corpo existente na natureza: pelas leis da mecânica e
da extensão, pois pode ser medido e dividido. Segundo Ramos (2005), Descartes afirma que o
tudo corre bem, mas se algo está fora de lugar, todo o mecanismo fica desajustado. A força da
visão de homem proposta por Descartes e sua influência no pensamento científico podem ser
verificados tomando como exemplo os avanços da medicina nos últimos séculos: quando uma
Por meio de um transplante renal, é possível a substituição dos “rins doentes” por um rim
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saudável de um doador. Portanto, substitui-se a engrenagem defeituosa (no caso, o rim) por
uma em melhores condições, e dessa forma, o relógio volta funcionar perfeitamente. Essa
visão foi de extrema importância para o desenvolvimento do homem no período em que viveu
Descartes, mas sua extrema generalização acarretou problemas em diversas esferas da vida do
investigação que será utilizado por séculos como base do pensamento científico e inspiração
para novos métodos. Descartes elaborou em sua obra denominada “Discurso do Método”, de
coisas, para o encontro das verdades indubitáveis, visto que sem ele, “[...] o dedicar-se ao
estudo das ciências [...] há de ser mais prejudicial que proveitoso” (DESCARTES, 2002, p.
81).
método – tiveram forte impacto na constituição da ciência e do homem moderno, mas foi no
11
auge do iluminismo, que a noção de ciência foi transformada por pensadores de uma corrente
sobre o inatismo das idéias. O inglês Thomas Hobbes, que teve contato com o pensamento
pensamento é uma representação de um objeto real, que atuou sobre o indivíduo pelos órgãos
dos sentidos, e qualquer concepção elaborada pelo homem se dá pelas sensações que
Descartes, mas desta vez contrapondo-se à visão inatista sobre a origem do pensamento. John
Locke apresentou a noção de todos os conceitos que possuímos são adquiridos pela
efeito, aquele que erradamente crê na existência de idéias inatas tomará como verdades
absolutas e universais suas opiniões que apenas são o reflexo e os costumes de suas
experiências particulares” (HUISMAN & VERGEZ Apud RAMOS, 2005, p. 27). Como para
Locke não existem idéias inatas, formula a teoria da tábula rasa, em que nascemos como uma
folha em branco, e esta é preenchida durante toda a vida pelas sensações ou pela reflexão.
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Essa visão de homem será de extrema importância, pois já que considera todos os homens
visão de homem do período iluminista, mas será Francis Bacon aquele que relacionará a
importância da ciência ao progresso humano. Segundo Pereira (1994), Bacon acreditava que a
máximo controle possível sobre a natureza, e para isso, propõe o método experimental de
investigação, que, ao contrário do método intuitivo proposto por Descartes, seria chamado de
principalmente a aplicação prática da ciência. Este método, que se caracteriza como uma
fusão entre o racionalismo cartesiano e o empirismo [...] conduzirá a ciência a uma busca
Quando Bacon, com seu espírito científico incorporado a sua visão de mundo, dá ao
tecnológico1, ele abre as portas para o início do pensamento que culminaria na Revolução
Industrial. Seu pensamento então será importante não apenas para os empiristas, mas
apresenta a estrutura que será aproveitada por Augusto Comte no século XIX.
circunspecto que garanta o acesso adequado aos fenômenos observados. A partir disso busca-
1
Bacon escreveu um livro intitulado “A nova Atlântida”, onde descreve de maneira profética o futuro da
sociedade organizada técnica e racionalmente.
13
se suas relações de concomitância e sucessão, ou seja, suas leis” (RAMOS, 2005, p. 39).
Dessa forma, Comte visa obter máximo controle dos fenômenos estudados para possibilitar a
a noção daquilo que é útil para o homem. A partir da lei dos três estados, Comte propõe a
sociedade. Tanto a filosofia como as ciências, em seu desenvolvimento, passaram pelos três
Comte acreditava que todas as ciências passavam pelos três estados, e quanto mais
simples e geral fosse, mais rapidamente entraria no estado positivo. Todas as ciências,
inclusive a sociologia caminharam por esses três estados. Seu principal argumento sobre sua
crença nos três estados era de que é da natureza do espírito humano submeter-se a esses
estados, ou seja, é da natureza do homem marchar por esses estados primitivos até alcançar o
[ciências] que a precedem [...] porque significa o ponto de partida da moral, da política e da
No momento em que o rigor científico passou a ser utilizado nas ciências humanas,
iniciou-se um processo de negação do homem, que pode ser verificado por exemplo, com o
progressivo daquilo que há de humano no homem” (JAPIASSU, 1975, p. 138). A ciência tal
como se desenvolveu, conseguiu, como pretendia Bacon, conquistar e dominar o mundo, mas
mesma maneira que nos entregamos a ela, presenciamos a ascensão de técnicas alternativas de
são responsáveis pelas contradições listadas acima. Como resultado temos o encantamento
A crença ingênua de que a ciência tem a capacidade para conhecer todas as coisas, e
conceder a ela permissão para tomar para si a função outrora exercida pelos mitos e religiões,
ciência, naquilo em que se tornou e com todo seu esforço para desmistificar o mundo, acaba
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contrário. Como o próprio Bacon afirmou uma vez: “os homens passarão e a ciência
dados empíricos para a pedagogia no Brasil. Também pretendemos desvelar a relação que se
que maneira a escola assumiu como prioridade o papel de preparar o indivíduo para o
Durkheim, que herdou parte do positivismo de Comte e também de uma corrente sociológica
tem o papel de expor o indivíduo ao pensamento científico, conduzindo-o a uma visão mais
racional do mundo, e também prepará-lo para a transição da vida familiar para a esfera do
trabalho. Atrelada a esse papel da escola, está a “[...] crença na igualdade de oportunidades,
mesma metodologia científica presente nas ciências naturais, instalando assim, “[...] a versão
positivista de ciência no seio dos estudos do homem em suas relações com os outros homens”
(PATTO, 1984, p. 17). Durkheim aceitava a divisão social do trabalho, e tal divisão
trabalho para Durkheim é “[...] aumentar a força produtiva e a habilidade do trabalhador: sua
um fato social positivo e benéfico que vem integrar o corpo social, assegurar sua unidade e
como uma certa homogeneidade, elementos comuns tais como símbolos religiosos. Cita o
ideal que constitui a base da educação, tanto para os ricos quanto para os pobres, que tem
desconsiderar as aptidões individuais, critério estabelecido por ele como a base das
desigualdades sociais. Há sempre uma série de conceitos que devem ser inculcados para todas
as crianças, independente de sua classe social, mas ao mesmo tempo, pelas aptidões
individuais (capacidade biológica), define-se que sempre existem diversas funções a serem
preenchidas, portanto o trabalho – braçal ou intelectual – deverá ser ocupado por alguém.
“Nem todos somos feitos para refletir; e será preciso que haja sempre homens de sensibilidade
e homens de ação” (DURKHEIM Apud PATTO, 1984, p. 20). Com as idéias expostas acima,
ambição como maneiras justas para a ascensão social. Como afirma Patto (1984), a mola
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apresenta certa ambigüidade, já que ele apresenta os problemas de uma sociedade baseada em
classes sociais, com divisão do trabalho intelectual e braçal defendido por Durkheim, mas
como afirma Patto (1984) não faz qualquer referência às causas estruturais desses problemas,
no caso, a dimensão política e econômica. Afirma que a escola até este ponto tinha servido
para perpetuar as tradições em benefício de uma minoria, preparar uma camada da população
para o trabalho braçal, ou seja, perpetuar a ordem social ao invés de instaurar uma verdadeira
democracia. Para alcançar um estado democrático, deve-se iniciar uma revolução pela
escolanovista.
A educação para Dewey é considerada “[...] uma instância social positiva, que deve
1984, p. 25), ou seja, alguém que utiliza suas faculdades individuais inatas em ocupações que
à eficiência social, e a sociedade democrática deve preparar “[...] todos os seus membros para
suas instituições por meio da interação das diversas formas da vida associada” (DEWEY
Apud PATTO, 1984, p. 25). Os membros da sociedade que desenvolvem o melhor de si, para
Dewey, só podem ser produzidos por meio de uma educação democrática. Com sua doutrina
brasileiro.
não apenas na política, mas também nos movimentos culturais do modernismo no Brasil,
19
como na música2 e na literatura3. Serão os ideais dos modernistas da década de 20 que abrirão
espaço para uma cultura política estadonovista na década de 30. O período que corresponde a
1918 até 1930 foi considerado, como afirma Ribeiro (1991), o declínio das oligarquias. As
objetiva a insatisfação dos setores de classe dominada” (RIBEIRO, 1991, p. 87). Neste
por Jorge Nagle como entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico, típicos do
movimento escolanovista:
escolares e com uma reforma nas doutrinas de escolarização, poderiam abraçar grandes
camadas da população, e por meio da educação, alcançar o progresso. Tais reformas incluíam,
como afirma Ribeiro (1991) a implantação da “escola primária integral”, que visava exercitar
2
Como representantes do nacionalismo na música podemos citar Camargo Guarnieri e Francisco Mignone.
3
Na literatura o grande representante do modernismo que utilizou temas como desenvolvimento, progresso e
superação do atraso nacional foi Mário de Andrade, autor de “Macunaíma”.
20
das idéias liberais de Dewey, o movimento escolanovista também contou com o auxílio da
psicologia, que viu na educação uma brecha para se inserir como ciência no Brasil. Como
psicológico da criança, influência dos pais no desenvolvimento dos filhos, motivação, o papel
conhecimento era produto da experiência. Portanto, tais questões que só viriam a ser tratadas
pela psicologia científica no final do século XIX já estavam presentes no período colonial,
mas com o movimento escolanovista na década de 20, essas idéias adquirem grande força nas
questões educacionais.
foram mais facilmente encontradas, pois havia uma preocupação com a formação de
professores, e com isso, uma preocupação com “[...] as relações entre processos pedagógicos
educação nesse período são, segundo Patto (1984) a criação do primeiro laboratório de
Lourenço Filho com o teste ABC de maturidade durante o governo Vargas, em 1927; e a
posse da direção da educação em São Paulo por Lourenço Filho em 1931, que realizou
diversas mudanças no ensino, visando torná-lo mais racional. Antunes (2003) ressalta que os
ensino da Psicologia, a grande contribuição partiu das Escolas Normais, onde eram
as práticas pedagógicas. A psicologia, por sua vez, de acordo com Patto (1984), afirma que a
metodologia da psicologia científica é claramente positivista: “[...] para melhor cumprir com
argumentos de que uma economia cujo centro é a agricultura de exportação não oferece
relação à economia externa deveria ser rompida. Dessa forma, como afirma Ribeiro “[...] a
estimulação do setor industrial brasileiro aparece como solução desses dois problemas” (1991,
p. 92). Entretanto, surge um conflito entre dois grupos da classe dominante, os ligados à
supremacia dos setores desligados à exportação, o que fornece as bases para o início do
importações.
do Manifesto dos pioneiros da Educação Nova. Entre as mudanças ocorridas neste período,
duas etapas: a primeira com duração de cinco anos e a segunda, que visava a adaptação dos
indefinição do governo levam a uma situação chamada por Ribeiro (1991) de “conflito de
idéias”, em que foram realizados congressos e conferências sobre a educação. O conflito era
uma educação atrelada à igreja católica e à família, com separação dos gêneros masculino e
pública, etc. A única concordância que havia entre as duas correntes de educadores era “[...]
combater o princípio de monopólio pelo Estado, colocando-se assim, diziam eles, contra as
100). Com o manifesto, os escolanovistas propõe uma visão de homem condizente com a
sociedade capitalista, onde o ser humano poderia se desenvolver de maneira democrática, mas
assim como Dewey, esquecem-se de que a sociedade ainda encontra-se dividida entre os que
detêm os meios de produção e aqueles que são dominados, e o ocultamento dessa condição
Com o golpe de 1937, Getúlio Vargas toma o poder e as atividades políticas são
populistas de política de massas acabam por “[...] promover as condições sociais favoráveis a
nacionais de educação popular” (BEISIEGEL Apud PATTO, 1984, p. 56). O Estado Novo
acabou por paralisar a luta dos escolanovistas, acusados de comunistas pelos educadores
católicos, e não resistem ao fato de que a educação neste momento gira em torno dos
interesses da indústria, que não prescinde de mão-de-obra qualificada. Como afirma Patto
escola primária em ler e escrever, regulamenta-se as escolas técnicas e vocacionais, etc. Essa
reforma atendia as necessidades educacionais das camadas mais baixas da população, mas no
entanto, tais medidas são populistas, pois o povo não participa efetivamente do processo.
Segundo Patto (1984), com a criação do SENAI e do SENAC em 1942, oficializa-se o projeto
educacional elaborado por Durkheim que divide a sociedade entre trabalho braçal e
intelectual.
O governo Dutra será visto por Ribeiro (1991) como um recuo, já que este era aliado
educacionais. O ensino primário se torna gratuito para todos, e o ensino oficial também, caso
seja provado falta ou insuficiência de recursos; o ensino religioso torna-se matéria facultativa
Vargas acusa Dutra de ter sido favorável ao capital estrangeiro, contrariando o modelo de
substituição das importações, e em sua campanha propõe uma luta contra o imperialismo em
o que, segundo Patto (1984) vai reatar os laços de dependência do Brasil – país capitalista
dependente – com outros países mais desenvolvidos. Neste período, o modelo de substituição
garante que “[...] o projeto nacionalista fique apenas na intenção” (PATTO, 1984, p. 60). A
entrada desse capital estrangeiro foi considerada imprescindível para a realização do projeto
educação.
encontra-se completamente desfigurado. A ênfase que foi dada ao ensino público gratuito é
protestos, a lei é aprovada, o que garante a sobrevivência das escolas particulares com
Como a LDB abre as portas ao ensino particular, este setor vai atuar em diversas áreas
particular como modelo de salvação para a ascensão social, isso somado à uma simplificação
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ainda maior do currículo, com cursos de baixo nível e na maioria das vezes, noturnos. O
problema, segundo Patto (1984) se manifesta duplamente para manter a diferença entre
classes sociais: as classes mais baixas possuem um diploma que lhes permite a entrada na
faculdade, mas ao mesmo tempo que impede o oprimido de competir com os jovens da classe
O período que compreende os governos militares após o golpe de 1964, foi marcado
pelo autoritarismo na política, por um regime político cuja principal função era o domínio. No
dia seguinte ao golpe, começaram as prisões e perseguições, e como afirma Ribeiro (1991) no
final de 1964 já havia cerca de 50 mil presos políticos no país. Foram criados os Atos
Institucionais no governo Castelo Branco (1964-1967), que davam direito de cassar mandatos
e suspender direitos políticos (AI-1); eliminar as eleições diretas para presidente e governador
e acabar com os partidos políticos (AI-2); estabelecer normas para eleições municipais (AI-3);
novo presidente, Costa e Silva (1967-1969) era dar continuidade ao terror político, como
De fato, o terror político apresentará como objetivo principal o terror econômico, que
se caracterizou não apenas por facilitar a entrada do capital estrangeiro no país, mas por
American Foreign Power, que se resumia em bens totalmente obsoletos, foi instalada a
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inflação, tivemos aumento nos impostos, restrição de crédito bancário, arrocho salarial e, com
isso, a proibição do direito de greve e o fim da estabilidade no emprego, com a lei do FGTS.
atinge índices assustadores, e o Estado se transforma numa ferramenta política para consolidar
o modelo econômico de monopólio capitalista. Patto (1984), afirma que a sociedade política
toma controle da sociedade civil, e para disseminar sua ideologia, apropria-se dos sindicatos,
dos meios de comunicação em massa (com destaque para a TV Globo), e principalmente, das
consenso. Para legitimar todas as mudanças ocorridas neste período, o Estado tomou medidas
professores e alunos que não eram favoráveis ao regime, com o objetivo de eliminar o
potencial crítico da educação, e devido à escassez de verbas para a educação pública, pois
Plano Nacional de Alfabetização é extinto em 1964, já que muitos membros dos grupos
27
profissionalizante.
particulares para outras áreas, pois como afirma Patto (1984) como o ensino médio se tornou
O papel do Estado neste período foi agir como mediador dos interesses das classes
Brasil era concebida até então como um bem de consumo de luxo, ao qual somente uma
minoria tinha acesso fácil, a educação agora precisa ser consumida por todos para que se torne
um capital que, devidamente investido, produzirá lucro social e individual” (PATTO, 1984, p.
72). Em síntese, o regime militar trouxe, além das multinacionais e da acentuação da divisão
Da mesma maneira que o cinema e o rádio deixam de lado a arte para se apresentar
como um mero negócio, as escolas, tanto do ensino fundamental e médio quanto do ensino
voltada para uma consciência crítica, e se preparam para a venda de um novo produto – o
conhecimento.
felicidade, e o discurso sobre a mercadoria é sempre sedutor, pois a indústria evoca os desejos
que ela mesma pretende aplacar. Como afirma Zuin: “tal qual o canto de uma sereia, a
Indústria Cultural seduz os indivíduos com estímulos eróticos associados aos produtos
22). Tanto a sereia do mito quanto a Indústria Cultural trazem promessas de satisfação, mas
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não cumprem. E da mesma forma que os marinheiros do mito são engolfados pelo canto da
sereia e mergulham para a morte imediata, como afirma Zuin (1992), a Indústria Cultural
perceber que o modelo tido como “moderno” passa a ser copiado, e se os cursos preparatórios,
com seu método eficiente para preparar o aluno para o vestibular fazem uso de apostilas para
que o aluno memorize o conteúdo das disciplinas, este mesmo método é transposto para o
ensino universitário, com a justificativa de ensinar o conteúdo necessário para que o aluno
esteja preparado para o mundo do trabalho. Como afirma Sobreira, merece ser citado o
modelo da “[...] escola particular, que atua como poderoso fetiche em nossa sociedade,
absolutamente colonizada pela indústria cultural” (2004, p. 166). Dessa maneira, outras
instituições acabam desejando aquilo que as consideradas “boas escolas” possuem, inclusive a
problema da Indústria Cultural em nossa sociedade já foi previsto por Horkheimer e Adorno
para a simples absorção daquilo que será útil (no mesmo sentido que Bacon atribuiu à
detrimento do conteúdo.
desejos que nunca serão concretizados. As promessas de que ao sair da faculdade, somando o
área, apenas servem para iludi-los, pois em nenhum momento podem discutir a real situação
estrutural do capitalismo” (MEIRA, 2003, p. 15), já que uma reflexão mais aprofundada
prometido é uma educação que prepare o indivíduo para o mercado de trabalho, garantindo
ensino, como exemplo, geralmente incluem materiais didáticos modernos, tais como apostilas,
softwares, portais de educação na internet e a agenda do aluno, para que ele possa saber seu
desempenho online. É óbvio o discurso de modernização presente na fala acima, que torna
sedutora a aquisição de tal material. Diariamente somos bombardeados por esse discurso
modernizador, mas essas novas tecnologias educacionais tendem a reforçar uma aproximação
Ensinar a partir de softwares pode parecer atrativo, mas na verdade, o aluno estará
lidando com um simulacro da realidade, e não se confrontando com a situação real. Quando
aceitamos fazer parte de uma organização racional da sociedade, que pretende ampliar-se para
tentativa de manutenção dessa ordem social vigente, que é a capitalista, e tal manutenção
31
trabalho, ou seja, está diretamente ligada ao pensamento capitalista, e somado a isso podemos
citar “a propaganda envolvendo esse tipo de material pedagógico [apostilas] e a força dos
slogans produzidos [que] unificam idéias e atitudes-chave para o sucesso deste modelo”
(MOTTA, 2001, p. 82). Os responsáveis por esse discurso e pela organização fragmentada do
ensino são – como já atestamos durante toda a história da educação no Brasil – as camadas
dominantes que visam apenas atender aos objetivos do capital. A sociedade então é
ensino se tornou sinônimo de automatizar o campo da educação, tal como ocorre nas esteiras
de uma indústria automobilística, e a apostila é um dos resultados desse erro. Como afirma
atualmente, tem como um de seus principais objetivos o consumo. Sem este, não há
sua ideologia. Como afirmam Horkheimer e Adorno (2006), a indústria cultural acaba
A indústria cultural possui algumas características que também pode ser percebidas
nas apostilas. Horkheimer e Adorno (2002) cita algumas dessas características, como o uso de
clichês, a falta de conexão entre o todo e as partes (não há como garantir a continuidade do
exata do cotidiano e a repetição. Esta última é responsável por privar a todo custo qualquer
idéia nova, e essa “exclusão do novo” garante a reprodução mecânica daquilo que os alunos
serão e farão no futuro. Além disso, o conteúdo e a maneira como este se encontra escrito na
apostila restringe a atuação do professor (pois ele tem que seguir o conteúdo), minando sua
com os alunos no espaço escolar. Segundo Medrano e Valentim (2001), mesmo o professor
administrativo não mede esforços para esgotar qualquer tentativa do professor em desenvolver
um trabalho diferente daquele proposto. Com todos esses empecilhos, a educação fica
que contribui para a redução do senso crítico tanto do professor quanto dos alunos, para o
aumento da impessoalidade e para a aceitação imediata do que está sendo imposto, ou seja,
Adorno, “[...] o conformismo dos consumidores, assim como a imprudência da produção que
estes mantêm em vida, adquire uma boa consciência. Ele se satisfaz com a reprodução do
indivíduo à sociedade, pois é apenas mais uma mercadoria inserida no contexto da indústria
cultural. Seu formato fragmentado (divisão em cadernos, que por sua vez são divididos em
matérias, que são numeradas em aulas) contribui para a compartimentação do saber, as aulas
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são esquematizadas e não permitem uma discussão mais aprofundada, os exercícios realizados
no final da aula servem apenas para fixar o conhecimento dito mais importante, mas o mais
grave é que devido ao seu formato, temos a impressão de que aquilo que está escrito é tudo
que precisamos saber, todo o conhecimento a ser atingido está ali naquelas poucas páginas.
como “[...] resultado de um processo de dominação sistemática por mecanismos das relações
Maar (2003) afirma que para Adorno, a semiformação se tornou a forma dominante da
remete à sociedade, ela mediatiza entre esta e a semiformação. No sentido em que é “cultural”
aquilo que é instalado pela indústria, as contradições são ignoradas e a relação dialética é
existente. [...] É formação determinada em sua forma pela própria formação social, pela
por via da fetichização da mercadoria. Maar (2003) afirma que para Adorno, uma possível
saída é o movimento dialético “[...] para além das imposições objetivas que se abatem sobre a
formação” (p. 469). Isto significa buscar compreender as conseqüências que este tipo de
ensino pode trazer para a sociedade em geral, e não aceitar o modelo industrial das apostilas,
que de maneira fordista prepara o aluno para mundo do trabalho, é um exemplo de resistência
a reflexão racional pela qual o que parece ordem natural, ‘essencial’ na sociedade cultural,
decifra-se como ordem socialmente determinada em dadas condições da produção real efetiva
algo que aparentemente é natural, na verdade é determinado socialmente. Por isso, cultura e
consciência de classe são atributos considerados emancipadores. Como afirma Maar (2003),
indústria cultural.
apresentado desde o Estado Novo: como disseminadora dos valores, princípios e doutrinas da
cultura burguesa, mas desta vez em escala industrial e mundial, sempre visando à satisfação
das exigências do sistema capitalista, o que garante a reprodução das relações sociais,
para a sociedade atual. Como afirma Silva (2001), o trabalho desenvolvido por Adorno e
capitalista, junto a um processo de desumanização, o que significa que hoje nós temos a
segue.
36
do capital ocasionou uma transformação no sistema educacional, alterando até mesmo seu
constituição do indivíduo, mas a escola é apenas uma das instituições atingidas por este
instrumento, tudo para que uma minoria alcance o ideal da “Nova Atlântida” de Bacon. De
fato, o rumo tomado pela ciência moderna, auxiliada pela filosofia de Francis Bacon4 acabou
por se mostrar nos dias de hoje quase que profeticamente, uma repetição da sociedade visitada
A razão da obra satírica de Swift parecer tão atual é que por mais que tenhamos
apresentado progresso na tecnologia, pouco ou nada avançamos nesses últimos séculos para o
desenvolvimento do pensamento e de uma sociedade mais livre, justa e humana, visto que não
4
que já era criticado pelo humor negro de Jonathan Swift ainda no século XVII, como se pode observar no livro
intitulado “As Viagens de Gulliver”.
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tecnologia necessária para alcançar a emancipação, liberdade e uma sociedade mais justa para
todos, mas a utilizamos para a mera reprodução de frívolas necessidades individuais. Adorno
comenta que o encontro entre a barbárie e o desenvolvimento tecnológico teve seu ápice
Quando Adorno pretende discutir acerca da educação, afirma que “A exigência de que
Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. [...] Qualquer debate acerca de
metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não
se repita” (2003, p. 119). Vivemos hoje um período de crise, de uma possível regressão à
ferramentas utilizadas pelas instituições educacionais já não são eficazes, visto que a partir da
que Auschwitz já foi a regressão, e a barbárie continua existindo, e quando nos propomos a
falar sobre educação é impossível negar a regressão também presente nas instituições
escolares na atualidade. “Tornar inteiramente supérfluas suas funções parece ser, apesar de
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De acordo com o pensamento de Adorno (2003), para que possamos pensar numa
educação para a emancipação do indivíduo, devemos obstruir as condições que geram tal
regressão. Para explicar essas condições, Adorno lança mão das teorias de Freud, já que a
psicanálise permite lançar luz sobre as origens da repressão e das grandes instituições
culturais, tais como a religião, a moralidade e a justiça. Freud justifica a importância de seu
método, ao certificar-se de que “[...] o modo de pensar psicanalítico atua como um novo
tanto o levantamento de novos problemas como a visão dos antigos sob nova luz e nos
capacita a contribuir para sua solução” (FREUD, 1996, p. 187). Sob a ótica da psicanálise,
a organização repressiva tem ligação direta com manifestações perversas. Marcuse (1972)
afirma que a constituição da personalidade reside nos prolongados processos históricos que
Marcuse se refere ao processo filogenético defendido por Freud, e afirma que o destino da
civilização reside nos impulsos instintivos. Tal afirmação parece assustadora, mas estes
defesa do ego (localizando-se então no próprio ego) e o conteúdo reprimido se encontra no id.
Dizemos que ocorre repressão quando uma escolha de objeto que provoca
um alarme indevido é empurrada para fora da consciência por uma
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anticatexia. [...] As repressões podem abrir caminho à força por meio das
anticatexias opositoras ou encontrar expressão na forma de um
deslocamento. Para que o deslocamento consiga impedir o redespertar da
ansiedade, ele precisa estar disfarçado em alguma forma simbólica
adequada (2000, p. 63).
A partir deste conceito, Freud (1996) afirma que as forças que ocasionam a repressão
repressão de sentimentos hostis leva ao deslocamento de tais sentimentos para outros objetos,
Severo (2005) aponta que nas relações humanas, aquele que está próximo não significa
necessariamente um provável cooperador, mas sim um ensejo de desejo para satisfazer nele
impele o homem a reprimir essas manifestações, esses impulsos são direcionados aos
criminosos, por exemplo. Porém, ao homem não é tão fácil abdicar dessas tendências
dominação e progresso, porém, como afirma Marcuse, com o avanço da civilização industrial,
contribuindo para o desaparecimento das ilusões propostas pelas igrejas por meio do
Adorno (2003) vai confirmar esse engodo da visão científica, ao demonstrar que a
Este quadro elaborado por Adorno mostra uma sociedade regredida, com traços
esclarecimento ao mito revela-se, entre outros motivos, pela conversão dos meios de
Mesmo não se propondo a trazer soluções a questão educacional, Adorno faz algumas
educação infantil, sobretudo na primeira infância; e, além disto, ao esclarecimento geral, que
produz um clima intelectual, cultural e social que não permite tal repetição; portanto, um
clima em que os motivos que conduziram ao horror tornem-se de algum modo, conscientes”
(2003, p. 123). Adorno se refere à idéia de preparar um terreno fértil à discussão de tais
assuntos, ao entrar em contato com o acontecido e desvelar os falsos discursos, para uma
todos nós passamos pelo processo descrito por Freud. “Tudo dependerá de orientar esses
traços contra o princípio da barbárie” (ADORNO, 2003, p. 158), essa é então a função da
educação: além de apenas socializar o saber, formar um indivíduo crítico e orientá-lo contra a
barbárie.
A intenção da filosofia de Adorno é impedir os atos de barbárie, e estes não devem ser
esferas da vida humana. Toda ação humana é historicamente determinada pelas relações de
trabalho e produção estabelecidas entre os homens, e isso reflete a política, a ciência, a arte, a
Horkheimer e Adorno:
Nesse contexto marcado pela ambivalência, a ciência manteve sua atividade, mas
lógica de mercado:
origens do homem. A grande contribuição dos autores foi encontrar dentro da racionalidade
negativo, destrutivo:
fazer uso do desenvolvimento tecnológico para trazer benefícios à coletividade, para criar
uma sociedade mais justa, pois quanto mais racionalizado, mais alienado se torna, por sua
cobrança nos ônibus urbanos, por exemplo, mas esquece-se de toda uma classe de cobradores
que ficará desempregada, e da qual o Estado não poderá dar conta da manutenção. A própria
O problema não é o progresso em si, uma vez que este pode se aliar ao processo de
emancipação, ao criar condições que beneficiem toda a sociedade. Como no exemplo acima,
providenciando condições financeiras e culturais para que futuramente ocupem uma função
melhor, tal progresso faria mais sentido. Mas para que isso aconteça de fato, toda a noção de
propriedade e capital deveria ser reformulada. Ou seja, enquanto o progresso estiver a serviço
cada vez mais enfraquecido, mais diluído dentro de uma coletividade, e esse é um dos pontos
nevrálgicos citados por Adorno em “Educação após Auschwitz”. É uma pré-condição para a
que uma substância particular não atua sobre outra e cada uma delas é diferente. A sociedade
torna-se então uma soma de indivíduos singulares. Com o sistema capitalista, surge o costume
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de considerar as mônadas como algo absoluto, um ser em si. Sem a diferenciação não há
pessoa é, como entidade biográfica, uma categoria social. Ela só se define em sua correlação
vital com outras pessoas, o que constitui precisamente, o seu caráter social. [...] somente na
convivência com outros o homem é homem” (ADORNO & HORKHEIMER, 1973, p. 48-49).
realizado pela psicologia, o da estrutura da sociedade e alguns mecanismos que nela atuam,
bem como a busca por um estudo não de um indivíduo extra-social, mas do indivíduo inserido
por mecanismos como a divisão social do trabalho e a fetichização da técnica pode trazer
Está claro que existe uma ruptura entre o indivíduo e a sociedade, entre o desejo e a
instituições educacionais do ensino superior, assim como outros meios de comunicação agem
de maneira a ocultar essa ruptura. Se a gênese do problema está na repressão, e a ciência serve
voltado para o mercado de trabalho, caracterizam não apenas a confirmação, mas sim uma
a possibilidade de construção de uma sociedade voltada para a liberdade e para todos. “[...] O
6. Considerações Finais
conseqüências para a sociedade como a conhecemos hoje. Na tentativa de sair das trevas e
ilustra bem este quadro criado pelo esclarecimento: “Não é a regra: se adicionares o desigual
ao igual obterás algo de desigual [...] um princípio tanto da justiça quanto da matemática? [...]
A sociedade burguesa está dominada pelo equivalente” (2006, p. 20). A partir do pensamento
fatores quantitativos, considerando aquilo que não pudesse passar pela sua calculabilidade
como mera ilusão, percebemos que tudo passou a submeter-se a este pensamento e, dessa
forma, as ciências naturais se instalaram vitoriosas numa sociedade regida pelos princípios de
dominação e alienação.
O pensamento iluminista serviu como uma luva para legitimar o modo de produção
capitalista, que se instaurou definitivamente no período pós revolução francesa, e mesmo com
as diversas mutações que sofreu, mantém sua essência caracterizada pela divisão de classes, a
igual. Uma das maneiras de manter esta relação até os dias de hoje foi utilizando a educação
indivíduos para uma sociedade industrial, priorizando uma educação para o trabalho ao invés
vigente, permitindo a entrada da Indústria Cultural nas escolas. A educação perde sua função
para que ele possa exercer uma função na sociedade do trabalho. As escolas se tornaram
verdadeiras fábricas de diplomas, e os métodos empregados para uma melhor execução desta
tarefa são tão racionais quanto aqueles utilizados em Auschwitz pois são eficientes em sua
privilegiam seu formato eficaz para transmitir o mínimo de conhecimento necessário para o
aluno, e se esquecem de valorizar o conteúdo daquilo que está sendo ensinado, bem como
maneira como atua em outras esferas do cotidiano, na educação percebemos a sedução das
promessas de felicidade, mas como não há espaço para todos no mercado, os indivíduos se
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vêem obrigados a competir cada vez mais uns contra os outros por poucas vagas de emprego.
mudança para este quadro, transmitem para os alunos essa mesma ideologia da
competitividade como algo natural a ser buscado e conquistado por todos. Dessa maneira
completando o quadro em que nos encontramos. Os cursos teóricos cedem lugar a disciplinas
Entretanto, Adorno afirma que não podemos atribuir à essa realidade uma atitude de
fazer frente a estes desafios é desvelar a ideologia oculta por trás das ações corporativas nas
universidades, não aceitando suas soluções fáceis e tentadoras, porém falsas; estabelecer
capitalista, que seduz e conforta o indivíduo alienado; não permitir que a lógica da
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encontra hoje está submetida ao espírito mercantilista e, como afirma Meira (2003), ao
com o mercado e à intoxicação provocada pelas idéias neoliberais, sem nos esquecermos de
que a educação é apenas um dos muitos problemas que devem ser reestruturados. Nas
[...] a escola é uma força reprodutora, mas não a única, nem mesmo a
mais central. É apenas mais uma força que se reproduz reproduzindo. Mas
as forças não são exclusivas, são dialéticas. É possível enfrentá-las. Aliás,
essa tem sido uma das faces mais importantes do caminho percorrido pela
humanidade: a transformação da realidade (2001, p. 156).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, T.W. Educação após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e
Terra, 3 ed. p. 119 – 138, 2003.
ADORNO, T.W. Educação contra a Barbárie. In: Educação e Emancipação. São Paulo: Paz
e Terra, 3 ed. p. 155 – 168, 2003.
DESCARTES, R. Regras Para a Direção do Espírito. São Paulo: Martin Claret, 2002.
DURKHEIM, E. A Educação – Sua natureza e função. In: Educação e Sociologia. São Paulo:
Melhoramentos, 1978.
HUISMAN, D.; VERGEZ, A. História dos Filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 3. ed., 1976.