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As práticas tayloristas a serviço da Educação na Contemporaneidade

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João Cesar Souza Ferreira

RESUMO

A partir da análise da manifestação das práticas tayloristas no sistema educacional e um


entendimento sob o olhar de Lenin de como esse método poderia contribuir para a
libertação do homem e possibilitando seu desenvolvimento intelectual, buscamos
compreender a dinâmica da educação como forma substancial de direcionamento das
massas, como meio de permitir um avanço dentro do debate de uma sociedade possível,
não descartando a importância do ensino técnico profissional dentro dessa sociedade.

Palavra-chave: Socialismo, Taylorismo, Educação

Segundo Linhart, Lenin ao propor uma nova perspectiva acerca da disseminação do


conhecimento técnico científico reconhece a importância da divisão do trabalho enquanto
propósito de libertação do homem do trabalho manual e sua possibilidade de
desenvolvimento intelectual.

Um novo sistema político ira nascer, com esta base: a jornada de


trabalho reduzida, tornada possível pela “racionalização” legada pelo
capitalismo e desembaraçada do desperdício com que ele a onerou.
Liberar o tempo das massas populares para a direção do Estado, as
tarefas políticas e administrativas: assim seria, pensava Lenin em 1917, a
transformação principal do processo de trabalho nesta etapa e que
tornaria possível o exercício da democracia pelas massas. (LINHART,
1983, p.92)

Tal apontamento é apresentado por Linhart, como um indicativo de que o ensino de


técnicas e do conhecimento do trabalho deveriam ser inseridos nas escolas, as chamadas
escolas fábricas.

Depois de ter acentuado, no livro de Gilbreth, as recentes descobertas


feitas nos Estado Unidos, com o auxílio de fotografias, sobre os
“micromovimentos”, Lenin reproduz o seguinte trecho:
“Esses estudos interessam a toda a sociedade (…), Um resultado
característico é a distância entre a escola e a fábrica será
progressivamente vencida. (…) É preciso ensinar isso nas escolas
públicas (…). (LINHART, 1983, p.90)

Lenin acusa o taylorismo e o capitalismo em geral do erro de limitar a racionalização ao


processo de trabalho industrial, e ao que parece pensar na difusão do método em outras
camadas além da fábrica.

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Mestrando em Gestão de Instituições Educacionais pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri, Especialista em Logística Empresarial, Graduado em Administração de Empresas e atualmente
trabalha no Departamento de Ciências Econômicas na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri.
“[....] A “racionalização” da organização do trabalho fornece um modelo de uma
racionalização do organismo econômico da sociedade inteira […]” (LINHART, 1983, p.
86).
Ao nosso juízo Lenin, se antecipou há uma prática pujante, hoje manifestada na sociedade
capitalista, quando propôs que o método científico desenvolvido por Taylor fosse além dos
muros das fábricas.
Em se tratando de Brasil a aplicação de métodos que tem em suas bases as concepções
Tayloristas de divisão de trabalho, e é mais presente do que nunca, o sistema educacional
passa atualmente pela numerização do conhecimento, manifestados na quantificação do
Lattes, na aplicação de índice de desenvolvimento da educação e, baseado nestes a
aplicação de meios de direção e controle da prática do ensino dentro das instituições de
ensino.
No taylorismo se alicerçaram outras formas e técnicas de organização da produção, como o
fordismo e o toyotismo. Das fábricas se estenderam para outros setores da economia, como
construção civil e serviços. Não são necessariamente novas formas de produção, mas sim
melhoradas e adaptadas às realidades mutantes, cada vez mais abundantes em tecnologia e
novas formas de gestão das pessoas e da informação.
A respeito do taylorismo na educação, (BARTOLOMEO, 2009) faz o seguinte
apontamento:

A maioria das instituições de ensino tem influência da Administração


Científica, pois existem diversas áreas dentro das mesmas para atender o
docente, discente, a comunidade etc. Essas áreas executam atividades
como Secretaria, Diplomas, Tesouraria, Informática, Coordenação
Acadêmica e outras. Os indivíduos se preocupam apenas em gerar
resultados conforme os objetivos de suas atividades, observando-se a
divisão e tarefas e a especialização, e não o processo completo. Logo,
existe uma dificuldade clara e evidente de sua contribuição no processo
como o todo. Desta forma, fica mais difícil verificar sua participação no
resultado final do processo.

A especialização dentro das instituições de ensino, apontam como um meio crucial para
uma melhor prática da proliferação do conhecimento. Ora, se tal afirmativa é verdadeira,
nos parece ainda muito incipiente esse caminho, contudo, nessa forma de divisão atual,
essa especialização do conhecimento também encontra-se estratifica na sociedade pelas
camadas sociais, ou seja, especializações onde a concentração de capital tende a ser mais
elevada são destinadas a um grupo seleto da sociedade, como forma de garantir sua
continuidade de manutenção do poder e sustentar assim seu carácter de sociedade
exploratória.
Sobre a especialização do ensino (BARTOLOMEO, 2009) diz que:

O sistema e ensino, também é estruturado de forma fragmentada, pois


existem professores que só conhecem a parte relativa à sua disciplina, não
compreendem o processo com um todo, nem conhecem a proposta
pedagógica do curso e da instituição. Foi com base neste sistema de
ensino que todos nós aprendemos, com as disciplinas em “caixas de
conhecimento”.

Não há uma negativa sobre o aspecto da necessidade de organizar as instituições


educacionais de forma a prevalecer um desenvolvimento de trabalho mais eficiente e
eficaz, direcionados como um suporte para o avanço da propagação do conhecimento,
entretanto a aplicação de tais métodos sem as mediações necessárias, sobretudo na questão
dos sujeitos envolvidos e suas particularidades, pode ser, um atraso sob o aspecto da gestão
do sistema educacional.
A construção de uma consciência emancipatória que poderia ser ampliada nas escolas, hoje
é uma tarefa muito árdua, requer que acima de tudo que o educador tenha consciência
dessa necessidade e o compreenda como sujeito que pode ser parte integrante de um
processo de construção de uma forma diferente de sociedade.
A educação formal subjugada ao interesse do capital nada mais é que a forma mais severa
de guilhotinação do desenvolvimento intelectual das camadas sociais mais vulneráveis.
Nesses termos a que se repensar qual o papel da educação em sua totalidade na construção
de uma sociedade igualitária. Quanto ao carácter da formação profissional nas escolas, a
nosso ver não é um problema, desde que esse conhecimento possa ser utilizado em favor
do bem comum. Mas ainda a muito que se pensar com se daria esse ensino dentro de um
sistema socialista ou em outro sistema diferente do que vigora.

COSTA, Paulo Moreira da. (Org.) Taylorismo: após 100 anos, nada superou o modelo
de gestão? Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009.

LINHART, Robert. Lenin, camponeses, Taylor. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

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