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Implantação da marxismo-leninismo na Rússia: a construção

do modelo soviético

Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que fez do país o


primeiro Estado Socialista do mundo. Em Marx1 buscaram os revolucionários e a
inspiração. Em Lenine, encontraram o líder incontestado e o grande responsável
pela implementação dos princípios marxistas. As suas ideias e a sua ação deram ao
corpo chamado marxismo-leninismo2.
1- Marx, foi um pensador dos elementos fundamentais do capitalismo ( é um
sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção e sua
exploração com fins lucrativos.As características centrais deste sistema incluem,
além da propriedade privada, a acumulação de capital, o trabalho assalariado, a
troca voluntária, um sistema de preços e mercados competitivos.Em uma
economia de mercado, a tomada de decisão e o investimento são determinados
pelos proprietários dos fatores de produção nos mercados financeiros e de
capitais, enquanto os preços e a distribuição de bens são principalmente
determinados pela concorrência no mercado), como um sistema económico e as
suas formas de desenvolvimento, analisando a mercadoria, a moeda, o capital, o
trabalho, a mais-valia, a acumulação de capital e as crises. A visão central de Marx
considerava o Homem como ser natural, social, como um ser histórico, vendo a
história como se desenvolvendo através da luta de classes, numa visão dialéctica.
Marx teve como objetivo, na sua obra, analisar as contradições lógicas (internas)
do capitalismo.
2- Desenvolvimento teórico e aplicação prática das ideias de Marx e Engels na
Rússia por Lenine. Caracterizou-se por enfatizar/realçar/destacar: o papel do
proletariado, rural e urbano,na conquista do poder por via revolucionária e jamais
pela evolução política; a identificação do Estado com o Partido Comunista,
considerado a vanguarda do proletariado; o recurso à força e à violência na
concretização da ditadura do proletariado.

Antecedentes: - derrota contra o Japão, em 1905, iniciou um movimento de


contestação à autocracia do czar Nicolau II ( Domingo sangrento: o massacre de
operários perpetrado pelas tropas czaristas, quando “milhares de operários – não
social democratas, mas crentes, súbditos fiéis – conduzidos pelo padre Gapone”
se dirigiam pacificamente para o Palácio de Inverno para implorar junto do Czar,
uma vida melhor e mais liberdade.

A petição que os operários pretendiam entregar ao czar, e que havia sido


discutida e aprovada em reuniões de massas, revelava, por um lado, ingenuidade e
mesmo ignorância política ao imaginar que o papel do senhor todo poderoso da
Rússia se distinguia das classes dominantes, mas, por outro lado, refletia o
ambiente da luta reivindicativa da classe operária que varria na altura a velha
Rússia. Dizia a petição: “Nós, operários, habitantes de Petersburgo, vimos junto de ti.
Nós – escravos miseráveis e humilhados – somos esmagados pelo despotismo e pela
arbitrariedade (...) Nós, os milhares aqui presentes, assim como todo o povo russo,
estamos privados de qualquer espécie de direitos humanos. Os Teus funcionários
reduziram-nos à situação de escravos”. A petição enumerava todo um conjunto de
reivindicações económicas, sociais e políticas que, pela sua natureza, punham em
causa o sistema e não poderiam nunca ser alcançadas pacificamente. Mas essa foi a
amarga experiência que milhares de operários aprenderam por experiência própria
após o massacre do «Domingo Sangrento». No conjunto das reivindicações
destaca-se: amnistia ( ato que perdoa um facto punível, suspende as perseguições e
anula as condenações;Perdão coletivo, perdão geral), liberdades cívicas, salário
razoável, entrega progressiva da terra ao povo, convocação de uma Assembleia
Constituinte por sufrágio universal e igual, terminando com o seguinte apelo:
“Senhor! Não Te recuses a ajudar o Teu povo! Destrói a muralha que Te separa do Teu
povo! Providencia para que seja dada satisfação aos nossos pedidos, faz esse juramento,
e Tu tornarás a Rússia feliz; se não, nós estamos prontos a morrer aqui mesmo. Só temos
dois caminhos: a liberdade e a felicidade ou o túmulo.”

O aviso ao czar e às classes dominantes estava feito. É possível que os


massacrados frente ao Palácio de Inverno, nesse trágico dia 22 de Janeiro de 1905,
não imaginassem que iriam encontrar aí o seu túmulo, mas o sacrifício das suas
vidas não foi em vão. Doze anos mais tarde, a classe operária russa dirigiu-se
novamente ao Palácio de Inverno. Mas dessa vez já não para implorar às classes
dominantes uma vida melhor, mas para tomarem o poder, criando a possibilidade
de construir pelas suas próprias mãos uma vida digna e de liberdade,
confirmando-se as previsões de Marx e Engels que, avaliando o desenvolvimento
revolucionário na Rússia, concluíram que a futura revolução a realizar-se aí teria
uma enorme ressonância e seria «um ponto de viragem na história universal».

Lénine estudou atentamente, ao longo dos anos, as experiências da revolução de


1905, enriquecendo o arsenal teórico do movimento revolucionário. A análise feita
por si dos acontecimentos do «Domingo Sangrento» é um trabalho notável,
exemplificativo do seu método de trabalho, da análise concreta das situações
concretas, da busca do essencial e determinante no emaranhado dos factos, por
vezes contraditórios. Onde alguns pseudo-revolucionários e pessoas «altamente
cultas» só viam na ação da classe operária nesse acontecimento, desespero,
religiosidade e ignorância, Lenine via nos «operários incultos da Rússia
pré-revolucionária» um enorme potencial de luta, o despertar da consciência
política, sendo precisamente neste despertar de uma quantidade colossal de
massas populares para a consciência política e para a luta revolucionária que,
segundo ele, residia «o significado histórico do 22 de Janeiro de 1905».)

-os camponeses, que constituíam 85% da população, tinham as suas terras


cultivadas concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários
(feudalismo)

- setor agrícola muito enraizado

- baixos níveis de produção industrial

- participação da Rússia na Guerra

Os acontecimentos ditados em cima, estiveram por trás da revolução russa


(processo revolucionário que instituiu o governo socialista).

Revolução de Fevereiro: A onda patriótica e o consenso nacional, gerados


pela declaração de guerra da Alemanha à Rússia, durou pouco tempo. A perda de
importantes territórios do seu império, as derrotas e as baixas sofridas deixaram a
descoberto as profundas fracturas que atravessavam a sociedade russa. À
degradante situação militar somava-se o descontentamento socioeconómico nas
cidades e nos campos. Em plena guerra o país enfrentava uma profunda crise, com
uma inflação descontrolada, que os reduzidos salários não conseguiam
acompanhar. O açambarcamento de bens essenciais e a expansão do mercado negro
contribuíram para a carestia de géneros e a generalização da fome.

No mês de fevereiro de 1917 (segundo o calendário juliano, que vigorava na Rússia;


em março, de acordo com o calendário gregoriano, seguido nos países da Europa
Ocidental) rebentaram greves na cidade de Petrogrado, contra a falta de pão, a
guerra e o Czar Nicolau II.

As ordens para reprimir duramente as revoltas não foram acatadas pelo exército. O
descontentamento era generalizado, estendendo-se aos soldados, que já não
estavam dispostos a continuar uma guerra que consideravam sem sentido. A
revolução rapidamente se propagou a outras cidades russas. A queda do Czar, a
formação do Governo Provisório e a vigência de um “duplo poder”

Os operários organizaram-se em conselhos (sovietes) e os soldados exigiram o


afastamento de Nicolau II, que abdicou a 15 de março. O parlamento – a Duma –
nomeou um governo provisório, liderado pelo príncipe Lvov, um liberal moderado,
que procurará pacificar a situação, e que contava com o advogado socialista
Aleksander Kerenski na pasta da Justiça.

Do exílio começaram a regressar as principais figuras do Partido Bolchevique, a ala


revolucionária que resultara da cisão do Partido Operário Social-Democrata Russo,
ocorrida em 1903. Um desses líderes era Lenine, que se encontrava exilado na Suíça.

Da “Revolução de Fevereiro” resultaram dois centros de poder, o Governo


Provisório e o Soviete de Petrogrado, constituído por operários, soldados e políticos
socialistas. O Soviete, adversário de um conflito que considerava “imperialista”,
exigia a retirada imediata da guerra. O rumo moderado do Governo Provisório não
conseguiu aplacar as reivindicações. Ao não pôr termo às operações militares, a sua
popularidade foi diminuindo.

Cansados do conflito e das contínuas perdas humanas, bem como da inflação e do


caos económico, cresceu a hostilidade em relação ao governo. A polarização era
cada vez mais notória perante a incapacidade de o poder instituído dar resposta às
principais reivindicações: paz, reforma agrária e autonomia para as minorias.

Na rua, os operários e os soldados, que constituíam a base social de apoio dos


bolcheviques, apelavam ao Soviete para que tomasse o poder. Depois da tentativa
falhada de golpe por parte da extrema-direita, sob liderança do general Kornilov,
os bolcheviques conseguiram dominar os sovietes de Petrogrado e de Moscovo.
Prometiam paz, pão, liberdade, reforma agrária, a distribuição da propriedade e o
controlo das fábricas pelo povo.

A Revolução de Outubro e as principais medidas adotadas pelos bolcheviques

No início de outubro, Lenine convenceu o Comité Central do partido de que o


momento para o assalto ao poder chegara. Na noite de 24 para 25 de outubro
(segundo o calendário Juliano), o Palácio de Inverno e vários edifícios e pontos
estratégicos, foram tomados de assalto. O poder estava agora nas mãos dos
bolcheviques, enquanto os membros do Governo Provisório foram presos.

O novo governo, liderado por Lenine, tinha um programa ambicioso. Foram


imediatamente emitidos importantes decretos. O Decreto sobre a Paz preconizava a
saída da guerra e levaria à assinatura de uma paz separada com a Alemanha,
enquanto o Decreto sobre a Terra instituía uma reforma agrária, com a
nacionalização das grandes propriedades rurais e a sua distribuição pelos
camponeses. O Decreto sobre o Controlo dos Trabalhadores dava aos trabalhadores
o controlo sobre a gestão das fábricas.

Revolução de Outubro: No dia 25 de outubro de 1917, segundos bolcheviques


lançaram o assalto final à sede do governo provisório, em S. Petersburgo, e
tomaram o poder.
O golpe foi preparado apenas com alguns dias de antecedência e era previsível, uma
vez que desde há algum tempo que os bolcheviques controlavam os acessos e os
pontos vitais da cidade. Nesse dia teve lugar o ataque final e decisivo, com o cerco
ao chamado Palácio de Inverno, o último reduto do governo provisório. As
hostilidades tiveram início durante a tarde e às 10 horas da noite o cruzador Aurora
disparou os primeiros tiros a partir do porto. Embora a historiografia oficial
soviética viesse mais tarde a pintar este episódio com cores heróicas, o assalto
deparou com pouca resistência. Este dia assinala, portanto, o desfecho de um longo
processo que conduziu à vitória dos comunistas na Rússia.

● Como foi esse processo? No início do século XX, os bolcheviques não


existiam ainda enquanto organização autónoma. Isso só aconteceu em 1903,
quando ocorreu uma cisão no interior do Partido Operário Social-Democrata
Russo: a maioria dos delegados, que formava uma espécie de “linha dura”
que preconizava a revolução armada, foi chamada de “bolchevique” que
significa, precisamente, “maioritário” em russo. Posteriormente, veio a dar
origem a um novo partido e a adotar a designação de “comunista”,
assumindo-se como a vanguarda da luta armada contra o regime do Czar. Os
bolcheviques aumentaram gradualmente a sua implantação e influência
junto de soldados, operários e camponeses, que constituíam a sua base
social de apoio. As suas células-base eram assembleias populares, formadas
em cada cidade, e que se chamavam “sovietes”. Os bolcheviques
desempenharam um papel importante nas revoltas de 1905, mas a tomada
do poder tornou-se um objetivo próximo apenas em março de 1917, com a
abdicação do czar e o fim do império russo.

● Que aconteceu nessa altura? A Rússia estava há vários anos mergulhada


numa profunda crise política, económica e social. O regime autoritário do
czar Nicolau II tinha-se mostrado incapaz de reformar o estado russo e de
corrigir as enormes desigualdades que existiam no país. A entrada da Rússia
na I guerra mundial agravou subitamente o descontentamento social e o
estado de penúria em que vivia boa parte da população. Em março de 1917, o
regime colapsou. O czar abdicou do trono e subiu ao poder uma junta
provisória que juntava diversas sensibilidades, desde liberais e reformistas a
aristocratas e socialistas. Mas o poder nas ruas da capital e das principais
cidades estava nas mãos dos sovietes, controlados pelos bolcheviques, que
não reconheciam a autoridade do governo provisório e que reclamavam a
revolução total. O primeiro-ministro Alexander Kerenski cometeu diversos
erros, o principal dos quais foi o de manter a Rússia na guerra, que tinha
esgotado os recursos do país e era o grande motivo da revolta social. A sua
queda, a 7 de novembro, consagrou a tomada do poder pelos bolcheviques,
sob a liderança de Lenine.

● Quem era Lenine? Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido pelo seu nome de
guerra, Lenine, nasceu em 1870, no seio de uma família da classe média
russa. Abraçou desde cedo a causa revolucionária e a contestação ao regime
do czar, tendo desempenhado um papel de relevância crescente na liderança
do processo que conduziu à revolução russa. Esta liderança teve um duplo
sentido: em primeiro lugar, Lenine era um intelectual, que teorizou e
adaptou as premissas do materialismo histórico desenvolvido por Marx e
Engels à realidade da Rússia do século XX, criando um corrente política
específica que adotou o seu nome, ou seja, leninismo. Em segundo lugar, foi
o principal líder político do movimento revolucionário bolchevique, que
organizou e dirigiu quer no exterior, durante os anos em que viveu no exílio,
quer na Rússia, onde regressou em 1917. Foi o chefe incontestado da nova
Rússia soviética, o primeiro estado comunista do mundo, até à sua morte,
em janeiro de 1924.

● O que aconteceu depois do golpe de 7 de novembro? Após a queda do governo


provisório de Kerenski, nesse dia, reuniu-se o congresso dos Sovietes, que
juntou centenas de delegados de toda a Rússia e ratificou a revolução,
entregando o poder a um Conselho dos Comissários do Povo, presidido por
Lenine. Este emitiu imediatamente dois decretos que iam ao encontro das
expectativas populares e mereceram, portanto, apoio generalizado: o fim
imediato da participação russa na guerra e uma reforma agrária. Duas
semanas mais tarde foram realizadas as primeiras eleições livres na Rússia.
No entanto, as expectativas de Lenine de obter uma vitória eleitoral não se
concretizaram, uma vez que o partido mais votado, com clara vantagem, foi
o Partido Socialista Revolucionário. Porém, este veio a dividir-se, sobretudo
após a dissolução da assembleia constituinte, em 1918. Os bolcheviques
consolidaram gradualmente o seu poder e acabaram por dispersar ou
eliminar todos os seus oponentes políticos, constituindo-se como a única
força dirigente da Rússia revolucionária.

● Quais foram as consequências da Revolução de Outubro? O efeito imediato


da tomada do poder pelos bolcheviques foi a saída da Rússia da guerra e a
assinatura de uma paz separada com a Alemanha e a Áustria-Hungria. Para
os aliados, isto constituiu uma traição, a que se somava naturalmente a
enorme desconfiança causada pelo projeto revolucionário comunista.
Portanto, e durante os anos seguintes, as potências europeias financiaram e
prestaram apoio às forças que lutavam contra o novo poder revolucionário
no interior da Rússia.

Estas ficaram conhecidas como “brancos”, em oposição aos “vermelhos”


bolcheviques e agregavam monárquicos, senhores da guerra, socialistas, liberais e
um vasto leque de forças que se opunham ao poder bolchevique, agora sediado em
Moscovo. Houve revoltas e insurreições por toda a Rússia, que viveu um estado de
guerra civil que dividiu o país durante praticamente 5 anos. No final, o exército
vermelho acabou por sair vencedor e por controlar toda a Rússia. Em 1922, foi
oficialmente proclamada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS, que
exerceu uma enorme influência sobre os destinos mundiais ao longo de todo o
século XX, até à sua extinção em 1991.

Guerra Civil: À “Revolução de Outubro” de 1917 seguiu-se uma guerra civil,


que opôs os bolcheviques aos mencheviques, deixando a Rússia em ruínas. Lenine
introduziu medidas socioeconómicas que ficaram conhecidas como “comunismo
de guerra”, mas depressa teve de as reverter perante a insatisfação e oposição da
população. O “comunismo de guerra” deu então lugar à Nova Política Económica.

A tomada do poder em outubro de 1917 não foi o fim da revolução. Os sovietes


assumiram o poder perante o desmoronamento da antiga estrutura administrativa.
As tendências autoritárias do Partido Bolchevique rapidamente se fizeram sentir e
a violência e o terror generalizaram-se. Lenine, o seu líder, não tolerava qualquer
oposição nem críticas, reivindicando o direito de mandar fechar jornais que lhe
fossem hostis.

Foi igualmente criada uma força policial secreta, a Cheka. A oposição aos
bolcheviques, que surgiu imediatamente em diversas regiões, conduziu o país a
uma guerra civil que opôs o “Exército Vermelho” ao “Exército Branco”. Este
último integrava diferentes correntes políticas, unidas apenas pela hostilidade aos
bolcheviques.

A guerra civil contou com a intervenção dos Aliados, que apoiaram o “Exército
Branco” (mencheviques), enviando tropas e armamentos. Num primeiro
momento, esperavam que a vitória dos mencheviques mantivesse a Rússia na
guerra contra a Alemanha e, depois do armistício, pretendiam destruir o governo
bolchevique que apelava a uma revolução mundial.

O “Comunismo de Guerra”

Lenine adotou uma nova política de controlo da economia, que ficou conhecida
como “comunismo de guerra”. A banca e grande parte da indústria foram
nacionalizadas e incorporadas numa economia centralizada. Pôs fim ao comércio
privado, impôs aos camponeses a requisição forçada de produtos agrícolas e
procurou coletivizar a agricultura.

Algumas destas medidas foram essenciais para que os bolcheviques vencessem a


guerra, mas tiveram consequências sociais e económicas desastrosas. Quando o
conflito terminou, esta política era responsável por uma grave crise económica e
social. A produção de carvão tinha diminuído drasticamente e a indústria estava
paralisada. Os camponeses semeavam menos para não terem de entregar os
excedentes e as quintas eram menos produtivas.

A fome generalizou-se e as revoltas eram controladas pela força, com milhares de


camponeses a serem fuzilados ou presos. A nova Constituição russa, de 1918,
concedia o direito de voto a todos os trabalhadores, independentemente do sexo e
da nacionalidade, mas retirava-o às classes antes privilegiadas, isto é, às antigas
autoridades czaristas, aos mencheviques, aos camponeses ricos (pejorativamente
designados de kulaks), aos clérigos, e a outros grupos.

A perseguição aos “inimigos de classe” fizeram praticamente desaparecer a elite


culta e instruída e milhares de russos tiveram de procurar refúgio noutros países. O
problema foi agravado com o final da guerra civil e a desmobilização de milhões de
soldados, agora desempregados, armados e com fome, que provocavam distúrbios
por onde passavam.

Em 1921, uma vaga de greves na cidade de Petrogrado coincidiu com a revolta dos
marinheiros da base naval de Kronstadt, que haviam apoiado os bolcheviques, mas
que agora vinham para a rua denunciar os abusos e os métodos coercivos do novo
regime. À vaga grevista, debelada de forma brutal, o governo respondeu com a
imposição da lei marcial.

A introdução da Nova Política Económica (NEP)

Lenine teve de recuar em 1921, substituindo o “comunismo de guerra” por uma


nova política, que ficaria conhecida como “NEP” (Nova Política Económica). As
requisições cessaram e foram substituídas por um imposto em espécie.

O governo apostava agora na estabilização da moeda. O projeto de nacionalização


foi suspenso, enquanto estrangeiros foram convidados a investir no país. Apenas a
indústria pesada (ferro, aço e carvão) ficou sob controlo do Estado, tal como os
transportes e a banca. Foi reintroduzido o comércio privado e as pequenas
indústrias foram devolvidas aos seus antigos proprietários.

As escolas e os cuidados médicos, que antes tinham sido declarados gratuitos,


passaram a ser pagos, enquanto o acesso a pensões de reforma, a subsídios de
desemprego e doença passaram a basear-se num sistema de contribuições. O recuo
que a NEP significou em relação à construção de uma sociedade comunista deixou
muitos bolcheviques dececionados. Para Lenine, esta estratégia fora necessária
perante a situação económica e era apenas uma fase de transição. No entanto, esta
abertura não se refletiu no plano político. Todos os partidos políticos foram
proibidos e as críticas eram duramente reprimidas.

Na sequência da Guerra Civil e da vitória dos bolcheviques, em 1922 foi criada a


União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que juntava 15 nações num
novo Estado.

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