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3 ESTÓRIAS
PARA
1 HISTÓRIA
C A R LO S C A S T E L LO B R A N C O (Prefácio)
O D O N PEREIRA (Entrevistas)
OÀO MELLÃO
NETO
JÂMS©
QUADROS
3 ESTÓRIAS
PARA
1 HISTÓRIA
C AR LO S C A S T E L LO B R A N C O (Prefácio)
ODON PEREIRA (Entrevistas)
Copyright
João Mellão Neto, 1982
Revisão:
Radoico Nogueira Guimarães
Arte Final:
Tony Fernandes
Composição:
Linojato
Assessoria Intelectual e Bibliográfica:
Emílio Carlos Macedo e Prof. Geraldo Pascon
1982
Todos os direitos reservados por
Editora Renovação Ltda.
01014 —Rua Boa Vista, 254
179 andar — 17.701 —São Paulo
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
L
ÍNDICE
C a p ítu lo 1: 1953
S. Paulo dos Palácios — S, Paulo das Palhoças —
Casa Grande e Senzala — O Cenário Político —
O Forasteiro — Jornais — A Falência das Pala
vras (entrevista Com Odon Pereira) 21
C a p ítu lo 2: 1954
Um Ano Decisivo — Jornal — O Encontro Com a
Realidade — Vargas, O Ocaso um Sol Envelhecido
— Jornais — Quadros, A Aurora de uma Nova
Estrela — Jornais — M ístico ou M istificador? 53
C a p ítu lo 3: 1955
Nuvens Negras no Horizonte — Jornais — A Dura
Convivência D em ocrática 93
C a p ítu lo 4: 1958
O Mundo se Transform a — Um a Vassoura V arren
do S. Paulo — Jornal — a M udança no Papel do
Estado 115
C a p ítu lo 5: 1959
> O Lançam ento da Candidatura Jânio — Jornais —
Política é Profissão? 131
C a p ítu lo 6: 1960
O Início da Cam panha — Jornal — O Equívoco
das Esquerdas — Jornal — A Revolução Pelo Voto
— Jornal 145
C a p ítu lo 7: 1961
Jânio Assum e o Comando — Jornal — Balanço
dos Prim eiros 5 M eses — O Saneam ento da
M oeda — A M oralização A d m inistrativa — A Po
lítica Externa — O Com bate ao Contrabando —
Nova M oda no Planalto — A Revolução de Jânio
Quadros
Epílogo-. DE Q U E M FO I A C U LPA?
PREFÁCIO
JÂNIO REAVALIADO
C. C. B.
PRÓLOGO:
Não tenho história, nem raízes, sequer tenho laços com o pas
sado. Com menos de trinta anos minha biografia é a mesma de mi
lhões de jovens brasileiros, concebidos e criados na proveta do Mi
lagre. Ac forjarem-nos para o futuro, esconderam-nos o passado.
Na lógica da potência emergente, o Brasil começaria conosco.
O dia da glória não amanheceu nem para nós nem para a Pá
tria. Era um futuro místico; pois conseqüência de um milagre, um
amanhã pentecostal, pois jamais aconteceria.
— 3 —
tutores, sonharam com um desenvolvimento sem sacrifício; pagamos
com um sacrifício sem desenvolvimento. Preferindo o conforto à
liberdade, acabaram por privar-nos de ambos.
— II —
4 —
respondidas com sinceridade. A historiografia brasileira, tão farta
em estudos e monografias sobre os mais insignificantes fatos acon
tecidos nas mais distantes regiões, durante as mais remotas eras, sur
preendentemente cala-se sobre esse assunto. Não o discute, coloca
uma pedra sobre ele. Os poucos livros e estudos de referência não
permitem a nenhum estudioso adquirir uma visão clara ou mesmo
satisfatória sobre o fenômeno.
— 5 —
Prólogo
Primeira Versão:
O DEM ENTE
— 7
O IMPARCIAL
S .P a u lo , 26 de A gosto de 1961 ** Um jo r n a l v e rd a d e iro a se rv iç o d a In d ep en d ên cia
JÂNIO RENUNCIOU!
O INSTÁVEL MAGO DA VASSOURA JOGA
FORA 6 MILHÕES DE VOTOS
“Jânio, no governo, foi a UDN de rer. Aí senti uma coisa curiosa nele:
f AS OPINIÕES porre.” um homem medroso: Carlos, cuidado.
A nossa vida é preciosa! Eu devia estar
SOBRE JÂNIO (Afonso Arinos) a uns noventa quilômetros por hora, e
ele já estava tremendo. Então achei es
“O Sr. Jânio Quadros é um msano
tranho um homem que parecia desafiar
mental. Então, ao primeiro obstáculo, o mundo ser extremamente medroso.”
à primeira dificuldade, o presidente elei
to por seis milhões de esperanças, súbi (Carlos Lacerda, “Depoimento” )
to, sem o menor espírito de luta, entra
na sala, escreve a renúncia e sai cho “Encontrava dificuldades em tomar
rando?” decisões básicas, tomando-se propenso
(David Nasser, “ O Cruzeiro” )
a se fechar em grandes períodos de de
pressão, quando fazia uso de uma quan
“Quando fomos para o Porto, fui tidade generosa de álcool.”
dirigindo o automóvel e comecei a cor ________ (Skidmore, “Politics in Brazil” ) v
Segunda Versão:
O ATOR
AS OPINIOES
SOBRE JÂNIO
“Jânio Quadros é o mais hábil polí “ O que acredito é que, elegendo-se “Vários observadores acreditavam
tico brasileiro desde Getúlio. As suas presidente ( . . . ) Jânio não titubeará em
dissolver o Congresso Nacional, pois já que a política externa de Quadros po
reações epidérmicas nada representam.
revelou com sobras a sua vocação para
Não passam de erisipela de falso nacio caudilho.” dia ser um elaborado disfarce a fim de
nalismo. Todos os seus atos, mesmo os
(Gabriel Quadros, pai de Jânio) desviar a atenção do País do impopular
que ferem a lógica* e*a razão na aparên
cia, são meditados.” “É o maior ator nacional.” programa de estabilização econômica.”
(David Nasser, em “O Cruzeiro” ) (Francisco Prestes Maia) ( Skidmore, “Politics in Brazil” )
Terceira Versão:
O HERÓI
O PRESIDENTE RENUNCIOU!
ENTRE A HONRA E O PODER, JÂNIO PREFERIU A PRIMEIRA
Brasília — Jânio Quadros, contra em missão de boa
em carta enviada ao Con vontade na República Popu
gresso Nacional na tarde de lar da China e já foi notifi
ontem, renunciou ao manda cado a respeito. Até sua vol
to de presidente da Repúbli ta o cargo será exercido in
ca, o qual deveria exercer até terinamente pelo presidente
1965. da Câmara.
A renúncia foi prontamen Ainda na tarde de ontem
te aceita pelos parlamenta o presidente renunciante dei
res que, a seguir, deram posse xou a Capital da República
a Ranieri Mazzilli, presiden dirigindo-se para São Pau
te da Câmara dos Deputados lo, onde se encontrava até
e sucessor constitucional do o fechamento desta edição
vice-presidente da República. alojado na Base Aérea de
O Sr. João Goulart se en Cumbica.
POLÍTICA EXTERNA POLÍTICA INTERNA
INDEPENDENTE ARROJADA
A política social do pre
Jânio e os Políticos
De há muito vinha se Desde o dia de sua-posse trolava o presidente, estando
configurando no mundo um sidente Quadros foi a mais parecia evidente que o rela esse relativamente disposto a
bloco de nações não alinha ousada já tentada por um cionamento do presidente controlar o capital estrangei
das automaticamente com os governante brasileiro. Jânio com o Congresso não seria ro e executar uma política
enviou ao Congresso um dos melhores. Jânio havia externa independente dos
EUA e a URSS. Era o Egito,
Projeto de Reforma Agrária sido eleito por 5 milhões e EUA.
de Nasser, a Iugoslávia, de de grande relevo, uma lei an- seiscentos mil votos através
Tito^e vários outros. O pre timonopólios, uma lei de re de uma plataforma de am No início do mês de agos
sidente Quadros criou uma messas de lucros para o Ex plas reformas políticas e so to o presidente tinha contra
política exterior que voltou a terior, nomeara comissões de ciais. O Congresso Nacional, si a quase totalidade do
dar respeito e honorabilida- estudo para reforma dos Có por outro lado, era composto Congresso Nacional. Seus
de ao Brasil no estrangeiro. digos Civil e Penal; consti de políticos oriundos da elei projetos estavam todos enca
tuiu comissões para reestru lhados nas Comissões, numa
ção de 1958, frutos de uma
turação do sistema bancário tentativa dos parlamentares
Encetou e intensificou o conjuntura política já ultra
e financeiro, para uma maior de fazer Jânio negociar,
relacionamento do Brasil passada. A veemência com
progressividade na taxação abrandar suas reformas. Co
I com os países da área socia que Jânio pretendia executar
do imposto de renda, para mo o presidente não se dis
lista, estabeleceu laços estrei- as reformas que prometera
modificação em todo o siste punha a tanto, no dia 25 de
j tos com as nações irmãs da ma tributário e fiscal. Além rapidamente o colocou em
agosto o Congresso se cons
j África, colocou o Brasil no disso iniciou um severo pro choque com os interesses re
tituiu em Comissão Perma
eixo do terceiro mundo. A grama de saneamento da presentados pelos congressis
nente de Inquérito numa vil
j política exterior levada nesse moeda extinguindo as múlti tas. O primeiro Partido a ter
tentativa de dobrá-lo.
plano, logicamente seria in- plas taxas de câmbio, cortan seus interesses contrariados
! compreendida por muitos. do subsídios, contendo as foi o PTB, com a instaura O presidente, ao tomar
Diversos emissários america- emissões. Reprimiu, como ja ção de Comissões de Inqué ciência do que se passava,
I nos aqui vieram para demo- mais se tentara antes, o con rito na máquina da Previ percebeu estar em situação
| ver o presidente de suas trabando. Instaurou comis dência Social, sob o domínio muito semelhante à de Getú-
intenções chegando alguns sões de inquérito em toda a do Partido. A seguir foi o lio em 1954. Por não pre
administração pública para PSD, composto basicamente tender renunciar aos seus
[ inclusive a vincular a ajuda
apuração de descalabros ad
: econômica a uma mudança de fazendeiros e latifundiá projetos, não cogitando suici
ministrativos e corrupção, em
de rumos. Pela primeira vez especial na área da Previdên rios, com o envio ao Con dar-se e muito menos ser de
I o Brasil adota uma postura cia Social. Estava realizando gresso do Projeto de Refor posto, ele preferiu deixar o
I independente no cenário in a revolução pelo voto quan ma Agrária. A UDN, que o poder por conta própria. Re
ternacional. O que trará do foi vencido pela união dos apoiara na eleição, também nunciou ao poder para não
bons frutos com o tempo. interesses contrariados. logo percebeu que não con renunciar à honra.
Cíiitorial
O Crepúsculo
Passada a ameaça, subjugado o líder sufocava a sociedade, ao tentar, enfim, safiando os privilegiados, um dia che
político, seus inimigos agora se compra- cumprir aquilo que prometera nas elei gou à Presidência da República. E lá
zem em cuspir sobre sua sepultura. Não ções e que as direitas acreditavam ser chegando tentou mudar o curso impla
o julgam, injuriam-no. A medir seus mera demagogia, ele ganhou o ódio dos cável da História. Achava-se a pessoa
atos, preferem caluniá-lo. corruptos, a ira dos privilegiados e o indicada. Por não ser capitalista, o di
rancor dos políticos tradicionais. nheiro não o fascinava? por não ser po
Afinal seus inimigos não poderão
jamais perdoá-lo. Jânio cometeu muitas Por outro lado, ao tentar reformas lítico, não transigia com os políticos.
heresias, foi pretensioso, ousou compa- sociais, ao procurar proporcionar ao País Queria demonstrar que Deus era de fa
tilhar do Olimpo sem ter nascido um to brasileiro. Mas que nem por isso
uma revolução social adequada às suas
Deus. características ele usurpou as bandeiras precisava ter nascido na avenida Paulis
dos revolucionários profissionais. Des ta, ou ter laços com ela. Contrariou as
Do que o acusam afinal? De querer elites dominantes e pagou caro por isso.
tornar-se um ditador? Pois não foi ele mantelou o comunismo da forma mais
o único presidente do Brasil em cuja eficiente: ao invés de usar a repressão
Jânio não caiu, sequer foi derrubado.
carreira não se registrou uma única má demonstrou sua obsolescência. E não
Jânio é a prova maior de que, para um
podería jamais ser perdoado por isso.
cula antidemocrática? O homem que homem, a honra pode estar acima das
governara democrática mas firmemente Alguns o acusam de louco. Talvez honrarias, de que as luzes da fé podem
seu Estado, numa época em que o res o seja. Só um louco ousaria, como ele brilhar mais do que as luzes do poder.
to do Brasil se valia de medidas espe o fez, desafiar as elites dominantes. Ele Esse mesmo poder, pelo qual tantos lu
ciais; o governador que se recusara a não podia ter aparecido em São Paulo e tam, tantos se matam, e que ele deixou
lançar mão da censura como meio de apareceu. Não podia ser o governador quando sentiu não mais poder coadu
coerção, punição ou repressão, esse Jâ paulista em pleno domínio de sua no ná-lo ccm sua dignidade.
nio guindado ao poder pelo voto não breza medíocre. Foi governador. O ho
podería de uma hora para a outra tor mem Jânio foi uma incrível ironia do Vai Jânio, vai embora para seu exí
nar-se um ditador. Qual a vantagem de destino. Como se Deus quisesse mos lio voluntário. Sua obra não será es
trocar um mandato limpo e claro de trar à, nobreza comercial e agrária de quecida. Se você, como Getúlio, não
uma eleição insofismável pela chibata São Paulo que a inteligência não se faz pôde completá-la, tenha certeza de que
de uma tirania perigosa e fugaz? apenas sobre lençóis de linho. Muitas a semente que plantou frutificara.
vezes nasce sobre o chão vermelho de
Os inimigos de Jânio na verdade não Apesar das críticas, das calúnias e
Mato Grosso.
têm um único argumento sólido pára das injúrias que farão contra você, saiba
condená-lo. Ao contrário do que alguns Pois esse Jânio que veio na segunda que a História lhe fará justiça. Em suas
afirmaram, os atos presidenciais contra classe da Noroeste, que comeu de pen páginas está registrado que um dia, neste
riaram interesses, desgostaram grupos são, que tomou pinga nos botequins, o País, um presidente oriundo do povo,
econômicos, desiludiram partidários po modesto advogado, o professor secun compromissado com ele, tentou reformar
líticos. Aqueles que o acusam de ser dário, não apenas conseguiu quebrar um a nossa sociedade. Se não o conseguiu
vir interesses que apontem uma só por princípio estabelecido como o fez de foi porque não era a hora. E talvez
taria sua que se constituísse medida de maneira arrogante, ostensiva, desprezan nem fosse o homem adequado.
exceção, de privilégio ou de favoritismo. do aqueles que queriam ser seus tutores
por todo o resto da carreira. Você, Jânio, foi o boi jogado às pi
Na verdade, ao tentar acabar com a ranhas, para que a boiada pudesse atra
corrupção que corroía o País, ao tentar Esse mesmo homem, sempre nave vessar o rio, ilesa. Um dia, no futuro,
destruir a estrutura de privilégios que gando contra a correnteza, sempre de esse povo lhe fará justiça. . .
AS OPINIÕES S
“Jânio se elege com seus defeitos e rices governamentais, um país assim não viera, o sistema de forças políticas que
governa com suas qualidades.” podia aceitar, sem reação, sem incômo o amparassem nessa direção.
do e sem dor, essa passagem violenta Faltou-lhe, porque não quis trair a
(Milton Campos) para a moralidade no trato do dinheiro própria imagem, a vontade de querer
público, do direito de cada um e nos continuar a ser presidente, ao preço da
“É dos políticos brasileiros que co deveres de todos.”
nhecí o que tinha maior acuidade no co acomodação.”
nhecimento das pessoas. Que extraor (David Nasser, em “ O Cruzeiro” ) (Afonso Arinos, “Hist. do Povo Bras.” )
dinário poder de conhecer os homens
que tem.” “A renúncia foi expressão de uma “ Quadros, o ‘outsider’ político, havia
coerência de tipo heróico. Jânio acre despertado tanta incerteza e temor entre
(Carlos Lacerda, “Depoimento” ) ditou que os destinos nacionais, em um os políticos profissionais de todos os
dado momento, dependiam de sua co partidos, que eles se sentiram aliviados
“Um país que já se insensibilizara
ragem de sacrificar sua carreira pessoal. ao vê-lo entregar o poder.”
com o peculato, que ria das roubalhei
ras oficiais, que achava graça nas viga- Faltou-lhe, porque disso não pro ( Skidmore, “Politics in Brazil” )
— III —
Afinal quem foi esse sr. Jânio Quadros cuja personalidade per
mite tão diversas interpretações?
— 19 —
Deixa-se ou não enganar por falsos líderes?
— 20 —
CAPÍTULO 1 1953
1/3/1953
8/3/1953
21
I —
— 23
pela planície, subia a encosta do espigão e tinha seu ponto culminan
te social e topograficamente na avenida Paulista, ao longo da qual
perfilavam-se as mansões de seus aristrocratas. Nesses casarões, des
de os lustres, as vidraças e as telhas, até o arquiteto, o mordomo e os
hábitos, tudo, rigorosamente tudo, era importado do velho conti
nente.
— II —
— 24 —
composta de ruas sem calçamento, caminhos sem luz, de quando em
quando cortados por um rio de esgoto a céu aberto. Ali residia
aquilo que os intelectuais da cidade intra-rios classificavam como
massa.
— III —
— 25 —
ções. Afinal Casa Grande e Senzala sempre coexistiram em estreito
contato e nem por isso se deram revoluções sociais.
26
Pelo lado do povo, não havia necessidade de soluções pois tal
problema nunca existira.
— IV —
27 —
e direita não o empolgava, pois não lhe diziam respeito. Pendên
cias do tipo Liberdade Individual x Justiça Social lhe pareciam
por demais abstratas e supérfluas frente a problemas imediatos como
a canalização do esgoto, a saúde das crianças, ò transporte coletivo.
— 28 —
Era esse o cenário político de São Paulo, quando, repentina
mente, sobe ao palco um personagem não previsto no roteiro.
— V —
Nascido em Mate Grcssc. ele viera para São Paulo como tan
tos outros imigrantes à procura do sonhe. Entre a origem e o des
tino, vivera em diversas cidades do Interior paulista e do Paraná
onde completou o curso secundário. Já na Capital paulista, formou-
se em Direito pelo Largo São Francisco e passou a exercer as pro
fissões de advogado e professor.
— 29 —
tico então em condições de exercer tal papel. Combinava o racio
cínio sofisticado da universidade com a intuição própria dos
populares; dominava as duas culturas, pois fora forjado em ambas.
Ninguém como ele conhecia os corações e as mentes das duas pon
tas da corda social.
— 30 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
31
A NOTÍCIA* São Paulo, 22 de fevereiro de 1953 *
S . PAU LO E L E G E R Á
O S E U P R E F E IT O
A PR O VA D A A LEI QUE RESTAURA A A U T O N O M IA
•©
Dep. J.Quadros é o Garcez Dá Sua Cartada
candidato doFDC-PSB Candidato De Coalizão
Em convenção realizada Em nota conjunta à im vadas pelo lançamento do
em fins do ano passado o prensa, nove partidos com deputado Quadros como can
deputado Jânio da Silva Qua bases nesta Capital, coorde didato do Partido Democra
dros foi indicado pelo Parti nados pelo governador Gar ta Cristão. Frente ao risco
do Democrata Cristão como cez, comunicam o lançamen de eleger-se um prefeito to
seu candidato à Prefeitura de to de uma candidatura única talmente desvinculado aos
São Paulo. Essa escolha se para disputar a Prefeitura esquemas políticos existentes,
deu ainda antes da aprova de São Paulo. Garcez houve por bem con
ção da lei que restitui a au O lançamento da candida vocar as lideranças dos nove
tonomia administrativa e ba tura Cardoso foi resultado de partidos não comprometidos
seou-se na atuação do depu gestões empreendidas pelo com Jânio Quadros.
tado na Assembléia Legisla governador no sentido de
tiva, cuja plataforma de de Francisco Antônio Cardo
unir a classe política paulis so é o atual secretário de
núncias dos escândalos e ta em tomo de um candida
Q uadros : son h an do a lto . descalabros administrativos to de coligação.
Saúde do governo, sendo seu
dos governos municipal e es nome fruto de uma seleção
tadual vem obtendo ampla As negociações tiveram entre os 20 apresentados ini
repercussão junto ao público. início há alguns meses, moti cialmente. (Pág. 3)
L
A TRAG ÉD IA A D M IN IST R A T IV A D E S . PAULO
Reflexo, talvez, de um quarto de sé dores, endividada até o pescoço, amda 80 milhões de cruzeiros. Detalhe, impor
culo sob o comando de prefeitos nomea- se dá ao luxo de querer comprar um lu tante: o prédio foi oferecido anterior
| dos, a situação da Prefeitura de São xuoso prédio na Praça da República por mente a particulares por 70 milhões. . .
Paulo é atualmente a mais crítica de to-
| da a sua história.
OOC coo
com:
ADHEMAR DE BARROS
ESTRELANDO: LUCAS GARCEZ
FRANCISCO CARDOSO GETÚLIO VARGAS
HUGO BORGHI
iE JÂNIO QUADROS ULYSSES GUIMARÃES
JOÃO GOULART e grandioso elenco
inco.)
NÃO PERCA! PROCURE INFORMAR-SE SOBRE O COM ÍCIO EM~§EU BAIRRO
Iniciada a campanha, tornava-se óbvia a diferença entre os dois
candidatos. Ambos a viam comc uma temporada de caça ao voto; a
diferença estava nos papéis assumidos. Enquanto Cardoso colocava-
se como um elegante caçador inglês, Jânio solidarizava-se com o
povo no napel de caça,
— 37
obras, no que pretendia para São Paulo, Jânio abordava o aspecto
contrário. Mostrando a realidade dos números da Prefeitura, do
empreguismo, da corrupção, nada prometia além de trabalho duro
e disposição pessoal de mudar tal quadro. Combinando tal enfoque
com o tom irônico e espirituoso com que criticava a administração
anterior, ele conseguira realizar um fenômeno raro na política bra
sileira : conquistar a confiança popular para um projeto de governo.
— 38
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 33 —
A NOTÍCIA
__________ * São Paulo, 22 de março de 1953 * ____________
H O JE E LE IÇ Õ E S
Hoje, 22 de março, os Os candidatos foram rece
paulistanos compareceram às bidos nas suas seções elei
umas para a escolha do pre torais por verdadeiras mul VEREADOR
feito que governará São Pau tidões de correligionários. DENUNCIA
lo nos próximos quatro anos. Apesar de Cardoso contar
Por tratar-se do primeiro com o apoio da máquina ad CORRUPCÃO
pleito após 25 anos, o com-
parecimento às urnas supe
ministrativa, os jornalistas a-
firmam que a manifestação
ELEITORAL!
rou todas às expectativas a- mais calorosa foi a recebida O vereador André Franco
tingindo a marca dos 70%. pelo deputado Jânio Qua Montoro, do Partido Demo
dros, o qual compareceu ao crata Cristão, denunciou no
local de votação bastante plenário da Câmara Munici
ORTIZ pálido e demonstrando can pal, a existência de um acor
GARCEZ
MONTEIRO saço. Segundo seus familia do entre a coligação partidá
res, o candidato estaria for ria que apóia o candidato
temente gripado o que o le Cardoso e o Partido Comu
PAG. 2
vou a retirar-se logo 'após nista, principal articulador da
candidatura de André Nunes
colocar seu voto na uma.
Jr. Segundo o vereador
ANDRÉ Montoro, o governo facilita
NUNES Houve uma série de inci ria a realização dos comícios
APOIO DAS dentes entre os cabos eleito do candidato comunista, evi
ESQUERDAS rais dos candidatos e a polí tando reprimi-los conforme
cia, visto que os primeiros a lei. Além disso, Adhemar
com frequência avançavam a de Barros teria auxiliado a
PAG. 2
linha demarcatória das se CARDOSO campanha de Nunes com um
ções eleitorais para distribuir empréstimo de 5 milhões de
as cédulas de seus candida cruzeiros.
A CAMPANHA
tos. As apurações terão iní Os vereadores ligados a
MILIONÁRIA
DE CARDOSO cio amanhã, segunda-feira, Adhemar responderam que
às 8 horas. , tal acusação não tem funda
mento e atenta contra a hon
ra e a reputação do vereador
PAG. 2
Nunes.
Além das denúncias de
Montoro, muitas outras têm
sido publicadas ultimame-ie
A EVOLUÇÃO JÂNIO Os comícios do ceputadr
DOS Quadros são frequentemente
FATOS vítimas de atos de vioiêada.
praticados, segundo se d a .
PAG. 2 por membros da Pciíma Ma
rítima, subordinados ao dae-
fe do comitê eleitoral de Car
doso.
OS JORNAIS
E AS Essas denúncias foram pm-
ELEIÇÕES blicadas em primem —ã -
pelo jornal "Tolha da Ma
PAGS. 3 e 4 ADHEMAR MONTEIRO nhã” .
CARDOSO: Cam panha M ilionária
Terno de Twid, colete, óculos de aro País chegam telegramas de apoio de pes mente ao seu lado. Os ônibus da CMTC
fino, cabelos grisalhos bem-comporta soas importantes. João Goulart, presi saem das garagens enganalados com pro
dos, ele se sairía melhor como embai dente do PTB, mandou emissário para paganda eleitoral, aviões cruzam o céu
xador em Londres do que como candi auxiliar o professor. Ulisses Guimarães, com faixas suas. Além disso ganhou da
dato a cargos eletivos. O professor representando o PSD, está em São Paulo TV Tupi um programa diário das 19 às
Cardoso é um homem de fala pausada, para participar da campanha. Adhemar 20 horas para falar sobre São Paulo e
gestos medidos, aparenta sempre estar comparece religiosamente em todos os sobre si mesmo.
pouco à vontade no trato com o públi comícios. A máquina administrativa, fe
co. Seus correligionários não ligam para deral, estadual e municipal está inteira- Como o povo parece teimosamente
isso. Garantem que se acabou a época ignorar os esforços de seus partidários,
dos candidatos populistas, estando d po essa seníana utilizou-se de um recurso
vo preparado para digerir homens de extremo. O governador Garcez impor
pouco charme mas abundante curricu- tou arroz e feijão do sul do País e man
lum vitae. dou vender à população a preços mó
dicos.
Durante a campanha a rotina do co
medido professor universitário foi abala Dia 20 realizou-se o último comício
da pela necessidade de arrebanhar votos. do candidato. Com a presença de polí
Por ele preferia que os cabos eleitorais ticos de todo o País, artistas, palhaços,
cuidassem dessa tarefa sozinhos, mas fogos de artifício e até mesmo Cardoso,
esses insistem na presença do candidato foi a maior concentração eleitoral dos
em todas as concentrações populares. últimos anos. Pão e Circo é a inédita
Sem poder dizer não lá vai o dr. Cardo fórmula encontrada pelos organizadores
so para os clubes de bairro, para as da campanha. O povo, hoje, dará sua
agremiações esportivas, cumprir a mara opinião a respeito.
tona eleitoral.
Beija sem convicção algumas crian
ças, dá um desajeitado pontapé nas bo
las que lhe oferecem, faz algumas piele-
ções soporíferas, a bandinha ataca a
marcha “ Tá eleito o professor Cardoso” ,
ele agradece sem muita fé e parte para
o bairro seguinte.
Sua já folclórica apatia é compensa
da pelo aparato eleitoral que se criou a
sua volta. A mobilização política lembra
uma campanha presidencial. De todo o
OS OUTROS CANDIDATOS
ORTIZ MONTEIRO ANDRÉ NUNES JUNiOR
0 ESTADO DE S. PAULO
O jornal "O Estado de S. Paulo” é 10 de março
o mais autorizado intérprete do udenis- “ ( . . . ) Votos pró Cardoso não são
mo em São Paulo. Seu diretor, Júlio mais votos pelos partidos que o apoiam.
Mesquita Filho, é um dos heróis da Re Votar em» Cardoso é votar pela seguran
volução Constitucionalista de 1932 ten ça social, pela ordem política, pela so
de sido exilado após a derrota das for brevivência do regime.”
ças paulistas. A linha do jornal tem se
pautado por um combate sem tréguas ao 12 de março
"getulismo” , ao “ adhemarismo” e,mais “Senão pela UDN, por São Paulo!”
recentemente, ao “janismo”, fenômeno (apelo do Boletim Municipal dà UDN,
nascente. Para tanto tem de amargar “ O Estado” , página 4).
uma incômoda parceria com o dr. Adhe-
mar, visto que este também apóia a can 18 de março
didatura Cardoso O nome do dr. Bar- “As últimas sondagens estatísticas
ros não costuma ser publicado na íntegra não deixam margem de dúvidas. A can
pois os redatores do órgão o consideram didatura Cardoso veio ganhando terreno
indigno de freqüentar suas páginas. Ge graças ao melhor esclarecimento da opi
ralmente aparece abreviado: A. de Bar- nião pública e à tomada de posição do
ros. Quanto ao deputado Quadros, nem eleitorado consciente. O povo paulista
esse privilégio ainda adquiriu. Simples no reagiu magnificamente às investidas
mente não é citado, a não ser em casos do Messias ( . . . )
especiais. A seguir transcrevemos tre ( . . . ) O povo, mais sábio e justo
Todos os homens de boa fé sabem
chos dos artigos recentemente publica do que por aí se crê, -lhe diz: Não!”
como nasceu a candidatura Cardoso.
dos na seção “Notas e Informações” : Ante os riscos de um prefeito politiquei
ro, que se apoderasse da cidade para fla 21 de março
Domingo, 1 de março gelá-la, o governador Garcez tomou a “Desvaneceram-se os receios dos que
iniciativa de promover uma reunião de se alarmavam ante as perspectivas elei
" . . . Ouvimos com desprazer os todos os partidos para a apresentação torais criadas pela restauração da auto
boatos de que, a vista do enfraqueci de três nomes de sua confiança (etc, nomia da capital. ( . . . )
mento da candidatura Jânio pelo apare etc. . .) ” Não foram os partidos, foi o povo
cimento das candidaturas Ortiz Monteiro afinal que se organizou em frente única
e André Nunes Jr., o PDC e o PSB têm 7 de março ( . . . ) São Paulo está aguerrido para a
examinado a hipótese da retirada da batalha e a vitória contra o atiíi-São
“A demagogia, antes do PSP, agora
arena ( . . . ) Oxalá isso não aconteça transferiu-se para o PDC. O seu candi Paulo.
(...) dato está sendo acusado de maçom, anti- Sentimos, felizmente, em todas as
O fato de estar assegurada por larga clerical e divorcista. camadas e setores a mesma determina
margem a vitória de Cardoso pode real ção do povo de acudir São Paulo na
Lançou-se nos meios pró-paz sovié hora do perigo, com seu voto conscien
mente diminuir o entusiasmo.e o ímpeto tica, que pretendem desarmar o ociden
dos adversários). . .) mas, ainda assim, te, com seu voto acertado, com seu voto
te para dar a vitória a Moscou ( . . . ) justo e sábio depositado na uma com
sem fé nem esperança na vitória devem Formou ainda acordo com o Partido So
eles sustentar a candidatura até o fim, amor à nossa terra. ( . . . ) ”
cialista, em choque com a atitude da
conformados com os resultados e com Igreja que não admite tal coisa. ( . . . )
preendendo que, se glorificam os vence 22 de março
dores, também se respeitam os vencidos Pedimos aos paulistanos esclarecidos “ SÃO PAULO VENCERÁ”
(blá, blá, blá. . . ) ” mais atenção para esses fatos ( . . . ) Ve “Esse povo sente que a cidade está
rifiquem que, de seu voto pode resultar em perigo diante do mistifório que acen
3 de março a vitória das forças demagógicas, mas de uma vela a Deus e outra ao Diabo,
caradas de cristãs e que nos levarão, se carreando na mesma arca os princípios
"A intriga mais insistentemente tra não forem freadas a tempo, a não sa
mada pelo PDC é a de que “Cardoso é cristãos e os tóxicos extremistas.
bemos que graves perigos.
candidato de Adhemar” e portanto “é Nosso apelo final aos paulistas: Vo
adesão a Adhemar o apoio a Cardoso” Cardoso será a vitória de São Paulo tem todos, votem com acerto. Votem
(...) sobre as forças da destruição.” pensando em São Paulo.”
( . . . ) Todos reconhecem a gran cife alto na candidatura Cardoso: deu-
O TEMPO deza de São Paulo, a energia produtora lhe todo o espaço de sua primeira pá
dos que aqui vivem. Não é essa a me gina. _______________
O Jornal “O Tempo” é ligado ao sr. trópole onde os terrenos encontram a
Hugo Borghi, líder do PTB em São Pau mais rápida valorização? Uma cidade de
lo. Sob assinatura de “Um Observador evolução vertiginosa onde prosperam 3
Cardosista” tem publicado em suas pá milhões de pessoas?
ginas artigos contra o deputado Quadros. ( . . . ) O que o sr. Jânio quer é su
Esses artigos têm sido transcritos em bestimar a gente de nossa cidade. Pre
jornais da grande imprensa como “Folha tende ele com isso obstar uma possível
da Manhã” e o “Estado de S. Paulo” . projeção bandeirante no cenário nacio
A seguir publicamos alguns trechos dos nal. ( . . . ) Não é de se estranhar visto
mesmos: não ser ele um paulista e sim um mato-
“É impressionante o espírito anti- grossense. Ele é positivamente um em-
paulista do sr. Jânio Quadros ( . . . ) Diz boaba. ( . . . )
ele que São Paulo é uma cidade péssi
ma, congestionada, que pouco conforto FOLHA DA MANHÃ
oferece aos seus habitantes. Afirma
mesmo que a cidade está em ruínas, en A “Folha” até o dia de ontem não ti
tregue às baratas. ( . . . ) nha apoiado ostensivamente nenhum dos
candidatos. A única política editorial
( . . . ) Não é essa a realidade! O adotada foi a de propiciar mais espaço
sr. Jânio exagera demais, sabe-se lá com noticioso a Cardoso e evitar falar-se
que propósitos. Ele contraria a opinião muito em Jânio.
geral de que São Paulo é a cidade que Hoje pela manhã o jornal abandonou
mais cresce no mundo.” sua postura imparcial e apostou um ca-
— 43 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
—- 44 —
A NOTÍCIA * São Paulo, 25 de março de 1953 *
NOVO PREFEITO:
JÂNIO QUADROS
SURPRESA EM SÃO PAULO
COM RESULTADO DAS
ELEIÇÕES
reuniram-se no Distrito Fe mente intranqüiliza a classe não absorveu o impacto des
deral para analisar a nova si política quanto ao futuro sa eleição. A “Folha da Ma
tuação, visto que o resultado próximo. nhã” afirma que os cabos e-
do pleito modifica totalmente O presidente Vargas en leitorais de Jânio foram o O JORNAL
as perspectivas políticas. Co viou emissários ao novo pre preço do arroz e do feijão e DOS JORNAIS:
mo se sabe a eleição paulis feito no sentido de progra o “O Estado de S. Paulo” AS MANCHETES E
tana era acompanhada com mar um encontro de ambos prefere atribuir a derrota de OPINIÕES DA
vivo interesse pela Nação por em futuro próximo. Com Cardoso ao apoio de Adhe- GRANDE IMPRENSA
significar uma prévia do isso demonstra mais jogo de mar que teria sido uma faca
PAGS. 3 e 4
comportamento dos eleitores cintura do que o governador de dois gumes.
Còitorial
A A SC E N SÃ O D E U M C O RPO E S T R A N H O
Desde que o deputado Quadros lan Mistificador? Mesmo entre seus adver viu uma carreira política avassaladora,
çou-se candidato a prefeito não se fala sários ainda não se chegou a uma con encerrada bruscamente na Presidência
sobre outro assunto em São Paulo. O clusão sobre sua personalidade. ccm seu assassinato. Isso veio a refor
seu potencial de polarização foi tamanho Há aqueles que o definem como um çar ainda mais o seu senso de predesti
que toda a campanha passou a girar em líder messiânico. Um fanático à seme nação. Um louco perigoso, em resumo.
torno de sua candidatura. Jânio ou se lhança de Antônio Conselheiro, que se A outra corrente de opinião afirma
ama ou se odeia; sua figura é por de acredita imbuído de uma missão divi tratar-se de um genial oportunista, um
mais controvertida para que se adote na: varrer a corrupção da face do pla mistificador que descobriu o segredo de
uma postura indiferente. neta. Segundo essa corrente de opinião, agitar as massas, as quais usa com gran
Afinal quem é esse homem que con além de sua loucura inata, ainda lhe sur de habilidade para atingir seus objetivos.
segue convulsionar todo o tabuleiro po giu um dia, uma cartomante que lhe pre
Seja qual for a versão verdadeira,
lítico de uma metrópole como São Pau o fato é que o sr. Jânio não necessita da
lo? O que representa para que possa classe política para eleger-se. Ignorando
jogar a um plano secundário todas as ostensivameníe os políticos ele não ne
outras contradições da política paulista? gocia, não transige e tudo leva a crer
Agora que está eleito, qual será seu pa que, ao assumir a Prefeitura, os expul
pel ao comando da Capital? sará do poder com a mesma obstinação
Sua presença nos palanques teve a com que Cristo expulsou os vendilhões
força de uma bomba atômica. Talvez do templo.
não haja existido outro personagem na Quer com o sentido de moralizar a
história da cidade com tamanho poder Nação, quer pretendendo locupletar-se
de agitação das massas. Predestinado?
sozinho, ninguém tem dúvidas de que le
vará a sério a sua cruzada anticorrup-
ção, antifavoritismo, antipolítica, en
fim, isso em parte, explica o terror com
que certos homens públicos assistem a
ascensão desse corpo estranho.
O RESULTADO DAS ELEIÇÕES EM SÃO PAULO REPERCUTE EM TODO O PAIS
----- -------------------------------- /
JORNAL DOS JORNAIS (Cont.)
REVOLUÇÃO B RAN CA paciente. Isso é grave, grave porque re Macedo Soares, jornalista:
presenta que o povo não tem guias.”
E não é só isso. Rasgou o cartaz “A primeira lição dessa tremendi
do partido comunista, que acreditava ter Pedro Dantas, jornalista: derrota paulista é que as massas eleito
em São Paulo a sua maior cidadela, o “ O povo foi à forra. Votou contra, rais querem ser tratadas com lealdade
baluarte vermelho de maior força no He mais do que a favor. Jânio ou qualquer dizendo-lhes a verdade, e, acima de to
misfério Ocidental. outro que se opusesse ao que está, ao do, respeitando-lhes os melindres e sen
que se faz, ao que existe.” timentos de honradez e decência. Sãc
( . . . ) A ação e os poderes públicos Paulo não fez mais do que vingar :
têm, nesse pleito, a sua advertência. O Brasil.”
Pedro Gomes, jornalista de Man
povo está aprendendo a votar e se asse
chete:
gurando de que o voto vale. O poder Adhemar de Barros:
público precisa estar à altura dessa “Eu esperei conhecer um Jânio Qua
revolução democrática. E os partidos dros de camisa suja, barba grande, bi “Foi um protesto coletivo do pov:
também.’ gode caído, despenteado, com jeito de contra a carestia da vida e contra todas
quem não usa sabonete porque só acre as dificuldades que o oprimem, proteste
dita na higiene do espírito. Mas o ca que compreendo e aceito. Apenas dev:
marada que vi no dia da eleição não era dizer que o governo do Estado não :
C O R R EIO DA M ANHÃ nada disso. Bem trajado, limpo, bem responsável pela situação.”
composto, discreto, mais parecia um
Editorial paulista elegante do Jardim América Lucas Garcez, governador de Sã:
( . . . ) Quer dizer: um Jânio certamente Paulo:
A vitória do sr. Jânio significa o original, encomendado para o dia da
esboroamento dos mitos Getúlio e Adhe eleição. Se é este que vai governar São “ O povo manifestou clara repulsa ac
mar. É a confirmação de que os pres Paulo, então está bem. Mesmo porque, governo, inclusive à minha pessoa. E
tígios demagogo-populistas valem apenas como dizem os slogans: “São Paulo é assim agiu em razão de várias causas: t
como protesto contra uma ordem de uma cidade limpa.” inflação, a carestia, o alto custo dos gê
coisas minada em seus próprios alicer neros alimentícios e outras.”
ces. Nessas últimas eleições não houve
vitoriosos, apenas a derrota de velhos Auro Moura Andrade, deputado dc
^demagogos. PSD:
Senador Assis Ghateaubriand, pro “É, sem dúvida, a falência dos par
prietário dos Diários e Emissoras A s tidos.”
sociados:
Ulisses Guimarães, deputado dc
“O povo paulista acaba de cortar PSD:
as pernas e os braços do regime. Per
nas e braços que são os seus partidos “Os partidos saíram de suas camufla
políticos — sem o consentimento do gens para agir publicamente.”
A FALÊNCIA DAS PALAVRAS
O que Jânio nos mestra naquele ano é que não somos um país
de abundância, somos um país miserável, não somos um povo bem-
alimentado, somos um povo faminto. Sendo assim não é à toa que
as elites pensantes da época não o suportavam. Jânio rompera uma
convenção da política, muito comum nos países subdesenvolvidos,
de nunca se falar a verdade. Pode-se divergir, permite-se a alguns
irem para a esquerda, outros para a direita, mas por acordo tácito
é vedado desnudar-se a realidade do País.
O pcvo sabe que não pode acreditar nas palavras. Sempre que
que alguém dc povo questiona um político, ou qualquer membro
das elites, no confronto das palavras acaba perdendo. Perde por que
não sabe falar tão bem, não tem a desenvoltura verbal do seu con-
tendor. Depois as palavras sãc muito complicadas, geralmente são
usadas para esconder e não para esclarecer os fatos', A experiência
do povo com cs políticos é de que eles nunca negam ter dito; ne
gam ter falado desta ou daquela maneira. As palavras são ambíguas
e se prestam às mais diversas manipulações. O povo, para se de
fender delas, acaba por desenvolver outras formas de aferir os po
líticos.
50 —
não é compreendida pelo eleitor comum como também provoca
nele uma profunda desconfiança.
— 51
CAPÍTULO 2 — 1954
— Você tem toda razão, minha filha. Mas tenha um pouco de paciência. . .
Apagou o charuto e foi dormir.”
— 53 —
Corria o ano de 1954.
— 55 —
Enquanto isso, na América Latina, bem diferente era a realidade
e a convivência entre os povos. A Conferência dos Chanceleres das
Américas no Rio de Janeiro depositava nas mãos da OEA e sob
a guarda des Estados Unidos o destino das suas nações. O regi
mento da OEA previa a “intervenção coletiva dos Estados Ameri
canos em outros quando o domínio das instituições políticas destes
por parte do movimento comunista internacional pudesse pôr em ris
co a paz da América”. Isso na prática significava o direito dos EUA
intervirem onde e quando achassem necessário para erradicar movi
mentos de libertação nacional. A primeira vítima, já em 1954. seria
a Guatemala. Outras viríam após.
— 56 —
A NOTÍCIA
_____________* São PauLo, 1 de agosto de 1954 * ______________
ADHEMAR: DOUTOR
EM POPULISMO
sanimar pelas adversidades. Ao contrá nomear-se um interventor para o Estado
rio, procura sempre descobrir o lado lu e, encontrando as forças políticas locais
crativo delas. Por mais que o derrubem, irremediavelmente divididas, Getúlio
por mais que tentem destruí-lo, seus ad acaba por escolher seu nome. Na opi
versários têm em mente que Adhemar nião do ditador a grande vantagem de
sempre volta. E o que é pior: mais for Adhemar era o fato de ser inexpressivo,
te e mais experiente. É o homem indes não tendo a sua nomeação, portanto,
trutível da política paulista. que enfrentar a oposição de nenhum dos
grupos em conflito.
Nasceu em 1901, em Piracicaba, fi
lho de tradicional família paulista. Con O que ninguém percebeu na ocasião
cluiu o curso primário na própria fazen era que Adhemar estava longe de ser
da onde morava e seguiu para a Capital uma figura sem talento. Utilizando-se
do Estado, onde veio a se formar em da sua condição de interventor, em cur
Humanidades. De São Paulo partiu para to espaço de tempo ele consolidou um
o Distrito Federal, diplomando-se em prestígio popular jamais igualado na his
Ciências Médicas e seguindo para espe tória paulista. Usando no limite o po
cializações no Exterior. Aos trinta anos tencial empreguista da máquina do Es
de idade, médico de renome com diplo tado ele a utilizou também para anular
mas da Sorbonne de Paris e da Univer seus inimigos através da concessão de
sidade do Povo de Berlim, Adhemar vai obras e favores.
servir nas tropas paulistas na revolução Quanto ao povo, seu estilo era iné
constitucionalista. Recebe o posto de ca dito; todas as noites, às 19 horas, fa
lava aos paulistas através de uma cadeia
de rádio. Eram as famosas “Conversas
ao pé do fogo” nas quais, usando de
uma linguagem intimista e profundamen
O corpo não é mais o mesmo. te religiosa, ele mantinha uma audiência
O ar debochado esconde uma nobre de dar inveja a qualquer novela da
za de quatrocentos anos. As roupas ba época.
ratas, uma das maiores fortunas do Bra Ao deixar o cargo em 1941, por ha
sil; o vocabulário vulgar, uma cultura ver se desentendido com Vargas, Adhe
respeitável, abrangendo quatro idiomas mar já era o mais popular líder político
e vários curses de pós-graduação no Ex de São Paulo.
terior.
Com a redemocratização do País, ele
Quem vê Adhemar, conversa com ele, voltou à tona ao fundar o Partido So
dificilmente percebe que por tras de sua cial Progressista, pitoresca fusão de um
informalidade populista esconde-se um Partido Agrário com um Partido Sindi
homem de grande inteligência e preparo. ... mas a combatividade permanece. calista. Elegeu-se governador em 1947
Ele é muito mais do que aparenta. Jus- e, quatro anos depois, fez seu sucessor
izmente por isso acumula vitórias. Apro pitão responsável pela região de Apare-, Garcez. Apoiou Getúlio na eleição de
veita o fato de os adversários o subesti cida. Derrotadas as forças paulistas o 1950 e pretende sucedê-lo em 1955.
marem para vencê-los com facilidade e dr. Adhemar é obrigado a exilar-se em Sua candidatura ao Governo do Estado
ireqüentemente sem piedade. Chamam- Buenos Aires, juntamente com os líderes visa unicamente a servir de trampolim
no de ladrão, ele não confirma nem da revolta. Da revolução fracassada o para esse salto maior.
desmente. Prefere atentar para o aspec único vitorioso fora ele mesmo. Sua es
to dinâmico de suas duas gestões frente tada forçada no Exterior lhe vale para Seus adversários insistem em apon
ao Executivo paulista. “Roubo mas fa o cultivo de preciosas amizades como tá-lo como corrupto. Ele defende-se ale
ço” , responde, e, com essa sinceridade Ataliba Leonel e Sílvio de Campos, aos gando não precisar roubar por haver
chocante,desnorteia seus adversários, es quais chegou a prestar ajuda financeira. nascido em berço de ouro. De fato a
vazia-lhes o argumento e os coloca na sua fortuna, seja qual for a origem, é
Anistiados por Vargas eles retornam uma das maiores do País. Além da Lac-
incômoda posição de honestos incompe a São Paulo. A essa altura o dr. Barros
tentes. ta, indústria de chocolates, ele é possui
já era um nome importante na política dor de 7 fazendas, 1 usina de açúcar,
Como bom lutador de judô, suas local. uma verdadeira fazenda dentro da Ca
mãos ao mesmo tempo que se estendem Suas preciosas amizades lhe valem pital (Jardim Leonor), 3 grandes jor
amigáveis para um cumprimento, podem uma indicação para disputar uma cadei nais, dezenas de pequenos no Interior,
lançqr-se violentas em um golpe demo- ra na Assembléia Legislativa para a qual vários prédios, além de meia dúzia de
hdor. Sua carreira política é condicio é eleito em 1938. pequenos aviões, um Rolls Royce novo
nada 30% pela sorte, 30% pelo senso e um avião DC-3 de trinta lugares para
de oportunidade e o restante pela sua Em 1938 o destino lhe dá uma gran seus deslocamentos políticos. Sem dúvi
folclórica persistência. Não se deixa de de colher de chá. Na necessidade de da uma carreira de sucesso.
U M PARQUE DO FUTURO
O Parque Ibirapuera, majestoso con anos. Polêmico por natureza, o arquite
junto arquitetônico projetado por Oscar to Niemeyer decidiu fazer no Parque
Niemeyer, é o grande presente que a ci uma obra revolucionária do ponto de
dade de São Paulo receberá por ocasião vista arquitetônico. Segundo declara
de seu 400.° aniversário. Com inaugu ções de membros de sua equipe, as li
ração marcada para o próximo dia 21 nhas do Parque pretendem transmitir à
de agosto, sua abertura ao público coin posteridade o “ grau de desenvolvimento
cidirá com o início da Exposição do IV técnico e industrial dos paulistas quando
Centenário e das festividades oficiais do da passagem de seu 400.° ano de exis
aniversário da cidade. tência” . Os edifícios desse conjunto ar
quitetônico inovam em suas linhas e su
Trata-se de um conjunto de edifícios perfícies, sugerindo nos seus volumes to
e marquises de linhas futuristas que, so do o complexo das atividades técnicas
mados à área verde e aos lagos que modernas. “Para obter esse resultado” ,
circundam, compõem um parque de 1 explicam os arquitetos, “imprimimos à
milhão e meio de metros quadrados, forma dos edifícios relevos de navios,
equivalente a nada menos do que 150 conchas de barragens, linhas isoladas de
quarteirões de uma cidade. A área cons torres de rádio” .
truída, depois de executado todo proje para a Exposição, serão utilizados como A principal objeção dos seus críticos
to, será de 140 mil metros quadrados, museus e salas de atividades culturais. é quanto à viabilidade de tal luxo em
distribuída em doze edifícios principais, As controvérsias em relação a esse um país pobre como o Brasil. A polê
os quais, após servirem de alojamento parque prometem durar ainda muitos mica promete ainda ir longe.
61
cidade de serviços. Prestes Maia, o urbanista que a administrou du
rante vários anos, projetou-a para ser uma cidade de serviços, orga
nizada para viver o seu centro, mais ou menos limitado pelas águas
dos três rios: Pinheiros, Tietê e Tamanduateí. Acreditava-se que toda
a papulação moraria dentro desses limites, trabalhando em lojas,
bancos, etc. Nessa época a cidade já havia de muito transposto esses
limites. A Prefeitura administrava uma cidade de classe média quan
do a sua população era predominantemente pobre.
— 62 —
III
— 63 —
do Ministério do Trabalho, principalmente no que tangia à incitação
de desordens e à proposta de aumento de 100% no salário mínimo,
previsto para maio. O manifesto, que ficou conhecido como o “me
morial dos coronéis”, pois vinha subscrito por 80 coronéis da ativa,
foi o estopim da crise política que levou à demissão de Goulart. Ape
sar de destituído, este continuou exercendo influência no governo,
levando inclusive Vargas a aprovar o aumento salarial de 100%.
— 64 —
Por toda parte começam a surgir moções pedindo a renúncia de
Vargas. Movimentos de rua, manifestos de associações, moções de
repúdio, editoriais nos jornais, todo o ódio recolhido contra Vargas
subitamente aflora à superfície nas mais insuspeitas áreas.
65
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 66
A NOTICIA * S ão P au lo , 25 de a g o sto de 1954 *
— 71
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 72
A N O T I C I A
VARGAS E AGITAÇÕES EM
SEPULTADO TODO O PAÍS
Logo após o anúncio da A polícia interveio energi
camente em todas as Capitais
_EM SÃO BORJA
Com a presença de 40 mil O enterro de Vargas mar
morte do presidente, multi
dões saíram às ruas em to e por algumas horas se che
gou a temer que a confusão
ca o fim de uma tragédia, na do o País. As manifestações generalizada acabasse por
pessoas o corpo de Getúlio
Vargas foi velado e enterra qual toda a Nação se quedou ocorreram em clima de gran desencadear uma guerra civil.
do na cidade de São Borja, consternada. A cobertura do de violência, com especial Apesar do abrandamento
de onde sua família é origi velório e do enterro de Ge gravidade no Rio Grande do dos ânimos, ainda hoje, 10
nária. túlio está nas páginas 2 e 3. dias após o trágico desapa
Sul, onde populares depre
recimento de Vargas, assis
daram rádios, jornais e até te-se a passeatas isoladas de
mesmo o consulado dos Es partidários do extinto presi
tados Unidos da América. dente.
AS PALAVRAS DE ARANHA
“Quero te dizer que teu povo chora Olhando para ti, estou olhando para se que se abre? Nós te continuaremos
por ti como jamais imaginei que pudes o Brasil. O que será de nós nesse tran na morte mais fiéis do que na vida. Que
se chorar. Getúlio, nós saímos daqui há Deus se apiede daqueles que traíram e
vinte e poucos anos. Íamos levados pelo cometeram a maior das afrontas. Somos
teu ideal, em favor dos humildes. Ago pelo amor, pela conciliação, pelo enten
ra volto sozinho, porque tu morreste, dimento entre os humildes e os homens
para que nós., teus amigos, não morrés que podem assumir responsabilidades,
semos contigo, e, se ainda vivemos, é mas jamais com os traidores. Desar
porque tu te antecipaste. Por amor a mem-se eles como desarmados estamos!
teus amigos preferiste vencer-te a ti
mesmo. Ai daqueles que procuram mudar o
curso do destino! Costuma-se dizer que,
Saímos juntos, mas não voltamos para escrever a História do Brasil ,é pre
juntos, porque tu poupaste a minha vi ciso molhar a pena no sangue. No fu
da. Juntos vivemos, juntos sonhamos. turo se dirá: quando se quiser escrever
As tuas decisões foram sempre as me a História do Brasil será preciso molhar
lhores. a pena no teu coração, Getúlio.”
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- — -— .— — ----------- — ■— — —
C A F É ,O P R E SID E N T E DA M E D IA Ç Ã O
Garantir a qualquer custo as eleições refugiado em Buenos Aires continuou Como bom político, Café Filho tem
de outubro, mediar as forças políticas sua luta contra a ditadura. Em 1945 ciência de que pouco poderá realizar
em crescente radicalização, enfrentar a voltou ao Brasil elegendo-se novamente Primeiro pela exigüidade de seu manda
crise econômica: eis algumas das gigan deputado constituinte. Data dessa épo to, segundo pela radicalização política
tescas tarefas que terá que enfrentar o ca a sua aproximação com Adhemar de resultante da crise. Suas recentes decla
novo presidente da República. João Ca Barros, vindo logo depois a integrar o rações dão a entender que pretende se
fé Filho, jornalista originário do Rio seu recém-formado partido — o PSP. guir uma linha legalista, de intransigente
Grande do Norte é o homem que no pró respeito às normas constitucionais. Tem
ximo ano e meio terá sobre seus ombros A sua união com o cacique paulista sido cortejado pelas forças anti-Vargas
as graves responsabilidades que o mo lhe seria muito útil tempos depois. Em no sentido de adiar as eleições de outu
mento impõe. 1950, por acordo entre o PSP e Vargas, bro, na qual serão eleitos 11 governa
foi convidado a participar da chapa elei dores e grande parte do Congresso Na
Os 55 anos do atual presidente fo toral na condição de vice-presidente. Vi cional. Contrabalançando essas pressões.
ram inteiramente marcados por lutas po toriosa essa viu-se guindado a condição Café leva em conta as recentes manifes
líticas. Nascido de família humilde, de sucessor constitucional de Vargas, tações populares, das quais deduz que
exerceu a profissão de jornalista em Na exercendo tal posto com bastante dis qualquer golpe contra a democracia po
tal, seguindo posteriormente para Re crição. dería resultar em graves distúrbios civis.
cife e o Rio de Janeiro. Participou da
Aliança Liberal e com a ascensão dessa Nos últimos tempos estava afastado A prudência o aconselha a adotar
ao poder foi nomeado chefe de Polícia tanto de Adhemar como de Vargas. Du uma postura de mediação. Mesmo que
em seu Estado. Em 1933 elegeu-se de rante a crise chegou a propor a Getúlio não venha a adotar nenhuma medida de
putado à Assembléia Constituinte, man que ambos renunciassem como forma de exceção, não deixará de cortejar as for
dato que exerceu até o golpe de Estado contornar o impasse. Esse não acatou a ças políticas contrárias ao varguismo, as
de 1937, quando se viu obrigado a pedir sua proposta o que hoje lhe vale a faixa quais, aliás, compõem a maior parte de
asilo na embaixada argentina. Mesmo presidencial. seu ministério.
AS PALAVRAS DO PREFEITO
Garcez. per seu lado, jurava de pés juntos ter ouvido em julho
da boca do então presidente seu apoio à candidatura de Maia.
— 77 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 78 —
A NOTÍCIA * São Paulo, 3 de outubro de 1954 * _________
HOJE ELEIÇÕES
EM SÃO PAULO!
ADHEMAR E JÂNIO NA FRENTE
contra E O QUARTO
MARTHA A PÉ
ADHEMAR PROCESSADO
O dr. Adhemar de Barros está sendo do, sendo pagos à GM pelo Banco do ram-se a empresas de propriedade da
processado por apropriação indébita de Estado por ordem do governador. família Barros.
veículos pertencentes ao Estado durante
a sua gestão como governador. Concluída a operação, o governador O Tribunal de Justiça sorteou um
toma uma medida supreendente: pede à juiz que houve por bem pronunciar
A denúncia foi apresentada pelo jor GM que refature esses veículos a parti Adhemar. Ele não será preso de ime
nalista Paulo Duarte ao secretário de culares, em cujos nomes são registrados diato pois a legislação eleitoral lhe ga
Justiça o qual encaminhou a documen na Diretoria do Serviço de Trânsito. O rante imunidades a partir do décimo
tação ao Tribunal de Justiça. Segundo cacique pessepista simplesmente havia quinto dia anterior às eleições.
consta dos autos, em setembro de 1949 doado os automóveis para seus colabo
o então governador Adhemar de Barros radores diretos entre os quais o sr. Cha Segundo o dr. Adhemar, tudo não
comprou para o Estado de São Paulo gas Freitas, diretor do seu jornal “A passa de perseguição do atual governa
21 caminhões Chevrolet Gigante Espe Notícia” , do Rio, seu irmão Antonio de dor. Alega que, tendo já terminado o
cial, 10 automóveis Chevrolet Sedan Barros e seu filho Adhemar de Barros mandato, procurou seu sucessor para
“Fleetline” e 1 Oldsmobile Sedan de Lu Filho. O Olds, carro mais luxuoso da acertar a situação dos veículos. Este não
xe 76. Esses veículos eram destinados coleção, foi requisitado no nome do pró aceitou qualquer pagamento “já naquela
à Secretaria de Administração do Esta prio governador e os caminhões destina- época tencionando processar-me” .
Prestes Maia,apoio de Garcez
Francisco Prestes Maia, ex-prefeito invés de escolher um nome populista, falar-se bem de si me'smo.
ci capital paulista, ex-candidato derro- ungiu a Prof. Garcez, seu secretário de
Apoiado pela máquina administrati
ndo a governador em 1950, é o candi Obras, homem respeitável e sem mácula,
va e escorado por uma coligação parti
dato de Lucas Garcez ao governo do como o candidato da oposição. Maia
dária, bem ao gosto do governador
Estado. obteve 360 mil votos e conformou-se
Garcez, Maia é considerado imbatí-
com o resultado.
Maia é acatado como grande urba vel. . . pelos seus adeptos, é claro.
nista e homem sério no trato dos negó Como o mundo dá voltas e a política
voltas e meias, hoje Maia é candidato Os partidos que o apoiam são a
cios públicos. Governou a cidade ao
jongo de sete anos, em plena ditadura ao governo do Estado apoiado justamen UDN, o PSD (Cunha Bueno é o candi
Ví rgas e não permitiu que nem o cau te pelo seu adversário de 50, Garcez, o dato a vice), o PDC (rompido com
qual rompeu com Adhemar. Jânio), parte do PTB (ala de Hugo Bor-
dilho nem Adhemar transformassem a ghi), o PL, o PRP e o PR.
Prefeitura em centro de politicagem. É Maia, que apoiou Jânio Quadros em
: responsável pela atual paisagem urba 1953 centra uma coligação govemista,
na de São Paulo, tendo sido o idealiza- é atualmente apoiado por uma coligação
ior do seu Plano Diretor. governista contra Jânio Quadros embo
Em 1950 foi lançado pela UDN e ra seu adversário preferido seja o dr.
nelo PR como candidato ao governo de Barros. Contra esse último tem asses-
São Paulo para enfrentar o candidato de tado todas as suas baterias esquecendo-
Adhemar. Seus adeptos já cantavam vi se inclusive de que numa campanha
tória quando o manhoso cacique optou eleitoral, além de pichar-se o adversário,
por uma tática de fogo de encontro. Ao deve-se por uma quéstão de bom senso,
C AN D ID ATO S E S ÍM B O L O S
E_0
TREVO
DE
QUATRO
FOLHAS
O C ASO D O D O D G E D E M A R T H A RO C H A
Martha Rocha, a nossa incompará inclusive a falar sobre isso com o pre des contrabandistas introduzem cente
vel Miss Brasil está muito, muito magoa sidente Café Filho. Esse a remeteu ao nas de automóveis no País ninguém se
da. Também não é para menos: o ministro da Fazenda, Eugênio Gudin, o preocupa. Os machões da Alfândega só
Dodge conversível que ganhou de Mí qual estonteado com visita tão exube arreganham os dentes quando deparam
riam Stevenson, Miss Universo, está pre rante prometeu dar um jeito. Até agora com uma delicada e indefesa dama co
so na Alfândega brasileira, sem perspec não fez nada. Quem sabe depois que se mo a nossa Martinha. É como ela mes
tivas de ser liberado tão cedo. recobrar da forte emoção que viveu, ele ma desabafou para a imprensa, desapon
resolva tomar uma providência. tada:
A história desse automóvel os leito
res já conhecem. Quando saiu o resul Legalmente falando, o carro de Mar “Se eu estivesse fazendo alguma rou
tado do concurso, Miss Universo, devido tha tem condições de ser liberado, visto balheira, com toda certeza não teria ne
ao polêmico critério pelo qual foi eleita, que na sua aquisição não foram despen nhuma dificuldade.”
sentiu-se na obrigação moral de repartir didas as preciosas divisas do dr. Gudin.
o seu prêmio com a Martinha. Tendo O que se exigirá de Martha é que apre
recebido dois automóveis ela houve por sente uma carta provando que recebeu o
bem dar um deles à nossa baianinha, carro de presente; mera burocracia, pois
que ficou felicíssima como se pode notar todo mundo está careca de saber disso.
na foto ao lado.
Mas sua alegria durou pouco. Foi
só chegar ao Brasil e o fiscal da Alfân O curioso nesse caso é que, apesar
dega, talvez revoltado por não ter em de estar proibida a importação de car
casa uma mulher do porte de Martha, ros de luxo, as nossas ruas estão re
resolveu proibir a entrada do carro, ale pletas de Cadillacs novinhos em folha.
gando estar proibida por lei a importa Através de inúmeros macetes legais es
ção de autos de luxo. ses autos entram no País e ninguém fala
nada.
GUDIN VIVE DIA DE GLORIA Como é comum na história desta jo
Martha Rocha fez tudo ao seu alcan vem Nação, só os pequenos infratores
ce para tentar liberar o auto. Chegou pagam por seus atos. Quando os gran
1 1
— EU T R O U X E A Í 0
VOTE VOTE VOTE VOTE PESSOAL A QUEM VO- _K r
CÊ PROMF.TF.U ALTOS
C A R G O S A N T E S l)F.
S E R E L E IT O !
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E no dia 22 de outubro, após a apuração dos resultados. .
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
84 —
A NOTÍCIA * S ão P a u lo , 22 de ou tu bro de 1954 *
GOVERNADOR!
Com 630 mil votos contra levisão no Estado.
Ceará. De maneira geral os
resultados parciais demons
tram que pouco impacto
mara dos Deputados e no
Senado, sendo seguido pela
UDN e pelo PTB.
A PRIMEIRA
JÂNIO EM CASA
ENTREVISTA
C O M O É, C O M O AG E O
O novo governador de GOVERNADOR NA
São Paulo, Jânio Quadros, INTIMIDADE
concedeu uma entrevista co PAG. 4
letiva à imprensa onde escla
receu seus planos de gover
no e os princípios pelos O PLEITO
quais se^norteará na admi EVOLUÇÃO DO PLEITO E A
nistração do Estado. FESTA DOS JANISTAS
Afirmou o sr. Quadros PAG. 2
ADHEMAR
CONSTRUIU J A N I S T A A MI G O ! v W
REALIZA 139 Grupos Escolares
OLERTA!
14 Ginásios e Colé
gios
MESMO! 5 Escolas Normais Sem wlios e sem rancores falemos com lealdade:
17 Escolas diversas
4 Edifícios da Uni Jânio terá boa votação na capital, ma* perderá no interior
e " n "f r e n t o u versidade de Sáo Jânio não tem organização partidaria no interior
E VENCEU Paulo
19 Hospitais Jânio não tem céd u la s do interior
Se disserem que Adhemar desistiu
A SABOTAGEM 32 Fóruns Se disserem que Adhemar indicou
Jânio terá boa votação na capital, mas perderá no interior—
ORGANIZADA 26 Ediíicios vários
outro candidato
h n 1949
TODOS OS DIAS QUEM EM JAN 10 VOTAR Se disserem que Adhemar fez as
ADHEMAR VOCÊ PASSA POR ESTARÁ AJUDANDO A ADHEMAR! pazes com Garcez
srogramou grandes
is publicas
—uOo —
UMA REAIIZAÇAO
PRESTES MAIA ESTÁ VENCENDO
Se disserem que Adhemar brigou WÁ
Propós a Assembléia DE com Salzano...
C rí 74 000 000.00
l a construção
A D H E M A R NO IN T E R I O R ! Aindo mesmo que digam que
«e prédios cm geral
DCAAM-1JIK Reforce essa vitoria na capital para salvar São Fado das Adhemar morreu...
Cr* 24 000 000.00 garras de Adhemar!
—oOo—
Jsai»U, soa causa também é nossa 2
Nossos amigos Janio e Porfirio continuarão na Prefeitura
unidos a Prestes Âiaia nos Cjuopv» Liúio* !
Hão ACREDITE!
PAROU!
Parou a “caixinha'1 — compradora DERROTEMOS ADHEMAR FAZENDO
L E M B R E -S E :
Adhemar í o candidato do
de almas, subornadora de consciên povo a Governador do Estado
cias, cancro a corroer os dinheirot PRESTES M A I A G A N H A R
do E stad o ... Este i mm e erM t qe* a cehmle
Esta previsão eleitoral é exata:
PAROU DE UMA VEZ MO Janio 310
N Ã O P O D E R Á D E S T R U IR 1 ]
GOVERNO DECENTE DE 6AROZ Adbemar 335 S Ó HÁ 2 CAMINHOS! j
Fti ISM I RM M Prestes Maia 3S5
SAO PAULO PAR0U1 Em nome de São Paulo, janista amigo, contamos coa você
ao lado de
COM BDHEMAR
ii
PRESTES MAIA
Meus caros patrícios:
£ juntos comemoraremos a vitoria! CONTRA S. PIULO
FÉ EM D E U S
PÉ NA TABU A
JÂNIO NA INTIMIDADE
Esse homem que acaba de conquis plesmente não desatava. Usava uma por pagando as prestações dos móveis de
tar o governo de São Paulo está longe meses a fio até que eu a trocasse.” sua casa na rua Sinimbu e com isso jus
de compor, na vida doméstica, a imagem tifica a sua sovinice quanto ao orçamen
Depois que entrou na política, sua to doméstico.
do herói que costumamos ver no cine elegância ficou ainda mais prejudicada.
ma. Na vida real Jânio não tem nada Não tinha mais tempo para nada. Às Durante o seu mandato pretende mo
de mocinho. “Eu jamais conhecera ho vezes chegava em casa, deitava de roupa rar no Palácio dos Campos Elísios, o
mem tão horrendo” , recorda Dona Eloá e tudo, dormia alguns instantes e saía que permitirá a reforma de sua casa.
o seu primeiro encontro, “naquele mo em seguida sem nem pentear os cabelos.
mento seria impossível acreditar que um Quanto aos hábitos alimentares não
Para ganhar tempo levava o lanche no é de grandes sofisticações. Não gosta de
dia me tornaria sua esposa” . O pai de bolso para comer quando desse fome.
Jânio, Gabriel Quadros, médico e ami pratos complicados, sendo a sua grande
Esses sanduíches de mortadela acaba paixão gastronômica, tutu de feijão, de
go do pai de dona Eloá, os convidara ram por tornar-se sua marca registrada.
para passar o fim de semana em sua onde, aliás, vem o apelido de sua filha.
casa no Guarujá. Adora perfumes. Não pode vê-los Ultimamente tem aparecido com rou
“Apesar de feio, era um rapaz de sem querer experimentá-los. Certa vez pas melhores, mas isso não se deve a
fala fluente e me impressionou com sua encontrou um frasco sobre a penteadeira uma mudança na sua tradicional displi
conversa.” Algum tempo depois, em de dona Eloá e não teve dúvidas: encheu cência. É que o alfaiate Barone, con
1942, o recém-formado advogado a pe a banheira de água e misturou-o nela. doído com seu desleixo, resolveu presen
diu em casamento. Mais tarde veio a saber que se tratava teá-lo com alguns ternos. Nenhum azul,
de um precioso perfume francês do qual por sinal.
Levaram uma vida modesta. Lecio ela economizava até as gotas.
nando e advogando ao mesmo tempo, É esse o homem que governará São
ele fazia das tripas coração para dar um Como “hobby” costuma ler livros po Paulo nos próximos anos. Dele pode-se
padrão razoável à família, logo acres- liciais e histórias em quadrinhos. Não falar tudo, menos que se trata de um
cida de mais um elemento, Dirce Maria, perde um filme de^Far Westve conhece político convencional. Sorri raramente e
sua filha. a vida de todos os mocinhos do cinema. não costuma dar tapinhas nas coátas de
Freqüenta bailes de carnaval mas não ninguém.
“Ele nunca deu muita atenção para dança. Tem pavor de lança-perfume des
roupas. Comprava tudo por ocasião do Não liga para as críticas que fazem
de que, quando estudante, perdeu a vista ao seu comportamento. Quando fazem
Natal, e não escolhia nada. Tinha pre direita devido ao estouro de um tubo ao
ferência por ternos azuis e só. O resto alusão à sua feiura sai-se com a seguin
seu lado. te resposta:
comprava sem olhar. Sempre detestou
vitrinas. As gravatas, por não não ter Apesar de eleito governador, conti “ Afinal vocês querem um governador
muita habilidade para dar nós, ele sim nua a sua vida de sempre. Ainda está ou um reprodutor?”
— V —
— 89 —
joritárias do pensamento acadêmico consideram que quem faz a
história são as massas, que o homem, enquanto indivíduo, não pos
sui forças para conduzir o processo. Não se aceita que a história
também se mova a partir de posições pessoais. Curiosamente essas
mesmas áreas de nosso pensamento, quando chegam no capítulo
Jânio, jogam fora todos os manuais de marxismo vulgar, esque
cem todas as leis da dialética e só discutem a pessoa, seu caráter,
sua personalidade, suas intenções.
90 —
Essas questões do tipo “místico ou mistificador” não têm im
portância na análise política. No momento em que um indivíduo
suscita e lidera um movimento político, deve-se questionar a valida
de do movimento, não a da pessoa. Deve-se discutir a utilidade ou
não desse movimento, suas perspectivas. Em Política no seu sentido
amplo, não se discute intenções, mesmo porque não há intenções.
— 91 —
CAPÍTULO 3 — 1955
— 93 —
Corria o ano de 1955, no qual se realizariam eleições presi
denciais.
— 95 —
rantiu a intocabilidade de seu espólio. Seu fantasma continuava go
vernando a Nação, condicionando a opinião pública, gerindo o seu
futuro.
JUSCELINO/GOULART
VENCEM AS ELEIÇÕES
Os candidatos da aliança firmou definitivamente na li
PSD-PTB, Juscelino Kubits- derança do pleito.
chek de Oliveira e João Bel Juscelino obteve 3.077 mil
chior Marques Goulart aca votos, cerca de 500 mil a
bam de ser eleitos para pre
mais do que o segundo colo
sidente e vice-presidente, res cado, Juarez Távora. Em
pectivamente, no qüinqüenio termos relativos sua votação
1955-1960. equivaleu a 36% do total de
As apurações correram em votos válidos e a de Távora
clima de grande suspense, a 30% do mesmo total.
poucos sendo capazes de pre João Goulart representou
ver quem seria o vencedor a maior votação individual da
do pleito realizado no último campanha, tendo sido eleito
dia 3. Devido ao fato de as para a vice-Presidência com
urnas paulistas terem sido a- 3.600 mil votos, 200 mil a
puradas com mais rapidez, o mais do que Milton Campos,
candidato Adhemar de Bar- seu concorrente da chapa
ros foi o primeiro a despon Távora.
tar como favorito, já que sua Os observadores políticos,
votação nesse Estado havia em geral, são da opinião de
sido maciça. Com o correr que a presença de Adhemar
dos dias, porém, sua vanta de Barros no pleito drenou
gem foi sendo diluída, até boa parte dos votos que se JK ! Õ SORRISO DA VITORIA
que o nome de Juscelino se riam de Juscelino.
V _______________________ ____________________
A EVOLUÇÃO D O S FATOS
DANÇA DE RODA
Nos meses que antecederam a sua com um ligeiro aumento das bancadas esforços se mostram em vão. Em fins
morte a maior preocupação de Getúlio do PSD e do PTB. de janeiro os principais comandantes mi
era quanto à sua sucessão. Sabia o velho litares da Nação entregam-lhe um me
cacique que essa não se daria sem trau Os políticos já se preparavam para
voltar às negociações quando surgiu um morial alertando-o para as graves conse-
mas, visto estarem as forças políticas qüências de uma vitória da chapa J-J.
nacionais se polarizando de maneira ca imprevisto: o governador de Minas, con
da vez mais radical. Com o intuito de trariando a orientação da cúpula parti Ao invés de influenciá-lo tal manifesto
deixar a casa em ordem e possivelmente dária, lança-se candidato à Presidência lhe parece uma inaceitável pressão, o
garantir uma aposentadoria tranqüila, da República. que o leva a declarar à imprensa que
ele optou pela fórmula de um candidato de forma alguma interferirá no processo.
de conciliação nacional. Para presidir ..VAMOS DAR A MEIA VOLTA... No Congresso consegue-se uma vitó
as negociações necessárias escolheu o an ria insuficiente com a aprovação da “cé
fíbio governador de Pernambuco, eleito dula oficial” , enquanto o Superior Tri
por uma inusuai composição UDN-PSD A jogada de Kubitschek representava
na prática o sepultamento em cova rasa bunal Eleitoral não demonstrava pressa
e portanto homem de trânsito livre nas
duas trincheiras. Tratava-se do famoso do esquema Etelvino. A polarização re para se pronunciar quanto à tese da
"Esquema Etelvino Lins” , sonho de to sultante de sua candidatura acabou por maioria absoluta.
dos os políticos ambiciosos de então. inviabilizar qualquer tentativa de conci
liação das forças políticas. Debalde o
O ANEL. ERA DE VIDRO
presidente Café Filho tentou convencê-lo
r a a H iB m iin n m B a sair do páreo. Etelvino, num último
esforço, ainda lhe oferece a vice-Presi- A essa altura o “Esquema Etelvino”
As negociações avançavam no ano dência numa chapa encabeçada'por Jua já lutava, não por um candidato de con
de 1954 dentro de um clima de bastante rez Távora, mas Juscelino não cede. A ciliação, mas por qualquer um com um
otimismo, havendo inclusive convergên essa altura suas negociações com o PTB
mínimo de chances de enfrentar Jusceli
cia em torno de algumas candidaturas já iam longe e não havia por que entre
gar os pontos. no. A princípio as atenções se voltam
como as do marechal Mascarenhas de para Jânio Quadros, o novo fenômeno
Morais, comandante da FEB ,e do gene eleitoral paulista. Esse, no inicio, dei
ral Juarez Távora, um dos históricos lí xa-se cortejar, mas, ao sentir-se sem con
deres tenentistas, quando sobreveio a
dições, prefere apoiar o nome de Juarez
crise de agosto que culminou com a mor
te de Vargas. O trágico desfecho do epi Ao início do ano de 1955 a chapa Távora, o qual reluta em aceitar sua
sódio trouxe de volta toda a radicaliza Jusceiino-Goulart já era tida como cer candidatura.
ção anterior, o que impossibilitava a ne ta. Ninguém tinha dúvidas a respeito de
sua invencibilidade. Frente a tais circuns Quando finalmente se decide já é
gociação. Por outro lado, as forças muito tarde. Sua campanha caminha trô
conflitantes decidiram aguardar as elei tâncias, as forças político-militares pas
sam a agir de forma diferente. Abrindo pega, lutando ao mesmo tempo contra ô
ções de outubro, através da qual se afe-
diversas frentes de combate, tentam de relógio e contra a pouco vendável ima
riria o real cacife de cada parceiro.
sesperadamente impedir a volta da es gem do general. Sisudo, irascível, dando
trutura varguista ao poder. Por um lado socos em mesas e prometendo democra
trabalham no sentido de envolver o pre ticamente sacrifícios para toda a po
sidente Café na disputa, para, com a má pulação, sua postura apocalíptica cla
quina estatal, viabilizar uma candidatura ramente contrasta com o otimismo
Delineava-se uma situação contradi contra a aliança PTB-PSD. Por outro la
tória: as forças anti-Getúlio nunca antes irradiante de Kubitschek. Foi, sem dú
do tentam aprovar no Congresso um pro vida, o maior cabo eleitoral do governa
estiveram tão fortes, visto dominarem o jeto modificando a legislação eleitoral.
governo do presidente Café Filho. Mas dor mineiro.
(Vide matéria “A Cédula Oficial” , pág.
também nunca estiveram tão apreensi 3.) O terceiro e mais desesperado recur
vas, As eleições de outubro, apenas um so é a tese da maioria absoluta, apre
mês e meio após o suicídio de Vargas, "ACABANDO E QUEBRANDO"
sentada ao Superior Tribunal Eleitoral,
poderíam levar o eleitorado a votar emo segundo a qual, caso nenhum candidato
cionalmente, dando amplo respaldo às obtivesse 50% mais 1 do total de votos Os outros candidatos não tiveram ne
lideranças varguistas e enterrando de vez válidos, seria realizada uma nova elei nhuma chance. Adhemar entrou para
todas as suas pretensões de modificar o ção, indireta, no Congresso Nacional.
panorama político nacional. Justamente ganhar, só serviu para atrapalhar. Quan
por isso advogavam o adiamento do plei to a Plínio Salgado, nem esse consolo
to para ocasiões mais oportunas. O AMOR ERA POUCO obteve. Acreditando numa nostálgica re
edição do integralismo acabou por mer
Nada disso ocorreu, na realidade. gulhar de cabeça na piscina vazia.
Em linhas gerais, o quadro permaneceu Uma a uma as portas vão sendo fe
o mesmo após a abertura das urnas, chadas. Com o presidente Café todos os A briga agora se dará nos tribunais.
OS OUTROS CANDIDATOS
JUAREZ TÂVORA
ADHEMAR DE BARROS
PLÍNIO SALGADO
— 101
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
í-
As matérias nele encontradas foram redigidas pelo autor a partir
de fatos compilados por esse nos jornais e revistas do período en
focado.
UDN CONTRA A
POSSE DOS ELEITOS
A União Democrática Na aguardam ansiosos o parecer
cional entrou com processo dos juizes. Na hipótese de o
na Justiça Eleitoral no sen Tribunal julgar procedentes
tido de anular a eleição de os argumentos da UDN po
Juscelino Kubitschek e João derão surgir duas soluções:
Goulart, candidatos a presi a ocorrência de nova eleição,
dente e vice-presidente vito indireta, ou a simples dedu
riosos no pleito de 3 de
outubro. Justificando seu re
ção do total de votos obtidos
pela chapa vencedora dos EXTRA!
curso com a não ocorrência
de maioria absoluta na elei
possíveis votos obtidos com
o apoio dos comunistas. Em LOTT DEMITIU-SE!
ção e também com o fato da qualquer desses casos, os O ministro da Guerra, general Henrique Tei
chapa vencedora ter sido analistas são unânimes em xeira Lott,acaba de ser demitido pelo presidente
apoiada pelo proscrito Parti prever a ocorrência de uma Carlos Luz. A exoneração se deu durante a au
do Comunista, os udenistas grave crise institucional. diência que o ministro lhe solicitara e na qual exi
giu a punição imediata do coronel Mamede pelas
declarações que prestara a favor de um golpe de
licencia-se o Presidente Estado contra a posse de Juscelino Kubitschek e
João Goulart.
Vitimado por um enfarte caso de impedimento do vice- Segundo as informações obtidas, o presidente
; no dia 28 do mês passado o presidente. recusara-se a tomar a atitude solicitada, mediante
presidente Café Filho reque o que o ministro declarou que não mais perma
Recorda-se que Café Filho,
reu licença ao Congresso Na necería no cargo. Fontes acreditadas afirmam que
cional para tratamento de vice-presidente, assumira a
Presidência em caráter defi a demissão de Lott fazia parte dos planos do novo
saúde. Assumiu em seu lu presidente, visto ]6 haver convidado o general
gar o presidente da Câmara nitivo por ocasião da morte
Fiúza de Castro para a Pasta antes mesmo da au
dos Deputados, Carlos Luz, de Getúlio Vargas, no ano
diência com Lott.
substituto constitucional no passado.
í_______________________
TOM A P O SSE O NOVO
OQUEÉA
P R E SID E N T E
E SG ?
CAFÉ NA C A M A TRAZ LUZ AO PALÁCIO DO CATETE
Paira acima do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica. Submete-se apenas ao
Estado-Maior das Forças Armadas. Afi
Com a concessão de uma licença de Se tal informação for verídica a Na
nal que entidade é essa que consegue
30 dias ao presidente Café Filho para ção se encontra à beira de um impasse,
desautorizar um ministro da Guerra?
restabelecer-se da crise cardíaca de que visto que o ministro da Guerra deverá
foi vítima, tomou posse o presidente da procurá-lo hoje para resolver o caso Ma- A Escola Superior de Guerra foi fun
Câmara Federal, deputado Carlos Luz. mede. dada em 1949, tendo como idealizador
O novo presidente assume em meio a o general Cordeiro de Farias. Pode-se
uma grave crise político-militar cujo de- afirmar com certeza que se trata de uma
senlace é aguardado com expectativa por ramificação tardia do movimento tenen-
toda a população brasileira. tista das décadas de 20 e 30, quando jo
vens oficiais resolveram sair a público
defendendo reformas na estrutura sócio-
Cafe esfriou de propósito? econômica da Nação.
0 LOBISOMEM
Chovia forte naquela tarde quando cença, servindo na Escola Superior de
se restringe a estudos militares, tendo
objetivos de muito maior alcance. Sua
doutrina engloba visões próprias a res
peito do papel do Estado na economia
estava sendo enterrado com glórias mi Guerra, fora da jurisdição do Ministério. e na sociedade. Segundo o general Cor
litares o general Canrobert Pereira da deiro de Farias, “ o impacto da FEB foi
Costa. Os discursos que se sucediam O problema não é tão simples como tal que voltamos ao Brasil em busca de
eram breves devido ao mau tempo e aparenta. Para punir o coronel indisci modelos de governo que pudessem fun
também visando a poupar a família do plinado, o general Lott deve recorrer à cionar: ordem, planejamento, racionali
general. Subitamente faz uso da palavra Presidência da República e nessa instân zação das finanças. Como não temos
um orador não programado: cia, como se sabe, as decisões não são esse modelo no Brasil tomamos a deci
regimentais e sim políticas. Neste País são de procurar meios para encontrar o
“General Canrobert, aqui estamos onde Presidente Prudente vira cidade caminho a longo prazo. A ESG nasceu
à beira do seu túmulo ( . . . ) e' presidente imprudente não dura no da experiência da FEB com essa fina
cargo, nenhum inquilino do Catete ousa lidade” .
Não será por acaso indiscutível men ria punir um militar como o coronel
tira democrática ( . . . ) uma vitória da Mamede, ligado à Cruzada Democrática A ideologia da Escola Superior de
minoria? ( . . . ) ” e ao grupo de coronéis que compõem a Guerra é informalmente conhecida co
O discurso seguiu por essa linha nova Inteligência Militar, encastelados mo “Doutrina de Segurança Nacional” ,
conclamando claramente no final os mi na ESG. Café não quis fazê-lo, nada in abrangendo noções de uma neociência
litares a intervirem no processo suces dica que Luz tenha essa intenção. Mui intitulada Geopolítica, cujo principal
sório. Tal exaltação foi ouvida pelo mi to pelo contrário, aliás. Após o discurso teórico é o tenente-coronel Golberi do
nistro da Guerra, presente à cerimônia, de Mamede um dos cumprimentos mais Couto e Silva. Seus cursos são também
que só não prendeu o orador devido a efusivos que esse recebeu foi exatamente ministrados para civis, sendo o jornalis
problemas regimentais do Exército. O o do presidente da Câmara, Carlos Luz. ta Lacerda um dos alunos da turma de
coronel Bizarria Mamede estava em li Vai mal este País. . . 1954.
em legalidade para entregar o Brasil a
contraventores e criminosos do pior dos
crimes que é o de enganar o povo com
o dinheiro que lhe roubam.”
4 de novembro
“Essa é a hora de decisão das For
O nome é “Tribuna da Imprensa” , se tornaram mais candentes, tendo o sr. ças Armadas ( . . . ) . ”
mas bem podería chamar-se “A Tribuna Lacerda inclusive publicado, às vésperas
de Lacerda” , visto sua linha editorial ser do pleito, uma denúncia segundo a qual 9 de novembro
uma extensão da personalidade de seu Goulart estaria ligado ao ditador argen “ ( . . . ) Esses homens não podem
proprietário. tino Peron, no sentido de provocar uma tomar posse, não devem tomar posse,
revolução armada no Brasil. O do nem tomarão posse.”
O nome nasceu do título de uma co cumento comprobatório seria uma carta
luna publicada pelo jornalista Lacerda supostamente redigida pelo deputado ar Segundo afirmações do jornalista La
no “Correio da Manhã” , em meados da gentino Brandi, negociando com Jango cerda, “é preciso não só uma reforma
década de 40, na qual dava a sua visão o contrabando de armas para equipar da legislação eleitoral como também
sobre o andamento da Assembléia Cons milícias populares. Posteriormente foi uma reforma profunda no Brasil, para
tituinte. Após deixar o Correio, Lacer provada a falsidade do documento que desintoxicá-lo de vários anos de ditadu
da, junto a alguns amigos fundou esse ficou conhecido como “Carta Brandi” . ra, de vários anos de demagogia, de vá
jornal que hoje é um dos mais importan rios anos de propaganda pessoal de um
Após os resultados do pleito o jor mito” . Para tanto prega “um regime de
tes do País. Sua linha é de aberto com nal adquiriu uma postura claramente exceção, um regime de transição ‘du
bate ao espólio do getulismo e ultima golpista, conclamando as Forças Arma rante o qual’ seria desmontada a má
mente tem se manifestado contra a posse das a não permitir a posse dos eleitos. quina do Ministério do Trabalho, do pe-
de Juscelino na Presidência. A seguir publicamos trechos de editorais leguismo sindical” .
da Tribuna da Imprensa:
Desde o suicídio de Vargas o jornal "É preciso dar à democracia aqueles
tem pregado o adiamento das eleições, instrumentos sem os quais o simples ato
5 de outubro
sob o argumento de que o forte clima de votar não significa um ato democrá
emocional resultante da tragédia não “ ( . . . ) Apelamos a quem tem nas tico, porque é precedido por uma má
permitiría ao eleitorado votar conscien mãos a força capaz de decidir a ques quina antidemocrática, cujo resultado só
temente. Após o lançamento da candi tão. ( . . . ) Basta que ouçam a voz de pode ser contrário ao interesse legítimo
datura Juscelino-Goulart, seus editoriais seu patriotismo e não a dos que falam dc progresso da democracia.”
M O D E R A D O S E R A D IC A IS C O N TR A
A P O S S E D E JU SC E L IN O
A corrente moderada da UDN tenta de Juarez Távora. São escassas as pos A ala oposicionista mais radical con
na Justiça obstar a posse de Juscelino e sibilidades de aprovação. centra-se no “Clube de Lanterna” , orga
Goulart. Contrário a qualquer solução nização fundada em 1954 e dirigida pelo
extralegal, o grupo que tem por líder jornalista da “Tribuna da Imprensa” ,
o brigadeiro Eduardo Gomes e o líder Amaral Neto. Trata-se de um núcleo de
da UDN na Câmara, Afonso Arinos, ação política cuja plataforma defende
entrou na justiça eleitoral com recur uma intervenção militar para impedir a
so alegando a não-ocorrência de maioria posse dos candidatos eleitos no pleito
absoluta e também a participação ilegal de outubro. Apesar de não pertencer ao
do Partido Comunista no pleito. corpo diretivo o deputado Lacerda é
considerado seu mentor intelectual.
A primeira alegação tem poucas
chances de obter parecer favorável visto Os “lanterneiros” abrangem vários
já haver jurisprudência contrária desde setores da sociedade, havendo estudan
o pleito de 1950. Sendo assim, os es tes, militares, uma corrente feminina e
forços udenistas se concentram na se até elementos graduados do governo.
gunda, baseada em parecer do jurista Há poucos dias houve tumultos na Câ
Raul Fernandes que sustenta a dedução mara de Vereadores do Distrito Federal,
no total de votos de Juscelino do mon quando o edil Wilson Passos ocupou a
tante obtido pelos comunistas na última tribuna para pregar abertamente o gol
eleição em que compareceram legalmen pe. O incidente terminou em luta cor
te. Sendo esse montante (500 mil vo poral, sendo necessária a intervenção do
tos) mgior do que a diferença entre o corpo de segurança da Casa.
primeiro colocado e o segundo, a acei Corre o boato de que até Carlos Luz
tação de tal tese implicaria a eleição Arinos: pela solução legal está ligado ao grupo.
\ ____________ _ _____________ ____________ __ _____________ J
Nunca foi provada a existência real da conspiração contra a
posse de Juscelino. Lacerda posteriormente alegou que tal não pas
sara de um descontentamento difuso, sem nenhuma estrutura que
pudesse levar a uma ação efetiva.
— 107 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 108 —
. A NOTÍCIA
--------------------------------------------------------------------------------------------
___________________* São Paulo, 15 de novembro de 1955 * _____________
Q GALERIA PRESIDENCIAL
Círitorial
A F IN A L ,Q U E M É D EM O C RATA?
Dá-se um golpe para salvar a de O problema é bem mais grave do datos amparados pelo poder econômico.
mocracia de outro golpe, o qual não que aparenta e dele não estão excluídos Tanto Lacerda como os comunistas a-
chegara nem a sair do papel. O povo nem os utópicos nem os moralistas, firmam textualmente que as eleições no
brasileiro ainda não tem opinião forma nem mesmo os socialistas e comunistas. Brasil são uma farsa para esconder o
da a respeito do fato, mesmo porque caráter despótico do regime brasileiro.
quando acordou no dia 11 de novem Uma análise mais detalhada do pro Os comunistas visando a acabar com a
bro já estava tudo resolvido. Qualquer grama destes últimos, editado em no opressão já tentaram o seu golpe em
um que tentasse tomar partido através vembro de 1955, surpreende pela seme 1935, Lacerda pelas mesmas razões quis
do estudo detalhado do ideário das duas lhança com o ideário de Lacerda, con dar o seu agora.
facções golpistas chegaria a uma con siderado unanimemente como homem
clusão frustrante: ambas tinham exce de direita e principal ideólogo do golpe A lição que nos resta dos recentes
lentes justificativas para seus planos. O contra a posse de Kubitschek. e lamentáveis episódios é de que não
golpe abortado visava a implantar a de é esse o caminho.
mocracia verdadeira, o golpe nascido Lacerda alega que as eleições bra
garantiu a democracia existente. O pri sileiras não são legítimas porque o po Sempre que alguém levanta armas
meiro falava em legitimidade, o segun der econômico predomina, o voto não pela causa democrática, fatalmente en
do em legalidade. Ambos falavam em é livre e o eleitor é sujeito a pressões contra alguém que o combata, levantan
democracia, ambos atentaram contra poderosas. O pragrama do PC afirma do as mesmas armas, escorado na mes
ela. a mesmíssima coisa: a atual Constitui ma causa. E quando isso ocorre, a de
Contradições próprias do ideário ção é um código de opressão contra o mocracia, pretexto primeiro de ambos,
burguês, argumentaria algum pensador povo, as eleições da forma como são passa a ser a prioridade última de
das esquerdas. Seria mesmo? feitas só permitem a eleição dos candi todos.
— 111 —
lentos e opressores. Quando Hitler instalou sua ditadura em todo o
continente europeu o que fez a quase totalidade dos políticos e elites
dominantes da época? Ou figiram ou aplaudiram, pelo menos no
primeiro momento.
Aliás essa é uma questão que deveria ser desmistifiçada para ser
vir de exemplo ao futuro. O nazismo não dominou a Alemanha, a
Áustria e arredores, simplesmente pelas armas. Mesmo ele tinha uma
ideologia de caráter "democrático", "libertário” e "igualitário”. Se
gundo o Mein Kampf a solução para os problemas do mundo era a
criação de uma sociedade fraternal, solidária, onde os homens dei
xassem de lado suas ambições pessoais e lutassem pelo bem comum.
O problema, de acordo com a ideologia deles, era que nem todas as
raças tinham provado historicamente ter essa vocação solidária e co-
letivista. Enquanto os arianos teriam dado provas de sobra de pos
suírem tal mentalidade, os semitas haviam mostrado o contrário:
egoístas e cruéis, eles deveríam ser eliminados para que o mundo pu
desse ser feliz. Foi almejando tão "nobres” fins que se cometeu a
maior das barbáries da História moderna. E com o apoio entusiás
tico de grande parte da população.
ODON — De fato, ninguém pode afirmar que a Wherchmath
dominou a Europa apenas com c peso de suas botas.
Mas, voltando à democracia brasileira, por que é que a esquer
da e a direita vivem pensando em esmagar uma a outra? Porque aí
existe uma falta de inteligência, uma falta de sensibilidade que nas
ceu também da ausência de interesses materiais, objetivos, a serem
defendidos.
— 112 —
A democracia é um sistema repressivo a sua maneira por que ga
rante o convívio na diversidade. Não existe coisa mais irritante para
um homem do que ter certeza de que está do lado da verdade e seu
adversário não concordar com isso. . .
113 —
CAPÍTULO 4 — 1958
115 —
Corria o ano de 1958.
— 117 —
No Oriente Médio, Israel voltava às suas antigas fronteiras, ce
dendo às pressões americanas e soviéticas para que devolvesse o
Sinai aos egípcios.
118 —
— II —
— 119 —
A nova gestão, segundo comunicou ao secretariado em sua pri
meira reunião formal, seria baseada num espírito de total e irrestrita
economia, no sentido de saldar as dívidas contraídas na adminis
tração anterior e criar uma mentalidade austera no trato do dinheiro
público. Anunciou também que “a partir daquele momento esta
vam todos sob uma ditadura”. A ditadura implacável do professor
Carvalho Pinto, secretário da Fazenda, ao qual daria todo o respal
do necessário na luta contra as despesas supérfluas. Quanto aos
cortes orçamentários explicou que “ seria cortado não apenas o su
pérfluo, mas também o necessário, só restando o imprescindível”.
— 1 2 0 —
serviço em geral; e por outro lhe proporcionava considerável au
mento em seu prestígio, visto que a população sentia nessas atitudes
uma poderosa garantia contra os abusos e a opressão de que era
vítima por parte dos órgãos públicos.
121
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
122 —
A NOTÍCIA 22 DE OUTUBRO DE 1958 ~
127 —
um grupo determinado de pessoas. Naquela época, buscar um em
prego público através do PSP, Partido do Adhemar, era uma as
piração legítima de qualquer família, um ato normal. Bastava
conhecer o deputado certo, ter relações com o diretório do PSP
de sua cidade. Em todas havia uma pessoa importante do adhema-
rismo que nomeava as professoras do grupo escolar, o fiscal do
Posto da Secretaria da Fazenda, o encarregado do Centro de Saúde.
Concurso público era uma excrescência. uma coisa que se fazia
muito raramente.
Essa via seria a direção dos destinos de cada país pela sua bur
guesia nativa, agindo com independência em relação aos cartéis
internacionais e também com capacidade de defender-se do impe
rialismo soviético.
— 128
abortar essas possibilidades, transformando a burguesia nacional
em sócio minoritário dos seus grandes negócios no Brasil.
Para que o Estado pudesse exercer tal papel ele deveria ser
transformado, sair de seu papel cartorial, de instrumento apenas de
regulagem das relações entre as classes. Jânio Quadros se mostra
como o veículo adequado para tal transformação, eliminando os
desmandos do aparato estatal e tornando-o mais eficiente para a
realização de seu novo objetivo.
129 —
CAPÍTULO 5 — 1959
— 131 —
_ X _
— 133 —
são; automóveis, demonstração ambulante de status. Nâo se coro»
prava mais geladeiras para preservar os alimentos, mas para ver a
cara de inveja da vizinha, ou ao menos não ficar com tal cara ao
conhecer a geladeira dela. A indústria gerava os produtos, a publi
cidade os revestia de sonhos e as famílias os consumiam avidamente
relegando a um segundo plano a poupança, a segurança, a escola
e a esperança.
— II —
— 134 —
monstrara ter prestígio popular ainda mais forte do que quando
assumira, cs políticos, um a um, voltavam ao seu convívio, convenci
dos de que não havia outro homem público no País tão presiden-
ciável quanto ele.
— 135 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
JÂ N IO CAND ID ATO DA U D N
Por 205 votos contra 85 CONVENÇÃO
dados a Juraci Magalhães o TUMULTUADA
deputado Jânio Quadros foi
lançado candidato da União A convenção foi sem dú
Democrática Nacional à Pre vida a mais agitada de toda
sidência da República em a história da UDN, com ora
convenção nacional realizada dores de ambas as facções se
no dia 9 de novembro no di-gladiando no plenário. A
Palácio Tiradentes. tensão chegou ao máximo
A indicação de Jânio Qua quando Lacerda subiu à tri
dros foi precedida de uma buna para seu discurso.
grave crise no interior da Após afirmar seu apreço por
UDN, dado ao fato de Jânio Juraci, alegou não estar ali
sem passado udenista con para analisar os méritos pes
correr contra um candidato soais dos candidatos mas sim
para defender a única alian
Jânio Aprovado na
da UDN histórica, o gover
nador da Bahia, Juraci Ma ça capaz de mudar a face do
Brasil. “ Aqui decidiremos se
Convenção do P D C
galhães. Em convenção nacional, to a cúpula do partido em
o nosso partido vai com o
povo para a vitória, ou se realizada no plenário da Câ São Paulo ter, desde o pri
A CANDIDATURA JÂNIO
vai suicidar-se com o Ca- mara dos Deputados, o Par meiro instante, se manifesta-
O lançamento da candida tete.” tido Democrata Cristão lan dado contra a indicação. O
tura Jânio pela UDN surgiu çou candidato à Presidência deputado Franco Montoro e
por iniciativa do sr. Carlos APARTE INFELIZ da República o seu antigo o deputado Queiroz Filho,
Lacerda, deputado e proprie correligionário Jânio Qua do PDC paulista, apresenta
Aliomar Baleeiro, apar- ram moção contra a indica
tário do jornal “A Tribuna dros e para a vice-Presidên-
teando Lacerda, pergunta-lhe ção de Jânio e, não logrando
da Imprensa” . Lacerda de cia o deputado Fernando
onde estava o governador demover os correligionários,
fendia a indicação de Jânio Ferrari, do PTB gaúcho. Jâ
Jânio Quadros no dia 11 de deixaram de comparecer à
como única forma da UDN nio que havia sido forçado
novembro de 1955. Este lhe convenção como forma de
chegar ao poder. Seria a a afastar-se do partido em
responde com violência: protesto.
união das elites com o povo, 1954 por divergências políti
segundo suas palavras. O “ Jânio estava em São Pau cas com a sua liderança, co Com a indicação do PDC
nome de Jânio foi indicado lo esperando a chegada do movido, agradeceu a indica somam quatro as legendas
como candidato em janeiro presidente Luz ao lado do ção e o voto de confiança que apóiam a candidatura
pelo diretório nacional, mas brigadeiro Eduardo Gomes. que a democracia cristã lhe Jânio Quadros à Presidên
só em novembro foi aprova Agora eu pergunto: Onde conferia, sendo aplaudido cia da República. Além da
do em convenção. estava o então senador Jura de pé pelos convencionais: UDN anteriormente seu no
ci Magalhães? Estava bus “Despeço-me levando para me havia sido lançado pelo
A CANDIDATURA JURACI cando o apoio de Juscelino casa o mais raro prêmio que PL e pelo PTN.
para sua candidatura.” podem conferir: o de tornar
A candidatura de Juraci
Magalhães era tida como na O plenário quase veio alguém, um conterrâneo,
tural pelo partido, sendo este abaixo com a armadilha re candidato à suprema magis
tratura do Brasil. Conduzo
um dos participantes da “ca
ravana da liberdade” , movi
tórica de Lacerda.
esse prêmio para o recesso O S V IC E S
JÂNIO ERA A ÚNICA do meu lar e fico à espera
mento de conscientização po CHANCE
lítica levado a cabo pela dos nossos primeiros passos,
UDN através do País. Jura Na verd.ade, desde o pri serenos e firmes, que hão de
meiro instante a convenção construir o regime do povo, Leandro Maciel
ci tinha também o apoio ve
iado do presidente Kubits- já pendia para a candidatura pelo povo, para o povo, que
UDN
chek, que o desejava como Jânio Quadros. A votação ainda nos falece: a verdadei
candidato de conciliação na final foi simplesmente a con ra democracia, livre, iguali PAG. 2
cional. Apesar desses trun firmação do que já se previa tária e justa e, por isto, cris
fos o governador baiano as há muito tempo. Para a tã.”
sistiu impotente ao progres UDN é preferível o poder PDC PAULISTA NÃO Fernando Ferrari
sivo esvaziamento de sua com Jânio do que a derrota APOIOU
candidatura com a ascensão com Juraci. Entre os dois PDC
estrondosa do nome Jâhio não teve dúvidas em optar O nome de Jânio não foi PAG. 2
139 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
140 —
A NOTÍCIA
* São Paulo, 22 de dezembro de 1959 *
10 DIAS DE
INCERTEZA
Após uma reunião com a nião para local até então des
cúpula udenista na residên conhecido.
cia de Quintanilha Ribeiro,
A notícia correu o País em
Jânio Quadros abriu mão de
instantes, causando grande
sua candidatura a Presidên
comoção na opinião pública.
cia da República. Em carta
Oficiais da Aeronáutica, ao
datilografada explicou o seu tomarem conhecimento do
gesto por não ter conseguido fato promoveram uma revol
reunir em torno de seu nome ta (matéria ao lado). Políti
as diversas correntes políticas cos udenistas realizaram ges
e legendas com a unidade e tões junto ao governador
a harmonia indispensáveis ao Carvalho Pinto com o intuito
êxito da jornada. de fazer Jânio voltar atrás
em sua decisão. Explode Revolta na
Aeronáutica com destino à Base de Ara-
* * * Alguns .oficiais da Aero
* * * náutica, ao tomarem conhe garças_,no interior da Amazô
cimento da desistência de Jâ nia, onde permaneceram até
nio em continuar candidato à invasão da mesma por
A renúncia abalou os rebelaram-se contra seus co tropas de pára-quedistas da
meios políticos oposicionis O Movimento Popular Jâ mandos e, numa operação FAB. Entre os revoltosos es
audaciosa que envolveu se- tava o tenente-coronel Ha-
tas e só foi retirada após dez nio Quadros saiu às ruas com
qüestro de aviões de carrei roldo Veloso, líder de revol
dias de exaustivas negocia a montagem de mesinhas de ra, pretendiam raptar o pre ta semelhante no início do
ções. assinaturas nas calçadas do sidente Kubitschek no aero governo Kubitschek, quando
Rio e de São Paulo, pedindo porto de Belo Horizonte. oficiais descontentes com a
Segundo seus assessores a a reconsideração da atitude posse de Juscelino domina
renúncia se deu pelo fato do de Jânio. Em menos de uma Frustrada a tentativa, os ram a região de Jacareacan-
candidato sentir-se manieta- semana levantou-se 360 mil rebeldes seguiram num C-47 ga, no interior do Pará.
do pelos interesses partidá assinaturas de populares. E s
rios. O estopim da crise foi sas listas foram entregues a
a exigência de Leandro Ma Jânio e influíram decisiva
ciel de ser o único candidato mente na sua retomada de
à vice-Presidência a subir nos posição.
palanques com Jânio, na jor
Jânio deixou claro ao re
nada inicial da campanha, no tomar que não aceitava as
Acre. A UDN não transigiu imposições partidárias de ex
nem quando lhe foi apresen clusividade dos candidatos à
tada uma proposta de conci vice-Presidência. Com sua
liação na qual se fariam dois atitude procurou demonstrar
comícios, um oficial com independência em relação
Leandro e um “improvisado” aos partidos políticos, colo
com Ferrari. cando sua candidatura acima
dos seus interesses. A renún
Após deixar uma carta on cia se deu no dia 25 de no
de expliçava as razões de seu vembro e só foi retirada no
ato, Jânio retirou-se da reu dia 5 de dezembro.
• - -- - - - ......- - ------------------—*■
JÂ N IO E A U D N
Ele é independente, arrojado e am ela sonhava com um líder popular; ele Beata nos princípios, pudica nos
bicioso. Nasceu sob o signo de Aquá o era. Na oposição, ambos tinham ciên meios, pentecostal nos fins, não é estra-
rio. cia de que, separados, jamais chegariam nhável que a UDN nunca tenha chegado
ao poder. Unidos suas chances são bem ao poder.
Ela é insegura, teimosa e tempera maiores.
mental. É Virgem, nem tanto pelo Zo
díaco, mais pela vocação. Apesar dessas vantagens, dificilmen QUEM É ELE
te tal união será duradoura.
Ele é arrojado, liberal e pragmático.
Ele, por seu lado, é essencialmente
Ela é retrógrada, conservadora e in QUEM É ELA pragmático. Desde o princípio enfren
transigente. tando e vencendo a oposição dos parti
Do tripé partidário em que repousa dos e das máquinas administrativas, Jâ
Ele é um excelente relações públicas, nio se sabe um líder de massas e só
ela abomina qualquer promiscuidade. a política brasileira a UDN é sem dúvi
da a perna mais fraca. Sua intransigên nelas se apóia. Extremamente ambicio
Certo dia, por ironia do destino, eles cia cega não lhe permite sequer assimi so, pretende, se eleito presidente, reali
se encontraram, trocaram juras de amor lar as qualidades de seus adversários. zar uma verdadeira revolução nas insti
e decidiram noivar. Com temperamen Critica o clientelismo do PSD, e por is tuições nacionais. Admirador de Nasser,
tos tão diversos, seria viável um matri so não adota o seu jogo de cintura. De Nehru e Fidel, sonha para o Brasil uma
mônio? plora a manipulação das máquinas sin postura independente e para si um papel
dicais e previdenciárias pelo PTB, mas histórico.
Não só os astrólogos, mas todas as não aprende com esse a cortejar as mas
pessoas de bom senso acreditam que sas trabalhadoras.
não. Otimistas mesmo, apenas os noi M ISSÃ O IMPOSSÍVEL
vos. Mesmo no plano das idéias ela deixa
muito a desejar. Por criticar, sem apre Com tamanhas diferenças, tal alian
VANTAGENS APARENTES sentar alternativas; por privilegiar as vir ça desde já mostra-se inviável. A re
tudes individuais (honestidade, coragem, cente desistência de Jânio, apesar de re
As afinidades à primeira vista eram integridade), em detrimento da ação co considerada, é um claro indício de que
muitas. Ele necessitava de uma estrutu letiva, o udenismo está mais próximo de sua convivência com os grupos que o
ra partidária; ela a possuía. Por sua vez uma religião do que de uma ideologia. apoiam será bastante difícil.
POLÍTICA É PROFISSÃO?
143
CAPÍTULO 6 — 1960
— 147 —
“ ( . . . ) Jânio estava gripado naquele dia e quase manda adiar
o programa. Ficou uma fera comigo pois lhe disse que não poderia
fazê-lo. ‘Castilho, afinal você comanda ou não esse movimento?’,
mas acabou se decidindo a ir.
BRASÍLIA INAUGURADA
No dia 21, de abril, data truída, englobando os palá ta mais feliz de sua vida. Na cerimônia realizada
em que se homenageia Tira- cios da Alvorada e do Pla Jornais do mundo inteiro no no novo Congresso Nacional
dentes e seu martírio, por nalto, o Congresso Nacional, JK , comovido, cedeu às suas
obra de outro ousado minei o Supremo Tribunal Federal ticiaram em manchetes a emoções e chorou por vários
ro, quase dois séculos após e os prédios de onze minis concretização de sua obra. minutos.
realiza-se um dos maiores térios. Somando-se a essas
sonhos do inconfidente: a obras estão em fase de con
transferência da Capital do clusão mais 160 mil metros
País para o Interior. quadrados de construção.
A idéia, como se vê, não Segundo Costa, o Plano-
é nova. Desde o Marquês de Piloto “nasceu do gesto pri
Pcmbal, passando por José mário de quem assinala um
Bonifácio, inscrita na pró lugar, ou dele toma posse:
pria constituição republicana, dois eixos cruzando-se em
a necessidade da transferên ângulo reto, ou seja o pró
cia da Capital brasileira para prio sinal da cruz” . Acres
longe do Litoral já se fazia centa o urbanista que sua
sentir, como única forma de idéia foi levar os benefícios
afastar a nossa civilização da da cidade para o campo e
orla marítima. trazer os espaços livres e o
campo para dentro da pró
O presidente Juscelino pria cidade, procurando as
Kubitschek decidiu realizá-la sim restaurar ao homem a
a partir de um comício du sua dignidade perdida.
rante a sua campanha elei
toral, quando recebeu a su Há quem discorde do pen
gestão de um popular. A samento de Costa. Muitos
princípio planejava-se insta- dos políticos e funcionários,
lá-la no Triângulo Mineiro, que lá residirão, acham a ci JÂ N IO VAI A C U BA
região equidistante das Ca dade desumana e árida. Ou
pitais de Minas, São Paulo tros preferem atentar para Jânio — Venho ao seu en portância, procurando os
e Rio de Janeiro e dotada de “o absurdo de construir-se contro para ver de perto a jornais exaltar a coragem do
infra-estrutura para tal em uma obra de tal custo nu obra de sua revolução. Ê visitante e exprimir a satis-.
preendimento. Foi o próprio ma nação pobre como o uma honra para mim visi fação do povo cubano. Jânio
Juscelino que optou pelo Brasil” . Adhemar de Barros tá-lo. era aplaudido nas ruas por
Planalto Central, alegando em sua campanha política onde passava chegando mes
Fidel — A honra é minha. mo a pronunciar um discurso
ser esse o centro geográfico costuma afirmar que o di Espero que seus dias em meu
da Nação e também uma nheiro gasto em Brasília da em português pausado, quan
país sejam os mais agradá do foi depositar flores no
área absolutamente abando ria para construir 5.000 hos veis possíveis.
nada, por sua vegetação de pitais, mais de cem mil resi Monumento a José Marti, e
cerrado. dências, várias usinas side Assim iniciou-se a rumo viu-se cercado de uma mul
rúrgicas. Outros críticos não rosa visita que o candidato tidão compacta que pedia
As obras foram iniciadas negam o mérito da idéia mas à Presidência do Brasil rea-- para ouvi-lo.
em fevereiro de 1957, sob a afirmam que, devido à cor lizou a Cuba, a convite de A comitiva ficou hospeda
supervisão do urbanista Lú rupção e ao favoritismo, a ci seu primeiro ministro, Fidel da no hotel Riviera, o mais
cio Costa e do arquiteto dade custou aos cofres públi Castro. luxuoso do mundo, confisca
Oscar Niemeyer, vencedores cos mais de três vezes o seu
Acompanhado de numero do pela revolução para servir
do concurso nacional desti custo real. Alegam que as
sa comitiva, a visita de Jâ de hospedagem aos visitan
nado à escolha do Plano-Pi- empreiteiras contratadas o tes. Dentre os acompanhan
loto. Apenas três anos após, nio Quadros teve grande re
foram apenas por critérios tes de Jânio o que mais se
num ritmo febril que obrigou percussão internacional, visto
políticos o que resultou na destacou foi o líder das Ligas
inclusive a mudança de Nie representar na prática um
construção deficiente e ex Camponesas, Francisco Ju-
meyer para o canteiro de rompimento da determinação
cessivamente cara da maioria lião, pelo trabalho revolucio
obras, a cidade pôde ser norte-americana de isolar o
das obras. nário que realizava no nor
inaugurada com a surpreen- regime revolucionário. Na
imprensa cubana o fato foi deste brasileiro.
te conclusão de 360 mil me Indiferente às críticas JK
tros quadrados de área cons teve no dia 21 de abril a da considerado de enorme im- (Cont. pág. 2)
JÂNIO EM CUBA
Na noite da chegada realizou-se a No último dia da visita, Fidel en- Raul (28) e Ernesto Guevara, presiden
primeira reunião do candidato com as controu-se informalmente com a impren te do Banco Nacional (30 anos). Este
lideranças cubanas. Com a presença do sa e demais membros da comitiva bra último é o autor da frase que resume
ministro da Defesa, Raul Castro, irmão sileira. Nessa oportunidade declarou a revolução cubana na opinião dos jor
de Fidel, discutiu-se as relações interna considerar muito importante visitas da nalistas da comitiva. Quando pergunta
cionais de ambos os países. Jânio pro quele tipo pois serviam para desfazer do se tinha formação marxista, respon
pôs a Fidel que apoiasse a Operação equívocos quanto à sua obra revolucio deu o seguinte:
Pan-americana, movimento iniciado por nária. Afirmou ser católico e disse que
Kubitschek, visando a unir a América La não pretende suprimir as liberdades de “Se ter formação marxista é ler
tina em tomo de reivindicações comuns. mocráticas em Cuba. “Todos têm o ple- Marx, então eu sou marxista; mas leio
Fidel respondeu-lhe que considerava po direito de discordar, mas não têm o também Roosevelt, clássicos de econo
mais importante um movimento dos paí direifo de sabotar.” mia. . . A mim não importa como nos
ses subdesenvolvidos em geral, indepen classifiquem, nossa revolução tem obje
dentemente da posição geográfica. Quei tivos práticos, específicos. Se pudermos
xou-se da hostilidade dos Estados Uni REVOLUCIONÁRIO PRAGMÁTICO realizá-la pelos métodos capitalistas, nós
dos e declarou estar negociando um em o faremos; se for preciso outros méto
préstimo com a União Soviética. A média de idade dos líderes da re dos, nós os usaremos. Só uma coisa nos
volução cubana é de 24 anos. Destoam importa: realizar os objetivos da revo
dessa faixa unicamente Fidel, (32 anos), lução.”
INTERESSE PREOCUFANTE
O candidato brasileiro mostrou-se vi
vamente interessado na exposição de
Fidel a respeito da reforma agrária cu
bana. Respondeu-lhe que pretende “rea
lizar uma reforma nos mesmos moldes
assim que assuma a Presidência do Bra
sil” . Essa sua declaração repercutiu ne
gativamente nos meios conservadores
brasileiros, inclusive entre alguns mem
bros da comitiva, assustados com a ad
miração crescente de Jânio por Fidel.
L E A N D R O R E N U N C IA , M ÍL T O N É O NOVO VIC E
Leandro Maciel, candidato à vice- em dezembro, percebera a inviabilidade
Presidência pela UDN na chapa enca de continuar com Maciel e vinha con
beçada por Jânio Quadros, renuíiciou à tribuindo para seu esvaziamento. Lacerda
sua candidatura, sendo substituído por escrevera uma série de artigos contra ele
Milton Campos. chamando-o de coronel dos sertões.
Seus correligionários mostravam eviden
A candidatura de Leandro, ao que te má vontade em organizar comícios
consta, começara a implodir já antes de nos Estados. A situação tornara-se in
iniciar-se oficialmente a campanha. sustentável.
Jânio o considerava um companhei
ro difícil de ser puxado, a UDN o via Após sua desistência, a UDN reuniu
como um correligionário difícil de ser seu comando nacional e decidiu-se pela
empurrado. Atolado em sua condição escolha de Milton Campos, ex-govema-
de candidato antiquado e provinciano, dor de Minas e figura respeitada nos
o próprio Leandro acabou por perceber meios políticos nacionais.
sua inviabilidade eleitoral após realizar Campos estava em viagem turístico-
alguns comícios pouco concorridos no cultural à Grécia e fora pego de sur
interior do País. No início do mês, em presa com a indicação, notificada por
reunião na residência do líder udenista um telegrama internacional. Aceitou
Abreu Sodré, em São Paulo, ele comu com relutância, como um penoso dever
nicou a Jânio sua desistência, embora a cumprir. Afinal já fora candidato à
ressalvando seu desejo de continuar tra dros por não divulgar o seu nome jiinto vice-Presidência em 1955 e perdera pa
balhando na campanha. ao de Jânio na sua propaganda. Quei- ra João Goulart. Agora teria que enfren
xava-se também do PTN de Emílio Car tar o mesmo Jango com a desvantagem
CULPA Da UDN los acusando-o de sabotar sua candi de estar entrando atrasado no páreo.
datura. Só agora, em abril, foi que Embora cético quanto às suas possibili
Leandro vinha fazendo amargas crí descobriu o verdadeiro culpado pela sua dades, Milton, conformado, já arregaçou
ticas ao Movimento Popular Jânio Qua perda de altura: a UDN, seu partido, as mangas.
desde o episódio da renúncia de Jânio
II
O EQUÍVOCO DÁS ESQUERDAS
— 151 —
A esquerda brasileira não fez essa análise da situação interna
cional e continuou com reações típicas de guerra fria.
— 152 —
Para a caravana janista a campanha, apesar de exaustiva, não
fera mais dc que um passeio na pista. Por onde quer que passasse
o candidato era recebido comc um messias, o homem providencial
que viera render a Nação.
153 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 154 —
A NOTÍCIA
___________ * São Paulo, 3 de outubro de 1960 * _________________
AD H EM AR DE BARRO S
O incansável tas: disputa e vence a eleição para
A dh em ar de a Prefeitura de São Paulo, sua única vi
Barros é nova tória eleitoral na década. Em 1958, per
mente candida de novamente a eleição de governador
to à Presidência para Carvalho Pinto, indicado por Jânio.
da República.
Afirmando sua REPRISE
co n v icç ã o de Adhemar termina a década da ma
que “Desta Vez neira que começou: aspirando à Presi
Vamos” , ele es dência da República. Acredita que o
pera quebrar o tabu que o perseguiu azar acabou e conclama otimista que
por toda a década de 50, enfrentando agora é “ Para Frente e para o Alto
justamente o responsável por seus reve
zes, Jânio das Vassouras Quadros. A sua plataforma política ainda é
praticamente a mesma de 1955, dando
No início da década passada nenhu ênfase à Educação, Saúde e prospecção
ma cartomante ousaria negar aval à sua de petróleo. Sinal dos novos tempos,
presidencialidade. Era o grande caci não defende mais a descentralização ad
que da política paulista, ajudara a ele ministrativa e inclui em suas priorida
ger Vargas à Presidência, escolhera seu des o binômio juscelinista “Energia e
sucessor, despontava enfim para a Pre Transportes” . Como em 1955, percorre
sidência dali a cinco anos. Acontece incansavelmente todos os confins do
que, em 1953,surge-lhe a figura patéti País a bordo de seu avião particular e
ca do sr. Quadros e arrebata-lhe todas reitera que, caso perca, não irá desistir.
as chances posteriores. Primeiro a Pre
feitura, derrotando o candidato que in VAGA GARANTIDA
dicara, no ano seguinte o governo do
Estado, derrotando a ele próprio. Ain No limiar da década de 60, nova
da otimista, Adhemar enfrentou em mente nenhuma cartomante ousa negar
1955 uma campanha presidencial, tendo que Adhemar tem sua vaga garantida na
obtido um modesto terceiro lugar. Em História do Brasil. Senão como presi
1957, volta com pretensões mais modes Adhemar e dona Leonor dente, ao menos como persistente...
No dia 22 de outubro de 1960 o Superior Tribunal Eleitoral
apresentou os resultados oficiais das eleições.
157 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
158 —
A NOTÍCIA * São Paulo, 22 de outubro de 1960 *
VITÓRIA ACIMA
DOS PARTIDOS
Quando Jânio renunciou à candida panha de arrecadação de fundos através
tura, os políticos assistiram assombra de garrafões colocados nas avenidas pa
dos ao trabalho de um grupo de rapazes ra coleta. O povo recebeu bem a ini
os quais, sem serem filiados a partidos, ciativa e não havia dia em que estes não
sem disputar qualquer cargo eletivo, voltavam cheios.
mostravam uma tenacidade e uma efi * * *
ciência nunca antes vista numa campa
nha eleitoral. Em menos de 10 dias le Com o desmoronamento da estrutu
vantaram centenas de milhares de assi ra partidária, o MPJQ passou a ser uma Carlos Lacerda, jornalista proprietá
naturas de populares pedindo pela volta maneira eficiente dos janistas organiza- rio do jornal “Tribuna da Imprensa” ,
de Jânio. rem-se nos Estados, dado ao seu cará elegeu-se governador do recentemente
ter suprapartidário. fundado Estado da Guanabara.
Segundo seu presidente, o ex-depu-
tado Castilho Cabral, o MPJQ nasceu de A direção nacional, instalada no Rio, O candidato da UDN, ex-líder do
um movimento espontâneo de jovens ca cumpria apenas o papel de integrar os partido na Câmara Federal, inimigo
riocas, em sua maioria estudantes, fun inúmeros movimentos, mantendo cada maior do varguismo e considerado pelos
cionários públicos e operários, sem nin um a sua independência de ação. “A seus adeptos como o responsável núme
guém que tivesse militância partidária. nós cabia apenas a função de oficializá- ro um pela morte de Getúlio, elegeu-se
lo dado a formarem-se espontaneamen governador após uma campanha surpre
Com a dissolução da primeira executiva
te e só depois de instalados participa endentemente moderada para quem co
e ressentindo da falta de experiência po
rem-nos seu funcionamento” , afirma um nhece seu estilo político. Não atacou
lítica, os jovens convidaram Cabral para
dos seus dirigentes. seus adversários, nem adotou posturas
presidi-los com a condição de que ja
mais vincularia o nome do grupo a inte agressivas, limitando-se a defender seus
resses partidários. planos de governo. Os analistas do plei
to atribuem sua vitória à divisão do elei
Montados em uma Rural Willys, os torado antilacerdista pelas três outras
rapazes do movimento percorreram to candidaturas. Carlos Lacerda obteve
No dia 20 de abril de 1959, ainda das as estradas do País, recebendo Jânio, 28% dos votos, contra 26% de Sérgio
sem o comando de Cabral,o Movimento que viajava de avião, em todas as cida Magalhães, candidato do PTB. O res
foi a primeira entidade a lançar o no des por onde passou. “Não houve pe tante da votação ficou dividido entre o
me do ex-governador de São Paulo à dra, tapume ou barranco em que não general Mendes de Morais, candidato
Presidência da República. fossem pintadas a vassoura e as iniciais do PSD ,e Tenório Cavalcanti, também
do MPJQ” , anuncia orgulhoso Castilho jornalista e proprietário do jornal “Luta
Conta seu presidente que no início Cabral. Até mesmo na divisa com o
tinham contra si a barreira de ceticismo Democrática” . A percentagem de votos
Uruguai encontra-se uma inscrição do brancos e nulos foi considerada normal.
dos políticos, pois ninguém acreditava movimento: ‘um saludo de Jânio a los
que tal movimento pudesse funcionar efi hermanos uruguayos’ ” .
cazmente. Sem recursos para trabalhar,
o grupo a princípio instalou-se em duas
modestas salas de um quarto andar na
rua da Quitanda. Nessa época seu úni Passada a fase romântica, o MPJQ
co veículo era uma lambreta pertencen é hoje uma poderosa agremiação polí
te a um dos membros. Algum tempo tica. Tem bases em todos os Estados do
depois, o proprietário de uma conces País e uma estrutura de fazer inveja a
sionária Volkswagen emprestou-lhes uma qualquer partido político. Comenta-se
Kombi a qual fora imediatamente pin que Jânio pretende aproveitar a sua exis
tada com o escudo do movimento. tência como embrião de um novo parti
* * * do político que serviría de respaldo a
seu governo. Até o momento, não se i
Com esse modesto aparato o MPJQ pronunciou a respeito.
realizava verdadeiros milagres. Corria
os bairros do Rio de Janeiro, subia em
favelas, avançava pelo interior fluminen
se. Não demorou muito para que se
tornasse uma poderosa força eleitoral, A UDN também foi vitoriosa em Mi
atraindo a atenção dos políticos e li- nas Gerais onde seu candidato José de
^rando-se finalmente dos seus problemas Magalhães Pinto elegeu-se governador
econômicos. do Estado, vencendo Tancredo Neves,
candidato do temível PSD mineiro e ex-
Instalados na nova sede, um prédio ministro da Justiça de Vargas. Maga
semidestruído por urf? incêndio na av lhães Pinto era presidente da UDN e um
Almirante Barroso, os partidários do dos principais artífices da candidatura
Movimento iniciaram uma colossal cam-: de Jânio à Presidência.
( ^
DEPOIMENTOS
— 163 —
Juscelino Kubitschek fora o primeiro presidente a assumir o po
der no Brasil ccm uma ideologia sistematizada e um plano admi
nistrativo bem-definido.
— 166 —
novo brinquedo — e despertar os ciúmes da Força Aérea, que pas
sou a reivindicar o controle sobre os aviões de bordo. A contro
vérsia entre ambas durou vários anos, drenou toda a combatividade
dos oficiais politizados e garantiu ao presidente o sossego necessário
para combater em outros “fronts”.
III
— 167 —
contra o pcvo em geral, o qual assistia seus rendimentos e poupan
ças serem erodidos pela inflação resultante.
IV
— • 168
"Outros governos poderão empreender a revalorização da
moeda (. ..) Não fecho os olhos a essa realidade. Conheço e
reconheço que é um trabalho imenso o que desafia os nossos
administradores e homens públicos. Sei que o pauperismo con
tinua a afligir-nos, a danificar-nos. Sei que não foram extintas
as fontes do sofrimento e da miséria; mas, ao mesmo tempo que
me dou conta disso, dou-me conta também de que já não acei
tamos um destino negativo.
— 169 —
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
— 173
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
174 —
A NOTÍCIA
* São Paulo, 1 de julho de 1961 *
A fonso A rinos,
U M M IN IS T R O E X E M P L A R
Afonso Arinos de Melo Franco, ex não se deixar perder por preconceitos com sobras o nível da capacitação téc
perimentado homem público e parlamen ideológicos. Por outro lado esse homem nica desejado pelo presidente.
tar é o polêmico ministro encarregado haveria de ter um passado político aci
de efetivar a política exterior do gover ma de qualquer dúvida, justamente para Por outro lado Afonso Arinos tam
no Quadros. evitar tais preconceitos por parte de ter bém é Melo Franco e esse nome no Bra
ceiros. sil representa uma tradição secular de
Apesar de sua escolha ter provocado homens públicos oriundos da sociedade
inúmeras controvérsias, não poderia ter mineira. Senador pela UDN carioca, seu
sido mais acertada tanto no campo téc Afonso Arinos é sem dúvida um dos passado parlamentar lhe garante a con
nico como no político. mais esclarecidos e cultos membros de dição de cidadão acima de qualquer sus
nosso Congresso. Com um número ex peita no terreno ideológico.
Para administrar o deslocamento do pressivo de obras publicadas, desde tra
Brasil no mapa político mundial o pre balhos de natureza literária até estudos Mesclando esses dois requisitos, não
sidente procurava um homem que tives de Direito, História, Sociologia, Admi havia outra pessoa mais apropriada para
se suficiente cultura e bom senso para nistração e Ciência Política, preenche tal tarefa no Brasil.
COMBATE AO CONTRABANDO
©siioriai Com o sentido de combater o con
trabando em geral e o translado clan
destino de café ao Exterior em particular
o presidente Quadros, já em março, emi
LUZ VERMELHA PISCANDO tiu um memorando (bilhetinho) convo
cando o Exército, a Marinha e a Aero
náutica a participar dessa batalha.
Diz-se que a mais difícil e impor- O atual presidente, ao que transpa Com a entrada em campo das For
ças Armadas, única instituição em con
tante decisão de um governante deve ser rece nesses seus primeiros cinco meses
dições de levar avante um plano eficaz
tomada já nos primeiros tempos de de mandato, optou também pela luta. para tal objetivo, o contrabando nas cos
mandato. Origina-se na constatação de Só que, talvez fruto de sua biografia tas brasileiras diminuiu sensivelmente.
que o seu poder efetivo é bem menor política, ele mostra uma certa ojeriza a Vasos de guerra brasileiros passaram a
do que aparentava, estando quase todas manobras de flanco, preferindo o ata revistar em alto-mar todas as embarca
as áreas de ação do executivo tomadas que frontal e aberto. ções, aviões da FAB patrulharam inces
por grupos econômicos e políticos po santemente a costa para detectar a pre
derosos e bem-definidos. Frente a tal Ao adotar o sistema de governos iti sença de navios em águas territoriais,
tropas do Exército vasculharam as fron
situação resta-lhe duas opções: acomo nerantes, nos quais se instala por alguns
teiras e em menos de um mês começa
dar-se na condição de príncipe de Ga dias em cada região do País e confabula ram a surgir os resultados: vários na
les ou partir para a realização de um com os governadores e demais lideran vios apreendidos, quadrilhas internacio
governo ambicioso. ças; ao criar subchefias da Casa Civil nais desbaratadas, milhares de sacas de
nos Estados, recolhendo diretamente à café, centenas de milhares de dólares
Presidência as reivindicações locais; ao em mercadorias estrangeiras aprisio
Definindo-se pela primeira, estabe nadas.
organizar o Serviço de Assistência aos
lecerá um armistício com esses grupos
Municípios, estabelecendo um canal de A Presidência adverte que levará es
e receberá em troca a certeza de um
comunicação direta entre os prefeitos sa guerrilha até as últimas conseqüên-
mandato tranqüilo. Escolhendo a se municipais e o governo federal; ao ado cias, “ doa a quem doer” .
gunda terá de armar-se e atacar as mu
tar todas essas medidas, Jânio está na “NEW LOOK” EM BRASÍLIA
ralhas inimigas, preparando-se para os
prática erodindo as bases de poder dos Talvez não tenha havido na história
previsíveis revides.
parlamentares, invadindo as suas áreas da República brasileira, presidente de
de influência, tomando-os obsoletos co hábitos tão pitorescos e exóticos. Além
Na nossa História moderna, temos o mo intermediários entre o poder central de governar através de bilhetinhos, sua
exemplo de dois governantes que opta e as necessidades locais. marca registrada, Jânio ainda se dá ao
ram pela segunda alternativa. Tanto luxo de criar novas modas, como a do
Vargas quanto Juscelino trataram de Apesar de válidos os objetivos o “slack” , traje utilizado na índia pelos
erodir as forças inimigas através de ma presidente tem sido muito precipitado. colonizadores ingleses. O presidente
nobras de flanco. Procurando separar Está progressivamente se distanciando acredita que tal traje é o mais adequado
dos grupos políticos tradicionais, sem para o funcionalismo num país de clima
o poder econômico do político, Vargas
quente como o nosso. As resistências
criou na década de trinta os Institutos criar novas bases de respaldo político. têm sido enormes. De “ slack” , Jânio
do Café, do Açúcar e Álcool, do Cacau Afasta-se dos partidos existentes sem em despacha no Planalto os seus bilhetinhos
e vários outros, através dos quais os contrapartida criar o seu próprio. (O que atingem as mais inusitadas áreas.
empresários de cada área pudessem ne MPJQ tem todas as condições para is Proibiu as brigas de galo em todo o
gociar diretamente com o governo, sem so.) Agindo dessa forma, superestiman País, o uso de lança-perfume, o funcio
a intermediação dos líderes políticos. do o poder efetivo dos seus seis milhões namento dos “Jociceys Clubs” em dias
de votos, avançando no território inimi de samana, regulamentou o comprimento
Satisfazendo esses empresários, cortejan
do maiô das misses nos Concursos de
do as Forças Armadas e barganhando go, Jânio corre o risco de ficar sem re Beleza televisionados, entrando assim
com os governadores, conseguiu montar taguarda, sem apoio logístico, isolado e em áreas pouco convencionais para des
o tripé onde baseou o seu poder duran cercado pelas forças dos adversários. pertar o interesse de um presidente.
te quinze anos. Quanto às razões, as opiniões se divi
Se não corrigir a tempo as falhas dem: alguns acham que se trata de mera
de sua estratégia, estará incorrendo no idiossincrasia do presidente, outros acre
Não é outro o exemplo de Kubits- mesmo erro de Vargas em 1954. Su ditam ser uma forma de sensacionalismo
chek. Deixando os Ministérios nas mãos perestimando o poder efetivo do seu barato, uma forma de desviar a atenção
dos políticos tradicionais, ele simples partido de massas, Getúlio descuidou- das agruras causadas pelo processo de-
mente deslocou o eixo do poder para se das forças políticas tradicionais, das flacionário. O que poucos se lembram
os seus “Grupos Executivos” através dos Forças Armadas e dos grupos econômi é que tal estilo de governo vem acompa
quais negociou diretamente com o em nhando Janio desde os tempos da Pre
cos. Quando deu por si, já era dema feitura. Essas pequenas coisas, além de
presariado e realizou o seu Plano de Me siado tarde. garantir-lhe espaço permanente na im
tas. Nunca deixando, é claro, de man prensa, têm o dom de reparar situações
ter um bom relacionamento com as Que Quadros não tenha o agosto de que ele sempre julgou erradas, mas não
Forças Armadas. Vargas. tinha poderes para modificá-las.
Até o mês de julho o presidente Quadros, apesar das drásticas
medidas tomadas na área econômica, vinha exercendo uma política
interna de caráter nitidamente conservador./Cem o intuito de sanear
as finanças, aceitara as regras do Fundo Monetário Internacional /
e, isso, aos olhos de muitos era um claro sinal de que não pretendia
aventurar-se em terrenos incertos no campo econômico e socialy
180 —
A NOTÍCIA * São Paulo, 7 de julho de 1961 *
Em reunião extraordinária Afirmando que “ a conjuntu grupos ou partidos, “com- a reformulação das estrutu
do Ministério, realizada on ra revolucionária que a Pá premttendo-se apenas com ras nacionais, mais o apoio
tem (6 de julho), o presi tria atravessa” , lhe dá a con os milhões de brasileiros que que deu ao projeto de refor
dente Jânio Quadros comuni vicção de que é necessário o elegeram e nele confiam” . ma agrária do deputado Jof-
cou aos seus auxiliares a sua “promover e executar com Após essa introdução o pre
disposição de partir de forma fily (ver à pág. 2 ), iomou
urgência essas reformas es sidente passou a examinar,
decisiva para a realização truturais” , o presidente fez item por item, as reformas de surpresa as lideranças par
das reformas de base e de questão de frisar que o Mi pretendidas. tidárias e significa uma revi
estrutura, que anunciara du nistério ali presente não tem A disposição presidencial ravolta no quadro político
rante sua campanha eleitoral. compromissos com pessoas. de promover imediatamente atual.
Os meios políticos brasileiros estão No seio do PTB, da UDN e do PSD tus ministerial e nos Estados contaria
sobressaltados com a notícia de que o chocam-se duas tendências: uma ousa com subcomissões com amplos poderes
presidente Jânio Quadros encontrou-se da e revolucionária, e outra conservado para desapropriar “ as terras que, pela
com o deputado José Joffily do PSD pa ra e cautelosa. sua extensão ou localização, impeçam ou
raibano e decidiu apoiar seu projeto de dificultem o desenvolvimento da produ
Reforma Agrária a ser apresentado no Segundo a revista Manchete, o apoio ção ou o abastecimento dos mercados” .
Congresso antes do fim do ano. do presidente ao projeto de Joffily deu- Reza ainda o projeto que “ a justa inde
se durante uma audiência no Palácio nização da propriedade desapropriada
O presidente declarou à imprensa será fixada com base no valor atribuído
que pretende mobilizar todos os recur do Planalto, ocasião em que o deputado
paraibano explanara a Jânio as particula no último lançamento do Imposto Ter
sos do Poder Executivo no sentido de ritorial” (artigos 3 e 12).
realizar por conta própria uma experi ridades do seu projeto. Trata-se do mais
ência de Reforma Agrária, caso falhe o efetivo e ousado projeto já elaborado o
seu apelo à solução através de uma lei que levou o presidente a entusiasmar- Foram justamente essas particulari
do Congresso. se. Ambos concordaram que tal refor dades do projeto que levaram o presí
ma só podería ser realizada através de dente a considerá-lo eficaz e dar-lhe seu
Ao tomar conhecimento do fato, as uma Comissão Federal, com plenos po total apoio. “ Aí está a medula do pro
bancadas dos partidos reuniram-se para deres para tanto, imune às pressões do blema — declarou. Agora veremos
discutir qual a postura a ser adotada Ministério da Agricultura e das lideran quem de fato quer e quem não quer a
frente a essa ofensiva presidencial. ças políticas. Para tanto esta teria sta- Reforma Agrária.”
EDITORIAL:
Será que é louco?
O Brasil é um país inegavelmente minações dos seus legítimos represen em pouco tempo, todos os políticos es
estranho. Talvez seja uma das poucas tantes não é mais do que conseqüência tão a defendê-lo com unhas e dentes.
nações da Terra onde as leis, após se de um problema mais grave: o descré Dessa forma, não há nos dias de hoje
rem aprovadas e p.ublicadas ainda têm dito com que o povo vê a classe políti um político que não seja a favor da re
de passar por testes de aceitação popu ca. Apesar de sufragá-los nas umas, o forma agrária, da distribuição de rique
lar. Isso porque na nossa jovem Pátria, povo sabe que não pode acreditar em zas, do controle do capital estrangeiro,
leis, da mesma forma que vegetais, após nenhuma das promessas e palavras dos do “petróleo é nosso” ; como também
serem plantadas, “pegam” ou não “pe políticos que elegeu. não há um só político que não seja con
gam” . Sempre que contrariam o bom tra a inflação, a corrupção, a explora
senso ou perturbam o cotidiano elas sim Os eleitores estão cobertos de razão
ção e — pasmem-se!— a conversa fiada
plesmente “caducam” , são conveniente nesse pormenor. Analisando-se do ân
dos políticos.
mente esquecidas tanto pelos infratores gulo retórico é realmente impressionan
como por aqueles que deveríam zelar pe te a capacidade de assimilação, a adap
A última campanha eleitoral foi um
lo seu cumprimento. tabilidade de nossos oradores aos temas
candente exemplo disso. Como o uso
da moda.
do cachimbo faz a boca torta, nenhum
Muitos atribuem essa característica à HS alguns anos a diferença entre um dos políticos que apoiaram Jânio acredi
esperteza e à sensibilidade do nosso po político conservador e um liberal era taram que ele pretendia de fato realizar
vo, outros a vêem como um símbolo da claramente perceptível pelos seus discur a reforma agrária, criar leis anti-truste,
nossa incivilidade. Na verdade, quais sos. O conservador defendia objetiva leis de remessa de lucros, moralizar a
quer que sejam as interpretações, todos mente as razões pelas quais não deseja máquina estatal, não dar emprego para
concordam que existe um nítido divórcio va reformas, o liberal por seu lado jus político nenhum. Todos pensaram que
entre o Brasil legal e o Brasil real. Mui tificava claramente as razões porque as não passava de retórica.
tas das leis aprovadas por nossos parla queria. Com o tempo o primeiro desco
mentares e burocratas contrariam a tal briu que o discurso do segundo era mui Agora, após Jânio deixar claro que
ponto o senso comum que o nosso povo, to mais atraente em termos de votos e pretende levar a cabo tudo o que pro
já cansado de tanta incompetência, de passou a adotá-lo. Sem com isso, é cla meteu, estão todos surpresos. Alguns o
cidiu tomar em suas próprias mãos a ta ro, mudar a sua postura. chamam de louco outros de oportunista.
refa de aprovar ou não, em última ins
tância, cada uma das decisões tomadas Anos e anos de “ aprendizado demo Vai ver que o errado é mesmo o pre
pelo governo. crático” levaram a nossa classe política sidente. Afinal, ao contrário do que diz
a uma impressionante versatilidade re o ditado, em terra de cego quem tem
Mas não é esse o tema deste artigo. tórica. Basta que surja um novo tema oího está longe de ser rei. Quando mui
A desobediência da população às deter atraente do ponto de vista eleitoral e, to é considerado doente.
CAPITULO 8
Jânio Quadros
185 —
Trabalhista de Goulart, cuja base de poder era justamente o controle
da máquina sindicai através do Estado.
— 186 —
CRONOLOGIA DE UMA RENÚNCIA
Quarta-feira, 2 de agosto
— 187 —
* * *
Sexta-feira, 4 de agosto
Domingo, 6 de agosto
Segunda, 7 de agosto
— 188
Além da correspondência de Quadros o assunto mais debatido é o
esvaziamento do Congresso pelo poder Executivo.
Terça, 8 de agosto
Quinta, 10 de agosto
— 189 —
por decreto não resolvem os problemas dos operários e que
esses só terão aumentos reais quando, organizados, tiverem po
der de barganha para negociar com os patrões.
Quinta, 10 de agosto
O presidente Quadros anuncia que visitará a União Soviética
em princípios de 1962. A visita que fará aos Estados Unidos já está
confirmada para dezembro do corrente ano.
Sábado, 12 de agosto
— 190 —
No mesmo dia o jornal "Combat”, órgão da esquerda gau-
lista francesa, exalta a política externa brasileira afirmando que
“o Brasil se converte em mediador dos conflitos internacionais”.
Segunda, 14 de agosto
Quarta, 16 de agosto
Quinta, 17 de agosto
— 191 —
O governador Carlos Lacerda chega a Brasília no fim da tarde
para conferenciar com o presidente. A conversa entre ambos trans
correu ríspida e foi interrompida por um telefonema do ministro
da Justiça, Pedroso Horta, convidando Lacerda a conversar em seu
apartamento.
* * *
Sexta, 18 de agosto
Segunda, 21 de agosto
Lacerda anuncia publicamente que renunciará ao governo da
Guanabara em protesto contra a política externa do presidente. Al
guns militares de alta patente o procuram no Palácio para prestar
solidariedade e são advertidos pelo ministro da Guerra.
Terça. 22 de agosto
— 193
O presidente, na solenidade de lançamento da Campanha N a
cional contra o Analfabetismo, profere um discurso onde, após dis
correr sobre seus objetivos, exorta c pcvo brasileiro a participar efe
tivamente do grande projete de reformas sociais:
“Nada disso será possível se não permanecermos unidos como
bons brasileiros.”
Quarta, 23 de agosto
— 194
Os jornais comentam que a UDN poderá ir para a oposição.
Comenta-se também que o PSD e o PTB, aproveitando-se da atual
debilidade dc bloco governista, irão tomar uma série de medidas até
então adiadas.
Realiza-se após três adiamentos a reunião da bancada do PSD
para discutir o projeto de Reforma Agrária do deputado José Joffi-
ly, o qual conta com o apoio do presidente da República.
Foi decidido na reunião que o projeto é inconstitucional e não
será discutido antes que seja criado e apreciado um projeto de re
forma constitucional. Segundo assessores do presidente, trata-se de
uma manobra do PSD para adiar índefinidamente a aprovação da
Reforma Agrária,
O presidente da República recebe no Planalto para despachos
o superintendente da Sudene, Celso Furtado, e o futuro embaixa
dor do Brasil na ONU, San Thiago Dantas.
Na parte da tarde recebeu o ministro da Guerra Odílío Denys
o qual. à saída, declarou ter tratado de assuntos de rotina.
O deputado Adauto Cardoso, falando em plenário em nome da
UDN e do PL, afirma que os dois partidos apoiam a política exte
rior de Quadros.
Lacerda, na Guanabara, afirma que “só os comunistas apoiam
tal política”. Declara também que naquele instante se autonomeia
ministro ‘ad hoc’, pois considera o Rio um observatório privilegiado
dos problemas mundiais e também o “centro político, cultural e mi
litar do Brasil”.
Quinta. 24 de agosto
O ministro do Trabalho, Castro Neves, acusa Lacerda de, atra
vés da montagem de uma crise nacional, tentar disfarçar os fracassos
de sua administração. Acusa também o governador de coletar recur
sos junto a banqueiros do jogo do bicho.
Correm beatos em Brasília e na Guanabara de que Lacerda
criara aquele impasse porque não foram atendidos pelo presidente
os seus pedidos de mais verba para o Estado e também para o seu
jornal “A Tribuna da Imprensa” em situação pré-falimentar.
— 195 —
O governador Carlos Lacerda convoca uma rede de rádio e
televisão e denuncia a existência de uma conspiração palaciana com
o objetivo de aumentar os poderes do presidente, para a qual teria
sido convidado pelo ministro da Justiça, Pedroso Horta, durante
a sua visita a Brasília,
* * *
— 196 —
1
EPÍLOGO
197
A UDN, tãc intransigente nc seu liberalismo e na sua hones
tidade, acabou por respaldar uma ditadura, onde a corrupção, em
certos momentos, chegou ao auge.
— 198 —
Foram esses os primeiros a abandoná-lo, logo seguidos pelos
grupos econômicos e pela grande imprensa. As direitas lhe tiraram
c respalde, as esquerdas jamais cogitaram em dá-lo.
Uma por que nunca quis reformas de fatc. Outra por que só as
aceita desde que seja ela a executora.
— 199
jas, os quadros de Portinari pendurados nas paredes, as ideologias
enpolgando os salões e os políticos execrando Jânio Quadros.
— 200
E sse depoimento e essa avaliação são extre
mamente importantes com o indício de um repúdio
a preconceitos arraigados e difundidos sistematica
mente.
Vale a pena ler essa obra de um jovem p au
lista de m enos de trinta anos sobre a personalidade
mais discutida da vida brasileira contemporânea