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Paulo Antonio – Colégio Perdo II – Campus Engenho Novo II

Revoluções do Século XX:


experiências de Rússia,
China e Cuba
1. Madureira Esporte Clube, balé e pandas!

Pode parecer que este título é louco! Talvez seja uma mistura estranha, é
verdade, mas vou te mostrar que o Madureira, simpático clube do subúrbio
carioca, possui uma relação histórica com a temática das experiências comunistas
e a política externa, especificamente a do Brasil. Além disso, os ursos panda,
originalmente encontrados na China, foram protagonistas de outro episódio que
misturou política externa e disputas ideológicas. Por último o ballet, mas
especificamente uma das companhias da ballet mais importantes e famosas do
mundo, apareceu nos noticiários brasileiros, em um determinado período, por
questões que nada tinha a ver com a performance de seus bailarinos e bailarinas.
Começarei nossa viagem com estes três episódios “curiosos” e para que eles
façam um sentido mínimo, desde o início, é bom que você lembre que grande
parte do século passado viveu, às vezes
até de forma distorcida, a lógica da
disputa entre capitalismo e comunismo,
típica da “Guerra Fria”, embora na
maioria das vezes esta disputa seja
apresentada de forma superficial e
estereotipada, geralmente reduzida à uma
ideia de “bem” e “mal”, “certo” e “errado” que continua alimentando a
imaginação daqueles que querem reduzir as realidades à estas classificações. E no
cada vez mais distante século XX, foram muitos os eventos históricos que
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contribuíram para o imaginário do “conflito do século”, mas certamente temos


três que acabam, por diversos motivos, sendo considerados como os mais
importantes, isto é: a Revolução Russa, a Revolução Chinesa e a Revolução
Cubana.
Em relação aos russos, que como veremos, formaram a União das Repúblicas
Socialista Soviéticas (URSS), o
episódio escolhido aconteceu em
1976. Não sei quanto a você, mas não
sou muito entendedor de balé, seja em
relação à história ou à técnica. Porém,
sei que os russos possuem fama de
serem muito bons. Especialmente sei
que uma das principais e mais famosas companhias de ballet do mundo é a
Academia Estatal de Coreografia de Moscou, ligada ao importante “Teatro
Bolshoi”, um dos teatros mais famosos do mundo e “parada obrigatória” dos
turistas que visitam Moscou, mais ou menos como o Teatro Municipal do Rio de
Janeiro. A companhia de balé é mais conhecida como, popularmente, como Balé
Bolshoi e, posso dizer, foi um dos grandes símbolos culturais da URSS nos
tempos de guerra fria, embora isso não costume ser lembrado com frequência.
Em 1976, acontecia a celebração dos duzentos anos do Bolshoi e para marcar
o evento a companhia preparou o espetáculo “Romeu e Julieta”, da obra de
Shakespeare, para ser transmitido, através da televisão, para mais de 100 países.
Evidentemente que a transmissão não está separada de estratégias de geopolítica
e relações internacionais, através daquilo que se entende como “soft power”, ou
seja, quando um país busca uma influência sobre outro(s) a partir de estratégias
que não são as militares e econômicas, principalmente através da cultura.
Porém, além de saber qual era o contexto internacional, é bom você lembrar
que o Brasil vivia os tempos da Ditadura Civil-militar e as políticas de censura
eram bastante presentes na produção cultural, incluindo a televisão, já naquela
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época um dos principais meios de comunicação. E entre as características mais


marcantes dos governos militares, a utilização de discursos anticomunistas era
uma das marcas mais registradas, desde 1964, assim como um lógica de
alinhamento com os EUA. Curiosamente, o país, em 1976, era governado por
Ernesto Geisel, o quatro de cinco presidentes militares da época, justamente o
período em que a política externa foi alterada, sendo conhecida como
“Pragmatismo Ecumênico e Responsável” (saiba mais). Digo curiosamente,
porque esta política externa previu uma maior aproximação em relação ao “bloco
comunista”, a partir de interesses econômicos. Mesmo assim, o governo ordenou
que fosse proibida a exibição de “Romeu e Julieta”, que seria realizada pela Rede
Globo, às 22 horas de um domingo.
O então Ministro da Justiça, Armando
Falcão, acreditava que a companhia, por ser
da URSS, daria uma interpretação
“comunista” à obra do escritor inglês. Na
época as denúncias de torturas e prisões
arbitrárias já circulavam mundo à fora e esta
atitude de censurar o Bolshoi gerou muita
repercussão negativa, incluindo no interior
do governo, já que havia grande
preocupação com a imagem do país e do
próprio governo. Um detalhe importante
para que você entenda a repercussão de um
acontecimento aparentemente banal é que a
censura voltou atrás e resolveu proibir a exibição quando a emissora já havia feito
a divulgação, o que trouxe grande visibilidade para o episódio, como pode ver na
manchete de jornal, intitulada: “Proibida apresentação do Balé Bolshoi na TV”,
em 28 de março de 1876.

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Aliás, sobre a repercussão, veja o início do texto publicado pelo jornalista


Paulo Maia, no Jornal do Brasil, em 29 de março de 1976, com bastante ironia,
sobre o episódio:

CENSURA NĂO É CULTURA


O lastimável episódio da proibiçăo da transmissăo do balé Romeu e Julieta, dançado
pelo grupo do Teatro Bolshoi, de Moscou, para todo o Brasil, pela Rede Globo de
televisăo, só serve para reafirmar um velho teorema: a arbitrariedade năo tem limites
no seu senso de ridículo e se deixa expor com a mais espantosa facilidade. Poder-
se-ia até dizer: "O que é bom para 111 países nem sempre é bom para o Brasil''. Pelo
menos; o que é útil para 111 países ditos civilizados năo é cultura para os zelosos
censores do Ministério da Justiça da República Federativa do Brasil.

Você pode ver também um


importante documento, pesquisado por
Elio Gaspari, que mostra como o caso
repercutiu nos bastidores do governo.
A carta ao lado foi escrita por Heitor
Ferreira, para o Presidente Ernesto
Geisel. Nela, o então secretário
particular da presidência relata, com
muito cuidado, para não parecer
desrespeitoso, toda a insatisfação que a
atitude de censura havia provocado
dentro de quartéis. Escreve, Heitor:
“Uma lástima que o senhor não
cheque mais certas coisas sem
importância com seus amigos. Ao que
me consta, nem mais com Golbery.

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A proibição do ballet teve a pior repercussão que o senhor possa imaginar.


De início, pensei que — como sempre — eram apenas eu e meia dúzia de gente
mais chegada que, incompreensiva para os grandes problemas da subversão, se
surpreendera desagradavelmente com o que nos pareceu “o extremo”.
Mas hoje, na Vila Militar, me encheram com esse negócio. Que foi
obscurantismo, que perdemos votos, que era videotape sem perigo. Até o Pires
(...)!”.
E o Presidente responde, na própria carta, em vermelho (veja acima): “De
acordo. Mas de vez em quando se pode errar. Não é?”.
Ou seja, por motivos internacionais ou internos, a URSS e o comunismo
existiam, para o governo militar” como um fantasma que deveria ser, no mínimo,
monitorado.
O segundo episódio, faz parte da mitologia do futebol brasileiro e, mais
especificamente, do futebol carioca. Ele vai te ajudar a entender algo que a
maioria das pessoas que você conhece jamais
entenderá, isto é: Por que o Madureira Esporte Clube
lançou a camisa ao lado, com o rosto de Che Guevara
e a bandeira cubana. Acredite em mim, seja entre os
simpatizantes ou entre os que “odeiam” Cuba, muita
gente não faz ideia da fantástica história desta camiseta,
lançada em 2013, tendo sido sucesso de vendas.
Para entender, primeiro quero que saiba que o lançamento em 2013 celebrou
os 50 anos de uma viagem que o time do Madureira fez à ilha de Cuba, para a
disputa de alguns amistosos. Aí talvez você se pergunte: Por que e como o
Madureira foi para lá? E eu te digo... A ideia partiu de José Gama, ex-presidente
do clube, e visava, além da visibilidade, ganhar dinheiro! Isso mesmo. Uma lógica
simples: acordo de jogos de exibição, com pagamento pelos jogos e por todos os
gastos com a viagem. Quem bancaria esses gastos? No caso, governo cubano!

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Mas, por que? Aí preciso separar dois caminhos para esta resposta, um sobre o
futebol brasileiro e outro sobre Cuba.
Primeiramente o contexto! Você nasceu, gostando ou não de futebol,
sabendo que vive em um país considerado uma potência mundial do futebol,
sendo reconhecido como “o país do futebol”. Possui jogadores nos melhores times
do mundo e a seleção com maior quantidade de títulos mundiais (sei que o “7x1”
pode te desacreditar rss, mas a seleção ainda é muito respeitada). Porém, em 1963
essa condição era completamente nova. O Brasil tinha acabado de ser bicampeão
mundial de futebol (1958 e 1962), com jogadores que chamavam a atenção do
mundo, sobretudo Pelé. Aproveitando o momento de fama, muitos times
brasileiros ganharam dinheiro fazendo excursões para jogos de exibição mundo
afora. Não faltavam governos ou empresas dispostos a apresentar jogos com os
melhores jogadores de futebol do mundo, isto é, os brasileiros.
Claro que não era só dinheiro que contava! Era um momento em que
diferentes países do mundo buscavam mostrar que a sua “escola de futebol” era a
melhor do mundo, já que os ingleses, criadores do jogo, já tinham sido
“derrubados”. Não por acaso, nessa época, surgiram os torneios continentais mais
famosos no Brasil, a Copa Libertadores da América (1960) e a Liga dos Campeões
da Europa (1955). A excursões eram estimuladas, inclusive pela Confederação
Brasileira de Desportos (nome antigo da CBF), principal órgão do futebol
brasileiro, pois a mesma concedia o título da “Fita Azul” a equipes que voltavam
do exterior sem derrotas, por terem representado bem o país.
Só para você ter uma ideia da importância das excursões internacionais, o
Santos Futebol Clube, melhor time da época, liderado por Pelé, abriu mão de jogar
a Libertadores, durante alguns anos, para fazer estas viagens. Se você não conhece
muito de futebol, posso resumir que este torneio é o maior sonho de praticamente
todos os clubes brasileiros (e de seus torcedores) na atualidade. Na década de 60,
porém, o torneio recém-criado, e vencido duas vezes pelo Santos, não era
considerado tão importante. O “Santos de Pelé”, para muitos, é o maior time da
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história do futebol brasileiro e o que muitos não sabem é que essas exibições
internacionais foram fundamentais para a fama do time (e do Pelé). Histórias
lendárias destas viagens fazem parte da mitologia do futebol, como o jogo entre o
Santos e os “Leopardos”,
apelido da seleção
nacional d Congo. A
história que se conta é que
a passagem do Santos
parou a guerra civil que
acontecia na República
Democrática do Congo,
embora com alguns exageros. Mas isso é papo para outra conversa.
É bom esclarecer que muitos clubes aproveitara as possibilidades de
excursões, muitos dos quais nem são tão famosos hoje, como a Ferroviária, de
São Paulo, o Cruzeiro, do Rio Grande do Sul, e o Bangu, do Rio de Janeiro, além
do nosso protagonista, o Madureira.
Sobre Cuba, para não adiantar muito do que vem pela frente, apenas direi
que era uma país que havia passado por um processo revolucionário recente, que
sofria com pressões externas e que precisava de aliados internacionais. Desse
modo, via no Brasil, um possível aliado para as relações internacionais e o futebol
seria uma boa forma de demonstrar simpatia.
Enfim, em maio de 1963, o time do Madureira chegou à Cuba, com grande
repercussão, pois era a primeira equipe esportiva que chegava ao país depois que
os EUA haviam lançado uma espécie de “boicote” à economia cubana (veremos
isso, mais adiante). O time carioca jogou cinco partidas, tendo vencido todas, mas
um dos maiores destaques da excursão foi a repercussão de uma foto (acima). Em

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uma das partidas o Madureira


foi recebido pelo então ministro
da Indústria de Cuba, o
revolucionário argentino
Ernesto “Che” Guevara.
Argentino de nascimento e
apaixonado por futebol,
Guevara vivia em um país apaixonado por baseball e, por isso, não perdeu a
oportunidade de participar de um evento futebolístico. (saiba mais)
Evidentemente, Cuba e Che Guevara já despertavam muitos sentimentos
entre brasileiros, de amor ou de ódio, para falar de extremos, e a viagem do time
carioca não escapou de polêmicas, aqui no Brasil, já que não eram poucos os
grupos políticos que defendiam que não deveria haver qualquer tipo de relação
com o país comunista.
Por último, considerando nossos episódios introdutórios, falarei de
PANDAS! Isso mesmo, aquele urso grande e forte, comedor de bambu, que
muitas pessoas costuma achar
fofinho. Pois bem, em 2014
representantes do governo chinês
procuraram os responsáveis pelo
Zoológico do Rio de Janeiro (fica na
Quinta da Boa Vista, em São
Cristóvão), oferecendo um casal de
pandas. A oferta incluía a cobertura,
por parte dos chineses, dos gastos com o transporte e a manutenção dos animais,
que passariam a ser uma das principais atrações do zoológico (saiba mais).
Para entender o contexto, lembre-se que em 2014 a cidade do Rio estava com
um destaque internacional acima do comum, tendo em vista que era a “cidade
olímpica”, pois receberia os Jogos Olímpicos dois anos depois, em 2016. E a
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oferta dos ursos era justamente para que os animais estivessem disponíveis ao
público durante os jogos, momento em que a cidade receberia um volume de
turistas bastante elevado.
A China vivenciou uma revolução que instalou um governo comunista
(veremos adiante!) e, com isso, viveu décadas afastada diplomaticamente e
economicamente, por exemplo, de muitos países, entre eles o Brasil. A partir dos
anos 1990, os chineses, depois de um conjunto de reformas internas, passaram a
expandir sua presença no contexto internacional, principalmente interessados em
“negócios”. E para ser aceito internacionalmente, uma país precisa, além de ter o
que oferecer, contar com a “simpatia” junto a outros países, isto é, possuir uma
boa imagem. Os esforços
chineses, no sentido de se
fazer conhecido no mundo
foram muitos, entre eles a
realização de uma edição dos
Jogos Olímpicos, em 2008. E,
dentro desta perspectiva, você
entendera a “diplomacia dos
pandas”.
Mas por que pandas??? Estes animais existem apenas na região central da
China. Ou seja, todos os ursos pandas são chineses ou filhotes de animais vindos
da China. A partir de 2008, diversos casos de “aluguel” ou “empréstimo” de
pandas foram verificados no mundo, assim como no Rio de Janeiro, em 2014, e
pesquisadores perceberam que o envio de pandas acontecia em cidades ou países
em que os negócios de empresas chinesas (ou do próprio governo) cresciam
muito. Entendeu-se, então, que o envio dos ursos fazia parte de projetos maiores
de aproximação, sobretudo comercial e tecnológica. O animal “fofinho” seria uma
forma de desconstruir visões negativas construídas sobre o país comunista.

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Mas, talvez, agora você esteja com alguns questionamentos: tem panda no
Rio? De repente foi no zoológico e não lembra de ter visto nenhum urso assim?
Pois é, o casal de pandas nunca foi para o Rio de Janeiro. Quando a notícia do
acordo foi divulgada, um movimento em defesa dos animais lançou um abaixo-
assinado e gerou grande pressão para que os animais não fosse retirados de sua
“terra”. Deu certo. O Zoológico do Rio desistiu do projeto e não se falou mais
sobre o assunto!
Espero que nossa viagem esteja fazendo sentido! Rs. Imagino que um texto
iniciado com balé, Madureira E.C. e pandas pode parecer uma loucura, mas você
vai concordar que esses episódios “curiosos” tem algo muito marcante em
comum, pois envolvem países comunistas e a visão que se tinha ou tem sobre os
mesmos, principalmente no Brasil. E você deve concordar que eu nem precisaria
ir tão longe no tempo, pois não faltam acontecimentos no Brasil atual, que
demonstram as polêmicas em torno destes países, sobretudo Cuba e China. O que
quero, resumidamente, e te levar em uma viagem através das revoluções que
iniciaram as experiências comunistas de Rússia, China e Cuba.
Entretanto, antes de começar a nossa viagem no tempo, quero te mostrar a
relevância da temática nas provas o ENEM e da UERJ! Até o ano de 2019, as três
revoluções deste material apareceram apenas uma vez como conteúdo central de
uma questão, considerando desde 2009, quando a prova passou ao formato de 45
questões. Na UERJ, em termos de exame de qualificação, foram seis questões nas
últimas 16 provas, enquanto que no exame discursivo encontrei cinco questões,
nos últimos 15 anos. Proporcionalmente, portanto, é uma temática que apareceu
mais vezes nas provas específicas, mas é preciso tomar cuidado, nas provas de
ciências humanas, principalmente com a capacidade de compreender as relações
entre os processos revolucionários e a condição atual dos três países, isto é,
Rússia, China e Cuba. Vejamos, então, como aparecem nos editais:
No Exame de Qualificação da UERJ:

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Política, cidadania e cultura


Relações internacionais no mundo contemporâneo: conflitos políticos, revoltas e
revoluções liberais e socialistas; imperialismo, neocolonialismo e guerra fria;
disputas territoriais e organização política na formação de Estados nacionais;

No Exame Discursivo da UERJ:

O tempo da Guerra Total (1914-1945)  Ideologias em movimento, reformas e


revoluções: a Revolução Russa, significados e efeitos internacionais;
Da Guerra Fria ao mundo do tempo presente (1945-2017)  Guerra Fria: conceito
e contextualização; conflitos na ordem mundial, com ênfase no caso das guerras da
Coreia e do Vietnã/ África, Ásia e América Latina em um mundo bipolar: os
conceitos de descolonização e anticolonialismo; comparação entre processos de
independência afro-asiáticos; pan-africanismo, neocolonialismo e soberania
nacional; industrialização e desenvolvimento na América Latina; contestações
revolucionárias nacionalistas e de esquerda na América Latina

Repare que Cuba está inserida nas contestações revolucionárias de esquerda,


na América Latina e a Rússia está destacada em um tópico. China, por outro lado,
não está destacada, inclusive com o tópico relativo à Guerra Fria destacando
outros dois contextos asiáticos (Vietnã e Coréia), e não os chineses. Isto acontece,
provavelmente, porque o documento não é atualizado há algum tempo, tendo em
vista que a China não tinha a visibilidade internacional que tem atualmente.
Por último, no ENEM. Embora com pouca presença na prova, as revoluções
possuem um destaque entre os objetos de conhecimento do exame.

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Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento político e ação


do Estado:
 A atuação dos grupos sociais e os grandes processos revolucionários do
século XX: Revolução Bolchevique, Revolução Chinesa, Revolução
Cubana.

2. O primeiro caso! A Rússia revolucionária:

a) O Império Russo, antes das revoluções:

Para que você entenda o que aconteceu na Rússia, a partir de 1917, é


importante saber um pouco sobre como o país vivia antes deste período. Para isso,
resumo da seguinte forma:
 O poder político era concentrado nas mãos do Imperador, com o título de
Czar. O mesmo possuía o direito de estabelecer decretos “inquestionáveis”
(ukazes), que não passavam por consulta, por exemplo, de representantes da
população. Além disso, o governo czarista possuía uma polícia secreta
específica para as questões políticas (okhrana), responsável por perseguir
críticos do governo.
Em uma perspectiva comparativa, lembre-se que países como França e
Inglaterra haviam criado modelos políticos que limitavam o poder dos
governantes, a partir de legislações gerais (constituições) e de órgãos de
representação popular (parlamentos). Nesse sentido, é comum compararmos a
Rússia czarista com as experiências absolutistas da Europa ocidental.

 A sociedade russa era de maioria rural. Segundo o censo de 1897, a


população do Império era de 125 milhões de pessoas, com apenas 17 milhões
vivendo em cidades (destaque para a capital da época, São Petersburgo, e para
Moscou). No campo, a servidão, forma de trabalho obrigatório, foi abolida

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apenas em 1861, sem que isso garantisse acesso efetivo, dos camponeses, à
terra. O fim da servidão foi realizado pelo Czar Alexandre
II, que foi assassinado em 1881, de modo que o seu filho e
sucessor, Alexandre III, reduziu as reformas e aumentou a
repressão a manifestações opositoras. O Czar seguinte,
Nicolau II (imagem) foi justamente aquele que a Revolução
de 1917 derrubou.
 Em termos econômicos, embora um país majoritariamente rural, a Rússia
vivia, no final do século XIX, um processo de modernização. Isto quer dizer,
que havia um crescimento industrial, com o apoio de capitais estrangeiros
(franceses, principalmente) e urbano. Um
dos símbolos desta modernização foi a
construção da ferrovia Transiberiana
(imagem), ligando Moscou à Vladivostok
(se já jogou “War”, sabe onde é... rs)
 Em meio ao processo de modernização novos grupos sociais cresceram e/ou
se fortaleceram: empresários, ligados à indústria e ao comércio, possuirão
interesses, por vezes, distintos da nobreza de origem rural, apoiadora do regime
czarista. Camponeses, cada vez mais
insatisfeitos com situações de vida muitas
vezes miseráveis. E, por último, o
operariado (imagem), isto é, trabalhadores
fabris (urbanos), que vão reivindicar
melhores condições de trabalho.
 Com estas novas camadas sociais, as críticas ao governo czarista
aumentaram, desenvolvendo campos ideológicos importantes. Para resumir, te
direi dois caminhos ideológicos: por um lado a defesa dos direitos e liberdades

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individuais, em diálogo com o liberalismo e, por outro, a crítica a desigualdade


social e a exploração do trabalho, a partir das ideias socialistas.

O momento considerado símbolo do limite desta Rússia foi o ano de 1905,


com um processo revolucionário que não chegou a conquistar o poder, mas que
futuramente foi chamado de “Ensaio Geral”, em uma leitura que observa o início
do processo que será praticado em 1917.
Não costumamos conhecer muito sobre a geopolítica do oriente, mas acredite
em mim, as disputas por domínios na costa pacífica asiática eram bastante tensas,
na virada entre os séculos XIX e XX. Nesse contexto, o Império Russo entrou em
guerra com o Japão, sobretudo na disputa pela influência sobre territórios
chineses. É bom esclarecer que vivia-se o auge das teorias racistas “científicas” e
os russos, homens brancos, consideravam-se naturalmente superiores aos
amarelos (japoneses), o que torna a derrota russa ainda mais dramática. Isso, sem
falar na perda de territórios e no estrago material e humano gerado pela guerra.
Estima-se que a Rússia perdeu 200 mil combatentes e é importante que você
lembre que a participação na guerra tirava “braços” do trabalho rural. De modo
geral o custo de vida subiu e as dificuldades aumentaram.
Os números de pessoas fugindo da
guerra aumentaram, greves e
manifestações passaram a fazer parte do
cotidiano das cidades. Entre os principais
eventos do ano, destaque para o “Domingo
Sangrento”, em 22 de janeiro de 1905
(imagem). Uma manifestação pacífica,
liderada por um padre, foi reprimida
violentamente pela guarda de um palácio imperial. Este evento virou um símbolo
de autoritarismo atribuído ao Czar Nicolau II e gerou uma série de revoltas na
cidade de São Petersburgo.
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Outro símbolo do momento conturbado


foi a revolta de uma embarcação da marinha de
guerra russa, o “encouraçado Potemkin”
(imagem), em junho de 1905, quando militares
se recusara a seguir ordens de guerra, com uma
reação em cadeia que levou ao reconhecimento,
por parte do governo, da derrota para os
japoneses.
Diante das pressões, o Czar lançou o “Manifesto de Outubro”, com a criação
de um parlamento (Duma) e com a proposta de elaboração de uma constituição, o
que garantiria limitações ao poder de Nicolau II. Entretanto, após 1906, o
“czarismo” conseguiu sobrepor-se as reformas, afirmando a autoridade do
imperador.

b) As revoluções de 1917

O contexto vivido pela Rússia neste momento é relativamente fácil de


entender. Basicamente, a participação na Primeira Guerra Mundial foi
determinante para o desenrolar dos acontecimentos. A participação russa foi
desastrosas, tendo perdido (mortos, feridos ou aprisionados), em apenas dois anos
de conflito, cerca de 5 milhões de combatentes! E se a guerra contra o Japão foi
suficiente para dificultar a vida da sociedade, de modo geral, imagine a Primeria
Guerra!? E tem um detalhe curioso: em 1915, o Czar assumiu pessoalmente o
comando dos exércitos, de modo que a sua imagem passou a ser diretamente
relacionada à guerra e, naturalmente, às suas consequências desastrosas.
Em fevereiro de 1917, um conjunto de greves e revoltas, principalmente em
Petrogrado (novo nome de São Petrsburgo), levou à queda do czar, com a
transferência do poder para a Duma (ou seja, o parlamento). Naquele cenária, pelo
menos três grupos haviam radicalizado as suas lutas, sendo eles: operários,
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camponeses e soldados. Estes, não se sentiam representados pelo parlamento, que


possuía posições moderadas, lideradas por políticos liberais e por uma nobreza
“reformista”. Com isso, os grupos populares mais radicalizados tenderam a
reconhecer a autoridade do Soviete (Conselho Operário) de Petrogrado, que
passou a tomar decisões. Este processo ficou conhecido como “Revolução de
Fevereiro”.
A Duma provocou muitas insatisfações ao manter a Rússia na guerra. Esta
decisão gerou importantes consequências,
como o crescimento da revolta popular e o
fortalecimento de sovietes em diversas cidades.
Além disso, no interior do soviete de
Petrogrado, a corrente “bolchevique” maioria,
com a liderança de Vladimir Lênin (imagem),
confirmou sua influência, em disputa com os “mencheviques”. De modo geral,
lembre-se que os bolcheviques defendiam uma revolução imediata, sem etapas de
“pequenas” reformas, e sem estágios de alianças com outras correntes ideológicas.
Por isso, é comum que você encontre a caracterização de “radicais” para esta
corrente política.
A manutenção da guerra e um episódio de tentativa de tomada do poder, em
um golpe contrarrevolucionário (Caso Kornilov), liderado por um militar
nomeado pelo governo provisório, instalado com a Revolução de Fevereiro,
aumentaram o apoio aos sovietes e às propostas bolcheviques. Entre elas, a saída
imediata da guerra era uma das principais! Vivia-se um contexto de muitas
agitações, com revoltas camponesas espalhadas por todo o país, greves operárias
e soldados fugindo dos campos de batalha. Na noite de 24 de outubro de 1917, o
soviete de Petrogrado organizou a ocupação de pontos estratégicos da cidade,
incluindo o palácio imperial, grande símbolo de poder. No dia seguinte
proclamou-se o Conselho de Comissários do Povo, substituindo a Duma e com a

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presidência de Lênin. Este processo costuma ser conhecido com “Revolução


Bolchevique” ou “Revolução de Outubro”.
No poder, algumas políticas foram imediatamente adotadas:

Dectretos Retirada da guerra, iniciando negociações de paz com a


Alemanha.

Reconhecimento do controle dos camponseses sobre as


terras conquistadas nos meses anteriores.

Controle sobre as fábricas atribuído aos operários.

Reconhecimento da soberania de nacionalidades não


russas que viviam no império (exemplo: ucranianos e
bielorrussos)

c) Confirmação do processo revolucionário

O partido bolchevique passou a se chamar Partido Comunista, mas o


processo não foi tranquilo. Diversos grupos opuseram-se ao novo governo e a
Rússia mergulho em uma guerra civil que durou cerca de três anos, deixando um
número de mortos estimado entre 5 e 9 milhões.
Como curiosidade, saiba que a família imperial foi
condenada à morte, com o objetivo de evitar que eventuais
tropas contrarrevolucionárias os resgatassem da prisão.
Adultos e crianças foram mortos e seus corpos enterrados
em valas comuns, porém o corpo de uma das filhas não foi
encontrado, até meados do século XXI, alimentando um
boato de que a jovem, chamada Anastácia, teria
conseguido sobreviver. Conhece essa história?
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Considerando que a situação econômica era


desastrosa em 1917, acredito que você deve imaginar que o
conflito interno só piorou o quadro! E durante os conflitos,
o governo de Lênin adotou medidas impopulares como o
confisco da produção agrícola nos campos e a interferência
no trabalho fabril, em um projeto que ficou conhecido
como “comunismo de guerra” (imagem), que contou com
um conjunto de medidas repressivas, como a censura à
imprensa. Em 1922, considera-se que a guerra foi encerrada e o símbolo deste
novo momento foi a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), reunindo, entre outras: Rússia, Ucrânia, Bielo Rússia (atual Belarus).
Futuramente, a URSS expandiu-se, como pode ver no mapa, incluindo uma
variedade imensa (étnica e religiosa, por exemplo):

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Para tentar combater os problemas econômicos, o governo comunista lançou


a Nova Política Econômica (NEP), suspendendo o confisco de colheitas,
estimulando algumas iniciativas privadas e buscando atrair capitais externos.
Costuma-se dizer que havia na NEP, a proposta de produzir riquezas para, depois,
dividi-las.
Politicamente, em 1923, foi lançada uma nova constituição, definindo os
poderes da União e o órgão mais importante, isto é, o Soviete Supremo. Porém,
um episódio marcou mudanças importantes na trajetória soviética, pois em janeiro
de 1924 Lênin morreu, abrindo caminho para a disputa pelo poder, entre Leon
Trotsky e Josef Stálin. Durante cerca de cinco anos, os dois representaram a
divergência entre dois projetos. De um lado, a ênfase em uma revolução
internacional (Trotsky) e, de outro, a ênfase na consolidação interna (Stalin). Em
1929, Stálin confirmou sua vitória, com Trotsky partindo para o exílio.
(Da esquerda para a
direita: Stálin, Lênin
e Trotsky)

Para resumir o modelo de socialismo soviético implementado por Stálin, e que


divide muito as opiniões, lembre-se de quatro aspectos:

1º) política agrária: o governo eliminou as propriedades agrícolas e determinou


a coletivização dos campos através de cooperativas ou de fazendas estatais.
Essas políticas geraram muitas revoltas e, também, crises de abastecimento de
produtos como alimentos.

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2º) “Grande Terror”: ao longo da década de


1930, o governo de Stalin realizou ondas de
perseguições com prisões e mortes arbitrárias à
opositores, sobretudo no interior do próprio
Partido Comunista da União Soviética, além de
campos de trabalho forçado. Formou-se um projeto personalista, com exaltação
à figura do líder.
3º) por outro lado, a industrialização viveu progressos
impressionantes, com destaque para a metalurgia, a
siderurgia, a produção de energia e a de armamentos. Os
pilares fundamentais desta industrialização foram a indústria
de infraestrutura e o militarismo.
4º) socialmente, o crescimento industrial proporcionou um avanço significativo
nas oportunidades de empregos. Junto a isso, políticas sociais obtiveram
sucesso, por exemplo com o aumento do número de estudantes matriculados,
saltando de 12 milhões (1928), para 31,5 milhões (1938), ou também o número
de médicos, que saltou de 27 mil para 105 mil.

3. Do outro lado do mundo. Caminhada chinesa:

a) Um pouco da história chinesa:

Tudo que se refere a histórias orientais, pode ser confundido por nós, tendo
em vista que os nossos referenciais acabam sendo o da história europeia. E a
história da Revolução Chinesa, de fato, possui profundas conexões com a história
ocidental. Quero, porém, te convidar a pensar sobre os chineses tomando muito
cuidado para não impor à sua história, lógicas ocidentais e julgamentos de valores.
Quero que saiba:
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A China possui uma história milenar, tendo sido governada por diversas
dinastias, incluindo a famosa dinastia dos Yuan (1271-1368), liderada por
Kublai Khan, neto do lendário líder mongol, Gêngis Khan. Este período foi
marcado por grande expansão territorial e comercial, transformando a China em
uma referência de riquezas, como observou o navegador Marco Polo. Por outro
lado as dinastias que governaram a China precisavam sempre disputar
influência com nobrezas locais (pense no tamanho da China) e isso gerou alguns
períodos de poder fragmentado. Um deles, é o século XIX, com a dinastia Qing,
um povo de origem manchu e que governava uma população de maioria ham
(maior grupo étnico da China).
Em meio as fragilidades do período Qing, potências europeias (Inglaterra,
França e Alemanha) e países “próximos” (Japão e Rússia), fizeram diversos
tipos de pressões, incluindo guerras, para garantir territórios e mercados
chineses disponíveis aos seus interesses políticos e econômicos. Chineses
tiveram que enfrentar guerras contra todos os países que mencionei e, de modo
geral, precisaram aceitar a presença dos mesmos em seus territórios, mesmo
porque o governo central chinês precisou, em algumas ocasiões, do apoio
militar estrangeiro, para conseguir derrotar movimentos opositores internos.
(MEYER, H. The Chinese Cake. Le Petit
Journal, jan. 1898).
Na imagem, representantes de algumas
potências imperialistas repartem fatias do
que parece ser uma torta ou uma pizza, onde
se lê "China". Sentados à mesa, da esquerda
para a direita, vemos a rainha Vitória
(representando a Inglaterra), o kaiser
Guilherme II (Alemanha), o czar Nicolau II
(Rússia) e o imperador Mutsuhito (Japão). Os três primeiros seguram facas,

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enquanto que o imperador japonês, sem portar uma faca, apenas observa a
partilha com um olhar preocupado. Mutsuhito parece esperar "pelo que vai
sobrar" da torta/pizza. Atrás do czar Nicolau II, a França é representada por uma
mulher que usa na cabeça o "barrete frígio" - símbolo criado na época da
Revolução Francesa -, e que também parece aguardar o processo de divisão da
China. Ao fundo, a China é representada por um velho que ergue os braços em
desespero e impotente diante da ação das potências imperialistas.
(https://blogdosuperrodrigao.blogspot.com/2015/11/uma-charge-sobre-o-
imperialismo-na.html)

De modo geral, uma das principais “questões” para a China do início do


século XX era a opressão sofrido por interesses externos e a incapacidade de o
governo imperial resolver esta situação.
Em 1898, Kang Youwei e Liang Qichao, lideranças políticas, se aliaram ao
imperador e lançaram a “Reforma dos Cem Dias”, que propunham um conjunto
de reformas estruturais, como a modernização de estradas, bem como em termos
de costumes, defendendo o fim de qualquer tradição que inferiorizasse mulheres
e o princípio de nação como elo coletivo fundamental, superando as distinções
étnicas. Houve uma repressão conservadora violenta aos reformistas, por parte de
uma nobrza contrária às modernizações.
O passo seguinte foi a
aproximação entre os defensores da
modernização e as seitas “Punhos
Harmoniosos” (conhecidos, no
ocidente, como Boxers), criando um
grande movimento de contestação
direcionado, principalmente, contra a
opressão realizada por estrangeiros. Entre 1900 e 1901, as potências imperialistas
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europeias atacaram diversas regiões da China, sobretudo


Pequim, e confirmaram sua influência sobre o governo
central. Como um dos desdobramentos deste conflito,
ganhou projeção um ativista nacionalista anti-Qing
chamado Zou Rong (imagem) que, em 1903, escreveu um
famoso texto em que defendia, por exemplo: assembleias
eleitas, direitos das mulheres e liberdade de imprensa.
Rong foi preso e morto, na prisão, em 1905, gerando uma revolta coletiva, na qual
destaco a fudação da “Liga Revolucionária”, por um jovem médico chamado Sun
Yat-Sen.
Entre 1911 e 1912, as agitações se aprofundaram, com revoltas generalizadas
no interior das forças armadas e a consequência foi a proclamação de um
República, com o governo provisório de Yuan Shikai, logo depois sucedido por
Yat-Sen. Este defendia como base de sua filosofia política:

Três o nacionalismo (luta contra a dominação


Princípios estrangeira)
do Povo
a democracia (redistribuição da propriedade
da terra e Estado voltado para servir ao povo)

bem-estar do povo (distribuição da renda e


industrialização com participação do Estado)
Em 1919, o “Movimento 4 de maio” ganhou projeção, lutando contra o
imperialismo. A revolta foi causada pelas negociações de paz da Primeira Guerra
Mundial, nas quais a China teve a sua soberania ignorada e parte se seus territórios
garantidos ao Japão (que estava do lado dos vencedores do conflito). Nesse
contexto é fundado uma das principais organizações políticas da história da China,

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o Partido Nacional (Kuomintang), sob liderança do próprio Sun Yat-Sem, com


base nos “três princípios”.

b) O processo Revolucionário

Uma novidade naquele contexto, era a influência da Revolução Russa. Em


1921 foi fundado o Partido Comunista da China, com importante mobilização de
trabalhadores urbanos e estudantes. Inicialmente, o Partido Nacional estabelecia
cooperação com os comunistas e com a União Soviética. Por quê? É preciso
considerar que os princípios sociais defendidos pelos “nacionalistas” não possuía
muitas divergências com as ideias comunistas e que, principalmente, tinham em
comum o discurso em favor do combate ao imperialismo, considerado o maior
“inimigo” da China.
Porém, ao longo da década de 1920, o cenário foi mudando. Sun Yat-Sen
morrer e o seu substituto, Chiang Kai-shek, aproximou-se
de elites latifundiárias. Ao mesmo tempo, o comunismo
chinês foi incorporado pelas lutas camponesas, fazendo
crescer a influência de Mao Tsé-Tung (imagem), uma
liderança política de origem camponesa que justamente
defendia que o potencial revolucionário chinês estava no
campo, e não nas cidades, como no caso soviético.
Os conflitos entre comunistas e nacionalistas levou à uma Guerra Civil, com
ações de repressão, por parte do governo nacionalista, contra as revoltas
camponesas e as greves em cidades. Um dos episódios mais marcantes deste
período, já na década de 1930, foi a “Longa Marcha” (1934-1935), quando o
exército vermelho (combatentes do Partido Comunistas) escapou dos ataques
organizados pelos nacionalistas, concentrando-se em uma região mais interiorana.

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Novamente, entretanto, eventos externos alteraram o rumo dos


acontecimentos externos. Em 1936 foi formada a “Frente Unificada”,
incorporando o exército comunista às forças oficiais do governo, com o objetivo
de combater as invasões japonesas à China. Lembre-se que estamos à poucos anos
da Segunda Guerra Mundial e a presença japonesa na China durará até o final do
conflito mundial, marcada por muita destruição e crueldades, num processo que
muitos denunciam como um genocídio.
Foram quase dez anos contínuos de guerra contra o Japão, ou de guerrilha de
resistência, e tem um fato curioso: o Partido Nacional chegou a propor a aceitação
da derrota para o Japão, o que acabaria prejudicando muito a imagem do partido.
Além disso, ao longo da guerra, a influência comunista cresceu, bem como o
tamanho de seu exército, tanto que os nacionalistas exigiram imediato
desarmamento do Partido Comunista, o que foi recusado. Assim que a Segunda
Guerra começou, uma nova guerra civil estourou, opondo comunistas e
nacionalista, terminando com a tomada de poder, pelos comunistas. Em outubro
de 1949, Mao Tsé-Tung tomava a capital Pequim, enquanto Chiang Kai-shek

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seguiam para a ilha de Taiwan, onde proclamaram a República da China. Os


comunistas, por sua vez, proclamaram a República Popular da China.
Até hoje existem duas Chinas e esta “questão” é bastante complexa. Há um
princípio de “Uma China apenas”, no qual os países do mundo só podem
reconhecer uma delas. Na prática, dada a força da República Popular, a maioria
dos países do mundo acabaram reconhecendo a China “continental”, em
detrimento da “ilha”. Veja:

c) República Popular da China

Para completar o trecho da introdução, que falava de uma China “aberta” ao


mundo, a partir da década de 1990, vamos nos dedicar mais ao período que vai
dos anos 1950 aos 1970, enquanto Mao Tsé-Tung esteve no comando.
No início dos anos 50, acordos de cooperação econômica com a União
Soviética trouxeram duas consequências gerais dentro da China. Por um lado,
alguns resultados econômicos positivos, mas, por outro, o temor quanto à
influência soviética. Segundo Mao, não era desejo dos chineses nenhum tipo de
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domínio estrangeiro, independente da ideologia. Gostaria de destacar alguns


acontecimentos:
1953: Primeiro Plano Quinquenal  instalação de complexos industriais (32
bilhões de dólares) a partir da “contribuição” do campesinato; processo de
estatização e coletivização, com graves problemas econômicos.
1957: Movimento das Cem Flores, baseado na ideia de um florescimento
intelectual, que fosse capaz de conduzir a revolução chinesa, mas que fugiu ao
controle em meio as profundas insatisfações. A ideia era que o crescimento
intelectual conduzisse à uma revolução “realmente” chinesa.
1958-1960: Grande Salto Adiante  segundo plano quinquenal, baseado na
atuação das cooperativas agrícolas e na formação de pequenas fundições, no
sentido de produzir aço. O projeto não apresentou bons resultados e juntamente
com problemas climáticos, provocou uma grave crise, em um período
conhecido como “grande fome”.
1966: Revolução Cultural Proletária
 principio de "Fazer a revolução e
aumentar a produção". Mao perseguiu
e afastou (prisões e mortes, por
exemplo) opositores moderados ao
projeto do maoísmo.

Em termos de política externa, quero que saiba de alguns fatos:


• 1950: A República da China foi considerada herdeira da vitória na 2ª
Guerra, ficando com a presença nas Nações Unidas, incluindo a condição
de membro permanente do Conselho de Segurança.
• 1964: Teste bem-sucedido com armas nucleares, realizados pelo governo
de Pequim.

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• 1969: Conflito entre China e União Soviética, confirmando a ruptura


entre os dois Estados, em decorrência das críticas chinesas à
“coexistência” que a URSS defendia frente aos EUA.
• 1971: Diplomacia do Ping-Pong, quando
estabeleceu-se um intercâmbio entre chineses
e estadunidenses, jogadores do esporte,
abrindo caminho para uma aproximação entre
os países. Na imagem, a delegação
estadunidense é capa da famosa revista
“Time”, em visita à Muralha da China

• 1971: Admissão da Rep. Popular nas Nações Unidas, assumindo a


cadeira de membro permanente do Conselho de Segurança.
• 1972: Visita do Presidente Richard
Nixon à Rep. Popular, sendo recebido
pelo líder chinês, Mao Tsé-Tung.

4. Na nossa vizinhança: os desafios de uma ilha caribenha:

a) Antes do “vai pra Cuba”.... de onde vem Cuba?

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Não sei se você já sabia, mas Cuba é uma ilha que fica na região do Caribe,
a menos de 150 quilômetros da Flórida, estado dos Estados Unidos. Além disse,
talvez você não saiba, mas Cristóvão Colombo, quando chegou à América, ele
“foi pra Cuba”, embora não o tenham mandado especificamente para lá.
A história da ilha foi marcada pela colonização espanhola, desenvolvida com
base nas fazendo de cultivo de cana de açúcar e de tabaco, com base no trabalho
escravo de africanos.
A ilha sempre foi considerada estratégica, tanto que os ingleses a tomaram
dos espanhóis e depois os estadunidenses a devolveram, em contrapartida pela
ajuda na guerra de independência dos Estados Unidos. Este fato já demonstra,
para além da proximidade geográfica, que EUA e Cuba possuem uma longa
história de “conexões”.
No século XIX, enquanto grande parte dos países latino-americanos
conquistava as suas independências, Cuba não vivenciou este processo, sobretudo
por dois fatores:
1º- As elites coloniais tinham medo de uma radicalização de movimentos de
escravizados, tal como ocorreu no “vizinho” Haiti. Aliás as marcas da escravidão
se fizeram muito presentes na formação do país, com desigualdades sociais
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demonstradas nas desigualdades raciais. Cuba foi o penúltimo território a abolir a


escravidão na América, só não sendo mais atrasado que.... o Brasil!
2º- A economia da região cresceu muito através da cana de açúcar, não mais
por causa do açúcar, mas principalmente pela produção da bebida mais famosa de
Cuba, o rum. Desse modo, os espanhóis resistiram o quanto puderam e ainda
contaram com o apoio dos estadunidenses, que faziam negócios com as elites
coloniais.
Porém, o processo de Independência aconteceu a partir de uma guerra entre
1895 e 1898. No meio do processo, os Estados Unidos, para garantir o interesse
de seus empresários, interfere e declara guerra à Espanha. Inclusive, o primeiro
“governo” de Cuba foi uma junta militar estadunidense. Em 1901, foram
realizadas eleições constituintes, que elaboraram a primeira constituição do país,
sendo que este documento trazia uma legislação que fazia de Cuba, na prática, um
“protetorado” dos EUA, tendo em vista influência garantida.

EMENDA Direito de instalação de bases militares dos EUA em


PLATT Cuba.

Direito de o governo dos EUA interferirem nos


assuntos internos de Cuba, para garantia da ordem.

Compromisso de cooperação cubana em caso de


necessida dos EUA.

Livres circulação de estadunidenses no território


cubano.

Só por curiosidade, em 1906 houve uma polêmica quanto à reeleição de um


presidente, resultando em intervenção estadunidense. Em 1912, políticos
propuseram um debate sobre a reforma agrária e, um ano antes, os negros haviam
sido admitidos na política...nova intervenção.
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Todo este cenário contribuiu para a existência de


sentimentos anti-imperialistas direcionados aos EUA.
Na década de 1930, no contexto da Política da Boa
Vizinhança, a Emenda Platt foi extinguida, porém as
pressões continuaram e geraram a elaboração de uma
nova constituição, em 1940, juntamente com a eleição
de um militar chamado Fulgêncio Batista, inclusive
com o apoio dos comunistas. Batista era considerado
um líder nacionalista, era mestiço (por isso, não tinha a
aparência da elite branca), e havia a expectativa de que
fosse capaz de confrontar a influência dos Estados Unidos, o que não fez.
Quando falo em influência dos EUA sei que você deve achar muito vago. E
é! Por isso, vou detalhar um pouco mais. Estou falando de ações do governo dos
EUA, mas também de cidadão americanos, incluindo criminosos que utilizavam
a ilha para “lavagem de dinheiro” e rota de comércios clandestino, como o do
rum, na época em que as bebidas foram proibidas nos
EUA. Estamos falando de pessoas muito poderosas,
incluindo em termos de riquezas. Um dos maiores
símbolos dessa época foi a Conferência de Havana, de
1946 (sugiro uma pesquisa sobre o assunto, se você
curte este tipo de história!), uma reunião das principais
famílias mafiosas de todo os Estados Unidos e
representantes da máfia italiana, supostamente
organizada por “Lucky Luciano” (imagem). Na reunião
discutiram as principais estratégias de ação que marcariam o crime organizado
nas décadas seguintes. Um dos debates estabelecidos foi se seria ou não lucrativo
apostar na comercialização de narcóticos (drogas), ainda pouco comum na época.
Em 1944, Fulgêncio Batista não conseguiu eleger seu sucessor, mudou-se
para os EUA, retornando alguns anos depois. Em 1952, fez parte de uma coalizão
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para concorrer à presidência, porém meses antes liderou um golpe que o colocou
no poder e gerou um conjunto de ações autoritárias, tais como prisões arbitrárias
e censura.

b) Processo revolucionário

No contexto de cancelamento das eleições, muitas manifestações


aconteceram, apontando o autoritarismo e denunciando a relação entre Batista e o
crime organizado, as redes de
prostituição e o turismo sexual em Cuba,
além de todo o quadro de desigualdades
sociais. Entre os estudantes, ganhava
destaca um jovem bacharel em direito
chamado Fidel Castro (imagem).
Ferrenho opositor de Batista, dedicava-
se a defender, na justiça, opositores do governo, bem como a escrever e publicar
textos críticos. Em 26 de julho de 1953 liderou um grupo de mais de 160 pessoas
na invasão ao Quartel de Moncada, na importante cidade de Santiago de Cuba. O
Objetivo da ação era tomar o quartel e armar a população para, desse modo,
derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Grande parte do grupo foi morto, mas
Fidel foi preso e julgado, fazendo a sua própria defesa e ganhando fama com seus
discursos, dentre os quais, o mais famoso foi quando disse: "Condenem-me. Não
me importo. A história me absolverá"!

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Fidel foi condenado há 15 anos de prisão, porém recebeu a anistia em 1955.


Permanecendo crítico ao governo, partiu em exílio para o México, onde
juntamente com seu irmão, Raúl Castro, conheceu o revolucionário argentino
Ernesto “Che” Guevara. Juntos, formaram o
grupo batizado de “Movimento 26 de
Julho”, que viajou para Cuba, em finais de
1956, a bordo do iate Gramna, com o
objetivo de iniciar a tomada do poder.
O grupo foi recebido violentamente por tropas de segurança e os
revolucionários se refugiaram na região de Sierra Maestra, localidade de selva,
onde o acesso era bastante difícil. Entre o final de 1956 e o final de 1958, o
movimento cresceu e se fortaleceu, organizando um foco revolucionário
guerrilheiro que acabou tomando o poder e expulsando Batista, na virada para o
ano 1959.

c) Cuba socialista

Inicialmente as propostas do governo


revolucionário não incluíam a adoção do
comunismo e muito menos a aliança com a
União Soviética. Inclusive a primeira viagem
ao exterior, de Fidel Castro, após a revolução
foi justamente para os EUA, onde foi recebido
pelo vice-presidente Richard Nixon (imagem).
A ideia era contar com o apoio dos Estado
Unidos para que o novo governo pudesse prosperar, mas como o movimento
revolucionário era fortemente anti-imperialista, os interesses estadunidenses
foram logo afetados. O governo castrista lançou um projeto de reforma agrária e
estatizou empresas dos Estados Unidos, que eram estabelecidas na ilha. Um dos
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casos mais famosos é da emprese de bebidas, conhecida justamente


por vender rum, chamada “Bacardi”, que foi estatizada com o nome
de “Havana Club”. A família fugiu do país e levou a marca, ainda
hoje uma das principais no mercado de bebidas. Para não alongar
muito mais, listarei eventos importantes:

SET/1960: Fidel Castro faz um discurso de mais de 4 horas na Assembleia


Geral das Nações Unidas, direcionando críticas duras aos Estados Unidos.
OUT/1960: EUA proíbem quase todas as exportações para Cuba (embargo
econômico), afetando bastante a econômica da ilha.
ABR/1961: Invasão da Baía dos Porcos, quando opositores do regime de Fidel
Castro, com o treinamento da Agência de Inteligência estadunidense (CIA),
tentaram invadir o país e derrubar o governo socialista, sem terem obtido
sucesso.
JAN/1962: Cuba é suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA),
com grande mobilização da política externa dos EUA
OUT/1962: Crise dos Mísseis, considerado o momento mais tenso da Guerra
Fria, quando os EUA exigiram a retirada de mísseis soviéticos, instalados em
Cuba.

O que gostaria de deixar claro é que assim como a China, Cuba tem a sua
própria história e não apenas copiou a experiência soviéticas ou as ideias do
socialismo. Os cubanos tiveram a sua própria trajetória, porém as circunstâncias
obrigaram ao alinhamento com a União Soviética, que se comprometeu, por
exemplo, a comprar o açúcar cubano por um valor quatro vezes acima do
mercado.
Além disso, Cuba sempre divide opiniões (e paixões), pois se, por um lado,
o governo de Fidel é apontado como tendo perseguido opositores e governado de
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forma autoritária, por outro, levou o país à indicadores sociais bem acima da
média na região, por exemplo, em termos de acesso a saúde e educação.

5. “Atualizando”

Para concluir nossa viagem, quero te trazer de volta para os seu tempo. Mas,
como já deve estar cansado ou cansada, serei bem breve. No futuro, podemos
retomar esta conversa.
A União Soviética viveu uma grave crise nos anos 1980, sobretudo em
termos econômicos e tecnológicos (símbolo disso, foi o desastre de Chernobyl).
O governo de Mikhail Gorbachev até tentou reformas (Perestroika e Glasnost),
admitindo, por exemplo, práticas de economia de mercado e a criação de partidos
de oposição, mas não foi o suficiente. Uma série de revoltas e negociações
levaram ao fim oficial da União Soviética, em 1991.
Herdeira principal do legado soviético, sobretudo por ficar com os
armamentos, a Rússia viveu uma grave crise econômica no final dos anos 1990,
mas ao longo da década de 2010, voltou a representar umas das principais forças
da política internacional.
A China, após a morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, iniciou uma processo
intenso de modernizações, com investimentos em forças armadas, tecnologia,
indústria e etc, conhecida como “Política das Quatro Modernizações”. A
modernização econômica foi acompanhada de um contexto de manifestações
políticas intensas, das quais o “Massacre da Praça da Paz Celestial” é a cena mais
famosa, em 1989. Ao longo dos últimos 40 anos a China atingiu a condição de
potência global, tornando-se um ator principal das relações internacionais.
Cuba passou por profundas dificuldades econômicas nos anos 1990, quando
seu principal parceiro, a URSS, deixou de existir, embora a China tenha
colaborado para diminuir os efeitos. Nos anos 2000, o país realizou algumas
reformas no sentido de estimular iniciativas privadas e na década de 2010 fez parte

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de um conjunto de negociações que visavam a aproximação junto aos EUA.


Símbolo da aproximação foi a reabertura da embaixada dos EUA em Havana
(capital de Cuba), em 2015. Porém, estes avanços foram freados com a mudança
do governo dos EUA em 2016, com um presidente que assumiu uma postura
novamente de combate à Cuba. Um dos motivos para isto é o interesse eleitoral,
pois ao longo dos anos do governo de Fidel Castro, estima-se que mais de um
milhão de cubanos fugiu para os EUA. A comunidade “cubana” dos EUA tem
cerca de 2 milhoes de pessoas, grande parte cidadão americano residente da
Flórida. Em geral, essa comunidade não é nem um pouco simpática ao governo
socialista de Cuba, mesmo com as reformas, e a Flórida é um dos maiores colégios
eleitorais dos EUA. Nas eleições de 2020, essa estratégia se mostrou bem-
sucedida, pois o candidato à reeleição, com discurso fortemente anti-Cuba, saiu
vitoriosa na Flórida, ainda que tenha perdido as eleições.
Enfim, são muitas questões! Espero que você tenha tido grandes reflexões
ao longo da leitura. Não é sempre que um urso panda, uma companhia de balé e
um clube de futebol podem se juntar para provocar tantas histórias!!!
Até a próxima!

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