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ISBN 978-65-5563-000-0
1. XXXXX 2. XXXXXX
00-0000 CDD-000.00
1. XXXXXXXXXXXXXXXXx 000.00
ISBN: 978-65-5563-112-8
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as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de
1998.
apresentação 9
prefácio 17
Introdução
portuguesa.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 31 •
Educação e perplexidade
pudesse acessar aos seus alunos nas condições que se lhe impuseram diante de
algo inédito: o fechamento das escolas por tanto tempo. É importante salien-
tar que os profissionais da educação, possuem uma rotina de trabalho que
vai muito além das efetivas aulas. As atribuições dos educadores envolvem
a elaboração de planos de ensino e de planos de aulas, o acompanhamento
da aprendizagem por meio do registro em tabelas, a preparação de material
apropriado para cada tempo de aprendizagem de seus alunos, as pesquisas
para embasamento de suas ações voltadas aos alunos com deficiências e/ou
dificuldades de aprendizagem, as correções dos trabalhos desenvolvidos pelos
alunos e as respectivas devolutivas sobre o seu desempenho, as reuniões com
colegas e equipe gestora para o alinhamento das ações coletivas, a orientação
às famílias e intervenções constantes aos alunos.
Quando os professores retornaram aos seus trabalhos em suas escolas, to-
das as suas atribuições voltaram consigo, porém, potencializadas pelo grande
desafio de atingir o aluno de maneira remota. Uma das grandes preocupações
dos professores, e de toda a equipe escolar, durante esse período de pandemia,
foi com o perigo iminente da evasão escolar. Muitas famílias foram acometi-
das de dificuldades financeiras que as fizeram procurar ajuda com os familia-
res. Algumas dessas famílias chegaram a mudar-se temporariamente levando
consigo seus filhos e deixando a escola e as possibilidades de contato com a
escola. Foram muitos meses falando ao telefone com muitas famílias para que
houvesse alguma noção das suas reais necessidades. Foram dias e mais dias ori-
entando famílias sobre os rumos que poderiam tomar para que os direitos da
criança fossem garantidos em meio à crise social e econômica que se assolava,
(e ainda assola) sobretudo, os mais necessitados.
Toda organização de uma instituição escolar é voltada ao objetivo primor-
dial da aprendizagem. Os princípios norteadores da ação educativa no espaço
escolar voltam-se para a relação direta entre o cuidar e o educar. Ainda nas
fases mais avançadas no ensino fundamental, há que se perceber que o aluno
que temos diante de nós não está despojado dos vínculos que o afetam por in-
teiro, como privações de alimento e exposição à violência física e psicológica.
Os professores, ao retornarem aos seus afazeres de trabalho, também trou-
xeram consigo problemas, dificuldades e todas essas emoções, muitas vezes, a
necessidade de que fossem minimizadas as perdas quanto ao desenvolvimento
da aprendizagem, as condições de trabalho fizeram com que os professores
se sentissem como os espectadores que observam as periferias do enredo. As
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
36 • Para além do território demarcado
Considerações finais
Referências
mos fazendo para nós mesmos? Será que vivenciamos realmente algo nesse
turbilhão interminável? Não seria possível que viramos egoístas ou hedonis-
tas, buscando apenas nosso próprio desejo e o prazer imediato, e que estivés-
semos experienciado as mais ricas formas de vida social? Ao contrário, Benja-
min (1994) nos diz que pouco ou nada fazemos, que estamos cada vez mais
pobres de experiência.
Benjamin (1994) faz um diagnóstico da sua época sobre as experiências,
particularmente aquelas ligadas às Grandes Guerras, das quais os soldados
voltaram depois de anos. Essa foi a chamada geração silenciosa, presenciaram
conflitos e momentos históricos, mas não tinham nada para contar após anos
vivenciando a barbárie diretamente. Se trouxermos para agora, é provável
então que estejamos vivenciando muitas coisas nos nossos dias, mas que não
são experiências compartilháveis, são experiências de barbárie. Pois, a própria
pobreza de experiências significativas, é uma barbárie
Pois qual o valor de todo o nosso patrimônio cultural, se a experiência
não mais o vincula a nós? A horrível mixórdia de estilos e concepções
do mundo do século passado mostrou-nos com tanta clareza aonde
esses valores culturais podem nos conduzir, quando a experiência nos
é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia uma prova
de honradez confessar essa pobreza. Sim, é preferível confessar que essa
pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade.
Surge assim uma nova barbárie. (BENJAMIN, 1994a, p. 115)
Para ele, a questão não é apenas uma indústria de bens, ou que consumi-
mos produtos cada vez mais industrializados, mas sobretudo que, nós mes-
mos e nossa subjetividade, somos cada vez mais tratados como processo ou
produtos numa cultura industrial. Nesse contexto, os processos de fragiliza-
ção das capacidades e sensibilidades estéticas é o resultado de uma objetifica-
ção tanto dos observadores quanto daquilo que consomem indiscriminada-
mente. Porém, nem tudo se perdeu.
No seu ensaio sobre a sem formação (ADORNO,1996) adorno resiste em
dar uma clara definição do conceito de experiência. Desse modo, evitando a
fixação de uma “experiência ideal”, utópica ou redentora, ele amplia os limites
de sua significação, incluindo seu caráter metafísico e as contingências sociais
da sua crise interna.
Nesse sentido, especialmente na teoria estética, em consonância com ou-
tros estudos, Adorno elabora o que, no nosso entender, seria uma possibili-
dade de recuperação da experiência pela via da estética. De certo modo, perce-
bemos que, partindo do estético, do artístico e de suas dinâmicas de campo,
seria possível articular um entendimento da potencialidade da experiência
estética, em especial no que diz respeito à leitura.
Para adorno, “Enfaticamente a arte é conhecimento, mas não conheci-
mento de objetos” (ADORNO, 1993, p .295), isso significa dizer que a arte
é um tipo de conhecimento, mas não como um saber orientado para obje-
tos, isto é, ela é um meio para o dar a conhecer, o fazer reconhecer, um mos-
trar. Num certo sentido, adorno parece sugerir que o tipo de epistemologia a
qual a arte pode se prestar não é orientada por uma razão meramente instru-
mental, mas ao contrário, por conta da sua natureza ambígua e dialética a arte
pode sinalizar a possibilidade de uma racionalidade estética (HERMANN,
2015, p. 240).
O seu potencial está em que não se reduz a uma simples dicotomia entre
razão e sensibilidade, mas em vez disso ela tensiona os seus próprios limites in-
ternos e põe em xeque cada uma das tentativas de domínio racional ou espon-
taneísmo sentimental. Por conta disso, ela pode indicar o contexto e colocar
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
46 • Para além do território demarcado
Considerações finais
mos sobre isso nos sugere que existe espaço para elaborarmos mais profun-
damente este estudo e futuramente compartilhar com a comunidade nossas
descobertas.
Referências
Introdução
Diante disso, Adorno (1995, p. 143) aponta que “de um certo modo, eman-
cipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade”. Assim sendo,
o conceito de emancipação está diretamente relacionado a ideia de formação
proposta por Adorno, uma vez que, a mesma tem como possibilidade direci-
onar a humanidade, no sentido da liberdade.
Quando se refere a emancipação, Adorno (1995) aponta que é necessário
considerar dois problemas, o primeiro se refere a organização mundial, e como
esta se tornou a sua própria ideologia, exercendo pressão sobre as pessoas,
e superando de certo modo a educação, e o segundo problema se refere ao
movimento de adaptação. Em relação a adaptação Adorno (1995, p.143-144)
ressalta que:
A educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de
adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo.
Porém ela seria igualmente questionável se ficasse nisto, produzindo
nada além de well adjusteã people, pessoas bem ajustadas, em con-
sequência do que a situação existente se impõe precisamente no que
tem de pior. Nestes termos, desde o início existe no conceito de edu-
cação para a consciência e para a racionalidade uma ambiguidade.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 59 •
(2010, p. 04) vão ressaltar que no contexto social atual “[...] o que interessa
é o acumulo do maior número de informações no menor espaço de tempo
possível por meio do consumo de produtos da indústria cultural que parecem
fornecer de antemão as respostas para todas as nossas dúvidas [...]”.
Assim sendo, a quantidade de informações e de conhecimentos passa a
ser mais importante do que a qualidade e a capacidade dos alunos de sintetiza-
los e relaciona-los a partir do contexto histórico e social, e nesse sentido, uma
vez que a Indústria Cultural se baseia principalmente na reprodução e padro-
nização dos meios culturais e da cultural humana, a educação quando afetada
por ela, perde a sua função crítica e reflexiva, pois, conforme argumenta Pucci
(1994, p. 46) “a educação escolar se esgota na dimensão do reprodutivismo”.
Diante disto, Pucci, Zuin e Lastória (2010, p. 04) entendem que a Indús-
tria Cultural e os produtos por ela desenvolvidos podem promover a [...] “dis-
seminação do pensamento estereotipado e de práticas preconceituosas, bem
como os prejuízos decorrentes no processo educacional/formativo, presente
dentro e fora das instituições escolares”.
Neste sentindo, fica claro quais são as influências da Industria Cultural
no processo educativo e da formação humana, moldando as ações, os pensa-
mentos e as atitudes humanas de acordo com as suas concepções, impossibili-
tando com isso o desenvolvimento do pensamento autônomo e crítico nos
indivíduos.
Considerações finais
Referências
Introdução
Fundamentação teórica
Portanto percebe-se que o acesso cada vez mais cedo por parte das crian-
ças aos diversos meios de comunicação e a internet faz com que as informa-
ções e influências ao consumo sejam propagadas rapidamente. É de suma im-
portância que os pais e os responsáveis estejam atentos aos limites e aos con-
teúdos consumidos por seus filhos.
E que pela primeira vez a maioria das histórias não é contada pelos
pais, nem pela escola, nem pela igreja, nem pela tribo ou comunidade
e, em muitos lugares, nem mesmo pelo país de origem, mas por um
grupo relativamente pequeno de conglomerados empresariais que
possuem algo para vender (Gerbner, 1998, p. 2, apud ALMEIDA JR,
2001, p. 50).
Referências
Introdução
e falar de ética sem falar e tratar de Aristóteles, seja para inspirar-se, seguir ou criticar sua
concepção.” (NODARI, Paulo César, 2010, p. 13)
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 91 •
do homem, tudo aquilo que pode ser apropriado por meio da educação, pois é sabido que
na prática existem diferentes e diversas culturas dependendo dos locais e dos momentos e
épocas em que o indivíduo se encontra.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
92 • Para além do território demarcado
volvimento da humanidade está depositado nos objetos por ela criados, cada
homem tem que se configurar a si mesmo de forma a poder fazer seu este pa-
trimônio humano.” (TONET, 2005, p. 214).
Com o pensamento acima entendemos a educação como “ato de produ-
zir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que
é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SA-
VIANI, 1997a, p. 17). Nesse sentido, é fundamental ressaltar que a educação
produzida intencionalmente nos remete à escola, como agência principal, en-
tidade fundamental para que o processo educativo aconteça. A instituição
escolar tem também o papel político de formação para a cidadania, formação
do cidadão, formando para a vida e busca dos seus direitos. “Quando pen-
samos em educação, automaticamente pensamos na escola.” (SAVIANI, D.,
1994, p. 153).
A instituição escolar, para a sociedade contemporânea, é a forma domi-
nante de educação, e todas as demais formas de educação: educação informal
(instituição familiar e a instituição religiosa) e a educação não-formal (ONGs
e projetos de atendimento comunitário) são entendidas e avaliadas a partir da
escola.
[...] é nesse sentido que é possível compreender a educação a partir da
escola e não ao contrário. As formas não escolares de educação têm
que ser compreendidas a partir da escola, que é a forma desenvolvida
de educação. [...] quando se quer falar em educação que não seja a da
escola, temos que fazer referência sempre pela via negativa: educação
não escolar, educação não formal, informal. O critério para entender
as demais é a forma escolar. (SAVIANI, D., 1994, p. 153).
Considerações finais
Referências
da vida social, onde os sujeitos foram levados cada vez mais à adaptação e à
negação de si mesmos como forma de afirmação, sob pena da não-existência.
A falsa ideia da formação, socialmente difundida, confunde-se com os
bens culturais oferecidos por vias diversas, através da mídia de massa. Mas,
essa pretensa cultura torna-se petrificada e neutralizada, ao ter a finalidade de
integrar os sujeitos em uma cultura de consumo, agindo como um substitu-
tivo necessário ao desenvolvimento e aceitação da sociabilidade do sistema
econômico. Essa objetividade social aponta para o fato de que “[...] tudo o
que estimula a formação acaba por lhe contrair os nervos vitais” (ADORNO,
2010, p. 17).
O engodo da semiformação
Referências
Introdução
ser planejada de forma clara com objetivos bem definidos visando contribuir
para o desenvolvimento global do aluno.
Segundo Tardif (2002), o saber docente não pode ser separado de outras di-
mensões de ensino, mas, pode estar vinculado ao norteamento com o contexto
no qual está inserido. Ciente das peculiaridades que envolvem tanto experiên-
cias significativas ao processo de aprendizagem, como as narrativas contidas
na identidade profissional, cabe ao então professor, a sensibilidade para com
quem aprende e da assimilação consciente de conhecimentos e habilidades.
Para Libâneo (1994), o estudo da didática não pode ser tratado como
restrito ao espaço escolar, razão pela qual a intencionalidade requer o domínio
de métodos e procedimentos. Assim, tanto o que se pretende oportunizar ao
aluno contido na BNCC, precisa estar condizente com a especialização do
professor dentro da BNC.
Desta forma, esse estudo busca enfatizar a importância da formação con-
tinuada ao professor, na contemporaneidade, tendo em vista o cenário mun-
dial atual e o quais as contribuições dessa formação para o desenvolvimento
das competências leitoras indispensáveis para cumprir “o conjunto orgânico e
progressivo das aprendizagens essenciais” (BNCC, 2017).
A metodologia quanto a abordagem é qualitativa; em relação aos objetivos
pesquisa explicativa; em relação aos procedimentos pesquisa documental
que se justifica por meio de leituras de artigos que abordam a formação dos
professores e a BNC que dita as diretrizes a serem seguidas para uma formação
de qualidade e também para a formação continuada em um contexto de
emergência.
Em busca de inovações
dora deve ser deixada para trás. A educação no século XXI precisa romper
com padrões tradicionalistas e se abrir, buscando e se apropriando dessas no-
vas possibilidades educacionais sem deixar de cumprir sua função que é o de
formação de cidadãos críticos, com valores sólidos e conscientes de seu papel
na sociedade.
Conforme MORAN (2000, p. 29): “A aquisição da informação, dos da-
dos, dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer,
hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do profes-
sor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-
los, a contextualizá-los.”
Neste sentido, professores acostumados a um constante aperfeiçoamento,
com formação continuada, se sentem pressionados em função da demanda
atual a buscar conhecimento também na área tecnológica. Mas para que
essa relação entre os professores e as tecnologias digitais aconteça de fato,
precisamos ter clareza de que não cabe somente aos professores acompanhar
esse movimento capacitando-se para o uso das tecnologias na educação. As
escolas são parte fundamental para a exequibilidade deste processo, devem
estar aptas ao uso das tecnologias, portando estruturas tecnológicas eficientes
e recursos digitais capazes de dar suporte ao uso dos professores e alunos.
Segundo MORAN (2000, p.53), "a internet é uma mídia que facilita a
motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de
pesquisa que oferece”.
O cenário educacional deficitário em estruturas tecnológicas pré-
pandemia já denunciava escassez de recursos didáticos básicos, como quadro
adequado, impressora a disposição, entre outros. A alta demanda, dos dias
atuais, só veio reforçar essa lacuna existente na educação. A realidade da sala
de aula nos faz refletir que para além dos muros das escolas temos alunos, com
seus inseparáveis “smartphones” com os quais os professores disputam aten-
ção, e para esse perfil atual de aluno uma sala de aula monótona e de poucos
recursos se torna um ambiente maçante e pouco atrativo.
Segundo Nóvoa, parte-se de um diagnóstico crítico do campo da forma-
ção de professores não para desmantelar, mas para nele buscar as forças de
transformação. Estamos perante um momento crucial da história dos profes-
sores e da escola pública. Precisamos repensar, com coragem e ousadia, as nos-
sas instituições e as nossas práticas. [...] A formação de professores é um pro-
blema político e não apenas técnico. (NÓVOA, 2017, p. 1111) É um momento
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
120 • Para além do território demarcado
Esse parágrafo deixa de forma clara o que se pretende com o aluno. Esse
conjunto de normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o
planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino e são discutidas,
concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) norteiam e
orientam os docentes, mas, sabemos que em um país grande de proporções
continentais como o nosso, nem sempre as leis são garantia na qualidade de
ensino.
As tecnologias estão dispostas a diminuir as lacunas existentes no pro-
cesso de aprendizagem, mas sozinhas não garantem que o ensino seja efetivo,
nesse sentido precisamos de políticas públicas mais eficazes para assegurar a
aprendizagem. Necessitamos sim, de formações continuadas, mas também,
a escola precisa estar equipada com material necessário para que o professor
possa estar atuando o melhor possível e minimizando as desigualdades tecno-
lógicas tão visíveis na esfera educacional.
Então, como assegurar que os alunos que estão em processo de alfabetiza-
ção possam desenvolver a sua capacidade leitora em meio a tudo isso? Visto
que o educando precisa estar em contato com os sistemas formais de ensino e
considerando-se que o aluno tem que estar imerso em um contexto educa-
tivo, como vai estar o ensino pós-pandemia?
Considerações finais
Referências
Introdução
forme aponta Neri (2015) “Grande parte da evidência empírica mostra que
a evasão escolar e pobreza são intimamente ligadas [...]” tendo em vista que
muitos jovens terão que deixar a escola para ajudar a família a se reconstituir
diante da crise econômica que se potencializa durante a crise sanitária.
O ensino on-line tem suas características e, quando se trata de Educação,
exige do professor e do aluno outras competências e habilidades. Diante do
cenário emergencial de pandemia, coube às instituições escolares assumir esse
novo desafio e buscar fazer do ensino remoto um ensino de qualidade.
Segundo Fava (2014), a Educação em ambientes virtuais de aprendizagem
se desdobra de duas formas: com interação síncrona e assíncrona. A educa-
ção síncrona permite interação entre as pessoas em tempo real, o receptor re-
cebe as informações quase que instantaneamente, via videoconferência. Já a
assíncrona dispensa a participação simultânea das pessoas, o receptor poderá
assistir às aulas e realizar as atividades em momento diverso, sem o professor
“em tempo real”.
Percebe-se o cuidado por parte das instituições de ensino em buscar o
equilíbrio dos dois formatos, pois é necessária essa adaptação, visto que a
carga horária não pode ser a mesma da educação presencial, ou seja, mais de
três horas de aula. Desse modo, costuma-se dividir o tempo entre videoconfe-
rências e atividades para serem realizadas de forma assíncrona.
Outro modelo que está sendo adotado é o ensino híbrido (Blendedlear-
ning) termo decorrido do elearning que se refere a “[...] um sistema de ensino
e aprendizagem onde existem conteúdos ofertados a distância e conteúdos ne-
cessariamente ofertados face to face, daí a origem da designação blended, algo
misto, mesclado, composto, combinado” (FAVA, 2014, p. 36). Contudo, esse
modelo só está sendo realizado em instituições privadas. Mas, a realidade ge-
ral da situação da maioria das instituições educativas – as públicas – seguem
com o ensino totalmente remoto.
De forma ampla, as alternativas propostas podem variar de instituições
públicas para privadas. As instituições de Educação Infantil e Anos Inicias
do Ensino Fundamental, em geral, seguem a forma assíncrona, com auxílio
de recursos interativos e videoaula gravada. As plataformas de sala virtual
são pouco utilizadas, visto que a capacidade de concentração diante de um
computador para os alunos dessa idade é dificultosa. Então, as orientações
pedagógicas são repassadas para a família. Assim, as tarefas impressas são
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 135 •
Procedimentos metodológicos
1 “Letramento digital diz respeito às práticas sociais de leitura e produção de textos em ambi-
entes digitais, isto é, ao uso de textos em ambientes propiciados pelo computador ou por
dispositivos móveis, tais como celulares e tablets, em plataformas como e-mails, redes sociais
na web, entre outras [...]. Ser letrado digital implica saber se comunicar em diferentes situa-
ções, com propósitos variados, nesses ambientes, para fins pessoais ou profissionais. Uma
situação seria a troca eletrônica de mensagens, via e-mail, SMS, WhatsApp. A busca de in-
formações na internet também implica saber encontrar textos e compreendê-los, o que pres-
supõe selecionar as informações pertinentes e avaliar sua credibilidade” (COSCARELLI e
RIBEIRO, 2014, p. 10).
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 139 •
Considerações finais
Referências
m diálogo com a proposta deste livro, este artigo tem como objetivo
referem-se com frequência aos modelos internacionais, por isso é preciso re-
fletir sobre o cenário nacional, pois tais estudos assumem diferentes nuances
de acordo com o contexto ao qual estão ligados. Freitas (2002, p. 138) ressalta
a constante luta da formação de professores ao longo da história, marcada
pela busca da valorização da profissão docente.
A formação do professor deve ser analisada dentro do contexto social. A
formação do professor é essencial para habilitar os profissionais em relação ao
exercício da prática docente e embasá-los teoricamente, capacitando-os para
exercer a docência de forma crítica. Por isso é necessária uma boa formação
inicial, pois essa é fundamental para que o professor saia da graduação pre-
parado para exercer a prática docente, e seja capaz de ensinar de maneira que
possa colaborar com o processo de aprendizagem de seus alunos.
Entender os aspectos históricos de construção da prática educativa no
Brasil é compreender as possibilidades de identificar os inúmeros momentos
marcantes que permitem uma análise de modelos e práticas educacionais. A
formação docente pode ser vista de diferentes maneiras, pode ser reconstrutora
da sociedade, pode produzir indivíduos críticos, conscientes e que estimulem
o processo de desenvolvimento socioeconômico, mas também pode apenas
adaptar os profissionais a técnicas, sem a necessária análise crítica.
Antes de nos dedicarmos à discussão sobre a formação docente, é necessá-
rio discorrer um pouco sobre o contexto capitalista e a construção da socie-
dade de consumo, segundo a teoria crítica.
Os padrões que são criados pela indústria cultural originam de falsas ne-
cessidades criadas pela mesma, essas falsas necessidades manipulam os indiví-
duos, e a racionalidade técnica se dá pela própria dominação, e, que por meio
de um caráter compulsivo de consumo criado culturalmente dentro da socie-
dade, o indivíduo se aliena à técnica, Adorno e Horkheimer (1995), destacam
que a técnica da indústria cultural levou os indivíduos a uma padronização e
a produção em série, em que é atribuído ao capital.
O ato de consumir dentro da sociedade virou um “status”, que provoca a
sensação de pertencimento na sociedade, e a cultura passa a ser uma cultura
de desejo criado pela indústria cultural, que torna o indivíduo um ser irraci-
onal, fácil de ser manipulado e controlado. Slater (2002, p.112) ressalta que
“começamos a ver na mercadoria possibilidades estruturais e práticas de trans-
formar inteiramente a aparência do mundo, tanto do mundo externo das coi-
sas quanto do mundo interno das necessidades”, os objetos são dotados de
valores e significados.
Marcuse (1996) destaca que vivemos em um mundo no qual os indivíduos
são reduzidos a mercadoria, a um mero produto da sociedade capitalista, eles
são manipulados. Os sonhos, desejos e necessidades individuais são criados
pela indústria cultural, as pessoas visam satisfazer suas próprias necessidades.
A mercadoria vem como algo que vai responder aos anseios emocionais, e a
satisfação do desejo passa a ser a principal prioridade, tornando os indivíduos
escravos de seus próprios desejos. Han (2015) destaca que vivemos numa
sociedade na qual é criada a ilusão de que tudo é possível, e que nessa sociedade
é preciso que os indivíduos sonhem e acreditem nesse ideal, para que assim
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 153 •
Considerações finais
Compreender que a educação não é uma mercadoria e que não pode ser
consumida como qualquer “objeto” é o primeiro passo para que a formação
de professores aconteça de uma crítica e que contribua para uma reconstrução
social.
A formação de professores, quer seja inicial ou continuada, está atrelada
a cada novo governo, por isso estão sujeitas a constantes mudanças, nem sem-
pre positivas e a uma eterna falta de continuidade. Muitas vezes, a formação
de professores é tomada de forma isolada, e não se considera todas as dimen-
sões do professor como as condições de trabalho, recursos disponíveis, car-
reira e salário. Para que as mudanças sejam efetivadas de fato, é preciso a cons-
trução de um sistema educacional democrático e de uma série de medidas
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 157 •
Referências
Introdução
Considerações finais
Referências
Introdução
A nova forma do convívio social, o qual, até pouco tempo, era natural e
inconscientemente é substituído de forma involuntária pelo convívio sócio
virtual, ficando evidente as régias da lógica da dominação da racionalidade
técnica. Nas palavras de Habermas (1968, p. 46), poderíamos traduzi-la como
o “[...] reverso de uma racionalidade crescente da ação social”, em relação
a contexto do isolamento e do distanciamento os contatos são virtuais e a
conexão entre os seres, e tudo aquilo que os cerca, se dá por meio da internet.
A palavra “adaptar” foi muito utilizada no período pandêmico. Adaptar
todos os setores da sociedade para o “novo normal”. O ano letivo de 2020 mal
se iniciou e precisou ser interrompido. As escolas da educação básica, em sua
maioria adotaram o sistema de aulas remotas, com as atividades presenciais
pausadas devido à pandemia, foi necessário se adequar a essa nova forma de
viver em sociedade.
O desenvolvimento e planejamento de atividades dos professores passou
a ser por meio das plataformas digitais. O CNE (Conselho Nacional de
Educação) publicou em abril de 2020, um parecer favorável às atividades
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
176 • Para além do território demarcado
A partir dos ditames legais em tempos de pandemia fica mais do que evi-
dente que a escola se transformou em instrumento a serviço da indústria cul-
tural, que tratando o ensino como uma mera mercadoria pedagógica em fa-
vor da “semiformação”, isso imputa a perda dos valores para o desenvolvi-
mento da emancipação , reflexão e da consciência crítica dos alunos. O nosso
país precisa que as escolas sejam capazes de promover uma educação crítica e
emancipadora (FREIRE, 1998, GIROUX, 1986) eficaz para que o indivíduo
seja capaz de obter uma consciência crítica , reflexiva e emancipatória a fim de
lutar contra a semiformação e a barbárie imposta pela massificação da cultura
e assim tensionar a sociedade e a educação.
Considerações finais
Referências
Introdução
Industrial, permitindo que a sociedade no seu presente caminhe para compreender as di-
mensões das Redes Sociais e do mundo virtualizado que doravante faz do cotidiano do indi-
víduo ser virtual em todas as suas infinidades. RISSUTO, Andrei. O virtualismo: a quarta
revolução industrial. Paraná: Clube de autores, 2020, p. 138.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
194 • Para além do território demarcado
que “Toda pessoa tem direito à educação”, no Brasil, as políticas públicas vol-
tadas à educação adquiriram maior destaque e se transformaram em leis de
grande amplitude social a partir da década de 1980, com a Promulgação da
Constituição Federal do Brasil em 1988.
Desses debates acadêmicos, se deram passos qualitativos e quantitativos
no sentido de garantir mudanças reais nas propostas de educação escolar
e como bem descrito no Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, que
apresentam nas orientações, planejar, implementar, e orientar às escolas de
modo a garantir a organização dos recursos administrativos e pedagógicos ao
bem encaminhamento da educação para além da técnica, precisamente, para
a emancipação humana.
Dessa forma, além de complementar e/ou formar profissionais capacita-
dos, atualizados e sensibilizados com a escola de hoje, instrumentar literaria-
mente o professor a ser um sujeito ativo da sua complementação e/ou apren-
dizagem para assumir a função de facilitador deste processo perante a educa-
ção, as novas tecnologias, aos fundamentos que as alicerçam, políticas e práti-
cas tornam o desafio desta discussão. Assim, na seguinte seção se desmembra-
rão de forma sucinta os conceitos e práticas que compõem o universo deste
novo sujeito, no caso, escolarizado na era tecnológica.
letramento para os médiuns que representam na atualidade, boa parte das instâncias sociais
mobilizadoras de informações como: a rádio, a internet, mídia digital, mídia impressa,
apresentada pelo letramento multissemiótico, ou seja, a linguagem imagética como a sonora,
verbal, visual (ROJO, 2007).
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
198 • Para além do território demarcado
Pelo exposto até o momento, percebe-se que a escola não está sozinha na
tarefa da educabilidade, ela compartilha a grande tarefa de socialização do sa-
ber junto a várias instâncias comunicativas, empresariais e com a mídia. Ainda,
para a educação escolar e o crescimento econômico, Delors (1998, p. 69) pro-
põe que a ciência e a educação sejam “os motores de progresso econômico”, o
que significa que uma nação tende a prosperar mais economicamente con-
forme se dá mais intenção à educação e ao nível de desenvolvimento da popu-
lação, concebendo o conhecimento como capital.
As novas tecnologias em si não são boas ou ruins pelo que dependem do
uso contextualizado dado ao processo de ensino, ou seja, inseridas no coti-
diano escolar, pelo que poderão servir, tanto para reforçar uma visão autori-
tária, individualista, como uma visão progressista, para reforçar o controle
docente, sobre o sistema de ensino e consequentemente sobre os discentes.
Por outro lado, uma postura diferenciada, pautada por uma atitude intera-
tiva, foco desta pesquisa, pela qual, analisar o uso das novas tecnologias como
possibilidades diversificadas e focadas na ampliação da interação docente-
discente. O profissional da educação precisa compreender as possibilidades
educacionais que se descortinam com as TICs e evitar usar recursos digitais
sem um domínio compreensivo da metodologia específica para as mídias ou
de outros recursos em detrimento da metodologia tradicional.
Isso não quer significar que as mídias interativas sejam eficientes nos
processos educativos, sabendo-se que, por um lado, existe certo receio, todavia,
não declarado que a tecnologia venha a substituir o professor e no contraponto
e/ou extremidade, ocorre o que Delors (2005, p. 218) chama de pressão por
um novo perfil: “As novas responsabilidades que caberão aos professores do
século XXI supõe um perfil profissional quase que inteiramente novo”.
Há que considerar que se tem que fazer novas adequações no currículo
dos cursos de Pedagogia ou de formação de professores, adicionando novas
disciplinas ou minicursos do ensino tecnológico que, de acordo com Sacristán
(2010), o currículo tem que apresentar novas visões sob o que é a realidade
educativa, cumprindo as necessidades que a sociedade precisa, sendo, neste
caso, o uso da tecnologia.
Portanto, é preciso que o professor tenha conhecimentos das ferramentas
que oferece na internet como um meio de ensino e aprendizagem, em que é
preciso analisar a importância de formar e educar o professor para saber-fazer
o ensino de maneira crítica sob a técnica, visto que a tecnologia na sala de aula
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
200 • Para além do território demarcado
deve ser apenas uma ferramenta didática para o ensino, sendo, portanto, o
meio e não o fim.
Nesse contexto, interessa esclarecer e principalmente conduzir a inter-
pretação, que o novo profissional ou aquele que atravesse um processo de
complementação pedagógica se aproprie de novas possibilidades didático-
pedagógicas e comunicativas oferecidas pelas novas tecnologias de informa-
ção e comunicação.
No caso da educação escolarizada, o professor é o ator responsável por
organizar esse processo ao longo da cadeia educacional, nesse sentido e da visão
descrita, como formar o professor e/ou capacitá-lo para essa nova realidade
que se coloca, em que os tradicionais saberes professorais são desafiados devido
à mutabilidade social e tecnológica? Para responder a tal indagação, propõem-
se apreciações do fluxo comunicacional e interacional entre o docente e o
discente.
No seguinte apartado, e para iniciar essa reflexão em torno à apropriação
realmente pedagógica nas novas tecnologias no contexto do ensino, seja em
sala de aula ou veiculadas por um ambiente virtual de aprendizagem (AVA),
construir ou alimentar um modelo que permita abordar os processos tecno-
lógicos como componentes da ação de formar professores.
Isto é, que as tecnologias são, antes de tudo, dispositivos de comunicação
e informação que se propõem diminuir e gerir as distâncias verificadas entre
os sujeitos envolvidos na ação educativa (ALAVA, 2002). A emergência de
manipulação, veiculação e contextualização dos saberes pelas novas tecnolo-
gias faz que o professor, por vezes, se sinta forçado a utilizá-las para não ser
tachado de retrógrado por seus alunos e mesmo pelos seus pares.
Há que ter em conta e ser conscientes que, muitas vezes, os professores de
idade avançada podem tardar umas horas em aprender estes conhecimentos
tecnológicos, mas ninguém pode ter a experiência, sabedoria e conhecimentos
do ser professor, é preciso ter um pouco de paciência e incentivar que sejam
parte deste novo processo de ensino.
A preparação do professor para exercer novos papéis e, consequentemente,
estarem aptos a desenvolverem novas práticas de ensino tem sido foco de estu-
dos de pesquisadores das ciências da educação. Trata-se de uma concepção de
educação que envolve não apenas uma preparação para a prática pedagógica
com os usos das TICs, do AVA, das mídias, mas principalmente da ‘virtuali-
dade como processo de interatividade’.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 201 •
uma mistura entre o ensino presencial e propostas de ensino online integrando a Educação
à tecnologia.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
202 • Para além do território demarcado
informação que vêm se constituindo com “poder” e sendo “aceitos sem resis-
tência” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 114).
Entretanto, neste contexto capitalista e avançado tecnicamente, a educa-
ção se encontra travada pelo desenvolvimento da adaptação e coisificação. É o
fenômeno que Adorno (2003) denomina de semiformação (Halbbildung). A
rede informatizada que permite a veiculação de informações rápidas pelas no-
vas tecnologias se apresenta como uma nova modalidade de potencialização
de conhecimentos que abre perspectivas em termos de pesquisas nos proces-
sos de ensino e aprendizagem e das interações entre docentes e discentes.
Porém, exige um envolvimento de todos os atores de forma dinâmica e tem
em vista o acesso precoce das novas gerações a essa tecnologia marcada pelos
computadores, celulares, tablets, computadores portáteis, etc., necessitando
de metodologias e estratégias conscientemente planejadas a fim de contribuir
em favor da formação para a humanização e não a mera adaptação dos sujeitos.
A dinamicidade de como ocorrem os avanços tecnológicos, manifestam o
acesso precoce das novas gerações a essa tecnologia marcada pelos computa-
dores, celulares, tablets, notebook etc., necessitando de metodologias e estra-
tégias conscientemente planejadas a fim de contribuir em favor da formação
para a humanização e não a mera adaptação dos sujeitos.
Por conseguinte, a necessidade de qualificação dos trabalhadores, em
quase todos os setores de produção, impulsionou à informatização nas escolas
com o objetivo de adequar as instituições de ensino ao modelo econômico
vigente. Lembrar que no Brasil, a partir de 1990, houve um processo de
informatização e de acesso à internet crescente e, nesse contexto, as discussões
sobre as tecnologias de informação e de comunicação TICs na educação
ganharam relevância e se tornaram objetos de múltiplas publicações, de tesses,
dissertações, livros, artigos de cunho educacional em periódicos e revistas
disponíveis na internet, bibliotecas e livrarias.
No tocante ao conceito de tecnologias, é preciso entender que a tecno-
logia não é só a máquina, como habitualmente se refere aos equipamentos e
aparelhos eletrônicos. As tecnologias, na perspectiva de Kenski (2007, p. 22-
23), “engloba a totalidade de coisas que a engenhosidade de cérebro humano
conseguiu criar em todas as épocas, suas formas de uso e de suas aplicações”.
Em consonância com a autora, demandam-se profissionais especializados nas
linguagens das mídias para lidar com a implementação de novas tecnologias
no cenário educativo nas práticas de ensino.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 203 •
Considerações finais
Referências
Introdução
entre outros fatores (ALMEIDA; ALVES, 2020; DOSEA et al., 2020; AR-
RUDA, 2020; RIBEIRO JUNIOR et al., 2020).
Especificamente sobre as interações em ambientes virtuais, a expansão
do progresso tecnológico, a maior acessibilidade aos aparelhos digitais e ao
mundo virtual, tornam a internet um meio comunicativo atrativo e de “in-
consciente” fuga, o qual pode contribuir para o distanciamento entre as pes-
soas e o esfriamento das relações humanas, como reflete Bauman (2007).
Sendo assim, ao se relacionar a ideia de distanciamento entre pessoas, es-
friamento das relações humanas, novo contexto de interação virtual educaci-
onal, pode-se indagar: Embora muitos docentes e estudantes utilizem e inte-
rajam por meio das TDIC em seu dia a dia, a sua inclusão intensificada pelo
contexto educacional atual virtual pode promover quais reflexões sobre a rela-
ção entre aprendizagem/educação, interação e as TDIC?
situações para que a informação obtida seja posta em uso, ou seja, tenha
significado e seja apropriada pelo estudante para que assim o aprendizado
ocorra (VALENTE, 2014).
Sobre as decorrências trazidas com as mudanças tecnológicas e o papel
do professor, Bacich e Moran (2018) também apresentam reflexões. Para
os autores, sai o professor transmissor de informações e entra o professor
mediador, sendo aquele que faz a moderação entre o que está sendo ensinado
e as suas aplicabilidades, ele está entre o sujeito e o objeto de conhecimento,
com o intuito de construir uma nova sociedade crítica.
De certo, desta metamorfose da contemporaneidade é notório que:
À utilização dos recursos tecnológicos de modo integrado, em que
o professor faz uso dos artefatos e produz conteúdo/material através
dos mesmos de forma crítica, reflexiva e criativa. Sendo assim, quanto
mais contato com os recursos, mais familiaridade o usuário adquire
e com isso as possibilidades de uso se ampliam. Sendo assim, faz-
se necessário constante atualização para acompanhar as mudanças
provocadas pelos avanços tecnológicos que modificam a sociedade em
que vivemos. (MODELSKI; GIRAFFA; CASARTELLI, 2019, p. 6).
estudante indicada pela UNESCO1 por meio dos quatro pilares da educação
(aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a
ser), quando relacionada ao uso de TDIC com competência digital, pode
promover um perfil de estudante voltado aos princípios éticos que envolvem
senso crítico e responsabilidade em seu aprendizado.
Mas como fazer uso das TDIC para a aprendizagem do estudante e ao
mesmo tempo promover essa formação integral? Uma das propostas que se
tem identificado nas pesquisas reside na promoção de espaços colaborativos
de aprendizagem. Neste contexto virtual, o docente cria e organiza situações
em que o aluno possa refletir, interagir com o outro e com o conhecimento
de modo ético, crítico e social. Ou seja, o que o docente faria num contexto
de situação presencial deve ser transportado para o virtual, a fim de que não
se perca a função social da educação em ambientes virtuais de aprendizagem.
Uma pesquisa que chama a atenção para espaços que não contribuem
na promoção de interações entre estudantes foi a realizada por Vieira (2021)
que, ao investigar o uso de TDIC no processo de ensino e aprendizagem na
Educação a Distância (EaD), constatou algumas dificuldades relacionadas por
parte dos estudantes, entre as quais a ausência da possibilidade de interação
entre colegas, professores e funcionários, mostrando como a questão das
interações sociais e acadêmicas é valorizada pelos estudantes.
Outros aspectos relacionados à importância das interações no processo
de construção do conhecimento mediados por tecnologias foram indicados
na pesquisa de Fernandes, Bianchini e Alliprandini (2020). As autoras pes-
quisaram 1.434 estudantes do curso de Pedagogia EaD e entre as constatações
relacionadas à aprendizagem deste grupo destaca-se um perfil moderado no
fator procura por ajuda e o fato de que a maioria dos estudantes soluciona
suas dúvidas com o tutor, destacando a importância deste para sua formação.
Em outro estudo das mesmas autoras, a figura do tutor mostra-se fundamen-
tal no processo de ensino e aprendizagem de estudantes na EaD, seja contri-
buindo nas questões relacionadas ao conteúdo, à organização do curso ou ao
uso da tecnologia, seja criando oportunidades para que o aluno possa forta-
lecer suas habilidades sociais e ampliar sua interação, com os professores ou
colegas de curso, favorecendo assim sua aprendizagem (FERNANDES; BI-
ANCHINI; ALLIPRANDINI, 2019).
O estudo de Govan (2015) abordou o ensino entre pares (peer teaching),
que consiste em trocas de aprendizagem entre estudantes com formação si-
milar, visando desenvolver a compreensão sobre conceitos de determinada
área e a capacidade de explicar sua compreensão sobre o tema, em um con-
texto social, inclusivo e interativo. Esse método colocou os estudantes em um
papel mais ativo no seu processo de aprendizagem, na medida em que o ambi-
ente colaborativo e mais descontraído permitiu-lhes compartilhar experiên-
cias e dificuldades, desenvolver habilidades comunicativas, avaliar a própria
aprendizagem e identificar as deficiências, bem como proporcionou a opor-
tunidade de inspirar os colegas.
Também sobre o ensino entre pares, Curtis et al. (2016) realizaram um
estudo para avaliar uma experiência de aprendizado em um ambiente de si-
mulação realística conduzida por colegas de um curso de enfermagem. Esse
ambiente contava com modelos, com estruturas anatômicas realistas e capaci-
dade de simular diversos parâmetros fisiológicos de um paciente, manipula-
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
Para além do território demarcado 215 •
Considerações finais
Referências
Introdução
Ensino na pandemia
Vale destacar que o texto ainda não exprime como forma de trabalho
docente a modalidade remota. Pelo contrário, constata-se a noção do ensino
indissociável do ambiente físico escolar, principalmente quando presente
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
228 • Para além do território demarcado
da carga horária anual e dias letivos aos quais o estudante tem direto, conforme
legislação, nas escolas da Rede Estadual de Ensino será ofertada Atividades
Pedagógicas Complementar – APC, durante o período de suspensão das aulas
presenciais prevista no Decreto 15.391, de 16 de maio de 2020.
No artigo 4º, traz as incumbências dos docentes:
I – Planejar e elaborar a APC em consonância com os documentos
curriculares emanados da secretaria do Estado de Educação, que de-
verá ser apreciada pela coordenação pedagógica;
II – Criar canal de comunicação a fim de sanar possíveis dúvidas dos
estudantes, família ou responsáveis no que diz respeito a APC, de
forma a orientar e garantir a qualidade do serviço prestado;
III – Arquivar a APC para fins de comprovação do cumprimento do
currículo, da avaliação, do rendimento da carga horária anual e dos
dias letivos aos quais os estudantes têm direito, e posterior repassar a
coordenação pedagógica. (SED/MS, 2020, p.2 - grifos nossos)
Considerações finais
Referências
Palavras iniciais
o que gerou a ideia de um valor social menor para o primeiro e maior para o
professor especialista, responsável pelos demais anos.
A dessemelhança se dá, segundo Gatti (2010, p.1358), “nos cursos, nas
carreiras e salários, nas representações da comunidade social, da academia e
dos políticos, mesmo com a atual exigência de formação em nível superior
dos professores dos primeiros anos da Educação Básica”. A autora atribui
esse fato à dificuldade de inovação na estrutura das instituições e dos cursos
de formação de professores, uma vez que a representação, historicamente
constituída, não permite ponderações e reestruturações para essa formação.
Desse modo, faz-se urgente uma “verdadeira revolução nas estruturas ins-
titucionais formativas e nos currículos da formação”, segundo Gatti (2010,
p.1375), pois não é mais aceitável consentir com uma formação dúbia, fragmen-
tada e insuficiente para os responsáveis pela educação de outros indivíduos.
A formação de professores profissionais para a educação básica tem
que partir de seu campo de prática e agregar a este os conhecimentos
necessários selecionados como valorosos, em seus fundamentos e com
as mediações didáticas necessárias, sobretudo por se tratar de formação
para o trabalho educacional com crianças e adolescentes (GATTI,
2010, p.1375).
interesses impostos pelo governo militar, que tinha, como foco, a formação
de trabalhadores, sendo este o objetivo central da educação no período.
Ribas (2000) explica que, nesse mesmo período, as pesquisas demonstra-
vam que a formação continuada ofertada aos docentes da rede pública não
surtia o efeito desejado, em consequência da não existência de uma política
contínua e permanente por parte do governo e, além disso, por não ir ao en-
contro das demandas e necessidades das escolas e dos professores.
Por esse motivo, a formação em serviço começou a ser enfatizada forte-
mente já no final da década de 1980 e início de 1990. Estudos (KRAMER,
1989; MEDIANO, 1992, 1998; SILVA & FRADE, 1997) apontam que os “pa-
cotes prontos”, os “treinamentos” e “encontros” que eram ofertados aos pro-
fessores não se demonstraram suficientes para a melhoria da qualidade do
trabalho do professor e, por conseguinte, da prática pedagógica. As pesqui-
sas desses mesmos autores pressupunham que os docentes participassem, de
forma ativa, de uma construção coletiva, a partir de suas reais necessidades,
ou seja, a formação continuada deveria ser realizada no local de trabalho do
professor, com base em uma reflexão contínua sobre sua própria prática.
É possível inferir, a partir do exposto, que as inúmeras mudanças sociais e
econômicas demonstram ser os fatores que colaboraram para que a forma-
ção continuada de professores passasse por uma mudança de paradigmas no
decorrer do processo histórico das últimas décadas do século XX, o que se
perpetua ainda na atualidade. Desse modo, as exigências de mudanças, tanto
na formação quanto na prática docente, vieram à tona a partir das necessida-
des que a sociedade foi demarcando em dado espaço-tempo histórico.
Gatti (2008, p. 64) explica que a publicação da LDBEN (BRASIL, 1996)
deu um impulso nas ações políticas que tratam da formação continuada de
professores, já que “veio provocar especialmente os poderes públicos quanto a
essa formação”, sobretudo por tratar de sua importância em vários de seus arti-
gos. O parágrafo 1º do artigo 62, a partir da inclusão dada pela Lei nº 12.056 de
2009, estabelece que, em regime de colaboração, a União, o Distrito Federal, os
Estados e os municípios “deverão promover a formação inicial, a continuada e
a capacitação dos profissionais do magistério” (BRASIL, 1996). Em continui-
dade, no parágrafo 2º, cita, brevemente, que a formação continuada e a capaci-
tação poderão ocorrer por intermédio das tecnologias de educação à distância.
Além disso, em parágrafo único do mesmo artigo, incluído pela Lei nº
12.796, de 2013, a LDBEN determina que a formação continuada deve ser
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
250 • Para além do território demarcado
Para Ferreira (2008), espera-se que as ações fomentadas façam com que os
docentes aprimorem seus referenciais e, por conseguinte, suas práticas, a partir
de uma formação qualificada, com base em uma concepção crítica de trabalho
e profissionalidade, a fim de alcançarem melhores resultados. Para o autor,
a reflexão crítica está diretamente ligada a uma concepção de formação, em
um ambiente que proporcione o comprometimento com o desenvolvimento
de questões da profissão (sejam elas didáticas ou de conteúdos específicos
dos saberes humanos e científicos historicamente acumulados), mas que, de
igual modo, articule questões sociais e políticas às práticas de atuação com os
alunos e com a comunidade onde a escola se encontra inserida.
Nesse sentido, é necessário que programas e ações, em nível macro ou mi-
cro, valorizem o saber teórico que a literatura traz para dar base a essas ações, de
modo a garantir programas articulados no que se refere à formação continuada
e aos seus objetivos. Essa teoria deve servir, ainda, para que as práticas pedagó-
gicas dos diversos saberes a serem trabalhos sejam implementadas, tornando
eficaz a apropriação do conhecimento por parte dos alunos. Ao mesmo tempo
em que a literatura deve servir como norteamento à implementação de moda-
lidades eficazes de formação, a partir dos estudos e resultados trazidos à tona
por pesquisas educacionais, deve-se também levar em conta outros aspectos
relacionados à didática e às estratégias de aprimoramento dos conteúdos, de
modo a favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento integral dos educandos.
Palavras finais
Referências
Introdução
Contextualização da entrevista
Essa Política Nacional tem uma série de tarefas que precisam ser exe-
cutadas agora em coordenação com estados e municípios, por isso,
é importante espaços de pactuação, de negociação para entender as
questões que acontecem na ponta, até porque foi lema da campanha –
Menos Brasília, mais Brasil – porque certamente as necessidades do
Acre são diferentes das do Rio Grande do Sul. Por isso, fazer uma co-
ordenação é fundamental, é uma coordenação técnica, olhando para
cada aspecto para poder avançar.
• Ao dizer: “... importante para nós e para aqueles que querem resulta-
dos”, quem seria esse nós e quem seriam os que querem os resultados
na educação?
Para nós, o propósito é ter resultados, fazer uma gestão séria voltada
para resultados, para evidências, tendo muita disciplina na implemen-
tação, fazendo um bom desenho da política pública, conversando com
Estados, Municípios, Governadores, Prefeitos, Secretários, porque
assim que se faz uma gestão séria, voltada para resultados. E não é isso
que temos visto. Eu seria a primeira a querer ver uma gestão de exce-
lência no MEC. Se o meu propósito é resultados, preciso torcer para
que quem senta naquela cadeira seja uma pessoa voltada para.
Priscila Cruz profere um discurso tecido numa malha de fios que a ló-
gica e a proposição da coordenação (governamentalidade) de uma educação
empenham-se para atingir resultados e metas, assim como uma empresa, que
se submete à lógica do capitalismo e do neoliberalismo. A política de formação
dos sujeitos, do povo brasileiro, que passa pela educação, é a de preparar uma
pessoa que trabalha com alguns conhecimentos (saberes) elencados e caracteri-
zados pelo Estado como sendo os essenciais. Aspectos relacionados à formação
de um sujeito autônomo aparecem na legislação e nas prescrições voltadas para
a organização do currículo, porém, apresentá-los e analisá-los não faz parte da
proposta deste trabalho. Nossa proposta centrou-se no problema da desnatu-
ralização dos discursos que envolvem a busca de soluções para um problema
pontual que é o da crise na educação acentuada pela Pandemia do Covid-19.
O que importa, então, é que esses discursos produzem resultados, de
modo que cada um pense que é livre para fazer suas escolhas. Ora,
isso coincide exatamente com a exacerbação do individualismo que,
como mostrou Elias (1994), vem sendo construído na nossa história há
centenas de anos. Nesse sentido, a lógica neoliberal guarda uma relação
imanente com o extremo fechamento do Homo clausus descrito pelo
sociólogo, funcionando como uma condição de possibilidade para
que se dê a passagem do ’governo da sociedade’ – no liberalismo –
para o ’governo dos sujeitos’ – no neoliberalismo. (NETO, 1999)
O cidadão ao seu lado não é aquele que busca algo em comum, mas
aquele que é tratado como um rival. Por isso, se espera combater para que a
subsistência seja garantida em um país tão desigual. Conforme coloca Neto
(1999), a competitividade se torna o principal componente, ao passo que o
Estado se torna uma empresa. As ferramentas de disputa podem ser vistas
por toda a parte, ou seja, na educação, na falta de investimento na cultura,
no congelamento do teto de repasse de verbas para áreas essenciais à vida da
população. O sujeito perfeito para viver nessa sociedade é aquele que é capaz,
que desenvolve habilidades e tem competências para agir livremente, assim,
como o mercado, um sujeito mercadoria.
Considerações finais
Referências
Introdução
1 Grasielle Castro, editora da Revista HuffPost Brasil- Documento Disponível em: <https:
//bit.ly/3yvRahN>. Acesso em 15/09/2019.
educação e formação no contexto da sociedade danificada:
274 • Para além do território demarcado
leráveis. Ou, pelo menos, é isso que se considera. Hoje há menos liber-
dade de movimento de mão de obra do que no mundo anterior a 1914,
quando não havia restrições à migração tanto para os Estados Uni-
dos como para a América do Sul. Nenhum país até onde sei, possui
hoje uma política migratória desse tipo: nem os Estados Unidos, nem
muito menos a União Europeia, que, em termos globais, funciona
como mecanismo para impedir a imigração. O conflito se dá porque
as leis do desenvolvimento capitalista são simples: maximizar a expan-
são, os lucros e o aumento de capital. No entanto, as prioridades são
diferentes por sua própria natureza e, em certa medida conflitantes.
À guisa de conclusão
Referências
Organizadores
Autores