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Complementação Pedagógica

Coordenação Pedagógica – IBRA

DISCIPLINA

INTRODUÇÃO GERAL À
SOCIOLOGIA
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03

1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA ................................................................... 05

2 AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

- A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A REVOLUÇÃO FRANCESA ..................... 07

3 A SITUAÇÃO INTELECTUAL - A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA ............... 23

4 O PENSAMENTO DE: COMTE, DURKHEIM, MARX E ENGELS, WEBER . 28

5 AS LINHAS MESTRAS DA SOCIOLOGIA .................................................... 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ............. 41

ANEXOS .......................................................................................................... 45
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INTRODUÇÃO

Nos esforçamos para oferecer um material condizente procurando


referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao
curso.

As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras,
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e
provado pelos pesquisadores.

Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos


colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada
está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e
melhorar nosso trabalho.

Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês


são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que:
aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é
demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação
dos nossos/ seus alunos.

Deste modo, a apostila abordará os assuntos introdutórios tais como a


origem da Sociologia e sua definição como ciência. Serão trazidos também ao texto
uma faceta do pensamento dos intelectuais que a ajudaram a se formar e as duas
grandes teorias que servem para desenvolver os trabalhos na Sociologia no estudo
das sociedades.

Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos


serem os mais importantes para a disciplina.

Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de


redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico.
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Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar
dúvidas e aprofundar os conhecimentos.
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1. INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

O comportamento humano é muito diversificado. Cada indivíduo recebe


influências de seu meio, forma-se de determinada maneira e age no meio social de
acordo com sua formação. O indivíduo aprende com o meio, mas também pode
transformá-lo em sua ação social.

Há comportamentos – como andar, respirar, dormir – estritamente


individuais, que se originam na pessoa enquanto organismo biológico. São
comportamentos estudados pelas Ciências Físicas e Biológicas. Por outro lado,
receber salário, fazer greve, participar de eventos, casar-se, educar os filhos são
comportamentos sociais, pois se desenvolvem no contexto da sociedade.

Ao longo da História a espécie humana organizou sua vida em grupo. As


Ciências Sociais (a Sociologia é um dos seus ramos) pesquisam e estudam o
comportamento social humano e suas várias formas de organização. E como ciência
voltada para o social tem um amplo corpo de conhecimento. O conhecimento teórico
e técnico das Ciências Sociais é de tal forma amplo que pode ser aplicado tanto
para entender um fato social como para elaborar e implantar desde pequenos
projetos até estudos de governo. (...) Pode-se dizer que as Ciências Sociais são o
estudo sistemático do comportamento social do ser humano. Ocupando-se
sistematicamente do comportamento social humano, o objeto das Ciências Sociais
é, portanto, o ser humano em suas relações sociais. (OLIVEIRA, 2000, p. 9)

De acordo com Camargo (s/d, s/p) o termo Sociologia foi criado por Auguste
Comte em 1838 (séc. XVIII), que pretendia unificar todos os estudos relativos ao
homem — como a História, a Psicologia e a Economia. A Sociologia surgiu como
disciplina no século XVIII, como resposta acadêmica para um desafio que estava
surgindo: o início da sociedade moderna. Com a Revolução Industrial e
posteriormente com a Revolução Francesa (1789), iniciou-se uma nova era no
mundo, com as quedas das monarquias e a constituição dos Estados nacionais no
Ocidente. A Sociologia surge então para compreender as novas formas das
sociedades, suas estruturas e organizações. (...) e tem a função de, ao mesmo
tempo, observar os fenômenos que se repetem nas relações sociais – e assim
formular explicações gerais ou teóricas sobre o fato social –, como também se
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preocupa com aqueles eventos únicos, como por exemplo, o surgimento do


capitalismo ou do Estado Moderno, explicando seus significados e importância que
esses eventos têm na vida dos cidadãos.

Ainda conforme Camargo (s/d, s/p) como toda forma de conhecimento


intitulada ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de
pesquisa. O conhecimento sociológico, por meio dos seus conceitos, teorias e
métodos, constituem um instrumento de compreensão da realidade social e de suas
múltiplas redes ou relações sociais.

Os sociólogos estudam e pesquisam as estruturas da sociedade, como


grupos étnicos (indígenas, aborígenes, ribeirinhos etc.), classes sociais (de
trabalhadores, esportistas, empresários, políticos etc.), gênero (homem, mulher,
criança), violência (crimes violentos ou não, trânsito, corrupção etc.), além de
instituições como família, Estado, escola, religião etc.

Além de suas aplicações no planejamento social, na condução de


programas de intervenção social e no planejamento de programas sociais e
governamentais, o conhecimento sociológico é também um meio possível de
aperfeiçoamento do conhecimento social, na medida em que auxilia os interessados
a compreenderem mais claramente o comportamento dos grupos sociais, assim
como a sociedade com um todo. Sendo uma disciplina humanística, a Sociologia é
uma forma significativa de consciência social e de formação de espírito crítico.

A Sociologia nasce da própria sociedade, e por isso mesmo essa disciplina


pode refletir interesses de alguma categoria social ou ser usado como função
ideológica, contrariando o ideal de objetividade e neutralidade da ciência. Nesse
sentido, se expõe o paradoxo das Ciências Sociais, que ao contrário das ciências da
natureza (como a biologia, física, química etc.), as ciências da sociedade estão
dentro do seu próprio objeto de estudo, pois todo conhecimento é um produto social.
Se isso a priori é uma desvantagem para a Sociologia, num segundo momento
percebemos que a Sociologia é a única ciência que pode ter a si mesma com objeto
de indagação crítica. (CAMARGO, s/d, s/p)
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2. AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA – A


REVOLUCÃO INDUSTRIAL E A REVOLUÇÃO FRANCESA

Conforme Martins (1994, p. 5) podemos entender a sociologia como uma


das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico,
que vinha se constituindo desde Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma
nova área do conhecimento ainda não incorporada ao saber científico, ou seja, o
mundo social. Surge posteriormente à constituição das ciências naturais e de
diversas ciências sociais. A sua formação constitui um acontecimento complexo para
o qual concorrem uma constelação de circunstâncias, históricas e intelectuais, e
determinadas intenções práticas. O seu surgimento ocorre num contexto histórico
específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da
sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. A sua criação não é
obra de um único filósofo ou cientista, mas representa o resultado da elaboração de
um conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas
situações de existência que estavam em curso.

O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento


ocidental e para o surgimento da sociologia. As transformações econômicas,
políticas e culturais que se aceleram a partir dessa época colocarão problemas
inéditos para os homens que experimentavam as mudanças que ocorriam no
ocidente europeu. A dupla revolução que este século testemunha - a industrial e a
francesa - constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja, a instalação
definitiva da sociedade capitalista. A palavra sociologia apareceria somente um
século depois, por volta de 1830, mas são os acontecimentos desencadeados pela
dupla revolução que a precipitam e a tornam possível. (MARTINS, 1994, p. 5)

- A Revolução Industrial: A Revolução Industrial designa um processo de


profundas transformações econômico-sociais que se iniciou principalmente na
Inglaterra. Em meados do século XVIII. Caracteriza-se pela passagem da
manufatura à indústria mecânica. A introdução de máquinas fabris multiplica o
rendimento do trabalho e aumenta a produção global. A Inglaterra adianta sua
industrialização em 50 anos em relação ao continente europeu e sai na frente na
expansão colonial. Entre as principais características da sociedade industrial,
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podemos citar: a organização das mais diversas atividades humanas pelo capital; a
predominância da indústria na atividade econômica e o crescimento da urbanização.
Vários historiadores têm dividido o processo de criação das sociedades industriais
em duas fases, a primeira com duração de 1760 a 1860 e a segunda iniciada por
volta de 1860. Com essa revolução surgiram também novas formas de energia,
como a eletricidade e os combustíveis derivados do petróleo. A velha Europa agrária
foi se tornando uma região com cidades populosas e industrializadas. Com tempo, a
Revolução Industrial influenciou profundamente a vida de milhões de pessoas em
todas as regiões do planeta. (MONOGRAFIAS/BRASILESCOLA, s/d, s/p)

A primeira etapa da industrialização foi gerada pela Revolução Comercial,


realizada entre os séculos XV e XVIII, principalmente em alguns países da Europa
centro-ocidental. Para esses países, a expansão do comércio internacional trouxe
um extraordinário aumento da riqueza, permitindo a acumulação de capitais capazes
de financiar o progresso técnico e alto custo da instalação de indústrias.

A burguesia europeia, fortalecida com o desenvolvimento dos seus


negócios, passou a se interessar pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção e
a investir no trabalho de inventores na criação de máquinas e experiências
industriais. Além disso, a Revolução Comercial resultou num aumento incessante de
mercados, isto é, do lugar geográfico das trocas. A ampliação das trocas, que a
partir do século XVI os europeus passaram a realizar em escala planetária, levou a
radical alteração nas formas de produzir de alguns países da Europa ocidental.

Com a expansão do comércio, o trabalho artesanal, realizado com


ferramentas, típico das corporações de ofício, foi sendo substituído por um trabalho
mais dividido, que exigiu a utilização de máquinas numa escala crescente. A
produtividade foi incomparavelmente maior. Na França, por exemplo, os sapatos
eram produzidos de forma artesanal: um mesmo artesão cortava, costurava, ou seja,
realizava sozinho diversas tarefas que resultavam na fabricação de um sapato.
Depois da extinção das corporações e do crescimento do mercado, cada operário no
interior das fábricas nascentes foi especializado numa determinada tarefa.

Muito cedo se verificou que maior produtividade e maiores lucros para os


empresários poderiam ser obtidos acrescentando-se ao trabalho dividido o emprego
de máquinas em larga escala. A sociedade industrial caracterizou-se
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fundamentalmente pela utilização sistemática de maquinário na produção e no


transporte de mercadorias. Para compreender a importância das máquinas, basta
lembrar que elas, ao contrário das ferramentas, realizam trabalho utilizando
basicamente forças da natureza, como o vento, a água, o fogo, o vapor, e um
mínimo de força humana. A exigência de produzir mais, com o aumento das trocas,
praticamente ―forçou‖ o progresso técnico, que passou a constituir um dos traços
mais significativos do moderno e contemporâneo.
(MONOGRAFIAS/BRASILESCOLA, s/d, s/p)

De acordo com Martins (1994, p. 6) um dos fatos de maior importância


relacionados com a revolução industrial é sem dúvida o aparecimento do
proletariado e o papel histórico que ele desempenharia na sociedade capitalista. Os
efeitos catastróficos que esta revolução acarretava para a classe trabalhadora
levaram-na a negar suas condições de vida. As manifestações de revolta dos
trabalhadores atravessaram diversas fases, como a destruição das máquinas, atos
de sabotagem e explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para a
criação de associações livres, formação de sindicatos, etc. A consequência desta
crescente organização foi a de que os "pobres" deixaram de se confrontar com os
"ricos"; mas uma classe específica, a classe operária, com consciência de seus
interesses, começava a organizar-se para enfrentar os proprietários dos
instrumentos de trabalho. Nesta trajetória, iam produzindo seus jornais, sua própria
literatura, procedendo a uma crítica da sociedade capitalista e inclinando-se para o
socialismo como alternativa de mudança.

Ainda de acordo com Martins (1994, p. 7-8) merece ser salientado que a
profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de
análise, ou seja, esta passava a se constituir em "problema", em "objeto" que
deveria ser investigado. Os pensadores ingleses que testemunhavam estas
transformações e com elas se preocupam não eram, no entanto, homens de ciência
ou sociólogos que viviam desta profissão. Eram antes de tudo homens voltados para
a ação, que desejavam introduzir determinadas modificações na sociedade.
Participavam ativamente dos debates ideológicos em que se envolviam as correntes
liberais, conservadoras e socialistas. Eles não desejavam produzir um mero
conhecimento sobre as novas condições de vida geradas pela revolução industrial,
mas procuravam extrair dele orientações para a ação, tanto para manter, como para
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reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Tal fato significa que
os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos, entre
indivíduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas de
suas sociedades.

Pensadores como Owen (1771-1858), William Thompson (1775-1833),


Jeremy Bentham (1748-1832), só para citar alguns daquele momento histórico,
podiam discordar entre si ao julgarem as novas condições de vida provocadas pela
revolução industrial e as modificações que deveriam ser realizadas na nascente
sociedade industrial, mas todos eles concordavam que ela produzira fenômenos
inteiramente novos que mereciam ser analisados. O que eles refletiram e
escreveram foi de fundamental importância para a formação e constituição de um
saber sobre a sociedade. A sociologia constitui em certa medida uma resposta
intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial. (MARTINS, 1994,
p. 7-8)

De acordo com Laranjeiras, Oliveira (s/d, s/p) o primeiro país a realizar a


Revolução Industrial foi a Inglaterra, a partir de meados do século XVIII, seguida, no
século XIX, por outras nações europeias: Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, Suíça, Suécia, Áustria, e Rússia.

Fora do continente europeu, apenas Estados Unidos e Japão realizaram sua


Revolução Industrial ao mesmo tempo em que os países da Europa. Na grande
maioria dos países subdesenvolvidos o processo de industrialização chegou cerca
de duzentos anos atrasado em relação à Inglaterra. É ocaso do Brasil, Argentina,
México, África do Sul, Índia...

A Revolução Industrial dos Países da Europa ocidental apoiou-se em vários


fatores, que resumidamente são:

Acumulação de capitais em decorrência da intensa exploração da atividade


comercial no mundo e particularmente nas colônias americanas, nas feitorias
e nas colônias asiáticas e africanas;

Existência de abundantes reservas de carvão mineral, minério de ferro e


outras matérias primas industriais em muitos países europeus;
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Grande desenvolvimento das técnicas de produção mediante a aplicação de


dinheiro em pesquisas cientificas;

Disponibilidade de mão de obra e intensa exploração da força de trabalho do


operário ou trabalhador mediante o pagamento de baixos salários;

Expansão de empresas multinacionais ou transnacionais nos países


subdesenvolvidos.

Surgiram então, no séc. XIX, as estradas de ferro, que facilitaram muito o


transporte dos produtos manufaturados, tomando-os mais baratos. A invenção dos
altos-fornos desenvolveu muito as indústrias de ferro e aço. A população das
cidades aumentou demais: um número cada vez maior de pessoas deixava o campo
para trabalhar nas fábricas. O povo sofreu bastante com os vários problemas ligados
a salários e condições de trabalho, tendo a Grã-Bretanha que importar cada vez
mais gêneros alimentícios para suprir sua população sempre crescente.
(LARANJEIRAS, OLIVEIRA, s/d, s/p)

Ainda de acordo com Laranjeiras, Oliveira (s/d, s/p) antes da invenção da


máquina a vapor, as fábricas situavam-se em zonas rurais próximas às margens dos
rios, dos quais aproveitavam a energia hidráulica. Ao lado delas, surgiam oficinas,
casas, hospedarias, capela, açude, etc. A mão de obra podia ser recrutada nas
casas de correção e nos asilos. Para fixarem-se, os operários obtinham longos
contratos de trabalho e moradia.

Com o vapor, as fábricas passaram a localizar-se nos arredores das


cidades, onde contratavam trabalhadores. Elas surgiam "tenebrosas e satânicas",
em grandes edifícios lembrando quartéis, com chaminés, apitos e grande número de
operários. O ambiente interno era inadequado e insalubre. Até o século XVIII,
cidade grande na Inglaterra era uma localidade com cerca de 5 000 habitantes. Em
decorrência da industrialização, a população urbana cresceu e as cidades
modificaram-se. Os operários, com seus parcos salários, amontoavam-se em
quartos e porões desconfortáveis, em subúrbios sem condições sanitárias. (...) Em
muitas regiões da Europa, os trabalhadores se organizaram para lutar por melhores
condições de trabalho. Os empregados das fábricas formaram as trade unions
(espécie de sindicatos) com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos
empregados. Houve também movimentos mais violentos como, por exemplo, o
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ludismo. Também conhecidos como "quebradores de máquinas", os ludistas


invadiam fábricas e destruíam os equipamentos das fábricas numa forma de
protesto e revolta com relação à vida dos empregados. O cartismo foi mais brando
na forma de atuação, pois optou pela via política, conquistando diversos direitos
políticos para os trabalhadores.

A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos


passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o
consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. As
máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão de obra humana. A poluição
ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento
desordenado das cidades também foram consequências nocivas para a sociedade.
Até os dias de hoje, o desemprego é um dos grandes problemas nos países em
desenvolvimento. Gerar empregos tem se tornado um dos maiores desafios de
governos no mundo todo. Os empregos repetitivos e pouco qualificados foram
substituídos por máquinas e robôs. As empresas procuram profissionais bem
qualificados para ocuparem empregos que exigem cada vez mais criatividade e
múltiplas capacidades. Mesmo nos países desenvolvidos têm faltado empregos para
a população. (LARANJEIRAS, OLIVEIRA, s/d, s/p)

- A Revolução Francesa: Para Costa Neto (s/d, s/p) a Revolução Francesa é


considerada o mais importante acontecimento da história contemporânea. Inspirada
pelas ideias iluministas, a sublevação de lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade"
ecoou em todo mundo, pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os valores
burgueses. Foi à revolução burguesa, tendo vista a sua condição de destruidora da
velha ordem em nome das ideias e valores burgueses e por conta da ideologia
burguesa predominante durante praticamente todo processo revolucionário.

A sociedade francesa anteriormente à revolução era uma sociedade


moldada no Antigo Regime. Ou seja, politicamente o Estado era Absolutista
(Absolutismo Monárquico), economicamente predominavam as práticas
mercantilistas que sofriam com as constantes intervenções do Estado e na área
social predominavam as relações de servidão uma vez que a maioria da população
francesa era camponesa. Em torno de 250 milhões de pessoas viviam em condições
miseráveis nos campos franceses, pagando altíssimos impostos a uma elite
aristocrática que usufruía do luxo e da riqueza gerados pelo trabalho dos
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campesinos em propriedades latifundiárias, ou feudos, dos nobres. Nas áreas


urbanas a situação não era muito diferente de quem vivia nas áreas rurais. A
população urbana, composta em sua maioria por assalariados de baixa renda,
desempregados (excluídos) e pequenos burgueses (profissionais liberais), também
arcava com pesadíssimos impostos e com um custo de vida cada vez mais elevado.
Os preços em geral dos produtos sofriam reajustes constantemente e isso pesava
na renda dos trabalhadores em geral – urbanos e rurais. Já as elites, compostas por
um alto clero, uma alta nobreza e, claro, a Família Real – a realeza francesa: Luis
XVI e sua esposa Maria Antonieta, filhos e demais parentes – vivam em palácios
luxuosos – como o monumental Palácio de Versalhes, localizado nos arredores de
Paris e que era a residência de veraneio da Família Real e da elite – não pagavam
impostos, promoviam banquetes – às custas do dinheiro público – em suma: viviam
nababescamente (do requinte, da opulência, do luxo, das mordomias,...) face a
situação de miséria e pobreza da maioria da população. (COSTA NETO, s/d, s/p)

Ainda conforme Costa Neto (s/d, s/p) no final do século XVIII a situação
socioeconômica da França era de total calamidade. Numa perspectiva de tentar
resolver as situações problemas, o Monarca Luis XVI convocou seu Ministro das
finanças Necker, que estava afastado do cargo, para decidir quanto à situação de
crise econômica e financeira. Por sugestão de Necker, Luis XVI convocou, no dia 5
de maio de 1789, a Assembleia dos chamados Estados Gerais que reunia os
representantes políticos do 1º. , 2º. e 3º. Estados os quais não se reuniam desde o
século XVII. O 1º. Estado era formado pelo alto clero, o 2º. Estado pela alta nobreza
e o 3º. Estado, pelos deputados que representavam a maioria da população
(assalariados, camponeses e pequena burguesia) – era o grupo maior, pois continha
um número maior de representantes.

Na ocasião da convocação e da reunião dos Estados Gerais, depois de abrir


a sessão, Luis XVI deu por aberta às discussões e votações para os problemas que
atingiam a sociedade francesa. A questão, porém, centrava-se no sistema de
votação dentro da Assembleia. Sobre a questão dos que pagam e dos que não
pagam impostos, por exemplo, o sistema de votação favoreceu ao 1º. e ao 2º.
Estados. Como? Como a votação era por Estado e não por indivíduo (individual),
cada Estado tinha direito a um só voto. No caso dos impostos, votou-se contra ou a
favor do 1º. e do 2º. Estados arcarem com o pagamento de impostos. Resultado:
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pelo sistema de votação vigente, os dois Estados permaneceram isentos da


obrigação do pagamento de impostos, já que totalizou dois votos contra um. Esse
modelo de votação gerou revolta por parte dos deputados do 3º. Estado que
reagiram prontamente, exigindo a qualquer custo que as reuniões fossem conjuntas
e não separadamente por Estados. Diante da negação, o 3º. Estado proclama-se em
Assembleia Geral Nacional. O Rei, desesperado diante do atrevimento dos
representantes populares, manda fechar a sala de reuniões. Mas o 3º. Estado não
se deu por vencido e seus deputados se dirigiram para um salão que a nobreza
utilizava para jogos. Lá mesmo fizeram uma reunião, onde ficou estabelecido que
permaneceriam reunidos até que a França tivesse uma Constituição. Esse ato ficou
conhecido com o nome de ―O Juramento do Jogo de Pela‖. Os deputados que
fundaram a Assembleia Nacional nela juraram igualdade jurídica e direitos políticos
para todos os homens comuns. (COSTA NETO, s/d, s/p)

No dia 9 de julho de 1789, reúne-se uma Assembleia Nacional Constituinte,


incumbida de elaborar uma Constituição para a França. Isso significava que o Rei
deixaria de ser o senhor absoluto do reino. A burguesia francesa, por sua vez,
apelou para o povo. No dia 14 de julho de 1789, toda a população parisiense
avança, num movimento nunca visto, para a Bastilha, a prisão política da época,
onde o responsável pela prisão, o carcereiro, foi espancado pela multidão vindo a
falecer. (...) os camponeses, que percebendo a fraqueza da nobreza, invadem os
castelos, executando famílias inteiras de nobres numa espécie de vingança, de uma
raiva acumulada durante séculos. Avançam sobre a propriedade feudal e exigem
reformas – sobretudo a Reforma Agrária. A burguesia, na Assembleia, temerosa de
que as exigências chegassem também às suas propriedades, propõe que sejam
extintos os direitos feudais como única saída para conter o furor revolucionário dos
camponeses. A 4 de agosto de 1789, extingue-se aquilo que por muitos séculos
significou a opressão sobre os camponeses: as obrigações feudais. Porém, os
impostos continuaram altos, o custo de vida pouco se alterou e a França continuava
em guerras externas significando despesas altas para o Estado, agora burguês. A
burguesia, preocupada em estabelecer as bases teóricas de sua revolução, fez
aprovar, no dia 26 de agosto do mesmo ano (1789), um documento que se tornou
mundialmente famoso: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nesse
documento a burguesia francesa declarava, entre outras, quem era cidadão e não
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cidadão esperando que houvesse uma aceitação por parte das classes populares
que ainda encontravam-se insatisfeitas com as realizações políticas e sociais
daqueles que se diziam seus representantes políticos. Na realidade a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão foi uma forma de legitimar a burguesia
no poder político do Estado sendo ela a classe dominante, de elite. Portanto, para a
burguesia a revolução estava por encerrada uma vez que seus interesses já haviam
sido conquistados por ela. Era necessário impedir a radicalização do movimento
revolucionário; ou seja, era necessário impedir que a revolução se tornasse popular,
o que não interessava à burguesia. (COSTA NETO, s/d, s/p)

Na primeira fase da Revolução a Assembleia Nacional Constituinte – 1789-


1792 fundou uma Monarquia Parlamentarista, ou Constitucional. Um dos atos mais
importantes da Assembleia foi o confisco dos bens do clero francês, que seriam
usados como uma espécie de lastro para os bônus emitidos para superar a crise
financeira. Parte do clero reage e começa a se organizar e como resposta a
Assembleia decreta a Constituição Civil do Clero; isto é, o clero passa a ser
funcionário do Estado, e qualquer gesto de rebeldia levaria a prisão. A situação
estava muito confusa. A Assembleia não conseguia manter a disciplina e controlar o
caos econômico. O Rei entra em contato com os emigrados no exterior
(principalmente na Prússia e na Áustria) e começam a conspirar para invadir a
França, derrubar o governo revolucionário e restaurar o absolutismo. Para organizar
a contrarrevolução, o monarca foge da França para a Prússia, mas no caminho e
reconhecido por camponeses, é preso e enviado à Paris. Na capital, os setores mais
moderados da Assembleia conseguiram que o Rei permanecesse em seu posto. A
partir daí uma grande agitação tem início, pois seria votada e aprovada
a Constituição de 1791. Esta constituição estabelecia, na França, a Monarquia
Parlamentar, ou seja, o Rei ficaria limitado pela atuação do poder legislativo
(Parlamento). Neste poder legislativo era escolhido através do voto censitário e isso
equivalia dizer que o poder continuava nas mãos de uma minoria, de uma parte
privilegiada da burguesia. Resumindo, o que temos é uma Monarquia Parlamentar
dominada pela alta burguesia e pela aristocracia liberal, liderada, por exemplo, pelo
famoso La Fayette. É o total afastamento do povo francês que continuava sem poder
de decisão. No recinto da Assembleia, sentava-se à esquerda o partido liderado
por Robespierre, que se aproximava do povo: eram os Jacobinos ou
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Montanheses (assim chamados por se sentarem nas partes mais altas da


Assembleia); ao lado, um pequeno grupo ligado aos Jacobinos,
chamados Cordeliers, onde apareceram nomes como Marat, Danton, Hebert e
outros; no centro, sentavam-se os constitucionalistas, defensores da alta burguesia
e a nobreza liberal, grupo que mais tarde ficará conhecido pelo nome de planície; à
direita, ficava um grupo que também, mais tarde ficará conhecido como Girondinos
defensores dos interesses da burguesia francesa e que temiam a radicalização da
revolução; na extrema direita, encontram-se alguns remanescentes da aristocracia
que ainda não emigrara conhecidos por aristocratas, que pretendiam a restauração
do poder absoluto. Esta fase terminou com a radicalização do movimento
revolucionário depois que Robespierre e seus seguidores agiram incitando à
população a pegarem em armas e lutarem contra a Assembleia e as forças
conservadoras. (COSTA NETO, s/d, s/p)

A segunda fase da Revolução foi considerada a mais radical do movimento


revolucionário porque foi a etapa em que os Jacobinos, liderados por Robespierre,
assumiram o comando da revolução. Portanto, foi a etapa mais popular do
movimento já que os Jacobinos eram representantes políticos das classes
populares. Para alguns historiadores, esta etapa não predominou a ideologia
burguesa, já que a burguesia não conduzia a revolução neste período. Porém, antes
da queda da Monarquia Parlamentar, a burguesia chegou a proclamar uma
República – a República Girondina em setembro de 1792. A república foi
proclamada como um mecanismo de assegurar a burguesia seus interesses,
projetos, no poder político do Estado. Como as tensões estavam exaltadas, a alta
burguesia francesa decidiu tirar todo o poder político do rei Luis XVI e transferi-lo
para si (a burguesia). Desta forma caía a Monarquia na França. Em 1792, a
Assembleia Legislativa aprovou uma declaração de guerra contra a Áustria. É
interessante salientar que a burguesia e a aristocracia queriam a guerra por motivos
diferentes. Enquanto para a burguesia a guerra seria breve e vitoriosa, para o rei e a
aristocracia seria a esperança de retorno ao velho regime. Palavras de Luís XVI:
Em lugar de uma guerra civil, esta será uma guerra política e da rainha Maria
Antonieta: Os imbecis [referia-se a burguesia]! Não veem que nos servem. Portanto,
o rei e a aristocracia não vacilaram em trair a França revolucionária. Luís XVI e
Maria Antonieta foram presos, acusados de traição ao país por colaborarem com os
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invasores. Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O povo,
chamado a defender a revolução, saiu às ruas e massacrou muitos partidários do
Antigo Regime. Sob o comando de Danton, Robespierre e Marat, foram distribuídas
armas ao povo e foi organizada a Comuna Insurrecional de Paris. As palavras de
Danton ressoaram de forma marcante nos corações dos revolucionários. Disse
ele: Para vencer os inimigos, necessitamos de audácia, cada vez mais audácia, e
então a França estará salva. Em 21 de Janeiro do ano seguinte, 1793, Luis XVI foi
condenado e guilhotinado na praça da revolução – atual Praça da Concórdia situada
na avenida Champs-Élysées, em Paris – uma vez que os Jacobinos já haviam
assumido a liderança do movimento revolucionário. A rainha Maria Antonieta, foi
decapitada no mesmo ano só que em setembro. A República Girondina caiu e os
Jacobinos assumiram a direção política do Estado proclamando uma nova
República: a República Jacobina e com ela uma nova Constituição: a Constituição
de 1793. Na Constituição Jacobina continham princípios que satisfazia a população
porque garantia-lhe direitos e poder de decisão. Vejamos os mais importantes
pontos da nova Constituição:

Voto Universal ou Sufrágio Universal - Todos os cidadãos homens maiores


de idade, votam.

Lei do Máximo ou Lei do Preço Máximo – estabeleceu um teto máximo para


preços e salários.

Venda de bens públicos e dos emigrados para recompor as finanças públicas.

Reforma Agrária – confisco de terras da nobreza emigrada e da Igreja


Católica, que foram divididas em lotes menores e vendida a preços baixos
para os camponeses pobres que puderam pagar num prazo de até 10 anos.

Extinção da Escravidão Negra nas Colônias Francesas – que acabou por


motivar a Revolução Haitiana em 1794 e que durou até 1804 quando no Haiti
aboliu-se a escravidão.

Organização dos seguintes comitês: o Comitê de Salvação Pública, formado


por nove (mais tarde doze) membros e encarregado do poder executivo, e
o Comitê de Segurança Pública, encarregado de descobrir os suspeitos de
traição.
18

Criação do Tribunal Revolucionário, que julgava os opositores da Revolução e


geralmente os condenavam à Guilhotina.

Ressalta-se que para que os Jacobinos pudessem alcançar o poder político


do Estado e assumi-lo, teve que contar com um apoio fundamental: os sans-culottes.
Os sans-culottes eram indivíduos populares – normalmente desempregados e
assalariados, a plebe urbana – que eram identificados pelo frígio, ou barrete,
vermelho que usavam sobre suas cabeças. (COSTA NETO, s/d, s/p)

Os sans-culottes acabaram por se transformar em uma força motora da


revolução. Isto é, como era formado por uma massa de indivíduos, graças as ações
violentas dos mesmos que os Jacobinos, ligados a eles, chegaram ao poder.
Definitivamente os sans-culottes tiveram um papel fundamental no processo
revolucionário francês já que correspondiam as aspirações populares.

Porém, mesmo com o apoio dos sans-culottes e estando na direção política


do Estado realizando determinadas reformas políticas e sociais significativas, os
Jacobinos não duraram muito no poder devido ao que implantaram durante sua
República – a Era do Terror. Robespierre, líder supremo dos Jacobinos, decidiu
implantar a Era do Terror. Mas o que significou isso? Significou que era necessário
agir de modo ditatorial para alcançar um governo democrático e assegurar as
conquistas instituídas pelas reformas que se realizavam. Para tais fins teve que
Robespierre impor o poder do Estado sobre a população e condenar todos os que
eram considerados suspeitos de traição à Guilhotina. Foi o período em que a
Guilhotina foi mais usada. Até mesmo líderes Jacobinos próximos a Robespierre,
como Danton, por exemplo, foram guilhotinados. O excesso de terror fez com que os
Girondinos articulassem um Golpe de Estado – o golpe 9 do Termidor – e
derrubassem com a República Jacobina, guilhotinando inclusive Robespierre.
Iniciava-se a terceira fase revolucionária. (COSTA NETO, s/d, s/p)

Na terceira fase da Revolução acontece a Reação Termidoriana, o golpe de


Estado armado pela alta burguesia financeira, que marcou o fim da participação
popular no movimento revolucionário, em compensação os estabelecimentos
comerciais cresciam, porque as ações burguesas anteriores haviam eliminado os
empecilhos feudais. O novo governo, denominado Diretório (1795-1799), autoritário
e fundamentado numa aliança com o exército (então restabelecido após vitórias
19

realizadas em guerras externas), foi o responsável por elaborar a nova Constituição,


que manteria a burguesia livre de duas grandes ameaças: a República Democrática
Jacobina e o Antigo Regime. O Poder Executivo foi concedido ao Diretório, e uma
comissão formada por cinco diretores eleitos por cinco anos. Apesar disso, em 1796
a burguesia enfrentou a reação dos Jacobinos e radicais igualitaristas. Graco Babeuf
liderou a chamada Conspiração dos Iguais, um movimento socialista que propunha a
"comunidade dos bens e do trabalho", cuja atenção era voltada a alcançar a
igualdade efetiva entre os homens, que segundo Graco, a única maneira de ser
alcançada era através da abolição da propriedade privada. A revolta foi esmagada
pelo Diretório, que decretou pena de morte a todos os participantes da conspiração,
e o enforcamento Babeuf. (COSTA NETO, s/d, s/p)

O governo não era respeitado pelas outras camadas sociais. Os burgueses


mais lúcidos e influentes perceberam que com o Diretório não teriam condição de
resistir aos inimigos externos e internos e manter o poder. Eles acreditavam na
necessidade de uma ditadura militar, uma espada salvadora, para manter a ordem, a
paz, o poder e os lucros. A figura que sobressai no fim do período é a de Napoleão
Bonaparte. Ele era o general francês mais popular e famoso da época. Quando
estourou a revolução, era apenas um simples tenente e, como os oficiais oriundos
da nobreza abandonaram o exército revolucionário ou dele foram demitidos, fez uma
carreira rápida. Aos 24 anos já era general de brigada. Após um breve período de
entusiasmo pelos Jacobinos, chegando até mesmo a ser amigo dos familiares de
Robespierre, afastou-se deles quando estavam sendo depostos. Lutou na
Revolução contra os países absolutistas que invadiram a França e foi responsável
pelo sufocamento do golpe de 1795. Enviado ao Egito para tentar interferir nos
negócios do império inglês, o exército de Napoleão foi cercado pela marinha
britânica nesse país, então sobre tutela inglesa. Napoleão abandonou seus soldados
e, com alguns generais fiéis, retornou à França, onde, com apoio de dois diretores e
de toda a grande burguesia, suprimiu o Diretório e instaurou o Consulado, dando
início ao período napoleônico com o golpe de Estado conhecido por 18 de Brumário.
Com o golpe Napoleão foi adquirindo poderes políticos até que em 6 de maio de
1804 foi consagrado Imperador com o título de Napoleão Bonaparte-I governando
até 1814, quando caiu do poder e foi exilado. Durante seu governo Napoleão não só
estendeu com as fronteiras francesas por meio de guerras, como realizou diversas
20

reformas políticas e sociais, sempre em nome dos interesses burgueses, instituindo


o código civil, reformando o sistema educacional e adotando o estilo artístico
neoclássico como modelo arquitetônico que servia de veículo de propaganda para
as dimensões de seu poder político e para a alta burguesia em seu estilo de vida.
(COSTA NETO, s/d, s/p)

De acordo com Martins (1994, p. 13) O objetivo da revolução de 1789 não


era apenas mudar a estrutura do Estado, mas abolir radicalmente a antiga forma de
sociedade, com suas instituições tradicionais, seus costumes e hábitos arraigados, e
ao mesmo tempo promover profundas inovações na economia, na política, na vida
cultural, etc. É dentro desse contexto que se situam a abolição dos grêmios e das
corporações e a promulgação de uma legislação que limitava os poderes patriarcais
na família, coibindo os abusos da autoridade do pai, forçando-o a uma divisão
igualitária da propriedade. A revolução desferiu também seus golpes contra a Igreja,
confiscando suas propriedades, suprimindo os votos monásticos e transferindo para
o Estado as funções da educação, tradicionalmente controladas pela Igreja. Investiu
contra e destruiu os antigos privilégios de classe, amparou e incentivou o
empresário.

O impacto da revolução foi tão profundo que, passados quase setenta anos
do seu triunfo, Alexis de Tocqueville, um importante pensador francês, referia-se a
ela da seguinte maneira: "A Revolução segue seu curso: à medida que vai
aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as
instituições políticas ela suprime as instituições civis e muda, em seguida, as leis, os
usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a estrutura do governo, mexe
nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus; quando esta
mesma Revolução expande-se rapidamente por toda a parte com procedimentos
desconhecidos, novas táticas, máximas mortíferas, poder espantoso que derruba as
barreiras dos impérios, quebra coroas, esmaga povos e - coisa estranha - chega ao
mesmo tempo a ganhá-los para a sua causa; à medida que todas estas coisas
explodem, o ponto de vista muda. O que à primeira vista parecia aos príncipes da
Europa e aos estadistas um acidente comum na vida dos povos, tornou-se um fato
novo, tão contrário a tudo que aconteceu antes no mundo e no entanto tão geral, tão
monstruoso, tão incompreensível que, ao percebê-lo, o espírito fica como que
perdido". (MARTINS, 1994, p. 13)
21

Ainda de acordo com Martins (1994, p. 13-14) a França, no início do século


XIX, ia se tornando visivelmente uma sociedade industrial, com uma introdução
progressiva da maquinaria, principalmente no setor têxtil. Mas o desenvolvimento
acarretado por essa industrialização causava aos operários franceses miséria e
desemprego. Essa situação logo encontraria resposta por parte da classe
trabalhadora. Em 1816 - 1817 e em 1825 - 1827, os operários destroem as
máquinas em manifestações de revolta. Com a industrialização da sociedade
francesa, conduzida pelo empresário capitalista, repetem-se determinadas situações
sociais vividas pela Inglaterra no início de, sua revolução industrial. Eram visíveis, a
essa época, a utilização intensiva do trabalho barato de mulheres e crianças, uma
desordenada migração do campo para a cidade, gerando problemas de habitação,
de higiene, aumento do alcoolismo e da prostituição, alta taxa de mortalidade infantil
etc. A partir da terceira década do século XIX, intensificam-se na sociedade francesa
as crises econômicas e as lutas de classes. A contestação da ordem capitalista,
levada a cabo pela classe trabalhadora, passa a ser reprimida com violência, como
em 1848, quando a burguesia utiliza os aparatos do Estado, por ela dominado, para
sufocar as pressões populares. Cada vez mais ficava claro para a burguesia e seus
representantes intelectuais que a filosofia iluminista, que passava a ser designada
por eles como "metafísica", "atividade crítica inconsequente", não seria capaz de
interromper aquilo que denominavam estado de "desorganização", de "anarquia
política" e criar uma ordem social estável. (MARTINS, 1994, p. 15-16)

Determinados pensadores da época estavam imbuídos da crença de que


para introduzir uma "higiene" na sociedade, para "reorganizá-la", seria necessário
fundar uma nova ciência. Durkheim, ao discutir a formação da sociologia na França
do século XIX, refere-se a Saint-Simon da seguinte forma: "O desmoronamento do
antigo sistema social, ao instigar a reflexão à busca de um remédio para os males
de que a sociedade padecia, incitava-o por isso mesmo a aplicar-se às coisas
coletivas. Partindo da ideia de que a perturbação que atingia as sociedades
europeias resultava do seu estado de desorganização intelectual, ele entregou-se à
tarefa de pôr termo a isto. Para refazer uma consciência nas sociedades, são estas
que importa, antes de tudo, conhecer. Ora, esta ciência das sociedades, a mais
importante de todas, não existia; era necessário, portanto, num interesse prático,
fundá-la sem demora". Como se percebe pela afirmação de Durkheim, esta ciência
22

surge com interesses práticos e não "como que por encanto", como certa vez
afirmara. (MARTINS, 1994, p. 15-16)
23

3. A SITUAÇÃO INTELECTUAL – A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA

De acordo com Jobim (2007, p. 2) a Sociologia é uma ciência que estuda as


sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações,
grupos e instituições. Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a
Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se
encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos.

Pondo-se de lado alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel


(Itália em Florença, 1469 - 1527) e Montesquieu (França em Bordéus, 1689 - 1755),
o estudo científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados
do século XIX. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências
naturais.

Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho


metodológico apontado por Galileu (Itália em Pisa, 1564 - 1642) e outros, alguns
pensadores que procuravam conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a
abordá-los segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário,
afirmando a peculiaridade do fato humano e a consequente necessidade de uma
metodologia própria. Essa metodologia deveria levar em consideração o fato de que
o conhecimento dos fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo ao
próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a
própria experiência humana (interna).

De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna,


poder-se-ia distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de
ciências. As ciências exatas partiriam da observação sensível e seriam
experimentais, procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que
conduzissem à formulação de leis de caráter matemático. As ciências humanas, ao
contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam introspectivas,
utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não generalidades de
caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da
vida do espírito. (JOBIM, 2007, p. 2)

Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental


entre as ciências exatas e as ciências humanas) tinham suas origens, sobretudo na
24

tradição empirista inglesa que remonta a Francis Bacon (Inglaterra em Londres,


1561 – 1626) e encontrou expressão em David Hume (Escócia em Edimburgo, 1711
– 1776), nos utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de
abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte (França, 1798 – 1857)
e Émile Durkheim (França, 1858 – 1917), este considerado por muitos como o
fundador da sociologia como disciplina científica. Os antipositivistas, adeptos da
distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram, sobretudo, os alemães,
vinculados ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente
Hegel (Alemanha em Esturgarda, 1770 – 1831) e Schleiermacher (Polônia em
Breslau, 1768 – 1834). Os principais representantes dessa orientação foram os
neokantianos Wilhelm Dilthey (Alemanha em Briebrich, Renânia, 1833 – 1911),
Wilhelm Windelband (Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e Heinrich Rickert (
Alemanha em Danzig, 1863 – 1936).

Dilthey estabeleceu uma distinção que fez fortuna: entre explicação


(erklären) e compreensão (verstehen). O modo explicativo seria característico das
ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A
compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não
estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos
permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu
sentido. Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria
experiência do investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos por outros
em interação com ele conforme a vivência de cada um. Dilthey (como Windelband e
Rickert), contudo, foi, sobretudo, filósofo e historiador e não, propriamente, cientista
social, no sentido que a expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método
da compreensão ao estudo de fatos humanos particulares, constituindo diversas
disciplinas compreensivas. Na sociologia, a tarefa ficaria reservada a Max Weber.

Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a


Antiguidade, para entender a sociedade e o seu desenvolvimento, a Sociologia
poderia ser considerada a mais velha de todas as ciências, e a mais acolhedora.
Tanto que hoje em dia praticamente todo mundo é ―sociólogo‖ — ―porque todos
estamos sempre analisando os nossos comportamentos e as nossas experiências
interpessoais‖, pois, até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos
a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da sociedade, as forças que
25

conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as origens da família,


as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas políticos, a função
das ideologias e das religiões, etc. Segundo esse raciocínio, podem ter sido
sociólogos os veneráveis santos Agostinho (Tagasta, Numídia ao norte da África,
354 – 430 ) e Tomás de Aquino (Campânia no sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre
Antônio Vieira (Portugal em Lisboa, 1608 - 1697), que interpretavam a realidade
social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja Católica, bem como os
notáveis lbn Khaldun, historiador islâmico (Tunísia, 1332 – 1406) e Maquiavel, que
criticavam toda interpretação teológica da sociedade. (JOBIM, 2007, p. 2)

O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar
todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a
Economia. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve
grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha
atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse
compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de
ordem social.

O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do


capitalismo, desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo
da indústria capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente
industrialização e urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições
de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas
situações sociais radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram
com que a sociedade passasse a se constituir em "problema". Diante disso,
pensadores ingleses da época procuraram extrair dessas novas situações temas
para a análise e a reflexão, no objetivo de agir, tanto para manter como para
reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Isto foi fundamental
para a formação e a constituição de um saber sobre a sociedade. Outra
circunstância que também influenciou e contribui para a formação da sociologia se
deve às transformações ocorridas nas formas de pensamento, originadas pelo
Iluminismo. As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou
desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a
cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a
26

explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão.
(JOBIM, 2007, p. 3-4)

Para Jobim (2007, p. 3-4) o emprego sistemático da razão representou um


avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação
e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da
natureza e da cultura. Essas novas maneiras de produzir e viver propiciaram um
visível progresso das formas de pensar e contribuíram para afastar interpretações
baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo consequentemente um
espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais. Esta
crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e
homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum
dessa época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças
sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade humana,
passíveis de serem conhecidos e transformados.

A revolução francesa contribuiu para o surgimento da sociologia na medida


em que o objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e,
ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover
profundas inovações na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir
seus golpes contra a Igreja. Tais atitudes ocasionaram profundos impactos,
causando espanto aos pensadores da época e à própria burguesia, já instalada no
poder. Diante disso, esses pensadores se incumbem à tarefa de racionalizar a nova
ordem e encontrar soluções para o estado de "desorganização" então existente.
Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário, segundo eles, conhecer as leis
que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da sociedade. Assim, pensadores
positivistas da época concluíram que, para restabelecer a organização e o
aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova ciência. Essa
nova ciência assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social,
ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia
social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. A
oficialização da sociologia foi, portanto, em larga medida, uma criação do positivismo
que procurará realizar a legitimação intelectual do novo regime. Foram as ideias
desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história humana,
que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do
27

nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje


temos como conhecimento em todas as áreas da vida. (JOBIM, 2007, p. 3-4)

Conforme Quintaneiro, et al (2002, p. 22-23) em suma, foi a partir da obra


realizada sobretudo por Marx, Durkheim e Weber que a Sociologia moderna se
configurou como um campo de conhecimento com métodos e objeto próprios.
Valores e instituições que antes eram considerados de um ponto de vista supra-
histórico passam a ser entendidos como frutos da interação humana. Assim, a
Sociologia revelava a dimensão temporal de fenômenos e dispunha-se, mesmo, a
interferir no seu curso aparentemente autônomo. Com o tempo, nenhum tema seria
considerado menos nobre ou escaparia à ânsia de entendimento: o Estado, as
religiões, os povos ―não civilizados‖, a família e a sexualidade, o mercado, a moral, a
divisão do trabalho, os modos de agir, as estruturas das sociedades e seus modos
de transformação, a justiça, a bruxaria, a violência... O olhar sociológico continuará à
espreita de novos objetos. A razão passa a ser vista como a luz que, promovendo a
liberdade do indivíduo, orienta sábios e ignorantes em direção à verdade.

Ao tratar de compreender a especificidade do que poderia ser chamado de


―social‖ e dada a própria natureza de seu objeto, a Sociologia sofre continuamente
as influências de seu contexto. Ideias, valores, ideologias, conflitos e paixões
presentes nas sociedades permeiam a produção sociológica. Antigos temas -
liberdade, igualdade, direitos individuais, alienação - não desaparecem, mas
assumem hoje outros significados. A Sociologia era, e continua a ser, um debate
entre concepções que procuram dar resposta às questões cruciais de cada época.
Por inspirar-se na vida social, não pode, portanto, estar ela própria livre de
contradições. (QUINTANEIRO, ET AL, 2002, p. 22-23)
28

4. O PENSAMENTO DE: COMTE, DURKHEIM, MARX e ENGELS, WEBER

- Auguste Comte: Para Pauli (s/d, s/p) Auguste Comte filósofo francês (...) é
conhecido como fundador do positivismo e da sociologia. É o positivismo uma nova
forma do empirismo, que agora assume a veste de um novo nome e se ordena em
síntese ampla. Tal como já o empirismo, o positivismo se retém naquilo que não
ultrapassa à superfície das coisas que se experimentem; afasta-se de conceitos
meramente racionais, como, por exemplo, o de substância. Com isso ficaram
eliminadas a metafísica e a psicologia racional. Classificou Comte as ciências pelo
objeto. Em consequência abandonou classificação subjetiva pelas faculdades
introduzida por Francis Bacon e que fora ainda divulgada pela Enciclopédia
Francesa. Por sua vez o objeto foi ordenado pela ordem de generalidade
decrescente, estabelecendo-se consequentemente a matemática no topo (ou na
base) das ciências positivas. Depois vem a astronomia, a física, a química, a
biologia e a sociologia, com objetos progressivamente menos gerais, todavia mais
complexos. A descida ao cada vez menos geral pode resultar em divisões materiais;
não suficientemente atento a esta questão dividiu Conte ciências, como a física, a
astronomia, a geografia, que efetivamente não se diferenciam por esta via. A
sociologia de Comte como ciência positiva, se prende à filosofia apenas na sua
caracterização meramente formal. Em si mesma a sociologia somente afeta à
filosofia, quando se trata de defini-la e lhe discutir os métodos. Então ela é a ciência
que tem por objeto a interação social; advertir para este objeto de estudo, Comte
teve certamente um grande mérito, ainda que tal estudo em parte sempre houvesse
sido realizado. No atinente ao método, faz-se o reparo, que Comte ao dividi-la usou
de expressões analógicas, e que podem inadvertidamente ser tomadas pelo sentido
inadequado. Ao denominá-la física social, e ao dividi-la em estática social e dinâmica
social, usou uma linguagem que somente é válida em sentido analógico; usada em
sentido próprio poderá acarretar equívocos.

Conforme Pauli (s/d, s/p) em si mesma, a sociologia, como ciência positiva


que é, escapa à filosofia; mas não deixa de ser curiosa teoria comtiana da evolução
da humanidade por três estágios: teológico, metafísico, científico. Eis uma hipótese,
cuja validade depende da observação positiva. Contudo indiretamente ela também
29

depende da teologia, da filosofia, da ciência, as quais precisam primeiramente


acontecer, para depois se determinar como historicamente aconteceram.

Para Jobim (2007, p. 4-6) Comte acreditava que a realidade é formada por
partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos fenômenos se dá através da
relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas relações entre os
fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método para a
investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por
leis invariáveis. Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento
intelectual, Comte teorizava que o desenvolvimento intelectual humano havia
passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a
humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois
através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos
termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o
estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das
limitações do conhecimento humano.

LEI DOS TRÊS ESTADOS - características

Estado Teológico Estado Metafísico Estado Positivo

- tudo tem origem no - tudo tem origem na razão, - ciência substitui a razão,
sobrenatural. na natureza e em forças natureza e forças misteriosas.
- época dos sacerdotes e misteriosas. - época industrial.
militares. - época jurídica. - predomínio do intelectual,
- domínio da organização - prevalece a organização principalmente o sociólogo|- a
militar. jurídica. economia se junta à sociologia
para, juntas, guiarem os destinos
da organização social.

Fonte: JOBIM, Sonia/ Introdução à Sociologia, 2007.


30

Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese


que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios
simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e
concretos. Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da
astronomia, da física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia
e finalmente da sociologia. De acordo com Comte, esta última disciplina, a
Sociologia, não somente fechava a série, mas também reduziria os fatos sociais a
leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a
ciência. Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo,
Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em
dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a
sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.
(JOBIM, 2007, p. 4-6)

Também de acordo com Jobim (2007, p. 4-6) o estudo da estática social


deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a
interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte
os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são
fundamentalmente conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia
Social.

A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas


células são famílias e não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade
social por ser a associação mais espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea
da educação moral e constitui a base natural da organização política. A sociedade
deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como
características principais:

Subordinação: subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos


aos pais;

União: a família é possível graças a união de seus membros;

Cooperação: a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação;

Altruísmo: o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e


para o outro;
31

Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do
indivíduo e que se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua
sobrevivência, de uma autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na
sociedade é o governo. Não há sociedade sem governo, nem governo sem
sociedade.

O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na


sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a
inviabilize. Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação,
fragilizando a ordem. Essa é a intervenção do "conjunto sobre as partes". As forças
sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral.
A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de
esforços.

Todo estado social é uma consequência do passado e uma preparação para


o futuro. Não há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o
estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia
conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá
quando for ultrapassada a sua etapa metafísica. Mas nada é eterno! A evolução da
sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a para o inevitável caminho da
decadência final.

No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase
provisória, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural.

A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os


agentes sobrenaturais são substituídos por força abstratas, entendidas como seres
do mundo.

A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da


humanidade, quando o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos
absolutos e desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim
como sobre as causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar
apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis de
sucessão e semelhança. Estuda-se as leis a abandona-se a pesquisa das causas.
(JOBIM, 2007, p.4-6)
32

Segundo Jobim (2007, p. 4-6) o problema fundamental do estado positivo é


a conciliação da ordem com o progresso, que é a condição necessária ao
aparecimento do verdadeiro sistema político. Toda ordem estabelecida deverá ser
compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá
permitir as consolidação da ordem. Estado Positivo significa o fracasso da Teologia
e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo
surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do altruísmo e da harmonia
social.

Para Pauli (s/d, s/p) preconizou Comte uma nova religião, a da


humanidade1, em que os sacerdotes são os cientistas. Também aqui ocorreu uma
aproximação exagerada entre coisas apenas analógicas. Importa, entretanto,
enaltecer o alto respeito de Comte pela Humanidade, ao ponto de elevá-la à
condição de objeto de culto. Em princípio as coisas têm um certo direito à sua
individualidade, cujo respeito é uma espécie de culto. O verdadeiro culto a Deus não
é a relação entre servo e senhor, mas o respeito à posição de Deus no todo; assim,
importa respeitar os indivíduos, a nação e finalmente à humanidade. Não importa
apenas o patriotismo no sentido nacional; o mais completo patriotismo é também
humanitário, e o foi onde Comte se antecipou à tendência atual de globalização,
ainda que fosse exageradamente enfático na linguagem usada. Com referência
ainda ao misticismo de Comte, referiu-se à Humanidade como o Grande Ser, -
Grand Être, como objeto principal do culto. São objetos de veneração também
o Grande meio, - o espaço, - e o Grande Fetiche, - a terra. Juntos constituem
a trindade positiva. Acresceu ainda variados símbolos, - calendário próprio,
sacerdotes, pontífices, altares, sacramentos. Em consequência se multiplicaram as
sociedades positivistas no mundo, com os respectivos templos, em que até o
número de degraus de acesso contém simbolismos. (...) Fora da Europa o
positivismo recebeu larga acolhida, sobretudo nos meios que cultivam a matemática,
por exemplo, militares. Nos Estados Unidos da América ainda se desenvolveu na
forma especial de Pragmatismo. No Brasil o positivismo teve ampla aceitação, quer
nas escolas de direito, quer nos círculos militares em virtude da matemática, quer
ainda no movimento republicano. Teve também seus materialistas e evolucionistas.

1
Há informações sobre a Igreja Positivista do Brasil ao final desta Apostila.
33

Em Recife notaram-se primeiramente Tobias Barreto e Silvio Romero, depois


emigrados para outros centros. No Rio de Janeiro o republicano Benjamim Constant
fundava em 1876 a sociedade positivista. Mas a igreja positivista foi mais um esforço
de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. (PAULI, s/d, s/p)

- Émile Durkheim: Segundo Amaral (2004, s/p) utilizando-se do método


positivo, apoiado na observação, indução e experimentação é que Durkheim tenta
formular proposições que estabeleçam relações constantes entre os fenômenos, os
chamados ―fatos sociais‖, a fim de compreender a maneira de agir fixa ou não do
indivíduo, obedecendo à coerção exterior, determinada pela sociedade sobre o
mesmo, implicando, assim, que a sociedade se impõe ao indivíduo, ditando a ele
normas de comportamento, e que a ele compete, apenas, assimilá-las, não
importando se haveria interesses ou motivações individuais que determinassem o
―fato social‖, haja vista, para ele ser o todo mais importante do que as partes que o
compõem, sendo cada indivíduo, portanto, apenas um átomo na grande química que
é a sociedade. Segundo ele, um dos fatores de agregação da sociedade é a ―divisão
do trabalho‖, tendo em vista a interdependência entre os indivíduos, advinda da
mesma, como consequência das especializações nas tarefas, identificando, aqui, a
coerção da consciência coletiva sobre as consciências individuais.

Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade,


onde os ―fatos sociais‖ são formados pelas ―representações coletivas‖, através de
suas lendas, mitos, religião, e crenças morais que são legadas de geração para
geração, acrescentadas de experiências e sabedoria acumuladas, sendo assim, de
forma muito particular, infinitamente, mais rica e complexa do que a do indivíduo,
reafirmando a teoria de que a sociedade é que determina o indivíduo. (AMARAL,
2004, s/p)

Ainda de acordo com Amaral (2004, s/p) mesmo estudando fatos já


cristalizados, que para Durkheim, constituem ―maneiras de ser‖ sociais, tais como:
forma de nossas casas, nosso vestuário, a linguagem escrita, são para ele,
realidades exteriores à vontade dos indivíduos, tornando-os, assim, ―fatos sociais‖,
que possuem ascendência sobre eles, arrastando-os e influenciando-os, ditando
normas e costumes que são internalizados nos indivíduos, através da educação.
Não educamos nossos filhos como queremos, mas sim da forma que a sociedade
admite e propõe, pois muito do que passamos aos mesmos já existia antes deles.
34

Se, porventura, tentamos escapar aos ditames de normas pré-estabelecidas,


violando uma regra moral ou desafiando uma lei, verificaremos toda sorte de
dificuldades e obstáculos que nos serão impostos pelos demais membros da
comunidade na tentativa de nos impedir que assim procedamos para que não
sejamos punidos, mostrando-nos, sempre, que estamos diante de algo que nos é
superior. As ideias e os sentimentos coletivos não podem ser modificados ao nosso
bel prazer. A mudança é possível, no entanto, necessário se faz que vários
indivíduos, através de uma ação combinada consigam constituir um novo ―fato
social‖. As resistências àquela seriam tanto maiores quanto fossem a importância
dos valores a serem modificados, incorrendo, assim, numa batalha feroz de forças
antagônicas, visando à consolidação, ou não, das mudanças pretendidas.

Segundo o pensamento de Durkheim as instituições são impostas aos


indivíduos, e eles, a elas adere, mesmo que de forma constrangedora, ainda assim,
ele encontra vantagens, tais como as regras morais, que apesar de coercitivas, a
eles se apresentam como coisas agradáveis e desejáveis, embora, impliquem em
deveres que demandam esforço no seu cumprimento. A sociedade tem vida própria,
antecede e sucede aos indivíduos, tal qual um ente superior que independe deles,
possui sobre eles autoridade e ainda que os constranja, ainda assim eles a amam.
Durkheim defende que o melhor método para se explicar a função do ―fato social‖ na
sociedade, seria através da observação, de maneira semelhante ao adotado pelos
cientistas naturais, levando-se em conta, entretanto, que o objeto do estudo dentro
da Sociologia tem peculiaridades próprias, distintas dos fenômenos naturais. No
entanto, acreditava ele que investigando-se as relações de causa e efeito e
regularidade, poderia se chegar a descoberta de leis, que determinassem a
existência de um ―fato social‖ qualquer e que por conseguinte, determinaria, este, a
ação dos indivíduos. Para ele, os fenômenos coletivos variam de acordo com o
substrato social em que vivem os indivíduos, sendo esse substrato definido pelo
território em que os mesmos vivem e se movimentam, decorrendo daí a
comunicação e a interação entre os mesmos, fatos estes de relevante importância
na vida social.

Ao observar um ―fato social‖, que ele passa a designar como ―coisa‖, o


cientista deve afastar-se de todo e qualquer conhecimento anterior que ele possua
do mesmo, tomando-o como uma realidade exterior, sem considerar as suas
35

manifestações individuais, evitando, assim, interferências no resultado da pesquisa a


que se propôs. ―Seu papel é exprimir a realidade, não julgá-la‖. (TÃNIA
QUINTANEIRO, s/d, p. 27, apud AMARAL, 2004, s/p).

- Karl Marx e Friedrich Engels: De acordo com Araujo (s/d, p. 7-8) Marx e
Engels merecem destaque por suas pesquisas de cunho sociológico e socialista.
Esses dois estudiosos procuraram oferecer uma explicação da sociedade como um
todo e, por isso, não estavam preocupados em fundar a Sociologia como disciplina
específica. Em seus trabalhos, percebe-se uma profunda interligação entre os
campos do saber. A formação teórica do socialismo marxista constituiu uma
complexa operação intelectual e crítica de assimilação das três principais correntes
do pensamento europeu do século passado – o socialismo, a dialética e a economia
política.

Anteriormente ao socialismo marxista, existiu o socialismo utópico, cujos


principais expoentes foram Owen e Saint-Simon. Porém, na visão de Marx e Engels,
embora os socialistas utópicos tivessem elaborado uma crítica à sociedade
burguesa, eles não apresentaram meios para mudar efetivamente a realidade social.
Na verdade, os socialistas utópicos atuavam como representantes dos interesses da
humanidade, mas de uma forma apolítica, não reconheciam em nenhuma classe
social o instrumento para a concretização de suas ideias.

Inspirados pela dialética de Hegel, Marx e Engels ressaltaram seu caráter


revolucionário, apesar de terem-na criticado por seu idealismo. Ao contrário de
Hegel, Marx e Engels acreditavam que os fenômenos existentes não eram simples
projeções do pensamento. Para eles, as sociedades humanas estavam em contínua
e dinâmica transformação e o motor da história eram os conflitos e os antagonismos
entre as classes sociais. Criaram uma teoria científica de grande importância e
inegável valor explicativo – o materialismo histórico, segundo o qual a investigação
de qualquer fenômeno social deveria partir da estrutura econômica da sociedade. Os
fatos econômicos seriam a base de apoio dos outros níveis da realidade, como a
religião, a política e a cultura. A análise da estrutura econômica da sociedade
deveria ser orientada pela economia política, porém Marx e Engels não
concordavam com os economistas clássicos em relação à ideia de que a produção
de bens materiais fosse obra de indivíduos isolados, que perseguiam egoisticamente
seus interesses particulares.
36

O homem é um animal essencialmente social, diziam Marx e Engels. Desde


os primórdios da humanidade existe uma constante relação de interdependência
entre os homens. Para Marx e Engels, a função da Sociologia não poderia se limitar
apenas a solucionar os problemas sociais para restabelecer a ordem e o bom
funcionamento da sociedade, como imaginavam os positivistas. A Sociologia deveria
realizar mudanças radicais na sociedade, unindo teoria e ação, ciência e os
interesses da classe proletária. (ARAUJO, s/d, p. 7-8)

De acordo com Ferreira (s/d, s/p) os princípios básicos que fundamentaram


o socialismo marxista podem ser sintetizados em três teorias centrais: a teoria da
mais-valia, onde se demonstrava a maneira pelo qual o trabalhador é explorado na
produção capitalista; a teoria da luta das classes, onde se afirma que a história
da sociedade humana é a história da luta das classes ou do conflito permanente
entre exploradores e explorados; e, finalmente, a teoria do materialismo histórico.

Marx dedicou-se a um estudo intensivo da história, e criou uma teoria que


veio a ser conhecida como a concepção materialista da história, que foi exposta num
trabalho em que esboça a história dos vários modos de produção, prevendo o
colapso do modo de produção vigente - o capitalismo. O materialismo histórico é
uma teoria sobre toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem de acordo com
seu ambiente ao longo do tempo, onde se evidencia que os acontecimentos
históricos são determinados pelas condições materiais (econômicas) da sociedade.
Dentre as ideias do materialismo histórico, relevam-se as questões das forças
produtivas e relações de produção.

Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os


homens organizam a produção social de bens. A produção social, segundo ele,
engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção. As
forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção.
Representam as matérias primas, os instrumentos, as técnicas de trabalho e até os
próprios homens. Reconhece-se o grau de desenvolvimento das forças produtivas
de uma nação a partir do aperfeiçoamento da divisão do trabalho. As relações de
produção são a forma pelas quais os homens se organizam para executar a
atividade produtiva. Elas se referem às diversas maneiras pelas quais são
apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho. Assim,
as relações de produção podem ser cooperativistas (como um mutirão), escravistas
37

(como na antiguidade), servis (como na Europa feudal) e capitalistas (como na


indústria moderna).

Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e


históricas de toda a atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual
ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que
Marx determinou de modo de produção. Para ele, o estudo deste é muito importante
para a compreensão de como se organiza a sociedade. (FERREIRA, s/d, s/p)

- Max Weber: Já, o sociólogo alemão Max Weber defendia a neutralidade


científica, segundo a qual o cientista jamais deveria defender preferências políticas e
ideológicas a partir de sua atividade profissional. Isso acarretaria um isolamento da
Sociologia dos movimentos revolucionários e a profissionalização da disciplina.

Weber via o cientista como homem do saber, das análises frias e


penetrantes; e o político como homem de ação e decisão, comprometido com as
questões práticas da vida. Dessa forma, a ciência deveria oferecer ao homem de
ação, a compreensão da sua conduta, das motivações e das consequências de seus
atos. Influenciado pelo pensamento marxista, muitas de suas pesquisas
constataram, até certo ponto, a validade das relações estabelecidas por Marx entre
economia, política e cultura. Mas, para Weber, não seria correto admitir que a
economia se sobrepusesse sobre os demais campos da realidade social. Cada
problema deveria ser analisado cuidadosamente a fim de se descobrir que dimensão
da realidade estaria condicionando as demais. (ARAUJO, s/d, p. 7-8)

Conforme Araujo (s/d, p. 7-8) a respeito da Sociologia como ciência, Weber


dava ênfase à investigação do indivíduo e de sua ação, ao contrário dos
conservadores, que procuravam estudar as instituições e os grupos sociais. Não
visava à negação da importância dos fenômenos sociais, mas à necessidade de
compreender as motivações dos indivíduos que os vivenciam. Por isso, descartava o
método de investigação científica das ciências naturais, proposto pelos positivistas
para o estudo da sociedade. Weber defendia-se afirmando que a sociedade é
dinâmica e não matéria inerte. Weber não considerava o capitalismo um sistema
injusto e anárquico, como sustentava Marx. O capitalismo lhe parecia resultado da
modernização que trazia consigo um modo de desenvolver atividades com
organização racional e eficiência. Porém, a crescente racionalização levaria a uma
38

excessiva especialização e a um mundo cada vez mais intelectualizado e artificial,


no qual seriam esquecidos os aspectos mágicos e intuitivos do pensamento e da
existência. Weber não via nenhum atrativo no socialismo, o qual poderia acentuar os
aspectos negativos da racionalização. Influenciado por Nietzsche, a sua visão
sociológica dos tempos modernos era melancólica e pessimista; uma postura de
resignação diante da realidade social. (ARAUJO, s/d, p. 7-8)
39

5. AS LINHAS MESTRAS DA SOCIOLOGIA

De acordo com Guareschi (1989, p. 20- 21) de uma maneira geral


poderíamos dizer que existem duas grandes teorias que são como se fossem as
mães, ou as matrizes de todas as outras teorias que guiam as pessoas na
sociedade. Seriam como duas grandes cosmovisões, duas maneiras diferentes de
encarar a realidade, o mundo e (...) de encarar o social, a sociedade.

A teoria positivista-funcionalista tem diversos nomes, sendo o mais comum o


de teoria positivista. Positivismo é uma palavra que vem do latim, do particípio
passado do verbo pôr, colocar; em latim o particípio passado é positum, que quer
dizer posto, colocado. Essa teoria é chamada de positivismo porque ela supõe,
implica, ou pressupõe que a realidade é o que está aí, isto é, a realidade é o que
está colocado, posto na nossa frente. A realidade se resume, pois, no que nós
vemos, apalpamos. (...) Um outro nome que se dá a essa teoria é de teoria
funcionalista. Esse nome já acrescenta alguma coisa à teoria anterior, mas não a
modifica fundamentalmente. O positivismo diz que a realidade é o que está aí e o
funcionalismo acrescenta que a realidade, e, principalmente, a sociedade, é o que
está aí também, mas o que está aí está estruturado duma forma especial: tudo o que
está aí forma um sistema organizado, em que tudo tem sua função (daí o fato de
escolher essa palavra como a melhor para explicar a teoria). Na prática, pois, tudo o
que existe tem sua função. Não há nada que não tenha sua função. Se existe, deve
ter uma função. E essa função é para alguma coisa, isto é, dirigida para o todo, que
no caso pode ser o sistema social, ou qualquer sociedade ou organização. Aqueles
que seguem essa teoria enxergam o mundo todo organizadinho. Não há nada
sobrando. E eles costumam dizer que a sociedade é como se fosse um organismo
(por isso essa teoria é chamada também de organicismo), ou como se fosse um
corpo vivo (por isso um outro nome que lhe dão é de biologismo). Eles transpõem
para o mundo material. Como na natureza, no mundo, tudo tem sua função, assim
também, na sociedade: todos têm sua função. Assim como uma árvore dá galhos,
troncos, raízes, assim também na sociedade: alguns são os galhos, outros o tronco
e outros as raízes. Houve até um sociólogo americano que disse que a pobreza era
importante, essencial, para a sociedade, pois ela tinha também suas funções.
40

Essa teoria é conhecida também por alguns outros nomes, que são
significativos. Alguns a chamam de teoria absolutista, pois essa teoria resume a
realidade do que está aí, e nada fora do que está aí existe. Além disso, para a teoria,
cada grupo é absoluto, fechado sobre si mesmo. O sistema está organizado de tal
modo que ele se explica a si mesmo: as partes em função do todo, tudo girando ao
redor do centro, caminhando para o equilíbrio e a harmonia. O resto do mundo pode
deixar de existir, que não há problema.

Outro nome que alguns ainda dão a essa teoria é o de teoria acadêmica.
Esse apelido já é um pouco malicioso, mas sugestivo. Qualquer sistema, para poder
sobreviver, tem de se garantir, de se legitimar, de se explicar. Essa teoria, pois para
se garantir, tem que montar alguns mecanismos que a sustentem. E o mecanismo
principal é a própria academia, ou o conjunto todo da educação: universidades,
escolas. (GUARESCHI, 1989, p. 22)

Ainda segundo Guareschi (1989, p. 23) a outra teoria é a Histórico-crítica.


Existiria outra teoria, que implicasse numa outra cosmovisão, numa outra maneira
de se ver, entender e explicar o mundo? (...) um dos melhores nomes é o de teoria
histórica (...) a quem interessa uma teoria histórico-crítica? É evidente que interessa
a toda pessoa que deseja ver a coisa global, a toda pessoa que não está contente
com o que está aí apenas, a toda pessoa que deseja algo de diferente, de melhor.
Nós que lutamos por algo melhor, só poderíamos nos guiar por uma teoria que
incorpora a mudança e a esperança de algo diferente. Quem deseja um mundo
novo, encontra nessa cosmovisão os elementos necessários para um trabalho e
uma luta de renovação e transformação. Dentro do presente já estão em gestação
às sementes duma nova sociedade.
41

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45

ANEXOS

- Sobre Igreja Positivista do Brasil:

Igreja Positivista do Brasil - O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso
por fim.

A Igreja Positivista do Brasil2

Fundada em 19 de César de 93 - 11 de maio de 1881 por Miguel de Lemos, está


localizada à Rua Benjamin Constant, 74 - Glória, Rio de Janeiro. Sua sede, também
conhecida como Templo da Humanidade, foi o primeiro edifício construído, no
mundo, para difundir a Religião da Humanidade. (Existem três Templos da Igreja
Positivista no mundo: Dois no Brasil – Rio de Janeiro e Porto Alegre e um na França,
em Paris.)

Templo da Humanidade no Rio de Janeiro. Inauguração da Nave, na festa da Humanidade. 1o. de


Moisés de 109 (1 de janeiro de 1897)

2
Estas e outras informações acerca da Igreja Positivista do Brasil estão disponíveis em
<http://www.igrejapositivistabrasil.org.br/igreja.html> Acesso em: 06.08.2010.
46

Interior do Templo da Humanidade.

Capela da Humanidade de Porto Alegre

Construção iniciada em 11 de maio de 1925.


Endereço: Av. João Pessoa, 1059, Porto Alegre, RS - CEP 90040-000
47

Capela da Humanidade Paris - Rue Payenne, 5 Paris

Neste endereço, no terceiro pavimento morreu Clotilde de Vaux, cofundadora com Augusto Comte da
Religião da Humanidade.

- Personalidades do Positivismo:

- Miguel Lemos - Euclides da Cunha


Fundador da Igreja Positivista do Brasil - Ruben Descartes Garcia Paula
- Raimundo Teixeira Mendes - David Carneiro, IPB
Autor da Bandeira Nacional Republicana - David Carneiro Júnior, IPB
- Benjamin Constant Botelho de Magalhães - Carlos Torres Gonçalves, IPB
Fundador da República Brasileira - Agliberto Xavier
- Julio de Castilhos - Martins Fontes
Autor da Constituição de 14 de Julho do RG do - Silveira Martins
Sul - Paulo Carneiro, IPB
- Marechal Cândido da Silva Rondon, IPB - Ivan Lins Monteiro de Barros
- Demétrio Ribeiro - Luis Pereira Barreto
- Gen. Manoel Rabelo - Silva Jardim
- Gen. Julio Caetano Horta Barboza - Luiz Hildebrando Horta Barboza, IPB
- Decio Vilares - Rubens Descartes Garcia Paula, IPB
- Gen. Bagueira Sampaio, IPB - Getúlio Vargas
- Eduardo de Sá - Lindolfo Collor
- Yan Demaria Boiteux - Joaquim Modesto Almada
- Norton Demaria Boiteux, IPB - Edgar Roquete Pinto
- Ruyter Demaria Boiteux - João Pinheiro
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- Esther de Viveiros, IPB - Lafaiette Côrtes


- Almte. Alfredo de Moraes Filho - Gen. Tasso Fragoso
- Eng. Aarão Reis - Manoel Miranda
- Eng. Saturnino Brito - Alípio Bandeira
- Amaro da Silveira - Montenegro Cordeiro
- Mário Barboza Carneiro, IPB
- Luiz Bueno Horta Barbosa, IPB

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