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LIVRO I
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO SUJEITO
RESUMO: Esse artigo tem por objetivo tecer uma crítica ao materialismo histórico dialético.
Nosso objetivo é concluir nossas analises fundamentando EXU enquanto método de analise e
dispositivo de transformação social.
Exu é caminho.
Nesse artigo nos debruçamos em entender e compor diálogos que nos possibilitem um
realocar paradigmático. Uma possibilidade de nos estruturarmos enquanto sujeito para além
das plataformas ocidentais suplantadas em nossa carne e abnegadas em nossa existência.
Pretende-se neste artigo explorar as diversas potencialidades promovidas ao romper com o
paradigma ocidental de análise do mundo. Romper com o materialismo histórico dialético.
Tomar EXU enquanto método. EXU enquanto o todo da pesquisa. O ser em si, e
também a lente que o observa. Mas também quem a usa. E quem transita por essas encruzas
deixadas por EXU que também são caminho.
Ando até a prateleira, apanho o livro mais grosso entre os meus. Vejo as páginas
amarelas, hoje com vários pontinhos nas primeiras páginas. Folheio aquelas páginas, que
ávidas abri um dia, experienciando a revolução brotar daquelas densas 894 páginas. Foram-
me apresentadas como o suspiro necessário para se respirar em meio ao caos que nos
atravessa a jornada acadêmica, que nos atravessa a militância, que nos atravessa a vida. Me
muni de suas palavras e um dia fiz a luta. Mas o travar dela mostravam as diversas lacunas
que Marx ainda havia deixado na leitura de corpos como o meu. Era evidente a
incompletude, a ausência, a falta dentro de suas palavras. Um vazio foi me tomando para
além do ser. Eu nunca fui lida nem pensada enquanto sujeito para o autor daquelas palavras.
Suas raízes destituíram a minha humanidade. Seu pensamento nunca referenciou as raízes no
sequestro dos pensamentos semeados e gestados pelos meus. Em meio a todas essas
ausências esse artigo se faz um grito, um grito de quem atravessou a encruzilhada do ocidente
para se derramar num mar de possibilidades que é EXU. Desaguar-me num mar de
possibilidades do que existe para além do branco do papel, mas sim o que existe no preto que
registra cada letra. Observe que não escrevemos como “branco”. Escrevemos sobre ele.
Recuperamos o protagonismo da cor, que antes de tudo grafa o papel. Que afrografa sua
existência. Que rememora em seu corpo as travessias da história, e rompe, como a flecha de
Xangô as amarras de um mundo ocidental. Eu não sou universal. Eu sou o tudo e o todo. Eu
sou EXU. Sou o método, sou a forma, sou o estudo, sou o caminho e a trajetória. Eu defendo
EXU como método, pois é urgente se restituir a cor que se escreve. Que me escreve. Que eu
ME escrevo. Pois o “branco-pensar” numa folha, nada mais é, do que somente mais uma
folha em branco.
Esse artigo é um convite a todo povo africano por essência revolucionário a voltar pra
casa, e construir esse diálogo com a terra que nós somos em essência, em EXU. Com Amma
a grande criadora do universo. Com o nosso útero mítico ancestral3.
Faço-lhes esse convite enunciado em dois pontos, iniciamos a gira batendo palma
para Marimba Ani, com “Yurugu: An African Centered Critique of European Cultural
Thought and Behavior (1994)”; tecemos esse diálogo rumo a compreender formas outras de
subjetivação do sujeito em sala de aula. Possibilitar o desenvolver num segundo ponto
juntamente às reflexões nos suscitadas pelo professor Wanderson Flor em “Olojá: Entre
encontros - Exu, o senhor do mercado (2016)”, nosso objetivo é construir a sala de aula
enquanto esse mercado de Oyá. Esse mercado das possibilidades. Ver EXU Legbara
performando formas outras de se transgenerificar4 ali no meio da sala de aula.
Nossas potências nos ORÍentam rumo a um caminho ainda iniciado de entender essa
sala de aula que se desdobra na diáspora e ser mais do que as ausências que o ocidente nos
ilude achando que vamos buscar, é o se assegurar do quão potente é olhar para essa sala de
aula enquanto o verdadeiro mercado de uma sociedade, onde verdadeiramente está a se
comercializar as mais potentes transgressões que a sociedade pode afrofuturizar. É ali que
escolhi estar, me plantar, é ali que se faz África, é ali que EXU mora e habita.
Ah!
Eparrei! Ela é Oyá!
Ela é Oyá!
Ah!
Eparrei! É Iansã!
É Iansã!
Ah! Eparrei!
1
Ver mais em (colocar a referência de Fu Kiau de sistemas de sistemas ser a pessoa)
2
Ver mais em A Natureza do Espaço, 1996.
3
expressão oral de mestre Jayro Pereira
4
buscará se trabalhar mais a frente esse conceito à partir da reconceitualização trangenerificada nos proposta por
Marcus Bey em “The Blacknesses of Blackness: Fugitivity, Feminism, and Transness,”
5
Aqui reconfigura-se a noção de sala de aula e tece-se um conceito de sala de aula onde tudo é sala de aula,
todos os espaços são ambientes de aprendizados desde que esses validem a sua humanidade. Logo, a sala de
aula em seus moldes tradicionais ocidentais asubjetivam o sujeito, assujeitando seu corpo assim como o de seus
iguais, esse espaço não é uma sala de aula. Mais a frente elaboraremos um nome para ele, mas nesse momento
podemos ver como MAAFA, a sala de aula ocidental é MAAFA.