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A EXU: A CRÍTICA A UM PARADIGMA POLÍTICO E ECONÔMICO

LIVRO I
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO SUJEITO

RESUMO: Esse artigo tem por objetivo tecer uma crítica ao materialismo histórico dialético.
Nosso objetivo é concluir nossas analises fundamentando EXU enquanto método de analise e
dispositivo de transformação social.

Intelectual do morro, sem metáfora, te apavora


Contra os nazi, os gatilho, filho, é que eu vim da diáspora
E é pau no gato pra aqueles que rouba lá
Respeito é lei
A lei é o cão, se fosse Paty podia roubar La-
Roiê, vermelho e preto a mojubá prevaleceu
Vermelho no preto é sangue e sangue preto é sangue meu
Tenho tanta fé em Deus que me considero ateu
É que eu nem boto tanta fé nesse Senhor que ocês me deu
(Diáspora - DV Tribo)

Exu é caminho.
Nesse artigo nos debruçamos em entender e compor diálogos que nos possibilitem um
realocar paradigmático. Uma possibilidade de nos estruturarmos enquanto sujeito para além
das plataformas ocidentais suplantadas em nossa carne e abnegadas em nossa existência.
Pretende-se neste artigo explorar as diversas potencialidades promovidas ao romper com o
paradigma ocidental de análise do mundo. Romper com o materialismo histórico dialético.

Escolhemos aqui essa proposição disruptiva com o Materialismo Histórico Dialético


como síntese cumulativa de todo pensamento ocidental utilizado para interpretação de corpos
disformicos como o meu.

Tomar EXU enquanto método. EXU enquanto o todo da pesquisa. O ser em si, e
também a lente que o observa. Mas também quem a usa. E quem transita por essas encruzas
deixadas por EXU que também são caminho.
Ando até a prateleira, apanho o livro mais grosso entre os meus. Vejo as páginas
amarelas, hoje com vários pontinhos nas primeiras páginas. Folheio aquelas páginas, que
ávidas abri um dia, experienciando a revolução brotar daquelas densas 894 páginas. Foram-
me apresentadas como o suspiro necessário para se respirar em meio ao caos que nos
atravessa a jornada acadêmica, que nos atravessa a militância, que nos atravessa a vida. Me
muni de suas palavras e um dia fiz a luta. Mas o travar dela mostravam as diversas lacunas
que Marx ainda havia deixado na leitura de corpos como o meu. Era evidente a
incompletude, a ausência, a falta dentro de suas palavras. Um vazio foi me tomando para
além do ser. Eu nunca fui lida nem pensada enquanto sujeito para o autor daquelas palavras.
Suas raízes destituíram a minha humanidade. Seu pensamento nunca referenciou as raízes no
sequestro dos pensamentos semeados e gestados pelos meus. Em meio a todas essas
ausências esse artigo se faz um grito, um grito de quem atravessou a encruzilhada do ocidente
para se derramar num mar de possibilidades que é EXU. Desaguar-me num mar de
possibilidades do que existe para além do branco do papel, mas sim o que existe no preto que
registra cada letra. Observe que não escrevemos como “branco”. Escrevemos sobre ele.
Recuperamos o protagonismo da cor, que antes de tudo grafa o papel. Que afrografa sua
existência. Que rememora em seu corpo as travessias da história, e rompe, como a flecha de
Xangô as amarras de um mundo ocidental. Eu não sou universal. Eu sou o tudo e o todo. Eu
sou EXU. Sou o método, sou a forma, sou o estudo, sou o caminho e a trajetória. Eu defendo
EXU como método, pois é urgente se restituir a cor que se escreve. Que me escreve. Que eu
ME escrevo. Pois o “branco-pensar” numa folha, nada mais é, do que somente mais uma
folha em branco.

Retomemos portanto essa jornada. Plantamos nossos pés na África. Lá,


reencontramos o preto da cor que grafa o papel e esculpe no tempo, as performances do
existir. Performances do movimento, performances da alma, performances do todo,
performances da encruzilhada. Vamos de Leda Maria Martins nesse rodopiar nos fazendo
dançar sobre o papel. Essa grande mestra é quem nos conduz nessa travessia, é a primeira a
encruzilhar EXU na encruza. Para Leda:

O termo encruzilhada, utilizado como operador conceitual, oferece-nos a


possibilidade de interpretação do trânsito sistêmico e epistêmico que emergem dos
processos inter e transculturais, nos quais se confrontam e dialogam, nem sempre
amistosamente, registros, concepções e sistemas simbólicos diferenciados e
diversos. (MARTINS, 1997,

Aqui Leda compõem para além da encruzilhada enquanto dispositivo vivo de


análise, ela gesta em seu conceito seu próprio ser enquanto esse “sistema de sistemas” nos
trazido pelo mestre Fu Kiau1. Acreditamos portanto ser possível ir além no processo de
escrever com nossas mãos o que nossa alma já grafa em nossos corpos, defendo portanto a
utilização não só da encruzilhada enquanto umoperador conceitual, mas a própria EXU, nos
oferecendo essa possibilidade de pensar a totalidade apresentada por Milton Santos 2, mas
ainda não completamente totalizada em suas palavras.
Esse artigo não vem afim de fazer o que a literatura ocidental sempre busca cavar:
responder perguntas, completar vazios, suprimir ausências, satisfazer carências. Não. Nosso
objetivo é ir além. É sankofiar sobre o papel. E se plantar em outro lugar. Eu não ando
descalço na rua. Meu corpo não vai calçar em terras onde não nasce baobá. Eu não giro em
terreiro dos outros. Eu tenho casa e tá na hora de voltar.

Esse artigo é um convite a todo povo africano por essência revolucionário a voltar pra
casa, e construir esse diálogo com a terra que nós somos em essência, em EXU. Com Amma
a grande criadora do universo. Com o nosso útero mítico ancestral3.

Faço esse convite embriagada em palavras que me moldam, estruturam e caminham.


EXU nos diz que a encruzilhada é o caminho já caminhado, caminhando. É um lugar onde já
estivemos sem nunca ter estado. É uma paisagem familiar sem nunca ter sido vista. É a
transmutação disruptiva do ser como nos traz Tiffany E. Barber em seus escritos, que nos
coloca em potencialidades de ser o que em existência ainda não fomos, mas ancestralizamos
para assim ser.

Faço-lhes esse convite enunciado em dois pontos, iniciamos a gira batendo palma
para Marimba Ani, com “Yurugu: An African Centered Critique of European Cultural
Thought and Behavior (1994)”; tecemos esse diálogo rumo a compreender formas outras de
subjetivação do sujeito em sala de aula. Possibilitar o desenvolver num segundo ponto
juntamente às reflexões nos suscitadas pelo professor Wanderson Flor em “Olojá: Entre
encontros - Exu, o senhor do mercado (2016)”, nosso objetivo é construir a sala de aula
enquanto esse mercado de Oyá. Esse mercado das possibilidades. Ver EXU Legbara
performando formas outras de se transgenerificar4 ali no meio da sala de aula.

Nossas potências nos ORÍentam rumo a um caminho ainda iniciado de entender essa
sala de aula que se desdobra na diáspora e ser mais do que as ausências que o ocidente nos
ilude achando que vamos buscar, é o se assegurar do quão potente é olhar para essa sala de
aula enquanto o verdadeiro mercado de uma sociedade, onde verdadeiramente está a se
comercializar as mais potentes transgressões que a sociedade pode afrofuturizar. É ali que
escolhi estar, me plantar, é ali que se faz África, é ali que EXU mora e habita.

Como a utilização do conceito de encruzilhada e a adoção de EXU como método


podem contribuir para um rememorar da subjetividade do sujeito africano em sala de aula?
Quais ferramentas teremos disponíveis nessa diáspora que nos possibilite um realinhar e
sankofiar nesse rebolado de retorno ao que um dia vamos voltar a ser? Como a abordagem
africano-centrada proposta por Marimba Ani em "Yurugu: An African Centered Critique of
European Cultural Thought and Behavior" pode contribuir para a compreensão e valorização
do sujeito em processo de aprendizagem e descoberta do eu; Como ver esse espaço, essa sala
de aula5, como o lugar de potência e transmutação disruptiva, especialmente em relação à
subjetividade afrodescendente? Quais estratégias podem ser tomadas para resgatar um povo
que está aprisionado pelo emaranhado das teias dessa putrefata aranha, esse bixo que destrói,
dessa mão que aniquila sonhos e existências que é educação que se faz para corpos pretos na
diáspora brasileira? Que EXU nos acompanhe nas encruzas colocadas aqui.

Ah!
Eparrei! Ela é Oyá!
Ela é Oyá!
Ah!
Eparrei! É Iansã!
É Iansã!
Ah! Eparrei!

Tudo o que você encontrar aqui escrito, é independente entre si, e ao


mesmo tempo co-existente de forma espiralar com o tudo e com o todo.
Aprendi com Iemanjá que onda grande se atravessa mergulhando. Faço esse
mergulho na grande onda da História junto com Marimba Ani. Voltamos nossas
passadas por um oceano de novos conceitos a fim de vestirmos de novo,
dessa vez com roupas que nos cabe a História que é nossa mas acima de
tudo, que nós somos.

Reza a lenda que enquanto Amma gestava os espíritos, feminino e


masculino, ou seja a completude do universo. Yurugu, como é colocado o
espírito masculino por Marimba Ani, se rebelou. Buscando se partir, começou a
competir com Amma criando o universo. Criou um mundo tão semelhante a si,
repleto de vazios e ausências, ecos e esquecimentos, sombras e penumbras.
Criou um mundo a seu modo. Yurugu é nos apresentado por Marimba como
esse outro mundo, como o ocidente, destoante de todo e qualquer sentido
harmonioso.
Façamos um parênteses para fundamentar ainda mais a ideia de Yurugu
aqui nos apresentada por Marimba Ani. Caminhemos em meio às palavras de
nosso último faraó Cheik Anta Diop, antes de se tornar Diop, visto que é um
título que você adquire depois de determinado tempo de estudo e vivência,
investigou em seus escritos a existência de dois berços de fundação do mundo:
O Berço ariano e o Berço Afrikano.

Diop concluiu em suas investigações que as condições climáticas


contribuíram e condicionam os seres humanos a se relacionarem de diferentes
formas com a natureza. Diop vai nos trazer:

A abundância de recursos vitais,seu caráter agrícola sedentário, as


condições específicas do vale, irão engendrar no homem, ou seja, no Negro,
uma natureza suave, idealista, pacífica, dotada de um espírito de justiça e
alegria. Todas essas virtudes eram mais ou menos indispensável para a
convivência diária.

Com essas contribuições de Diop iniciamos nossa travessia rumo ao


desmonte do que nunca deveria ter sido tomado enquanto forma universal de
interpretação social visto a diversidade de corpos que atravessa essa seara.

1
Ver mais em (colocar a referência de Fu Kiau de sistemas de sistemas ser a pessoa)
2
Ver mais em A Natureza do Espaço, 1996.

3
expressão oral de mestre Jayro Pereira
4
buscará se trabalhar mais a frente esse conceito à partir da reconceitualização trangenerificada nos proposta por
Marcus Bey em “The Blacknesses of Blackness: Fugitivity, Feminism, and Transness,”
5
Aqui reconfigura-se a noção de sala de aula e tece-se um conceito de sala de aula onde tudo é sala de aula,
todos os espaços são ambientes de aprendizados desde que esses validem a sua humanidade. Logo, a sala de
aula em seus moldes tradicionais ocidentais asubjetivam o sujeito, assujeitando seu corpo assim como o de seus
iguais, esse espaço não é uma sala de aula. Mais a frente elaboraremos um nome para ele, mas nesse momento
podemos ver como MAAFA, a sala de aula ocidental é MAAFA.

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