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Márcia Merlo
Origens da Linguagem.
Para pensar uma relação entre cultura e linguagem.
Cultura, Corpo, Linguagem e Moda.
“Texto quer dizer tecido; mas enquanto até aqui esse tecido foi sempre
tomado por um produto, por um véu acabado, por detrás do qual se conserva,
mais ou menos escondido, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no
tecido, a idéia generativa de que o texto se faz, se trabalha através de um
entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura – o sujeito desfaz-
se, como uma aranha que se dissolvesse a si própria nas secreções construtivas
da sua teia.”
Roland Barthes.
http://bacaninha.cidadeinternet.com.br/
home/mensagens/fotos/2003/12/
corpos_pintados/img1.jpg. Acesso: 15/
07/2005 as 15h50.
PATAGONIA
Fotografias inéditas dos corpos pintados do Selknam,
registradas em 1923 durante uma cerimônia de iniciação nas
planícies nevadas da Terra do Fogo. http://
www.corpospintados.com.br/Exposicao/index.html. Acesso:
15/07/05 as 16h08.
1
FRANGE, Cristina Mattos Pereira, Escrever na carne: as modificações corporais como
forma de inclusão social e comunicação. Mestrado em Comunicação e Semiótica, PUCSP,
2004, p. 16.
2
RODRIGUES, José Carlos (1975), O tabu do corpo. 2ª. Ed., Rio de Janeiro: Achiamé, p. 63.
3
Ibidem, p. 96.
4
MAUSS, M. (2003).Sociologia e Antropologia,São Paulo: Cosac & Naify.
5
RODRIGUES, José C. op. Cit, p. 97.
É claro que cada cultura tem seu próprio estilo para expressar e que indivíduos,
dentro de uma sociedade, seguem e legitimam os estilos, assim como outros
podem negá-los e ainda assim estará entrando em um outro universo de
significações, pois, de qualquer modo, no comportamento corporal há sempre
muita expressão.
E ainda diz, em relação aos estudos históricos, que “todo estudo histórico da
linguagem baseia-se na comparação de dois ou mais conjuntos de dados
descritivos. Só pode ser tão precioso e tão completo quanto lhe permitam esses
dados. Para descrever uma língua, não é preciso absolutamente nenhum
conhecimento histórico; na verdade, o observador que permita que tal
conhecimento afete sua descrição está fadado a distorcer seus dados. Nossas
descrições não deverão ter preconceitos, se quisermos que sejam uma base
sólida para o trabalho comparativo.” (Ibidem, pp. 198-9)
Neste sentido, Franz Boas também revela como uma descrição errônea dos
povos tradicionais cria, além de uma percepção distorcida, um problema
epistemológico. Escreve: “Os Andamaneses são outro povo que deve sua má
reputação aos relatos dos primeiros viajantes. Marco Pólo, que os visitou em
1285 disse: ‘essa gente é como bestas selvagens e eu lhes garanto que todos os
homens da ilha de Angamaaim têm cabeças semelhantes às do cachorro e
dentes e olhos da mesma espécie; de fato seus rostos parecem como os de
bulldogs.”
“Um escritor árabe do século IX afirma: ‘A cor de sua pele é aterradora; seus
pés são grandes, quase do comprimento de um cúbito e encontram-se
absolutamente sem roupa’. Compara-se isso com a descrição de E. H. Man, a
quem devemos um melhor conhecimento deste povo interessante. Ele disse:
‘tem sido afirmado que o sistema de casamento comunal prevalece entre eles,
e que o casamento não passa da tomada da mulher como escrava, mas, longe
do contrato ser considerado como um arranjo meramente temporário a ser
abandonado, de acordo com o desejo de uma das partes, nenhuma
incompatibilidade de temperamento ou outra causa pode dissolver a união e
enquanto a bigamia, a poligamia, a poliandria e o divórcio são desconhecidos, a
fidelidade conjugal até à morte não é exceção, mas regra... Um dos aspectos
mais marcantes das suas relações sociais é a marcante igualdade que subsiste
entre marido e mulher’. Mesmo que esta descrição possa ser considerada um
tanto fantasiosa mostra, todavia, que estes povos não são “como bestas
selvagens”.6
A análise que Boas faz de tais relatórios, é ainda melhor quando explicita que
“um estudo feito mais de perto mostra que alguns dos povos de pior reputação
não são tão brutos como os relatórios superficiais gostariam de nos fazer crer, e
somos levados a suspeitar que as condições culturais entre todos os povos
primitivos podem ser mais elevadas que comumente se considera.
Nosso conhecimento de tribos primitivas, pelo mundo afora, justifica a
afirmação de que não há povo que não possua tradições e idéias religiosas
definidas; que não tenha feito invenções, que não viva sob o domínio de leis
costumeiras que regulem as relações entre os membros da tribo. E não há povo
sem língua.
Este trecho de Boas explicita a relação entre cultura e língua, esta como um
elemento importante da identidade humana e da compreensão da diversidade
cultural.
6
BOAS, Franz. “Os objetivos da etnologia”. Texto traduzido pela Profa. Dra. Josildeth Consorte
para a disciplina Antropologia Cultural, PUCSP, 1998, s/p.
7
Ibidem.
http://images.google.com/imgres?imgurl=http://
www.awr.org/images/12-00-sudan-
woman.jpg&imgrefurl=http://www.awr.org/global-glimpse-
sudan. Acesso: 15/07/05 as 16h35
Herder, um filósofo não tão conhecido por nós, realizou um trabalho de muito
valor sobre as origens da linguagem, diz que “o homem está organizado para ser
uma criatura da linguagem”. (Herder, 1987, p.89). Tanto é que os lingüistas do
século XX afirmam que não se conhece nenhuma língua desprovida de elementos
formais ou estruturais, embora a expressão das relações formais entre sujeito e
objeto e entre atributo e predicado, possa variar de língua para língua. Cassirer
diz, apoiado no trabalho da lingüística recente, que as “línguas das nações menos
civilizadas de todas não são de modo algum carentes de forma; ao contrário,
apresentam, na maioria dos casos, uma estrutura complicadíssima.” Apoiando-
se no lingüista A. Meillet, conhecedor de muitas línguas do mundo, aponta para
as formas da fala humana em geral “são perfeitas, no sentido de que conseguem
expressar os sentimentos e pensamentos humanos de forma clara e apropriada.
As línguas, ditas primitivas, são tão congruentes com as condições da civilização
primitiva e com a tendência geral da mente primitiva quanto as nossas próprias
línguas o são com os fins de nossa cultura requintada e sofisticada.” (op.cit, p.
212)
É essa capacidade de expressão que faz com que o homem possa viver as
suas emoções exprimindo-as, sem a necessidade de descrevê-las em si. A
linguagem permite ao homem criar formas lingüísticas que realizam a justeza do
que ele quer expressar sentimentalmente. Expressando o que sente, o homem
remodela a língua, criando as suas próprias formas, no sentido de se fazer
presente no mundo.” (Araújo, op.cit, pp. 36-7).
8
RODRIGUES, J. C., op. Cit, pp. 97-98.
9
Ibidem, p. 99.
Desta forma,
10
LURIE, Alison. A linguagem das roupas. Tradução de Ana Luiza Dantas Borges. Rio de
Janeiro: Rocco, 1997, p. 19.
11
Ibidem, pp. 19-20.
12
Ibidem, p. 73.
13
Ibidem, p. 74.
Em suma, o que fica por hora, são mais questões para refletirmos o lugar
da cultura no mundo hoje, um mundo governado por imagens, pela Moda,
pelos objetos mundializados, pelo desejo de ser um sujeito antenado nesse
mundão afora. Mundo ou mundos? Para o estilista da grife Rosa Chá, Amir
Slama, que tem criações em pontos de venda nos Estados Unidos, Inglaterra e
Japão, considera importante que a moda tenha uma linguagem particular e ao
mesmo tempo global e aposta no futuro de produtos com bom design e
qualidade.15
14
FRANGE, op. cit p.129.
15
www.mre.gov.br/edbrasil/itamaraty/web/part/artecult/moda/apresent/
por Eveline de Abreu. Acesso: 15/07/2005 as 12:07.