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AULA 2 - CULTURA
Olá! Esta é a nossa segunda aula da disciplina “Estudos
Socioantropológicos”. Aqui falaremos um pouco sobre o que é cultura.
Assim, perguntamos: o que você sabe sobre cultura? Certamente você já
ouviu falar muito disso, não é mesmo? Você saberia dizer o que é cultura por
meio de uma visão antropológica?
Iniciando o assunto
Vamos iniciar nossos estudos com uma breve abordagem sobre o conceito
de cultura. Assim, tentaremos explicar, logo abaixo, com exemplos práticos
e algumas abordagens teóricas, do que trata essa expressão tão falada
em nosso cotidiano.
Foi a partir da segunda metade dos anos 1700 que Figura 3. Sir Edward Burnett Tylor
duas expressões importantes – a saber: 1. kultur
(uma expressão alemã que se referia aos aspectos
espirituais de uma dada comunidade) e; 2. civilization
(um vocábulo francês que se referia às condições
materiais de uma população) – foram identificadas,
retrabalhadas e fundidas em um só termo por Edward
Tylor (pensador antropólogo que viveu no século XIX,
entre os anos 1832 e 1917), ou seja, no conceito de
cultura. Segundo esse autor, a cultura “[...] em seu
amplo sentido etnográfico é este todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos
pelo homem como membro de uma sociedade [...]”
(TYLOR, 1871 apud LARAIA, 1999, p. 25). Fonte: https://www.timetoast.com/timelines/76636
Mas o que essa definição quer dizer, para além de uma listagem
de exemplos de manifestações culturais?
Bom, de forma resumida, significa dizer que a cultura é aprendida, ou seja, não
nasce com os sujeitos e não possui conexão com características inatas transmitidas
biologicamente/geneticamente. Assim sendo, podemos entender que as roupas
que vestimos em nosso dia a dia não são um tipo de comportamento inato, que
seja determinado geneticamente, mas, pelo contrário, são um padrão cultural,
algo aprendido pelas gerações passadas. Muitos outros exemplos poderiam
caber aqui, como o fato de identificarmos bebês do gênero masculino pelas
roupas de tons, geralmente, azuis, enquanto que
os bebês do gênero feminino são reconhecidos
pelas roupas mais próximas da cor rosa. As cores
como elemento distintivo de gênero entre seres
humanos fazem parte do comportamento cultural
de muitos países. Por fim, esses traços distintivos
podem ser chamados de símbolos, de tal forma
que as cores rosa e azul, pelo menos do ponto de
vista da sociedade brasileira, portanto, identificam
os respectivos gêneros dos bebês, ou seja, elas
simbolizam nossos bebês. Não nos esqueçamos,
então: em se tratando de vida cultural, todos os
comportamentos humanos são permeados de
símbolos e significados.
Voltemos mais uma vez ao conceito de cultura. Antes daquela definição produzida
por Tylor, outros pensadores antes dele já encaminhavam algumas ideias sobre
essa temática. Foi o caso de John Locke, segundo o qual, já no século XVII, os
seres humanos nasciam com mentes parecidas com caixas vazias: havia apenas
a capacidade de aprenderem indefinidamente. Ora, a que esse autor referia-se
em relação à capacidade de aprendizado? Ao aprendizado dos comportamentos
produzidos culturalmente! Por outro lado, agora no século XVIII, Turgot pensou,
como fez Locke no século anterior, em um conceito aceitável de cultura, como
podemos atestar pela seguinte citação:
Não seria mais lógico que todos os grupos étnicos tivessem os mesmos
comportamentos culturais, dado que estão igualmente submetidos ao
mesmo fenômeno? Sendo assim, quais eram, então, as razões para
as diferenças culturais?
O estágio
selvagem/primitivo
Os povos selvagens/ O estágio
primitivos eram bárbaro
representados
Os povos bárbaros, por sua
pelas tribos que
vez, eram representados pelas
viviam em selvas,
nações asiáticas e/ou africanas,
com tecnologia
que já possuíam um maior
pouco desenvolvida,
desenvolvimento político e bélico,
politeístas, armas
mas, em algumas delas, ainda
primitivas e sem
com religiões politeístas e nenhum
qualquer forma de
desenvolvimento industrial.
Estado/governo.
O estágio
civilizado
estágios Os povos civilizados eram
evolutivos representados pelos
países europeus, os
quais possuíam domínio
tecnológico-industrial,
com religião monoteísta,
cidades, desenvolvimento
bélico avançado e Estados/
governos consolidados.
Essa era a escala evolutiva dos povos, segundo Tylor, e que permitia comparar,
então, todos os povos em um mesmo conjunto de critérios, sendo um mais
avançado que outro. Essa teoria foi chamada de evolucionismo unilinear, pois
buscava inserir todos os povos numa mesma linha evolutiva a ser inevitavelmente
seguida e, assim, a diversidade cultural foi explicada.
Dessa maneira era fácil estabelecer uma escala evolutiva que não
deixava de ser um processo discriminatório, através do qual as
diferentes sociedades humanas eram classificadas hierarquicamente,
com nítida vantagem para as culturas europeias. Etnocentrismo e
ciência marchavam então de mãos juntas. (LARAIA, 1999, p. 34).
Figura 4. Etnocentrismo*
* Cereja &
Magalhães.
“Literatura Brasileira”.
São Paulo: Atual.
P.39.
Fonte: http://clubdehistoriacasaac.blogspot.com.br/p/blog-page_22.html
Boas quis dizer com isso que um estudo apurado da diversidade cultural deve [...] estudo
passar, antes de qualquer coisa, por um estudo profundo da história de cada
apurado da
povo analisado (ou seja, todo o conjunto de questões, eventos, condições,
produções, crises etc. pelos quais um povo em particular passou ao longo diversidade
de um determinado tempo), para que, depois disso, possa-se entender como cultural deve
essa história influenciou os comportamentos culturais diversos desse mesmo passar, antes de
povo. Trata-se de uma lógica simples: se cada povo possui uma história em
qualquer coisa,
particular, isso significa que cada povo possui em sua história dificuldades
particulares a serem superadas. Logo, cada dificuldade particular a ser por um estudo
superada evoca uma solução igualmente particular, sendo o conjunto dessas profundo da
soluções o comportamento (tradições, valores, vestimentas, artes, política, história de cada
economia, religiosidade etc.) de uma cultura, ou seja, aquilo que difere uma
povo analisado
cultura de outra.
[...]
Fonte: http://soociologando.blogspot.com.br/2016/10/etnocentrismo.html
A baleia [...] em alguns milhões de anos [...] perdeu suas pernas para correr,
suas garras para segurar e dilacerar, seu pelo original e as orelhas externas
que, no mínimo, nenhuma utilidade teriam na água, e adquiriu nadadeiras
e cauda, um corpo cilíndrico, uma camada de banha e faculdade de reter
a respiração. Muita coisa perdeu a espécie, mais, talvez, em conjunto do
que ganhou. Mas houve um novo poder que ela adquiriu: o de percorrer
indefinidamente o oceano. (KROEBER, 1949 apud LARAIA, 1999, p. 41).
Por outro:
Enquanto um urso polar não pode mudar de seu ambiente, pois não suportaria
um grande aumento de temperatura, um esquimó pode transferir-se de sua
região gelada para um país tropical e em pouco tempo estaria adaptado ao
mesmo, bastando apenas trocar o seu equipamento cultural pelo desenvolvido
no novo habitat. Em vez de ocupar um iglu capaz de conservar as menores
parcelas de calor preferiria, então, ocupar um apartamento refrigerado, ao
mesmo tempo em que trocaria suas pesadas vestimentas por roupas muito
leves ou quase inexistentes. (LARAIA, 1999, p. 43).
Vimos que os animais, para se adaptarem à natureza, evoluem sua fisiologia, perdendo
determinados atributos em função de outros. Isso não ocorre com os seres humanos,
pelo contrário, nesse caso, nada se perde, tudo é acumulado por gerações seguintes.
O animal, um cachorro filhote, por exemplo, nasce pronto para se comportar como
cachorro, pois assim sua biologia/genética determina, ou seja, o cachorro e todos
os outros animais nascem prontos e ordenados pela sua carga biológica/genética
para serem o que são. Os humanos, não, pois não nascem sabendo falar português
ou inglês, pelo contrário, precisam aprender o idioma corrente da cultura onde [...] não
nasceram. Ou seja, o ser humano não nasce pronto e determinado biologicamente/ nascemos
geneticamente e, por isso, precisa de aprendizado externo para ser um brasileiro ou
um americano. Assim, seria tolice diferenciar o latido de um cachorro brasileiro de sabendo nada,
um cachorro chinês, pois ambos simplesmente são determinados biologicamente/ pelo contrário,
organicamente a latir de uma forma, independente de onde nasçam. O mesmo devemos aprender
não ocorreria com bebês brasileiros e chineses, visto que uns falariam o perfeito o que seremos
português; enquanto os outros, o correto mandarim. Troquem-se os bebês de país
logo após seus respectivos nascimentos e os chineses aprenderão o mais perfeito por meio do
português; e os brasileiros, o mais perfeito mandarim. Outro exemplo oportuno para aprendizado
elucidar essa questão poderia partir do seguinte entendimento comum: “filho de cultural.
peixe, peixinho é”. Quem nunca se valeu disso para justificar o sucesso de alguém,
não é mesmo? Volta e meia dizemos que alguém tem “sangue de comerciante nas
veias”, ou que alguém “nasceu para a matemática”, ou, ainda, que alguém “nasceu
sabendo”. Essas afirmações são errôneas, na medida em que nós, seres humanos,
não nascemos sabendo nada, pelo contrário, devemos aprender o que seremos por
meio do aprendizado cultural. Assim, um bom jogador de futebol o é pelo fato de
treinar muito, e não por ter o futebol no sangue gerado de pai ou mãe; o bom aluno
de matemática o é por estudar bastante matemática, e não por ter herdado essa
condição pela genética familiar. Em resumo:
Assim, à guisa de uma conclusão, podemos definir cultura por meio dos
seguintes aspectos:
Um conjunto de
equipamentos
culturais que
surgiu com a
humanidade;
É a superação
das limitações
1.
orgânicas/
biológicas/
genéticas dos
2. A capacidade
de transformar
seres humanos. a natureza em
bens úteis à
satisfação de todas
Enfim, o ser humano as necessidades
é um animal humanas por meio do
5. superorgânico.
(LAPLANTINE, 2000;
trabalho coletivizado;
LARAIA, 1999)
3.
É o acúmulo e a transmissão de
conhecimentos culturais para
as gerações seguintes pela 4. A adaptação do meio ambiente para
os seres humanos, mantendo seus
comunicação, constituindo-se em próprios corpos intactos, ao contrário
acervo histórico-técnico-científico dos animais que adaptam seus
da humanidade; respectivos corpos para viverem sob os
imperativos da natureza;
Guia
de
Estudos
Superorgânico