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Unidade 1
Introdução
Conteúdo Programático
Aula 1: Natureza e Cultura
Nature Cultura
Natureza e Cultura
Uma das maiores questões que afligem a humanidade é a busca de sua origem, dos
princípios fundadores da concepção propriamente humana. Por mais que se investigue,
as dúvidas sempre surgem nesse âmbito, e as discussões resvalam em problemas
filosóficos, religiosos e científicos.
Assim, a questão “O que é o homem?” perpassa a história do conhecimento, da
Antiguidade aos dias atuais. E muitos, a sua maneira, procuram desenvolver ideias
capazes de justificar a complexidade da existência e dos procedimentos humanos.
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Além disso, inúmeras diferenças entre os seres vivos podem ser percebidas,
especialmente entre homens e animais. Por exemplo, a adaptação do homem ao espaço
físico e temporal difere bastante da adequação dos animais à natureza, e nem sempre o
comportamento humano pode ser comparado às ações dos animais, até pela
previsibilidade comportamental característica das espécies comumente chamadas
irracionais.
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A sociabilidade como tal não é característica exclusiva do homem, nem seu único
privilégio. [...] Mas no caso do homem encontramos não apenas, como entre animais,
uma sociedade de ação, mas também uma sociedade de pensamento e sentimento. [...]
Como os animais, o homem se submete às regras da sociedade, mas, além disso,
participa ativamente da produção e da mudança das formas da vida social. Nos estágios
rudimentares da sociedade humana, essa atividade é ainda escassamente perceptível,
parecendo reduzida ao mínimo. Mas quanto mais nos adiantamos, tanto mais explícita e
significativa se torna esta característica. Este lento desenvolvimento pode ser
acompanhado em quase todas as formas da cultura humana.
(CASSIRER, 1977, p. 349)
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Os atos dos animais são instintivos e determinados biologicamente; assim, eles possuem
características rígidas, próprias de cada espécie, e não costumam sofrer mudanças
significativas, visto que são geneticamente programados para seguir as leis naturais,
integrando-se harmonicamente a seu espaço físico. Já o homem, desde os primeiros
momentos de vida, transforma e adapta a natureza de acordo com suas necessidades.
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Enquanto se opõe à natura (natureza), a cultura possui um duplo sentido antropológico:
a) é o conjunto das representações e dos comportamentos adquiridos pelo homem
enquanto ser social. [...] b) é o processo dinâmico de socialização pelo qual todos esses
fatos de cultura se comunicam e se impõem, em determinada sociedade [...]. Nesse
sentido, a cultura praticamente se identifica com o modo de vida de uma população
determinada, vale dizer, com todo esse conjunto de regras e comportamentos pelos
quais as instituições adquirem um significado para os agentes sociais e através dos quais
elas encarnam em condutas mais ou menos codificadas.
(JAPIASSÚ & MARCONDES, 1991, p. 63)
Observamos, então, que somente o homem é capaz de agir e modificar conscientemente
a realidade, pois seu contato com o mundo está vinculado à cultura, a qual resulta
especificamente das transformações realizadas por sua capacidade de criar e tornar
comuns as coisas a seu redor.
Por exemplo: cansado, um homem primitivo senta-se em uma pedra; mesmo sem sofrer
transformação em sua forma, aquela pedra, ao lhe servir de descanso, adquire um
sentido utilitário e passa a ser um objeto cultural.
Por outro lado, a expressão “o homem é um ser cultural”, constantemente utilizada,
confunde mais do que explica, pois não é raro que se vincule o conceito de cultura à
instrução, à formação intelectual, à erudição, privilégios de poucos. Porém, quando
tratamos do termo em seu sentido antropológico, vemos que cultura é toda
transformação exercida pelo homem sobre a natureza.
Verificamos assim que, independentemente do espaço geográfico em que está inserido,
todo homem é um ser cultural – o que significa que não existe uma cultura superior e
outra inferior, mas culturas diversificadas, e devemos entender que ser diferente não é
ser melhor nem pior, é simplesmente ser diferente.
Ou seja, a cultura engloba o que pensamos, fazemos e temos enquanto membros de um
grupo social. Nesse sentido, o termo cultura é aplicável tanto a uma civilização
tecnicamente evoluída [...] quanto às formas de vida social mais rústicas [...]. Todas as
sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuem uma cultura. E cada
cultura tem seus próprios valores e sua própria verdade. Podemos acrescentar, por fim, e
numa abordagem mais filosófica, que cultura é a resposta oferecida pelos grupos
humanos ao desafio da existência. (COTRIM, 1999, p. 15)
Ao se instalar no mundo, o homem consegue agir e modificar conscientemente a
realidade que o cerca, vinculando esses procedimentos ao desenvolvimento de seu
psiquismo, a sua capacidade de abstração. A necessidade de viver em contato com seus
semelhantes, interagindo com eles, possibilita a criação de símbolos, de palavras,
da linguagem, enfim, permite o afastamento do concreto e o “domínio” do tempo
(lembrar-se do passado, pensar o presente, projetar o futuro).
Quer dizer, o homem representa, por meio de palavras, ideias e objetos ausentes. Por
exemplo, podemos falar de um elefante sem que ele esteja presente, pois todos os
membros de um grupo já sabem a que se refere a palavra elefante.
Se, de início, o trabalho e o uso das técnicas contribuem para facilitar a vida do ser
humano, ambos passam a exercer, posteriormente, uma forma de controle e exploração
de poucos sobre muitos. Isso porque, especialmente nas sociedades antigas mais
complexas e hierarquizadas, houve grande depreciação a respeito do valor do trabalho e
da técnica.
No alvorecer da humanidade, o trabalho era coletivo, e todos participavam dos mesmos
afazeres; porém, as mudanças resultantes do desenvolvimento das sociedades alteraram
esta visão positiva, de participação solidária, desvirtuando sua função inicial.
Para as classes dominantes daquele tempo, tudo que se relacionasse com a realidade
prática seria indigno de seus interesses, devendo ser executado por aqueles desprovidos
de habilidades intelectuais. Assim, enquanto a elite se dedicava a questões
mais “nobres” – tais como política, filosofia, ciência –, o fazer técnico (a techné)
vinculava-se a classes sociais menos favorecidas.
Foi por isso que, na tentativa de entender estes fenômenos, os homens acabaram por
vinculá-los às divindades. Engendraram, então, histórias fantásticas – as narrativas
míticas – a respeito do que lhes causava estranhamento.
Na Antiguidade grega, na época arcaica, por exemplo, especialmente quando a
sociedade ainda era ágrafa (não se expressava através de sinais gráficos), os homens
estabeleceram diversos cultos aos deuses, reverenciando-os sem qualquer
questionamento ou crítica, pois os fenômenos da natureza, comandados pela vontade
divina, independeriam dos indivíduos do grupo, simples e impotentes mortais.
Aos poucos, porém, as explicações míticas sobre a origem do universo, relacionadas
à cosmogonia – gênese do cosmos – passam a ser insatisfatórias. Daí o surgimento
da cosmologia – descrição racional do cosmos –, pela qual se procura esclarecer o
princípio originário (a arché) do universo.
Desse modo, diferentemente das narrativas míticas, de aceitação passiva, os primeiros
pensadores gregos buscam a compreensão do princípio fundante do universo, por
intermédio de investigações cosmológicas. Para eles, tal origem resultaria dos quatro
elementos da natureza – água, terra, fogo e ar –, que, juntos ou isolados, teriam dado
início à formação do mundo.
Conhecidos como Filósofos da Natureza, ou Pré-socráticos, poucos textos destes
pensadores chegaram até nossos dias, mas seus fragmentos (pequenos trechos do que
escreveram) servem sempre de motivo para reflexão. Conheça alguns desses
fragmentos, clicando no nome de cada pensador.
Tales de Mileto
Para Tales de Mileto (640-548 a.C.), a água é o elemento primordial de todas as coisas.
Anaxímenes
Anaxímenes (588-524 a.C.) afirma que o princípio de tudo o que existe é o ar.
Xenófanes
Heráclito
Heráclito (séc. VI-V a.C.) diz que o fogo é o gerador do processo cósmico; para ele tudo
está num movimento infinito, em constante devir (ninguém se banha duas vezes no
mesmo rio).
Pitágoras
Pitágoras assegura que o número é a arché que possibilita a harmonia de todas as
coisas.
Parmênides
Empédocles
Leucipo e Demócrito
Por fim, Leucipo e Demócrito sustentam que o universo é composto por átomos.
Gradativamente, então, a reflexão filosófica se volta, de modo mais específico, para a
condição humana, analisando antropologicamente o papel do homem no mundo. Pouco
a pouco, como já destacamos no início desta aula, a indagação sobre “O que é o
homem?” passa a constituir a base do conhecimento filosófico. Veja o que pensavam os
principais filósofos da época, clicando na imagem de cada um deles.
Encerramento