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Por que se considera que o homem é um ser cultural?

Unidade 1

Introdução

Olá, amigo(a) discente! Seja bem-vindo(a)!

A reflexão sobre a própria existência desperta no homem uma consciência crítica a


respeito de si mesmo, do outro e do mundo. Por isso, nesta unidade, vamos apresentar
uma síntese da constituição das sociedades humanas, destacando aspectos
antropológicos e filosóficos de especial relevância no percurso que segue da pré-história
até os dias de hoje.
Objetivos
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

 Avaliar o papel da cultura, da linguagem e do trabalho na formação do homem.


 Relacionar as transformações da técnica com o desenvolvimento das sociedades.
 Examinar as concepções de homem no decorrer de seu percurso histórico.

Conteúdo Programático
Aula 1: Natureza e Cultura

Aula 2: Relações entre técnica e sociedade / O homem: uma perspectiva filosófica

Nature Cultura
Natureza e Cultura
Uma das maiores questões que afligem a humanidade é a busca de sua origem, dos
princípios fundadores da concepção propriamente humana. Por mais que se investigue,
as dúvidas sempre surgem nesse âmbito, e as discussões resvalam em problemas
filosóficos, religiosos e científicos.
Assim, a questão “O que é o homem?” perpassa a história do conhecimento, da
Antiguidade aos dias atuais. E muitos, a sua maneira, procuram desenvolver ideias
capazes de justificar a complexidade da existência e dos procedimentos humanos.
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Além disso, inúmeras diferenças entre os seres vivos podem ser percebidas,
especialmente entre homens e animais. Por exemplo, a adaptação do homem ao espaço
físico e temporal difere bastante da adequação dos animais à natureza, e nem sempre o
comportamento humano pode ser comparado às ações dos animais, até pela
previsibilidade comportamental característica das espécies comumente chamadas
irracionais.
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A sociabilidade como tal não é característica exclusiva do homem, nem seu único
privilégio. [...] Mas no caso do homem encontramos não apenas, como entre animais,
uma sociedade de ação, mas também uma sociedade de pensamento e sentimento. [...]
Como os animais, o homem se submete às regras da sociedade, mas, além disso,
participa ativamente da produção e da mudança das formas da vida social. Nos estágios
rudimentares da sociedade humana, essa atividade é ainda escassamente perceptível,
parecendo reduzida ao mínimo. Mas quanto mais nos adiantamos, tanto mais explícita e
significativa se torna esta característica. Este lento desenvolvimento pode ser
acompanhado em quase todas as formas da cultura humana.
(CASSIRER, 1977, p. 349)

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Os atos dos animais são instintivos e determinados biologicamente; assim, eles possuem
características rígidas, próprias de cada espécie, e não costumam sofrer mudanças
significativas, visto que são geneticamente programados para seguir as leis naturais,
integrando-se harmonicamente a seu espaço físico. Já o homem, desde os primeiros
momentos de vida, transforma e adapta a natureza de acordo com suas necessidades.
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Enquanto se opõe à natura (natureza), a cultura possui um duplo sentido antropológico:
a) é o conjunto das representações e dos comportamentos adquiridos pelo homem
enquanto ser social. [...] b) é o processo dinâmico de socialização pelo qual todos esses
fatos de cultura se comunicam e se impõem, em determinada sociedade [...]. Nesse
sentido, a cultura praticamente se identifica com o modo de vida de uma população
determinada, vale dizer, com todo esse conjunto de regras e comportamentos pelos
quais as instituições adquirem um significado para os agentes sociais e através dos quais
elas encarnam em condutas mais ou menos codificadas.
(JAPIASSÚ & MARCONDES, 1991, p. 63)
Observamos, então, que somente o homem é capaz de agir e modificar conscientemente
a realidade, pois seu contato com o mundo está vinculado à cultura, a qual resulta
especificamente das transformações realizadas por sua capacidade de criar e tornar
comuns as coisas a seu redor.
Por exemplo: cansado, um homem primitivo senta-se em uma pedra; mesmo sem sofrer
transformação em sua forma, aquela pedra, ao lhe servir de descanso, adquire um
sentido utilitário e passa a ser um objeto cultural.
Por outro lado, a expressão “o homem é um ser cultural”, constantemente utilizada,
confunde mais do que explica, pois não é raro que se vincule o conceito de cultura à
instrução, à formação intelectual, à erudição, privilégios de poucos. Porém, quando
tratamos do termo em seu sentido antropológico, vemos que cultura é toda
transformação exercida pelo homem sobre a natureza.
Verificamos assim que, independentemente do espaço geográfico em que está inserido,
todo homem é um ser cultural – o que significa que não existe uma cultura superior e
outra inferior, mas culturas diversificadas, e devemos entender que ser diferente não é
ser melhor nem pior, é simplesmente ser diferente.
Ou seja, a cultura engloba o que pensamos, fazemos e temos enquanto membros de um
grupo social. Nesse sentido, o termo cultura é aplicável tanto a uma civilização
tecnicamente evoluída [...] quanto às formas de vida social mais rústicas [...]. Todas as
sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuem uma cultura. E cada
cultura tem seus próprios valores e sua própria verdade. Podemos acrescentar, por fim, e
numa abordagem mais filosófica, que cultura é a resposta oferecida pelos grupos
humanos ao desafio da existência. (COTRIM, 1999, p. 15)
Ao se instalar no mundo, o homem consegue agir e modificar conscientemente a
realidade que o cerca, vinculando esses procedimentos ao desenvolvimento de seu
psiquismo, a sua capacidade de abstração. A necessidade de viver em contato com seus
semelhantes, interagindo com eles, possibilita a criação de símbolos, de palavras,
da linguagem, enfim, permite o afastamento do concreto e o “domínio” do tempo
(lembrar-se do passado, pensar o presente, projetar o futuro).
Quer dizer, o homem representa, por meio de palavras, ideias e objetos ausentes. Por
exemplo, podemos falar de um elefante sem que ele esteja presente, pois todos os
membros de um grupo já sabem a que se refere a palavra elefante.

A linguagem se manifesta, assim, como fenômeno coletivo, capaz de expressar tudo


aquilo que diz respeito à civilização, dando ao homem a possibilidade de expor
discursivamente seu pensamento, de ordenar, refletir, divulgar e transmitir os costumes
e tradições da sociedade em que vive. A linguagem é, portanto, a capacidade que
permite ao homem a comunicação por meio de um código, o qual é reflexo de seu modo
de ser e de agir e, consequentemente, de sua própria humanização.
Como ser de cultura, o homem cria formas de representação que se disseminam através
do tempo e do espaço, levando ao desenvolvimento dinâmico e contínuo de seu modo
de “estar no mundo”. Para isso, a plena adaptação ao mundo humano requer o
entendimento dos símbolos linguísticos.
O homem descobriu, por assim dizer, um novo método para adaptar-se ao seu ambiente.
Entre o sistema receptor e o efetuador [emissor], que são encontrados em todas as
espécies animais, observamos no homem um terceiro elo que podemos descrever
como sistema simbólico. Essa nova aquisição transforma o conjunto da vida humana.
Comparado aos outros animais, o homem não vive apenas em uma realidade mais
ampla; vive, pode-se dizer, em uma nova dimensão da realidade.
(CASSIRER, 2001, p. 47-48)
Esta ação do homem sobre a natureza, modificando o ambiente, seu espaço físico, por
interesses próprios, é denominada trabalho, conjunto de atos humanos realizados de
modo consciente e intencional. Nesse sentido, o trabalho é considerado de modo
positivo, visto que, ao modificar a natureza, o ser humano trabalha e se realiza, e essa
atividade implica a satisfação de suas necessidades primeiras: alimentação, moradia,
defesa, entre outras.
Quando pensamos sobre o papel do trabalho em seu aspecto individual, verificamos que
ele permite ao homem expandir suas energias, desenvolver sua criatividade e realizar
suas potencialidades. Pelo trabalho, o homem é capaz de moldar a natureza e, ao mesmo
tempo, alterar a si próprio. Ou seja, trabalhando, o homem pode modificar o mundo e a
si mesmo, produzir cultura e se autoproduzir. Em seu aspecto social, isto é, como
esforço conjunto dos membros de uma comunidade, o trabalho tem como objetivo
último a manutenção da vida e o desenvolvimento da sociedade. (COTRIM, 1999, p.
28)
Os homens, de fato, começaram a produzir cultura quando fizeram, da pedra bruta,
facas e pontas de lança para cortar, ferir e matar; quando fabricaram utensílios de uso
cotidiano a partir do barro; quando aprenderam a usar como vestimenta as peles dos
animais abatidos; quando começaram a plantar, a colher e a armazenar mantimentos;
quando, mais tarde, descobriram os métodos necessários à construção de casas sólidas e
confortáveis; e assim por diante.
Vemos, pois, que existe na concepção do existir humano uma relação profunda e
indissociável entre cultura, linguagem e trabalho, já que estes elementos fundamentais
moldam a vida do homem desde o nascimento. Ao contrário dos animais, que se
adaptam perfeitamente à natureza, nós – não só pela necessidade de sobrevivência, mas
também pelo desejo de conforto – somos capazes de transformar o meio em que
vivemos, a partir de nosso próprio esforço e ousadia.

A modificação da natureza por seu agir leva o homem a desenvolver técnicas e


instrumentos, transmitidos e aperfeiçoados de geração em geração, possibilitando,
sempre, a instauração de novas tecnologias.

Se, de início, o trabalho e o uso das técnicas contribuem para facilitar a vida do ser
humano, ambos passam a exercer, posteriormente, uma forma de controle e exploração
de poucos sobre muitos. Isso porque, especialmente nas sociedades antigas mais
complexas e hierarquizadas, houve grande depreciação a respeito do valor do trabalho e
da técnica.
No alvorecer da humanidade, o trabalho era coletivo, e todos participavam dos mesmos
afazeres; porém, as mudanças resultantes do desenvolvimento das sociedades alteraram
esta visão positiva, de participação solidária, desvirtuando sua função inicial.
Para as classes dominantes daquele tempo, tudo que se relacionasse com a realidade
prática seria indigno de seus interesses, devendo ser executado por aqueles desprovidos
de habilidades intelectuais. Assim, enquanto a elite se dedicava a questões
mais “nobres” – tais como política, filosofia, ciência –, o fazer técnico (a techné)
vinculava-se a classes sociais menos favorecidas.

Na Grécia Clássica, por exemplo, os cidadãos participavam ativamente da vida pública,


das guerras e das decisões do governo, mas, de modo geral, desconsideravam o trabalho
manual ou material dos artesãos, marceneiros e outros. Numa sociedade como a grega,
não caberia aos atenienses – aqueles que tinham direito à cidadania – o
desenvolvimento de técnicas “braçais”, visto que apenas o trabalho intelectual daria
plenitude à vida humana.
Esta visão preconceituosa leva o homem a “separar” o pensamento da ação, valorizando
a intelectualidade em detrimento do trabalho braçal; isto é, o trabalho intelectual, ou
mental, seria superior ao trabalho manual, ou material – como se fosse possível essa
distinção entre o pensar e o agir.
Contudo, devemos enfatizar que é o processo de aprimoramento das técnicas na criação
de ferramentas de trabalho que vai possibilitar a intervenção na natureza, quando o
homem sentir a necessidade de modificar o meio ambiente. Assim, em vez de usar as
mãos, o ser humano recorre a instrumentos por ele criados e que facilitem sua tarefa de
agir sobre o mundo. Estes instrumentos, cada vez mais aperfeiçoados, serão
transmitidos de geração em geração, proporcionando a criação de novas fontes de
desenvolvimento.
Considerando as transformações históricas, podemos observar que, ao fim da época
medieval, a relação entre trabalho e técnica há de se modificar, e as mudanças daí
decorrentes, como a ascensão da classe burguesa, vão determinar novos rumos para a
vida em sociedade. A partir de então, aliada às ciências emergentes, a técnica passa a ser
valorizada e incorporada ao progresso.
Entretanto, as grandes transformações ocasionadas pela união da ciência com a técnica
passam a assumir contornos dúbios, já que, ao mesmo tempo em que se desenvolve, a
ciência, quando mal aplicada, pode provocar sérios danos aos recursos naturais e ao
próprio homem, causando um desequilíbrio ecológico, que pode significar o fim da
própria civilização.
Outro ponto de considerável relevância, além do domínio da natureza (para o bem ou
para o mal), é a ascendência que poucos homens passam a exercer sobre muitos. O
filósofo Jean-Jacques Rousseau já denunciava, no século XVIII, os problemas
resultantes do avanço técnico, o qual, segundo ele, aumentaria a desigualdade entre as
classes.
A partir do desenvolvimento e da consolidação das indústrias da Modernidade, a
condição de vida dos trabalhadores foi visivelmente alterada. Enquanto os artesãos, por
exemplo, antes dominavam todas as etapas de seu trabalho, posteriormente, com o
advento das máquinas, este mesmo artesão não tinha como competir com os produtos
industrializados, transformando-se, então, em operário da fábrica, sem condições de
domínio sobre seu fazer, realizando mecanicamente suas funções, de modo alienado.
O processo de alienação afeta milhões de trabalhadores nas sociedades capitalistas
modernas, onde a produção econômica transformou-se no objetivo do homem, em vez
de o homem ser objetivo da produção. Esse processo iniciou-se no século XIX, quando
o trabalho na maioria das indústrias começou a tornar-se cada vez mais rotineiro,
automatizado e especializado ao ser dividido em múltiplas operações. Visava-se com
isso economizar tempo e aumentar a produtividade. [...] tudo transcorre sem que o
operário tenha controle sobre o produto final do seu trabalho, nem governo sobre a
finalidade do que fabrica. Sempre repetindo as mesmas operações mecânicas, o
trabalhador produz bens estranhos à sua pessoa, aos seus desejos e às suas necessidades.
(COTRIM, 1999, p. 30)

O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, é um exemplo clássico da crítica à


condição do operário no início da mecanização industrial, com o advento da linha de
montagem.
Com efeito, o processo de alienação provoca uma ruptura entre o trabalhador e o bem
produzido, separando homem e objeto; porque, na maioria das vezes, o operário perde
sua autonomia e não tem condições de adquirir aquilo que ele próprio produz.
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) criticava as condições alienantes em que
viviam os operários. Por não poder usufruir daquilo que produzem, estes trabalhadores
são “despossuídos” do fruto de seu próprio trabalho. Marx associa a alienação a uma
“despossessão”, sustentando a inexistência de acesso do operário ao bem produzido.
Em nossos dias, o conceito de alienação aplica-se a vários aspectos da realidade,
interferindo tanto na política quanto na vida social, o que leva o homem a perder sua
autonomia e a consciência crítica de seu fazer. Podemos também perceber a alienação
quando o indivíduo é compelido a adquirir produtos que, muitas vezes, não passam da
mera criação de “necessidades” inúteis por parte das grandes corporações que alicerçam
o capitalismo.
A falta de acesso aos bens produzidos, a precariedade dos serviços públicos e a
dificuldade de emprego provocam o surgimento de um número cada vez maior de
excluídos, incapazes de aproveitar os benefícios da cidadania. Estes fatores perpetuam
as diferenças entre as classes, descambando para o etnocentrismo (a sociedade
dominante como modelo único) e para a xenofobia (aversão ao estrangeiro).
Não podemos esquecer que essas ações, ou normas sociais, são sustentadas pela
ideologia dominante. De fato, a ideologia, como “ciência das ideias”, naturaliza a
divisão de classes das sociedades, fazendo com que exista uma aparente harmonia entre
os membros do grupo, mascarando, porém, as diferenças e as desigualdades sociais.
Assim, o indivíduo passa a agir de acordo com as normas estabelecidas e, sem a devida
percepção, assimila essas regras passivamente, sem contradizê-las. A ideologia
apresenta, então, um mundo idealizado, onde a realidade – mesmo com a divisão entre
ricos e pobres – é naturalizada.
Entretanto, embora o processo de divisão e de exploração do trabalho possa provocar a
alienação do indivíduo, é importante destacarmos que o ser humano é capaz de transpor
os obstáculos com os quais se depara, por força de sua inata capacidade de pensar e de
agir; e é justamente este vínculo indissociável do pensamento e da ação que possibilita o
entendimento e a reflexão sobre a realidade e sobre o próprio conceito de homem.
O homem: uma perspectiva filosófica
Dependendo de cada sociedade em seu processo civilizatório, a compreensão sobre a
existência do ser humano assume aspectos diversos e algumas vezes contraditórios, já
que, além da influência espontânea do grupo, outros fatores, tais como a educação e a
herança cultural, interferem na formação dos indivíduos.
Nos primórdios da civilização, os seres humanos se inquietavam com tudo o que
acontecia a sua volta, e os fenômenos da natureza eram grandes mistérios. O dia, a
noite, a chuva, a tempestade, o vento, o frio, a seca, todas estas manifestações naturais
causavam um medo além da compreensão humana.

Foi por isso que, na tentativa de entender estes fenômenos, os homens acabaram por
vinculá-los às divindades. Engendraram, então, histórias fantásticas – as narrativas
míticas – a respeito do que lhes causava estranhamento.
Na Antiguidade grega, na época arcaica, por exemplo, especialmente quando a
sociedade ainda era ágrafa (não se expressava através de sinais gráficos), os homens
estabeleceram diversos cultos aos deuses, reverenciando-os sem qualquer
questionamento ou crítica, pois os fenômenos da natureza, comandados pela vontade
divina, independeriam dos indivíduos do grupo, simples e impotentes mortais.
Aos poucos, porém, as explicações míticas sobre a origem do universo, relacionadas
à cosmogonia – gênese do cosmos – passam a ser insatisfatórias. Daí o surgimento
da cosmologia – descrição racional do cosmos –, pela qual se procura esclarecer o
princípio originário (a arché) do universo.
Desse modo, diferentemente das narrativas míticas, de aceitação passiva, os primeiros
pensadores gregos buscam a compreensão do princípio fundante do universo, por
intermédio de investigações cosmológicas. Para eles, tal origem resultaria dos quatro
elementos da natureza – água, terra, fogo e ar –, que, juntos ou isolados, teriam dado
início à formação do mundo.
Conhecidos como Filósofos da Natureza, ou Pré-socráticos, poucos textos destes
pensadores chegaram até nossos dias, mas seus fragmentos (pequenos trechos do que
escreveram) servem sempre de motivo para reflexão. Conheça alguns desses
fragmentos, clicando no nome de cada pensador.

 Tales de Mileto

Para Tales de Mileto (640-548 a.C.), a água é o elemento primordial de todas as coisas.

 Anaxímenes

Anaxímenes (588-524 a.C.) afirma que o princípio de tudo o que existe é o ar.

 Xenófanes

Em Xenófanes (séc. IV a.C.), o elemento originante é a terra.

 Heráclito

Heráclito (séc. VI-V a.C.) diz que o fogo é o gerador do processo cósmico; para ele tudo
está num movimento infinito, em constante devir (ninguém se banha duas vezes no
mesmo rio).

 Pitágoras
Pitágoras assegura que o número é a arché que possibilita a harmonia de todas as
coisas.

 Parmênides

Parmênides, ‘antagonista de Heráclito’, dizia que a mudança é ilusão, pois a essência


seria imutável.

 Empédocles

Já em Empédocles, os quatro elementos compõem a formação de tudo.

 Leucipo e Demócrito

Por fim, Leucipo e Demócrito sustentam que o universo é composto por átomos.
Gradativamente, então, a reflexão filosófica se volta, de modo mais específico, para a
condição humana, analisando antropologicamente o papel do homem no mundo. Pouco
a pouco, como já destacamos no início desta aula, a indagação sobre “O que é o
homem?” passa a constituir a base do conhecimento filosófico. Veja o que pensavam os
principais filósofos da época, clicando na imagem de cada um deles.

Dentre as teorias filosóficas clássicas que se destacam em sua forma de buscar a


compreensão do que é o homem, a concepção metafísica da natureza humana é uma
das mais representativas, pois surgiu na Antiguidade grega – especialmente com
Sócrates, Platão e Aristóteles –, atravessou séculos, e até hoje continua válida quando se
pensa a natureza humana em seu sentido amplo, igualando todos os homens, sem
distinção de classe ou riqueza.
A concepção metafísica valoriza, em especial, a essência humana, eterna, única e
imutável; não atrelada, portanto, à dinâmica social. O homem, no sentido amplo, é
compreendido de modo abrangente, independentemente de suas particularidades, do
tempo e do espaço em que se encontra. Para a visão metafísica, não importam as
características específicas de cada indivíduo (quanto ao sexo ou idade, por exemplo),
pois o que conta é a essência comum a todos eles. Desse modo, a essência é única e
idêntica em todos os seres humanos.
Podemos também pensar, de modo metafísico, os conceitos. Por exemplo: a ideia de
cadeira é abstrata, logo metafísica, pois não estamos nos referindo a um objeto
específico, mas a um conceito amplo, que abarca qualquer modelo de cadeira.

Mas, ao considerar apenas um modelo abstrato e universal, os problemas concretos do


homem em suas relações sociais e históricas não são levados em conta, provocando
muitas críticas de pensadores que se dedicaram a conceber a existência humana de
modo mais concreto e específico.
Dentre os pensadores mais críticos a tal corrente abstrata e universal podemos destacar
Friedrich Nietzsche e, posteriormente, Jean-Paul Sartre, que constituem exemplos
clássicos de oposição à corrente metafísica.

Friedrich Nietzsche (1844-1900)


O pensamento de Nietzsche revoluciona os modelos clássicos da filosofia, desde sua
exacerbada crítica à metafísica e a Sócrates até a tentativa de “implosão” aos valores
vigentes de sua época. Para ele, existiriam dois elementos distintos: o espírito apolíneo
(da forma, da ordem da razão) e o espírito dionisíaco (do deus Dioniso, representando a
paixão, o delírio, a emoção), os quais deveriam se manifestar igualitariamente, mas que
a sociedade procurava sufocar no que tange aos apelos dionisíacos.
Outra crítica à metafísica, das mais representativas, é a corrente existencialista,
característica da época contemporânea, que desenvolve uma oposição contundente ao
modelo único de uma essência abstrata. Um dos principais pensadores do
existencialismo é o francês Jean-Paul Sartre, que defende o valor autônomo da
consciência e da liberdade humana. De acordo com ele, a liberdade é a característica
primordial do ser humano (“nós somos aquilo que fazemos do que fazem de nós”), que,
dotado de consciência, é responsável por seu próprio destino e por suas escolhas (“a não
escolha também é uma escolha”). Portanto, e seguindo o pensamento de Sartre, o
homem é um ser condenado à liberdade, que constrói seu próprio destino e é
responsável por ele.

Jean-Paul Sartre (1925-1980)


Com relação ao que o homem representa e deseja em determinado espaço temporal,
muitos são os modelos ideais forjados, mas existem entre eles, como pudemos observar,
concepções bem contraditórias. Assim, as duas correntes já mencionadas apresentam
possibilidades divergentes de como pensar o homem no mundo.
Na elaboração de suas teses, os filósofos que brevemente examinamos buscaram
desenvolver seus sistemas e ideias de modo claro e preciso, a fim de que seus
argumentos fossem bem compreendidos e não dessem margem a contradições ou
dubiedades. Isso porque, em Filosofia, não temos a garantia antecipada própria das
ciências exatas e naturais. Ou seja, não se pode dizer que um sistema filosófico é
superior a outro, assim como não podemos afirmar que Aristóteles suplantava Platão, ou
vice-versa.
Por isso, sempre foi e será necessário que as ideias expostas pelos filósofos tenham por
base uma organização lógica e coerente que possibilite o pleno entendimento dos
raciocínios expostos.

Encerramento

Por que se considera que o homem é um ser cultural?


Porque, ao se instalar na natureza, o ser humano modifica o meio de acordo com suas
necessidades e interesses, num processo constante de transformação, cujo resultado é a
criação da cultura, pois, diferentemente dos animais, adaptados e integrados ao meio em
que vivem, a relação do homem com o mundo é de permanente enfrentamento.
De que modo as transformações da técnica contribuem para o desenvolvimento
humano?
Com o aperfeiçoamento das técnicas, o homem ampliou sua visão de mundo,
modificando seu modo de vida. Assim, ao aprimorar seus instrumentos de trabalho, o
ser humano aperfeiçoou também suas ações sobre o mundo, o que lhe possibilitou,
gradativamente, seu desenvolvimento.
Por que o questionamento filosófico se afasta das narrativas míticas?
Porque pelo questionamento filosófico o homem deixa de aceitar passivamente as
normas predeterminadas e as explicações sobrenaturais que lhes são transmitidas,
procurando alcançar um entendimento racional sobre a origem do universo, livre da
recorrência ao sagrado.
Resumo da Unidade
Como vimos, o ser humano se destaca dos animais irracionais devido a sua inata
capacidade de adequar o ambiente a suas necessidades, elaborando técnicas cujo
resultado é o desenvolvimento ininterrupto da cultura.
Em sua ação sobre a natureza, o homem estabelece costumes e valores sociais que lhe
permitem diversificar sua visão de mundo, na busca de um entendimento capaz de levá-
lo a refletir sobre a realidade que o cerca e sobre si mesmo.
Vamos observar que é por meio do pensamento lógico que o ser humano tem condições
de elaborar corretamente seu raciocínio.

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