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Curso Pedagogia, Letras e Arquitetura

Disciplina ANTROPOLOGIA
Nº da Aula Aula 5
Prof. Conteudista Prof. Dr. Antonio Walter Ribeiro de Barros Junior

Título da Aula

Elementos constitutivos da cultura: costumes, hábitos, linguagem, dentre


outros; Cultura e Personalidade.

Texto da aula

Prezados Estudantes,

Podemos perceber que a cultura representa, num primeiro momento, a resposta do homem às
suas necessidades básicas e desafios impostos pela própria natureza. Pode-se perceber que a
cultura caracteriza-se por um complexo de configurações, produtos, símbolos, ações
adaptativas, invenções construídas pelo homem individualmente ou em grupo e que se
integram, sustentando o indivíduo e o próprio grupo.

Continuando a reflexão da última aula, apresentaremos agora outros conceitos e discussões


sobre as implicações culturais em sociedade, por meio de uma leitura antropológica.

1. Conceitos de Cultura1
Para Linton (1959), cultura é “um grupo organizado de respostas aprendidas,
características de determinada sociedade”. Seria só isso? O que poderíamos dizer sobre essa
aparentemente simples palavra?

Segundo a maior parte dos antropólogos, existiriam critérios fundamentais que


poderiam ser usados para reconhecer uma cultura. Tais estudiosos criticam antigas teorias de
que a Europa seria possuidora de uma cultura de tipo superior, em detrimento dos outros

1
Op. Cit. Pag. 54 a 58.
povos que seriam dotados de pouca ou nenhuma cultura, apenas tomando por critério seu
desenvolvimento tecnológico. Foi apenas a partir de fins do século XIX que, pelo menos
teoricamente, essa ideia deixou de prevalecer. No inconsciente das massas, contudo, persiste
ainda a visão eurocêntrica de que civilização e cultura só existem no Ocidente.

Atenção:
De modo geral, a cultura necessita de três aspectos para ser reconhecida como tal:
1. precisa ser inventada;
2. precisa ser transmitida para as próximas gerações;
3. precisa ser perpetuada, seja em sua forma original, seja noutra forma
modificada.

O desenvolvimento da cultura está relacionado com suas condições objetivas. Uma


destas condições é a presença do homem. Outra dessas condições é o tipo de ambiente em que
esse homem se acha situado.

Importante:

O homem difere de todas as outras criaturas no planeta, pela posse das seguintes características:

1. relativa independência das reações instintivas automáticas, ante estímulos do


meio;
2. extraordinária capacidade plástica (transformação da natureza);
3. inteligência complexa e grande educabilidade;
4. alta capacidade para o desenvolvimento do pensamento simbólico.
5. presença da fala (principal instrumento de sobrevivência e de dominação);
6. alta capacidade criativa e inovadora.

Já sabemos que, em função do tamanho de seu cérebro, da posição ereta, da oposição


de seu polegar, o homem foi lentamente se distanciando de sua primeira natureza (a animal), e
estabelecendo uma segunda natureza, a humana, caracterizada pela produção material e pela
necessidade da utilização destes instrumentos.

Saiba Mais:

Fundamentalmente, o homem é um ser cultural, adaptando-se ao meio em que vive, criando uma
relação ampla, técnica e criativa com o meio, no intuito de superar as dificuldades que encontra em
sua jornada pelo planeta. Assim, respondendo ao meio, acaba por distanciar-se cada vez mais do
mundo natural. Desenvolve, deste modo:

1. padrões de comunicação - linguagem gestual, escrita, falada, sons etc;


2. traços materiais - modos específicos de obtenção de alimentos, hábitos alimentares e
de abrigo, utensílios, armas, indústrias, transportes;
3. troca de bens e serviços – escambo, tráfico e comércio;
4. formas de propriedade – real e pessoal, individual e coletiva;
5. padrões sexuais e familiares – casamento e divórcio, tutela, herança;
6. controles societais – costumes, hábitos, opinião pública;
7. governo – formas políticas, procedimentos judiciais e legais;
8. práticas religiosas e mágicas;
9. mitologia;
10. filosofia;
11. ciência;
12. arte;
13. interesses recreativos e outros.

Todas estas respostas fazem parte de nossa estrutura humana, que ao longo da
evolução foi se especializando e se aprimorando, constituindo nosso modo operante de ser,
uma personalidade própria. O processo de transmissão destas estruturas se deu por meio da
comunicação que está presente em todos os seres vivos deste planeta. Especificamente no
homem, há uma complexidade dos modos comunicativos como: gestos, sons, símbolos entre
outros, sendo a fala o processo mais comum e marcante para todos nós.
Geralmente, todos os padrões intelectivos e materiais são frutos da interação social do
homem e nascem da integração do grupo em seus respectivos espaços (geográficos e
históricos). Assim, do “homem primitivo” até hoje, o ser humano transmite seu modo de ser e
suas invenções técnicas, quer por meio da fala, quer por meio de outras modalidades de
tecnologia linguística. Há uma complexidade do sistema de linguagem que envolve a fonação,
a estrutura cerebral, as experiências dos indivíduos frente ao grupo, o condicionamento social,
o processo de significação sincrônica entre sons e ideias, etc.

Desta maneira, os significados linguísticos são símbolos e representam alguma coisa


material, que na realidade não estão presentes aos nossos sentidos em forma física. Podemos
dizer que a linguagem é constituída de instrumentos culturais extremamente complexos e que
se especializam por meio da cultura humana.

Saiba Mais:

Coroa da Rainha sumeriana Shub-Ad, que reinou na Mesopotâmia na primeira dinastia da


cidade de Ur. Seu túmulo foi escavado por Sir Leonard Woolley, do Museu Britânico em
1929. Ela foi enterrada com seu esposo, o rei, em um grande complexo funerário em 2900
aC.
A rainha suméria foi enterrada com 74 criados, muitos dos quais também usavam adornos
na cabeça, mas nada que se comparasse ao dela. Segundo o Woolley , este ritual constitui
um "sacrifício humano numa escala pródiga", ou seja, juntamente com o Rei ea Rainha,
inúmeros atendentes masculino e feminino, os soldados, noivos, damas , damas de honra,
etc também foram sepultados vivos (mesmo um harpista e sua harpa dourada, incrustada
com lápis azuli) Charretes, carroças e seus animais também foram enterrados com eles.

Na foto, a coroa que a rainha usava, com belas espirais de ouro, terminando em lápis azuli,
centrado flores de ouro (ou estrelas). Museu Britânico, 2004 – Foto do Autor.

Como todos os animais, o homem teve de adaptar-se ao meio. Essa adaptação ocorreu
em várias direções como destacaremos. Todas elas com um único e exclusivo propósito: a
sobrevivência. Dedos ágeis, polegar opositor, memória flexível, habilidade para perceber e
resolver problemas, comunicação diversificada (gestos, sons fala e escrita) são exemplos de
adaptações que possibilitaram ao homem controlar seu ambiente.
A cultura, como fenômeno complexo e tipicamente humano, pode ser entendida
segundo três aspectos, como apontam Marconi & Presotto (2001), em sua origem, forma e
finalidade.
Quanto à origem: cultura deve ser entendida como processo laborioso, fruto das
experiências humanas de sobrevivência e adaptabilidade intelectual, social e material, recebida
e transmitida pela hereditariedade social dos grupos humanos.
Quanto à forma: podemos caracterizá-la como sensível, dinâmica, múltipla e criativa,
dando ao homem uma compreensão deste mesmo mundo, buscando dar significado a ele.
Quanto à finalidade: a cultura direciona-se à realização total (material, intelectual e
transcendente) do homem, na busca de solução para suas necessidades.
Eis a marca característica de nossa espécie: criadores e inventores, suplantando a
primeira natureza (animal) e criando o mundo da cultura, produto da aprendizagem, mais que
da hereditariedade.
Da caça primitiva nas savanas à construção de espaçonaves, a aventura humana foi e
continua sendo incrível. Podemos hoje olhar para nosso passado com espanto e nos
perguntarmos como chegamos até aqui hoje, criando expressões cada vez mais complexas de
civilização.
Contudo, o desenvolvimento humano não foi e nunca será uniforme; ainda temos no
mundo de hoje sociedades nômades ou pré-letradas, que ainda vivem do extrativismo, da caça
e da pesca, mantendo seus hábitos e costumes milenares, suas culturas singulares. É
fundamental que possamos entender tais grupos.
O crescente processo de globalização econômica e cultural levou muitos destes grupos
a se fragmentarem em seu ethos, restando pouco para poderem se identificar como grupo.
Podemos exemplificar este fato citando o caso específico de inúmeros grupos indígenas
brasileiros que, lenta ou violentamente, foram desaparecendo, cedendo lugar à cultura do
branco/português. O eurocentrismo trouxe consigo a discriminação racial/cultural, que ainda
permanece em nossa população.

Reflita:
Caro estudante, após o estudo da cultura e antropologia cultural, que relações você
poderia estabelecer entre relativismo cultural e etnocentrismo?

É possível estabelecer uma hierarquia entre as culturas dos diferentes povos? Por
quê?

Pesquise exemplos históricos em que o conceito de “transculturação” pode ser


aplicado;

Pesquise exemplos históricos de “aculturação”;

Partilharemos em um chat os temas para discussão

Referências Bibliográficas:

BARROS, Antonio W R. Antropologia: uma reflexão sobre o homem. 1ªed. Bauru: EDUSC,
2011
LINTON, Ralph. O homem: uma introdução à Antropologia. São Paulo: Martins, 1959.

MARCONI, Marina de Andrade/ PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma


introdução. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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