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Introdução à Linguística

Linguagem, língua e Linguística

Alexandra Pinto
Linguagem; língua e Linguística

O que é a Linguística?

Introduction to Linguistics, MITOPENCOURSEWARE

“Este curso estuda o que é linguagem e em que consiste o conhecimento de uma língua. Ele tenta saber
como as crianças aprendem línguas e se a linguagem é apanágio único dos seres humanos; por que
existem muitas línguas; como mudam as línguas; se uma língua ou um dialeto pode ser considerado
superior a outro; e como se relacionam a fala e a escrita. Informações sobre estas e outras questões
semelhantes são fornecidas através do estudo básico da organização interna das frases, das palavras e dos
sistemas de sons.”
Linguagem; língua e Linguística

O que é a Linguística?

Course Introduction to Linguistics, University of Leiden.

“The Miracles of Human Language introduces you to the many-faceted study of languages, which has
amazed humans since the beginning of history. Together with speakers of many other languages around
the world, as well as with famous linguists such as Noam Chomsky and Adele Goldberg, you will learn to
understand and analyse how your native tongue is at the same time similar and different from many other
languages. You will learn the basic concepts of linguistics, get to know some of the key features of big and
small languages and get insight into what linguists do.
This course gives an introduction into the study of languages, the field of linguistics. With the support of
the basic linguistic terminology that is offered in the course, you will soon be able to comment both on
variety between languages, as well as on a single language’s internal structure. Anyone who wishes to
understand how languages work, and how they can give us insight into the human mind is very welcome
to join.”
Linguagem; língua e Linguística

O que é a Linguística?

A Linguística é o estudo científico da linguagem e das línguas naturais.

Destacar o sentido da expressão estudo científico

Destacar o sentido da palavra linguagem

Destacar o sentido da expressão línguas naturais


Linguagem; língua e Linguística

A linguagem verbal como uma forma de comunicação e expressão humana que usa de forma sistemática
um conjunto específico de sinais (sonoros ou visuais).

A linguagem verbal como uma capacidade característica da espécie humana. A linguagem humana
decorre da existência geneticamente determinada da faculdade da linguagem.

A linguagem verbal como uma estrutura universal. As características universais da linguagem humana (as
propriedades que todas as línguas possuem em comum) são os universais linguísticos.

“A acumulação de dados disponíveis sobre um grande número de línguas veio mostrar que sob uma
aparente diversidade e variação sem limites, as línguas são sistemas singularmente semelhantes (…)”

(extraído de Inês Duarte, Língua Portuguesa – instrumentos de análise)


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Alguns universais linguísticos:

- todas as línguas apresentam sons que podem ser definidos a partir de um conjunto finito de
propriedades sonoras ou traços;
- todas as línguas apresentam a distinção entre vogal e consoante;
- em todas as línguas os sons servem para formar unidades com significação: as palavras e as frases;
- a relação entre sons e significados nas palavras é, quase sempre, arbitrária, ou seja, convencional;
- todas as línguas contêm classes de palavras como nomes ou verbos;
- Em todas as línguas, as palavras combinam-se para formar unidades superiores: as frases

Cf. excerto de Alice no País da Linguagem, de Marina Yaguello, com uma lista de universais linguísticos:
Linguagem; língua e Linguística

A especificidade da linguagem verbal face a outros processos de comunicação;

Outras formas de comunicação também são designadas de linguagens: linguagem animal; linguagens
artificiais; linguagem matemática; linguagem de programação; linguagem gestual e corporal; linguagem
imagética; linguagem das cores, etc

Mas terão elas a mesma forma de funcionamento da linguagem verbal?

São formas de comunicação sistemáticas?


Os sinais dessas formas de comunicação têm caráter icónico ou arbitrário?
São formas de comunicação geneticamente determinadas ou não?
São formas de comunicação criadas ou são fruto do desenvolvimento da espécie?

Algumas destas respostas ajudam a traçar a especificidade da linguagem verbal.

A linguagem verbal tem um conjunto de propriedades que marcam a sua especificidade no seio de outros
processos de comunicação.
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Há um conjunto de propriedades da linguagem verbal – as chamadas design features (propostas por


Hocktett) – que verdadeiramente distinguem esta forma de comunicação de outras. Destacaremos as
seguintes:

Arbitrariedade - a relação entre o significante e o significado, no signo linguístico, é puramente


convencional e imotivada. A arbitrariedade opõe-se a iconicidade (propriedade de um sinal que é
“geometricamente similar” ao que representa). Apenas as onomatopeias escapam à arbitrariedade.
Caráter discreto - a linguagem humana é constituída por segmentos distintos e separáveis entre si. A
diferença entre as unidades dos sistemas linguísticos é absoluta e não admite graduação; ou seja,
considerando dois sinais, estes ou são absolutamente idênticos (duas ocorrências do mesmo tipo), ou são
absolutamente diferentes.
Criatividade ou produtividade – a partir de um número finito de unidades e de regras, a linguagem
humana permite engendrar frases em número infinito. Não é possível compendiar as frases todas de uma
língua. As línguas não se aprendem apenas por memorização.
Dualidade ou dupla articulação - significa que as línguas têm dois níveis de organização estrutural:
fonológica e gramatical - estes dois níveis de organização estão interligados: os segmentos do nível
inferior (fonemas) compõem os segmentos do nível superior (as formas: palavras; sintagmas; frases) . Os
segmentos de nível inferior não contêm significado mas geram formas com significado.

Ver excerto de José Cardoso Pires em “De Profundis, a valsa lenta.”


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E também:

Reflexividade: podemos usar a linguagem para falar da linguagem (a linguagem pode ser o objeto de
estudo e ao mesmo tempo o instrumento para descrever esse objeto – metalinguagem. Ex: “amigo” tem
três sílabas. A necessidade de distinguir objeto de instrumento para permitir uma maior distanciamento
justifica a metalinguagem. Por exemplo: em vez de palavra, lexema;

Displacement (distanciamento; deslocamento; transposição): a linguagem humana pode ser usada para
referir coisas distantes no espaço e no tempo;

Prevaricação: a linguagem humana permite mentir, falar de coisas fictícias ou inexistentes, criar outros
mundos; jogar com as palavras e os sentidos (produz o sense mas também o nonsense).

Ver definição de linguagem na Infopédia:


https://www.infopedia.pt/$linguagem-(linguistica)
Linguagem; língua e Linguística

A linguagem verbal é um objeto de reflexão complexo.

Nenhuma ciência consegue abarcar, sozinha, toda a complexidade envolvida neste fenómeno da
linguagem humana

A linguagem humana materializa-se nas línguas naturais , as que se desenvolvem espontaneamente nas
sociedades e que são transmitidas e aprendidas, por força da faculdade genética da linguagem.

E são as línguas naturais, a sua organização e o seu funcionamento, que constituem o objeto de estudo
da Linguística.

Existem também línguas artificiais – por exemplo o Esperanto – que foram construídas
premeditadamente num determinado momento histórico para atingir um fim.
Estas línguas são normalmente criadas à semelhança das línguas naturais, todavia, distinguem-se destas
por não serem o resultado de um processo de evolução natural.
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Ex: das línguas criadas em contextos cinematográficos: a língua Na’vi - a língua artificial dos Na'vi, raça
alienígena nativa da lua Pandora no filme Avatar. Criada por Paul Frommer, um professor com
doutoramento em Linguística. Na’vi foi construída para se ajustar ao conceito de James Cameron de uma
língua que não se assemelhasse a nenhuma outra língua humana.

As línguas naturais como um processo natural de evolução da espécie humana: a questão das origens da
linguagem verbal.

A hipótese do Proto-Nostrático.
Linguagem; língua e Linguística

A linguagem humana comporta fatores linguísticos e fatores não linguísticos.


A Linguística estuda os fatores linguísticos da linguagem humana. Outras áreas científicas estudam fatores
não linguísticos da linguagem humana.

Fatores e componentes não linguísticos


a) Contexto;
b) Componente cognitiva;
c) Componente psicofisiológica;
d) Componente fisiológica;
e) Componente física;

Fatores e componentes linguísticos


a) Forma da linguagem humana;
b) Forma e materialidade de uma língua em particular;
c) Cotexto.

Algumas disciplinas da Linguística atual estudam a interface entre fatores intrinsecamente linguísticos e
fatores não linguísticos. É o caso da Sociolinguística; da Psicolinguística, da Pragmática; da Análise do
discurso, por exemplo.
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Conhecimento de uma língua

- conhecer os sons da língua em questão e as suas combinações possíveis;


- conhecer palavras e processos da sua formação;
- estabelecer a relação entre sons e sentidos;
- saber que uma língua não é um mero conjunto de palavras, mas que estas se agrupam em sintagmas e frases
de acordo com determinadas regras;
- saber que o significado está em parte armazenado num léxico, mas que depende também das relações
estabelecidas dentro de uma frase e do próprio contexto de uso;
- saber regras, que são finitas em extensão e em número, mas que devem permitir formar e compreender um
número infinito de novas frases e também certo tipo de novas palavras;
- saber que frases ou textos são apropriados em diversas situações.

Os juízos de gramaticalidade são uma evidência da existência de um conhecimento linguístico interiorizado.


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Conhecimento de uma língua

Diferentes noções de gramática

a) Gramática mental (o conhecimento interiorizado que o falante tem da sua língua);

b) Gramática descritiva (um modelo que descreve a competência linguística do falante);

c) Gramática normativa (um modelo que prescreve os usos linguísticos corretos e incorretos).

“A acepção em que estamos a utilizar a palavra gramática difere num outro aspecto da acepção mais comum.
No nosso sentido, gramática inclui tudo o que os falantes sabem da sua língua (...).”

(extraído de Victoria Fromkin e Robert Rodman , Introdução à linguagem.)


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Aspetos da Aquisição da linguagem verbal

Especificidade biológica da espécie humana para a linguagem verbal. A faculdade da linguagem é


geneticamente determinada

Que evidências existem desta predisposição genética?


Por exemplo, a naturalidade, a facilidade e a universalidade com que as crianças adquirem, nos primeiros
anos de vida, a língua falada na comunidade em que estão inseridas, sendo a linguagem humana um sistema
de tanta complexidade.
Por exemplo, a naturalidade e a velocidade espantosas com que os humanos processam cada ato de fala
(produzem e percebem/compreendem), sendo o processamento cognitivo e fisiológico subjacente a cada ato
de fala tão complexo.

A faculdade da linguagem é universal, porque resulta da predisposição genética da espécie humana para a
aprendizagem e o exercício desta capacidade .
A espécie humana apresenta características biológicas funcionalmente bem adaptadas para a perceção-
compreensão e produção da linguagem verbal. Estas propriedades são propriedades do sistema nervoso
central e do sistema nervoso periférico, bem como propriedades fisiológicas (aparelho fonador) que não se
verificam noutras espécies animais.
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Aspetos da Aquisição da linguagem verbal

Em condições normais de desenvolvimento, um ser humano exposto à língua falada pelos falantes da
comunidade em que está inserido é capaz de, com base na sua capacidade inata para a linguagem, formular
hipóteses sobre o funcionamento da sua língua materna e, progressivamente, fixar os parâmetros fonéticos,
fonológicos, morfológicos, sintáticos da mesma. Este é o mecanismo de aquisição da linguagem – Language
Acquisition Device (LAD) definido por Chomsky (1986).

Este mecanismo é o objeto da Teoria Linguística ou Gramática Universal. Por outras palavras, a Gramática
Universal caracteriza a faculdade da linguagem geneticamente determinada.

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