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Sinais - Libras
Aula 1
Língua Brasileira de
Sinais - Libras
Aula 1
Sumário
1 Língua e Linguagem 4
1.1 Distinção entre Língua e Linguagem 6
1.2 Língua de Sinais Brasileira
considerada como Língua 9
1.3 Língua 14
1.3.1 Traços Únicos das Línguas 14
1.4 O que é um Mito? 16
1.4.1 Mito 1 16
1.4.2 Mito 2 16
1.4.3 Mito 3 17
1.4.4 Mito 4 17
1.4.5 Mito 5 17
1.4.6 Mito 6 18
1 Língua e Linguagem
Desde os tempos mais remotos o homem procura registrar
os fatos importantes da sua época, do seu tempo. As alternativas
e os recursos para alcançar tal objetivo, no que diz respeito à
transmissão e a recepção da mensagem, são inúmeros, como
exemplo podemos: recursos físicos (fala, audição, visão) e in-
strumentos técnicos como o uso de sistemas convencionais de
signos ou da própria palavra.
O homem pré-histórico, mesmo antes da invenção da
escrita, se utilizava de impressões feitas nas paredes das cav-
ernas, as conhecidas pinturas rupestres, para registrar uma de-
terminada informação. Porém, estas impressões ainda não se
caracterizavam como um sistema de escrita, em virtude de não
existir uma organização social que padronizasse todas as repre-
sentações gráficas.
Um dos primeiros sistemas de escrita, foi criado pelos po-
vos da Mesopotâmia, eles inventaram um tipo de escrita feita
em argila conhecida como cuneiforme. Em 5.000 a.C., os egíp-
cios inventaram os ideogramas, que são conjuntos de desenhos
estilizados, e em 4.000 anos a.C. eles desenvolveram a escrita
em papiros. Somente em 3.200 anos a.C. a escrita sagrada egíp-
cia foi estabelecida através dos hieróglifos. Estes documentos
oficiais são úteis como fonte de registro histórico da cultura e
história desses povos ao longo dos tempos, através deles po-
demos perceber que há muito tempo o homem demonstrava a
necessidade de comunicação.
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Sobre a comunicação, SACKS (2007, p.22), afirma
que:
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1.1 Distinção entre Língua e Linguagem
Linguagem é comumente utilizada para designar toda e
qualquer forma de comunicação, possuindo um sentido mais
amplo, quer sejam sistemas naturais ou artificiais. Assim temos:
a. a linguagem dos animais, como por exemplo: os ma-
cacos quando estão à procura de alimento ou de acasal-
amento, emitem sons que caracterizam a sua solicitação
específica, sendo assim considerada como uma linguagem
natural.
b. a linguagem das máquinas e dos computadores, que
emitem sinais sonoros ou visuais para transmitirem algu-
ma informação, estes, são chamados de sistemas artificiais
Pesquisas desenvolvidas sobre o comportamento das
abelhas por Karl Von Frisch, foram analisados por Benveniste
para explicar o funcionamento da comunicação animal. Para
Benveniste apud Temóteo (2008), a comunicação das abelhas
“não é linguagem, é um código de sinais”, porque esta é limita-
da, não permitindo criar ou decodificar realidades diferentes do
seu habitat natural, resumindo a sua comunicação ao grupo no
qual está inserida por não haver a reciprocidade necessária para
a linguagem. Ele refuta a interpretação linguística behavioris-
ta, demonstrando que a linguagem humana, diferentemente das
linguagens das abelhas e outros animais, não pode ser simples-
mente reduzida a um sistema de estímulo-resposta. De acordo
com LOPES (2000, p.37-38), “a linguagem dos animais não é
um produto cultural, (...) é invariável; (...) composta de índices
(isto é de um dado físico ligado a outro dado físico por uma
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causalidade natural); (...) e não é articulada”. Por outro lado, a
lingua-gem humana é natural, não é herdada como a linguagem
das abelhas, mas o homem aprende a sua Língua e é dotado de
cultura e da capacidade de expressar sentidos diferentes de acor-
do com as diferentes situações, ela se compõe de signos que
nascem das convenções feitas pelos homens e, finalmen-te, a
linguagem humana é articulada, ou seja, se deixa de-compor em
elementos menores que sejam discriminadores de significado.
De acordo com Kojima & Segala (2008, p.4), as Línguas são
consideradas naturais quando:
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QUADROS & KARNOPP (2004, p.27).
A linguagem humana faz parte da natureza do homem e é
através dela que o ser humano exprime seus pensamentos assim
como o animal expressa os impulsos. Para HALL, apud LYONS
(1987, p.28), a linguagem é a maneira pela qual há uma interação
através de canais orais – auditivos. Desta maneira, os grupos so-
ciais que são formados, redefinem a linguagem através do uso de
símbolos que decodificam a sua realidade e expressão à vontade
do ser social. Ele afirma que “(...) a língua que é usada por deter-
minada sociedade é parte da cultura daquela sociedade”.
A opinião de HALL apesar de ser muito relevante, se lim-
ita às línguas orais, pois, para ele, a lingua(gem) só cabe aos
humanos dotados de audição e oralidade, requisito inacessível
às pessoas Surdas que não são capazes de ouvir e, consequente-
mente, não podem falar para se comunicar.
Segundo Temóteo (2008), ao contrário do que muitas
pessoas pensam os surdos não possuem má formação no apa-
relho fonador, o fato de não poderem ouvir não os torna aptos
para reproduzir os sons da fala. O surdo pode falar, mas isso
depende de quanto ele percebe auditivamente a fala e do quanto
ele fala sobre a Língua Portuguesa. Diferentemente das pessoas
“ouvintes” os surdos possuem outro canal comunicativo para a
transmissão e recepção da mensagem. “Língua de sinais e lín-
gua oral apresentam semelhanças e diferenças do ponto de vista
operacional, mas a comunicação em língua de sinais é tão eficaz
quanto na língua oral.” ALMEIDA (2000, p.02).
Apesar de surdos e ouvintes terem línguas diferentes é
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possível que vivam em comunidade sem tantos atritos na co-
municação, desde que haja um esforço mútuo de aproximação
pelo conhecimento das duas línguas, tanto por parte dos ouvin-
tes como dos Surdos. Língua de Sinais Brasileira
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pragmática.
É importante lembrar, que este grupo de pesquisadores
fundamentou seus estudos nas obras inicialmente produzidas
por William Stokoe. Assim, aqui no Brasil, estes pesquisadores
começaram a produzir material e pesquisas atestando a autenti-
cidade da Libras como língua.
De acordo com BRITO (1998, p.19), as Línguas de Sinais
são complexas por que “permitem a expressão de qualquer sig-
nificado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva
do ser humano”. Por meio dela, os seus usuários podem discutir
e estudar sobre os mais diversos assuntos, desde um simples
bate-papo a questões mais complexas, como o estudo de disci-
plinas escolares, política, religião, esportes, filosofia, trabalho,
dentre outros. Pela ausência da voz (fala), forma normalmente
utilizada entre os indivíduos ouvintes na comunicação, surge à
necessidade de uma Língua que não utilize o canal oral-auditivo,
mas sim, um canal espaço-visual, em que a visão, as mãos e o
corpo em si, sirvam de mecanismos para atingir a transmissão da
mensagem entre os Surdos.
LYONS (1987, p. 18; 28), diferentemente de HALL, teve
a preocupação de examinar a Língua de modo a englobar não
apenas os “ouvintes”, mas também os Surdos, ele assegura que:
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comando prévio da lín-gua falada correspondente (...) tais
como os siste-mas utilizados pelos surdos-mudos (...) não
se deve colocar ênfase excessiva na prioridade biológica
da fala.
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Língua de Sinais e a Língua falada:
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como povo com cultura própria.
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1.3 Língua
Conforme estudamos, as línguas são sistemas complexos,
capazes de comunicar sentimentos, emoções, ideias abstratas
ou simplesmente conversações cotidianas como “Oi!”, “Tudo
bem?”. É ainda, um sistema padronizado pelo qual podemos
construir um número infinito de sentenças.
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se-melhanças com o referente. Por exemplo, o objeto MESA,
é designado dessa forma por uma convenção, e não por ter um
significado associado. O que implica dizer que a arbitrarie-dade
é convencional.
Descontinuidade: Apresenta uma diferença entre forma e sig-
nificado com relação à morfologia da palavra (ou seja, o estudo
da forma da palavra). Observe o exemplo das pala-vras: maca e
mala. Ambas diferem um pouco tanto na morfo-logia como na
língua falada, embora apresentem semelhan-ças entre si.
Criatividade: É a característica que permite a construção e a
compreensão de novas sentenças regidas por regras grama-tic-
ais. (QUADROS, 2004).
Dupla articulação: Toda língua é formada de fonemas, que se
articulam uns com os outros para formar as palavras, possuindo
assim um significado.
Padrão: Os elementos nas línguas apresentam um padrão de
combinação dos elementos. Se tomarmos como exemplo as pa-
lavras: rapaz, rapidamente, caminhou, o, há três combinações
possíveis: “O rapaz caminhou rapidamente; Rapidamente o
rapaz caminhou, caminhou o rapaz e o rapaz rapidamente camin-
hou. As outras combinações que forem formadas além destas
são agramaticais e no caso da língua portuguesa, ela apresenta
restrições na maneira em que os itens ocorrem juntos, ou seja,
apresentam um padrão”. (QUADROS, 2004).| Dependência
estrutural: Segundo Quadros (2004, p.28), “Uma língua con-
tém estruturas dependentes que possibilitam um entendimento
da estrutura interna de uma sentença, independe do número de
elementos linguísticos envolvidos”. Como exemplo, observe o
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quadro abaixo: (Quadros, 2004).
A criança
Ela Gritou
1.4.1 Mito 1
A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e ges-
ticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abs-tratos
(QUADROS, 2004, p. 31).
As línguas de sinais expressam conceitos abstratos. Os
usuários podem discutir sobre todo e qualquer assunto como:
política, filosofia, economia, matemática, física e psi-cologia
(QUADROS, 2004).
1.4.2 Mito 2
Haveria uma única e universal língua de sinais usa-
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da por todas as pessoas surdas (QUADROS, 2004, p. 33).
A Língua de Sinais Brasileira não é universal, cada país
possui a sua. Dessa forma, temos aqui no Brasil (Li-bras), nos
Estados Unidos (American Sign Language – ASL) e na França
(Langue de Signes Française - LSF).
1.4.3 Mito 3
Haveria uma falha na organização gramatical da língua de
sinais, que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin,
sem estrutura própria, subordinado e infe-rior às línguas orais
(QUADROS, 2004, p. 34).
As línguas de sinais não estão subordinadas às lín-guas
orais e nem são consideradas inferiores. As línguas de sinais são
línguas naturais, de modalidade diferenciada (ges-tual-visual),
possuindo estrutura e gramática própria.
1.4.4 Mito 4
A língua de sinais seria uma mistura de comunica-ção
superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, ex-pressiva
e linguisticamente inferior ao sistema de comunica-ção oral.
(QUADROS, 2004, p. 35).
Segundo “pesquisas realizadas por Klima e Bellugi apud
Quadros (2004, p. 35), mostram que poesias, piadas, trocadil-
hos, jogos originais, entre outros são uma parte sig-nificativa do
saber da cultura surda”, possuindo assim um conteúdo irrestrito.
1.4.5 Mito 5
As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual
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espontânea dos ouvintes. (QUADROS, 2004, p. 36)
As línguas de sinais são consideradas línguas natu-
rais, autônomas e surgem de forma espontânea, em face da ne-
cessidade que o surdo tem em se comunicar uns com os outros.
1.4.6 Mito 6
As línguas de sinais, por serem organizadas espa-cial-
mente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro,
uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento
de informação espacial, enquanto que o es-querdo pela lingua-
gem (QUADROS, 2004, p. 36).
Pesquisas realizadas por Bellugi e Klima apud Qua-dros
(2004, p. 36), indicaram que as línguas de sinais são processadas
no hemisfério esquerdo, assim como quaisquer outras línguas.
Esse estudo comprova que a linguagem hu-mana independe da
modalidade das línguas.
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