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Línguas artificiais são definidas à partida, enquanto línguas naturais correspondem à ativação
de um potencial inscrito no código genético humano.
Linguagem humana: exclui outros sistemas de comunicação natural, como a dos animais, ou
formas de comunicação codificadas, como as linguagens de programação. Refere-se
exclusivamente à atividade que decorre da FACULDADE DA LINGUAGEM que existe
geneticamente determinada.
Faculdade da linguagem: sendo a linguagem um tipo de comportamento humano, já que todos
os seres humanos falam, deve-se admitir a existência de uma capacidade do sistema cognitivo,
inata e universal, que lhe está associada. Essa capacidade é a faculdade da linguagem, que
permite a realização de atividade linguística (compreender e construir, com base em poucas
dezenas de sons e num conhecimento gramatical implícito, expressões linguísticas) e tem base
no processamento de aquisição da língua (processo comum a todas as crianças, qualquer que
seja o estímulo linguístico a que são expostas). Resultado de um mecanismo cognitivo universal
e genético para este fim.
Universais linguísticos: propriedades comuns às línguas (decorrentes da universalidade da
faculdade da linguagem e a intrínseca relação com a gramática das línguas, que também se
torna universal). Exemplo: a presença de elementos fundamentais na frase (como sujeito e
predicado); o conjunto de sons que podem ser utilizados pelas línguas naturais.
Alguns dos primeiros indagamentos feitos com caráter linguístico foram: saber se a capacidade
da linguagem nasceu com a espécie humana, ou se o desenvolvimento do homo loquens é posterior; se
todas as línguas tem origem num único sistema linguístico ou se a diversidade é um dado de partida (a
questão da existência de uma protolíngua).
Um estudioso de línguas orientais apresentou em uma conferência o parentesco do Sânscrito
com Latim, Grego, Céltico, Gótico e Antigo Persa. A partir daí, surge a curiosidade de comparar o
Sânscrito também com línguas europeias e verificar se havia uma protolíngua, o chamado Indo-Europeu.
No final do século XVIII, iniciou-se o estudo da genealogia das línguas, com base em dados linguísticos e
uma rigorosa metodologia de trabalho.
Descrição rigorosa, sistemática e comparada das unidades fonéticas e morfológicas das línguas,
como objeto em si mesmas, não de meio de conhecimento. Surge o interesse pela descrição das línguas
vivas, faladas por populações contemporâneas. Desenvolve-se a fonética, com os avanços dos estudos
de áreas como a anatomia e a Física, possibilitando uma nova hipótese: da existência de LEIS FONÉTICAS
de caráter absoluto.
Uma das primeiras teorias sobre a origem da linguagem humana foi a teoria onomatopaica,
que dizia que as palavras surgiram da tentativa de imitar os sons produzidos pelos animais e pela
natureza circundante. A imitação tornava-se a palavra que designava o objeto. Outra teoria foi a das
interjeições, propondo que as interjeições poderiam designar frases como “estou com dor”.
No século XIX, a linguística se constituiu como ciência autônoma pelo desenvolvimento de uma
metodologia própria e rigorosa para explicar a diversidade através de um estudo comparativo-genético
que estabeleceria as relações históricas entre línguas bastante diferenciadas. Um método encontrado
para se explicar a diversidade foi atribuir uma origem milenar comum a várias línguas que teriam
derivado de uma língua-mãe originária (protolíngua), o chamado Indo-europeu, e a diversidade seria
resultado de migrações. Esse é o chamado MÉTODO HISTÓRICO-COMPARATIVO, que estabelece
cognatos (palavras descendentes da mesma palavra antiga e que exibem semelhanças sistemáticas e
numerosas em suas formas fonéticas e sentidos) e reconstrói a protolíngua como resultado dessas
ocorrências.
Normalmente se diz que se ensina gramática para tornar os indivíduos capazes de conhecer o
funcionamento da linguagem e de falar e escrever bem. Uma gramática normativa que prescreve
normas que serão válidas em todos os contextos, não levando em conta a variação em qualquer
dimensão ou nível. Por isso, para o falante comum, usuário da língua, não há variação, só uma dualidade
opositiva: o certo (a norma, prescritiva) e o erro.
Ao lidarmos com norma, correção, lidamos com preconceito: social (de que estrato provém?),
regional (qual o dialeto mais prestigiado no país?), religioso, racial... todos muito enraizados e difíceis de
serem vencidos, também no âmbito linguístico.
Não existe uma norma única, mas sim uma pluralidade de normas, normas distintas segundo os
níveis sociolinguísticos e as circunstâncias da comunicação. É necessário reavaliar o lugar da norma
padrão (ideal) em referência às outras normas, levando em consideração que a norma padrão é produto
de uma hierarquização de múltiplas formas variantes possíveis.
A norma não pode ser rígida, pois a língua muda, as normas gramaticais se modificam e nada é
mais prejudicial que um purismo estreito, quase sempre baseado num conhecimento deficiente da
própria língua. Toda língua possui sua norma culta, que não coincide totalmente com a norma literária,
ideal, a qual funciona apenas como força conservadora e unificadora, ponto de referência.
Uma língua se define como língua na medida em que seus usuários se comunicam por meio
dela para viverem socialmente, e os contatos sociais são plurais. A variação resulta da flexibilidade
inerente ao próprio código linguístico e da multiplicidade de usuários que dele se servem. Cada falar,
mesmo o culto, tem sua norma, variantes que prevalecem estatisticamente, mas que não anulam a
ocorrência de outras.
Variação: consequência da própria linguagem de nunca ser idêntica em suas formas através da
multiplicidade do discurso (também considera escrita versus fala).
A gramática normativa vê a língua como algo homogêneo, imutável, e é essa ideia que é
passada no ensino de todos os níveis.
Há certos usos consagrados na fala, e até na escrita, que, a depender do estrato social e do
nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até nos falantes que dominam a
variedade padrão, pois revelam tendências da língua em seu processo de mudança que não pode ser
bloqueado pelas regras da gramática normativa. E esses usos revelam a existência, não de uma norma
única, mas de várias normas (norma sendo hábito linguístico). Há uma intersecção de uso entre as
variações que compõe uma norma nacional distinta do português europeu (também da norma culta
local distinta da popular ou vernácula), porém, essas variações tem diferentes motivadores: históricos,
urbanos ou não urbanos, prestigiadas ou estigmatizadas.
Por exemplo, o uso equivocado (e frequente) de ter e haver atinge pessoas de todos os níveis e
estratos sociais e, na fala, não é estigmatizado. A ideia de que haver é um verbo impessoal quando com
sentido de existir, apesar de muitos não usarem dessa forma, mostra a dissonância entre a gramática
normativa e o uso da língua. Os meios de comunicação parecem um modo de atenuar a polarização
linguística, porém isso se revela uma ideia equivocada.
Se qualquer falante já possui uma gramática internalizada – sistema de regras e princípios
universais – ao ingressar na escola, ele deve desenvolver a sua competência comunicativa de tal modo
que possa “utilizar melhor” a sua língua em todas as situações de fala e escrita, isto é, possa ser capaz
de refletir sobre a capacidade linguística que ele já possui e domina no nível intuitivo. Essa reflexão deve
ir além da observação do que é “certo” ou “errado”. A prática de leitura e escrita fará com que o
indivíduo entre em contato com uma pluralidade de normas além da sua. Pode-se ensiná-lo a usar
apenas a norma culta padrão, ou pode-se pensar em eficácia comunicativa, proporcionando domínio
das várias modalidades de uso e da modalidade culta da comunidade de que ele faz parte.
Mendes – Língua e variação
Se uma língua é um sistema, a variação linguística é fato observado nos seus subsistemas. Por exemplo,
pode-se verificar variação no nível fonético/fonológico do Português: pronúncia de algumas vogais (o)
ou consoantes (r) dependendo da região do país. As diferentes pronúncias dessas letras são variantes da
variável “pronúncia de letra”, e são semanticamente equivalentes. Pode-se, também, verificar variação
sintática: a ordem dos elementos é trocada, porém não há variação semântica (aonde você vai? Você
vai aonde?) e variação morfossintática: nós – a gente, a marcação de plural – ora pelo verbo, ora pelo
verbo e pronome (nós, a gente).
(a) Nós (es)tamos tratando de linguística
(b) Nós tá tratando de linguística
(c) A gente (es)tá0 tratando de linguística
(d) A gente tamo tratando de linguística
Para o linguista, todas essas formas são possíveis em português. Para o sociolinguista,
interessa descrever e explicar as ocorrências de todas essas formas e explorar a premissa de que as
diferenças entre elas são, por um lado, linguisticamente indiferentes (formas de dizer a mesma coisa),
por outro são socialmente relevantes (positiva ou negativamente).
Ainda sobre variação morfossintática, existe também o fato sociolinguístico de “não existir
certo ou errado, mas possibilidades que uma língua oferece”:
(a) Suas matérias de quinta são Física e Química
(b) Suas matéria de quinta são Física e Química
(c) Sua matérias de quinta são Física e Química
A maneira (a) corresponde à regra de concordância nominal da norma culta, que o
sociolinguista costuma denominar como variante de prestígio A única possibilidade que não existe na
língua é a opção (c), as outras duas são modalidades de colocação de plural existentes. A colocação de
plural apenas no segundo elemento não é um fato verificado no uso, portanto, esse sim configuraria um
“erro”. Não há nenhuma razão inerentemente linguística para que a norma culta seja considerada da
classe mais alta e a alternativa (b) seja a variante da classe baixa, visto que ambas existem.
MASSINI-CAGLIARI– Prosódia
O acento prosódico não deve ser confundido com o acento gráfico (agudo, circunflexo e grave),
essa noção de acento está ligado à tonicidade das palavras. Sílabas tônicas podem ter acento primário,
secundário ou frasal.
Acento prosódico (acento primário, lexical ou tônico): ocorre em uma das três últimas sílabas
da palavra, tornando-a classificável em “oxítona”, “paroxítona” ou “proparoxítona”.
Acento secundário: a palavra “cafezinho” tem acento primário em “zi” e pode ter secundário
em outros segmentos como “ca”.
Acento frasal: sempre coincide com sílaba de acento primário, é o que realiza a entoação da
frase.
Acento morfossintático: é uma junção de artigo e preposição marcada por um acento gráfico, a
crase.