Você está na página 1de 57

INTRODUÇÃO À

LINGUÍSTICA

Prof. Dr. Sávio André Cavalcante


Doutor em Linguística – PPGL/UFC
INSTITUTO UFC VIRTUAL

LICENCIATURA EM LETRAS -
PORTUGUÊS
DISCIPLINA: Introdução à Linguística
COORDENADOR: Prof. Dr. Yvanowik D.
Valério
PROFESSOR: Dr. Sávio André
Cavalcante
AVISOS
Frequência:
Total: 64h/a (faltas: 25% = 16h/a)
Chats, fóruns e portfólios (48h/a) e aulas presenciais (16h/a)

Notas:
Portfólios e fóruns (40%)
0 - 10
Prova presencial (60%): 0 – 10

Conceitos:
A: aprovado por média (nota acima de 7,0)
B: aprovado por média final (nota entre 4,0 e 6,9)
R: reprovado por nota, mas aprovado por frequência
F: reprovado por falta
AULA 1

LINGUÍSTICA: A
CIÊNCIA DA
LINGUAGEM
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

O que se
estuda no
Curso de
Letras?
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

O curso de Letras preocupa-se em investigar o funcionamento da


LÍNGUA - estudos científicos que:
 dão conta do funcionamento da Língua;
 descrevem como uma Língua é organizada.

Assim sendo, o estudo da língua vai além de


questões da Gramática Normativa.

VAMOS OBSERVAR O FUNCIONAMENTO DA


LÍNGUA.
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

Mas, quando surgiu


esse interesse em
observar a Língua?

Desde épocas remotas, o ser humano apresentou


um fascínio pela língua que falava.
No século IV a.C., os hindus já esboçavam uma
descrição de uma das línguas que usavam:
o sânscrito.
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

SÂNSCRITO: A LINGUAGEM DOS DEUSES

Nesta e em várias outras culturas antigas, à língua era atribuído


PODER ESPIRITUAL, MÍSTICO, RELIGIOSO, DIVINO.
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

A relação do divino com a palavra é tanta que o próprio


Deus cristão é identificado com a palavra:

“No princípio
era o Verbo, e
o Verbo estava
com Deus, e o
Verbo era
Deus.”
João 1:1.
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

Na cultura egípcia, o
uso da língua era
considerado um ato de
culto aos deus Thot.
Assim, a língua era
uma dádiva divina.
PREPARANDO O CAMINHO PARA A CONCEITUAçãO

Em cada civilização, a língua foi objeto de estudo por


vários motivos:
 religioso;
 econômico.

MAS, E NÓS? POR QUAL MOTIVO


NOSSA CIVILIZAÇÃO SE
PREOCUPOU EM INVESTIGAR A
LÍNGUA?

Essa é uma história que vem de longe...


OS ESTUDOS DA LINGUAGEM: A ANTIGUIDADE
CLáSSICA

GRÉCIA
 Nossa trajetória inicia com os filósofos gregos, pois todos
eles discutiram de alguma forma tópicos de língua, não
propriamente a língua. Assim podemos citar alguns nomes,
como: Heráclito – afirmante de que a palavra (logos) era a
expressão do pensamento, Parmênides (e a Escola Eleática),
Demócrito, Epicuro etc.
 Porém os mais importantes são Platão (429-347 A.C.) e
Aristóteles (384-322 A.C.).
Ambos preocuparam-se em pensar qual a relação entre a linguagem e a
realidade...
 Será que a linguagem tem relação direta com a realidade?
 Será que a realidade influencia na linguagem ou é a linguagem que
influencia na realidade?
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM: A ANTIGUIDADE
CLáSSICA

Em Platão: O Crátilo.
 Nesse diálogo, é questionado se as palavras são resultado
de uma convenção ou ligadas intrinsecamente às coisas que
elas significam. Dele participam Sócrates, Crátilo e
Hermógenes.
 Crátilo sustenta a tese de que a língua espelha exatamente
o mundo e são expressões inteiramente adequadas das
coisas (naturalismo);
 Hermógenes defende a posição contrária, a de que a língua
é arbitrária, argumenta que o ato da nomeação de objetos é
convencional (convencionalismo);
 Sócrates representa a instância intermediária, ressaltando
tanto os pontos fortes quanto as fraquezas dos argumentos
dos dois, levando-os, por fim, a uma solução conciliatória.
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM: A ANTIGUIDADE
CLáSSICA

Em Aristóteles: A Poética
“As coisas na voz são símbolos das afecções da
alma e as coisas escritas [são símbolos das
coisas na voz]”

Para ele, a linguagem servia como meio de expressão


das ideias.
Um contribuição fortíssima dos estudos aristotélicos:
A DIVISÃO DAS PARTES DO DISCURSO:
 letra, sílaba, conectivo, articulação, nome, verbo, flexão,
frase.
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM: A ANTIGUIDADE
CLáSSICA

 Na Grécia antiga, falavam-se vários dialetos da língua


grega, porém, por questões históricas, sempre havia um
predominante.
 Assim, dado que as futuras gerações não conseguiam ler as
obras escritas nessas línguas, pois já eram falares antigos,
e a Grécia recebeu muitos outros povos, com as invasões
do macedônio Alexandre, surgiu a chamada Filologia, que
tinha como objetivo: recuperar os textos clássicos de
nacionalidade grega, purificá-los de qualquer impureza dos
outros dialetos e editá-los com notas, pontuação,
acentuação, tudo isso para facilitar a leitura e o acesso aos
textos.
 E assim, surge a GRAMÁTICA:

OBJETIVO: descrever a língua literária, tida como modelo de


língua correto.
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM: A ANTIGUIDADE
CLáSSICA

ROMA:

Se a descrição Linguística efetuada na Grécia foi guiada pela


Filosofia, Lógica. Em Roma foi distinto, teve como principal
característica o estudo normativo da língua latina, dado que se
deu no surgimento de uma sociedade urbana frente a uma rural.
Logo, foi a língua urbana a que foi descrita nas gramáticas
latinas – obra de grande valor nessa sociedade e matriz de
descrição Linguística perpetuada até nossos dias.
A LINGUíSTICA PRé-SAUSSURIANA: O SéCULO XIX
Tabela das oclusivas labiais e dentais nas línguas indo-europeias

Fonte: WEEDWOOD, 2002, p 116.


A LINGUíSTICA PRé-SAUSSURIANA: O SéCULO XIX

 O movimento dos neogramáticos surge em oposição à


concepção naturalista da língua. Os autores que se
destacam nesse movimento são Hemann Osthof
(1847-1909) e Karl Bromam (1849 – 1919).

 Para eles, o objetivo principal do pesquisador não era


a busca da língua original indo-europeia. Essa seria
uma hipótese muito geral sobre as línguas, devendo-
se, portanto, estudar as línguas vivas atuais e
apreender a natureza da mudança linguística.

E, assim, abre-se o caminho para a Ciência que


estudará a Linguagem/Língua...
A LINGUíSTICA PRé-SAUSSURIANA: O SéCULO XIX
Foram fundamentais para a Linguística, as seguintes premissas,
postuladas ainda no séc. XIX:

1. A linguagem humana são totalidades organizadas:


“A língua é formada por partes que compõem um conjunto. Cada uma
dessas partes está interligada entre si”
2. A ideia de língua com instituição social:
“A língua é parte de uma comunidade de falantes”
3. A língua como um sistema autônomo:
“A língua funciona independentemente de influências externas”
4. A língua como um sistema de signos independentes:
“Os elementos que compõem a língua se relacionam entre si na mente
dos falantes”
5. A língua muda com o tempo:
“As línguas não são estáticas. As mudanças ocorrem ao longo do tempo”
6. A língua pode ser estudada em si e por si mesma:
“Os fatos linguísticos são descritos e analisados apenas por dados
linguísticos da própria língua”
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUAGEM, LíNGUA, NORMA,
FALA E DISCURSO

O que é comunicação?
Linguagem: Todo
sistema de signos que
serve de meio de
comunicação entre
indivíduos.
Língua: “O conjunto das
palavras e expressões
usadas por um povo,
por uma nação, e o
conjunto de regras da
sua gramática; idioma”
(AURÉLIO, Online)
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUAGEM, LíNGUA,
NORMA, FALA E DISCURSO

Fala: Ato individual, emissão de


sons distintivos (fonemas)
c o m b in a d o s q u e f o r m a m a s
palavras de uma determinada
língua.
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUAGEM, LíNGUA, NORMA,
FALA E DISCURSO

Linguagem

Língua

Fala
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUAGEM, LíNGUA, NORMA,
FALA E DISCURSO
Norma: diferentemente da fala,
que é individual, deliberação
de cada falante em cada
enunciação concreta, a norma
implica numa opção do grupo
a que pertence o falante e,
pode, assim, divergir, das
demais normas seguidas por
outros grupos da mesma
comunidade linguística.
(LOPES, 1976: 80)
Discurso: manifestação real ou
social da língua, pressuposição
de um sujeito (manifesta seu
ponto de vista por meio das
expressões linguísticas); é um
evento de comunicação no qual
há uma sistematização de ideias
e valores.
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA

MAS, AFINAL, O QUE É


LINGUÍSTICA?

 “A linguística é o estudo científico da linguagem” (Lyons,


1979).
 “... ocupando-se da linguagem humana e das línguas naturais,
para cumprir seu objetivo básico, que é determinar a natureza
da linguagem e estrutura e funcionamento das línguas”
(Borba, 1991).
 “A ciência que se constitui em torno dos fatos da língua...”
(Saussure, 2005).
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA

 E, PELO AMOR DE DEUS, O


QUE É GRAMÁTICA?
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA

Pode-se entender, segundo Travaglia (2006), o termo


Gramática, segundo três pontos de vista:

1. Gramática normativa é o
conjunto sistemático de regras
estabelecidas pelos
especialistas, com base no uso
da língua consagrado pelos
escritores clássicos para reger o
falar e o escrever bem. Nessa
concepção, a variedade dita
padrão é tida como ideal e única
a ser seguida por todos os
falantes da língua, tudo que não
se insere nesta variante é
considerado agramatical.
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E
GRAMáTICA

Gramática descritiva é definida como


“um conjunto de regras que o
cientista encontra nos dados que
analisa, à luz de determinada teoria e
método”. TRAVAGLIA (2006, p. 27)
diz que “essas regras seriam
utilizadas pelos falantes na
construção real dos enunciados”. As
gramáticas estruturalistas que dão
ênfase à descrição da língua oral e as
gramáticas que trabalham com
enunciados ideais, como a gerativo-
transformacional, são representantes
dessa concepção.
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA
Gramática internalizada ou implícita é aquela que considera a
língua como um conjunto de variedades utilizadas por uma
sociedade, na qual o usuário estabelece um acordo tácito. Falar
correto significa aquilo que a comunidade linguística espera e
erro em linguagem equivale a desvios dessa norma. Nessa
concepção de gramática, não há erro linguístico, mas
inadequação da variedade linguística usada em uma determinada
situação de comunicação.
Essa gramática, segundo TRAVAGLIA (op. cit.), é o próprio objeto
da descrição e não existe em livros, razão pela qual é chamada de
gramática internalizada.
PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUíSTICA E GRAMáTICA
 Gramática Normativa
 Gramática Descritiva
 Gramática Internalizada ou competência linguística
internalizada do falante
 Gramática Implícita
 Gramática explícita ou teórica

 Gramática reflexiva
 Gramática contrastiva
 Questão ou 01
transferencial
- Pesquise o conceito de
 Gramática geral três tipos de gramática. Faça uma vasta
 Gramática pesquisa, mas sua conceituação não
Universal
 Gramática deve ultrapassar o máximo de três
histórica
 Gramática linhas para
comparada, etc cada conceito.
 Questão 02 – Procure informações
sobre a língua sânscrita e dê o porquê
de sua importância para os estudos
linguísticos.
O FORMALISMO

 O Formalismo estuda a língua como objeto


descontextualizado, preocupando-se com suas
características internas – seus constituintes e as relações
entre eles – mas não com as relações entre os
constituintes e seus significados, ou entre a língua e seu
meio; chegam, desse modo, à concepção de língua
como:
 Um conjunto de frases;
 Um sistema de sons;
 Um sistema de signos (NEVES, 2001, p. 41)
A LINGUíSTICA FORMAL

 A palavra Formalismo parte da concepção de língua


como FORMA e não como substância. Para exemplificar essa
conceituação, Saussure faz analogia a um jogo de xadrez. As
peças do jogo são definidas por suas funções dentro das
regras do jogo e não por suas propriedades físicas, uma vez
que essas características são acidentais, podendo sofrer
variações.
 Um fonema, por exemplo, deve ser definido, a partir de suas
relações com outros elementos do mesmo sistema e por
suas funções – essa pode ser considera como uma noção
básica de forma – e nunca por suas propriedades físicas,
como o modo de formação, a estrutura acústica etc. – essas
noções podem ser consideradas como uma noção básica de
substância. (LOPES, 1976, p. 79).
O FORMALISMO

FORMALISMO
Estruturalismo

Gerativismo
O ESTRUTURALISMO
As escolas consideradas como estruturalistas
apresentam em comum concepções e métodos que
implicam o reconhecimento de que a língua é
uma estrutura ou sistema e que é tarefa do linguista
descrever e analisar a organização e o
funcionamento de seus elementos constituintes. O
termo estrutura compreende as relações entre os
elementos linguísticos ocorridas no interior da língua.
Assim sendo, cada língua deve ser descrita
independentemente de outros sistemas linguísticos
(conceito de AUTONOMIA).

Conceito de LÍNGUA:
 Sistema de signos convencionados
em uma comunidade linguística.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE

As ideias
saussureanas serão
aqui abordadas
através do estudo de
suas dicotomias:
1. Língua x Fala;
2. Significante x
Significado;
3. Paradigma x
Sintagma;
4. Sincronia x
Diacronia.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
1. LÍNGUA (LANGUE) X FALA (PAROLE)

Língua Fala

Social Individual
Abstrata Concreta
Homogênea Heterogênea
Sistemática Assistemática
Língua e Fala são dois objetos diretamente ligados:
“a língua é necessária para que a fala seja inteligível e
produza todos os efeitos; mas esta é necessária para
que a língua se estabeleça” (SAUSSURE, 2006, p. 27).
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
2. SIGNO LINGUíSTICO: SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO

Saussure entende o Signo Linguístico como resultante


da associação de um CONCEITO e uma IMAGEM
ACÚSTICA, ambos de natureza psíquica, e não a união
entre uma coisa e uma palavra, ambas de natureza
material.

SIGNO

Físico
A B
IMAGEM
CONCEITO
ACÚSTICA
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
2. SIGNO LINGUíSTICO: SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO

ARBITRARIEDADE DO
LINEARIDADE DO SIGNO:
SIGNO:

A relação entre o Os signos são articulados e se


significado e o organizam uns após os outros.
s i gn i f i c a n t e do s i gn o
linguístico é um acordo bicicleta
livre entre os homens.
Cada comunidade de
falantes utiliza distintos bi ci cle ta
significantes para um
mesmo significado.
b i c i c le t a

A bicicleta é nova.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
3. SINTAGMA X PARADIGMA

Para Saussure, “as relações e as diferenças entre termos


linguísticos se desenvolvem em duas esferas distintas, cada uma
das quais é geradora de certa ordem de valores: a oposição entre
essas duas ordens faz compreender melhor a natureza de cada
uma” (SAUSSURE, 2006, p. 142).

Essas relações podem se dar no âmbito da combinação ou da


seleção.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
3. SINTAGMA X PARADIGMA

 Por conta do caráter linear dos  Há também relações baseadas na


signos, estes são enunciados um seleção dos elementos que são
após o outro, formando, assim um combinados. A essas relações
alinhamento que os distribui em entre os elementos do sistema
relações de combinação entre, no linguístico, Saussure denominou
mínimo dois elementos. Tais relações associativas (op. cit., p.
relações são denominadas 143). E mais tarde, o termo que se
sintagmáticas. consagrou para referir a essas
relações foi paradigmáticas.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
4. SINCRONIA X DIACRONIA

Para Saussure, os fatos científicos podem ser estudados como se


estivessem situados num eixo de simultaneidades ou num eixo de
sucessividades.
Diacronia
Sincronia Num eixo de sucessividades, o
N u m e i x o d e objeto de estudo são as relações
simultaneidades, o que um fenômeno qualquer,
linguista se interessa localizado ao longo de uma
pelas relações entre fatos linha evolutiva (de tempo)
coexistentes num sistema mantém para com os
linguístico. fenômenos que o precedem ou
que o seguem na linha da
(Lopes, 2008, p.74) continuidade histórica.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
4. SINCRONIA X DIACRONIA

Exemplo: O verbo “comer” analisado pelo ponto de vista


diacrônico.

Diacronicamente, o verbo “comer” vem do latim edere, cujo


radical é ed-. Como no presente do indicativo, suas formas se
confundiam com o verbo esse, no latim vulgar da península
ibérica, o verbo edere passou a se realizar acompanhado do
prefixo cum-, que designa companhia. Assim, cum edere passou
a cumedere e, a partir dessa realização, o “comer” em língua
portuguesa.

Do ponto de vista diacrônico, o com- de comer não é um


radical, mas um prefixo.
A CONTRIBUIçãO DE FERDINAND DE SAUSSURE:
4. SINCRONIA X DIACRONIA

Exemplo: O verbo “comer” analisado pelo ponto de vista sincrônico.


Sincronicamente, o verbo “comer” é entendido como possuindo um
radical (com-), uma vogal temática (e-) e uma desinência de infinitivo
(r-).

Como chegamos a essa compreensão?

Considerando esse com- um elemento linguístico que se define em


relação aos demais elementos linguísticos que formam a língua
portuguesa num dado estado de língua. Assim, com- define-se como
radical, já que “comer” se define em relação aos demais contextos
morfológicos em que ele funciona como um radical, como em
“comilança”, “comilão”, “comida”, e em relação aos demais verbos da
mesma língua, como em “beber”, “gritar”, “cair”.
O GERATIVISMO
Em 1957, Noam Chomsky
publicou o livro, Syntactic
Structures, que se tornou
divisor de águas na
Linguística do século XX.
Nesse livro, Chomsky
desenvolveu o conceito
de Gramática Gerativa,
a d o t a n d o u m
posicionamento que
rompia radicalmente com
o s c o n c e i t o s
estruturalista e
behaviorista praticados
na Linguística das
décadas anteriores.
O GERATIVISMO
 A primeira grande questão a ser levantada nos estudos
gerativistas é a definição de faculdade da linguagem,
isto é, nesse programa linguístico, a capacidade de
falar uma língua é inata nos seres humanos.
 Partindo dessa concepção, Chomsky traçou uma
distinção básica: a relação entre competência
e desempenho.

COMPETÊNCIA: DESEMPENHO:
 o conhecimento inato
que as pessoas têm  É o uso efetivo dessa
das regras que língua em situações
compõem uma língua. reais.
O GERATIVISMO

 Assim, cabe à linguística o estudo da competência, ou seja, o


linguista deve descrever as regras de que é composta essa
capacidade.
 Para isso, devemos compreender o conceito de gramática
internalizada adotado pelo modelo gerativista. Este
conceito NÃO compreende gramática como um livro cheio de
regras que nos ensina o que é certo e o que é errado na língua
(conceito de gramática prescritiva).
OBSERVE:

(1) a. ‘Cê’ viu a Maria saindo?


b. Quem que ‘cê’ viu saindo?
c. A Maria disse que ‘cê’ foi viajar.
(2) a. * A Maria vai ver ‘cê’.
b. * A Maria comprou o livro pra ‘cê’.
c. * A Maria e ‘cê’ vão comprar o livro.
O GERATIVISMO

 Ao ler essas frases, percebemos que as sentenças em


(1) são próprias do português brasileiro. Contudo, não
podemos dizer o mesmo das sentenças em (2). Essa
capacidade de dizer o que pertence a nossa língua,
mesmo sem ninguém nos ter ensinado, concerne ao
conjunto de regras que compõe a nossa gramática
internalizada.
 A partir dessa gramática, podemos dizer que as frases
em (1) são gramaticais, pois são formadas segundo a
gramática do português brasileiro, enquanto que as
frases em (2) são agramaticais.
O GERATIVISMO

 Outra peculiaridade do modelo chomskiano diz respeito à


noção de Princípios e Parâmetros.

 Essa hipótese postula haver uma Gramática Universal – um


conjunto de propriedades gramaticais comuns e compartilhadas
por todas as línguas naturais, bem como as diferenças entre
elas, que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis
na própria GU.
O FUNCIONALISMO EM LINGUÍSTICA

1. A língua não é um sistema autônomo, abstrato e


estável.
2. O sistema linguístico é maleável, adaptativo e, por
isso, sensível às pressões do uso.
3. Não é só a expressão linguística em si mesma que
interessa numa análise linguística funcionalista.
4. A capacidade social, que determina o uso da
linguagem em conformidade com o interlocutor, a
situação e os objetivos comunicativos interessam a
um modelo de gramática, ainda que ele seja
funcionalista.
O FUNCIONALISMO EM LINGUÍSTICA

5. Os domínios da sintaxe, semântica e pragmática


não são independentes; portanto, não podem ser
estudados isoladamente;
6. No Funcionalismo, os diferentes componentes da
organização linguística têm a pragmática como o
componente que comanda os estudos sobre os
aspectos sintáticos e semânticos;
7. O Funcionalismo não se limita ao estudo da frase;
8. A língua cumpre, na vida dos indivíduos,
importantes funções;
9. A principal função da língua não é a expressão de
pensamentos, mas a de possibilitar a comunicação
entre os indivíduos.
LINGUÍSTICA DE TEXTO
“Ramo da Linguística que toma o texto como objeto de
estudo” (KOCH, 2015, p. 11).
Temas relevantes para a Linguística Textual:
 Coesão, coerência e critérios de textualidade;
 Referenciação;
 Intertextualidade;
 Gêneros textuais.

PSICOLINGUÍSTICA
 “A Psicolinguística é um ramo da Linguística que se
interessa em analisar o processamento da linguagem
oral e escrita e os fatores que afetam a decodificação,
isto é, as estruturas psicológicas que nos capacitam a
entender expressões, palavras, orações e textos”
(ALENCAR, 2010, p. 66).
ANÁLISE DO DISCURSO
“O Reconhecimento de que a língua é constituída por
estruturas formais e por aspectos subjetivos e
sociais provocou um deslocamento dos estudos
linguísticos, que passam a buscar uma
compreensão de linguagem situada numa instância
que não é mais a língua ideologicamente neutra
concebida por Saussure, mas no nível do discurso.
Considerar o discurso na análise possibilita
operacionalizar a ligação entre o linguístico e o
extralinguístico, num ponto de articulação entre os
processos ideológicos e os fenômenos linguísticos.
Com efeito do discurso é justamente esse ponto de
articulação” (ALENCAR, 2010, p. 73).
 Temas relevantes:
 Enunciado;
 Ideologia;

 Dialogismo;

 Interdiscursividade;

 Gêneros textuais.
SOCIOLINGUÍSTICA
“ A sociolinguística surge na década de 1960 a
partir da proposta Weinreich; William Labov;
Herzog (1968), com o objetivo de desenvolver
uma teoria que pudesse descrever a língua e
seus determinantes sociais e linguísticos, bem
como produzir uma teoria da mudança que
acomodasse o uso variável da língua” (ALENCAR,
2010, p. 85).
Obrigado!

Você também pode gostar