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1. Objetivos
1.1 Do Curso:
Introduzir os discentes nos estudos da lingüística em geral.
Fornecer instrumentos para compreensão da descrição de línguas específicas
elaborada por terceiros.
Fornecer instrumentos para o início de uma análise em uma língua desconhecida .
Fornecer base lingüística à aprendizagem de uma língua desconhecida ao
aprendiz.
Abreviações
um elemento qualquer
ACUS acusativo, objeto direto
CAUS causativo
COM ação contínua
GEN genitivo, possessivo
IMPERF imperfectivo, imperfeitivo, ação não concluída
N consoante nasal
O objeto direto
PAS tempo passado
PERF perfectivo, perfeitivo, ação concluída
PL plural
REC passado recente
REF reflexivo
S sujeito
UNI tempo universal; isoladamente significa futuro; em conjunto com
os aspectos perfectivo e imperfectivo significa passado
V verbo
1 primeira pessoa
[] transcrição fonética
rescreve-se como
contexto de ocorrência
____ ambiente linear de ocorrência
morfema zero; morfema sem substância fonológica
* forma agramatical
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Conteúdo
1. Histórico
Georges Mounin afirma que o estudo da linguagem humana é “um saber muito
antigo e uma ciência muito jovem.” (1972:25)
É um saber antigo porque o estudo da “gramática tradicional” pode ser remontado
ao século V a.C., com os estudos filosóficos dos gregos. (Lyons, 1971:4) É uma ciência
muito jovem porque a lingüística passou a ser vista como ciência apenas a partir de 1786,
quando Sir William Jones fez uma comparação entre o sânscrito e o grego perante a
sociedade científica de Londres. (Cabral, 1979:14) No entanto, é comum considerar-se
que a lingüística realmente ganhou o status de ciência somente em 1913, ano da morte de
Ferdinand de Saussure, que revolucionou os estudos lingüísticos.
1.4 Estruturalismo
O estruturalismo na lingüística adveio das propostas de Ferdinand de Saussure.
(Leroy, 1971:99-114) Várias abordagens diferenciadas receberam esse rótulo, como a do
círculo Lingüístico de Praga, Estruturalismo Funcional de André Martinet, Círculo
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1.5 Gerativa-Transformacional
A teoria Gerativa-Transformacional foi iniciada por Noam Chomsky, em 1957,
com seu livro Estruturas Sintáticas.
2. Termos Básicos
2.2 Poliglota
Pessoa com habilidade de comunicação em diversas línguas. É possível alguém
ser um poliglota sem ser um lingüista. Também, a princípio, é possível um lingüista falar
apenas uma línguas, ou seja, ser monolíngüe (no entanto, em geral, ele dominará a
estrutura de diversos idiomas).
2.3 Lingüista
Cientista que estuda o fenômeno lingüístico. É possível alguém ser um lingüista
sem ser um poliglota. No entanto, em geral, um lingüista fala mais de uma língua.
Seguem os nomes de alguns lingüistas:
Ferdinand de Saussure – reconhecido como o fundador da lingüística moderna;
não deixou obra escrita; seu livro Curso de Lingüística Geral, publicado em
francês postumamente em 1916, é uma compilação feita por dois de seus
discípulos: Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert
Riedlinger. (Saussure, 1974:XVII). A obra foi organizada a partir das
anotações de alguns alunos que estiveram nos cursos ministrados por Saussure
em 1907, 1908-1909 e 1910-1911. (Idem:XVI, XVII, XXIV) Os dois
compiladores principais do livro não estiveram nos mencionados cursos.
(Ibidem:XVII) Alguns dos conceitos inovadores de Saussure foram a definição
de “signo” e a diferenciação entre “língua e fala (langue et parole)” e a
delimitação nítida entre “diacronia e sincronia” (resumo em Leroy, 1971:73-
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2.4 Linguagem
As diversas formas de comunicação desenvolvidas por um grupo social.
2.5 Língua
“(...) conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, a fim de
permitir o exercício da linguagem por parte do indivíduo.” (ver J. M. Camara Jr.,
1954:20).
“(...) conjunto de regras, grande parte delas ordenadas, que permitem ao falante
gerar um número infinito de orações gramaticais, isto é, todas as orações gramaticais da
língua e nenhuma agramatical.” (Noam Chomsky in Cabral, 1979:5)
2.6 Dialeto
“Formas de fala diferentes, mas mutuamente inteligíveis sem aprendizado
especial.” (Robins, 1977:54)
“Os dialetos são línguas regionais que apresentam entre si coincidência de traços
lingüísticos fundamentais.” (J. M. Camara Jr. in Rector, 1975:34)
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2.7 Idioleto
Idioletos são as “(...) múltiplas línguas individuais (...).” (Camara Jr., 1954:22-23)
“(...) hábitos de fala de uma só pessoa.” (Robins, 1977:48)
“(...) idioleto é a forma de fala própria de um indivíduo, ou seja, são os hábitos de
fala de uma pessoa.” (Rector, 1975:33)
2.9 Signo
A semiologia ou semiótica é o estudo dos signos. (Ver Leroy, 1971:75) A
expressão semiologia é uma terminologia européia, que surgiu com Ferdinand de
Saussure; a expressão semiótica é uma terminologia americana, que surgiu com Charles
Sanders Pierce. (Carvalho, 1998:31, nota 3)
Para Saussure, a lingüística seria parte da semiologia. Assim, a compreensão da
lingüística está vinculada à compreensão de signo.
O signo é um tipo de sinal.
Há dois tipos de sinais: naturais e convencionais. (Ver Carvalho, 1998:31-33)
Os naturais manifestam-se em forma de indício e sintoma. O indício relaciona-se
ao meio físico e inclui: fumaça (sinal de fogo), nuvens negras (sinal de chuva), rastros
(sinal de presença animal ou humana), etc; o sintoma relaciona-se a aspectos fisiológicos,
como: pulsação (sinal de agitação emocional), contração (sinal de alerta), dor (sinal de
machucado), febre (sinal de infecção), etc.
Os sinais convencionais manifestam-se em forma de ícone, símbolo ou signo.
O ícone relaciona-se à imagem, foto, estatueta, desenho; A palavra ícone vem do
grego eikón, que quer dizer “imagem”. É um sinal não arbitrário, embora convencional.
Na linguagem, a onomatopéia é considerada icônica. (Borba, 1976:62)
O símbolo é um sinal que liga um elemento ao outro de maneira semi-arbitrária,
como: balança à justiça, espada ao exército, cruz ao cristianismo, etc.
O signo é um sinal que liga um elemento ao outro de forma arbitrária.
Para Saussure, o signo é uma entidade psíquica de duas faces, composto de uma
imagem acústica (ou forma, significante) e de um sentido (ou conceito, conteúdo,
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Conceito, Significado
Figura 1
Assim, a palavra latina que designa o conceito de “árvore” teria a seguinte
representação:
“árvore”
arbor
Figura 2
uma relação triádica, sendo melhor representado por meio de um triângulo, como a seguir
(Ver Odgen e Richards, 1972:32):
Pensamento ou Referência
(realidade, objeto) e uma palavra (símbolo, linguagem) é apenas indireta, sendo (esta
U U
da mencionada figura geométrica. Dito de outra maneira, uma palavra não é uma
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representação direta de um objeto, é uma representação da idéia que se tem desse objeto.
Ou seja, quando se diz casa não se está representando um objeto no mundo senão a idéia
U U
Pode-se propor que a forma subjacente para “tomar banho” é i bï. A partir dela
tem que se explicar as demais variantes.
1. a vogal ï sofre apagamento antes de consoante não lateral: w-i p-t ang-de, w-i m-
U U U U U
n angïrï.
U
4. Divisões da Lingüística
Algumas divisões da lingüística são apresentadas a seguir, como: sincrônica,
diacrônica, comparativa, funcional e explicativa.
4.1 Sincrônica
Estudo da língua em um determinado momento. (Cabral, 1979:12; Borba pp.67-
73; Leroy, 1971:80-82); pode ser o momento atual ou um momento do passado. Por
exemplo, pode-se fazer um estudo sincrônico do português de Portugal como ele é falado
hoje; ou pode-se fazer um estudo sincrônico do português de Portugal como ele era
falado em 1500, quando da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. A etimologia da
palavra sincronia encontra-se na língua grega, onde sin quer dizer “simultâneo” e cronos
U U U U
4.2 Diacrônica
Estudo da língua através do tempo. Cabral (1979:12; Borba pp.67-73; Leroy,
1971:80-82) É o estudo das mudanças que se processam na história de uma língua.
(Cabral, 1979:12) Por exemplo, pode-se estudar a mudança da língua portuguesa de 1500
até os dias atuais. A etimologia da palavra diacronia encontra-se também na língua grega,
onde dia quer dizer “através” e cronos significa “tempo”. Termos sinônimos são:
U U U U
b. le ct u
U U
l ei to
U U
c. o ct u
U U
o it o U U
d. la ct e
U U la it e l ei te
U U U U
b. o ct u
U U o pt u o pt (opt)
U U U U
(8) Espanhol
a. o ct u
U U o it o o ch o
U U U U
b. la ct e
U U la it e le it e le ch e
U U U U U U
b. Francês fa ct u
U U fa it u
U U
fa it (fait)
U U
c. Português fa ct u
U U fa it o
U U
fe it o
U U
d. Espanhol fa ct u
U U fa it o
U U fe it o
U U he ch o (echo)
U U
4.3 Comparativa
Faz estudo comparado de duas ou mais línguas. Esse tipo de pesquisa floresceu
principalmente no século XIX. (Cabral, 1979:13) Na classificação genealógica utiliza-se
esse tipo de lingüística. Seguem comparações de algumas línguas da família românica.
(10) Línguas Românicas
a. Português b. Espanhol c. Italiano d. Francês e. Romeno
ovo huevo uovo oeuf ou
novo nuevo nuovo neuf nou
morre muere muore meurt moare
13
4.4 Funcional
O funcionalismo foi desenvolvido inicialmente por alguns seguidores de
Saussure, que eram membros do Círculo Lingüístico de Praga. (Ver Todorov e Ducrot,
1977:35)
Para Saussure e seus seguidores, a língua era um instrumento de comunicação.
(Todorov e Ducrot: Idem) Eles consideravam “o estudo de uma língua como a pesquisa
das funções desempenhadas pelos elementos, classes e mecanismos nela intervenientes.”
(Todorov e Ducrot: Ibidem)
Assim, os sons, abordados na Fonologia, têm a função de possibilitar a distinção
entre unidades lingüísticas (como em p ato e b ato, por exemplo) e os elementos
U U U U
4.5 Explicativa
A lingüística explicativa pode ser detectada através do princípio das três
adequações, apresentado por Noam Chomsky em um congresso de lingüística. (Ver
Dascal, 1981:57-58).
1. Adequação Observacional – nesse caso, a gramática preocupa-se apenas com a
explicação dos dados primários, ou seja, preocupa-se em explicar o corpus de
dados coletados.
2. Adequação Descritiva – nesse caso, a gramática preocupa-se com a explicação
correta da intuição lingüística do falante nativo de uma determinada língua.
3. Adequação Explicativa – nesse caso, a teoria preocupa-se em fornecer
parâmetros fundamentais (independentes de uma determinada língua) para a
seleção da gramática descritivamente adequada para cada língua.
Na primeira adequação, apenas os dados estão em foco; na segunda, o corpus é
extrapolado e focalizam-se os dados possíveis e agramaticais, através da projeção de
regras e da intuição de um falante de uma língua específica; na terceira, tanto o corpus
como o falante de um determinado idioma são extrapolados e focalizam-se princípios
universais da capacidade lingüística humana que servem de base para julgar qual a
melhor gramática para uma língua específica. As teorias de Chomsky seriam desse tipo.
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5. Disciplinas Afins
- Psicologia, Psicanálise: Psicolingüística
- Sociologia: Sociolingüística, Sociologia da Linguagem
- Antropologia, Etnologia: Lingüística Antropológica, Etnolingüística
- Filosofia: Filosofia da Linguagem
- Matemática: Lingüística Computacional
- Física: Fonética Acústica
- Fisiologia: Fonética Articulatória
6. Lingüística Aplicada
A lingüística pode ser aplicada às seguintes modalidades:
- à descrição de línguas
- ao ensino e aprendizagem de línguas
- à elaboração de ortografias
- à técnicas de alfabetização
- à tradução
- à estilística
Pragmática
Fo Se
Fonética no mâ Léxico
lo Linguagem nt
Fonologia gi i Proposições
a ca
Gramática
Morfologia Sintaxe
Figura 4
7.1 Fonologia
Engloba a fonética e a fonologia. A fonética é o estudo taxionômico dos sons,
tanto da perspectiva acústica (ondas sonoras), como da articulatória (maneira em que
U U U U
são produzidos pelo aparelho fonador) e da auditiva (efeitos do som nos ouvidos do
U U
Prática:
- Dê o nome técnico dos seguintes fones:
[] __________________________________________________________
[] __________________________________________________________
Fonologia
(11) Yoruba (Sanford A. Schane, 1973:51; p. 77 da tradução portuguesa)
a. ba ‘esconder’ a’. mba ‘está escondendo’
b. fo ‘quebrar’ b’. mfo ‘está quebrando’
c. te ‘espalhar’ c’. nte ‘está espalhando’
d. sun ‘dormir’ d’. nsun ‘está dormindo’
e. lo ‘ir’ e’. nlo ‘está indo’
f. ko ‘escrever’ f’ ngko ‘está escrevendo’
g. gun ‘subir’ g’. ngun ‘está subindo’
h. wa ‘vir’ h’. ngwa ‘está vindo’
Prática
Explicar a ocorrência das nasais: [m], [n] e [].
- A nasal assimila o ponto da consoante seguinte.
- Regra: N [ ponto] ____ [ ponto]
7.2 Gramática
Inclui a morfologia e a sintaxe.
A morfologia (morfe+logia = forma+estudo) é o estudo das formas lingüísticas.
Estuda a estrutura interna da palavra. (Ver Lyons, 1971:133).
A unidade de análise na morfologia é o morfema.
Morfema é a unidade mínima com significado.
A sintaxe é o estudo da maneira como as palavras se combinam para formar
sentenças. (Ver Lyons, 1971:133).
Morfologia
(12) Arára do Pará
a. ipko ‘tome banho!’
b. ipta ‘tome banho lá’
c. iptïk ‘tomem banho!’
d. kutsimne ‘tomemos (dois) banho!’
e. kutsipta ‘vamos (dois) tomar banho lá!’
f. kutsiptïn ‘vamos (vários) tomar banho lá’
Prática
- Identificar os morfemas da língua Arára do Pará.
Observação : -ta = deslocamento; p se rescreve com nasal antes de nasal; o
U U U U
Sintaxe
(13) Arára do Pará – Orações Transitivas
a. karei wolï papa ‘o papai matou o não indígena’
n.índio matou papai
b. ogoi erngmïlï papa ‘o papai matou a cobra’
cobra matou papai
c. mïe etpelï papa ‘o papai pisou na sacola’
sacola pisou papai
Prática
- Determinar a ordem das palavras em (13) acima.
- Verificar os prefixos pessoais dos verbos em (14) acima.
U Obervação : A ordem das Palavras é OVS.
U
Intransitiva -
Transitiva in- -
7.3 Semântica
O termo semântica foi proposto por Michel Bréal em 1883. (Leroy, 1971:58) Sua
definição é: o estudo da significação. (Lyons, 1971:400, 1987:133) Há dois modos de
focalizar os fenômenos semânticos: (1) significado das unidades lexicais (semântica
lexical) e (2) significado das combinações das unidades lexicais nos enunciados
(semântica frasal). (Ver Borba, pp. 227-228). Sabe-se que o sentido de um enunciado não
é a mera soma das palavras que o compõe, como se pode ver pela expressão idiomática a
seguir: Vou quebrar-o-galho dele (com o sentido de que vou ajudar alguém).
Reduzindo-se aqui a apresentação da semântica ao estudo do léxico, pode-se,
entre outros, falar dos seguintes tipos de significação ou sentido (ver Cabral, 162-165):
Denotativo
Sentido primário de uma palavra, evocado quando produzido isoladamente.
Exemplo: homem, leão, assento, etc. É chamado também de conceitual ou cognitivo.
Conotativo
Sentido figurado em decorrência de semelhança com aquilo a que se refere,
ultrapassando o sentido conceitual puro. Exemplo: ele é homem (corajoso); ele é um leão
(forte); etc.
Há outros processos semânticos no interior de uma dada língua, tais como (ver
Weisemann e Mattos, 1980:80-81; Borba, pp.231-242; Cabral, 1979:160-173):
Sinonímia
A sinonímia ocorre quando duas ou mais palavras compartilham traços de
significação. (A palavra menino possui os seguintes traços de significação: [+ humano, +
masculino, - adulto]) No entanto, embora algumas palavras sejam semelhantes em
sentido, nenhuma língua possui sinônimos absolutos. Exemplo: roubar e furtar. Esses
termos partilham o traço: [tomar para si]. Contudo, o primeiro envolve ato brusco e até
violento; o segundo envolve astúcia. Outro exemplo é pedir e implorar. O primeiro tem
os traços: [+ordem, + polidez]; o segundo: [+ ordem, + polidez, + insistência].
Antonímia
A antonímia ocorre quando duas palavras estão em oposição quanto ao seu
sentido. Exemplo: homem e mulher. O primeiro termo inclui o traço [+macho] e o
segundo [–macho]. Antonímia também é referida como “incompatibilidade” de sentido.
Homonímia
Ocorre quando palavras com sentidos diferentes são semelhantes na forma. A
palavra são tem os significados: (1) santo, (2) saudável e (3) verbo ser na terceira pessoa
U U
do plural.
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Polissemia
Ocorre quando um mesmo item possui mais de um sentido. O termo tomar , porU U
exemplo, tem os seguintes significados: (1) segurar - tomar a criança pela mão; (2) tirar,
arrancar - tomar o doce da criança; (3) beber - tomar o vinho; (4) ocupar - a casa tomou
um quarteirão.
Ambigüidade
Indefinição de sentido. Pode ser resultado de homonímia: manga (fruta e peça de
vestuário).
7.4 Pragmática
A pragmática estuda o uso da língua em contexto. Dito de outra maneira, estuda a
relação entre os signos e seus usos. (Fromkin e Rodman, 1988:227) A expressão “há
muito rolo por lá”, só pode ser entendida dentro de um contexto específico, podendo,
pelo menos, significar: (1) material enrolado ou (2) confusão, litígio, briga.
Alguns aspectos abordados pela pragmática são:
Verbos Performativos
Diz-se que um enunciado é performativo quando se realiza ao mesmo tempo que
a ação por ele representada. Um verbo performativo compõe um enunciado executivo,
onde a palavra e ato coincidem. (Borba, 1976:93) Exemplo: peço desculpas, eu desisto.
Em geral, os verbos performativos podem ser iniciados por: peloa presente... (como em:
pelo presente ato eu declaro aberta a seção).
Atos de Fala
Parte da pragmática que estuda como fazemos coisas com as sentenças. Pode-se
fazer promessas, advertências, ameaças, nomeações, saudações, etc. Essas ações são
feitas através dos verbos performativos. Essa capacidade de agir através das palavras é
referida como “força ilocucionária” do ato de fala.
Pressuposições (Implicações)
Envolvem informações implícitas. A expressão “meu irmão é rico” implica que o
falante tem um irmão, mas essa informação não está explícita.
Dêixis
Função indicativa de certas unidades lingüísticas, que ficam ligados às
circunstâncias do ato de fala. (Borba, 1976:27) Exemplos: pronomes (eu, tu, elea, nós,
vós, elesas), nomes próprios, pronomes demonstrativos (este, esse, aquele, aquilo),
advérbio de tempo (agora, ontem, hoje, amanhã, semana passada, mês que vem),
advérbio de lugar (aqui, aí, ali, lá, por aí). Em: “vou ficar aqui”, precisa-se saber o locus
ocupado pelo falante para saber-se a que aqui se refere.
U U
20
8. Diversidade Lingüística
A diversidade lingüística pode ser sistematizada através de três perspectivas
diferentes: genética, tipológica e areal.
Filum
Tronco Tronco
V S O
b. VSO: Chonaic Seán an madadh.
viu o cachorro
‘João viu o cachorro.’ (irlandês)
S O V
c. SOV: Jõn ballav däkka.
cachorro viu
‘João viu o cachorro.’ (sinhalesa, Sri Lanka)
O V S
d. OVS: wokori eneïrï João.
cachorro viu
‘João viu o cachorro.’ (Arára do Pará, Brasil)
Línguas em contato
As vezes as línguas estão em contato tão íntimo umas com as outras que algumas
similaridades surgem entre elas. Um grupo de línguas com aspectos similares resultantes
de contato geográfico (e não por ter uma língua ancestral comum) recebe o nome alemão
de sprachbund, que quer dizer “língua-união” ou “união de línguas”. (Comrie, 1981:197)
Como exemplo de sprachbund, há as línguas balcânicas: grega moderna, búlgara,
macedônica, albaniana e romena. Embora todas essas línguas sejam membros do tronco
lingüístico indo-europeu, pertencem a diferentes famílias. O búlgaro e o macedônio são
línguas da família eslava; o grego forma uma família independente; o romeno é parte da
família românica ou itálica; o albanês também forma uma família independente. (Comrie,
1981:198) Registros antigos e registros atuais de outras línguas pertencentes a mesma
família de alguns desses idiomas demonstram que essas línguas guardavam diferenças
estruturais entre si. Atualmente, no entanto, por causa do contato geográfico, alguns
traços lingüísticos se tornaram comuns entre elas. Um exemplo é a perda do infinitivo,
que foi substituído por uma oração subordinada introduzida por uma conjunção (na, da,
të, s, respectivamente, nos dados abaixo). A expressão “para eu beber”, na oração “dá-
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me para eu beber” ficou: “que eu bebo”. O sentido da oração modificada é: “dá-me que
bebo”:
(20) Línguas Balcânicas
Grego: dós mu na pjó
Búlgaro: daj mi da pja
Albanês (Tosk): a- më të pi
Romeno: d- mi s beau
Tradução dá me que bebo
*Os dados sobre as línguas indígenas do Brasil foram extraídos de Aryon Dall
´Igna Rodrigues, Línguas Brasileiras: para o conhecimento das línguas
indígenas. São Paulo, Edições Loyola, 1986.
10.1 Sintagmáticas
Relação linear (seqüencial) entre elementos de classes ou ordens diferentes. (Ver
Cabral, 1979:95-102; Lyons, 1971:73-79).
26
- Constituintes (sujeito, verbo, objeto) das orações: João comeu banana. “João” é
sujeito e “banana” é objeto dessa oração porque mantêm uma relação
(gramatical) linear com o verbo “comer”.
- Palavras em uma locução: menina muito gorda. “Muito” é advérbio de
intensidade em relação ao adjetivo “gorda” e “gorda”, por sua vez, é adjetivo
em relação ao substantivo “menina” porque mantêm uma relação (gramatical)
linear com ele.
- Morfemas (raiz e afixos) em uma palavra: in-feliz-mente. Os morfemas (in-,
prefixo de negação, feliz, raiz, e –mente, sufixo adverbializador) entram em
arranjo linear para formar uma palavra.
10.2 Paradigmáticas
Relação de substituição entre elementos de uma mesma classe. (Ver Cabral,
1979:95-102; Lyons, 1971:73-79).
(21) Relação Paradigmática em Posição de Sujeito
A menina viu a ave.
O menino
João
O cachorro
Todo mundo
P
a
r
a
d
i
g
m
a
S i n t a g m a
Figura 5
Uma construção causativa sempre tem uma valência a mais do que a construção
não causativa que a ela corresponde. A oração “O menino dormiu” é monovalente; a
oração “A mulher fez o menino dormir” é divalente. Exemplo da língua turca. (Ver
Comrie, 1981:168-169).
(25) Causativo em Turco
a. Hasan öl-dü ‘Hasan morreu.’
morrer-PAS
b. Ali Hasan- öl-dür-dü ‘Ali matou Hasan
-ACUS morrer-CAUS-PAS (Ali causou Hasan morrer).’
Costuma-se dizer que uma língua isolante não possui morfologia, por causa da
correspondência entre morfema e palavra. Um exemplo de língua isolante é o vietnamita
(ver Comrie, 1981:39-40, 43).
(27) Língua Vietnamita
khi tôi n nhà bn tôi, chúng tôi bt d u làm bài
quando eu vir casa amigo eu PL eu começar fazer lição
‘Quando eu vim para a casa do meu amigo, nós começamos a fazer lição.’
Algumas observações:
1. Às vezes, as línguas isolantes são chamadas também de monossilábicas, uma
vez que as palavras, em geral, são compostas de uma única sílaba.
2. tôi é tanto “eu” como “meu”.
U U
4. bt d u (agarrar + cabeça) quer dizer “começar”; aqui pode-se considerar que
U U
A língua Arara do Pará, embora não possa ser chamada de incorporativa, possui
incorporação (em geral, apenas as partes do corpo humano podem ser incorporadas).
(30) Língua Arára do Pará
a. i-emia- ´minha mão`
1-mão-GEN
b. k-od-emia-guuge-l ‘lavei minha mão’
31
1S-REF-mão-lavar-REC
Algumas observações:
1. I = vogal anterior alta aberta não-arredondada.
2. Em turco há duas marcações de número: singular (zero) e plural (sufixo –lar).
3. Há seis marcadores de casos: nominativo (zero), acusativo (-I), genitivo (-In),
dativo (-a), locativo (-da) e ablativo (-dan).
4. O marcador de número precede os marcadores de caso.
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Algumas observações:
1. Em russo há duas marcações de número: singular e plural.
2. Há seis marcadores de casos: nominativo, acustivo, genitivo, dativo,
instrumental (utilização de um instrumento) e preposicional.
3. Nas formas plurais é praticamente impossível identificar a parte da palavra
(sufixo) que indica número e a que indica caso.
33
Bibliografia
ed. revista e aumentada. Série Iniciação Científica, Vol. 31. São Paulo,
Companhia Editora Nacional, 1976.
CABRAL, Leonor Scliar. Introdução à Lingüística. 4 a Ed. Porto Alegre, Editora
P P
Globo, 1979.
CAMARA Jr, Joaquim Mattoso . Princípios de Lingüística Geral. 2 a Ed. Rio de P P
Vozes, 1998.
COMRIE, Bernard. Language Universals and Linguistics Typology. Chicago,
University of Chicago Press, 1981.
CRYSTAL, David. The Cambridge Encyclopedia of Language. 2 a ed. Great P P
Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo, Editora Cultrix, 1971.
LYONS, John. Introduction to Theoretical Linguistics. Cambridge, Cambridge
University Press, 1971.
LYONS, John. (org) Novos Horizontes em Lingüística. Trad.: Geraldo Cintra et
alii. São Paulo, Editora Cultrix-Editora da USP, 1976.
34