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PROBLEMA LINGUÍSTICO

A linguagem é uma propriedade primária, fundamental do homem e, além disso, uma


propriedade que o caracteriza nitidamente em relação aos outros seres deste mundo, vivos e não
vivos. Mesmo animais possuem uma forma elementar de linguagem, mas podem utilizá-la
unicamente como instrumento de sobrevivência, para chamar a atenção de animais da mesma
espécie para situações de importância vital, tal como a presença de alimento, de perigo, etc.

Ao contrário, o homem utiliza a linguagem com finalidades e modos bastante variados:


como instrumento de expressão de si mesmo, dos próprios sentimentos, desejos, ideias, para se
comunicar com outros, para descrever as coisas, para perguntar, educar, rezar,cantar,como
instrumento de luta, de propaganda, de diversão, etc.

A linguagem constitui um problema para os cultores de muitas disciplinas :

 para o historiador, que procura conhecer a sua origem e desenvolvimento;


 para o fisiólogo, que estuda os organismos implicados na emissão dos sons;
 Para o psicólogo, que examina a insidência da linguagem na esfera do consciente
e do inconsciente;
 Para o lógico, que estuda a linguagem visando afastar dela a obscuridade e
ambiguidade e oferecer um esclarecimento intrínseco;
 Para o crítico literário, que examina os estilos dados pelos escritores à linguagem;
 Para o sociólogo, interessado nas influências da linguagem sobre os movimentos
socias, as doutrinas, os ideais, os usos, os costumes de uma sociedade, etc.
Para o filósofo, o problema é a origem a natureza , a função e o valor da liguagem. Estes
são os pontos da problemática linguística, que examinaremos no presente capítulo. Mas antes de
enfrentá - los, será portuno esclarecer o significado de alguns termos e de algumas distinções.
1. Origem da linguagem

As soluções possíveis para a questão da origem da linguagem, em última análise, são


duas: ou a linguagem foi recebida ( da natureza ou de Deus) ou foi inventada pelo homem
(imitando a natureza ou de modo inteiramente convencional). Ambas as soluções se encontraram
acolhidas de numerosos defensores, quer na antiguidade, quer nos nossos dias. Entretando a
primeira solução, largamente seguida no passado, encontra hoje poucos seguidores.
Comforme Humbolt, a linguagem não pode ter sido inventada pelo próprio homem, pois
o “homem é homem somente por meio da linguagem; ora, para inventar a linguagem, ele deveria
já ser homem”.
Hoje, porém, a tese mais comum é que a linguagem originou-se por evolução. Aqui há
diversas maneiras de interpretar esse fato. Alguns afirmam que a evolução foi determinada pela
onomatopeia; ao contrário, outros atribuem a parte principal ao acaso e à convenção.
A teoria de que a linguagem nasce formando sons onomatopaicos (ou seja, imitando sons
já existentes na natureza, por exemplo: o sibilar do vento, o murmúrio da água, o piar dos
pássaros, etc) tinha sido ventilada pelos estóicos e mais tarde por Leibtnitz. Mas foi proposta
pela primeira vez, de modo científico, apenas por Herder, o qual na sua tese académica afirmava:
“o primeiro vocabulário foi constituído de sons recolhidos em toda a parte do mundo. De cada
natureza que emitia um som obtinha-se o seu nome : a alma humana vale-se desses sons como
signos para indicar as coisas”.
Recentemente, a tese de Herder foi reafirmada com abundantes argumentos por Bruni.
Segundo este estudioso, “a tese da origem natural da linguagem, por meio da onomatopoeia, é a
única cientificamente sustentável ”. “Os glotólogos e psicólogos, que julgam ser a linguagem de
procedência natural, pensaram sempre que a onomatopeia seja a matriz mais fecunda das
palavras. Renan afirmou que nas línguas semitas, e especialmente no hebraico, a formação da
onomatopeia é muito sensível para um grande número de raízes, sobretudo para aquelas que têm
um caráter destacado de antiguidade e de monossilabismo” (Bruni).
A opinião de Bruni é a mesma de Merlo. Este afirma que “as primeiras palavras criadas
pelo homem foram onomatopeicas, imitavas de sons que ecoaram no nosso ouvido;
onomatopeicas, são as primeiras palavras que a criança produz e que logo esquece, substituindo
– as pelas hereditárias. O léxico das línguas europeias está repleta de palavras onomatopeicas;
muitas delas são própias do léxico da língua latina; por que não se haveriam de juntar do às
hereditárias outras, e muitas outras, na época latina tardia, e em cada lingua românica ?” (citado
por Bruni).
Segundo muitos estudiosos, a linguagem tem origem convencional. O homo sapiens é
que inventou determinados sons para cumprir determinadas operações. Wittgenstein deu
expressão autorizada a essa teoria nas suas Philosophical Investigations. Nesta obra, ele sustenta
que o atribuir nomes às coisas é arbitraria, do mesmo modo como é arbitrário convir sobre as
regras de um jogo. A própria linguagem é concebida por Wittgenstein como um jogo
(Sprachspiel). Como exemplo da formação do jogo linguístico Wittgenstein cita o caso do acordo
que existe entre um pedreiro e um servente a respeito de uma certa ferramenta.
“Suponha que uma ferramenta utilizada por um pedreiro na construção leva determinado
sinal, uma etiqueta. Quando o pedreiro mostra o sinal (etiqueta) ao servente, este traz - lhe a
ferramenta que tem aquele sinal. É mais ou menos desse modo que um nome significa e é
atribuído a uma coisa. Será bastante útil, em filosofia, rieterar de quando em quando que
denominar é uma operação semelhante a prender uma artiqueta a uma coisa” (Wittgenstein,
Philosophical Investigations, n. 15).
A nosso ver, essas duas teses sobre a origem da linguagem não são necessariamente
contraditórias, mas podem integrar-se reciprocamente.
Dando por certo que a linguagem é invenção do homem e não um Dom da natureza ou de
um ser superior, parece-nos que essa invenção se tenha manifestado, inicialmente, por meio da
imitação dos sons emitídos pelos animais e pelas coisas. Assim, para designar o cão arremeda –
se o cão; para designar o lobo, arremeda-se o lobo; para designar o vento, imita – se o rumor do
vento, e assim por diante. Essa origem primeira da linguagem é confirmada pela grande
quantidade de sons onopatopéicos existentes em todas as línguas. E é também comfirmada pelo
modo como a criança aprende a falar, imitando os sons que ouve da mãe.
Sobre essa base onomatopéica, entretanto, o homem, trabalhou, a seguir, com liberdade e
genialidade, inventado novos sons ou combinando de forma variada sons antigos (por exemplo,
automóvel, televisão, airoplano, etc.). por isso, grande parte da linguagem empregada hoje tem
origem convencional.
2. Funções e valor da linguagem

Até há alguns anos, costumava-se apresentar uma divisão dicotómica das função da
liguagem. Distinguia-se, por um lado, uma função descritiva ou cognoscitiva ou denotativa ou
representativa ou simbólica e, por outro, uma função emotiva, existencial ou pessoal. Nessa linha
estavam Ogden-Richards, Carnap, Ayer, Steveson, e outros.

Ultimamente, porém, tornaram-se cada vez mais numerosos os autores que propõem uma
divisão tricotómica, acrescentando a função comunicativa ou intersubjetiva às duas anteriores.
São desta opinião Schokel, Polanyi, Barbotin, Ullmann e diversos outros estudiosos.

Achamos que essa última divisão é melhor do que a primeira, pois resulta dos três
componentes essênciais constitutivos da linguagem, que vimos ser o sujeito que fala, aquilo de
que se fala e a pessoa a quem se fala. A linguagem exerce uma função diferente com relação aos
seus três componentes:

 Possui uma função representativa ou descritiva ou denotativa em relação ao


objetivo;
 Possui uma função expressiva ou existencial ou emotiva em relação ao sujeito
 Possui uma função comunicativa ou intersubjetiva em relação à pessoa a quem se
dirige o discurso.
Vinculada a questão das funções da linguagem surge ainda a questão do seu valor. Dentre
todas as questão relativas à linguagem, essa é a mais debatida, de forma constante e vivaz hoje
em dia. Dela tratam todos os filósofos (sejam eles existencialistas ou estruturalistas,
neopositivistas ou hermeneutas, tomistas ou marxistas) e mesmo os teólogos e cientistas.

As soluções dessa questão são muitas e bem discrepantes. Há quem a atribui à linguagem
um valor meramente instrumental. Essa é a solução tradicional, ainda hoje acolhida por
neopositivistas, analíticos, tomistas, marxista e muitos outros. Há, por outro lado, quem lhe
atribui um valor fundamental, de ordem existencial.

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