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FUNDAMENTOS

LINGUÍSTICOS:
Estudos da linguagem

PROF.ª Lívia Barizon


 A alfabetização, a produção de textos e a
leitura são atividades básicas do ensino
de língua materna, e são também
questões que a Linguística ajudou a
repensar e reformular, nos últimos anos,
confirmando que a parceria Linguística-
Ensino é benéfica.
 Essa parceria foi construída pacientemente, e
passou, por parte dos linguistas, por diferentes
formas de colaboração: na década de 1970, o
linguista que se interessava pelo ensino do
português preocupava-se, no máximo, em
apresentar em linguagem acessível aos
professores de língua materna os conceitos
científicos que ele considerava
pedagogicamente relevantes: é esse, em linhas
gerais, o sentido da série "Subsídios para a
aplicação dos guias curriculares" da Secretaria
da Educação de São Paulo, de 1978: Castilho
(Org. 1978).
 De outro tipo são os trabalhos que começam
a aparecer nos anos 1980, geralmente
voltados para mostrar a necessidade de levar
para a sala de aula os mesmos métodos de
descoberta usados em Linguística, de fazer
do texto o centro do ensino, ou de reformular
as práticas vigentes à luz das descobertas da
ciência da linguagem (este é o sentido geral
de O Texto na Sala de Aula, editado em 1984
e ainda hoje uma referência importante).
 Num momento particularmente fecundo da
parceria linguística/ensino, que podemos
situar no final dos anos 1980 e no início
dos anos 1990, aparecem obras que
delineam concepões de ensino baseadas
em concepções da linguagem de cunho
interacionista e cognitivista.
 A Linguística tem trabalhado no sentido de
valorizar os usos reais e de tomar a língua
falada pelos educandos como ponto de
partida para o aprendizado da língua
escrita culta; a mídia tem trabalhado, no
mais das vezes, no sentido de
estigmatizar as formas populares,
aprofundando a distância entre elas.
 Nesse contexto mudado, o debate se coloca
hoje de maneira muito mais clara como uma
escolha entre duas atitudes opostas:
 é possível abrir os olhos para a realidade
linguística, compreendê-la a fundo, aceitá-la e
trabalhar a partir dela, assim como é possível
fechar os olhos à realidade, decidindo
dogmaticamente como ela deveria ser. A opção
da Linguística tem sido pelo conhecimento do
que existe e pela superação do preconceito.
LINGUAGEM
– Três principais concepções ao
longo da História:
 como representação (“espelho”) do mundo
e do pensamento;
 como instrumento (“ferramenta”) de
comunicação;
 como forma (“lugar”) de ação ou
interação.
Daí, as diversas definições que
podemos encontrar para o termo:
 Todo sistema de sinais convencionais que
nos permite realizar atos de comunicação,
que nos permite expressar/dizer algo –
verbal, aquele que se utiliza da língua
(oral ou escrita), não-verbal, aquele que
utiliza qualquer código, que não seja a
palavra (e.: pintura, desenho, música,
dança, sinais etc.);
 Faculdade que tem o homem de exprimir
seus estados mentais por meio de um
sistema de sons vocais chamado língua,
ou por outro tipo de sistema;
 Atividade humana e cultural. É um
fenômeno dinâmico, condição para a
existência de qualquer grupo social.
Embora seja diversificada em sua
realização concreta, é um fenômeno
universal;
Linguagem:
 “Capacidade específica à espécie humana de
comunicar por meio de um sistema de signos
vocais (ou língua), que coloca em jogo uma
técnica corporal complexa e supõe a existência
de uma função simbólica e de centros nervosos
geneticamente especializados. Esse sistema de
signos vocais utilizados por um grupo social
determinado constitui uma língua particular. Às
línguas faladas pelos diversos povos damos o
nome de “línguas naturais”. (Dubois)
Línguas naturais:
 São as línguas faladas pelas várias
comunidades linguísticas humanas, tais
como o francês, o inglês, o chinês, o
armênio, o russo, o português, o tupi, etc.
“Nos termos de Benjamim L. Whorf, cada
língua recorta a realidade de um modo
particular”.
 A “tese de Whorf”, como é conhecida, contraria
a impressão ingênua de que as línguas seriam
meras variações de expressões que remeteriam
a significados universalmente válidos e estáveis.
Assim, as línguas naturais não são um decalque
nem uma rotulação da realidade; elas delimitam
aspectos de experiências vividas por cada povo,
e estas experiências, como as línguas, não
coincidem, necessariamente, de uma região
para outra”...
Exemplos:

 Chauffeur: aquele que aquece o motor (francês);


conductor (esp.) ou driver (ingl.): aquele que
dirige o carro; motorista: aquele que põe o
motor em funcionamento.
 Arco-íris: português (roxo, anil, azul, verde
amarelo, laranja, vermelho); seis cores em
inglês (purple, blue, green, yellow, orange, red);
duas cores em Bassa (hui e ziza)

Obs: Bassa - língua falada na Indonésia e alguns países do sul da África


 “Nenhuma língua pode expressar, com
inteira justeza, senão a sua própria
cultura, e ela falha, lamentavelmente,
quando pretende traduzir a língua (e a
cultura nela implícita) de uma outra
sociedade” (E. Lopes, p. 24)
Linguagem animal existe?
 Um estudo clássico de Karl von Frisch, 1959,
revela que a abelha-obreira, ao encontrar uma
fonte de alimento, regressa à colmeia e transmite
a informação às companheiras por meio de dois
tipos de dança: circular, traçando círculos
horizontais da direita para a esquerda e vice-
versa, ou em forma de oito, em que a abelha
contrai o abdome, segue em linha reta, depois faz
uma volta completa à esquerda, de novo corre
em linha reta e faz um giro para a direita, e assim
sucessivamente.
 Embora seja bem preciso o sistema de
comunicação das abelhas- ele não
constituí uma linguagem, no sentido em
que o termo é empregado quando se
trata de linguagem humana.
Diferenças entre a comunicação
das abelhas e a humana
 A mensagem se traduz pela dança
exclusivamente, sem intervenção de um
“aparelho vocal”, condição essencial para
a linguagem;
 A mensagem da abelha não provoca uma
resposta, mas apenas uma conduta, não
há diálogo;
 A abelha não constrói uma mensagem a
partir de outra mensagem;
 Conteúdo da mensagem é único- o
alimento, a única variação possível refere-
se à distância e à direção; o conteúdo da
linguagem humana é ilimitado;
 A mensagem das abelhas não se deixa
analisar, decompor em elementos
menores.
Características da
linguagem humana
 a) Simbolização: a linguagem humana é
simbólica: os signos representam a realidade; a
língua é uma recriação (representação) da
realidade, uma “imago mundi”.

 b) Articulação: a linguagem humana é


duplamente articulada. A primeira articulação
(dos morfemas: as menores unidades
significativas) e a segunda articulação (dos
fonemas: as menores unidades distintivas. Na
palavra gatas temos 03 morfemas (1ª art.) e 5
fonemas (2ª art - g/a/t/a/s )
 gat- = morfemal lexical;
 -a = morfema de gênero feminino;
 -s = morfema de número plural;
 c) Regularidade: cada manifestação linguística
tem uma significação permanente capaz de
repetir-se idêntica a si mesma nas mesmas
circunstâncias; embora as manifestações
linguísticas variem no tempo e no espaço, isto
não viola o princípio da regularidade

 d) Intencionalidade: toda comunicação implica


sempre um propósito claro e definido e é dotada
de uma intenção: não há uma fala neutra
 e) Produtividade: propriedade da língua que
nos permite, a partir de um número determinado
de elementos, produzir um número infinito de
frases; capacidade de reconhecer e produzir
mensagens, independentemente de já tê-las
ouvido antes ou não; o ser humano não só
repete frases ouvidas anteriormente, mas é
capaz de gerar suas próprias frases.
Outros conceitos decorrentes de
Linguagem:
 LÍNGUA: é um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir o exercício da linguagem. É o código,
um sistema de signos. Reflete as idéias, os
comportamentos de uma sociedade, a cultura
de um povo. Apresenta um caráter social.

 FALA: é a atualização da língua pelo indivíduo.


Apresenta um caráter individual.
 NORMA: é um conjunto de regras que
regulam as relações linguísticas. É um
conjunto de hábitos linguísticos vigentes
no lugar ou na classe social mais
prestigiosa no país. Pode ser coletiva ou
individual.
 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: é o termo
empregado para designar as diferentes formas
de uso de uma língua. Vários fatores
influenciam o falante no uso da língua: histórico
(arcaísmo, neologismo, gíria), geográfico
(regionalismo), social (grau de instrução, idade,
profissão), estilístico (situação de conversação,
pessoal).
 NÍVEIS DE LINGUAGEM: o indivíduo
organiza a linguagem em relação à
situação e ao interlocutor, o que
caracteriza o aparecimento de diferentes
níveis de linguagem: culto, formal,
comum, familiar, informal, popular.
Língua falada
X
língua escrita
LÍNGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA

repetição de palavras vocabulário rico e variado (sinônimos)

emprego de gírias emprego de termos técnicos

maior uso de onomatopéias vocabulário erudito, substantivos abstratos

emprego restrito de certos tempos e aspectos emprego de mais-que-perfeito, subjuntivo,


verbais futuro do pretérito

colocação pronominal livre colocação pronominal de acordo c/ gramática

supressão dos relativos (p.ex.: cujo) emprego de pronomes relativos

frases feitas, chavões variedade na construção de frases

anacolutos (rupturas de construção) sintaxe bem elaborada

frases inacabadas frases bem construídas

formas contraídas, omissão de termos na frase clareza na redação, sem omissões e ambi-
guidades

predomínio da coordenação emprego de coordenação e subordinação


Concluindo...
Linguagem e a fala humana
 A linguagem é inseparável do homem e segue-o em
todos os seus atos.
 A linguagem é o instrumento pelo qual o homem
modela seu pensamento, seus sentimentos, suas
emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos;
 A linguagem não é um simples acompanhante, mas sim
um fio profundamente tecido na trama do pensamento;
para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a
consciência vigilante transmitida de pai para filho.

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