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ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA

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Sumário
1. Introdução ........................................................................................................................ 2
2. Linguística - Conceito ........................................................................................................ 3
2.1 A Língua ......................................................................................... 4

3. Homem, Linguagem e Cultura ........................................................................................... 6


3.1Sistema aprendido e transmitido ..................................................... 8

3.2Origem e Mudança .......................................................................... 9

3.3No Brasil ........................................................................................ 12

4. Difusão e Declínio............................................................................................................ 14
4.1No Brasil ........................................................................................ 15

5. Diversificação e universalidade........................................................................................ 17
6. Generalidades distintivas das línguas .............................................................................. 21
7. Leituras Recomendadas .................................................................................................. 23
8. Referências Bibliográficas: ............................................................................................... 24

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1. Introdução

Figura 1: Conceito de Antropologia Linguística

Fonte: https://www.google.com.br/

A anterioridade da espécie humana, ou seja, sua condição primata, caracteriza-


se pela ausência da fala. Quando ou como o homem se livra dessa condição,
passando a expressar--se através da palavra, é uma indagação que a Arqueologia
Pré-Histórica se empenha no sentido de encontrar respostas. Não apenas em
relação ao fato fundamental da aquisição dos padrões da fala, mas, sobretudo, na
capacidade de transmissão oral e simbólica dos conhecimentos e experiências
adquiridos que tornou possível o advento da cultura humana.

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O Homo sapiens nasceu mais bem aparelhado para aprender sua língua e, ao
mesmo tempo, aprender sua cultura. Linguagem e cultura estão íntima e
mutuamente relacionadas. A natureza humana se completou a partir do
desenvolvimento cerebral que capacitou o homem a emitir sons específicos para
expressar seus pensamentos, sentimentos, necessidades e meios protetores. É de se
supor que com essa evolução dos primeiros homens tenha surgido a reflexão,
exteriorizada de formas diferenciadas, das quais se tem pouquíssimas evidências.
Como saber, se não há fósseis de palavras! Fala articulada, capacidade de expressão,
aprendizado imediato e a transmissão dos conhecimentos adquiridos evidenciam que
a linguagem é o grande fator adaptativo, próprio e natural dos homens.

2. Linguística - Conceito
Figura 2: conceito de Linguística

Fonte: https://www.google.com.br/

LINGUÍSTICA - A linguagem permite a formalização do conhecimento


científico por meio de nomenclaturas e taxionomias. Pela sua importância,
a própria língua se torna foco dos estudos científicos que se voltam com
especial interesse ao estudo dos signos linguísticos.

A linguística é o estudo das estruturas da linguagem humana e suas divisões


em grupos ou famílias. Tem por objeto a origem, o desenvolvimento, a evolução e a

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comparação dos signos linguísticos. Embora considerada uma ciência jovem, a
linguística vem estabelecendo estreita relação com diversas outras áreas do
conhecimento.

A linguística, portanto, pode ser definida como o estudo científico da linguagem


humana, concentrado na natureza, no funcionamento e nos procedimentos de
descrição das línguas. Prioriza a língua falada e a maneira como ela se manifesta em
determinada época.

2.1 A Língua
A língua é o sistema abstrato, por sua natureza coletiva e psíquica, de signos.
Também por ser, ao mesmo tempo, instituição e convenção social, é um sistema
obrigatório a todos os membros de qualquer comunidade linguística. Sua
manifestação constitui-se como um mecanismo de representação por palavras,
segundo determinadas regras que se formalizam em frases.

É o meio de comunicação e expressão, falado ou escrito, utilizado pelos


indivíduos de uma comunidade linguística. Em razão de ser um fenômeno social,
a língua não depende do indivíduo em particular.

A fala é essencialmente um ato individual. E a parte da linguagem que se


manifesta como seleção e arranjo individual por meio da fonação (o volume, o ritmo
ou o timbre com que os fonemas se realizam durante a emissão da linguagem
articulada), da realização das regras (obediência ou não às normas de concordância,
de regência), das combinações contingentes dos signos (a lógica na concatenação
das ideias, os diferentes registros, as variantes regionais, o campo semântico).

Não há língua sem fala, nem fala sem língua. Cada um dos termos se define
na oposição dialética que estabelecem entre si. Indivíduo e sociedade interagem,
alimentando-se mutuamente. Embora a língua seja um conjunto de signos essenciais
superior ao indivíduo, são os atos da fala que a fazem evoluir.

Toda língua natural pode ser estudada em dado momento específico, por
exemplo, no século XV ou hoje (sincronia). Mas é possível também explorar os
mecanismos que, ao longo do tempo, levaram às suas modificações sucessivas
(diacronia).

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 Sincronia: é a concomitância dos fenômenos linguísticos. Faz-se um estudo
sincrônico quando se estabelece uma descrição da língua no estado
considerado num momento específico, independentemente de sua evolução
histórica, como um sistema completo e eficiente em cada etapa. E a
coexistência dos fatos linguísticos que se leva em consideração. A sincronia é,
em geral, o objeto de estudo da gramática normativa.
 Diacronia: é a sucessividade dos fenômenos linguísticos. Fazemos um estudo
diacrônico quando estabelecemos uma descrição da língua ao longo de sua
história, com as mudanças fonológicas, morfológicas, sintáticas ou semânticas
que sofreu. É o objeto de estudo da gramática histórica, que busca entender as
diferentes etapas da evolução de uma língua.

 A linguagem é uma faculdade universal.


 A língua é um código social compartilhado por
uma comunidade.
 A fala é a utilização individual de uma língua.

Figura 3: Linguagem, língua e Fala

Fonte: https://www.google.com.br/

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3. Homem, Linguagem e Cultura

A linguagem, como capacidade exclusiva do homem não condicionada


biologicamente, mas aprendida, permite a ordenação e exteriorização das ideias,
pensamentos, conceitos e valores próprios codificados conforme a visão particular de
mundo de cada grupo humano. É um fenômeno cultural por excelência, sempre
adequado para satisfazer as necessidades adaptativas da cultura, determinando a
configuração de seus padrões culturais, portanto, a própria cultura.

Figura 4: Linguagem e Cultura

Fonte: https://www.google.com.br/

A linguagem é tão antiga quanto a cultura e sempre houve tantos modos de falar
quanto culturas. As correlações de cada grupo humano são complexas e específicas, desde
suas mais simples origens até os complexos idiomas das sociedades civilizadas da
atualidade.

Segundo Eble (1982), entende-se que pelo estudo da linguagem se observa uma
filosofia das formas simbólicas. Aqueles que têm o hábito de perceber os processos mentais
antropológicos dirigidos para a linguagem observam o quão sutilmente se revelam as sintaxes
fundamentais da organização de mundo de qualquer cultura.

Toda sociedade humana defende uma linguagem na qual possa registrar suas
experiências. Assim, elas são mantidas e transmitidas de geração em geração por meio dos
mecanismos linguísticos, já que nenhuma informação cultural está no código genético.
Portanto, será a linguagem um universal absoluto sobre o qual os homens têm depositado
suas impressões de mundo.

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Figura 5: Linguagem e Cultura: transmitida de geração em geração

Fonte: https://www.google.com.br/

Recentemente, estudos específicos e pesquisas sobre a evolução da linguagem


vêm buscando explicações na:

 Psicobiologia,
 Neurologia,
 Fisiologia...

... no sentido de se indagar melhor onde estão as raízes da linguagem humana.

Recentes descobertas científicas demonstram que o genoma humano é 98% igual ao


do chimpanzé, e, portanto, se discute se a linguagem só foi e é possível graças aos 2%
restantes.

 Estariam as estruturas da linguagem em todo o cérebro humano?

Entre os cientistas interessados nessa área de estudos, destaca-se a americana


Christine Kenneally, que publicou recentemente o livro The First Word (A Primeira Palavra),
e também Sue Savage-Rumbaugh e Philip Lieberman, com seus trabalhos de linguística,
baseados em novas indagações e colocações, que vêm permitindo o avanço da ciência em
geral.

Não se pode desprezar a contribuição dos teóricos do século XX que se empenharam


em desvendar os mistérios e os enigmas da linguagem, como:

 Sapir, Edward (1921),


 Jesperson (1923),
 Vendryes (1925), Boas (1938),
 Bloomfield (1933),
 Bloch e Trager (1942), Whorf (1956),
 Chomsky (1969),

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 Gorce, Maxime (1974) e muitos outros.

Por fim, se o homem é o sem começo e o sem fim, não lhe resta nesta continuidade
outra adequação sendo a que lhe é paralela, a escritura linear infinita.

O homem foi subjugado pela rede das palavras e só se libertará mediante a destruição
delas, mas então não haverá mais homens. O destino do homem é o destino da linguagem.
O homem não passa de mero destinatário. A forma como pensamos está perfeitamente
encadeada com a forma pela qual falamos, e a forma como falamos depende de nossa leitura
do mundo. Esta leitura não está acabada (EBLE, 1982, p. 81).

3.1Sistema aprendido e transmitido

Figura 6: Aquisição da linguagem

Fonte: https://www.google.com.br/

A linguagem não é um mecanismo instintivo e biológico. Os seres humanos


têm, necessariamente, de aprender sua língua e, consequentemente, a cultura da qual
fazem parte. Trata-se do instrumento fundamental para o ingresso em uma cultura. É,
portanto, um sistema aprendido, uma atividade intelectual, simbólica e de
compreensão, inseparável do pensamento e da imaginação, que são ordenados de
modo a permitir uma visão mais global da realidade.

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O homem aprende, mas é necessário que sua representação na mente seja
conceitualizada, transformando-se em um primeiro dado da consciência, com um
objetivo determinado, criando as condições para o surgimento da linguagem.

A aquisição da linguagem processa-se de forma natural, ouvindo a fala dos


membros do grupo, assimilando os sons e seus diferentes significados. A cada
contexto sociocultural corresponde um conjunto de regras próprias definindo a forma
de falar, suas variações, seus significados, seu comportamento linguístico, numa
verdadeira interação entre língua e cultura.

3.1 Origem e Mudança


Figura 7: Origem e a evolução da linguagem

Fonte: https://www.google.com.br/

A aquisição da linguagem foi a primeira e imprescindível revolução na história


da humanidade. Originada nos pequenos agrupamentos familiares, onde aos
primeiros rudimentos da fala seguiu-se a formulação de um vocabulário comum,
chega-se a uma língua básica, compreendida pelos integrantes do grupo.

Para Fontanari (2009), compreender a origem e a evolução da linguagem é


uma das questões mais importantes da Ciência e, quem sabe, também das
Humanidades. De fato, sempre ouvimos que a linguagem é a maior qualidade que nos
distingue dos outros animais. Às vezes, a importância da linguagem é colocada acima
do pensamento, como se observa nessa frase de Saussure (1966, apud FONTANARI,
2009, p. 247):

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“Sem a linguagem, o pensamento seria uma névoa vaga e
inexplorada. Não haveria ideias preexistentes e nada poderia ser
distinguido antes do surgimento da linguagem”.

Até o momento, não há evidências de quando ou como a linguagem se realizou,


isto é, de como o som vocal passou a ter significados. Na tentativa de encontrar
respostas a essas indagações, antropólogos linguistas, de longa data, vêm
aventando teorias e hipóteses explicativas, fundamentadas em ciências várias e na
Antropologia propriamente dita:

 teoria onomatopeica ou imitação dos sons, ruídos, gritos, dando-lhes um


caráter verbal, sons associados a um sentido;
 teoria gesticular, o uso do corpo e das mãos, gestos, expressões faciais
estimulando a fala articulada;
 teoria originada no evoluir da cultura material, isto é, o aperfeiçoamento
gradativo dos objetivos líticos levaria a um cérebro mais complexo e,
consequentemente, a uma linguagem gradativamente mais elaborada.

Estas e outras hipóteses podem ser contestadas e novas poderão surgir.


Torna-se importante realçar seu aspecto eminentemente social, levando-se em conta
que as palavras e os símbolos são convencionais e arbitrários, associados às
experiências de cada grupo humano e às exigências da cultura.

É através da estrutura da linguagem que se pode conhecer o mundo mental


dos falantes de uma língua, seus pensamentos e ideias, sua visão global. Diante da
importância e da fascinação das alusões referentes à linguagem, não é de se
estranhar que muitas falas repletas de fantasias tenham sido propostas para explicar
sua origem.

No século XIX, havia duas teorias populares, usadas de forma pejorativas


pelos linguistas contemporâneos de “ha-ha” e “au-au”.

 A teoria “ha-ha” sugere que a linguagem se originou dos gritos instintivos de alegria
e dor, enquanto “au-au” supõe que os grunhidos de animais tiveram papel

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fundamental, já que os caçadores primitivos provavelmente imitavam aqueles sons
como estratégia de caça (AITCHISON, 1996, apud FONTANARI, 2009, p. 247).

Depois dessa amostra, ninguém irá criticar a Société Linguistique de Paris por
ter banido em 1866 toda e qualquer discussão sobre a origem e evolução da
linguagem (FONTANARI, 2009).

Faz-se necessário que pesquisadores de campo, antropólogos, etnólogos,


linguistas tenham conhecimento das línguas dos grupos ágrafos contatados, para o
sucesso de suas investigações. Não apenas observar o cotidiano dos indivíduos, mas
também saber o que pensam e sentem e, só assim, penetrar no intrínseco da cultura.

Cada língua consiste em uma estrutura própria, das mais antigas às mais
modernas, das mais simples às mais sofisticadas. Não são entidades estáticas, pois
sofrem lentas e constantes mudanças, certamente em resposta ao desenvolvimento
contínuo e cumulativo das culturas.

Na dependência de fatores como expansão dos grupos humanos, contatos,


migrações, conquistas e outros, as mudanças podem ocorrer sempre gradualmente,
seja pela adoção ou pelo empréstimo de elementos linguísticos. Palavras,
modificações na pronúncia, na gramática, no vocabulário podem dar origem a línguas
aparentadas, ao surgimento de outras línguas, mistura de línguas, bilinguismo e
mesmo à substituição de uma língua por outra

Algumas sociedades são resistentes às mudanças, outras as aceitam com


facilidade, dependendo do tradicionalismo e das necessidades da cultura. Isso pode
ocorrer tanto nos grupos simples quanto nas sociedades complexas.

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3.2 No Brasil
De acordo com Silva (1998), o Brasil é um país que tem uma língua oficialmente
reconhecida, que é o português. Essa língua foi herdada dos colonizadores
portugueses. Antes da colonização, o país estava habitado por milhões de indígenas
agrupados em diversas tribos, cada uma com sua cultura e língua própria,
caracterizada por regras linguísticas, vocabulários e uma estrutura gramatical
particular (veja Capítulo 17).

Figura 8: A linguagem no Brasil : origens

Fonte: https://www.google.com.br/

A região do Alto Xingu apresenta aspectos significativos e singulares:


tradicionalmente habitada por grupos tribais linguística e culturalmente diferenciados,
partilham uma uniformidade cultural comum.

Egon Schaden (1969, p. 66) refere-se a essa unidade e pluralidade cultural na


área onde estão os representantes das quatro grandes famílias linguísticas: Tupi, Jê,
Aruák e Karib e uma isolada, num total de nove grupos. Cada um deles mantém sua
própria língua, elemento de identidade tribal, e participa de uma cultura comum
material e imaterial.

Alguns indivíduos são monolíngues, bilíngues, outros são poliglotas. É uma


área de aculturação intertribal na qual não há a imposição de uma língua sobre as
demais, mas todos se entendem e se comunicam, mesmo após a presença do
português usado na comunicação com os “brancos”, coexistindo com as línguas
indígenas.

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Nas cerimônias e encontros tribais, os indivíduos são muito formais, falando a
própria língua. Como afirma Lucy Seki (apud FRANCHETTO, 2011, p. 67), “cada
grupo mantém sua própria língua [...] e o próprio sistema intertribal vigente reforça o
valor da língua como elemento distintivo”.

“cada grupo mantém sua própria língua [...] e o próprio sistema


intertribal vigente reforça o valor da língua como elemento
distintivo”.

Figura 9: O Índio - As primeiras linguagens

Fonte: https://www.google.com.br/

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4. Difusão e Declínio
As línguas não apenas se modificam ao longo do tempo. Elas também se
difundem em decorrência de fatores de ordem histórica e geográfica, tais como
guerras, conquistas, migrações, colonização etc.

Algumas línguas podem mesmo entrar em declínio e até desaparecer quando


são substituídas por outra de maior aceitação, passando assim a ser a língua
dominante. Em geral, isso acontece com frequência em países colonizados, em
detrimento de sua própria língua pelas vantagens de comunicação com o mundo
exterior e na aquisição de novos conhecimentos e padrões culturais.

Figura 10: Declínio da cultura indígena

Fonte: https://www.google.com.br/

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4.1 No Brasil
Situação linguística e sociocultural significativa e até mesmo incomum ocorreu
na faixa costeira brasileira ocupada predominantemente por grupos indígenas de fala
tupi (da família linguística Tupi-Guarani) a partir do descobrimento e durante a
colonização.

Brancos e índios passaram a desenvolver longo processo de miscigenação e


de aculturação quando praticamente a língua tupinambá tornou-se o idioma mais
falado na costa brasileira. Todos se obrigavam a aprendê-la, sobretudo os jesuítas
em seus trabalhos de catequese.

A expansão da língua mesclada com o português, do litoral para o interior, foi


inevitável, difundindo-se a chamada Língua Geral Brasílica ou ñeengatú (língua boa)
a tal ponto que foi proibida pelo governo português, em 1727, através da Provisão
Régia de 12 de outubro. Essa proibição atingia mais os colonos dos núcleos
urbanizados, e menos as regiões interioranas mais distantes, como a Amazônia, por
exemplo.

Durante séculos, o uso corrente da Língua Geral teve papel relevante na troca
e adoção dos padrões culturais e linguísticos entre brancos e índios, pois facilitou os
contatos e o entendimento entre eles. A língua portuguesa no Brasil sofreu
influência decisiva da língua tupi, com a incorporação de numerosos termos de
origem indígena ao vernáculo.

Os estudos da toponímia brasileira revelam o grande número de topônimos de


origem Tupi-Guarani, principalmente na faixa costeira e região amazônica. Deve-se
assinalar que, no Brasil, muitos idiomas indígenas vêm morrendo desde o início
da colonização e podem, hoje, estar desaparecendo em consequência da diminuição
brusca da população tribal ou porque os mais jovens já se esqueceram da língua
materna, ou que não lhes foi ensinada. É uma constatação preocupante, dada a
biodiversidade linguística brasileira com quatro grandes troncos:

 Tupi, Macro-Jê, Aruák e Karib e muitas outras famílias menores e grupos isolados.

Calcula-se que por ocasião da descoberta e durante a colonização os milhões


de índios (de 6 a 10 milhões) que habitavam o país falavam cerca de 1.300 línguas.
Hoje, estão reduzidos a 170 mil indígenas e 181 línguas.

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Aryon Dall’Igna Rodrigues, estudioso das línguas indígenas (Universidade de
Brasília), alerta os antropólogos e linguistas para esses dados acima, no sentido de
evitar a extinção das línguas indígenas, para que não se perca a imensa riqueza
cultural que representam, e estabelecer uma ortografia para seu vocabulário, já que
são idiomas orais, e também pelo ensino bilíngue nas escolas indígenas, como
determina a Constituição Brasileira de 1988. Como exemplo de um idioma que está
morrendo, pode-se citar o dos índios Xipaia, de filiação Tupi, do qual resta apenas
uma última falante viva, capaz de fornecer as informações necessárias para uma
reconstituição cultural do grupo.

Carmen Rodrigues, linguista da Universidade Federal do Pará, tenta, há


vários anos, salvar o idioma xipaia da extinção, trabalhando junto à última pessoa
falante da língua, na cidade paraense de Altamira, registrando seu vocabulário,
observando a fonética, as regras gramaticais, gravando histórias, canções, mitos,
diálogos, identificando palavras, textos de sua aldeia que fica a dez dias de viagem
de barco, de Altamira. Na verdade, o idioma xipaia pode morrer, mas não será extinto.

Claude Lévi-Strauss Fonte

“Em um texto clássico, intitulado “Raça e história”, Claude


Lévi-Strauss (1961) escreve: Assim, ocorrem curiosas situações
onde dois interlocutores dão-se cruelmente a réplica. Nas Grandes
Antilhas, alguns anos após a descoberta da América, enquanto os
espanhóis enviavam comissões de inquérito para verificar se os
indígenas possuíam ou não alma, estes se empenhavam em
emergir brancos prisioneiros, afim de verificar, por uma observação
prolongada, se seus cadáveres eram ou não sujeitos à putrefação.”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Levi-strauss_260.jpg

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5. Diversificação e universalidade

O registro das primeiras evidências culturais remonta há cerca de 1 milhão de


anos, quando as culturas passaram a se desenvolver de maneira lenta e segura, de
forma contínua e cumulativa, o mesmo acontecendo com a linguagem, porque homem
e linguagem são duas entidades indissociáveis, que se perdem no tempo.
Hodiernamente, através de estudos e de pesquisas da Antropologia Linguística, é
possível afirmar a universalidade e a diversidade das línguas existentes, sua
multiplicidade e sua extensão no mundo: estima-se em vários milhares.

Reiterando a estimativa da Academia Francesa, o linguista Berlitz (1988, p.


11) afirma haver 2.796 línguas diferentes no mundo e cerca de 7 a 8 mil dialetos
regionais, que são as variantes dos idiomas. Claude Hagège (S/D, p. 301-
304) estima 5 mil línguas, enquanto Hoebel e Frost (1981, p. 386) calculam 6 mil.

Derivadas sempre de uma língua originária, elas têm sua própria estrutura, isto
é, fonemas, regras gramaticais, construção de frases etc., acham-se relacionadas
entre si, podendo ser agrupadas em troncos e famílias linguísticas conforme suas
semelhanças e diferenças. Há também grupos isolados, sem nenhum parentesco.

Resulta daí um pluralismo linguístico e cultural facilmente compreensível


quando se analisa a distribuição geográfica das línguas. É de se supor que as línguas
indo-europeias, também conhecidas como arianas, tenham se originado há 25 mil
anos na Europa Central, difundindo-se pelos territórios europeus e Ásia, por meio de
grandes e constantes migrações.

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Na Europa, a família das línguas indo-europeias abrangia o latim, que originou
as línguas romanas;

 o grego, que por pouco não se tornou a língua dominante mundo;


 as línguas celtas (o gaélico, o galês e o bretão);
 as línguas germânicas (as escandinavas e o frísio que originou o
inglês);
 o grupo eslavo (russo e outras).

Na Ásia, os dialetos iraniano, curdo e beluchi; línguas da Índia em grande


número, salientando-se o hindi, cujos falantes constituem um dos maiores grupos
linguísticos do mundo. Ainda, as línguas armênias, albanesa etc

O grupo das línguas semíticas atuais incluem o hebraico e o árabe, que se


relacionam intimamente por meio do aramaico, língua geral do Oriente Médio da
Antiguidade que desapareceu como língua viva. Outras línguas semíticas são o
amarico, o bérbere, o haussá etc.

Na África Negra, línguas aparentadas em grande número formam a grande


família Níger-Congo-Cordofaniana, inclusive o grupo banto. Na parte central, as
línguas nilóticas e outras. O suaíli, idioma internacional, é a língua oficial em dez
países africanos, tendo já adotado muitas palavras do inglês, língua que poderá ser
por ela substituído.

Línguas oceânicas ou malaio-polinésias: trata-se de uma imensa família de


línguas faladas de Madagascar ao Hawaii e do Vietnã à Ilha de Páscoa.

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As línguas da Austrália, da Nova Guiné e das Ilhas Molucas têm
características próprias. Na Austrália, ocorre um fenômeno linguístico digno de nota:
os 200 idiomas indígenas relacionados pertencem a uma única família linguística.

No sudeste asiático, duas famílias predominam: a austro-asiática (vietnamita,


a dravidiana e a tamul), línguas do Cáucaso e a grande família sino-tibetana. O tai e
o japonês aparentados ao grupo uralo-altaico (tunguse, grupo mongol, grupo turco)
com os dialetos que originaram o lapão, o finlandês e o húngaro.

Na Sibéria, há várias famílias linguísticas. A língua esquimó se expandiu,


supõe-se, do estreito de Behring, através do Alasca até a Groelândia.

No continente americano, de norte a sul, eram numerosas as línguas faladas


pela população indígena, da mesma forma como eram numerosas as famílias
linguísticas e as línguas isoladas.

Na América do Norte, as principais famílias eram o algonquino, o iroquês, o


sioux, etc.

Na América do Sul, eram quatro os troncos principais:

 Tupi-Guarani,
 Macro-Jê,
 Karib, no Brasil.

No Peru e na Bolívia,

 quéchua-aymará.

Ao Sul, línguas da Patagônia e da Terra do Fogo, afirmam Laburthe-Toira e


Warnier (1997, p. 301).

Bastante crítica é a situação das línguas existentes no mundo, pois muitas


delas estão ameaçadas de extinção. Antropólogos e linguistas acreditam que neste
século de 50% a 90% das línguas vão desaparecer. É uma preocupante previsão:
quando morre uma determinada língua, desaparece uma cultura e consequentemente
uma visão do mundo.

Segundo o Ethnologue, principal catálogo de línguas do mundo, todos os


continentes têm numerosas línguas nessa situação:

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1. nas Américas, 170 idiomas ameaçados, sendo 30 no Brasil, 68 nos
Estados Unidos, 11 no Peru, 8 no México. Na África, 46 línguas;
2. no Pacífico, 210;
3. na Ásia, 78 línguas; com maior número,
4. na Austrália, em um total de 168 ameaçadas.

Alguém já se expressou assim: “as línguas morrem em silêncio. Envelhecem


quando não são mais ensinadas às novas gerações, quando diminui o número de
falantes ou quando as gerações jovens adotam outro idioma após contato intertribal
ou interétnico”

Figura 11 : Principais ramos da antropologia

Fonte: https://www.google.com.br/

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6. Generalidades distintivas das línguas
Figura 12: Generalidades das Línguas

Fonte: https://www.google.com.br/

Segundo alguns autores, nos milhares de idiomas mundiais apenas 101 contam
com mais de 1 milhão de falantes:

 O chinês (mandarim) é o primeiro, com cerca de 1 bilhão, seguido do


inglês, com 300 milhões, mais 200 milhões que o empregam como
segunda língua, ocupando assim uma área geográfica muito maior do
que a China.
 O hindi, na Índia, com 300 milhões;
 O árabe, com 272 milhões; o português, com 70 milhões; o russo, com
164 milhões;
 O japonês, com 125 milhões.

O norte da Espanha e o sudeste da França (parte ocidental dos Pirineus)


abrigam etnias que falam o basco e o catalão, línguas que diferem totalmente do
espanhol. O basco talvez seja a mais difícil de aprender, pois não se relaciona com
nenhuma outra do mundo. Constitui-se em um vínculo que os une e reforça a
preservação de sua identidade étnica. Supõe-se ter sua origem no Neolítico.

Outro aspecto interessante refere-se à tribo indígena brasileira, os chamados


Pirahãs, cuja língua desafia as teorias sobre a formação dos idiomas. Este grupo tribal,
habitante às margens do rio Maici, afluente do rio Madeira, no Estado do Amazonas,

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apresenta situação sui generis. Seu idioma parece ser o único no mundo: não tem
frases subordinadas, nem palavras para designar as cores; não usa tempos verbais
que indiquem o passado e o futuro.

Os índios não contam histórias do passado, pois conhecem o presente;


ignoram qualquer manifestação artística, não cultivam mitos, não sabem contar.
Foram contatados pelo etnólogo inglês Daniel Everett, com os quais conviveu sete
anos e observou essas diferenças com os demais idiomas. Seus esforços para
ensiná-los não obtiveram sucesso, pois esses indígenas não conhecem palavras
indicativas do conceito de números e seus significados, não podendo, portanto,
aprendê-los. Em relação a eles, não se pode falar em gramática universal com regras
comuns, como preconiza o linguista

 Noam Chomsky. Everett afirma: “sua gramática vem da sua cultura que
é absolutamente única”.

O desenvolvimento cultural e social de um país depende do ensino satisfatório


de seu idioma (língua falada e escrita), já que todos obedecem à mesma gramática.
A linguagem, tendo a comunicação como função primordial, permite aos indivíduos a
transmissão dos padrões culturais armazenados às gerações num processo de
continuidade cultural que só a educação pode desenvolver. Pensar, falar e escrever
corretamente são necessários para perpetuar a visão do mundo da cultura.

IMPORTANTE:
Os registros e discursos inaugurais que temos sobre o Novo Mundo
foram feitos, por um lado, pelos primeiros viajantes, formando o que
costumamos chamar de “literatura de viagem”. Sobre a América do Sul,
foram produzidos importantes relatos. Entre eles, podemos citar as
singularidades da França Antártica, publicado em 1556, por André
Thévet, e História de uma viagem feita às terras do Brasil, publicado em
1578, por Jean de Léry. Outras fontes de informações importantes sobre
esses acontecimentos foram os relatórios dos missionários enviados
para o Novo Mundo

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7. Leituras Recomendadas

ATENÇÃO
Leituras Recomendadas :
SAHLINS, Marshall. O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: por que a
cultura não é um objeto em via de extinção. Mana, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, 1997.

________________. O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: por que a


cultura não é um objeto em via de extinção. Mana, Rio de Janeiro, v. 3., n. 2, 1997.

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8. Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Ângela. Notas sobre a família no Brasil. In: ALMEIDA, Ângela M. et al.
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