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HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3
2. ANTROPOLOGIA ................................................................................................ 4
2.1 Origens........................................................................................................... 4
2.2 Conceito ......................................................................................................... 5
2.3 Objetivos da Antropologia .............................................................................. 8
2.4 Campos de Atuação ....................................................................................... 9
2.4.1 Sociologia .............................................................................................. 11
2.4.2 Psicologia .............................................................................................. 12
2.4.3 Economia e política ............................................................................... 12
2.4.4 Outras ciências ...................................................................................... 13
2.5.1 Método indutivo ..................................................................................... 15
2.5.2 Método dedutivo .................................................................................... 16
2.5.3 Método hipotético-dedutivo .................................................................... 16
2.6 Técnicas de pesquisa da Antropologia......................................................... 16
3. PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO ........ 17
3.1 Antropologia Pré-Histórica ........................................................................... 17
3.2 Antropologia Linguística ............................................................................... 19
3.3 Antropologia Psicológica .............................................................................. 20
3.4 Antropologia Social e Cultural ...................................................................... 21
4. A ANTROPOLOGIA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ............... 23
4.1 A Pré-História ............................................................................................... 23
4.2 Períodos da Antropologia ............................................................................. 24
4.2.1 Período de formação ............................................................................. 24
4.2.2 Período de convergência ....................................................................... 25
4.2.3 Período da construção ........................................................................... 26
4.2.4 Período da crítica................................................................................... 27
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 30

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1. INTRODUÇÃO

A Antropologia é uma ciência “dos observadores capazes de observarem a si


próprios.” (LAPLANTINE, 1998, p. 170)
O homem como ser biológico, social e cultural vive em constante
questionamento para entender o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”.
A percepção que temos de nós é modificada quando nos “olhamos com olhos
de ver” em relação aos outros e enxergamos de modo diferente ao observar que os
outros conseguem fazer as mesmas coisas que nós fazemos, mas de modo diferente,
isso nos induz a interrogarmos sobre as nossas próprias maneiras.
Por exemplo, reflitam o que há de “apropriado” em comer com garfo e faca?
Escovar os dentes após as refeições? Isso é mais natural que comer com as mãos,
ou de não escovar os dentes? É “Natural” para nós, mas é para os membros de outra
cultura?

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2. ANTROPOLOGIA
2.1 Origens

O estudo científico do homem foi constituído no século XVIII e adotou o nome


de Antropologia. No zelo enciclopédico do século de luzes, Diderot deu conta de
alguns significados do conceito, segundo os quais: Forma de se expressar dos
escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições exclusivas
dos homens.
Na economia animal de Techmeyer e Drake (1739), Antropologia é definida
como o estudo do homem (DIDEROT, 1785, p. 740). Os antecedentes do pensamento
antropológico manifestam-se no acompanhamento do processo de colonização
generalizada do mundo pelos europeus, a partir de 1492. Primeiro, foi a perplexidade
ante o chamado “novo mundo”, após a conquista dos povos nativos e da colonização,
compreendida como a imposição material, social e simbólica da Europa sobre os
grupos indígenas.
Buffon e Saint-Hilaire representam dois pensadores indiscutíveis do surgimento
da Antropologia. O primeiro pode ser considerado o pioneiro do domínio da disciplina.
Saint-Hilaire fez uma contribuição fundamental para o estudo dos elementos
autoformativos da espécie humana. Pode-se considerar pioneiro o trabalho de Buffon,
História natural, general y particular (BUFFON, 1794).
No século XIX, houve uma intensa atividade científica pela qual se constituíram
e estabeleceram as principais disciplinas científicas e suas práticas. A Antropologia
não foi exceção e, ainda mais, foi um bom objeto de estudo para entender os
processos institucionais da ciência. Assim, em 1799, Louis-François Jauffret e Joseph

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de Maimieux fundam em Paris a primeira sociedade antropológica Société des
Observateurs de l’Homme (BRO-CA, 1870, apud HERNÁNDEZ, 2015).
A palavra “antropologia” aparece pela primeira vez na academia do
Renascimento francês. No entanto, como disciplina acadêmica é relativamente jovem.
Suas raízes podem ser encontradas no Iluminismo do século XVIII e início do século
XIX na Europa e na América do Norte.
Na medida em que as nações europeias estabeleceram colônias em diversas
regiões do planeta, e os norte-americanos expandiam-se para o Oeste e para o Sul
dominando os territórios indígenas, ficou claro para os colonizadores que a
humanidade era extremamente variada.
A Antropologia começou, em parte, como uma tentativa dos membros das
sociedades científicas de registrar objetivamente e compreender essa variação. A
curiosidade relacionada com esses povos e seus costumes motivaram os primeiros
antropólogos amadores. Por profissão, eles eram naturalistas, médicos, clérigos
cristãos, ou exploradores. A partir da segunda metade do século XIX, a Antropologia
foi considerada uma disciplina acadêmica nas universidades norte-americanas e
ocidentais. Hoje, é uma ciência estudada no mundo inteiro (O’NEIL, 2013). Em suma,
podemos definir Antropologia como uma ciência que objetiva descrever no sentido
mais amplo possível o que significa ser humano (LAVENDA & SCHULTZ, 2014).

2.2 Conceito

Figura 1: Conceito de Antropologia.

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Fonte: (SILVA, 2003).

Antes de tudo, vamos analisar a etimologia da palavra “antropologia”. Esta é


formada por dois radicais de origem grega:
 “Anthropos”, que significa homem, e ‘logos’, que significa ciência.
Assim, podemos dizer que ...

“Antropologia é o estudo do homem”.

 Mas o que isso quer dizer?


 Qual o sentido de estudar o homem?
 Qual homem é esse estudado pela Antropologia?
 Como realizar o estudo do homem?
 Antropologia é Ciência?
 Como interpretar a sociedade a partir da Antropologia?
 A quem serve a Antropologia?
 Para que Antropologia?
Todas essas perguntas vão sendo esclarecidas ao longo desta disciplina fim
de que se possa aproveitar a discussão e levar um pouco dela para a vida profissional.

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Inicia-se dizendo que a Antropologia propõe um olhar integral sobre o homem,
que considere aspectos biológicos, sociais e culturais. Nesse sentido, cabe observar,
analisar e compreender as inúmeras dimensões atribuídas aos seres humanos em
sociedade, a fim de compreender suas modificações ao longo do tempo.
Assim, François Laplantine (2003), em sua obra Aprender Antropologia, é mais
preciso ao enfatizar o estudo do homem para além de um recorte temporal e territorial
específicos, como diz
“A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade.
Ela é o estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive), ou seja, das
culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas”
(LAPLANTINE, 2003, p. 12).
O homem sempre foi um curioso de si próprio. E tendo estudado inicial- mente
a natureza, ele passou a observar, analisar e compreender o próprio homem por meio
de métodos científicos importados das Ciências Biológicas até que as próprias
disciplinas das Ciências Humanas desenvolvessem suas metodologias. Com isso,
essas aprendizagens iniciais sobre o estudo do homem vão dando corpo a um saber
cientifico sobre os seres humanos e seu modo de vida, possibilitando uma reflexão
mais aprofundada em relação aos fenômenos das sociedades (Figura 2).

Figura 2: A Antropologia - Um Olhar sobre as Sociedades.

Fonte: Fonte: (SILVA, 2003).

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Cabe enfatizar que a antropologia é um movimento epistemológico importante
no pensamento cientifico, pois o homem deixa de se perceber como o “centro da
humanidade” e passa a olhar o outro, a fim de acessar, conhecer, estudar e
compreender o seu modo de habitar o mundo. Ou seja, perceber-se em meio a outros
é um exercício de reflexão que nos desloca a compreender as múltiplas possibilidades
de viver em sociedade, apreendendo que não cabe impor um único estilo de vida para
todos os seres humanos.

Figura 3: História da Antropologia.

Fonte: Fonte: (SILVA, 2003).

2.3 Objetivos da Antropologia

A Antropologia é uma Ciência – um estudo sistemático que visa, através da


experiência, observação e dedução, produzir explicações contáveis de fenômenos,

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com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S NEW WORLD
ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937).
Assim, o objetivo principal da Antropologia é estudar a sociedade humana,
instituições sociais e cultura, em sua forma mais elementar. Além de ser útil para a
compreensão das sociedades humanas atuais, contribui no conhecimento da história
humana e natureza das instituições sociais. Portanto, a Antropologia Social está
intimamente relacionada com a História e a Arqueologia (NEENA, 2011).
Guerra (2018) complementa, afirmando que a Antropologia investiga as
culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas
semelhanças e diferenças. Tem seu foco de interesse voltado para o conhecimento
do comportamento cultural humano, adquirido por aprendizado social.
A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos
contextos em que são produzidos, a Antropologia, como o estudo das culturas,
contribui para erradicar preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o
relativismo cultural e o respeito à diversidade.

2.4 Campos de Atuação

Quando perguntado o que eles fazem, a maioria dos antropólogos responde


que estudam Antropologia Biológica, Arqueologia, ou alguma outra subdisciplina do
campo. O âmbito da Antropologia é tão amplo hoje, que poucos se consideram
competentes em todas as áreas. Em um extremo, antropólogos biológicos exploram
os fatos relativamente objetivos e quantificáveis da Biologia Molecular e os
mecanismos de herança genética e evolução.
No outro, os antropólogos culturais abordam a realidade subjetiva das atitudes,
percepções e crenças culturais (O’NEIL, 2013). Pela diversidade de assuntos
tratados, a Antropologia tornou-se um conjunto de quatro campos ou disciplinas
especializadas:

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 Antropologia Biológica ou Física: estuda as bases biológicas do comportamento
humano, bem como a evolução do homem. Inclui disciplinas como a Genética,
Paleoantropologia (estudos da evolução humana a partir de fósseis de hominídeos),
Primatologia, Etologia, Sociobiologia etc.
 Arqueologia: estuda vestígios materiais de culturas humanas desaparecidas,
como ossadas, palácios, pirâmides, fortalezas, vias de comunicação, ferramentas etc.;
busca conhecer o passado das sociedades humanas. Descreve o auge e a
decadência de culturas e os fatores que influenciaram o seu desenvolvimento. A
Antropologia contribui na explicação das práticas culturais, tais como guerra, caça,
horticultura, estratificação social etc.
 Antropologia Linguística: estuda a variedade de línguas faladas pelo homem, a
sua função e origem, bem como a influência da linguagem na cultura e vice-versa.
 Antropologia Cultural ou Social: o estudo comparativo das sociedades
humanas: sua variabilidade cultural, estilos de vida, práticas, costumes, tradições,
instituições, normas e códigos de conduta do passado e do presente (FERNANDEZ,
2014).
 A Antropologia, embora autônoma, relaciona-se com outras ciências, trocando
experiências e conhecimentos. Como ciência social, oferece e recebe dados teóricos
e metodológicos da:
• Sociologia;
• História;
• Psicologia;
• Geografia;
• Economia;
• Ciência Política.
Como ciência biológica ou natural liga-se:
• Biologia;
• Genética;
• Anatomia;
• Fisiologia;
• Embriologia;

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• Medicina.
Também a Geologia, a Zoologia, a Botânica, a Química e a Física vêm
oferecendo indispensável contribuição aos estudos antropológicos na busca da
compreensão dos problemas comuns a todas essas disciplinas.
A Antropologia, considerada a mais jovem das ciências, teve que aguardar o
desenvolvimento dos conhecimentos ligados à Geologia, à Genética, à Biologia, à
Sociologia para que pudesse se desenvolver. Pode-se afirmar que, somente após os
conhecimentos da célula e da evolução terem sido formulados e aplicados ao homem,
é que a Antropologia se sistematizou e progrediu como ciência do homem.
Mantém relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências que centram
seu interesse especialmente no estudo do homem e que emprestam a ela os dados
pesquisados e acumulados em relação a todos os aspectos da existência humana:
Sociologia, Psicologia, Economia Política, Geografia Humana, Direito e História.
A Antropologia vem firmando-se como ciência do homem que exige, cada vez
mais, a cooperação entre os seus especialistas e os de outras ciências, pois cada
série de problemas requer a utilização de métodos específicos altamente técnicos.

2.4.1 Sociologia

De todas as ciências sociais, a Sociologia é a que mantém relações mais


íntimas com a Antropologia, em função de seus interesses teóricos e práticos,
salvaguardando a especificidade de cada uma. Antropólogos e sociólogos
emprestam-se mutuamente os dados obtidos nas pesquisas, que passam a ter, com
esses especialistas, tratamento teórico adequado.
Antropologia e Sociologia auxiliam-se na compreensão do caráter global do
homem, enquanto reunido em sociedade. A primeira empresta o seu conceito de
cultura, largamente utilizado pela Sociologia, que, por sua vez, enfatiza o conceito de
sociedade. Como afirma o antropólogo Kluckhohn (1972, p. 284), “a abordagem
sociológica tem-se inclinado para o que é prático e presente, a antropológica, para o
que é pura compreensão e passado”. Ambas se valem de:
 Teorias;

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 Conceitos;
 Métodos;
 Técnicas desenvolvidos pelos seus especialistas.

2.4.2 Psicologia

As relações entre essas duas ciências são bastante estreitas, uma vez que
ambas têm como foco de interesse o comportamento humano. A Antropologia
ocupa-se do comportamento grupal, e a Psicologia, do comportamento individual.
Os antropólogos buscam, nos dados levantados pelos psicólogos, explicações
para a complexidade das culturas e do comportamento humano e para a interpretação
dos sistemas culturais relacionados com os tipos de personalidade correspondentes.
Indagam-se, assim, quais seriam os motivos da conduta social e qual o papel da
cultura no processo de adaptação humana.
Fatores biológicos, ambientais e culturais são as variáveis explicativas das
diferenças individuais que determinam os diversos tipos de personalidade básicos das
culturas. Na tarefa de proceder a esse conhecimento, antropólogos e psicólogos
auxiliam-se mutuamente, fornecendo dados que propiciam a compreensão de
problemas comuns.

2.4.3 Economia e política

As relações interdisciplinares com a Economia e a Política são justificadas,


uma vez que a Antropologia, ao se preocupar com a globalidade da cultura, enfatiza
o conhecimento das instituições econômicas e políticas. Todo grupo humano, por mais
simples que seja, tem sua organização econômica sistematizada, com base nos
recursos disponíveis e no trabalho realizado.
A Economia, tendo criado uma série de teorias, é capaz de explicar, de modo geral,
todo o procedimento econômico humano. Por outro lado, a Antropologia,
documentando numerosos sistemas existentes na Terra, tem uma perspectiva mais
ampla das organizações econômicas. Desse modo, ambas podem trocar informações

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valiosas para a melhor compreensão desse setor da cultura. Toda sociedade se
organiza politicamente por meio de um complexo de instituições que regula o poder,
a ordem e a integridade do grupo.
Nas sociedades simples, a organização política varia muito, relacionando-se
quase sempre com o ritual, o sagrado e os laços de parentesco. Antropólogos e
cientistas políticos encontram um ponto em comum. Se, por um lado, a Política se
desenvolveu no sentido de compreender as várias modalidades de formas de governo
e de Estado, por outro, os focos de interesse da Antropologia, sob esse aspecto, são
imensos. O intercâmbio de ideias enriquece o campo das duas ciências do homem.

2.4.4 Outras ciências

A História permite a reconstrução das culturas que já desapareceram,


indagando, muitas vezes, sobre as origens dos fenômenos que se relacionam com o
homem.
Por meio da Etno-história, é possível a reconstrução de culturas ágrafas do
presente que estiveram ou estão em contato com a civilização. A contribuição da
Geografia Humana aos estudos antropológicos é inestimável, interessando-se
ambas pela adaptação do homem e pela modificação do meio ambiente.
O geógrafo estuda as mudanças do habitat provocadas por tecnologias novas,
por inovações culturais etc. O estudo do meio físico de um grupo tribal é foco de
atenção tanto do antropólogo quanto do geógrafo humano.
O conhecimento da Biologia, em geral, e da Biologia Humana, em especial,
deve fazer parte da formação do antropólogo físico, que tem seu interesse centrado
na evolução do homem. Antropologia e Biologia mantêm íntimas relações que
facilitam sobremaneira a tarefa dos seus especialistas.
As ciências auxiliares, em geral, que se interessam por variadas áreas de
experiência humana estão em condições de dar respostas adequadas a questões e
problemas específicos.
Além dessas, várias outras ciências como a
 Geologia

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 Paleontologia
 Metalurgia
 Arquitetura
 Engenharia
 Zoologia
 Botânica
 Fisiologia
 Anatomia
 Farmacologia
 Astronomia
 Artes.
Em geral, todas ciências podem colaborar com o antropólogo nas suas mais
variadas atividades.

2.5 Metodologia da Antropologia

O propósito da ciência é criar conhecimento científico. Conhecimento científico


refere-se a um corpo generalizado de leis e teorias para explicar um fenômeno ou
comportamento adquiridos usando o método científico. As leis são padrões
observados de fenômenos ou comportamentos, enquanto as teorias são explicações
sistemáticas do fenômeno ou comportamento.
Por exemplo:

Em Física, as leis de movimento de Newton descrevem o que acontece quando


um objeto está em um estado de repouso ou movimento (a primeira lei de Newton),
a força necessária para mover um objeto em repouso ou deter um objeto em
movimento (a segunda lei de Newton) e o que acontece quando dois objetos
colidem – ação e reação (terceira lei de Newton).

A estratégia utilizada em qualquer pesquisa científica fundamenta-se em uma


rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista

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que o pesquisador tem do mundo que o rodeia. Esses pressupostos proporcionam as
bases do trabalho científico, fazendo que o pesquisador tenda a ver e a interpretar o
mundo sob determinada perspectiva. É absolutamente necessário que possam ser
identificados os pressupostos do pesquisador em relação ao homem, à sociedade e
ao mundo em geral. Fazendo isso, pode-se identificar a perspectiva epistemológica
utilizada pelo pesquisador. Essa perspectiva orientará a escolha do método,
metodologia e técnicas a serem utilizados em uma pesquisa.

2.5.1 Método indutivo

A indução é um processo pelo qual, partindo de dados ou observações


particulares constatadas, podemos chegar a proposições gerais.
Por exemplo;

Este gato tem quatro patas e um rabo, esse tem quatro patas e um rabo. Os gatos
que eu tenho visto têm quatro patas e um rabo. Assim, pela lógica indutiva, posso
afirmar que todos os gatos têm quatro patas e um rabo.

Assim, o método indutivo parte de premissas dos fatos observados para


chegar a uma conclusão que contém informações sobre fatos ou situações não
observadas. O caminho vai do particular ao geral, dos indivíduos às espécies, dos
fatos às leis. As premissas que formam a base da argumentação (antecedentes)
apenas se referem a alguns casos. A conclusão é geral, utilizando o pronome
indefinido todo.
Segundo Lakatos e Marconi (1983, p. 48), para não cometer equívocos,
impõem-se três etapas que orientam a processo indutivo:
1. Certificar-se de que é essencial a relação que se pretende generalizar;
2. Assegurar-se de que sejam idênticos os fenômenos ou fatos dos quais se
pretende generalizar uma relação;
3. Não perder de vista o aspecto quantitativo dos fatos – impõe-se essa regra,
já que a ciência é essencialmente quantitativa.

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2.5.2 Método dedutivo

Tal método faz o caminho oposto ao método indutivo. Enquanto o método


indutivo parte de casos específicos para tentar chegar a uma regra geral (o que,
muitas vezes, leva a uma generalização indevida), o método dedutivo parte da
compreensão da regra geral para então compreender os casos específicos.

2.5.3 Método hipotético-dedutivo

O método hipotético-dedutivo deve seu nome a duas fases fundamentais da


pesquisa: a formulação da hipótese e a dedução de consequências que deve ser
contrastada com a experiência. Surge de uma crítica profunda ao indutivismo
metodológico. Esse método pressupõe o uso de inferências dedutivas como teste de
hipóteses.
2.6 Técnicas de pesquisa da Antropologia

No campo biológico, são utilizadas técnicas clássicas da Antropologia Física,


ou seja, a mensuração, ao lado de outras mais modernas, de datação.
Para tanto, a coleta intensiva de dados vem sendo feita há mais de um século,
usando-se a mensuração como principal técnica no trato desse material. As
informações descritivas das medidas antropométricas (cabeça, rosto, corpo,
membros) são o primeiro passo para o conhecimento do material investigado. Quando
se trata de restos fósseis, as técnicas usadas são as de datação.
No campo cultural, o antropólogo desenvolve recursos e técnicas de pesquisa
ligados à observação de campo. Este é o seu laboratório, onde aplica a técnica da
observação direta, que se completa com a entrevista e a utilização de formulários para
registro de dados.

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3. PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO

Campo de Estudos da Antropologia - subconjuntos que traçam as


perspectivas de análise que compuseram o desenvolvimento da disciplina:

3.1 Antropologia Pré-Histórica

Os estudiosos da área de antropologia se interessam pela pesquisa dos seres


humanos existentes, mas também daqueles que já deixaram de existir. Denominamos
Antropologia pré-histórica o estudo que busca reconstituir e entender as sociedades
antepassadas, por meio de vestígios materiais da presença humana enterrados no
solo. Essa perspectiva de análise da Antropologia, preocupada com sociedades que

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nado existem mais, ganhou métodos, conceitos e aporte teórico próprios, sendo
intitulada de Arqueologia.
Sabe-se que os homens se adaptaram em meio a transformações em seus
organismos, e eles tiveram de lidar ao longo de 2 milhões de anos. Dessa maneira,
cabe aos arqueólogos desvendar e explicar as mudanças que ocorreram nas
sociedades por meio de registros arqueológicos, sendo eles materiais, peças,
artefatos que constituíram o modo de vida desses antepassados. A partir desses
materiais, os arqueólogos vão propor hipóteses e teorias sobre como as sociedades
se desenvolveram ao longo do tempo, além de compreenderem as características
culturais pertencentes aos povos e grupos que deixaram de existir. Nesse sentido,
conhecer a cultura de uma sociedade que não mais existe a partir dos seus vestígios
materiais permite acessar elementos que compõem a identidade dessa sociedade.
Como o arqueólogo Pedro Funari (2013, p. 101) reforça sobre essa disciplina, “a
criação e a valorização de uma identidade nacional ou cultural relacionam- -se, muitas
vezes, com a Arqueologia”.
A metodologia utilizada para esse trabalho também é científica, uma vez que a
disciplina estabelece procedimentos sistemáticos para acessar os objetos e
desenvolve um arcabouço teórico para interpretar a relação entre esses objetos e os
antepassados. Conforme Bahn e Renfren (1998), os passos e técnicas empregadas
na Arqueologia envolvem: o levantamento de informações sobre o local, que pode ser
através da escrita ou da oralidade; a prospecção do local, que são intervenções no
subsolo para buscar primeiros vestígios materiais para definir a área de interesse; a
escavação da área, que pode ser realizada com a utilização de instrumentos elétricos
ou mesmo com a ajuda de objetos usando a força humana; e a análise arqueológica,
que é quando os materiais, encontrados nos sítios arqueológicos, são levados para
análise no laboratório.
Esses locais onde ocorre o trabalho de campo são os chamados sítios
arqueológicos. Nesses sítios, existem indícios de ocupação humana no passado, e, a
partir de uma pesquisa arqueológica, podem ser encontrados diversos materiais que
denotam a vida de sociedades antepassadas, como:
 Ossos humanos,

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 Artesanatos,
 Cerâmicas,
 Pedras,
 Representações rupestres,
 Restos de alimentos, entre outros.
Sobre esses “dados”, o arqueólogo Gordon Childe (1961, p. 11) lembra que
“Todos os dados arqueológicos constituem expressões de pensamentos e de
finalidades humanas e só tem interesse como tal”. Assim, analisando o material
colhido, tanto de cunho cultural como biológico, é possível compreender as mudanças
e proximidades entre o modo de vida dessas sociedades com as culturas atuais.
Nesse sentido, até mesmo o avanço tecnológico pode ser estudado por meio dos
instrumentos e ferramentas descobertas, como as lanças feitas de pedras lascadas.

3.2 Antropologia Linguística

Uma das principais questões que diferencia os animais dos seres humanos é a
linguagem. Ainda que os animais emitam som em sua comunicação, há um limite
nesse alcance comunicativo. Já a complexa linguagem humana é um atributo
relevante do desenvolvimento dos seres humanos, uma vez que, através dela,
acessamos o modo como os indivíduos vivem e se relacionam.
Segundo a teoria da gramática universal (VITRAL, 1998), existem aspectos
sintáticos da linguagem que são comuns a todas as línguas do mundo. Então, essa
linguagem permeia uma gramática bastante desenvolvida há milhares de anos, o que
torna possível refletir sobre as características universais da língua, que se difundem
pelas culturas existentes.
Um profundo estudioso no assunto, o antropólogo e linguista alemão Edward
Sapir fez uma análise, em sua obra Language (1921), de que as próprias culturas
poderiam ser pensadas como linguagens, uma vez que ele estava interessado
justamente em como as formas culturais – e então as linguagens – são apropriadas e
recriadas para expressar a comunicação de outras sociedades. Cabe perceber que
até uma mesma língua, como o português, por exemplo, pode ter variações

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interpretativas e utilizações de palavras com formas distintas a partir das mudanças
de sons, diferenças gramaticais e de vocabulário.
Assim, também é possível fazer a reconstituição de línguas antigas com-
parando com a linguagem dos descendentes contemporâneos, traçando, então, um
paralelo cultural histórico e desvendando relações entre sociedades que
estabeleceram trocas culturais e influenciaram umas às outras. Pela linguagem,
descobre-se como os povos avaliam, classificam, separam e percebem o que está em
torno deles, sendo que esse modo de ver o mundo traz a especificidade cultural e até
mesmo as relações desta sociedade com as outras que foram contemporâneas a ela.
Ao mesmo tempo, questões culturais que envolvam os estudos de linguagem podem
ser estudadas e aprofundadas por outras disciplinas. Uma dessas áreas, que a
pesquisa sobre o assunto pode ser bastante frutífera, é a área da Educação, como diz
Collins (2015, p. 1197):

O campo da antropologia linguística, por causa de sua ênfase no significado


interacional situado e seu estudo intensivo de eventos comunicativos e princípios
estruturantes interventor, tem contribuições especificas para dar à pesquisa
educacional sobre práticas de letramento.

3.3 Antropologia Psicológica

Nessa perspectiva de análise do pensamento antropológico, foi abordado o


estudo dos processos e funcionamento do psiquismo dos anos 70, levando em
consideração que as ocorrências culturais e sociais incidem na psicologia individual e
nos fundamentos psicológicos de comportamentos. Por muito tempo, a ideia
interessada era justamente da relação entre a mente e o mundo, pois não haveria
como os indivíduos interagirem com esse mundo sem as suas mentes. Assim, os
antropólogos evidenciaram a questão da psique para estabelecer seus estudos, como
explica Laplantine (1988, p. 11):

De fato, o antropólogo é em primeira instância confrontado não a conjuntos


sociais, e sim a indivíduos. Ou seja, somente através dos comportamentos –
conscientes e inconscientes – dos seres humanos particulares podemos
apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. É a razão pela qual a
dimensão psicológica (e também psicopatológica) é absolutamente indissociável
do campo do qual procuramos aqui dar conta. Ela é parte integrante dele.

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Ao mesmo tempo, existem processos corpóreos, como deficiências,
convulsões e até doenças, que podem ser percebidos, por indivíduos e seus grupos
sociais, como resultado de acontecimentos de fenômenos culturais baseados em suas
crenças e valores das sociedades, como má sorte, olho gordo, feitiço, entre outros.
Entretanto, para esses povos e culturas, seria desconsiderado as explicações da
biologia e da natureza, pois a única explicação que faz sentido nesse seu arcabouço
cultural é relativa às suas vivências culturais e seus modos de vida.
Logo, os estudos possibilitados por essa perspectiva envolvem a interação dos
processos culturais e mentais, de modo que a forma de perceber e de se relacionar
com o mundo remetem pela biologia do indivíduo. Assim, cabe estudar como os
processos biológicos e psicológicos também embasam a constituição dos fenômenos
sociais expressos pelas relações entre indivíduos e grupos sociais.

3.4 Antropologia Social e Cultural

No final do século XIX, o foco se dá no estudo, descrição e análise dos


comportamentos sociais e estrutura social que caracterizam as diferentes sociedades
existentes. Interessa, nessa perspectiva de análise do pensamento antropológico,
tudo o que diz respeito à religião, às criações artísticas, às crenças, aos valores, à
produção econômica, ao parentesco, às vestimentas, aos gostos, à alimentação, entre
outros.
Como nos lembra Marconi e Pressotto (2010), nado há diferencia substancial
entre o “cultural” e o “social”, mas cabe dizer que os antropólogos ingleses estavam
mais voltados para a Antropologia Social, e os americanos do o preferência à
Antropologia Cultural. Podemos dizer que a vantagem dos estudos de culturas e
sociedades contemporâneas é a possibilidade de o pesquisador conviver em meio
aos seus membros para acessar, conhecer e registrar o seu modo de vida. Logo, é
desenvolvida uma metodologia especifica a fim de registrar e analisar os atributos

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culturais que interessam ao pesquisador. Trata-se da etnografia. Magnani (2010, p.
135) define a etnografia como:

[...] é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o
universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo
para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para, seguindo-os até onde seja
possível, numa verdadeira relação de troca, comparar suas próprias teorias com as deles
e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista
nova, não prevista anteriormente.

Desse modo, a etnografia não é só um convívio desinteressado com o outro,


pelo contrário, trata-se de um processo metodológico de busca, convivência e
compreensão de modos de vida diferentes dos nossos. Essa relação de troca entre o
pesquisador e o pesquisado, permite-nos acessar os meandros da vida social de
culturas que pouco ou nada sabíamos possibilitado pelo “encontro etnográfico”
(OLIVEIRA, 1998), no qual ambos interlocutores trocam ideias sobre o mundo em que
vivem. Assim, o etnográfico observa, mas também participa dessa relação com o
outro, que é referenciada pelo encontro entre seus horizontes.
Desse encontro, cabe realizar registros escritos em diários de campo para
compor o material de análise. A própria etimologia da palavra etnografia infere a ideia
de escrever sobre um povo. Juntamente a essa escrita, ainda é possível realizar
entrevistas com alguns interlocutores, fotografar dança, rituais e outras performances
pertinentes ao estudo, formular organogramas sobre a estrutura da sociedade
estudada, tudo isso a fim de produzir materiais complementares e facilitar as
interpretações em relação ao modo de vida do outro.
Entretanto, essa perspectiva de análise da Antropologia ainda se ramifica na
etnologia, que tem como objetivo examinar, analisar e, principalmente, comparar
dados registrados de diferentes sociedades, a fim de propor generalizações sobre a
sociedade e a cultura. Com essas comparações e contrastes, cabia destacar
diferenças e similaridades para refletir sobre os sistemas sociais e culturais.

22
4. A ANTROPOLOGIA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
4.1 A Pré-História

A pré-história da antropologia tem origem, os séculos XV e XVI, nessa época


as informações, acerca de outros povos distantes, eram dadas por viajantes. Nessa
ocasião, cogitaram duas ideologias adversárias. A primeira defendia a ideia de que os
povos primitivos eram selvagens, não tinham história, nem costumes culturais. Eles
não tinham tudo o que defensores apresentavam ter. No caso da segunda ideia
ressaltavam os aspectos desses povos em relação o que conseguiram desenvolver e
organizar; os sistemas políticos e econômicos se apresentavam em melhores
condições em harmonia com a natureza que os outros não conseguiram. No século
XVI, alguns dos pensadores interrogaram se os bárbaros, não eram eles, como afirma
Francois Laplantine (2000), que defendiam a “ingenuidade original” do estado de
natureza. Podemos perceber o quanto por trás dessas duas posições há uma visão
sobre o Ocidente, uma visão negativa, de recusa do estranho. Aqueles que viam as
virtudes dos povos tradicionais tinham uma visão negativa do Ocidente. Para concluir
o despontar da Antropologia como ciência está relacionado ao contexto com a
intenção de buscar diferentes formas de vida, que ajude a ver as coisas do mundo
como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma
transformação. Mas, este é um aprendizado que deve ser executado a partir da
problematização, analisando os pressupostos, ideias, convenções, escrita, formas de
representar a alteridade – O conceito do ocidental de alteridade girou nos últimos
séculos entre dois polos; se imagina uma alteridade, sobre o Outro, e, logo sobre si
mesmo, uma ilusória. O Outro é a referência tomada como motivo, para legitimar
práticas de exploração econômica, militares, políticas, de conversão religiosa ou de
emoção estética.

 Saiba Mais:
Conceito de Alteridade: A Antropologia é conhecida como ciência da
alteridade, porque tem como objetivo o estudo do Homem na sua plenitude
e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de estudo tão vasto e
complexo é imperativo pode estudar as diferenças entre várias culturaas
e etnias. Como a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro,
ela assume um papel essencial na antropologia.
 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n3/v19n3a04

23
A Antropologia mostrou o lugar e a posição do Homem através do
estabelecimento de escalas, parâmetros e conceitos que comprovaria e determinaria
ao que se cabe à categoria Homem e por conseguinte, de humano.

Figura 4: Evolução do homem.

Fonte: (SILVA, 2003).

4.2 Períodos da Antropologia

Como toda ciência, não existe uma data específica para o nascimento da
Antropologia. Seu nascimento se dá sempre por um processo lento que implica em
criação, acumulação e reformulação de conhecimento.

4.2.1 Período de formação

Este período começa com a própria cultura da humanidade. Diz respeito com
toda reflexão do homem sobre si e sobre o universo que o cerca. A preocupação com
a origem, a realidade e o destino do Homem sempre esteve presente em todos os
povos e sociedades, das mais primitivas às mais modernas.
Como afirma Mercier apud Mello (1982, p.180 ).

24
[...] o fato importante é que toda sociedade, tendo ou não atingido a fase cientifica,
construiu uma Antropologia a seu jeito: toda organização social, toda cultura tem
sido interpretada pelos homens que dela participa; e mais, as próprias noções de
organização social e de cultura podem, elas mesmas, ser objeto de reflexão. Sob
este ponto de vista a pré-história da Antropologia é longa, tão longa quanto a
história da humanidade. Esta Antropologia espontânea não pode ser separada do
conjunto de interpretações que o homem elabora a respeito de sua própria
condição e está em geral ligada a uma cosmologia. Uma ou outra figuram como
temas de estudos da Antropologia científica e certas escolas de pesquisa dão uma
importância especial a este aspecto da realidade sociocultural. (MERCIER apud
MELLO, 1982, p.180 ).

4.2.2 Período de convergência

Mercier (1982), considera esse período como o período de construção. Ele


considera que existe uma unidade em torno do conceito de evolução, desde o
segundo quartel do século XIX. Até o limiar do século XX. Este conceito de evolução,
entre 1830 e 1840, está sempre presente, animando as pesquisas e reflexões nos
domínios mais diversos como a Biologia, Sociologia e Filosofia, o que dará a Antro-
pologia o seu primeiro impulso e ao período que se estende até quase o final do século
sua unidade. Alguns autores ignorarão ou recusarão o evolucionismo, deste modo
surgirão temas menores que só tomarão amplitude no século seguinte, mas a maioria
o reenvidará.
Robert Harry Lowie (1946), deu-lhe um lugar de destaque entre os pais da
Antropologia. Pode-se situar o final deste período por volta de 1896, quando foi
apresentada a comunicação de Franz Boas (1896), intitulada The Limitations of
Comparative Method in Anthopology (Limitações do método comparativo na
Antropologia). É a primeira contestação vigorosa aos métodos utilizados até então,
pela quase totalidade dos antropólogos, estreitamente ligados às teses evolucionistas;

25
é acompanhada de uma tentativa de definição de métodos mais realistas e seguros
para a abordagem do estudo dos fatos socioculturais.
A razão do título deste segundo período – de convergências – está no
fenômeno que teve início no terceiro decênio do século XIX. Na verdade, Barbachano,
é quem levanta a questão no seguinte enunciado: as variadas formulações sobre a
sociedade e a cultura surgida na Europa, nos séculos XVIII e XIX, convergem para
três objetivos comuns ou seja: a origem, a idade e a mudança.
Outro fato marcante desse período foi o surgimento de várias revisas e
numerosas associações científicas. Neste período foram fundadas, entre outras, as
seguintes associações científicas: Société d’Ethnologie (1839) e Société
d’Anthropologie (1859). Tais sociedades e outras similares podem ser chamadas de
científico-humanitárias se considerarmos que o motivo de sua criação e até os
recursos para a sua manutenção estavam ligados a um sentimento de humanitarismo
com relação aos povos ditos “primitivos” até então espoliados pelas nações europeias.
Houve uma preocupação, senão de todo explícita, ao menos implícita, de proteger os
povos primitivos da sanha imperialista que até então tinham sido vítimas.
Desde essa época, o antropólogo de campo passou a ser visto como um amigo
dos povos primitivos. Em tais sociedades discutem-se a necessidade de proteger a
cultura nativa. Desconfiamos que essa preocupação que até hoje perdura não era
tanto em face dos direitos dos nativos, mas, em parte, refletia o medo de extinção
daqueles povos ameaçando a própria Antropologia. Afinal, a primitividade e a cultura
desses povos, eram como de um videoteipe da própria evolução humana. Ali estava
o Homem como vivera nos estágios inferiores da evolução. Nomes de realce deste
período são muitos: Darwin, Tylor, Herbert Spencer, Conter, Paul Broca e muitos
outros.

4.2.3 Período da construção

As associações e sociedades de Antropologia surgem em toda parte. O que


distingue este período do anterior é o fato de em 1869, haver aparecido a obra clássica
sobre evolução biológica, A origem das espécies, de Charles Darwin. Nesse período

26
é que o evolucionismo alcança seu apogeu como teoria. Convém notar que é aí onde
nasce a moderna Antropologia. Seu fundador, Edward Tylor, é evolucionista e seus
seguidores também. Essa orientação teórica marca todo restante do século e ainda
consegue tomar um certo alento no segundo quartel do século XX, com nomes
expressivos, como Gordon Childe e Leslie White. Tylor inaugura esta fase com a
publicação da obra em 1871, Cultura primitiva. Nesta Tylor procura com a utilização
do método comparativo, mostrar a evolução pela qual passou a religião através dos
tempos. Outra obra marcante foi a do norte americano Lewis Morgan, A sociedade
Primitiva. Este procurou estabelecer o caminho seguido pela organização familiar
através dos vários estágios de desenvolvimento.
Edwart Tylor é o nome mais importante da Antropologia Cultural desse período.
Foi ele quem definiu o termo cultura e a apresentou-a como objeto da Antropologia,
dando-lhe uma sistematização tanto no seu objeto como no seu método: Lewis
Morgan, também merece seu realce. É dele o clássico esquema da evolução cultural
(selvageria, barbárie e civilização); igualmente importante é o nome de James George
Frazer, que também se dedicou ao estudo do fenômeno religioso.

4.2.4 Período da crítica

O período da crítica tem início em 1900, e se arrasta até hoje. É, sem dúvida,
o período mais fecundo da Antropologia. Os cânones iniciais da Antropologia foram
criticados. Novas abordagens foram propostas. Houve um avanço formidável também
nas ciências paralelas. Os meios de comunicação progrediram gradativamente
permitindo, assim, uma divulgação e comunicação de ideias mais eficientes. A
educação foi mais democratizada. O movimento universitário cresceu. A Antropologia
passou a ser disciplina obrigatória em muitas universidades. Em 1908, a Universidade
de Liverpool introduz a primeira cátedra de Antropologia Social na Grã-Bretanha.
A preocupação com o desaparecimento dos povos primitivos levou uma parcela
de estudiosos a se empenhar numa tarefa, aparentemente de menor importância, de
coletar e registrar dados sem uma maior preocupação teórica. Este trabalho é
conhecido como etnografia – a descrição dos costumes dos povos. Sabe-se, no

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entanto que, dificilmente o trabalho etnográfico pode ficar despido de uma conotação
teórica. No momento em que se passa a registrar os elementos da cultura, mister se
faz uma sistematização. Exigindo uma compreensão do fenômeno cultural, uma teoria
a respeito da cultura. Este trabalho foi realizado brilhantemente pela escola americana
e teve como nome inspirador Franz Boas apud Mello, 1982, p. 195.
Outra orientação estimulante na Antropologia foi a de orientação psicológica
que encontrou nos Estados Unidos, seu campo mais fértil. Alguns antropólogos
também dedicaram parte de seus esforços ao estudo da linguística. Ainda com
respeito aos estudos antropológicos nos EUA. É de salientar o caráter de estudo e
pesquisa de campo. Isso não significa que na Europa não tenha havido. Na Inglaterra,
por exemplo, o trabalho de campo encontrou em Malinwski um grande expoente. Foi
certamente o maior e o mais metódico pesquisador de campo. Formou muitos
discípulos na difícil tarefa da pesquisa de campo. Curiosos por observar e na
Inglaterra, foi muito comum a prática de estudos ou trabalho de campo servirem para
a iniciação dos novos antropólogos. Uma pesquisa de campo era o coroamento da
formação do antropólogo.
Desse período também, observamos a evolução da escola funcionalista de
Malinwski. O funcionalismo da escola de Malinwski não é igual ao que existia até então
na Sociologia. Ele apresenta uma nova visão, alvo de críticas, mas é inegável ter
aberto uma nova orientação nos estudos antropológicos. A Inglaterra, também, nos
deu outro nome que muito se aproximava do francês Émile Durkheim; trata-se do
funcionalismo de Radcliffe-Brown. Este falava de estrutura social e seria o criador do
estruturalismo inglês que se aproxima do estruturalismo francês de Lévi-Strauss.
A França aparece neste período com uma superescola de Antropologia, e seu
maior nome é Lévi-Strauss, nem tanto por sua validade e originalidade, mas
principalmente por suas ambições de abrangência teórica e amplitude de seu objeto
de estudo. Essa escola traz a marca francesa - teoria bem elaborada, mas assaz
deficiente no que diz respeito aos métodos e às técnicas de pesquisa de campo.
Em suma, esse período e o atual momento dos estudos antropológicos, se
encontram em completa ebulição. Muitas frentes de estudos se abrem. A crítica ainda
é a sua marca dominante.

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Os países de Terceiro Mundo são um campo a ser explorado por essas nações
e será uma espécie de reflexão sobre suas próprias culturas, ensejando um
reflorescimento dos estudos de aculturação, ou seja, um estudo dos efeitos da
aculturação secular por elas sofrida. Isso nos leva a um estudo da difusão em ritmo
de meios de comunicação sofisticados. Dando início a um novo campo para a
Antropologia: os estudos urbanos antropológicos, ou seja, os estudos a respeito da
cultura popular, do folclore e dos efeitos da urbanização patógena sobre as
manifestações dessa cultura. Como extensão desses estudos estará também o
estudo da cultura de massa.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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