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ERGONOMIA

APLICADA

Dulce América de Souza


Padrão de medidas
do homem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Sumarizar a história da antropologia.


 Conceituar antropometria.
 Identificar as medições antropométricas convencionais e as suas
variações.

Introdução
A antropometria (antropos = homem + metria = medida) é um domínio
de estudos da antropologia física ou biológica que se refere à constituição
física do homem. Ela pode ser definida como o estudo das medidas do
homem ou, ainda, o estudo das medidas físicas do corpo humano ou
das suas partes. A importância da antropometria para a ergonomia se
revela no interesse pelas medidas do corpo humano que ocorre desde
os tempos remotos. Os arquitetos, em especial, desenvolveram uma
verdadeira fascinação pela antropometria, muito antes da instituição
dessa disciplina científica.
Neste capítulo, você vai estudar a antropometria e sua relevância e
aplicabilidade na arquitetura e no design de interiores. Você vai verificar
a história da antropologia e o conceito de antropometria, verificando a
relação entre elas, e vai identificar as medições antropométricas con-
vencionais e suas variações, tendo em vista a aplicação dos conceitos
e das adequadas dimensões antropométricas à arquitetura. O texto se
apoia na bibliografia de referência, apresenta as variações dimensionais
humanas e orienta a melhor utilização dos dados existentes nos projetos.
2 Padrão de medidas do homem

Antropologia
O termo antropologia deriva do grego, a partir da junção das palavras an-
thropos (homem/pessoa) e logos (razão/pensamento/estudo). Trata-se de uma
ciência que se preocupa em conhecer cientificamente o homem e a humanidade
de maneira totalizante, abrangendo todas as suas dimensões. A cientificidade
da disciplina lhe confere um aspecto tríplice, conforme postulam Marconi
e Presotto (2010, p. 1):

a) Ciência Social: propõe conhecer o homem enquanto integrante de grupos


organizados.
b) Ciência Humana: volta-se especificamente para o homem como um todo:
sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem, etc.
c) Ciência Natural: interessa-se pelo conhecimento psicossomático do homem
e sua evolução.

Os três aspectos relacionam a antropologia com as ciências biológicas


— contemplando o ser físico — e com as ciências culturais — associadas
às identidades culturais. Corrobora com essa dimensão da antropologia o
antropólogo Laplantine (2003, p. 9):

Só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa


que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano
em sociedade. Certamente, o acúmulo dos dados colhidos a partir de ob-
servações diretas, bem como, o aperfeiçoamento das técnicas de investi-
gação, conduzem necessariamente a uma especialização do saber. Porém,
uma das vocações maiores de nossa abordagem consiste em não parcelar
o homem, mas, ao contrário, em tentar relacionar campos de investigação
frequentemente separados.

A antropologia se divide em dois grandes campos de estudo: a antropo-


logia física ou biológica e a antropologia cultural. A antropologia física, ou
biológica, refere-se à constituição física do homem e consiste nos estudos
da biologia humana, dentre eles: a natureza das diferenças fenotípicas, com
a transmissão de traços somáticos de uma geração à outra, e o crescimento,
desenvolvimento e decrepitude do homem. O domínio de investigações da
antropologia física ou biológica contempla um tema de alta relevância para
os objetivos deste capítulo: a antropometria. Por sua vez, conforme leciona
Siqueira (2007), a antropologia cultural centra os seus estudos no com-
portamento aprendido pelo homem; o objeto dessa área é a averiguação das
formas como as sociedades percebem o mundo e organizam seu cotidiano.
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O Quadro 1 apresenta os domínios de estudos de cada um dos grandes


campos da antropologia.

Quadro 1. Campos de estudo da antropologia

Paleontologia

Somatologia
Antropologia física
Raciologia
ou biológica
Antropometria

Estudos comparativos do crescimento

Arqueologia

Etnografia

Etnologia

Antropologia cultural Linguística

Folclore

Antropologia social

Cultura e personalidade

Fonte: Adaptado de Marconi e Presotti (2010).

Como ocorre com todas as ciências, não se pode datar pontualmente o nasci-
mento da antropologia; o surgimento das ciências se dá por meio de um processo
lento, que envolve criação, acumulação e reformulação de conhecimentos. Podemos
afirmar que o período de formação da disciplina coincide com a reflexão do homem
sobre si e sobre o universo que o cerca, conforme lecionam Frost e Hoebel (1981).
Em toda a história da humanidade, a preocupação com a origem e o destino
do homem esteve presente. A análise do percurso sobre o pensar antropológico
é esclarecedora e contribui com parte do nosso entendimento sobre o homem
contemporâneo.

O percurso histórico da antropologia


Aos gregos, na Antiguidade Clássica, é atribuída a primeira manifestação
de interesse em investigar o homem e entender a variedade de suas mani-
4 Padrão de medidas do homem

festações culturais, como vestimentas, ornamentos, culinárias, sistemas


de governo, costumes e comportamentos distintos. O interesse dos gregos
não resultou em escolas antropológicas, mas despertou a percepção da
alteridade a partir da diferença entre “nós” e “eles”, que é a máxima da
explicação antropológica.
Enquanto disciplina científica, a antropologia surgiu entre os séculos XV
e XVI no continente europeu, com uma identidade investigativa apoiada por
outras ciências. Assim como a biologia, “[...] a gênese da reflexão antropológica
é contemporânea à descoberta do Novo Mundo (o continente americano)”,
conforme leciona Laplantine (2003, p. 25)
Siqueira (2007, p. 11) relata que, nesse primeiro momento — séculos
XV e XVI —, ao qual denomina pré-história da antropologia, “[...] as
notícias sobre os povos distantes eram produzidas por viajantes ou mis-
sionários. Nesse momento, delinearam-se duas ideologias concorrentes,
a primeira se manifestava por uma recusa pelo estranho e a segunda, por
uma fascinação”.
Com a descoberta do Novo Mundo, o homem europeu passou a ver os
povos que estavam invisíveis em toda a narração histórica e bíblica até
o momento. O período das grandes navegações e colonizações coincide
com o Renascimento, prolífico em descobertas científicas e tecnológicas.
Explorando espaços até então desconhecidos, o Renascimento começa e
elaborar discursos sobre os povos que habitam aqueles espaços, conforme
afirma Laplantine (2003).
As posições de recusa aos povos descobertos se fundamentavam na ideia
de que aqueles seres primitivos eram selvagens, dominados pela natureza e
pelo clima e desprovidos de história e hábitos culturais. Eram povos definidos
pela falta. Os representantes da postura fascinada frente aos povos descobertos
destacavam a habilidade daqueles povos em desenvolver sistemas políticos e
econômicos sofisticados, além de terem atingido um grau de harmonia com
a natureza invejável. Valorizavam e evidenciavam a ingenuidade natural, o
puro estado de natureza encontrado nos selvagens.
O que hoje conhecemos como antropologia assumiu a forma de uma disci-
plina científica somente na metade do século XIX, conforme afirma Laplantine
(2003, p. 47):

Esse século XIX, hoje tão desacreditado, realiza o que antes eram apenas
empreendimentos programáticos. Dessa vez, é a época durante a qual se
constitui verdadeiramente a antropologia enquanto disciplina autônoma: a
ciência das sociedades primitivas em todas as suas dimensões (biológica,
técnica, econômica, política, religiosa, linguística, psicológica...) [...].
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Dois fenômenos marcaram a disciplina no final do século XIX: o método da


antropologia conhecido como pesquisa de campo e o conceito de evolução. A
partir de então, a antropologia passa a interpretar cientificamente a diversidade
cultural e estabelecer uma ordem nas diferentes culturas do mundo, conforme
sintetiza o Quadro 2, com base em Siqueira (2007).

Quadro 2. Antropologia: interpretação científica da diversidade cultural

Objeto Estudo do outro, da diferença

Método Trabalho de campo

Paradigma Conceito de evolução

Fonte: Adaptado de Siqueira (2007).

O conteúdo do quadro nos interessa em particular para situar a antropologia


física, ou biológica — da qual a antropometria é um domínio de estudo — na
construção do saber antropológico contemporâneo. Segundo Marconi e Presotto
(2010, p. 4), “[...] ao estudar a natureza física do homem, a antropologia física
ou biológica investiga as suas origens e evolução, sua estrutura anatômica, seus
processos fisiológicos e as diferentes características raciais das populações
humanas, antigas e modernas”.
A antropometria adota procedimentos quantitativos que fornecem as
medidas do corpo humano. As técnicas de medição são elaboradas por ins-
trumentos específicos e possuem métodos particulares, conforme lecionam
Panero e Zelnik (2008). Esse é o objeto de interesse do nosso estudo, que será
particularizado a seguir.

Importância da antropometria para a ergonomia


Em 1936, Ernest Neufert publicou, na Alemanha, a primeira edição do que viria
a ser a mais importante referência teórica para estudantes e profissionais da ar-
quitetura: A arte de projetar em arquitetura. O mundo mudou consideravelmente
desde a década de 1930, mas a essência do manual segue vigente, pois toma o
ser humano como unidade de medida. O capítulo introdutório é intitulado “O
homem como unidade de medida”; nele, Neufert (2013, p. 18) postula: “Tudo o
que o homem cria é destinado ao seu uso pessoal. As dimensões do que fabrica,
6 Padrão de medidas do homem

devem, por isso, estar intimamente relacionadas com as do seu corpo. Assim,
escolheram-se durante muito tempo os membros do corpo humano para unidades
de medida”. Ele complementa:

Obtemos uma ideia mais correta da escala de qualquer coisa quando vemos
junto dela um homem, ou uma imagem que represente as suas dimensões.
Nas revistas profissionais atuais é vulgar representar edifícios ou salas sem
lhes justapor a mancha de uma pessoa. Dessas representações resulta que se
adquire uma noção errada da escala e perante a realidade verificamos que são
geralmente mais pequenas do que tínhamos imaginado. A isto pode atribuir-se
também a falta de unidade entre vários edifícios, por terem sido projetados
partindo de escalas de comparação arbitrárias e não da única que é correta,
o corpo humano (NEUFERT, 2013, p. 18).

Das lições de Neufert, aprendemos que todos os que projetam devem


conhecer a razão pela qual se adotam certas medidas. Devemos compreen-
der as relações dimensionais do corpo humano e qual espaço ele necessita
para se movimentar em várias posições. A antropometria é a ciência que
estuda todas as dimensões físicas dos seres humanos, conforme leciona
Siqueira (2007).
A etimologia da palavra antropometria é grega, derivada da união das
palavras anthropos (homem) e metria (medidas). Pode ser definida como
o estudo das medidas do homem ou, ainda, o estudo das medidas físicas
do corpo humano ou de suas partes, conforme estabelecem Iida (2005)
e Wachowicz (2013). Aparentemente, esse estudo pode ser interpretado
como uma tarefa simples; porém, devemos considerar que cada indivíduo
possui biótipos específicos para altura, peso, medida de mãos, dedos, etc.
Observando o universo de particularidades biofísicas dos seres humanos,
podemos compreender os cuidados necessários ao projetar desde espaços
residenciais e postos de trabalho, até calçados e vestuário, conforme adverte
Iida (2005, p. 97):

A indústria moderna precisa de medidas antropométricas cada vez mais


detalhadas e confiáveis. De um lado, isso é exigido pelas necessidades da
produção em massa de produtos como vestuários e calçados. No projeto de
um carro, o dimensionamento de alguns centímetros a mais, sem necessidade,
pode significar um aumento considerável dos custos de produção, se conside-
rarmos a série de centenas de milhares de carros produzidos.
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O interesse pelas medidas do corpo humano ocorre desde os tempos re-


motos; os estudiosos, cientistas e amantes da anatomia produziram grandes
obras sobre as dimensões humanas. Os arquitetos, em especial, desenvolveram
uma verdadeira fascinação pela antropometria muito antes da instituição
da disciplina científica. Reuniam-se em torno do tema filósofos, artistas e
teóricos, buscando cientificar as características métricas dos seres vivos,
particularmente, do homem. Na arquitetura, a contribuição mais significativa
é atribuída ao romano Vitrúvio, por meio do mais completo tratado rema-
nescente da Antiguidade, datado do século I a.C., conforme lecionam Panero
e Zelnik (2008)

Segundo Panero e Zelnik (2008, p. 15), o arquiteto Marcos Vitrúvio Polião viveu no
século I a.C., em Roma, e escreveu:

O corpo humano é de tal forma projetado pela natureza que o rosto,


até o topo da testa e a mais baixa raiz dos cabelos, é a décima parte
de toda a sua altura; a mesma medida tem a mão aberta do pulso até
a ponta do dedo médio; a ponta do queixo à coroa da cabeça equivale
a um oitavo de sua altura; e incluindo o pescoço e ombro, do topo do
peito até a mais baixa raiz do cabelo é um sexto; do meio do peito ao
topo da cabeça é um quarto. Se tomarmos a altura da face, a distância
da parte inferior do queixo até a parte inferior das narinas é um terço
dela; o nariz, a partir da parte inferior das narinas, até uma linha entre
as sobrancelhas é igual; daí até a mais baixa raiz dos cabelos é também
um terço, compreendendo a testa. O comprimento do pé é um sexto
da altura do copo; o do antebraço, um quarto. Os outros membros
também têm suas próprias proporções simétricas e foi com o uso des-
sas proporções que os famosos pintores e escultores da antiguidade
atingiram renome mundial.

Durante o Renascimento, Leonardo da Vinci criou o famoso desenho da


figura humana baseado no homem padrão descrito por Vitrúvio. Outra versão
da figura vitruviana foi reconstruída no século XIX pelos escultores ingleses
John Gibson e Joseph Bonomi, e, vinte séculos depois de Vitrúvio escrever o
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seu célebre tratado, o arquiteto modernista franco-suíço Le Corbusier resgatou


o interesse pela figura icônica com o seu sistema “O Modulor” (Figura 1),
segundo Panero e Zelnik (2008).

Figura 1. O homem vitruviano: (a) por Leonardo Da Vinci (1490), (b) por John Gibson e
Joseph Bonomi (1857) e por Le Corbusier (O Modulor, 1948).
Fonte: Adaptada de Panero e Zelnik (2008) e Foundation Le Corbusier ([2018]).
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Le Corbusier é uma referência para a arquitetura mundial. As suas teorias são um legado
para toda a produção arquitetônica do século XX, repercutindo internacionalmente
até os dias de hoje.
Le Corbusier propôs uma teoria de proporções e forneceu explicações de como
aplicá-la em arquitetura, utilizando os seus próprios projetos como exemplos. O
sistema denominado “O Modulor” é uma importante referência para a antropometria.
Acesse o link a seguir para ler o artigo de Possebon (2004) intitulado “O Modulor de
Le Corbusier: forma, proporção e medida na arquitetura” e conhecer as possibilidades
de aplicação do Modulor de Le Corbusier:

https://goo.gl/tt29dM

Quando estudamos as proporções e dimensões do corpo humano, temos o


compromisso de mencionar a seção áurea, nome dado no século XIX a uma
descoberta do matemático grego Euclides, em 300 a.C. Trata-se de uma proporção
derivada de divisões de uma linha considerada “perfeita”, porque confere harmonia
em todas as composições, e é encontrada em todas as espécies da natureza. Euclides
a denominou razão média e extrema. Segundo Doczi (2012, p. 52), “[...] o poder
do segmento áureo de criar harmonia advém de sua capacidade singular de unir
as diferentes partes de um todo, de tal forma que cada uma continua mantendo sua
identidade, ao mesmo tempo em que se integra ao padrão maior de um todo único”.
Segundo Elam (2018, p. 8), “[...] a predileção pela seção áurea não se res-
tringe ao senso estético dos seres humanos, ela também faz parte das notáveis
relações existentes entre as proporções observadas nos padrões dos seres vivos
como plantas e animais”, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2. A proporção áurea na natureza.


Fonte: Elam (2018, p. 8).
10 Padrão de medidas do homem

Posteriormente, já no período renascentista, a métrica desenvolvida ma-


tematicamente por Euclides foi denominada divina proporção. A predileção
por essa proporção é evidente na obra de Le Corbusier, “O Modulor” (1948). O
aspecto mais impressionante sobre a seção áurea pode ser verificado na figura
humana, reforçando a razão matemática descoberta por Euclides, conforme
lecionam Panero e Zelnik (2008, p. 18):

Se uma linha horizontal for traçada através do umbigo, três medidas diferen-
tes do corpo serão produzidas. Uma representa a estatura, ou a distância do
topo da cabeça até o chão, outra representa a distância do umbigo até o chão,
enquanto a terceira representa a distância do topo da cabeça até o umbigo.
Argumenta-se que se as letras indicadas forem substituídas por medidas reais,
a razão da estatura em relação à altura do umbigo até o chão geralmente se
aproxima a 1,618. A proporção das três medidas se conforma basicamente à
razão média e extrema de Euclides.

Historicamente, a preocupação básica dos teóricos, artistas, arquitetos


e demais pesquisadores com a figura humana se deu em uma perspectiva
estética; isso porque lhes interessava conhecer as proporções mais do que as
medidas e funções absolutas do corpo humano. O século XX trouxe ao campo
científico a necessidade de conhecer as dimensões corporais como condição
imperiosa para o processo de projetar. A consolidação da ergonomia como
disciplina científica e multidisciplinar exige em seu escopo os conhecimentos
prévios das dimensões corporais. Daí o papel fundamental da antropometria
para a abrangente e relevante área da ergonomia.
Do conhecimento das grandezas médias da população à inciativa de uni-
versalização no mercado global, Iida (2005) destaca que, até a década de
1940, as medidas antropométricas se detinham na determinação de grandezas
médias, com pesos e estaturas, e, a seguir, passou-se a determinar também as
variações e o alcance dos movimentos. Na atualidade o interesse foi ampliado
enfocando o estudo da diferença entre grupos e a influência de outras variáveis,
como etnias, alimentação e saúde. O crescente volume do comércio interna-
cional fez emergir as pesquisas que buscam estabelecer padrões mundiais de
medidas antropométricas, cujo objetivo é a universalização da produção de
determinados produtos que possam se adaptar aos usuários de diversas etnias,
conforme explica Iida (2005).
Os autores referenciais da área de ergonomia compartilham de algumas
prerrogativas quanto aos estudos antropométricos para a realização de pro-
jetos de produtos, postos de trabalhos e ambientes. Há unanimidade quanto
à aplicabilidade das medidas antropométricas para o dimensionamento de
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espaços, sejam eles laborais ou residenciais. No campo da arquitetura e do


design de interiores, a premissa de que tudo deve ser projetado para pessoas
é uma constante; assim, a adoção dos dados antropométricos nos projetos
arquitetônicos é indiscutível. Os aspectos antropométricos da ergonomia
se traduzem em dados a serem considerados nos projetos, como enfatizam
Panero e Zelnik (2008, p. 19):

Ao concentrar-se nos aspectos antropométricos da ergonomia possibilita-se a


aplicação dos relativos dados ao projeto de espaços. Isto se dará sob a forma
de padrões referenciais de projeto, antropometricamente direcionados para
garantir que as pessoas sejam atendidas de forma adequada pelos vários
componentes dos ambientes internos em que vivem, moram, trabalham, etc.,
apropriados às variadas dimensões corporais, pesos, idades e condições físicas
dos indivíduos. Além disso, os usuários são também diversos em variadas
etnias e formações culturais.

Existem muitas variáveis envolvidas nas interfaces entre usuários e am-


bientes projetados ou adaptados ao ser humano; porém, os ambientes devem
ser seguros, confortáveis e eficientes. As configurações humanas refletidas nas
suas dimensões corporais devem ser respeitadas e evidenciadas nos espaços,
por exemplo: nas alturas das superfícies de trabalho da cozinha ou escritório,
nos espaços livres que envolvem as cadeiras em uma sala de jantar ou de
reuniões, nas alturas das prateleiras em uma casa ou biblioteca e nas larguras
dos corredores em edifícios comerciais ou residências.
Os conhecimentos disponíveis de antropometria nos permitem encontrar
adequação dimensional para projetar para um variado grupo de usuários,
bem como para desenvolver soluções para um grupo específico — crianças,
idosos, deficientes físicos, etc.

Medições antropométricas convencionais e suas


variações
Sabemos que não há dois indivíduos idênticos, nem mesmo os gêmeos univi-
telinos; por isso, a gama de diversidade é um desafio para a definição de um
padrão antropométrico. As medidas antropométricas possuem variações
considerando sexo (homens e mulheres), faixa etária (crianças, jovens, adultos
e idosos), etnia, genótipo e região climática, conforme leciona Wachowicz
(2013). As variações das medidas antropométricas decorrentes das diferentes
etnias são exemplificadas pela Figura 3.
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Figura 3. Proporções corporais de diversas etnias.


Fonte: Wachowicz (2013, p. 84).

As proporções corporais também recebem influência dos movimentos


migratórios, já que é comum a miscigenação de etnias. Como percebemos na
Figura 3, os indivíduos das amostras possuem configuração física diferente,
proporções diferentes e, consequentemente, não se adaptariam com conforto
em espaços ou equipamentos que não respeitassem suas dimensões. Iida
(2005, p. 101) observa:

Uma máquina projetada para acomodar 90% da população masculina dos EUA
acomoda também 90% dos alemães. Mas não ofereceria a mesma comodidade
para os latinos e orientais. Ela acomodaria 80% dos franceses, 65% dos italia-
nos, 45% dos japoneses, 25% dos tailandeses e apenas 10% dos vietnamitas.

Quando conduzimos a reflexão de Iida (2005) para o layout de um am-


biente, entendemos porque as questões antropométricas adotadas pela ergo-
nomia não se baseiam apenas em médias corporais genéricas. É necessário
conceber projetos da forma mais personalizada possível, visando a gerar
conforto, segurança e bem-estar aos usuários. Para haver uma racionali-
zação ou maior amplitude de possibilidades, a ergonomia busca o ajuste,
a adaptação ou a regulagem dos equipamentos e mobiliários e do próprio
layout, permitindo que o usuário realize a melhor adequação para as suas
proporções físicas.
Padrão de medidas do homem 13

Há também diferenças interindividuais dentro de uma mesma população;


elas foram apresentadas pelo arquiteto americano Willian Sheldon em 1940,
a partir de um criterioso estudo com estudantes nos Estados Unidos. Desses
estudos, definiu-se três tipos físicos básicos, conforme aponta Wachowicz
(2013) e é mostrado na Figura 4:

 o ectomorfo (tipo físico de formas alongadas);


 o mesomorfo (tipo físico musculoso, de formas angulosas);
 o endomorfo (tipo físico de formas arredondadas e macias, com grandes
depósitos de gordura).

Figura 4. Tipos básicos do corpo humano.


Fonte: Wachowicz (2013, p. 85).

A forma de análise antropométrica relativa à maneira de execução das


tarefas é a mais produtiva para aplicação nos projetos arquitetônicos de
interiores. São dois tipos básicos de dimensões corporais importantes: as
dimensões estruturais (ou estáticas) e as dimensões funcionais (ou dinâmi-
cas). As dimensões estruturais contemplam as medidas da cabeça, tronco
e membros em posições padronizadas, enquanto as dimensões funcionais
incluem medidas tomadas em posições de trabalho ou durante movimentos
associados a tarefas, conforme lecionam Iida (2005) e Panero e Zelnik (2008)
e é mostrado na Figura 5.
14 Padrão de medidas do homem

Figura 5. Áreas de alcance ótimo e máximo na mesa para execução de uma tarefa.
Fonte: Wachowicz (2013, p. 88).

A Figura 5 exemplifica a aplicação da antropometria dinâmica (ou fun-


cional), em que percebemos que, respeitando as medidas do corpo humano,
evita-se que a extensão do braço seja acompanhada por uma inclinação do
tronco para a frente ou para o lado. Com a amplitude de dimensões humanas
abarcadas pela antropometria, podemos perguntar: quais são as medidas
essenciais para conhecimento dos arquitetos e designers? Panero e Zelnik
(2008, p. 31) afirmam o seguinte:

Dez são as dimensões mais importantes se alguém quiser descrever um grupo


para objetivos de engenharia humana (ergonomia), nessa ordem: altura, peso,
altura quando sentado, comprimento nádegas-joelho e nádegas-sulco poplíteo,
largura entre os cotovelos e entre os quadris em posição sentada; altura do
sulco poplíteo, dos joelhos e espaço livre para as coxas.

A Figura 6 indica as medidas mais significativas para os arquitetos e


designers de interiores ou de produtos.
Padrão de medidas do homem 15

Figura 6. Medidas corporais mais relevantes para arquitetos e designers.


Fonte: Panero e Zelnik (2008, p. 30).

As muitas variáveis existentes demandam que os dados antropométricos


selecionados sejam adequados ao usuário dos espaços e ao mobiliário a ser
projetado. A vasta bibliografia da área de arquitetura, bem como as normas
técnicas, fornece as medidas ideais (mínimas ou padrão) para projetos arquite-
tônicos, de interiores, urbanos e de mobiliário. O arquiteto tem à sua disposição
fontes de consulta que devem ser utilizadas constantemente na concepção
de seus projetos. Em casos específicos em que o grau de complexidade seja
maior, deve-se contar com a contribuição de profissionais especializados em
antropometria e/ou ergonomia, conforme afirmam Panero e Zelnik (2008).
16 Padrão de medidas do homem

Aplicação dos dados antropométricos em projetos


arquitetônicos
A rotina de cálculo antropométrico adota metodologias próprias que podem
ser consultadas na bibliografia de referência, caso se constate ausência ou
inadequação dos dados disponíveis para a elaboração de um projeto. Em geral,
conforme observa Boueri Filho (2008, p. 56), “[...] o arquiteto interpreta os
dados disponíveis a partir da literatura e os aplica diretamente, de acordo com
as necessidades do projeto”.
Uma unidade de aferição de medidas encontrada nos gráficos e na literatura
da antropometria é o percentil. O termo se relaciona à estatística descritiva,
em que os percentis são as medidas da amostra ordenada em 100 partes, cada
qual com uma porcentagem de dados aproximadamente igual. Tilley (2005)
se refere aos percentis citando os cálculos antropométricos realizados pelos
militares americanos, que optaram por excluir 5% da população situada na
extremidade inferior e outros 5% da extremidade superior dos gráficos. Assim,
acomodaram 90% da população medida pelos padrões militares. O valor de
5% é denominado percentil 5 e o valor de 95%, percentil 95. Boueri Filho
(2008, p. 73) exemplifica:

Padrões dimensionais de projeto para que 90% da população seja incluída.


Portanto, a amplitude do padrão dimensional está entre o 5º percentil e o 95º
percentil, sendo o limite inferior o valor específico ao 5º percentil, o limite
superior, o valor respectivo do 95º percentil e o limite do ponto médio o valor
do 50º percentil.
[...]
No caso específico da arquitetura e deste estudo, o comum é trabalhar com
a amplitude de 90% da população, ou seja:
• Limite inferior, refere-se ao valor do 5º percentil.
• Limite médio, refere-se ao valor do 50º percentil.
• Limite superior, refere-se ao valor do 95º percentil.

Para adotar os melhores conceitos ergonômicos é importante conhecer as


medidas corporais básicas. No livro Antropometria aplicada à arquitetura,
urbanismo e desenho industrial, de 2008, Boueri Filho desenvolveu um va-
lioso trabalho produzindo uma série de tabelas adaptadas de diversas fontes
internacionais, com o objetivo de fornecer dados específicos para o trabalho
dos arquitetos. O Quadro 3 sintetiza as principais informações para subsidiar
os projetos arquitetônicos.
Padrão de medidas do homem 17

Quadro 3. Dados antropométricos estáticos para o projeto arquitetônico

1 DIMENSÃO PESO 2 DIMENSÃO ESTATURA

3 DIMENSÃO LARGURA 4 DIMENSÃO PROFUNDIDADE


MÁXIMA DO CORPO MÁXIMA DO CORPO

5 DIMENSÃO ALTURA 6 DIMENSÃO ALTURA


DOS OLHOS DE PÉ DO COTOVELO DE PÉ

7 DIMENSÃO ALCANCE 8 DIMENSÃO ALCANCE


HORIZONTAL — FRONTAL VERTICAL — FRONTAL

(Continua)
18 Padrão de medidas do homem

(Continuação)

Quadro 3. Dados antropométricos estáticos para o projeto arquitetônico

9 DIMENSÃO ALCANCE 10 DIMENSÃO ALTURA


HORIZONTAL — SAGITAL POPLÍTEA

11 DIMENSÃO ALTURA 12 DIMENSÃO ALTURA DA


DO JOELHO/SENTADO PARTE SUPERIOR DAS COXAS

13 DIMENSÃO COMPRIMENTO 14 DIMENSÃO COMPRIMENTO


NÁDEGA — JOELHO NÁDEGA — POPLÍTEA

15 DIMENSÃO COMPRIMENTO 16 DIMENSÃO ALTURA


NÁDEGA — PÉ/SENTADO SENTADA ERETA

(Continua)
Padrão de medidas do homem 19

(Continuação)

Quadro 3. Dados antropométricos estáticos para o projeto arquitetônico

17 DIMENSÃO ALTURA 18 DIMENSÃO LARGURA


DOS OLHOS/SENTADO DO QUADRIL/SENTADO

19 DIMENSÃO LARGURA DE 20 DIMENSÃO LARGURA DE


COTOVELO À COTOVELO/SENTADO OMBRO A OMBRO/SENTADO

21 DIMENSÃO ALTURA 22 DIMENSÃO ALTURA


DO COTOVELO/SENTADO DO OMBRO/SENTADO

23 DIMENSÃO ALCANCE 24 DIMENSÃO COMPRIMENTO


VERTICAL SAGITAL/SENTADO NÁDEGA — PÉ ESTENDIDO

Fonte: Adaptado de Boueri Filho (2008).


20 Padrão de medidas do homem

Os dados apresentados no Quadro 3 são referenciais para projetos arqui-


tetônicos, não limitando os demais conhecimentos antropométricos que se
fizerem necessários e que não estejam contemplados nas informações.
Analisando a maioria das pesquisas sobre o ambiente construído, ob-
servamos que há recorrência do aspecto falta de espaço. Esse fator é
responsável pela restrição do desenvolvimento adequado das diversas
tarefas, despendendo maior energia humana a ampliando a incidência
de erros e/ou acidentes. As mais variadas posições do corpo humano
estão implicadas nas nossas atividades diárias; quanto melhor pudermos
desenvolver nossas tarefas, melhor será a qualidade do espaço concebido
pelos arquitetos, conforme leciona Boueri Filho (2008). Complementando
os dados antropométricos estáticos apresentados no Quadro 3, a Figura 7
identifica os espaços necessários para movimentos humanos comuns no
nosso dia a dia.
Constatamos que a antropometria é um fundamento basilar da ergono-
mia e que a aplicação dos conhecimentos ergonômicos deve ocorrer desde
a concepção do projeto. A ergonomia fundamenta o cuidado do projeto
arquitetônico quanto aos aspectos dimensionais, conduzindo à qualidade
espacial tão almejada pelos arquitetos e usuários. Os ensinamentos da
antropometria são determinantes para atender aos requisitos de uso do
espaço a ser edificado.
Padrão de medidas do homem 21

Figura 7. O homem — dimensões e espaços necessários.


Fonte: Neufert (2013, p. 20).

O livro As medidas do homem e da mulher, de Alvin R. Tilley (2005), produzido pela


Henry Dreyfuss Associates — uma empresa referencial no emprego de dados sobre
fatores humanos (ergonomia) — é uma valiosa referência em antropometria para
arquitetos e designers. Nele você encontra todas as tabelas e os dados fundamentais
disponíveis atualmente para auxiliar projetistas na criação de ambientes mais adequados
às necessidades humanas.
22 Padrão de medidas do homem

BOUERI FILHO, J. J. Antropometria aplicada à arquitetura, urbanismo e desenho industrial.


São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2008.
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