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PATRIMÔNIO
CULTURAL
Arquitetura
como patrimônio
histórico e cultural
Ana Carolina Machado de Souza
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A palavra arquiteto vem do grego arqui, que significa superioridade, e tector, que
é alguém que constrói (MACIEL, 2007). Essa combinação costuma ser entendida
como “grande carpinteiro”. A arquitetura pode ser vista como patrimônio, do-
cumento, obra de arte e profissão. Como o patrimônio exprime a importância
cultural e histórica de determinado povo, as obras arquitetônicas são as principais
expressões do passado e da cultura. O edifício é uma manifestação artística e,
por isso, tem sua historicidade, que marca os pensamentos e o desenvolvimento
tecnológico daquele período.
No Brasil, os primeiros bens culturais preservados foram arquitetônicos, o
que enfatiza os estudos sobre arquitetura no País. A historiografia, nesse caso,
aborda tanto os diferentes estilos e técnicas construtivas quanto a importância
das edificações para a sociedade, que muda ao longo do tempo.
2 Arquitetura como patrimônio histórico e cultural
obra de Vitrúvio, apesar de não ter sido uma encomenda oficial, dialoga
diretamente com a política urbanística de Augusto, que aplicava, em
todas as regiões conquistadas pelos romanos, o mesmo tipo de traçado
e monumentos, como arcos do triunfo.
A arquitetura civil romana ajudou a evoluir o próprio sentido e alcance do
ofício que, durante o período grego, se relacionava mais estreitamente com
os edifícios sagrados. Para Maciel (2007, p. 35-36):
[...] preservar não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um miolo
histórico de uma grande cidade velha. Preservar também é gravar depoimentos,
sons, músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivos, mesmo que alte-
rados, usos e costumes populares. É fazer, também, levantamentos, de qualquer
natureza, de sítios variados, de cidades, de bairros, de quarteirões significativos
dentro do contexto urbano. É fazer levantamentos de construções, especialmente
aquelas sabidamente condenadas ao desaparecimento decorrente da especulação
imobiliária.
Além do Rio de Janeiro, São Paulo também foi transformada nesse con-
texto de enriquecimento da elite paulista pelo comércio de café. As matrizes
coloniais foram desfeitas em prol da modernização da cidade, que recebeu
edifícios mais altos, praças com paisagismo europeu e até uma nova catedral
a partir de 1913, a da Sé, com estilo neogótico e clara influência francesa, mas
projetada pelo arquiteto Maximilian Emil Hehl (1861‒1916), alemão radicado no
Brasil. Foi apenas na década de 1920, época de crescimento da insatisfação
política e social, que uma nova perspectiva passou a ser contemplada: a
valorização da arquitetura colonial.
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[...] o pensamento de Lucio Costa na sua visão da arquitetura moderna com viés
tradicional. Essas influências estão expressas claramente no texto Documenta-
ção Necessária, de 1938, no qual Lucio cria uma trama evolutiva que interliga a
arquitetura do nosso passado colonial com a arquitetura moderna. [...] Lucio Costa,
como integrante de um projeto de governo, elaborou uma construção ideológica
no sentido de garantir legitimidade e aplicação de algumas políticas dentro das
diretrizes traçadas. A relação entre arquitetura e Estado naquele momento esta-
va vinculada ao desenvolvimento de fatos sociais e políticos da nova ordenação
ideológica, que ocorreu no período entre a República Velha e o Estado Novo. A
partir dos anos 1930, a modernização econômica e a modernização ideológica
tornaram-se parte do projeto de desenvolvimento nacional. Foi nesse contexto que
definiram os princípios da arquitetura moderna, no abrigo do governo getulista.
[...] importa ter primeiro em vista, além das imposições do meio físico e social,
consideradas no seu sentido mais amplo, o “programa”, isto é, quais as finalidades
dela e as necessidades de natureza funcional a satisfazer; em seguida, a “técnica”,
quer dizer, os materiais e o sistema de construção adotados; depois, o “partido”, ou
seja, de que maneira, com a utilização desta técnica, foram traduzidas, em termos
de arquitetura, as determinações daquele programa; finalmente, a “comodulação”
e a “modenatura”, entendendo-se por isto as qualidades plásticas do monumento
(COSTA, 2010, p. 130).
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Leitura recomendada
AZEVEDO, A. N. A grande reforma urbana do Rio de Janeiro: Pereira Passos, Rodrigues
Alves e as ideias de civilização e progresso. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2016.