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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
SALVADOR 2018
Judith Menezes Melo
SALVADOR – BA - 2018
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SUMÁRIO
Introdução..................................................................................... 2
Desenvolvimento............................................................................4
Conclusão.......................................................................................8
Bibliografia ....................................................................................10
Anexo............................................................................................11
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Introdução
“... o Campo Santo é uma cidade mortuária que reproduz as condições de embate
de classes da sociedade dos vivo ...” (Reis, Pablo, 2011)
O cemitério Campo Santo foi inaugurado em 1836, na Fazenda São Gonçalo. A construção do
cemitério do Campo Santo foi alvo de protestos da comunidade no início do século XIX,
naquela época passou a ser proibido de enterros em ambientes fechados de acordo com
médicos sanitaristas. Anteriormente, higienistas afirmaram que os miasmas, teoria em voga
no período, que era uma espécie de vapores formados pela decomposição dos cadáveres,
seriam nocivos para a saúde humana, por isso que os enterros precisavam ser feitos fora da
área das residências por uma questão de saúde pública.
Buscando compreender o porquê dessa comoção sobre a proibição dos sepultamentos dentro
das igrejas, encontrei uma pequena explicação, pesquisando no livro Historia da morte no
ocidente, onde há uma passagem na qual o autor Phelippe Aires escreve sobre sua
investigação na primeira parte do livro:
“... a antiga prática funerária, tão diferente da nossa: a exigüidade e o anonimato dos corpos o
reemprego das fossas, o acúmulo dos ossos nos ossuários – signos que interpretou como
marcas de indiferença em relação aos corpos. A partir de então, podia dar uma resposta ao
problema em questão: os cultos funerários da Antiguidade, mesmo aqueles com alguns traços
remanescentes no folclore, havia seguramente desaparecido. O cristianismo livrara-se dos
corpos abandonando-os à Igreja, onde eram esquecidos.
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“Foi apenas no fim do século XVIII que uma nova sensibilidade não mais tolerou a
indiferença tradicional, e que uma devoção foi inventada, tendo sido tão popularizada e
difundida na época romântica, que a creditaram imemorial” (Airès, 2012, p. 21).
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Desenvolvimento
E atualmente, o que o público verá, será o descaso dos familiares com os mausoléus e covas e
as obras de arte que custaram um bom investimento, sem o devido reparo e manutenção. Os
sinais da decadência saltam aos olhos do visitantes. Surpreende, por exemplo, a ausência da
foto do político Antonio Carlos Magalhães em seu espaço mortuário. Faz com que de longe se
perceba o abandono que escancara o pouco caso, pois o neto é o atual prefeito da cidade de
Salvador. Ao mesmo tempo, poderão verificar que os mausoléus pertencente às famílias
burguesas e tradicionais da cidade, são mantidos com rigor e cuidado. As famílias contratam
pessoas das redondezas do cemitério para que cuidem das obras de arte e das plantas em volta.
Salta aos olhos, o bom estado dos mausoléus e sepulturas da família Odebrecht, Costa Pinto,
Francisco J. R. Pereira.
A mão de obra que faz a manutenção e limpeza, são pessoas que residem no entorno do
cemitério, há casos em que famílias se mantêm graças a essa preocupação em manter a
memória do ente ali enterrado. O cemitério dá oportunidade de trabalho dando prioridade da
mão de obra dos indivíduos que residem nos bairros do entorno. Famílias inteiras vivem de
prestar serviços aos familiares e visitantes do Campo Santo. Há indivíduos que podemos
considerar como autônomos, como os floristas, fornecedores de lanches, guardadores de
veículos, mão de obra para limpeza e jardinagem por exemplo, que sempre está presente no
dia a dia do cemitério. Há também um comercio bem estabelecido como lojas de flores,
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lanchonetes, posto de gasolina, lotérica, loja de miudezas, há ponto de ônibus e taxi, padarias,
mercearias, funerárias,
Obras em busca de ampliação e modernizações estão limitadas como pode ser verificado nos
mapas que estão expostos na administração do cemitério. Então a médio e curto prazo, o
lançamento de novos módulos verticais, compostos por gavetas com a intenção de substituir
as antigas carneiras irá atender a sociedade, porém como em qualquer grande centro, a
limitação dos espaços a incapacidade de expansão física da área do cemitério aliada aos
problemas de segurança publica, será substituída pela cremação. Por enquanto ainda é um
serviço acima do alcance do população baiana comum e já é uma forte realidade para a
camada mais abastada da sociedade.
De acordo com o site do IBGE, com dados do ano de 2010, a população de Salvador é de
2.674.923, com domicílios particulares permanentes urbanos que são na ordem de 858.668, a
densidade demográfica 3.859, hab./km². Na cidade de Salvador, segundo site da prefeitura, há
o serviço de cremação gratuita. A Secretaria Municipal de Ordem Pública – SEMOP,
habilitou um número de telefone (3202-5429 / 3202-5472), denominado de “disque-
cremação”, que servirá para informar à população em geral sobre o serviço de cremação
gratuita e os cemitérios públicos que atendem a população de baixa renda, que estão
localizados nos bairros de:
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- Pirajá;
- Plataforma;
- Periperi;
- Paripe;
- Brotas;
- Itapoan;
- Ilha de Maré;
- Ilha de Bom Jesus dos Passos;
- Ilha Ponta de Nossa Senhora;
- Paramana (Ilha dos Frades).
Essa informações são importantes, o crescimento da cidade esbarra na limitação física dos
cemitérios, o atendimento às demandas de sepultamentos, mesmo contanto com o contingente
que se dirige ás cidades menores para enterrar o ente em sua cidade de origem, não será
equiparada e o serviço de cremação irá crescer e tornar-se a única alternativa para quem reside
na cidade grande. È o que já acontece, por exemplo, em cidades como Rio de Janeiro e São
Paulo, onde a família por questão de segurança própria e de seus amigos, não mais compram
o serviço de velório e a recepção passa a ser na residência da família do falecido. O serviço de
cremação entra em contato informando a entrega das cinzas em invólucro escolhido pelo site
da empresa prestadora do serviço. Podendo assim então a família voltar a “dar um descanso”
eterno em sua residência, ou jardim próximo ou até na praia. Assim, todo os costumes
desenvolvidos ao longo de tempo em torno do cerimonial de velório, sepultamento e suas
representações ira adaptar-se a realidade.
As cinzas de meu pai, por exemplo, foram espalhadas na praça publica em frente a casa onde
ele morou até o inicio dá vida adulta. Foi enterrado em cemitério particular em Salvador no
ano de 2000, porém a segunda esposa não teve condições de pagar pela manutenção dos
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restos mortais no Jardim da Saudade. Pagou pelo serviço de um crematório e seguiu-se com
as cinzas para a cidade de origem de meu pai e ele esta depositado pelos jardins da praça
Tobias Barreto, em Aracaju no estado de Sergipe. E em oposição à situação de meu pai,
minha irmã falecida em 2010, foi sepultada no jazigo simples, recoberto de azulejo, sem placa
de sinalização indicando que seus restos mortais estão ali. Esse jazigo foi comprado por
minha avó materna há mais de 50 anos, em um cemitério público, também na cidade de
Aracaju. O serviço de velório, caixão e foi pago por um plano funerário pago pela sogra de
minha irmã, que custa mensalmente a ela R$11, 00 e na época foi uma salvação, pois na
família não havia de onde tirar o valor de R$7.000,00 para desembolsar pelo serviço simples e
esse valor representava naquele período o mais barato na cidade. Um pequeno detalhe, em
torno do jazigo, havia várias placas no chão com pessoas que ali precisaram ser enterradas,
durante o enterro de corpo de minha irmão, todos nós éramos obrigados a pisar nas placas de
identificação com fotos, dedicatórias e plantinhas em torno. O cemitério público não tem mais
espaços para acomodar a sua demanda e de maneira precária acolhe e atende dessa maneira as
famílias que assim como a minha tornou-se liberta desses simbolismos e emocionalmente e
economicamente se adéqua a situação que vive.
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Conclusão
No Capitulo VI, Riqueza e pobreza diante da morte na Idade Média - do livro história da
morte no ocidente, de Ariès, o autor escreveu:
“... o túmulo visível não é, portanto, o signo do lugar do enterro, mas a comemoração do
defunto, imortal entre os santos e célebre entre os homens. Nessas condições, tal túmulo era
reservado a uma pequena minoria de santos e personagens ilustres; quanto aos outros, que
fossem jogados nas fossas dos pobres, no local da igreja ou do átrio designado para eles, e que
permanecessem anônimos, como antigamente. Acreditamos que o lugar tomado pela auaritia e
pela superbia nas considerações do homem diante da morte traduz (ou provoca) uma mudança
da consciência de si...”.
“As efigies das sepulturas planas dos séculos XV e XVI eram fabricadas em séries por
artesãos especializados a partir dos modelos socioeconômicos; elas deviam reafirmar o
prestígio dos mortos que, desta forma, eram celebrizados neste e no outro mundo.”
Os costumes e os valores religiosos mudam. Os ciclos econômicos são causas diretas nas
modificações dos hábitos de uma sociedade, da mais alta classe até ao miserável que
sobrevive aos grandes centros. O ritual fúnebre e sua representação material rica e ostensiva
também se tornará parte de um ritual dos “mais antigos”. Assim, futuramente, leremos nos
livros de história, que já houve uma época em que a representação da morte através da arte já
fora muito utilizada. Aquela sociedade costumava atribuir importância e relevância a história
de um individuo, que em vida contribuiu para a sociedade, investindo em pequenos castelos
figuras artísticas, caras e com assinatura de quem a realizara. Os feitos dos indivíduos eram
gravados em pedras ricas e belas, de forma que não se apagasse da lembrança daquela
sociedade que ali, naquele lugar, descansava os restos mortais de alguém ilustre ou mero
desconhecido que era valorizados pelos seus familiares.
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LISTA DE FONTES
https://correlatos.wordpress.com/2011/09/07/morte-e-vida-no-campo-santo/
http://www.cemiteriocamposanto.org.br/o-cemiterio/index.html.
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/salvador/pesquisa/23/25124?detalhes=true
http://www.ordempublica.salvador.ba.gov.br/index.php/servicos/cemiterio-publico
Reportagem: Co-relatos: Crônicas de mão dupla. Reis, Pablo. Setembro, 7, 2011.
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Bibliografia
Airés, P. (2011). História da morte no ocidente . Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
ANEXOS
ANEXO 1 - Localizando o cemitério na cidade de Salvador.
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Fonte: representação da igreja do cemitério do Campo Santo achada na pesquisa de imagens no Google, sem referencia direta
a quem pertence e quem realizou o desenho).
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Fonte: Judith
Fonte : Judith
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Fonte: Judith