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ARQUITETURA VERNACULAR RURAL

O MEMORIAL DAS CASAS DE FAZENDA DO CEARÁ

Kelma Pinheiro Leite¹, Larissa de Carvalho Porto², Naiara Cristine Spiller³,


Grasiely de Araújo Aquino4, Inessa Fernandes Moreira5

RESUMO
A presente pesquisa apresenta o levantamento de casas de fazenda no Estado do Ceará e propõe uma
discussão sobre o quadro de conservação deste patrimônio e uma contribuição para o estudo da
arquitetura vernacular cearense. O recorte espacial, nas áreas rurais, e temporal, entre os séculos XVIII
e a segunda metade do século XX, justificam-se tomando como referência o período da intensificação
da colonização portuguesa no Estado, que ocorreu graças à expansão da pecuária, e anterior ao
processo de migração da população das zonas rurais para urbanas. Foi nesse período em que ocorreu
a implantação das primeiras fazendas de gado, a partir do sistema de sesmarias, possibilitando, com o
tempo, a criação de vilas à beira da rota do charque. Após a independência do Brasil e do início da
Revolução Industrial, a atividade econômica cearense se modificou, dando lugar às culturas de cana-
de-açúcar, café e algodão no século XX. Assim, este trabalho tem como objetivo descobrir, através de
pesquisas documentais, de campo, levantamentos e entrevistas, exemplares de arquitetura vernacular,
compreendendo a importância das casas de fazenda como patrimônio edificado e registro cultural,
conforme definição da Carta do Patrimônio Vernáculo Construído, ratificada na XII Assembleia Geral
ICOMOS/UNESCO (1999). Este artigo traz, como resultado, o levantamento e análise do Sítio São
Luís, localizado na cidade de Pacoti, Ceará.

Palavras-chave: Arquitetura Vernacular; Casa de Fazenda; Ceará.

ABSTRACT

This work presentes a Ceará farm houses survey and propose a discuss about the conservation stage
from this heritage and a contribution to the Ceará vernacular architecture study. The time and space
delimitation in the rural área between the century XVII and the XX second half, refer to intensification
Portuguese colonization in the state, that happens thanks to livestock and a previous rural zone
migration process for the city. Develops int this period, the implantation to the first cattle farm from to
sesmaria system, making possible, on course of the time, the village creation beside of the meat rote.
After Brasil Independence and Industrial Revolution begining, the Ceará economic activity modified,
giving place to the sugar cane, coffee and cotton culture in the XX century. Like this, this work have the
objective to descovery, through to documents research, field visit, survey and interviews, vernacular
architecture exemplar, understanding the farm house importance as a built heritage and cultural record,
according to Charter on the Built Vernacular Heritage, ratified by the ICOMOS 12 th General Assembly
(1999). This article bring as a result the Sítio São Luís survey and analysis, in Pacoti, Ceará.

Keywords: Vernacular architecture; Farm house, Ceará

(1: Docente no Centro Universitário Estácio do Ceará, Centro Universitário Christus e no Centro
Universitário 7 de Setembro; kelmapinheiro@gmail.com), (2: Docente no Centro Universitário Estácio
do Ceará e no Centro Universitário Christus; larissaporto.estacio@gmail.com), (3: Discente no Centro
Universitário Estácio do Ceará; spiller.naiara@gmail.com), (4: Discente no Centro Universitário Estácio
do Ceará; grasielyaquino@gmail.com), (5: Discente no Centro Universitário Estácio do Ceará;
inesafernandes79@gmail.com)
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ARQUITETURA VERNACULAR BRASILEIRA


PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CONSERVAÇÃO

Temas relativos a conservação do patrimônio vem sendo discutidos desde Roma, por
volta de 1420, quando os humanistas passaram a reivindicar a manutenção das
antiguidades locais. Porém, a consagração do monumento histórico, com
amadurecimento das ideias e a intervenção do Governo, se deu apenas, a partir da
Revolução Francesa, conforme expõe Choay (2006).
Entretanto, para compreensão da importância da preservação, é importante
apreendermos, primeiramente, o conceito e fatores atrelados a esse amplo conjunto
de bens. O patrimônio histórico, segundo Lemos (1981), é dividido em três grandes
categorias de elementos, que são: elementos pertencentes a natureza; elementos
relacionados ao conhecimento; e os bens culturais em si, que englobam todas as
coisas.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, ampliou o conceito de
patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, trazendo
a seguinte definição para o patrimônio cultural brasileiro:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Notamos assim, que as abordagens atrelam o patrimônio histórico à cultura e ao modo
de vida de uma sociedade, seja esse bem material ou imaterial, expressando assim,
as características daquela população. Sobre isso, vale destacar o pensamento de
Choay (2006, p. 11) sobre a expressão em questão:
Patrimônio histórico. A expressão designa um bem destinado ao usufruto de
uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela
acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por
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seu passado comum: obras e obras primas das belas-artes e das artes
aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres
humanos.
Analisando esse argumento, entendemos a estima pelo bem histórico, pois, como
abordado, ele nasce das características culturais de uma comunidade, e
posteriormente se torna um patrimônio comum para toda população, que pode estudar
e compreender a evolução de uma sociedade.
No campo arquitetônico, estudar um bem histórico é analisar os métodos construtivos,
os materiais utilizados, além das soluções adotadas no desenvolvimento da edificação
com produtos e conhecimentos disponíveis naquele dado momento histórico.
Diante do exposto, podemos ter em mente o grande valor dos bens históricos para
toda sociedade. Diante disso nasce a necessidade da preservação dos patrimônios,
sobre o assunto LEMOS (1981, p. 29) destaca:
Preservar é manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes populares.
É fazer também, levantamentos, levantamentos de qualquer natureza, de
sítios variados, de cidades, de bairros, de quarteirões significativos dentro do
contexto urbano. É fazer levantamentos de construções, especialmente
aquelas sabiamente condenadas ao desaparecimento decorrente da
especulação imobiliária.
Portanto podemos apreender a importância agregada da conservação e registro dos
nossos patrimônios, como cita LEMOS (1981, p. 29) desta forma "estaremos
garantindo a compreensão de nossa memória social preservando o que for
significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos componentes do
Patrimônio Cultural."

ARQUITETURA VERNACULAR/POPULAR

É contemporâneo o pensamento de arquitetura vernacular como bem histórico, e


ainda conta com poucas ações de pesquisa, conservação e teorização, sobretudo no
Brasil, onde este assunto só foi acrescido de importância na década de 1930 com a
criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), hoje chamado
de Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Este, com Lucio Costa
e Mario de Andrade entre os que dirigiam o órgão na época, a partir de uma corrente
de pensamento de algumas vertentes do movimento moderno onde se valorizava a
arquitetura local, no caso brasileiro a edificada no período colonial, fortaleceu a
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conservação e restauração daquelas edificações ditas populares ou vernaculares, já


que estes termos se confundem de acordo com VIÑUALES (2008), mais por
relevância histórica do que estética, MAYUMI (2008, p.18). Mesmo assim, com todos
estes anos passados, o termo vernacular, apesar da importância que lhe é apontada
por vários autores como Rudofsky e pela própria ICOMOS, Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios, é pouco conhecido e teorizado.
A palavra vernacular vem do latim vernaculu e existente na língua inglesa, que, de
acordo WEIMER (2012, p.XL), em sentido figurado, é aquela “linguagem correta, sem
estrangeirismos, de sintaxe perfeita”, e no etimológico é usada para designar escravo,
bobo, patife e velhaco. Se considerarmos essas significações para o termo, o seu uso
pode ser prejudicial para o tipo de arquitetura que quer nomear, já que pode ser
depreciativo e insultuoso. Porém, levando em consideração que é o mais empregado
pelos autores e seu sentido figurado, não convém excluí-lo. A palavra popular,
também oriunda do latim populus, era e ainda é usada para designar a camada média
da população, excluindo assim os mais ricos e mais pobres. Alguns autores lusos
preferem o emprego desta terminologia para não usar palavras estranhas ao idioma.
Mas, como afirma VIÑUALES (2005) este último é usado por alguns para significar
aquilo que é vulgar, enquanto vernacular como algo culto, erudito.
Assim, considerando todo tipo de arquitetura própria de um povo relevante para a sua
história, e por questões de maior emprego na literatura especializada, optaremos por
utilizar mais vezes este último termo, sendo popular seu sinônimo.
Em termos arquitetônicos, de acordo com a carta da UNESCO (ICOMOS,1999) “ é a
expressão fundamental da cultura de uma comunidade, do seu relacionamento com o
seu território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade da cultura mundial.”.
De modo mais detalhado, podemos definir como todo tipo de arquitetura que,
lançando mão de materiais locais encontrados na natureza, na maior parte dos casos
a terra, com tecnologia construtiva que se desenvolveu a partir da tentativa e erro,
passada de geração em geração. Alguns autores, como o próprio Rudofsky (1964),
defende que esta é realizada sem auxílio de arquitetos e que não segue ciclos
estéticos, chamando-a de arquitetura sem pedigree. Porém nós tomaremos como
ponto de referência TELLES (2005) que diz que “é aquela feita por autor, a mais das
vezes, anônimo, sem formação profissional especializada, arquitetura baseada no
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saber do povo”, ou seja, que pode ou não ter tido auxílio técnico na fase de projeto,
mas o modo de construir é aquele baseado no conhecimento local.
Dentre as características deste tipo de edificações, podemos destacar:

 Simplicidade formal;
 Características formais e funcionais semelhantes entre as edificações
de uma população;
 Características plásticas definidas pelos materiais empregados;
 Forma de construir comum entre um povo;
 Tecnologia construtiva transmitida informalmente de geração em
geração;
 Materiais encontrados na natureza
 Arquitetura adaptada ao meio ambiente onde está inserida

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Percebemos que a arquitetura vernacular se diferencia tanto pelos autores que a


conceituam, quanto pelas diferentes localidades onde são produzidas, uma vez que
se utiliza dos materiais disponíveis na natureza e das técnicas que foram passadas
ao logo das gerações.
No Brasil colonial, temos edificações desenvolvidas em palha, taipa ou adobe, com
piso, normalmente, em terra batida, telhado de duas ou quatro águas, com vedação
em palha ou telhas de barro. No panorama formal, apresentam formas simples, com
aberturas voltadas à direção dos ventos dominantes, auxiliando no conforto térmico
da edificação. Os ornamentos eram raros, porém, quando presentes, denominavam
poder político e econômico (normalmente em igrejas e edificações civis urbanas).
Assim, podemos citar algumas técnicas usadas na arquitetura popular brasileira,
especialmente no período colonial, que persistem até o período atual em várias
regiões do país, que são: Adobe; Taipa de mão (pau-a-pique) e Taipa de pilão. A
seguir descrevemos cada umas destas técnicas.
O adobe são tijolos de barros, feitos em formas de madeira. Segundo Barros et. all
(2013, p.134): “são tijolos compactados à mão, não cozidos no forno, secos à sombra
e depois levados ao sol. Com traço cuidadoso, com a presença de argila e areia,
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encontra-se às vezes fibras no material.” Esta é uma das primeiras maneiras de


manipulação de materiais na construção de um abrigo, segundo Ponte (2012).
A taipa de mão, é conhecida por diversas denominações: pau-a-pique; taipa de
sopapo; pescoção ou tapona. É uma técnica simples, conforme explica Barros et. all
(2013), com estrutura em paus ou varas formando uma trama, amarrada com embira,
cipó, tiras de couro, cravos e posteriormente pregos, fixada entre o baldrame e as
frechas. É nessa trama que se aplica o barro no sopapo, por duplas em posições
opostas. Barros et. all (2013, p.139) complementa: “As casas de pau a pique (taipa de
sopapo), “casas caboclas” de nosso interior, representam a tradição das soluções dos
bandeirantes na mistura do uso da terra (costumes mouros, portugueses) e das
madeiras locais (indígenas).” Daí percebemos a mistura das culturas na construção
da técnica vernacular.
Já a taipa de pilão conforme cita Vasconcelos apud Barros et. all (2013, p.143) “é um
sistema construtivo que tem como base formas de madeiras – as taipas – preenchidas
com barro amassado por toda a sua extensão. Posteriormente o barro é compactado
com a utilização de um pilão ou mesmo dos pés”. Quando seco, a forma é retirada
para a construção dos trechos superiores.
Vale destacar que, tanto o adobe, quanto na taipa de mão e a de pilão, com o passar
do tempo, apresentam fissuras nos materiais, desta forma recorre-se ao uso de palha
e fibra animal ou pedras na elaboração do material para dar mais resistência à
retração.

OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO CEARENSE

O Ceará é uma das 27 unidades federativas o Brasil (26 estados e 1 distrito federal),
localizado na região Nordeste do país. Sua capital a cidade de Fortaleza, está situada
na região litorânea do estado, onde iniciaram-se as tentativas de ocupação do
território cearense pela colonização portuguesa. O Ceará é composto por uma vasta
faixa litorânea, na qual estão presentes dunas e mangues; e o seu sertão é
caracterizado por clima semi- árido com presença pontual de alguns maciços e serras
de clima ameno. A colonização cearense deu-se de forma tardia se compararmos aos
demais estados do nordeste brasileiro.
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SÉCULOS XVI E XVII – OCUPAÇÃO DO LITORAL

A presença portuguesa no litoral brasileiro acontece desde o século XVI, através da


instalação de feitorias, de aldeamentos jesuítas e do regime das capitanias
hereditárias. Essa ocupação era motivada pela extração do pau-brasil e
posteriormente pela cultura açucareira, pelo regime das sesmarias, em São Vicente,
Pernambuco, Bahia e Maranhão. No Ceará, a colonização portuguesa deu-se de
forma tardia. Em virtude do clima semi-árido, da presença de indígenas que
apresentavam resistência e da terra inadequada para o cultivo de cana de açúcar o
estado era visto por seus ocupantes- colonizadores, como pouco atraente. A capitania
hereditária do “Siará” teve como donatário o senhor Antônio Cardoso de Barros,
porém durante todo o século XVI permaneceu abandonada. Já no século XVII temos
os primeiros registros de instalação de fortalezas portuguesas na região do litoral
cearense, pois foi constatada a necessidade de defesa do território, em constante
ameaça de invasões de franceses e holandeses. De acordo com Castro, as primeiras
tentativas de dominação portuguesa nas terras do Ceará iniciaram-se em 1603 com o
explorador açoriano Pero Coelho de Souza. O litoral serviu, por muito tempo, apenas
de base de apoio militar português no conflito com os franceses. É nesse momento
histórico que a figura de Martim Soares Moreno, futuro Capitão-Mor da província
ganha destaque.
Na foz do Rio Ceará dá-se a construção do Forte de São Tiago, onde surgiu uma
primeira povoação chamada Nova Lisboa. No mesmo local, Martins Soares Moreno
edifica o Forte São Sebastião, onde permanece até 1631, quando se desloca para
Pernambuco “a fim de participar das campanhas contra os holandeses”. Logo após a
ocupação portuguesa desloca-se à foz do Riacho Pajeú, tomando-se o forte holandês
Schoonenborch em 1649, no qual será rebatizado de Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção, que dará origem à vila e posteriormente à cidade. As fortalezas,
construídas à margem do Rio Ceará e do Riacho Pajeú, permaneceram como local
de apoio durante todo o período colonial, sendo utilizado tanto para expulsão dos
holandeses, quanto como parada para as rotas comerciais entre os portos de São
Luís e Recife.
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SÉCULO XVIII – O CICLO DO GADO E O POVOAMENTO DO SERTÃO

A ocupação do sertão nordestino se consolida no século XVIII. A expansão da lavoura


canavieira em Pernambuco e na Bahia, em outras palavras, a necessidade de mais
terras para plantio da cana-de-açúcar no litoral, introduz as fazendas de gado, a
atividade pecuária e as pequenas lavouras de subsistência no interior. A ocupação
espalha-se pelo sertão semiárido, chegando ao interior do Ceará através dos vales
dos rios Jaguaribe e Acaraú. A colonização do Ceará, do sertão para o litoral a partir
do início do século XVIII, que teve como base a economia do couro e do charque,
ganhou força principalmente após o desligamento de Pernambuco, na qual era
Capitania. Assim, os sertões foram se povoando gradativamente. Por meio da
concessão de Sesmarias, amplas parcelas de terras eram cedidas pela coroa
portuguesa aos fazendeiros, para a criação de gado. A coroa adotou então uma
estratégia para a administração do território: as vilas. Será nessas vilas onde se
instalará respectivamente a primeira e a atual capital cearense. Ao todo foram criadas
mais de 18 vilas, garantindo a continuidade territorial da autoridade portuguesa em
Território cearense. Durante todo o século XVIII e XIX, são fundadas pouco a pouco
novas vilas, dando apoio à administração das sesmarias logrando êxito no objetivo de
controlar a ocupação do território.

SÉCULO XVIII – O CICLO DO CAFÉ

A planta do café (Coffea arabica) é originalmente pertencente ao território africano.


Antes de ser introduzida nas terras brasileiras ele foi cultivado em diversas regiões, é
uma espécie que pode ser plantada em pleno sol, o que possibilitou aos colonizadores
cultivá-la com outras espécies, ou introduzi-la em um vasto terreno. O café possibilitou
aos comerciantes brasileiros de desfrutar de um produto que apresentavasse
economicamente interessante e que servisse também como troca. Assim, esta iguaria
foi um um dos produtos responsáveis pela adição de investimentos e crescimento
territoriais no Brasil, e também no Ceará. A atividade de cultivo do café consistia no
sistema latifundiário e a mão-de-obra inicialmente era escrava, e em um segundo
momento, tornou-se assalariada, esses imigrantes eram principalmente de origem
européia.
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O café foi trazido para o Maciço de Baturité em 1822, a partir de Pernambuco, e


introduzido na Chapada do Araripe, região do Cariri. Dali algumas sementes foram
enviadas para o senhor Antônio Pereira de Queiroz, no Maciço de Baturité. Quando
observamos a configuração do plantio cafeeiro, percemos que o café foi um
protagonista da formulação de uma cultura própria. Os “barões do café”, como eram
titulados os grandes produtores brasileiros nas músicas e poesias, ainda hoje são
lembrados, pois fizeram parte de um período importante da história; o perfil destes
senhores que fizeram fortuna com o café se aproximava muito dos ideais de luxo e
hierarquia da alta sociedade moldada segundo os costumes europeus.
Os investimentos na lavoura, transporte e comercialização do café estimularam a
construção de armazéns, depósitos, estradas, instalações portuárias, assim como
uma arquitetura própria. O lucro obtido com o café alterou a fisionomia social, cultural
e econômica do Estado, criou paisagens próprias, norteou o povoamento, fez nascer
cidades, abriu zonas pioneiras, desenvolveu os centros urbanos, propiciou o
aparecimento de ferrovias. Destas mudanças citadas, a mais marcante sem dúvida foi
a adoção do sistema de ferrovias, cujos investimentos iniciais no Brasil estavam
diretamente ligados à riqueza produzida pelo setor cafeeiro. O sistema de ferrovias
proprorcionou um transporte rápido e em grande escala, ou seja, a quantidade de
grãos era significamente maior, o que viabilizou a contrução de várias ferrovias, e
assim as linhas férreas são denominadas de “trilhos do café” e o desenho das rotas
de ferro foi adaptado conforme o desenho dos plantios cafeeiros.
O “caminho de ferro” ligaria o porto da capital cearense ao “mais rico centro produtor”
do Ceará, que estava situada na região do Maciço de Baturité. “Essa linha tem 120
quilômetros de extensão aproximadamente, que ao preço médio de 30:000$000 por
quilômetro, importará em cerca de 3.600:000$000” (REBOUÇAS, 1874, p. 151). Em 5
de março de 1870 foi assinado acordo para fundação da sociedade que daria origem
à Estrada de Ferro de Baturité – EFB40 .

CEARÁ PÓS-INDEPENDÊNCIA – O CICLO DO ALGODÃO NO SÉCULO XIX

Temos no século XIX o início dos ciclos da borracha, do café e do algodão. O Ceará
participa como estado produtor de café, mas se destaca na produção e exportação do
algodão, que veio a substituir a pecuária como sua principal atividade econômica. No
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final do século XVIII, novamente as condições climáticas dificultam a viabilidade da


ocupação. A seca passa a prejudicar a atividade da pecuária, desestabilizando a
economia das fazendas de gado e o comércio dos seus produtos derivados. Muitas
fazendas passam, a investir em novas culturas para compor sua base produtiva.
Nesse período inicia-se a produção algodoeira, que pela importância adquirida no
mercado internacional passa a ser chamado popularmente de “ouro branco”. Portanto,
enquanto a pecuária promovia a expansão da ocupação e desenvolvimento das
primeiras vilas e núcleos urbanos no século XVIII, a cultura do algodão faz crescer o
desenvolvimento dos núcleos populacionais e vilas mais próximos ao litoral no século
seguinte.
Vale lembrar que o período algodoeiro se caracteriza pelo crescimento da demanda
por matéria prima da indústria têxtil inglesa e pela queda da produção nos EUA
durante a Guerra de Secessão (1861-1865). O Brasil já fornecia matéria-prima para a
indústria têxtil inglesa desde a abertura dos seus portos às nações amigas de Portugal
em 1808, mas intensifica a exportação a partir da década de 1860, nascendo um novo
ciclo econômico de escala regional. Como observa Celso Furtado: “(...) na segunda
metade do século XIX, os sintomas de pressão demográfica sobre a terra tornaram-
se mais ou menos evidentes. (...) nos anos sessenta, quando ocorre a grande
elevação de preços provocada pela guerra civil nos EUA, a produção de algodão se
intensifica e certas regiões, como o Ceará, conhecem pela primeira vez uma etapa de
prosperidade. ” No Ceará, para a exportação do algodão para as Ilhas Britânicas, a
pequena vila de Fortaleza encontrava-se em localização privilegiada em relação às
demais vilas litorâneas, pela proximidade com as principais regiões produtoras de
algodão, localizadas nas serras de Baturité e Uruburetama. Tal localização diminui o
custo de implantação da infraestrutura ferroviária e portuária para exportação do
produto, já que os portos existentes em Aracati (litoral leste) e em Camocim e Acaraú
(litoral oeste), além de necessitarem de intervenções para sua modernização, eram
mais distantes da região produtora, aumentando o custo de implantação da
infraestrutura de transporte. A cidade de Fortaleza passa a se constituir
economicamente no principal núcleo urbano do estado, em função de seu papel como
centro exportador de algodão para o mercado inglês. A existência do porto e sua
articulação à ferrovia Fortaleza-Baturité contribuem para o escoamento da produção
e ao desenvolvimento da vila, elevando-se à categoria de cidade.
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O aumento da importância de Fortaleza e consequente acumulação do poder político


a destacará no cenário cearense a partir do final do século XIX, construindo-se as
bases para seu destaque nacional posterior. Inicia-se, então, o processo de inversão
no desenvolvimento socioeconômico e urbano cearense. A cultura algodoeira, de
grande importância para economia internacional, sobrepõe-se à cultura da pecuária,
cuja importância está limitada às demandas regionais. Na rede de cidades cearenses,
observa-se um grande desequilíbrio no poder de atração de investimentos e da
população da capital em detrimento das cidades e vilas localizadas no interior,
gerando a quase estagnação econômica e populacional que caracterizam a economia
do sertão no século XX. Essa mudança no contexto histórico e econômico é de
fundamental importância para entendermos a história cearense. As vilas e cidades no
interior até hoje mantém, em sua arquitetura e urbanismo, os traços das épocas em
que participaram mais ativamente da economia do estado e do início da ocupação
desse território.
Das casas de fazenda que ainda resistem ao tempo às habitações e núcleos urbanos
de importância histórica para o Ceará, temos no sertão e na cultura do interior os
registros materiais e imateriais de três séculos de história e de seu povo. Sua
organização, suas lutas, seus conflitos e os marcos na paisagem que evidenciam os
fatos históricos e os modos de viver e se relacionar como uma sociedade.
Pacoti e sua história

Após dois séculos do descobrimento do Brasil, em 1680, o maciço de Baturité é


alcançado pela primeira vez. Estevão Velho de Moura e mais seis rio-grandenses
conseguem do Capitão-mor Sebastião Sá uma parcela de terra próxima ao rio Choró.
Esta vasta extensão alcançava grande parte da atual microrregião de Baturité. Apesar
da adesão dessas terras a região ficou sem ocupação significativa até 1718, quando
Manuel Duarte da Cruz ocupa a região denominada de Aracoiaba. Vindos do sertão
de Canindé, em 1738, Teodósio de Pina e Inácio Loiola Leitão ocupam a região da
atual Aratuba. Em 1740, os irmãos Arnáu, Sebastião, Cristóvão Holanda habitam
temporariamente a serra e Manuel Ferreira da Silva resolve transferir-se
definitivamente para a região. Os descendentes desses ocupantes iniciais são os
responsáveis pelo povoamento inicial e hoje, muitos dos seus quintos e sextos netos
ainda são proprietários de sítios em Aratuba, Mulungú e Pacoti. No início do século
XIX, todo o solo do maciço já possuía proprietários. Em algumas parcelas do maciço
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é desenvolvida a plantação de algodão, fazendo com que a parcela que adotou esse
tipo cultivo, tenha uma rápida expansão econômica.
Características sócio econômicas do território

O território de Pacoti é sustentado pelo cultivo agrícola, atualmente pode-se constatar


que o algodão está presente como produto cultivado, e além dele o território possuí
lavouras de café, castanha de cajú, cacau, uva, e etc. O cultivo é feito em grandes
hectares de terra e os produtos além de serem transportados para a Capital
(Fortaleza), são mandados para alguns estados brasileiros e ao exterior.
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JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

Propõe-se para esse projeto de pesquisa a busca por casas de fazenda construídas
entre o século XVIII até a segunda metade do século XX, em áreas rurais, de forma a
conhecê-los, utilizando de ferramentas fotográficas e programas de computador
específicos para registrar dimensões, características formais interiores e exteriores,
para, ao final, estudá-los. Se trata, então, de um trabalho, em grande parte, campal.

O projeto pode se desenvolver nas cidades de Aracati, Icó, Santa Quitéria, Saboeiro,
Iguatu, Granja, Aquiraz, Quixeramobim, Baturité, Crato, Sobral, Tauá, Russas e
demais cidades fundadas no mesmo período, as quais foram importantes no
desenvolvimento do estado Ceará. Segundo Neto (2012), essas cidades surgiram dos
assentamentos que cresceram em torno das primeiras capelas e fazendas que foram
erguidas na região. Estes eram pontos de conexão da atividade pecuária, que durante
os séculos XVIII e XIX movimentou a economia do cearense, entre o sertão e o
restante do país. Ainda de acordo com o mesmo autor, pautando a classificação das
vilas mais importantes do período setecentista segundo a posição estratégica para os
pecuaristas, as duas principais seriam a vila de Icó e a do Aracati. Neto (2012) também
cita que entre 1700 e 1822 foram criadas dezoito vilas no estado do Ceará, algumas
delas descritas acima como possíveis objetos de estudo. Porém, se visa não apenas
estudar as casas deste período como também as construídas até a metade do século
XX, de modo abranger o maior número de possibilidades de edificações vernaculares,
e também pela incerteza da existência das construídas nos primeiros anos de
ocupação do Ceará.
No cerne do projeto, o intuito é encontrar edifícios que foram ignorados, ora por sua
simplicidade, já que tal modo de construir era realizado por pessoas que não eram
instruídas, de acordo com ensinamentos passados de geração em geração, ora pela
falta de conhecimento da população relativos à história local, e coloca-los em
destaque como patrimônio arquitetônico e cultural.

O estudo da arquitetura tradicional de um lugar é a buscar por não deixar se apagar


os costumes construtivos de uma sociedade. Assim, a Carta da Unesco sobre o
Patrimônio Vernacular edificado define o tema vernáculo como importante, “por ser a
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expressão fundamental da cultura de uma coletividade, de suas relações com o


território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade cultural do mundo”. Assim,
o presente estudo pretende resgatar parte da história construtiva do estado do Ceará.
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OBJETIVOS GERAIS

Pesquisar e registrar através de fotos, croquis e levantamentos arquitetônicos e


documentais, casas rurais e similares em um dos municípios acima citados. Com tais
registros, ao final, classificá-los de acordo com critérios históricos e facilitar
documentação para tombamento e restauração.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Na primeira etapa de trabalho se objetiva nivelar o conhecimento, relativo ao tema,

dos participantes da pesquisa e eleger as cidades onde se concentrarão os estudos;

 Na segunda fase, mapear e catalogar os edifícios de interesse;

 Na terceira etapa, registrar e divulgar os resultados da pesquisa.


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REFERENCIAL TEÓRICO

"O patrimônio vernacular edificado é importante; ele é a expressão fundamental da


cultura de uma comunidade, de sua relação com o seu território e, ao mesmo tempo,
a expressão da diversidade cultural do mundo".

UNESCO. Carta sobre o Patrimônio Vernacular edificado. 12ª Assembleia Geral do ICOMOS. Cidade
do México – México, outubro de 1999.

"Vernáculo es lo proprio del país, y Popular es lo proprio del pueblo, aceptado por el
pueblo, vulgar."

VIÑUALES, Graciela María. Arquitectura vernácula em Iberoamérica: história y persistencias. I


Congreso Internacional de Arquitectura Vernácula en el mundo Iberico, Carmona - Espanha,
outubro/2005.

"(...) queremos enfatizar, mais uma vez, a necessidade de ser programado um


inventário sistemático desse acervo urbano e rural da arquitetura popular, vernacular,
no Brasil."

TELLES, Dr. Augusto da Silva. Arquitetura Vernacular no Brasil: necessidade de inventário e estudo. I
Congreso Internacional de Arquitectura Vernácula en el mundo Iberico, Carmona - Espanha,
outubro/2005.

"Precisamos, agora, em conjunto com os órgãos estaduais e municipais, e com as


Universidades, inventariar, analisar e estudar essa arquitetura que se diz menor, mas
que, verdadeiramente, melhor expressa as realidades das diferentes fases e etapas
da civilização brasileira, pois que são obra do povo, feita com a sabedoria dos que a
realizaram e dos que a vivenciaram, o brasileiro de todas as épocas e de todos os
sítios".

TELLES, Dr. Augusto da Silva. Arquitetura Vernacular no Brasil: necessidade de inventário e estudo. I
Congreso Internacional de Arquitectura Vernácula en el mundo Iberico, Carmona - Espanha,
outubro/2005.
16

METODOLOGIA

A primeira etapa de trabalho será uma pesquisa teórica, de modo a se aprofundar e


nivelar entre os participantes os conhecimentos relativos à arquitetura vernácula e a
história da ocupação do Ceará, que auxiliarão no entendimento sobre as maneiras de
se construir da época e materiais utilizados. Como bibliografia se usará livros, como
Architecture without architects do autor Bernard Rudofsky que mostra a arquitetura
vernacular em muitos países, estudos já realizados por arquitetos cearenses, como
Clovis Juca Neto, Liberal de Castro, cartas da Unesco, e tratados de congressos sobre
o tema, como o I Congresso Internacional de Arquitetura Vernacular, realizado em
Sevilla.

Essa fase inicial será de importante ajuda também na eleição do(s) município(s) onde
se concentrarão os estudos, de acordo com a data de fundação, importância
geopolítica no período, etc.

Depois de se definir a cidade propícia, se iniciará o trabalho de campo, que se


caracterizará pela visita in loco dos estudantes envolvidos, para inventariar a
edificação de interesse à esta pesquisa, a partir de registros fotográficos, croquis,
medições, mapeamento cartográfico, com à ajuda de programas de computador.

Ao final, com toda a pesquisa histórica e levantamento arquitetônico realizado, se


divulgará os resultados a partir de artigos científicos publicados em congressos
relativos ao tema aqui estudado.
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SÍTIO SÃO LUÍS

ANÁLISE CRÍTICA

Nos primeiros séculos de colonização maior parte da gleba populacional vivia em


áreas rurais, sobretudo no estado do Ceará onde as atividades econômicas estavam
relacionadas ao campo, destaque para a pecuária, e as vilas se desenvolveram a
partir das primeiras propriedades instaladas na sesmaria. Assim, as fazendas eram o
motor da sociedade e as casas senhoriais o símbolo do poder dos senhores de terras.
Isto era representado não só através das ações destes, mas também com a
implantação e a própria arquitetura dos edifícios.

1 Imagem externa Sítio São Luís - foto por Wagner Aquino

Sempre locada na área mais alta da propriedade, todas as outras atividades da


fazenda giravam em torno deste edifício para o controle visual do proprietário. As
moradas dos outros habitantes das terras estavam espalhadas, porém sempre
próximas da casa principal, também sempre constituídas por técnicas construtivas
semelhantes à desta última, mas executado de modo inepto, “eram frágeis e toscas”
de acordo com BEZERRA (p.53, 2012).
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O Sítio São Luís, nosso objeto de estudo, está localizado na área rural de Pacoti,
Ceará, na serra de Baturité, que nas últimas décadas de 1800 tinha como impulsores
econômicos o ciclo do algodão e do café. Segundo JUCA, Levi (p.67, 2014) a
construção que conhecemos é oriunda da reforma da casa grande original no final do
século XIX. Acredita-se que a obra se deu para concorrer esteticamente com outro
edifício do mesmo porte de outra propriedade da região, o sobrado Pau d’Alho, que já
não existe. Com sua exuberância, a edificação encanta com sua arquitetura quase
única, pois na cidade de Maranguape encontra-se outra com fachada muito
semelhante, onde funcionava uma agência da Caixa Econômica Federal. Construída
em adobe, com pintura caiada, seu piso original era em assoalho de madeira, hoje
substituído por cimento queimado, circundada por uma varanda que ajuda a controlar
a temperatura interior. Suas portas e janelas, que permanecem praticamente originais,
são de cedro maciço, que foi retirado da mata envoltória.
Foram feitas certas modificações na sua pintura interna, principalmente na sala de
jantar, já que a casa serviu de cenário para dois longa-metragem, “Eu não conhecia
Tururu” de Florinda Bolkan e “Bezerra de Menezes – o diário de um espírito” de
Glauber Filho e Joe Pimentel. Além disso, algumas portas foram transformadas em
janelas e vice-versa por conta de alterações de uso de alguns ambientes. Mesmo
com essas alterações, a casa permanece com seu aspecto praticamente original.

2 Parede de Adobe - Sítio São Luís - Foto dos autores


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Em relação a estilos arquitetônicos, não há uma classificação clara. Colunas e arcos


plenos, simetria na planta baixa e elevações, frontões sobre portas e janelas são
traços do neoclássico, possivelmente francês, que teve grande influência no Brasil,
graças a Missão Artística Francesa, que junto com a Coroa Portuguesa, desembarcou
no nosso país em 1808. O telhado de barro estruturado por peças de madeira local, a
locação do edifício no terreno e as alcovas são reminiscências da arquitetura colonial
e tradições portuguesas. Assim, a casa grande do Sítio São Luís não se encaixa
perfeitamente em nenhuma tipologia arquitetônica específica. Podemos considera-lo,
então, como eclético, estilo em voga, principalmente, na Europa no período. Podemos
sustentar tal teoria partindo do princípio que engenheiros holandeses estavam
instalados na região de Pacoti à época da sua construção, e segundo os atuais
moradores da casa, o projeto é de responsabilidade desses. Desse modo,
acreditamos que referências ecléticas foram incorporadas por tais profissionais,
adaptando-as à disposição dos ambientes e a maneira como estes se relacionavam
com a área social da edificação, aos costumes locais do período e também a mão-de-
obra, tecnologia construtiva e materiais disponíveis.
Em resumo, o que podemos afirmar é que se trata de um edifício construído dentro
de uma época onde o acúmulo de elementos de vários outros tipos de arquiteturas
era comum. O Sítio São Luís nos revela a influência europeia em nossas construções,
mas a necessidade de adaptação destas ao clima local, a presença de varandas e
grandes beirais são exemplos disso. Demonstra também toda a importância que a
região teve no setor econômico do estado do Ceará no século de 1800.
Levando em conta o emprego de materiais locais e adaptações do programa
arquitetônico aos costumes da região podemos considerar a edificação em questão
como vernacular. Porém, não como um todo, já que foi concebida por técnico. A falta
de verdadeiros exemplares dessa arquitetura justifica o que foi debatido no início
deste artigo sobre a importância da conservação desses edifícios.
20

LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO E FOTOGRÁFICO DO SÍTIO SÃO LUÍS

Com o intuito de guardar a memória desta e de outras casas, o presente estudo


apresenta o registro gráfico e fotográfico do Sítio São Luís, para que além de
resguardar a história arquitetônica da edificação, possa auxiliar na conscientização da
importância da preservação e valorização do nosso patrimônio histórico.
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LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

3 Planta de Implantação do Sítio São Luís


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4 Planta de Cobertura
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Planta Baixa Original

Planta Baixa Atual


Demolições Adições

5 Planta baixa original e atual


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6 Corte transversal

7 Corte Longitudinal

8 Fachada principal - leste


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9 Fachada lateral sul

10 Fachada lateral norte


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LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO

11 Varanda - foto de Wagner Aquino

12 Colunas da fachada - foto de Wagner Aquino


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13 Imagem interna - detalhe bandeirola das portas

14 Piso original da casa - foto cedida pelos proprietários do Sítio São Luís
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15 Imagem de 1900 da casa - foto cedida pelos proprietários do Sítio São Luís

16 Imagem do telhado antigo da biblioteca - foto cedida pelos proprietários do Sítio São Luís
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MAQUETE ELETRÔNICA

17 Fachada Principal - render por Natália de Oliveira do Nascimento

18 Fachada lateral sul - render por Natália de Oliveira do Nascimento


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DETALHES CONSTRUTIVOS

19 Detalhe tirante - apoio estrutural existente no sentido transversal da casa – desenho dos autores

20 Perspectiva isométrica dos arcos das fachadas – desenho dos autores


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CONCLUSÃO
Resultado de duas etapas, uma teórica e outra em campo, da pesquisa “O memorial
das casas de fazenda do estado do Ceará”, este artigo ressalta a importância da
preservação da arquitetura vernacular, como aquela que expressa a cultura do povo
que a constrói, a partir da compreensão da história da região, mais especifica da
cidade de Pacoti, para entender a tecnologia construtiva usada até a inserção de
novos materiais, como o concreto, tendo como exemplo de edificação a sede do Sítio
São Luís.
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AGRADECIMENTOS
Os autores desse trabalho agradecem o apoio do Centro Universitário Estácio do
Ceará através do Programa de Iniciação Científica (PIC) e da Coordenação do curso
de Arquitetura e Urbanismo do campus Via Corpus e Centro. Também ao professor
André Almeida que iniciou este projeto, a participação dos alunos Natália de Oliveira
do Nascimento, Ronoaldo Câmara, Roberta de Paula, Isabella Araújo, Lucas
Wargnier, Julia Jereissati e Lia Pinheiro. Agradecem ainda ao professor Frederico
Barros e Wagner Aquino pela contribuição dada e a Laura Goes por ceder o Sítio São
Luís para o desenvolvimento da pesquisa e também pelas imagens e depoimentos
concedidos.
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BIBLIOGRAFIA
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