Você está na página 1de 18

EIXO TEMÁTICO 4: A VIA CRÍTICA DO PATRIMÔNIO

PRAÇA DAS ARTES: relação com a preexistência na arquitetura


contemporânea
PEREIRA, VANESSA MARIA (1); PINHO SILVA, ISADORA DO (2); ANDRADE
JUNIOR, NIVALDO V. (3);

1. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura


R. Felipe Schmidt, 625, Centro, Florianópolis - SC
vanessapereira@ufba.br

2. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura.


Rua Professor Sabino Silva, 460 - Jardim Apipema, Salvador - BA
isadoradopinho@gmail.com

3. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura


R. Caetano Moura, 121 - Federação, Salvador - BA
nivandrade@gmail.com

RESUMO
O projeto do complexo cultural Praça das Artes, localizado na cidade de São Paulo, foi concebido, a
partir de 2006, em razão da necessidade de ampliação dos espaços de ensaio vinculados ao Teatro
Municipal. O projeto é de autoria do escritório Brasil Arquitetura, liderado pelos arquitetos Marcelo
Ferraz e Francisco Fanucci, em parceria com Marcos Cartum, da Secretaria Municipal de Cultura. Em
razão de um programa funcional amplo e complexo, o projeto adota várias estratégias frente às
preexistências, que vão da preservação de edifícios históricos à demolição de construções existentes,
passando ainda por reformas com variados graus de modificação. O presente artigo tem por objetivo
refletir sobre a relação do projeto da Praça das Artes com as preexistências, sejam bens tombados ou
não, e com o sítio urbano em que está inserido. Além da questão dos edifícios preexistentes que
foram incorporados ao projeto, o artigo abordará também o descarte (demolição) de várias
edificações na região, eliminadas para a implantação da praça que constitui o acesso principal ao
complexo, entre elas um edifício de aproximadamente 10 pavimentos. Por fim, pretende-se abordar
como o conjunto se relaciona com o tecido urbano das quadras da região, mantendo uma
variabilidade tipológica e abrindo novas perspectivas de observação do entorno.

Palavras-chave: Intervenção contemporânea; Patrimônio histórico; Praça das Artes

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
Introdução

A Praça das Artes é um espaço cultural localizado no centro da cidade de São Paulo,
construído para funcionar como um anexo do Teatro Municipal, que se localiza nas
proximidades. Foi projetado a partir de 2006 pelo escritório Brasil Arquitetura, liderado pelos
arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, em parceria com Marcos Cartum, da
Secretaria Municipal de Cultura. O projeto foi analisado entre os anos de 2020 e 2021, no
bojo da pesquisa “Projeto e Patrimônio”, realizada pelo Grupo de Pesquisa “Projeto, Cidade
e Memória”, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de
Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (PPG-AU/FAUFBA), sob a coordenação do
Prof. Nivaldo Vieira de Andrade Júnior. A pesquisa tem como objetivo analisar intervenções
projetuais contemporâneas sobre monumentos e sítios históricos tombados, a partir da obra
dos arquitetos Lina Bo Bardi e Paulo Ormindo de Azevedo e do escritório Brasil Arquitetura.

A metodologia utilizada para estudar as obras destes arquitetos envolveu a revisão da


bibliografia existente sobre as suas produções; a construção de base de dados relativa a
uma ampla gama de projetos selecionados, contendo informações como: imagens da
preexistência, projeto e obra pronta; ano da intervenção; parcerias; endereço; se foi ou não
executado; situação atual; estado de conservação; descrição das intervenções posteriores,
caso haja; instância, tipo e data do tombamento. Posteriormente, foram selecionados alguns
projetos de cada arquiteto para realização de uma investigação mais aprofundada,
especialmente relacionada às estratégias e soluções projetuais adotadas. Nesta etapa,
foram intensificadas as leituras, sendo realizadas também entrevistas com profissionais
envolvidos com os projetos ou estudiosos do tema, e promovidas discussões entre os
membros do grupo, analisando conjuntamente os projetos a partir do processo de
modelagem tridimensional das obras selecionadas. Além dos projetos em si, a modelagem
envolveu as áreas de entorno, bem como, quando possível, as preexistências, permitindo,
desta forma, uma melhor compreensão das decisões e impactos projetuais. No caso do
projeto da Praça das Artes, o grupo entrevistou as arquitetas Lia Mayumi e Raquel
Schenkman, que atuavam no Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria
Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo quando o projeto foi aprovado
pelo órgão. A entrevista foi realizada virtualmente, em março de 2021. As arquitetas do DPH
disponibilizaram documentos técnicos referentes ao projeto e seu processo de análise. O
escritório Brasil Arquitetura também disponibilizou documentação técnica sobre o projeto,
além de fotografias do conjunto.

No ano em que o projeto da Praça das Artes teve início, o escritório Brasil Arquitetura já
contava com diversos projetos executados de intervenção no patrimônio, alguns, inclusive,
7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
06 a 08 de outubro de 2021
premiados no Brasil e no exterior. Dentre as obras analisadas, destacam-se algumas. O
projeto elaborado pela Brasil Arquitetura em 1995 para a edificação eclética do Teatro
Polytheama, em Jundiaí, retoma um projeto elaborado em 1986 sob a coordenação de Lina
Bo Bardi, contando então com a colaboração de Ferraz e de André Vainer. O Conjunto
KKKK, na cidade de Registro, tombado pelo Governo do Estado de São Paulo em 1987,
cujo projeto data de 1996. A intervenção no conjunto de engenho e galpões remanescentes
da imigração japonesa no Vale do Ribeira, do início do século XX, visava viabilizar a
instalação de um Centro de Cultura e um Memorial da Imigração Japonesa. Para
viabilização do projeto foi preciso incorporar ao espaço um centro de formação de
professores que, por conta da extensão do programa, exigiu uma compartimentação do
espaço interno muito maior do que a previamente proposta. De forma geral, o projeto liberou
o conjunto de anexos que reduziam sua visibilidade e interferiam na sua legibilidade;
reforçou a relação do conjunto com a paisagem, em especial com o Rio Ribeira de Iguape;
modernizou suas instalações e recuperou alguns elementos perdidos que eram
fundamentais à compreensão do conjunto, como a marquise de conexão entre os galpões.
Reflexões sobre este projeto, realizadas a partir desta pesquisa, foram recentemente
publicadas por Andrade Junior, Pereira e Amaral (2021).

Já no século XXI, outros projetos auxiliaram na reflexão sobre o conjunto da obra do


escritório, como o Museu Rodin Bahia, localizado no bairro da Graça, em Salvador, projeto
datado de 2002. Também com o objetivo de implantar um espaço de cultura, foi realizada a
intervenção em um casarão eclético edificado em 1912, que havia pertencido ao
Comendador Bernardo Martins Catharino. No projeto, chamam a atenção, além do anexo de
linguagem contemporânea, as intervenções no casarão, em especial o rompimento da
espacialidade interna do bem, com a retirada de diversas paredes dos antigos quartos para
criar um espaço expositivo contínuo no pavimento superior, e a opção cromática externa,
utilizando o branco de forma integral nas fachadas, sem diferenciar os ornamentos dos
planos de fachada.

Por fim, cabe também destacar o projeto do Museu do Pão, de 2005, localizado na cidade
de Ilópolis, no Rio Grande do Sul. A intervenção contempla um museu sobre a história do
pão e uma escola de panificação. Para tanto, foi feita a restauração do Moinho Colognese,
construído em 1917, e foram propostos dois anexos em linguagem contemporânea, nos
quais foram utilizados concreto aparente, vidro e madeira. As edificações novas abrigam as
funções de museu, auditório e oficina de panificação, enquanto o moinho inclui uma bodega
para degustação e demonstração da atividade de moagem para produção de farinha.

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
O projeto da Praça das Artes inicia-se também nos primeiros anos do século XXI, como uma
iniciativa da Operação Urbana Centro diante da necessidade de ampliação dos espaços de
ensaio vinculados ao Teatro Municipal. O conjunto se localiza na quadra 27, no centro da
cidade de São Paulo. Esta quadra é conformada pelas Ruas Formosa (Vale do
Anhangabaú), Rua Conselheiro Crispiniano, Avenida São João e a Praça Ramos de
Azevedo, na qual se localiza o Teatro. Esta região representa um importante sítio urbano
que contém grande número de bens tombados com variadas tipologias arquitetônicas. As
obras da Praça das Artes se iniciaram em 2009 e foram realizadas em etapas, sendo a
primeira inaugurada 2012 e a segunda, abrindo para o público a parte do projeto voltada
para o Vale do Anhangabaú, em 2019.

FIGURA 01 – Planta de localização do projeto da Praça das Artes, destacando as edificações históricos
tombadas do entorno. Identificação das edificações numeradas: 1) Teatro Municipal; 2) CBI Esplanada; 3)
Palácio dos Correios; 4) Edifício Alexandre Mackenzie. Fonte: Acervo dos autores

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
O conjunto urbano e o projeto proposto

O Centro da cidade de São Paulo é conhecido por sua pluralidade de usos e diversidade
tipológica. A região onde se insere o complexo é repleta de edificações relevantes que
refletem a história desta importante cidade brasileira, dentre as quais destacam-se alguns
bens tombados nas esferas municipal e estadual, como o Teatro Municipal, o edifício CBI
Esplanada, o Edifício Alexandre Mackenzie, o Edifício do antigo Banco de São Paulo, o
Palácio dos Correios e o Cine Marrocos.

Neste complexo contexto urbano, o programa funcional da Praça das Artes abriga espaços
de ensaio, apresentações e apoio de duas orquestras; duas escolas; dois corais; companhia
estável de balé e quarteto de cordas; além do centro de documentação artística. O projeto
tem uma área construída total de 28.500m² e ocupa uma parte considerável da quadra. A
intervenção, realizada em grande medida no miolo da quadra, se abre para a cidade em três
fachadas diferentes, em um conjunto densamente ocupado que foi parcialmente demolido
para o atendimento do programa. Algumas edificações foram mantidas, recebendo
intervenções de maior ou menor potencial transformador, incluindo edificações de valor
histórico cultural:

Ao fazer um corte no terreno, criando uma passarela aberta entre seus prédios, a
Praça quer ser continuação da cidade. Deixa o quarteirão respirar. Ela revela o
pulmão dessa área e permite uma proximidade íntima com os prédios. Algo raro na
São Paulo de hoje, mas com exemplos históricos e muito bem sucedidos, como o
Conjunto Nacional e o MASP, as duas praças efetivas da Avenida Paulista,
vibrantes, mesmo com décadas após sua construção. Sem falar das inúmeras
galerias que circundam a Praça das Artes, entre as quais, a mais popular,
movimentada e viva delas, conhecida como Galeria do Rock, dos arquitetos italianos
Hermano Siffredi e Maria Bardelli, responsáveis por outras galerias vizinhas na Rua
24 de Maio. (LORES, 2013, p. 29)

É interessante notar que a ação de demolição de um grande número de edificações para a


implantação do projeto é considerada uma ação que visa permitir que o quarteirão “respire”,
um conceito que remete às ideias de Gustavo Giovannoni que, no início do século XX,
defendia o “diradamento edilizio”, que poderia ser traduzido como o “desbastamento de
edificações”. Este conceito correspondia originalmente:

[...] à retirada de acréscimos espúrios de edifícios históricos ou à demolição de


edifícios de menor valor dentro do tecido urbano consolidado, tendo como objetivos
destacar visualmente os elementos e monumentos arquitetônicos de maior valor,
bem como reduzir o caos provocado pelo excessivo adensamento dos centros
históricos. (ANDRADE JÚNIOR, 2006, p. 6)

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
Entretanto, no caso de São Paulo, as demolições empreendidas, como apresentaremos
mais adiante, não tinham por objetivo destacar monumentos preexistentes. Pelo contrário, o
espaço da praça que se abre rompe com a continuidade do tecido urbano e amplia o espaço
de contemplação da intervenção. A perda do conjunto não decorreu da necessidade de se
abrir perspectivas para monumentos relevantes. A maior intervenção na silhueta urbana da
quadra deu-se na fachada voltada para a Rua Formosa, que conta com o Edifício Corpos
Artísticos, a fachada do antigo Cine Cairo e um espaço de praça (aberta com as demolições
citadas), seguidos de uma escadaria de aproximadamente 17 metros de largura, que
constitui a entrada principal, e um vão livre que conecta a Rua Formosa à Conselheiro
Crispiniano.

Na fachada da Rua Conselheiro Crispiniano, destaca-se a rampa de acesso ao


estacionamento do subsolo e o edifício de Salas de Ensaio Escola de Música que tem seu
térreo livre, no qual se localiza um mural de informações, bicicletário e um café. A fachada
da Avenida São João é a mais discreta e é composta pelo Centro de Documentação
Artística; pelo Conservatório Dramático e Musical, imóvel tombado pela Prefeitura através
da resolução nº 37/92, que foi restaurado e que funciona como museu no pavimento térreo e
como sala de concertos no primeiro pavimento; por fim, o terceiro edifício que compõe essa
fachada tem seu térreo livre, dando acesso ao miolo da quadra, e no segundo e terceiro
pavimentos exerce funções administrativas ligadas à Escola de Dança.

Além dessas edificações que compõem as três fachadas da Praça das Artes, existem mais
duas edificações que estão localizadas no miolo da quadra. A primeira é o anexo aos fundos
do Conservatório, uma edificação existente de 11 pavimentos que foi reformada e
incorporada ao projeto e exerce função de apoio à sala de concertos como camarim e
vestiários, e função administrativa. Pode ser acessada pelo Conservatório, pelo edifício da
Escola de Dança através de um corredor externo suspenso ou pela escada de planta
triangular que parte do miolo da Praça. A segunda é o edifício da Escola de Dança, que
conta com seis pavimentos e se conecta no primeiro pavimento com a edificação que dá
acesso à Praça pela Avenida São João. O edifício da Escola de Dança se conecta ao
Edifício Corpos Artísticos através de um corredor externo suspenso e ao edifício de Salas de
Ensaio Escola de Música.

É possível notar que, apesar do programa funcional ser extenso e haver uma setorização
das funções, o projeto estabelece relações espaciais fluidas. Isso se dá tanto pela presença
de conexões entre as edificações quanto pelo fato de os pavimentos térreos serem livres,
criando uma grande circulação longitudinal para os transeuntes e usuários. A tipologia do

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
conjunto remete ao complexo tecido urbano do centro de São Paulo. Os arquitetos lançam
mão da variedade tipológica, com edificações de diferentes alturas e volumes, criando
passagens e recuperando alinhamentos, mantendo, como elemento de unicidade, a
linguagem arquitetônica.

Nosso projeto nasce de dentro para fora, das entranhas, e se conforma a partir
delas; se apresenta à cidade como uma denúncia da falência de um modelo urbano
que já não serve, já não funciona na escala da metrópole. [...]. Buscamos entender o
que estava obsoleto, sem uso ou função, o que tinha caducado desse velho
desenho urbano, e fazer disso nossa matéria-prima de projeto [...].
Por isso mesmo, como denúncia, os vazios no rés do chão não foram ocupados,
nem mesmo com colunas, criando uma grande passagem pública a céu aberto – um
espaço de encontros, a praça que dá nome ao conjunto. [...]
O que nos leva a uma escolha e decisão conceitual é, precisamente, a natureza do
lugar e sua compreensão enquanto espaço resultante de fatores sociopolíticos ao
longo de décadas – ou séculos – de formação da cidade. Compreender o lugar não
somente como objeto físico, mas como espaço de tensão, de conflitos de interesses,
de subutilização ou mesmo abandono, tudo importa. (BRASIL ARQUITETURA,
2021)

Os arquitetos optaram por utilizar uma linguagem arquitetônica contemporânea, fortemente


influenciada pelo brutalismo, caracterizada por linhas marcantes e volumes monolíticos de
fácil apreensão visual. Estes volumes parecem ir se dissolvendo em outros menores,
longilíneos, que fazem as conexões entre os principais. Neste conjunto, as imponentes
escadarias também se mimetizam. As paredes em concreto aparente pigmentado são
rompidas pelas delicadas aberturas em vidro, sem esquadrias marcantes. Os maiores
contrastes estão na sobreposição entre as novas edificações e as remanescentes
incorporadas ao conjunto.

As perspectivas, volumes e superfícies arquitetônicas visíveis a partir da rua nova


são impressionantes e interessantes. Aberturas ao nível da rua oferecem vistas de
longos e altos painéis de concreto aparente ou telas metálicas que revestem cada
edifício novo projetado. As grandes superfícies das paredes são perfuradas por
minúsculas janelas, propositalmente poucas, e dispostas de maneira a criar
superfícies brutas e de efeito tecnológico com o auxílio das luzes artificiais que à
noite vazarão pelas frestas-janelas. (MAYUMI, 2007, p.7)

Outro aspecto fundamental para compreensão da relação do projeto com o conjunto urbano
se dá a partir das fachadas, que se articulam com o espaço de formas completamente
distintas. Há uma adequação à escala do conjunto e das vias, o que proporciona uma
interessante diversidade volumétrica, conectando quadras, abrindo o espaço para os
passantes, qualificando a região. A tomada de decisão sobre as intervenções e as relações
espaciais por elas estabelecidas passou também pelas decisões técnicas da equipe do
DPH. No processo de discussão do projeto, a arquiteta Lia Mayumi, da Seção Técnica de

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
Projetos, Restauro e Conservação do DPH, salientou a possibilidade do projeto recuperar
relações urbanas perdidas:

Um exame da evolução tipológica da quadra nos últimos 80 anos mostra que o


padrão dominante e tradicional das quadras deste setor do Centro Novo
corresponde às parcelas da quadra (lotes) totalmente desprovidos de recuos frontais
e laterais. Curiosa exceção é justamente o lote da rua Conselheiro Crispiniano na
quadra em questão, que durante muitas décadas foi ocupado por edificação isolada
no lote, remanescente de ocupação provavelmente do final do século XIX ou início
do XX.
Depara-se agora exatamente com a possibilidade de desenhar a quadra e suas
faces. Uma das alternativas consiste em preencher o “vazio” ou “banguela” com uma
superfície ou volume arquitetônico de maneira que a composição tipológica
dominante da face de quadra se complete naquele trecho da rua Conselheiro
Crispiniano (Fig. 5, 6). Exemplo de preenchimento adequado, atendidos os princípios
da distingüibilidade e do respeito tipológico [...]. (MAYUMI, 2007, p.4)

Pelas informações repassadas aos pesquisadores por Lia Mayumi, foram vários os estudos
feitos para o projeto. Inicialmente, a área de intervenção era mais acanhada, principalmente
a fachada voltada ao Vale do Anhangabaú. O acesso mais generoso se dava pela Rua
Conselheiro Crispiniano, por meio de uma esplanada por onde também ocorria o acesso à
garagem subterrânea. Na Avenida São João, as dimensões do projeto eram similares à
executada, já incluindo o Conservatório. Na fachada voltada para a Rua Formosa (Vale do
Anhangabaú), apenas o antigo Cine Cairo e o Balé da Cidade eram contemplados.

FIGURA 02 - Croqui de estudo e fotomontagem do projeto da Praça das Artes. Fonte: DPH/ SMC, Prefeitura de
São Paulo.

O projeto foi aos poucos se ampliando e novas áreas, que iam sendo desapropriadas, eram
incorporadas a ele. Embora a proposta tenha se alterado radicalmente entre os primeiros
estudos e o projeto final, o rompimento do tecido urbano na Rua Conselheiro Crispiniano se
manteve. Neste sentido o projeto não recuperou a silhueta urbana, na qual Mayumi (2007)
identificava um “vazio” a ser preenchido. Na Avenida São João, a proposta final manteve a
ideia inicial de promover um acesso generoso na lateral do Conservatório, encimado por um
volume monolítico, que mantém a altura e o alinhamento do conservatório. No nível do

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
pedestre que circula pela Avenida São João, essa proposta se relaciona com as edificações
mais recentes da rua, como aquela lindeira, através da abertura de um grande vão. No nível
do pavimento superior, a edificação mantém a volumetria de menor porte, estabelecendo um
diálogo com o Conservatório e com as edificações ecléticas localizadas no lado oposto da
Rua.

A maior ruptura com o conjunto é, sem dúvidas, aquela observada na fachada do Vale do
Anhangabaú. Da primeira proposta que incorporava apenas duas edificações de pequeno
porte, o projeto se amplia, avançando na direção norte até a esquina com a Avenida São
João. Essa fachada conta com uma edificação em altura localizada imediatamente ao lado
do edifício CBI Esplanada, que incorpora o espaço antes ocupado pelo Cine Cairo, além de
uma imensa praça que dá acesso ao miolo da quadra.

O que surpreende é descobrir que este amplo espaço, tão celebrado enquanto área pública,
deve-se à demolição de uma área densamente ocupada, não por pequenos edifícios que
poderiam ser considerados “obsoletos, sem uso ou função”, mas por um edifício de 10
pavimentos, que pertencia ao Sindicato dos Comerciários.

FIGURA 03 - Fachada original da Rua Formosa com as preexistências, estudos para a ocupação da frente da
quadra e feição final do projeto. Fonte: Lia Mayumi, 2021, DPH/ SMC, Prefeitura de São Paulo (1 e 2); acervo
dos autores (3).
7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
06 a 08 de outubro de 2021
As demolições

Na análise do contexto urbano da intervenção é possível perceber que algumas operações


bastante impactantes foram realizadas, especialmente em relação à perda de elementos
arquitetônicos que poderiam ter sido transformados e apropriados no projeto. Anne Lacaton
e Jean-Philippe Vassal, vencedores da última edição do Prêmio Pritzker, o mais importante
da arquitetura mundial, costumam afirmar que a demolição “é um desperdício de muitas
coisas – um desperdício de energia, um desperdício de material, e um desperdício de
história. [...] Para nós, ela é um ato de violência” e têm como lema: “Nunca demolir, nunca
eliminar – sempre acrescentar, transformar e reusar.” (apud WAINWRIGHT, 2021, tradução
dos autores).

Pelas informações levantadas pelos autores deste artigo, foram demolidas pelo menos dez
edificações mais baixas, a maioria com dois pavimentos, e pelo menos um edifício em
altura, antiga sede do Sindicato dos Comerciários, com dez pavimentos organizados em três
blocos. A conservação do acervo arquitetônico do conjunto urbano não se justificaria,
unicamente, sob o ponto de vista da preservação patrimonial, já que a região não conta com
um acautelamento enquanto conjunto urbano e os valores oficialmente reconhecidos se dão,
especialmente, sobre bens isolados. Contudo, há na Resolução 37/92 do Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São
Paulo (CONPRESP), cujas considerações iniciais merecem nota, pois remetem ao “valor
histórico, social e urbanístico representado pelos vários modos de organização do espaço
urbano que compõem a área central da cidade, destacando-se o Vale do Anhangabaú”
(SÃO PAULO, 1992), mencionando ainda o “significado paisagístico e ambiental” da região
do Vale do Anhangabaú e o “valor histórico-arquitetônico, ambiental e afetivo de diversos
imóveis na região e vizinhas.” (SÃO PAULO, 1992). Há que se considerar, então, que os
tombamentos isolados efetivados pela Resolução são relevantes não apenas por seus
atributos "histórico-arquitetônicos'', mas também porque se inserem naquele determinado
contexto urbano e por comporem uma paisagem específica.

É fato que, inicialmente, o projeto não contemplava um programa tão extenso e uma área
tão ampla, os lotes foram sendo incorporados ao longo do processo e as demolições foram
dando mais espaço à intervenção, surgindo a proposta da grande praça, que não aparece
nos croquis iniciais. A amplitude da praça e a criação do acesso ao conjunto por esta face
parece ter invertido a relação frente-fundo da intervenção. O acesso pela Praça Conselheiro
Crispiniano, mais próximo ao Teatro Municipal, que nos primeiros croquis era o mais

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
generoso, se torna secundário, e a prioridade passa a ser o acesso pelo Vale do
Anhangabaú.

Segundo comunicado da Prefeitura de São Paulo, publicado em abril de 2011 na sua página
na internet, o edifício do Sindicato dos Comerciários foi desapropriado para ser demolido e
dar lugar a “uma área de convivência totalmente ajardinada, que funcionará como acesso ao
conjunto da praça” (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2011). Outra motivação para a
demolição do edifício de dez pavimentos e três blocos teria sido, inacreditavelmente, facilitar
a restauração da fachada do Cine Cairo: “além de facilitar o acesso à Praça das Artes, a
demolição da antiga sede do Sindicato dos Comerciários beneficiará as obras de
restauração da fachada do local onde funcionava o Cine Cairo - edifício vizinho cuja
construção é colada ao prédio.” (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2011)

FIGURA 04 - Foto do conjunto urbano preexistente, do início da demolição do Sindicato dos Comerciários e do
projeto executado, vista do Vale do Anhangabaú. Fonte: (1) MAYUMI, 2021; (2) Divulgação da Prefeitura de SP -
foto de Fábio Arantes e (3) site Brasil Arquitetura.

Cine Cairo e o processo de fachadismo

O edifício localizado na Rua Formosa, 401, funcionava originalmente como Frontão Nacional
e abrigava uma quadra de pelota basca (NOSEK, 2013, p. 25). Depois, abrigou várias
funções até ser inaugurado o Cine Cairo, em 1952, cujo funcionamento se estendeu até
2009, quando foi fechado para dar lugar à Praça das Artes. A presença do Cine Cairo e Cine
Marrocos, na quadra 27, juntamente com o Cine Art Palácio, Cine Dom José, Cine Ritz e
Cine Olido, na quadra vizinha, demonstram a importância do cinema de rua a partir da
década de 1950 em São Paulo. Durante muitos anos, os cinemas de rua representavam
uma das principais formas de entretenimento da população. Estes equipamentos
começaram a perder espaço nas últimas décadas do século XX, com a popularização dos
cinemas construídos no interior de shoppings centers. Neste processo, a maioria dos
cinemas de rua entraram em decadência e não foi diferente com o Cine Cairo.
7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
06 a 08 de outubro de 2021
Ao ser incorporado ao projeto, o Cine Cairo passou a compor o conjunto do Edifício Corpos
Artísticos, e, devido ao seu estado precário de conservação, era evidente a necessidade de
uma grande intervenção para a sua requalificação. Dentro da proposta de um espaço
cultural como a Praça das Artes, um cinema não seria de modo algum um uso exógeno,
pelo contrário, poderia ser uma atividade interessante e agregadora. No entanto, o edifício
do Cine Cairo foi integralmente demolido, sendo preservada apenas sua fachada, agora
acoplada a uma nova edificação que faceia, internamente, a fachada remanescente,
seguida de outro volume de altura superior à original, rompendo com a escala da
preexistência. O desaparecimento da edificação do Cine Cairo e da sua função reforça o
apagamento da cultura do cinema de rua, como também destrói valores espaciais daquela
tipologia arquitetônica. Os autores, ao se referirem ao projeto, destacam que o Cine Cairo
sempre como apenas uma fachada: “do extinto Cine Cairo, na Rua Formosa, permanece a
fachada, agora amalgamada ao novo edifício destinado aos corpos artísticos.” (FANUCCI,
FERRAZ E CARTUM, 2013 p. 36). Um leitor pouco atento poderia supor que o Cine Cairo
correspondia, quando do início do projeto da Praça das Artes, a tão somente uma ruína, de
uma fachada solta, quando, de fato, a sua demolição foi uma decisão tomada no
desenvolvimento do projeto.

E mesmo que se tratasse apenas de uma fachada remanescente, uma ruína por exemplo, a
questão da sua integração a novos projetos de arquitetura poderia ser tratada de forma a
recuperar a silhueta urbana e qualificar a paisagem. Um exemplo em que este tema foi
tratado de forma bastante sensível é o projeto desenvolvido pelo arquiteto Paulo Ormindo de
Azevedo para o Centro Cultural Dannemann, na cidade de São Félix, Recôncavo Baiano, no
final dos anos 1980: mesmo dispondo apenas da fachada frontal de um conjunto edificado,
Azevedo desenvolveu um projeto contemporâneo que qualificou de forma impactante a
realidade local:

O projeto do Centro Cultural Dannemann corresponde a uma edificação de


expressão genuinamente contemporânea que, ao mesmo tempo, recupera a
volumetria do antigo armazém, contribuindo para a conservação da paisagem
urbana. A nova arquitetura busca, também, resgatar a espacialidade interna de
edificações deste tipo, criando espaços amplos e com pés-direitos generosos tanto
na área de exposições, na parte frontal do edifício, como na área de demonstração
da produção de charutos, ao fundo. Essa decisão de desenvolver o edifício a partir
da fachada restaurada, respeitando a volumetria anteriormente existente, resultou na
preservação da silhueta urbana são-felista. (ANDRADE JUNIOR, PEREIRA E
AMARAL, 2021, p. 215)

Contudo, a opção para o Cine Cairo, de manutenção da fachada como um elemento


sobreposto, uma máscara para o novo edifício, carrega também, em certa medida, uma
prática que vem sendo chamada de fachadismo, termo abordado pelo arquiteto e professor

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
português José Aguiar (2014, p. 65) no texto “Reabilitação ou Fraude”, no tratamento de
conjuntos urbanos de interesse patrimonial. Trata-se de um procedimento controverso pois,
ao mesmo tempo em que, supostamente, mostra a preocupação com o valor patrimonial ao
restaurar um elemento da edificação e incorporá-lo ao projeto, o faz de uma maneira que
exclui muitos de seus valores, entre eles os construtivos, espaciais, de uso, afetivos, entre
tantos outros.

O exemplo da reabilitação do Passeio das Cardosas no Porto, Portugal, abordado por


Aguiar (2014), reflete uma situação similar à do antigo Cine Cairo, pois o projeto também
demoliu os interiores de edifícios antigos – 19 ao total – de um mesmo quarteirão, chamado
Quarteirão das Cardosas. Apesar de amplamente criticado, o plano de reabilitação foi
implementado em 2013. Neste mesmo ano, o ICOMOS-Portugal, instituição não
governamental assessora da Unesco na preservação do patrimônio cultural em todo o
mundo, publicou uma declaração, criticando o fachadismo na reabilitação do Passeio das
Cardosas e ressaltando valores a serem observados.

A adequação dos programas às características morfotipológicas e a transformação


cautelosa do edificado preexistente é também a única fórmula para a manutenção
da autenticidade que, no fundo, é o principal capital urbano na captação de novos
investimentos e públicos, designadamente de âmbito criativo. (ICOMOS, 2013)

Essa incoerência se torna mais evidente no caso do Cine Cairo por se tratar de programa
funcional compatível. A restauração da edificação, se feita preservando seus valores de
forma mais integral, contribuiria para a valorização do cinema de rua e da pluralidade
tipológica do Centro de São Paulo, agregando ainda mais diversidade ao complexo.

O Conservatório e o branqueamento da arquitetura eclética

O atual Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, localizado na Avenida São João,
269, foi construído em 1896 para ser a loja do comerciante de pianos Friedrich Joachim.
Além do espaço para vendas, o edifício possuía um salão de concertos, o Salão Steinway, e
depois de uma reforma realizada em 1899, passou a funcionar como Hotel Joachim's. O
edifício foi transformado em Conservatório a partir de 1909, aproveitando o salão de
concertos e adaptando os quartos do hotel em salas de aula (NOSEK, 2013, p. 14). O
Conservatório foi a primeira escola superior de música e artes dramáticas de São Paulo,
representando um espaço muito importante para os artistas da época durante décadas. Por
questões políticas, uma parte considerável do corpo docente foi expulsa entre 1942 e 1943,

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
fato que colaborou para que o edifício fosse cada vez menos utilizado até ser desocupado a
partir da década de 1980. Em 1992, o Conservatório foi tombado pelo Conselho Municipal
de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
(Conpresp), junto com outras 292 edificações da região do Vale do Anhangabaú. O conjunto
também se encontra inserido nas áreas envoltórias de outros monumentos tombados pelo
município e pelo Estado.

Ao ser incorporado à Praça das Artes, o Conservatório passou por reforma dos anexos e
restauração do prédio principal. Tanto as paredes internas e o forro, internamente, quanto a
fachada foram pintados de branco, postura costumeiramente adotada pelo escritório em
relação a edificações ecléticas: o mesmo tratamento, por exemplo, foi dado ao Teatro
Polytheama, em Jundiaí, em 1995, e à antiga residência do Comendador Bernardo Martins
Catharino, atual Museu Rodin, em Salvador, em 2002, aparentemente ignorando o valor do
bem, que, segundo Nahas (2008, p. 266), era “[...] um dos últimos exemplares da arquitetura
eclética baiana, sendo o primeiro edifício no estilo tombado pelo IPAC, órgão de
preservação do patrimônio do Estado, na década de 1980.”

O apagamento cromático ou “branqueamento”, como conceituaram José Aguiar, João


Pernão e Teresa Cunha Ferreira (apud JÚLIO, 2020, p. 145) elimina das edificações
nuances de cores, texturas e brilhos. Há uma tentativa de neutralizar os ornamentos,
elementos típicos das edificações ecléticas, indicando uma aparente rejeição ao ecletismo e
uma tentativa de modernização. Em entrevista concedida por Marcelo Ferraz a Guilherme
Osterkamp, o primeiro se refere nos seguintes termos ao Conservatório e à decisão de
pintá-lo totalmente em branco:

Aquilo é tardio! Quando foi feito a vanguarda já existia na Europa… Então,


não tem nenhum valor arquitetônico em si. Ele tem valor para cidade quanto
memória urbana, e tudo mais… Então a gente quis diminuir a importância
arquitetônica daquilo: do lado decorativo! (OSTERKAMP, 2015, p. 184)

A partir da fala do arquiteto sobre o Conservatório percebe-se que há, realmente, uma total
falta de reconhecimento dos valores estéticos ligados à arquitetura eclética incorporada ao
projeto.

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
FIGURA 05 - Fachada Rua Formosa, fachada Avenida São João e fachada Rua Conselheiro Crispiniano. Fonte:
Acervo dos autores.

Considerações Finais

O projeto da Brasil Arquitetura para a Praça das Artes possui inúmeras qualidades, da
capacidade de reinterpretar criticamente a paisagem urbana heterogênea do centro de São
Paulo de forma criativa, criando novos marcos arquitetônicos, à generosidade na criação de
amplos espaços públicos no miolo da quadra e em sua articulação com os logradouros que
a limitam. A solução adotada para o acesso ao conjunto pela Avenida São João é
particularmente bem-sucedida, ao adotar a mesma linguagem do restante do complexo, em
7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
06 a 08 de outubro de 2021
concreto aparente pigmentado, porém em um volume que respeita a escala dos imóveis
vizinhos.

A Praça das Artes, contudo, está na contramão da arquitetura contemporânea e da diretriz


dos 3R da sustentabilidade (reduzir desperdício, reutilizar e reciclar) ao demolir diversas
edificações preexistentes, em especial o edifício do Sindicato dos Comerciários, com dez
pavimentos organizados em três blocos, que poderia facilmente ter sido requalificado e
incorporado ao conjunto. O fachadismo adotado na intervenção no Cine Cairo aniquila seus
valores de uso, espaciais, volumétricos e construtivos ao transformá-lo em uma mera
máscara adossada a uma edificação que pertence a outra escala e outra expressão
arquitetônica, levando-nos a refletir se não seria mais ético demoli-la também. Por fim, o
branqueamento interior e exterior do edifício do Conservatório, em uma atitude recorrente,
na obra do escritório, de minimização dos ornamentos que caracterizam a arquitetura
eclética, demonstram o desprezo dos autores por esse estilo, ao tentar eliminar,
cromaticamente, uma das suas principais características.

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
Referências Bibliográficas

AGUIAR, José. Reabilitação ou Fraude. Revista Património, nº 2, Lisboa: Imprensa


Nacional/DGPC, 2014.

ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira de. A Questão da Ocupação dos Vazios em Conjuntos
Históricos: da reconstrução literal ao contraste radical. In: Anais do IX Seminário de História
da Cidade e do Urbanismo. São Paulo: FAU-USP/ FAU-Mackenzie, 2006.

ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira; PEREIRA, Vanessa Maria; AMARAL, Fellipe


Decrescenzo Andrade. Intervenções no patrimônio industrial no Brasil: uma genealogia
possível e alguns desafios. In: MENEGUELLO, Cristina; ROMERO, Eduardo; OKSMAN,
Silvio (org.). Patrimônio industrial na atualidade: algumas questões. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2021, p. 197-254.

BRASIL ARQUITETURA. Praça das Artes, São Paulo. Disponível


em:<http://brasilarquitetura.com/#>. Acesso em 15 de setembro de 2021.

FANUCCI, Francisco; FERRAZ, Marcelo; CARTUM, Marcos. A Praça das Artes. In: NOSEK,
Victor (org.). Praça das Artes. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.

ICOMOS-Portugal - Declaração do Porto: um olhar de hoje sobre as dinâmicas da


conservação e reabilitação de cidades históricas. Seminário Porto Património Mundial: Boas
práticas em reabilitação urbana. Porto: ICOMOS, 2013.

JÚLIO, Eduardo. Guia FNRE: Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado, Lisboa:


FUNDIESTAMO, 2020.

LORES, Raul Juste. A Praça das Artes e os quarteirões doentes. In: NOSEK, Victor (org.).
Praça das Artes. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.

MAYUMI, Lia; SCHENKMAN, Raquel. Entrevista virtual concedida ao grupo de pesquisa


Projeto e Patrimônio. SALVADOR, 2020.

NAHAS, Patricia Viceconti. Brasil Arquitetura: memória e contemporaneidade. Um percurso


do Sesc Pompéia ao Museu do Pão (1977-2008). Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade Presbiteriana
do Mackenzie, 2008.

NOSEK, Victor. A quadra da Praça das Artes e a cidade. In: NOSEK, Victor (org.). Praça das
Artes. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.

OSTERKAMP, Guilherme. O Brasil Arquitetura e a Invenção do Patrimônio. Dissertação


(Mestrado em Arquitetura). Porto Alegre: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / UFRGS,
2015.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Prefeito anuncia demolição da antiga sede do


Sindicato dos Comerciários, que irá acelerar obras na Praça das Artes. Disponível em:

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021
<https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=110342>.
acesso em 15 de setembro de 2021.

SÃO PAULO. Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura da Prefeitura


do Município de São Paulo. Folha de Informação do Processo 2007 – 0.198.181 de Lia
Mayumi para STPRC. São Paulo, 2007.

SÃO PAULO. Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura da Prefeitura


do Município de São Paulo. Resolução nº 37/72. São Paulo, 1992.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Teatro Municipal de São Paulo. Disponível em:
<https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/sp_obras/noticias/?p=22764>.
acesso em 15 de setembro de 2021.

WAINWRIGHT, Oliver. ‘Sometimes the answer is to do nothing’: unflashy French duo take
architecture’s top prize. The Guardian, 16 March 2021. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/artanddesign/2021/mar/16/lacaton-vassal-unflashy-french-
architectures-pritzker-prize>. Acesso em 16 out. 2021.

7º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


06 a 08 de outubro de 2021

Você também pode gostar