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Fichamento Projeto de Conservação e Restauro – Priscila Guassi - 190170

A Lâmpada da Memória – John Ruskin

“Arquitetura deve ser considerada por nós com a maior seriedade. Nós podemos viver sem
ela, e orar sem ela, mas não podemos rememorar sem ela.” (p. 54)

“Há apenas dois fortes vencedores do esquecimento dos homens: a Poesia e a Arquitetura.”
(p. 54)

“Há dois deveres em relação à arquitetura do nacional cuja importância é impossível


superestimar: o primeiro, tornar a arquitetura atual, histórica; e o segundo, preservar, como a
mais preciosa de todas as heranças, aquela das épocas passadas.” (p. 55)

“Os edifícios civis e domésticos atingem uma perfeição verdadeira: e isso em parte por eles
serem, com tal intento, construídos de maneira mais sólida, e em parte por suas decorações
serem consequentemente inspiradas por um significado histórico ou metafórico.” (p. 55)

“Eu penso que um homem de bem temeria isso: e que, mais ainda, um bom filho, um
descendente honrado, temeria fazer isso à casa de seu pai. Creio que, se os homens vivessem
de fato como homens, suas casas seriam templos – templos que nós nunca nos atreveríamos
a violar, e que nos fariam sagrados se nos fosse permitido morar neles: e que deve haver uma
estranha dissolução do afeto natural, uma estranha ingratidão para com tudo que os lares
propiciaram, e os pais ensinaram, uma estranha consciência de nós não fomos fiéis à honra
de nosso pais, ou de que as nossas próprias vidas não são dignas de tornar nossas moradias
sagradas para nossos filhos, quando o homem se resigna a construir para si próprio, e para a
curta duração de sua própria vida apenas.” (p. 55 e 56)

“Quando os homens não amam seus lares, nem reverenciam a soleira de suas portas, é um
sinal de que desonram a ambos, e de que nunca se deram conta da verdadeira universalidade
daquele culto cristão que deveria de fato superar a idolatria do pagão, mas não sua devoção.
Nosso Deus é um Deus do lar, tanto quanto do céu; Ele tem um altar na morada de cada
homem; que os homens estejam atentos quando destruírem-na levianamente e jogarem fora
suas cinzas.” (p. 58)

“Construir as nossas moradias com cuidado, paciência e amor… e construíssem-nas para


durar tanto quanto se pode esperar que dure a mais robusta obra humana: registrando para
seus filhos o que eles foram, e de onde – se isso lhes tiver sido permitido – eles ascenderam.”
(p. 59)

“...Seria desejável deixar pedras sem inscrição em determinados lugares, para nelas inscrever
um resumo de sua vida e sua experiência, elevando assim a habitação a uma espécie de
monumento...” (p. 61)

“Em edifícios públicos a intenção histórica deveria ser ainda mais precisa. Uma das vantagens
da arquitetura gótica - uso o termo gótico no sentido mais amplo de oposição genérica
ao clássico – é que ela admite uma riqueza de registros totalmente limitada. Suas decorações
escultóricas minuciosas e múltiplas proporcionam meios de expressar, seja simbólica ou
literalmente, tudo o que precisa ser conhecido do sentimento ou das realizações da nação.”
(p. 62)
“É preferível a obra mais rude que conta uma história ou registra um fato, do que a mais rica
sem significado. Não se deveria colocar um único ornamento em grandes edifícios cívicos,
sem alguma intenção intelectual.” (p. 63)

“A ideia da auto renúncia em nome da posteridade, de praticar hoje a economia em nome de


credores que ainda não nasceram, de plantar florestas em cuja sombra possam viver nossos
descendentes, ou de construir cidades para serem habitadas por futuras nações, nunca, creio
eu, inclui-se de fato entre os motivos de empenho publicamente reconhecidos.” (p. 66)

“É naquela mancha dourada do tempo que devemos procurar a verdadeira luz, a cor e o valor
da arquitetura” (p. 68)

“...Essa seria, de fato, a lei de boa composição em qualquer circunstância, pois a disposição
das massas maiores é sempre uma questão mais importante do que o tratamento das
menores; mas, em arquitetura, muito desse mesmo tratamento deve ser habilmente
proporcional à justa consideração dos prováveis efeitos do tempo: e (o que é ainda mais
importante considerar) há uma beleza naqueles efeitos em si próprios, que nada mais pode
substituir, e que é sensato levar em consideração e ambicionar.” (p. 69)

“O pitoresco é, nesse sentido, é a Sublimidade Parasitária. Claro que toda a sublimidade,


assim como cada toda a beleza, é, no sentido etimológico simples, pitoresca, isto é, própria
para se tornar o tema de uma pintura; e toda a sublimidade é, mesmo no sentido peculiar que
tento desenvolver aqui, pitoresca, em comparação com a beleza.” (p. 71)

“Assim duas ideias são essenciais para o pitoresco: a primeira, aquela da sublimidade (pois a
beleza pura não é nada pitoresca, e só assume tal caráter na medida em que o elemento
sublime se mistura com ela). A segunda, a posição subordinada ou parasitária de tal
sublimidade. Portanto, é claro que quaisquer características de linha, ou sombra, ou da
expressão, que produzam sublimidade, produzirão também o pitoresco.” (p. 72)

“Agora, retomando ao nosso principal, ocorre que, em arquitetura, a beleza acessória e


acidental é muito frequentemente incompatível com a preservação do caráter original (da
obra); o pitoresco é assim procurado na ruína, e supõe-se que consista na deterioração. Sendo
que, mesmo buscando aí, trata-se apenas da sublimidade das fendas, ou fraturas, ou
manchas, ou vegetação, que assimilam a arquitetura à obra da Natureza, e conferem a ela
aquelas particularidades de cor e forma que são universalmente caras aos olhos dos homens.”
(p. 77)

“Nem pelo público, nem por aqueles encarregado dos monumentos públicos, o verdadeiro
significado da palavra restauração é compreendido. Ela significa a mais total destruição que
um edifício pode sofrer: uma destruição da qual não se salva nenhum vestígio: uma destruição
acompanhada pela falsa descrição da coisa destruída.” (p. 79)

“... pode ser necessária a restauração! Que seja. Encare tal necessidade com coragem, e
compreenda o seu verdadeiro significado. É uma necessidade de destruição.” (p. 81)

“Nós não temos o direito de tocá-los. Eles não são nossos. Eles pertencem, em parte, àqueles
que os construíram, e em parte a todas às gerações da humanidade que nos sucederão.” (p.
83)
Restauração – Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc

“Existe tanto perigo em restaurar reproduzindo-se em fac-símile tudo aquilo que se encontra
num edifício, quanto em se ter a pretensão de substituir por formas posteriores aquelas que
deveriam existir primitivamente (..) a boa-fé, a sinceridade do artista pode produzir os mais
graves erros, consagrando, por assim dizer, uma interpolação” (p. 32).

“todos esses trabalhos se encaixam e se auxiliam mutuamente” (p. 33)

“Dissipar preconceitos, exumar verdades esquecidas, não é, ao contrário, um dos meios mais
ativos de acelerar o progresso?” (p. 34)

“a polêmica gera as ideias e leva ao exame mais atento dos problemas duvidosos; a
contradição ajuda a resolvê-los” (p. 35).

“Cada edifício ou cada parte de um edifício deve ser restaurado no estilo que lhes pertence,
não somente como aparência, mas como estrutura” (p. 47)

“Em se tratando de restaurar as partes primitivas e as partes modificadas, deve-se não levar
em conta as últimas e restabelecer a unidade de estilo alterada, ou reproduzir exatamente o
todo com as modificações posteriores?” (p. 48)

“com a pretensão de dar a ela o caráter da arquitetura daquela época, seria fazer um
anacronismo de pedra” (p. 49)

“não somente os tipos referentes a cada período da arte, mas também 10


os estilos pertencentes a cada escola” e os procedimentos de construção adotados em
diversas épocas e escolas (p. 49)

“consistia, em toda reconstrução ou restauração de um edifício, em adotar as formas admitidas


no tempo presente; nós procedemos segundo um princípio oposto, que consiste em restaurar
cada edifício no estilo que lhe é próprio” (p.50)

“Se for o caso de refazer em estado novo porções do monumento das quais não resta traço
algum, seja por necessidades de construção, seja para completar uma obra mutilada, então o
arquiteto encarregado de uma restauração deve imbuir-se bem do estilo próprio ao
monumento cuja restauração lhe é confiada” (p. 53)

“Uma vez que todos os edifícios nos quais se empreende uma restauração têm uma
destinação, são designados para uma função, não se pode negligenciar esse lado prático para
se encerrar totalmente no papel de restaurador de antigas disposições fora de uso” (p.64)

“colocar-se no lugar do arquiteto primitivo e supor aquilo que ele faria se, voltando ao mundo,
fossem a ele colocados os programas que nos são propostos” (p. 65)

“Se tivermos a infelicidade de adotar em certo ponto uma disposição que se afasta da
verdadeira, daquela seguida primitivamente, somos levados por uma sequência de deduções
lógicas a uma via falsa da qual não será mais possível sair, e quanto melhor raciocinarmos
nesse caso, mais nos afastaremos da verdade” (p. 69)
Conclusão

Para John Ruskin, a importância de preservar a Arquitetura e esta pertence a natureza onde
está inserida e seu significado histórico para a humanidade devem ser preservados como
nossa maior herança, onde se prevalecia a emoção sobre a razão. Apreciava a Arte Gótica
Medieval, tendo vivido no auge da Revolução Industrial e inimigo da industrialização por achar
que era uma forma de escravidão. Tinha a ideia da não intervenção dos monumentos, por
acreditar que qualquer interferência produzia um novo caráter à obra, roubando a
autenticidade.
Para Ruskin a Arquitetura Doméstica "dá origem a todas as outras". A residência, tem um
caráter quase santo, pois transpunha dentro dela a alma, a vida e a história do homem que ali
viveu. Considerava um mau prenuncio quando eram construídas apenas para uma geração.
Para os prédios públicos, sempre deveria ter um propósito histórico na construção, essas
edificações tinham que "expressar de modo simbólico ou literal, tudo quanto é digno de ser
conhecido sobre os sentimentos e realizações de uma nação" (P. 13).
Ruskin fortalece o conceito de herança, pois tudo que temos hoje temos que deixar para os
que ainda virão nossa história, e assim não devemos destrui-la, e que em algum tempo, aquela
edificação poderá se tornar sagrada. Nota-se que o autor considera veementemente o
monumento histórico e a sua história e sua situação atual devem ser respeitadas.
Para Ruskin, os escombros de uma edificação ao passar do tempo carregam uma beleza que
não ser compara a nenhuma outra. Assim, ele o termo "pitoresco" e usado de uma forma de
categorizar um monumento com grande valor histórico e cultural. Ele considerava impossível
reconstituir um monumento que foi grandioso, pois sua alma nunca poderia refeita, outro
período daria à edificação outro espírito, transformando em outra obra. Mas ele considerava
o restauro uma "necessidade destrutiva" e julgava que se cuidássemos dos nossos edifícios
não precisaríamos de restauração.
Nota-se em todo o passar do livro, que o autor tem seu posicionamento claramente contrário
a intervenções, mas assim acabaríamos perdendo o valor memorial da arquitetura.
É evidente a importância da preservação de nossas edificações e construir para durem
séculos contando a nossa história, mas para Ruskin, estamos construindo apenas para nossa
geração, suprimindo do valor histórico para as novas gerações.
Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc foi uma das pessoas mais importantes no cenário das
discussões sobre restauração. No cenário de revalorização da arquitetura clássica, que vem
acontecendo desde o Renascimento, mostra-se interessante documentar, estudar e preservar
os tipos de arquitetura antiga. Os primeiros princípios de restauração de monumentos
surgiram na França, nessa circunstância surge Viollet-le-Duc, amante da arquitetura gótica
francesa e responsável pela restauração da Catedral de Notre Dame de Paris.
Viollet-le-Duc tem uma postura totalmente contrária à de John Ruskin, pois acredita que o
restaurador atua sobre o edifício reconstituindo-o e empregando técnicas e materiais da sua
época, assim como ferro e a fotografia. Destaca que a sua época [o século XVIII] foi precurssor
em analisar e classificar a arquitetura como um documento histórico. Mas para isso, ressalta
a profundidade do fenômeno restauração, e se opõe a ideia de que o resgate das edificações
do passado seja moda. O autor esclarece questões que atualmente ainda são muito discutidas
sobre patrimônio histórico: a questão da fidelidade quando se acerca um documento histórico.
Para esquivar destes erros de adulterações históricas, Viollet-le-Duc resguarda que o
restaurador não creia apenas no edifício e estude a história da edificação, sendo
extremamente vantajosa para o crescimento da sociedade, pois considera que ao mirar o
passado e entendê-lo ajuda na interpretação dos problemas que surgirão.
O Viollet-le-duc tinha a perspectiva de que ele pensava em determinar princípios de
intervenção nos monumentos históricos e procurava por meios de regulamentação do seu
trabalho, e uma das características eram os levantamentos profundos, ele acreditava na
construção de uma forma ou um novo modo de ver a arquitetura, era muito crítico e detalhista
sobre os estudos para que as edificações obtivessem a restauração levada a totalidade.
Para Viollet trazer bons materiais era muito importante, e documentava as alterações do que
havia sido restaurado. Assim a busca pela excelência foi o que fez o diferencial na época, pois
preocupava-se em não defraudar um monumento sem saber sua história, mas com estudos
detalhados sobre como era, e comunicando o porquê do restauro e da mudança.

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