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A RAZÃO DE PRATA
INTRODUÇÃO
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É comum ouvirmos falar do número , conhecido como razão de ouro (número de ouro
2
ou razão áurea), e de sua relação com o retângulo de ouro (retângulo áureo), bem como de sua relação
com a Natureza e algumas áreas do conhecimento humano, como Engenharia, Arquitetura, Design,
Música, Arte Renascentista e Cinema, por exemplo, emprestando harmonia e beleza a essas áreas ([1],
[2], [5], [6], [7] e [9]). A razão de ouro tem uma estreita relação com a sequência definida pela recor-
fn1
rência f0 = 1, f1 = 1 e fn = fn ‒ 2 + fn ‒ 1, n ∈ ℕ, chamada sequência de Fibonacci: lim ([1]).
n fn
Outro número, também de grande importância e que tem conexões com outros elementos da pró-
pria Matemática e com a Arquitetura Romana, por exemplo, é o número 1 + 2 , conhecido pelos
romanos desde os séculos I e II ([3] e [4]) e que, juntamente com o número 2 , foi usado como base
de um sistema de proporções na Arquitetura Romana. A divisão de segmentos (seccionados por um
ponto) era feita de tal maneira que a razão entre o segmento inteiro e uma das partes dessa divisão
a b
. (4)
2a b a
B a E a H b C B a E a H b C
b
J L
a a b
K M
a ‒ 2b
A F G D A F G B
(a) (b)
Fig. 2. Retângulo de prata
Na Fig. 2b, ao retirarmos dois quadrados de lado Ainda, de (4) segue que
a, restará o retângulo HGBC de lados a e b, a > b.
a b a 2b 5b 2a
Do retângulo restante, HGBC, retiram-se novamen-
2a b a b a 2b
te dois quadrados de maior área possível (quadrado
5a 12b 29b 12a 29a 70b
de lado b), restando um retângulo de lados a – 2b (5)
5b 2a 5a 12b 29b 12a
e b, b > a – 2b. Se deste forem retirados dois qua-
drados de maior área possível (quadrados de lado e, dessa maneira, também são de prata os retângulos
a – 2b), restará um retângulo de lados a ‒ 2b e de lados b e a – 2b, a – 2b e 5b – 2a, ... Assim, se a
5b – 2a, a – 2b > 5b – 2a, e, assim, continuando e b, a > b, são números positivos satisfazendo (4),
esse processo, chega-se a um retângulo em que o então a sequência
maior lado é o lado menor do retângulo anterior, e
o menor lado, o maior lado desse menos duas ve- 2a + b, a, b, a – 2b, 5b – 2a, 5a – 12b, 29b – 12a,...
zes o menor dos lados desse retângulo. Assim, de (6)
b a 2b
(4) segue que e, portanto, se o retân-
a b em que seus termos, a partir do segundo, coinci-
gulo de lados medindo 2a + b e a é um retângulo de dem com os termos da sequência a0, a1, a2, ..., an, ...,
prata, então o retângulo de lados a e b também o é. ou seja, a0 = a, a1 = b, a2 = a – 2b = a0 – 2a1, ....
Isto significa que se a0 > a1 são lados do primeiro Isto significa que se Cn e Dn são pontos sobre
retângulo restante, então a1 > a2 são os lados do o segmento AB satisfazendo as condições aci-
segundo retângulo restante e, desta maneira, o ACn1
ma, então . Na Eq. (9), ACn = an – 1 e
n-ésimo retângulo restante, n ∈ ℕ, n ≥ 2, tem lados ACn
Dn Cn – 1 = an correspondem, respectivamente, ao
an – 1 e an, an – 1 > an e se origina de um retângulo de
lados an – 2 e an – 1, com an – 2 = an + 2an – 1, e, assim, maior e menor lados do n-ésimo retângulo, de acor-
do com a sequência em (6). Assim, de (8) segue
an = an – 2 – 2an – 1 (7) que ACn = (–1)n–1(pn – 3a – pn – 2b) e DnCn – 1 = (–1)n
(pn – 2a – pn – 1b).
com an – 2 > an– 1. Todos os termos dessa sequência são
Por fim, já vimos que de (7) e (8), para n ∈ ℕ, n ≥ 2,
positivos e tendem a zero, à medida que aumentamos
seguem an = an – 2 – 2an – 1 e an = (– 1)n(pn – 2a – pn – 1b), res-
o número de retângulos construídos semelhantes ao
pectivamente. Se n → ∞, então an = an – 2 – 2an – 1 → 0.
retângulo original e dois termos consecutivos quais- E, assim, pn–2a – pn–1b → 0. Dividindo-se
quer são lados de um retângulo de prata. p b p a
Observemos em (6) que os valores absolutos dos pn – 2a – pn – 1b por pn – 2b, tem-se n1 n2 0 ,
pn2b pn2b
coeficientes de a e b são 1, 2, 5, 12, 29, 70, ... , sendo pn1 a p p a
ou seja, 0 . Portanto, lim n lim n1
os de a considerados a partir de a4, e os de b, a partir pn2 b n p
n 1
n p
n 2 b
de a3, e, assim, an, em (7), pode ser reescrito como p p a
lim n lim n1 , o que nos mostra como a ra-
n pn1 n pn2 b
an = (–1)n(pn – 2a – pn – 1b) (8) zão de prata e a sequência de Pell estão relacionadas.
H Q
c4
O c3
A C D B
Para construir o retângulo de prata, inicialmente, consideremos um quadrado ABCD de lado a. Com
uuur
centro em A e raio AC = a 2 , traça-se o arco CE, com E ∈ AD , D entre A e E, e AE = a 2 . Trace por E o
uuur uuur
segmento EF ⊥ AD , com F ∈ BC , obtendo-se, assim, o retângulo DCFE. Agora, com lado EF, construa o
DC a BG a
quadrado EFGH. Como DC = AB = a, CF = DE = aδ-1 e BG = aδ, tem-se 1 e ,
CF a AB a
e, assim, os retângulos DCFE e ABGH são retângulos de prata (Fig. 4).
B a C aδ-1 F G
A D E H
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Este artigo tem como objetivos tratar um pouco sobre a ra-
[1] ÁVILA, G. Retângulo áureo, divisão
zão de prata, mostrar a sua relação com o retângulo de prata e
áurea e sequência de Fibonacci. Revista
apresentar sua construção. do Professor de Matemática, n. 6, SBM, p.
Esperamos que este texto contribua para a Formação do 9-14, 1º Semestre de 1985.
Professor de Matemática e dos estudantes de Licenciatura em [2] HUNTLEY, H. E. The Divine Propor-
Matemática, levando-os a outros textos que possam mostrar tion: a study in mathematical beauty. New
a importância da razão de prata no mundo que nos cerca. A York: Dover Publications, Inc., 1970.
beleza da Matemática pode ser encontrada na possibilida- [3] KAPPRAFF, Jay. Connections: The Geo-
de de enxergá-la em outras áreas do conhecimento humano, metric Bridge Between Art and Science.
mostrando que ela está presente em toda parte, mas que pou- Singapura: Editora World Scientific, v. 25,
2001.
cos a conhecem ou a enxergam.
Além de ser possível explorar as propriedades da razão [4] KAPPRAFF, J. Beyond Measure: A Gui-
ded Tour Through Nature, Myth, and Num-
de prata, com os estudos de Spinadel, viu-se a possibilidade,
ber. Singapura: Editora World Scientific, v.
através dessas propriedades, de mostrar que a Matemática está 28, 2002.
presente no nosso dia a dia. Diante disso, este artigo pretende
[5] LIVIO, M. Razão Áurea: a história de
mostrar a importância de o professor de Matemática trabalhar,
Fi, um número surpreendente. Tradução de
junto com outros textos, a interdisciplinaridade, facilitando a Marco Shinobu Matsumura. Rio de Janei-
aprendizagem do aluno, mostrando a Matemática em diversas ro: Record, 2009.
áreas do conhecimento humano, e contribuindo para que seja
[6] PAULINO, F. F.; SANTOS, F. W. M.;
democrático o acesso à Matemática. OLIVEIRA, J. L. O Código Da Vinci e o
encontro entre Matemática, História e
Arte. Educação Matemática Debate, v. 5,
Referência correta n. 11, p. 1-26, 2021.
da RPM 67 para a RPM 5
[7] SETZER, V. W. A Matemática pode ser
interessante... e linda! Espirais, Fibonacci,
O nosso leitor João Lúcio de Fortaleza, CE, que tam-
Razão Áurea, Crescimento Populacional e a
bém já colaborou com artigos para a RPM, fez uma ob- Natureza. São Paulo: Blucher, 2020.
servação importante sobre a RPM 67. No artigo Uma
[8] SILVA, Marcelo M. Desmistificando o
Fórmula Surpreendente, do autor Gerson Espindola
Conjunto dos Números Irracionais. Disser-
Serpa, a fórmula Q(N ) n(N 1) 11...1 (com n alga- tação de Mestrado (PROFMAT) – Universi-
rismos 1) para a quantidade de algarismos para escrever dade Estadual do Ceará – UECE, 2018.
os números naturais de 1 até N que tem n algarismos
[9] SPINADEL, V. W. From the Golden
foi apresentada como inédita. Mas o próprio João apre- Mean to Chaos. Buenos Aires, Nueva Li-
sentou uma fórmula similar na RPM 5, considerando os breria, 1998.
10n 10
números de 0 até x e Q( x ) n( x 1) . Deixa- [10] STAKHOV, A. The Mathematics
9 of Harmony: From Euclid to Contempo-
mos aqui a referência correta e agradecemos a todos os
rary Mathematics and Computer Scien-
leitores e autores pelas contribuições que sempre enri- ce. Singapura: Editora World Scientific,
quecem a RPM. v. 22, 2009.