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Antropologia
Introdução à Antropologia
A Antropologia pode ser definida [Anthropology] is less a subject
como o estudo comparativo dos matter than a bond between
seres humanos, das sociedades e subject matters. It is in part
dos seus mundos culturais. history, part literature; in part
Explora simultaneamente a natural science, part social
diversidade do ser humano e o science; it strives to study men
que é que todos os seres humanos both from within and without; it
têm em comum. (Eriksen, 2017) represents both a manner of
looking at man and a vision of
man—the most scientific of the
humanities, the most humanist of
sciences. (Eric Wolf)
Antropologia 1
A utilidade do conhecimento antropológico no entendimento do mundo
contemporâneo
O contacto entre sociedades culturalmente diferentes aumentou significativamente no nosso
tempo.
O mundo também está a encolher de outras formas, a distância geográfica já não é um obstáculo
ao contacto face a face.
A economia capitalista é dominante e cada vez mais globalizada e universal.
As questões políticas, sociais e ambientais tornaram-se transnacionais.
A cultura mudou rapidamente, o que é sentido quase em todos os lugares do mundo, em
particular nas sociedades ocidentais, onde a família mudou, os hábitos alimentares mudaram,
entre outras, tornando-se difícil acompanhar as mudanças.
Nas últimas décadas, tem-se verificado um interesse sem precedentes na identidade cultural, a
qual é cada vez mais percebida como um recurso valioso, mas ameaçado pela globalização, pelo
colonialismo “indireto” e por outros interesses corporativos.
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Subcampos da Antropologia
Antropologia Biológica
Arqueologia
Antropologia Linguística
Antropologia Cultural
Antropologia Aplicada
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É o subcampo da Antropologia que visa o uso de dados antropológicos para dar resposta
aos problemas modernos (ex: investigação criminal, desenvolvimento das comunidades,
medicina, etc.).
A Antropologia estuda desde fatores biológicos, como a genética aos artefactos, à religião, à
linguagem e à cultura, por forma a identificar conexões e a proporcionar uma visão holística
da humanidade e integra nos seus estudos, tanto o passado como o presente.
O antropólogo tende a usar os seus próprios dados que são recolhidos no trabalho de
campo. (Os antropólogos biológicos querem ser eles próprios a procurar os ossos dos
humanos primitivos ou em extrair o ADN de ossos de outras coleções; os
antropólogos/arqueólogos preferem ser eles próprios a fazer as escavações etc.).
A Antropologia interessa-se pela mudança, ou seja, porque motivo esta ocorre ao longo do
tempo, como esta se processa e como os humanos se adaptam.
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É a fonte de dados mais importante sobre a Sociedade e a Cultura.
É considerado por alguns autores, como um trabalho artístico, porque tem de ser escrito de
forma a fazer sobressair a realidade da sociedade e da cultura.
É, igualmente, um trabalho científico, porque tem de apresentar uma descrição rigorosa e
autêntica dos humanos e dos seus comportamentos.
Madden, R. (2010) Being Etnographic, a guide to the theory and pratice of Etnography, Sage Publications,
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O antropólogo recolhe dados preparatórios sobre o objeto de estudo. Tenta ganhar o domínio
da língua nativa, se for o caso.
2. Trabalho de Campo
A vida quotidiana das pessoas que se pretende estudar é tornada num campo de estudo.
Recolha de dados (quantitativos e/ ou qualitativos).
3. Análise
O antropólogo organiza e analisa os dados etnográficos (primários e secundários).
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O antropólogo procura fornecer um retrato interessante e credível da cultura ou sociedade.
Um “todo” coerente.
Trata-se de um processo através do qual o investigador vive com a população a estudar e observa
as suas atividade regulares, muitas vezes, por períodos superiores a um ano (Muckle &
Gonzaléz, 2015).
Implica também que o investigador coloque os cinco sentidos em ação, por forma a tentar
apreender o máximo possível da vida coletiva das pessoas e da respetiva comunidade.
Desafios e Dilemas
Existem várias técnicas para entrar no terreno, mas não há uma “receita única”.
Algumas não são fáceis de pôr em prática e colocam vários desafios e dilemas ao antropólogo:
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Integrar a vidas dos locais sem dar nas vistas, para que estes possam levar a cabo a sua vida
quotidiana, sem interferências de maior, pode ser complicado.
Os locais podem ser hostis ao antropólogo e nem sempre podem estar disponíveis para se
“abrirem” e darem a conhecer as suas experiências a terceiros.
Esta “entrada” na vida dos locais exige um bom conhecimento e domínio da língua nativa.
Outros fatores a ter em conta: a idade, o sexo, a classe social do investigador podem
dificultar a sua entrada no terreno.
O trabalho etnográfico consome bastante tempo, mas este é o tempo adequado para absorver
o ponto de vista dos locais.
Porém, e por vezes, este tempo torna-se demasiado para quem está a ser estudado.
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O antropólogo deve manter-se, de alguma forma, distante do objeto de estudo e evitar que a
sua entrada no campo deturpe a maneira de ver os fenómenos, ou seja, deve adotar um
“olhar distanciado”.
O antropólogo também deve interligar os fenómenos que constituem o seu objeto de estudo
com o contexto onde eles ocorrem e que lhes dão razão de ser (holismo).
O antropólogo deve guiar a sua observação através de uma teoria social, e problematizar o
objeto de estudo, por forma a fazer progredir o conhecimento científico desse fenómeno
particular da realidade social.
Questões de Validade
A questão da validade no trabalho etnográfico pode ser reduzida a um conjunto de duas
proposições:
Uma Etnografia que não está enquadrada pelos princípios científicos (recolha de dados
sistemática, análise e interpretação) não é uma boa etnografia, aproxima-se de assim à
ficção.
Uma Etnografia que não é enquadrada numa arte de escrita, argumentos, retórica, persuasão
e narrativa são só dados dispersos.
Os participantes devem estar a par dos objetivos da investigação e o destino dos dados que
são recolhidos, bem como quanto tempo e esforço lhes vai ser exigido e o que podem retirar
da sua participação.
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Os participantes devem ser informados se a investigação os pode afetar de forma negativa e
se se podem retirar da mesma, caso o entendam. A sua segurança deve ser uma das
principais preocupações do investigador.
A História da Antropologia
Iluminismo, Evolucionismo e Difusionismo
Séc. XVIII: Vico e o Modelo Universal de Desenvolvimento Social
Condição Bestial: sem moralidade ou arte.
Séc. XVIII
Foi em França que se deram os primeiros passos para o estabelecimento da Antropologia como
uma ciência.
O Barão de Montesquieau (1689-1755) publicou em 1746 “L'esprit des loix”, um estudo
comparativo de vários sistemas legislativos, a partir do qual tenta procurar os princípios gerais
subjacentes aos sistemas jurídicos de várias culturas.
Montesquieu entende o sistema legal como um sistema do sistema social mais amplo e
intimamente ligado com muitos outros aspetos do todo maior - uma visão
protofunctionalista.
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Entre eles, o filósofo Denis Diderot (1713-1784) e o matemático Jean Le Rond D’Alembert
(1717-1783). Estes autores procuram catalogar todo o conhecimento científico numa
Enciclopédia (Encyclopédie), tendo em vista o progresso cientifico e o avanço da razão.
Contaram com o contributo de vários autores tais como Montesquieau, Rousseau e Voltaire.
Séc. XIX
A Antropologia estava dominada pelo Evolucionismo, corrente cuja principal figura foi Lewis
Henry Morgan (1818-1881) antropólogo americano, o qual assumia que as sociedades poderiam
ser hierarquizadas, consoante o seu nível de desenvolvimento.
Um dos principais percussores foi Freidrich Ratzel (1844-1904) geógrafo e etnógrafo alemão.
Enquanto o Evolucionismo assumia que cada sociedade tem o seu potencial de
desenvolvimento, os difusionistas defendiam que as mudanças culturais se deram pelo contacto
entre povos.
Séc. XX
As teorias evolucionistas e difusionistas são descartadas no período da 1.ª Guerra Mundial.
O Evolucionismo passa a ser considerado uma perspetiva teoricamente pouco sólida, ao
argumentar que existem sociedades mais desenvolvidas do que outras.
O Difusionismo pelo facto de não conseguir explicar porque fenómenos similares existem em
locais onde não houve contacto histórico entre povos.
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No pós-guerra, a Antropologia diversificou-se e estendeu o seu interesse à Política e à
Psicologia.
Nos anos 50, os antropólogos começam a interessar-se pelo “mestiço” e a estudar as
comunidades da América Latina, Caraíbas, Ásia e India.
O interesse pelos índios americanos manteve-se.
Boas estudou os Inuit e os Knakiutl (anos 1890), povos da costa noroeste da América.
Boas influenciou bastante a Antropologia americana com as suas preocupações relativistas e com
o particularismo histórico.
O autor estabeleceu a “Abordagem dos quatro campos” (four field approach) na
Antropologia Americana:
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Antropologia Biológica
Antropologia Linguística
O Relativismo Cultural de Franz Boas é a perspetiva de que cada sociedade ou cultura tem de
ser compreendida em si mesma e que não é possível nem interessante hierarquizar as sociedades
numa escala evolucionista.
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O facto de existirem sociedade mais avançadas do que outras é uma falácia etnocêntrica, guiada
pelo preconceito e suportada pela crença de superioridade da própria sociedade.
Segundo esta perspetiva, o investigador deve sempre que possível ver o mundo como os nativos
o vêm.
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É considerado um dos pais da Antropologia Social ou da Antropologia britânica moderna,
a par de Malinowski. Esta esteve muito vocacionada para o estudo da organização familiar,
do parentesco, da política e da economia.
Desenvolveu a Perspetiva Estrutural-Funcionalista na Antropologia, a qual veio a ser
abandonada pela comunidade científica.
R.B trouxe a Sociologia Francesa de Émile Durkheim para o seio da Antropologia Britânica.
O objetivo da Antropologia era comparar as diferentes sociedades (numa perspetiva de
Sociologia comparada) e formular leis gerais sobre o seu funcionamento, como nas Ciências
Naturais.
R.B procurou compreender como funcionam as sociedades e como as suas partes
integrantes funcionam em interdependência e contribuem para o equilíbrio geral. A sua
preocupação final era a Integração Social.
Dois conceitos fundamentais para R.B, mas que foram introduzidos nas ciências sociais por
Herbert Spencer (1820-1903):
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A Antropologia Francesa era metodologicamente menos purista e mais filosófica do que a
americana, e no período entre guerras (anos 20 e 30) foi liderada por Marcel Mauss.
Mauss detinha um vasto conhecimento de várias línguas, história cultural e de etnografia, apesar
de nunca ter feito trabalho de campo. Era um intelectual muito erudito.
Mauss é o autor da Teoria da Dádiva (Essai sur le don, 1925), na qual defende que o valor das
coisas não pode ser superior ao valor da relação e destaca que o simbolismo é fundamental para
a vida social. A reciprocidade, a troca de bens e serviços é o elo que liga as sociedades, na
ausência de um poder centralizado.
As trocas são voluntárias, mas acabam por ser obrigatórias, ao criar dívidas de gratidão e geram
compromissos sociais.
A posição teórica de Mauss era complexa.
📎
O antropólogo defendia a comparação
sistemática e acreditava na existência de A comparação sistemática é
padrões recorrentes na vida social. utilizada ainda hoje
Em vez de desenvolver uma ciência natural da sociedade e estabelecer leis universais, o seu
projeto antropológico consistiu em descrever as diferentes sociedades e identificar similitudes
estruturais.
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