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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
2 ANTROPOLOGIA ....................................................................................... 5
6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 60
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 ANTROPOLOGIA
Fonte: brasilcultura.com.br
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Portanto, está relacionado às chamadas ciências biológicas e culturais, a
primeira é para a existência física e a segunda é para a existência cultural. Hoebel e
Frost (1981:3 apud ANDRADE et al., 2010) definem a antropologia como “ a ciência
da humanidade e da cultura. Como tal, é uma ciência superior social e
comportamental, e mais, na sua relação com as artes e no empenho do antropólogo
de sentir e comunicar o modo de viver total de povos específicos, é também uma
disciplina humanística”.
A antropologia tem uma dimensão biológica, enquanto antropologia física uma
dimensão sociocultural, enquanto antropologia social e/ ou antropologia cultural uma
dimensão filosófica, enquanto antropologia filosófica, ou seja, quando se empenha em
responder a indagação: o que é homem? Apesar da diversidade dos seus campos de
interesse, constitui-se em uma ciência polarizadora, que necessita da colaboração de
outras áreas do saber, mas conversa com sua unidade, uma vez que seu foco de
interesse é o homem e a cultura, conforme ANDRADE et al., (2010).
Pode- se afirmar que há pouco mais de cem anos a antropologia conquistou
seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural
física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se, por um lado,
essa concepção vinha satisfazer ao significado literal da palavra, por outro restringia
o seu tempo de estudo as características humanas físicas, conforme ANDRADE et al.,
(2010).
Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por muito tempo,
privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e
do ser vivo. A antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna
suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais
ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu
comportamento. O seu interesse está no homem como um todo, ser biológico e ser
cultural, preocupando – se em revelar os fatos da natureza e da cultura, conforme
ANDRADE et al., (2010).
Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no
espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca também a
compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social,
conforme ANDRADE et al., (2010).
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Esta ciência foi formada a partir de diversas origens, estudos e fundamentos,
documentados numa história de evoluções de ideias que levaram aos aspectos
conclusivos de hoje. Laraia nos fala sobre a diversidade de pensadores que proveram
os elementos necessários à ciência antropológica como Confúcio ao afirmar que “a
natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que os mantém separados. A
partir desta ideia fundamental da antropologia muitos levantaram uma pergunta
iniciadora no assunto: porque homens semelhantes em contextos semelhantes geram
culturas tão distintas? Conforme LIDÓRIO A; 2009.
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A ideologia antropológica, entretanto, sofreria forte impacto acadêmico do
evolucionismo de Darwin (denominado na época de método comparativo),
representado principalmente por Tylor. A principal oposição é encontrada
exatamente nas claras ideias de Franz Boas (1858- 1949 LIDÓRIO A; 2009).
Este método comparativo defendia que o homem é o resultado do seu
ambiente.
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As escolhas culturais do agrupamento foram extremamente distintas gerando
grupos também distintos apesar de compartilharem a mesma história, região e
ancestralidade. Falam hoje dialetos distintos e possuem costumes paradoxais mesmo
vivendo tão próximos. Portanto a cultura é um elemento muito mais dinâmico do que
se poderia esperar, e desta forma mais complexo ao ser analisado de forma linear,
conforme LIDÓRIO A; 2009.
A Antropologia, inicialmente, era tratada apenas como uma área de estudo
dentro da História e da Filosofia. Com o descobrimento das complexidades culturais
a humanidade viu-se diante da gritante necessidade de uma área específica e
subdividida a ponto de cobrir algumas fontes de perguntas sociais. Surgiu o Estudo
do homem, conforme LIDÓRIO A; 2009.
Um dos fatos que despertou atenções ao redor do mundo no século XVI foi a
inconcebível possibilidade de que fatos análogos possam estar desassociados em sua
origem. Com as viagens e descobertas de novos mundos e povos os relatos
rapidamente chegaram à Europa conduzindo uma série de questionamentos a
respeito de respostas que antes eram tidas como certas. Percebeu-se, por exemplo,
que o garfo foi usado primeiramente em Fiji e tempos depois inventado na Europa
sem que houvesse entre estes lugares qualquer transmissão de conhecimento,
conforme LIDÓRIO A; 2009.
Os tesouros artísticos que chegavam do chamado novo mundo ocidental
possuíam tremenda semelhança com os relatados por Marco Polo no mundo oriental.
O golpe final foi dado através dos relatos de grupos isolados por gerações na Polinésia
os quais, desenvolveram artifícios de bronze e arpões de pesca quase idênticos aos
utilizados na Roma de dois milênios atrás sem que houvesse possibilidade de
transmissão histórica de conhecimento. É claro, portanto, a conclusão de que
necessidades comuns geram invenções e respostas análogas, conforme LIDÓRIO A;
2009.
Tornou-se necessária a existência de uma área específica para o estudo do
homem, suas interações sociais, herança histórica e identidade comunitária. Surgia a
Antropologia que mais tarde viria a se desmembrar em Aplicada, Cultural, Etnologia,
Fenomenologia e diversas outras estruturas de pesquisa e conhecimento do
desenvolvimento humano em seu contexto social, conforme LIDÓRIO A; 2009.
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2.1 A constituição do conhecimento antropológico
Fonte: medium.com
O período de 1860 a 1920 coincide com a fase de conquista colonial por parte
do mundo Europeu e o advento da antropologia como estudo sobre o outro. Já no
próprio projeto de constituição de um saber mais sistemático sobre o homem, delineia-
se como seu principal eixo uma compreensão da natureza e da cultura que eram o
próprio fundamento epistemológico de sua cientificidade, conforme JORDÃO P;
(2004).
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Assim, durante um longo espaço de tempo, que compreende até os dias atuais,
quase todas as suas variantes teóricas como, por exemplo, o evolucionismo, o
funcionalismo, o estruturalismo, comprometeram-se com um saber sobre o outro
vinculado às leis científicas que estabeleciam uma natureza una e hegemônica para
todos os seres humanos, em contrapartida a constatação visível de culturas em
constante transformação, conforme JORDÃO P; (2004).
A natureza, entidade metafísica herdada da filosofia clássica, manifestava-se
em nossa substância comum, enquanto que a cultura, ou as culturas no plural, já que
o homem é essencialmente um animal fabricante de cultura, representa nossa
pluralidade de línguas e a fragmentação do gênero humano, conforme JORDÃO P;
(2004).
O período seguinte, é considerado um momento transformador do fazer
antropológico através da observação participante, ou seja, o estabelecimento de uma
distância entre o antropólogo e sua cultura e a cultura do grupo estudado. Esse
distanciamento, que não é consequência completamente desavisada ou aleatória do
processo da construção do conhecimento antropológico, está na base do surgimento
de um novo contexto, diferente do evolucionismo presente no período anterior, pela
construção de um conhecimento que surgiu pelo estabelecimento de uma relação
especifica, não somente entre o pesquisador e seu objeto, mas também entre estes e
o leitor, conforme JORDÃO P; (2004).
O início da década de vinte, coincide teoricamente com a influência do
pensamento funcionalista de Émile Durkheim sobre a antropologia social inglesa. No
mesmo ano de 1922, temos a publicação de Radicliffe-Brown com Os Ilhéus em
Andanaman (1922 apud JORDÃO P; 2004) e, em 1925, O ensaio sobre o dom de
Marcel Mauss. Assim, o conhecimento, pretensamente neutro do objeto etnográfico,
substitui a construção especulativa das origens da família, do estado, da religião, da
cultura como era praticado pelos chamados antropólogos de gabinete no
evolucionismo.
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investigação pressupõe uma noção de totalidade integrada cuja reconstrução
é objetivo último do pesquisador. (DURHAM, 1988, p. 21 apud JORDÃO P;
2004).
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Recentemente, nos anos oitenta e noventa, e depois de alguns anos em que
não se pode falar de nenhum paradigma dominante na antropologia, a disciplina tem
sido influenciada, nas palavras de Reynoso (1991 apud JORDÃO P; 2004), por uma
moda intelectual que corresponde a premissas do que vem a ser pós-moderno. O
debate é orientado na linha que conduz a multiplicidade de interpretações.
Nas décadas de sessenta e setenta, como nos aponta Roque de Barros Laraia
(1992 apud JORDÃO P; 2004), a antropologia possuía várias teorias que giram em
torno da tarefa de reconstrução do conceito de cultura. Assim para Kessing (apud
LARAIA, 1986 apud JORDÃO P; 2004), as teorias dividem-se em: considerando a
cultura como sistema adaptativo, tendo como representante Leslie White, Shalins,
Harris, Carneiro, Rapparport, Vayda e outros.
Em segundo, encontram-se as teorias idealista de cultura, que se subdividem
em três abordagens. São elas: a cultura como sistema cognitivo, que podemos citar,
como exemplo, o antropólogo Goodenough; a cultura como sistema estrutural, tendo
Lévi-Strauss, como seu representante; e a cultura como sistema simbólico, posição
desenvolvida por dois antropólogos, Clifford Geertz e David Scheider, nos Estados
Unidos, conforme apud JORDÃO P; 2004.
Em certos âmbitos da antropologia interpretativa é inquestionável, por exemplo,
a influência da teoria crítica da Escola de Frankfurt, da filosofia de Nietzsche, da
semiótica de Charles Sanders Peirce e do romantismo alemão, principalmente Willian
Dilthey e Max Weber, através de seu método compreensivo, conforme apud JORDÃO
P; 2004.
Assim, propõe-se uma série de novas alternativas para a antropologia:
dialogia, polifonia, evocação. Tais alternativas, bem como as tendências que as
propõem, de um modo geral, estão presentes no volume Writing Culture, editado por
James Clifford e George Marcus em 1986. Trata-se de uma coletânea de ensaios
apresentados originalmente num seminário na Escola de Investigação Americana de
Santa Fé, Nuevo México em 1984, cujo tema central gira em torno da redação do texto
antropológico, da autoridade etnográfica e da relação entre pesquisadores e seus
pesquisados, conforme apud JORDÃO P; 2004.
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Segundo Reynoso (1991 apud JORDÃO P; 2004), é no fervilhamento dos
acontecimentos históricos e, principalmente no advento da sociedade pós-industrial,
que a sociedade ocidental parece estar caminhando para uma grande transformação
histórica, caracterizando um desgastamento rápido das relações sociais.
A fonte deste cataclisma inclui o racionalismo científico, as tecnologias, além
de vários outros aspectos presentes em nossa cultura. Uma de suas transformações
básicas é a burocratização crescente da ciência e da especialização do trabalho
intelectual em parcelas cada vez mais microscópicas. E como consequência desse
complexo processo histórico, dessas transformações, sociais, econômicas e de
perspectivas filosóficas, que a antropologia americana pós-moderna se desenvolveu
(BELL, 1976), conforme apud JORDÃO P; 2004.
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É importante ressaltar, no entanto, que essa diversidade humana nunca foi
vista como um fato ou algo natural. As diferenças têm de ser explicadas, sejam por
formas míticas, religiosas ou científicas. Neste contexto, pensar o papel da
antropologia, é compreender a imersão dessa ciência em um cenário que, por sua vez
é composto de cenários, autores e regras. Cabe aos antropólogos, normalmente, a
tarefa de estudar culturas que são completamente diferentes das sociedades nas
quais eles vivem, as diferenças entre as suas experiências e costumes, assim como,
como estas funcionam, conforme PEREIRA G; et al., (2015).
De acordo com Silva (2000 apud PEREIRA G; et al., 2015), a antropologia
estabeleceu sua identidade como ciência por meio de uma abordagem metodológica,
na qual a observação participante tornou-se elemento central. A partir da necessidade
de se ir à campo, questionou-se então a antropologia de gabinete, tão criticada por
alguns autores ao afirmarem que a não convivência com o objeto da pesquisa
empobrecia a análise dos mesmos. Sobre a importância dessa abordagem
metodológica o autor completa:
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Silva (2000 apud PEREIRA G; et al., 2015) comenta que Malinowski, o pai do
funcionalismo, também percebia a magia que envolve o antropólogo, os métodos
utilizados por ele e as relações construídas com os “nativos”. Foram esses “truques”
que o possibilitaram a compreensão de todas as particularidades que envolviam a
tribo indígena relatada em os “Argonautas do pacifico” (1976 apud PEREIRA G; et al.,
2015).
O autor esclareceu sobre a necessidade de que o antropólogo passasse longos
dias de convivência com os grupos estudados, com o fim de acompanhar de perto
suas atividades diárias, apreender a língua nativa e, desse modo, absorver os valores
e sentimentos do grupo, por meio da observação atenta do que seus integrantes
fazem e dizem, conforme PEREIRA G; et al., (2015).
Geertz, (1989 apud PEREIRA G; et al., 2015) corrobora com Silva (2000 apud
PEREIRA G; et al., 2015) ao perceber a importância do trabalho de campo do
antropólogo, à medida que enfatiza que a prática etnográfica se refere a estabelecer
relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear
campos, manter um diário, e assim por diante.
E sobre o papel da etnografia na antropologia o autor acrescenta:
Além dessa magia, Pritchard apud Silva (2000, p. 66 apud PEREIRA G; et al.,
2015), fala sobre outro tipo: a identificação subjetiva do antropólogo. “[...] embora eu
pense que os diferentes antropólogos que examinam o povo, acabarão por registrar
os mesmos fatos nos seus cadernos de notas, creio que eles escreveriam diferentes
tipos de livros [...]. ” Ou seja, a subjetividade de cada antropólogo acaba por conferir
livros únicos, fruto de olhares, questionamentos e concepções cada vez mais
singulares.
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2.3 A antropologia dentro do campo das ciências sociais
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perceba e tenha consciência de que seu estilo de vida é diferente dos outros),
conforme OLIVEIRA J; 2006.
A partir dessa percepção e dessa consciência o grupo estabelece as suas
normas de inclusão e de exclusão. Consequentemente, podemos ter um grupo
ordenado socialmente, mas sem consciência do seu próprio estilo de vida, isto é, sem
cultura. A cultura se caracteriza, pois, pela tradição, ou seja, pela transmissão do
jeito próprio de ser de um grupo, o qual é mais do que viver ordenadamente com
regras e normas estabelecidas, conforme OLIVEIRA J; 2006.
A cultura é a vivência coletiva consciente e responsável dos padrões, costumes
e hábitos, dentro de um espaço e de uma temporalidade, e que identificam um
determinado grupo. Na cultura há uma interação dialética entre as regras e o grupo,
com possibilidades de reciprocidade e de mudanças. O grupo age ou não desta ou
daquela forma porque tem consciência de que esse agir lhe dá ou não identidade e o
diferencia dos outros grupos sociais (Ibid. p. 47-58), conforme OLIVEIRA J; 2006.
Enquanto ciência social que estuda o ser humano, a antropologia faz uso de
diversos métodos, de acordo com os seus campos e com as situações (MARCONI;
PRESOTTO, p. 11-14 apud OLIVEIRA J; 2006). Por método entende-se um conjunto
de regras bem definidas que são utilizadas na investigação. Normalmente o método
segue um procedimento anteriormente elaborado e que deve ser cuidadosa e
escrupulosamente observado. O método tem como finalidade descobrir quais são as
lógicas e as leis da natureza e da sociedade, visando respostas satisfatórias.
Normalmente são utilizados sete métodos nas pesquisas de antropologia. O
primeiro é o método histórico utilizado para a investigação de culturas passadas. Por
meio dele o antropólogo, com a ajuda do historiador, tenta reconstruir as culturas,
explicar fatos e observar fenômenos, como, por exemplo, as mudanças ocorridas e as
adaptações. O segundo é o método estatístico empregado, sobretudo para analisar
as variações culturais das populações ou sociedades. Os dados são obtidos por meio
de tabelas, gráficos, quadros comparativos etc., conforme OLIVEIRA J; 2006.
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O terceiro é o método etnográfico utilizado para descrever as sociedades
humanas, de modo particular as consideradas primitivas ou ágrafas (sem escrita). O
método consiste essencialmente em levantar todos os dados possíveis sobre uma
determinada cultura ou etnia e, a partir desses levantamentos, tentar descrever o
estilo de vida ou cultura desses grupos, conforme OLIVEIRA J; 2006.
O quarto método é chamado de comparativo ou etnológico. É usado de modo
particular para a pesquisa sobre populações extintas. Por meio da comparação de
materiais coletados, especialmente fósseis, se estudam os padrões, os costumes, os
estilos de vida das culturas, vendo de modo particular as diferenças e semelhanças
existentes entre elas. O objetivo melhor para compreender as culturas passadas e
extintas. O quinto método é conhecido como monográfico, conforme OLIVEIRA J;
2006.
É também chamado de estudo de caso, consiste em estudar com profundidade
determinados grupos humanos, considerando todos os seus aspectos como, por
exemplo, as instituições, os processos culturais e a religião. O estudo monográfico é
muito importante para os casos de culturas que estão ameaçadas de extinção, uma
vez que permite analisá-las e descrevê-las de forma bem pormenorizada, conforme
OLIVEIRA J; 2006.
Por fim, temos o método genealógico e o método funcionalista. No primeiro
caso trata-se de um método usado para o estudo do parentesco e todos os outros
aspectos sociais dele decorrentes. Visa à análise da estrutura familiar e exige a
presença de um informante, ou seja, de alguém que possa revelar os nomes das
pessoas que compõem a árvore genealógica. No segundo caso, a cultura é estudada
e analisada a partir do âmbito da função ou das funções. Por meio dele busca-se
perceber a funcionalidade de uma determinada unidade cultural no contexto da cultura
geral ou global, conforme OLIVEIRA J; 2006.
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são três: observação, entrevista e formulário (MARCONI; PRESOTTO, p. 14-16 apud
OLIVEIRA J; 2006).
A técnica da observação consiste na coleta e obtenção de dados. Nela os
sentidos têm um lugar privilegiado, ela pode ser sistemática ou participante. Na
sistemática o pesquisador vai ser direto (pessoalmente) ou indiretamente (por meio
de outras pessoas) observa os fatos no local da investigação e por um período de
tempo. Na participante o pesquisador, por um longo período de tempo, participa do
seu campo de pesquisa. É muito utilizada para a pesquisa cultural. Neste caso o
cientista torna-se um participante ativo da cultura que quer estudar. Ela exige fina
capacidade de observação, superação de preconceitos, trabalho diário de anotação,
registro de fatos e de dados, conforme OLIVEIRA J; 2006.
Exemplo desse tipo de pesquisa é aquela feita pelo francês Roger Bastide
sobre as religiões africanas em Salvador (Bahia) ou o caso de Dacyr Ribeiro que
conviveu durante muito tempo com os índios Kayapós em Mato Grosso. Também
Roberto DaMatta descreve a sua pesquisa entre os índios Gaviões no Pará e entre os
Apinayé no atual estado de Tocantins (DAMATTA, p. 182-240 apud OLIVEIRA J;
2006).
A técnica da entrevista consiste num contato direto, face a face, do cientista e
pesquisador com a pessoa entrevistada, da qual ele pretende obter informações. A
entrevista pode ser estruturada ou semiestruturada (livre). A entrevista estruturada é
aquela na qual o entrevistador segue um roteiro preestabelecido. A semiestruturada é
aquela do tipo informal, sem roteiro a ser seguido, na qual o entrevistador vai colhendo
as ideias do entrevistado, manifestadas de forma espontânea, conforme OLIVEIRA J;
2006.
O formulário é uma técnica que se parece com o questionário, consiste num
levantamento de dados feito através de uma série organizada de perguntas escritas
entregues ao entrevistado, às quais ele é convidado a responder. De certa maneira é
uma pesquisa dirigida, uma vez que o rol de perguntas é feito pelo entrevistador,
visando obter esclarecimentos sobre determinadas questões, conforme OLIVEIRA J;
2006.
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Convém observar que no caso das duas últimas técnicas, embora as respostas
sejam dadas pelo entrevistado, o modo de formular as perguntas e a escolha do
público alvo pode induzir a um determinado resultado. Isso acontece, por exemplo,
em certas pesquisas de opinião pública, como ficou bem evidente por ocasião das
recentes eleições no Brasil. O risco de manipulação dos resultados pode sempre
existir. Neste caso temos um problema ético muito grave e o cientista encarregado da
pesquisa pode ser responsabilizado por falsificar os resultados, conforme OLIVEIRA
J; 2006.
A antropologia é uma ciência de extrema atualidade, ela pode contribuir para o
desenvolvimento dos seres humanos e dos povos. O resultado de seus estudos e
pesquisas ajuda na superação de desequilíbrios e de tensões culturais. Os
antropólogos costumam apontar as causas das tensões sociais e indicar soluções
para que se restabeleça o equilíbrio entre os diversos grupos culturais. O grande
desafio está no fato de que as culturas dominantes nem sempre concordam com as
conclusões dos estudos e das pesquisas dos antropólogos. Por isso muitas tensões
sociais permanecem e até tendem a se agravar. Não se quer escutar uma verdade
que incomoda, conforme OLIVEIRA J; 2006.
“A ação do antropólogo é de relevância, mas a perspectiva histórica tem
demonstrado que sua tarefa lhe tem sido decepcionante, em face das pressões da
cultura dominante, que nem sempre concorda com as posições teóricas e os métodos
humanísticos por ele adotados, ao desempenhar o papel de conciliador entre o mundo
dominante e o mundo dominado” (MARCONI; PRESOTTO, p. 19 apud OLIVEIRA J;
2006). A importância da antropologia no mundo de hoje, com a sua função de produzir
interpretações das diferenças e de captar, com reverência e profunda compreensão,
o essencial de cada cultura diferente, ela contribui para alargar nossas visões e
romper esquemas ideológicos que tendem a desvalorizar aqueles que não são e não
pensam como nós (DAMATTA, p. 143-150 apud OLIVEIRA J; 2006).
A antropologia, mesmo no atual contexto, tem essa função de ser ponte e
mediação entre dois mundos. Cabe-lhe a tarefa de ajudar-nos a ver o diferente não
como algo exótico, distante e marginal, mas como uma realidade familiar. Embora não
deixe também de ter a função de manter o caráter “exótico” de cada cultura, ou seja,
de insistir sobre o direito que cada cultura tem de permanecer diferente, com suas
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características próprias, sem que lhe seja imposta uma aculturação forçada, conforme
OLIVEIRA J; 2006.
Podemos dizer que de todas as questões o problema que se encontra por trás
de todos os outros é o da determinação do que seria o homem, qual é o lugar ocupado
por ele na natureza, qual a sua relação com o cosmo, sua função no mundo e seu
destino. Daí as perguntas: de onde viemos? Para onde vamos? Que poder temos
sobre a natureza? Que poder a natureza tem sobre nós? Qual é o sentido da nossa
existência? Essas são perguntas que ao longo da vida nos fazemos, mas que não são
fáceis de serem respondidas por que não são próprias ao mundo da técnica, da
produtividade, da mídia e do consumismo que nos cerca. Essas questões se referem
à filosofia, ao exercício do pensamento, a um tipo de conhecimento importante, porém
muito pouco relevante para a maioria das pessoas, ” conforme QUEIROZ S; (2011).
De acordo com QUEIROZ S; (2011), a antropologia pode ser dita filosófica se
seu método é filosófico, quer dizer se ela se aplica em considerar a essência mesmo
do homem. Neste caso, a antropologia se esforça por distinguir o ente que chamamos
homem da planta, do animal e dos outros tipos de entes, e busca por esta delimitação
por em luz a constituição essencial específica desta região determinada do ente.
A antropologia filosófica afirma-se, desde então, como uma ontologia regional
tendo o homem por objeto, coordenada às outras ontologias que com ela partilham o
domínio total do ente. Uma antropologia filosófica assim compreendida não pode ser
considerada sem outra explicação como centro da filosofia e ela o pode menos ainda
fundando esta pretensão sobre a estrutura interna de sua problemática, conforme
QUEIROZ S; (2011).
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De acordo com QUEIROZ S; (2011), levando em conta nossa forma de estar e
atuar sobre o mundo, nossas necessidades e criações, em Antropologia Filosófica nos
interessa a busca da compreensão dos seguintes elementos: o universo simbólico
humano, o mito, a espiritualidade e a religiosidade como formas específicas do
homem se localizar no mundo; as produções técnicas, estéticas e artísticas como
maneira de expressão e realização interna e externa da vida humana; a vida cultural
e todo o universo das ideologias que constrói as culturas de massa e nos envolve num
mundo de consumismo exacerbado e de indiferença ao que verdadeiramente importa
em termos culturais; interessam-nos também as produções científicas e as questões
éticas, morais e valorativas que envolvem essas produções, sobretudo, na área das
ciências biológicas; a política e os problemas sociais que enfrentamos atualmente
como a violência, as guerras e as drogas; a liberdade humana, as leis e as normas
com todas as determinações e necessidades que as cercam; os aspectos positivos e
negativos da revolução tecnológica contemporânea, no que diz respeito ao meio
ambiente e à saúde desse meio, em que se inclui o próprio homem; enfim, interessa-
nos o mundo do trabalho, a exigência de qualificação e os retornos econômicos e
pessoais que temos em nossas profissões.
Fonte: unieducar.org.br
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Antropologia não estuda só a sociedade, mas estuda as sociedades humanas
como um todo em suas diversidades históricas e geográficas. Podemos perceber que
a ciência antropológica não é empírica. Nossa cultura passa por uma gradação, nós
temos que conhecer outras culturas. Percebemos que as ciências utilizaram princípios
e procedimentos criados pela Filosofia, tudo pronto. O objeto de estudos das ciências
antropológicas é o modo de vida das pessoas, conforme QUEIROZ S; (2011).
Um dos fatores importantes para um antropólogo é fazer perguntas sempre, tipo como
acontece com a Filosofia. É um exercício da antropologia de reencontrar uma memória
e não negar a história do indivíduo, conforme QUEIROZ S; (2011).
De acordo com QUEIROZ S; (2011), reafirmando Sócrates, conhecer-se a si
mesmo é o primeiro tema que envolve o homem na história da filosofia e também o
tema de toda a antropologia filosófica. A reflexão sobre si - exige uma análise sempre
renovada dos aspectos da nossa vida cotidiana e dos conhecimentos em termos
científicos. Por isso não basta identificarmos os problemas no nível do senso comum,
é preciso aprofundá-los no nível científico da pesquisa e do pensamento, bem como
na forma especificamente curiosa e questionadora que a filosofia nos possibilita.
É preciso, portanto, ultrapassar o simples nível da experiência pessoal e
procurar o sentido das coisas em conceitos mais elaborados a fim de alcançar uma
visão de conjunto da vida humana e dar-lhe a unidade e a profundidade necessária
em meio à infinita multiplicidade das coisas. É preciso que nos esforcemos para que
consigamos agrupar os acontecimentos de maneira a ter uma visão crítica sobre a
realidade, para além do tecnicismo que engessa as nossas mentes. É preciso que
tenhamos a coragem de criar nós mesmos os nossos próprios conceitos, na condição
de seres autônomos e reflexivos, conforme QUEIROZ S; (2011).
Com a experiência que existe na antropologia filosófica, se relaciona do homem
como homem, diferente de animal e planta. Ela percorre o nível transcendental, com
a resposta sobre o que é o homem, utilizando do sujeito como mediação entre
Natureza e Forma ou como Eu propriamente dito. O campo para a antropologia
filosófica é imenso, e sua especificidade sobre o que realmente o homem vem
acumulando nos seus anos de história. E nos apresenta que o ser humano é
complexo, conforme QUEIROZ S; (2011).
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2.7 Legado da filosofia e da antropologia filosófica para as ciências humanas
e sociais
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Mas como explicar o imperativo do trabalho, a necessidade da técnica, a
imposição de coerções e de regras de convívio, e as diferenças de toda sorte, os
quais, em vez de creditados à atividade cega da natureza e às pressões do ambiente,
são fabricados, chancelados, transformados e ensejados pelos humanos? Conforme
DOMINGUES I; (2011).
Para responder a essas questões sem dúvida difíceis, várias antropologias
foram formatadas pela filosofia, pela religião e a própria ciência, cada uma delas
pondo o foco num conjunto de caraterísticas dos seres humanos, Conforme
DOMINGUES I; (2011).
Assim, a antropologia do homem interior, de Sócrates, que define o homem por
uma essência interna : a alma-psyché; a antropologia do homem lacunar, a um só
tempo ser da falta e de necessidade e ser de artifício e de invenção, formulada por
Platão no Banquete; a antropologia da queda e do homem pecaminoso, elaborada por
Agostinho e de grande influência na cristandade; a antropologia do homem dual, meio
besta e meio anjo, formatada por São Thomás, mas cujos fundamentos remontam a
Platão e Agostinho (dualismo alma/corpo); a antropologia do homem perfectível e
vazada na ideia do aprimoramento do gênero humano, elaborada pelos renascentistas
(Pico della Mirandola) e adotada pelos modernos, como Herder e Kant; a antropologia
do homem bestial que faz do homem vivendo em estado de natureza o lobo do homem
(homo homini lupus), proveniente de Thomas Hobbes; a antropologia do homem-
máquina, ou antes do corpo-máquina, oriunda de Descartes e de grande impacto na
medicina e nas ciências humanas; a antropologia do homem-histórico, vinda da
biologia, Darwin à frente, que historicizou a espécie humana, e à qual será adotada
pela escola histórica alemã, não sem antes trocar a perspectiva da história natural
pela da história espiritual ou cultural; a antropologia do homo duplex, de Durkheim,
fundada não no dualismo corpo/mente, mas do indivíduo e da sociedade; a
antropologia do homem-pulsional, centrada no desejo e no mal infinito do desejo,
proposta por Freud e com raízes em Platão, conforme DOMINGUES I; (2011).
O que não faltaram foram antropologias e diferentes visões de homem, e as
ciências humanas nascentes puderam se servir à vontade de cada uma delas, e
mesmo fazendo-lhes um mix ou um amálgama, ao se defrontarem com os diferentes
problemas e fenômenos humanos e sociais, conforme DOMINGUES I; (2011).
27
Podemos dizer que, da mesma forma que a filosofia, as ciências humanas e
sociais não elaboraram uma visão unificada do ser humano, havendo mais de uma
maneira como elas lidaram com as potências e as características dos humanos, elas
invocaram os instintos e as tendências que nos caracterizam em nossa vida em
sociedade e nas relações interpessoais, conforme DOMINGUES I; (2011).
Assim, ao falarem do ser humano, a sociologia e a antropologia abrem a caixa
de bondades, por assim dizer, e colocam em primeiro plano os instintos gregários e
as disposições cooperativas dos seres humanos, conforme DOMINGUES I; (2011).
O resultado é a grande bifurcação que irá clivar as ciências humanas e as
biológicas ao se ocuparem de um mesmo objeto, o homem, porém visto de ângulos
diferentes, dando razão à Snow ao falar do choque das duas culturas, conforme
comentamos antes, e mais ainda a Ingold, ao se referir ao ponto de inflexão. De um
lado, a biologia e a história natural, ao forçarem o componente “natureza” da natureza
humana, colocando em evidência a animalidade do homem e a passagem lenta e
gradual da natureza à cultura. De outro lado, as ciências humanas e sociais, ao
forçarem a componente “humana” da natureza humana, colocando em evidência a
humanidade do homem e a passagem abrupta da natureza à cultura, conforme
DOMINGUES I; (2011).
28
A outra alternativa é voltar-se para fora e explorar as formas objetivadas ou as
expressões objetivas do ser humano, como fizeram Hobbes e Hegel, tomando como
objeto as normas jurídicas e as instituições políticas. Ao seguir essa rota e procurar
ocupar esse terreno, como Cassirer na filosofia das formas simbólicas em ambiente
contemporâneo, a antropologia filosófica não tardará a descobrir a concorrência da
antropologia científica e de outras disciplinas das ciências humanas, ocupadas não
com a unidade, mas como a diversidade das culturas e das instituições humanas,
conforme DOMINGUES I; (2011).
O ponto é que a filosofia não tem os meios ou as ferramentas para lidar com o
empírico, e a situação da antropologia filosófica não poderia ser diferente. Seu
propósito é levar a cabo sua tarefa, ao pensar a questão antropológica, por meios
puramente especulativos e formatar um discurso universal, apoiando-se em conceitos
abstratos e definições essenciais, e procurando circunscrever seu objeto o homem
sem a menor referência ao espaço e ao tempo, diferentemente da ciência. Contudo,
ao propor a definição do homem, cada filósofo terá a sua, em regra mediante o
isolamento de um aspecto ou propriedade da mente ou do corpo humano,
pretendendo que ela é determinante e universal, conforme DOMINGUES I; (2011).
Em consequência, havendo mais de uma propriedade, como a capacidade de
pensar, falar e agir, haverá mais de uma definição, sem chegar a um denominador
comum: zôon politikón, zôon lógon echon, homo sapiens, homo faber, homo ludens,
homo pictor, animal simbólico o que não faltaram foram definições essenciais,
correlacionando atributos e substratos, e neste aspecto a imaginação do filósofo
mostrou-se fértil, acreditando que bastava uma definição para abarcar o conjunto da
humanidade, conforme DOMINGUES I; (2011).
Todavia, quando a referência ao espaço e ao tempo é feita ou se infiltra em
suas considerações, o filósofo se vê às voltas com a opacidade e a contingência do
empírico e logo parte para o tudo ou nada: ou o tudo do universal da razão ou o nada
do particular do empírico ou da experiência, conforme DOMINGUES I; (2011).
Simplesmente, não há formas intermediárias ou generalidades médias, como
as taxis, os clusters, os agregados estatísticos e as classes das ciências biológicas e
humanas. Então, não tem como e o que fazer: a relatividade das culturas e dos
costumes dos povos é uma realidade, e se a ciência pode neutralizar o relativismo
histórico ou cultural com o método e a ajuda de alguns parâmetros, como a estrutura,
29
os modelos e as constantes culturais, conforme mostrou Lévi-Strauss, a filosofia não
tem o que fazer e como lhe contrapor uma doutrina: uma nova doutrina do homem,
que pudesse competir com a ciência e mesmo vencê-la, ao vencer o relativismo, ,
conforme DOMINGUES I; (2011).
Stuart Mill ao pensar a questão antropológica junto com a questão moral: tomar
a busca do prazer e do menor dano como algo comum aos humanos e aos animais,
visto que uns e outros buscam o prazer e evitam a dor, e desde logo compreendendo
essa propensão como constante ou lei, fazendo do sentimento o fundamento da
moralidade e da razão um instrumento calculador da maximização da felicidade,
conforme DOMINGUES I; (2011).
Nietzsche ao pensar a questão antropológica, a moralidade e a decadência dos
homens: psicologia das profundezas, aliando o ponto de vista do médico e do fisiólogo
(patologias do corpo e da mente) e a perspectiva do artista que Alberti havia
introduzido na arquitetura, perspectiva espacial no caso, e que com Nietzsche em sua
genealogia da moral se converterá em temporal então, o antídoto do relativismo será
buscado no perspectivismo, na multiplicação dos pontos de vista e na adoção de uma
perspectiva elevada ou superior, marcada pelo pathos da distância: a perspectiva do
nobre, conforme DOMINGUES I; (2011).
O desafio consistirá então em encontrar os meios intelectuais os conceitos para
dar sentido à diversidade e à relatividade das coisas, sem cair no relativismo. O
caminho, a nosso ver, são os universais in situ, fortemente contextualizados, com
abrangências diversas e definidos como síntese do uno e do múltiplo. Assim, a razão,
a linguagem, a experiência, a moral e a existência, conforme DOMINGUES I; (2011).
E assim, também, as categorias existenciais de finitude, corporeidade,
pessoalidade, sentido, não-sentido, etc. Ou seja, como no caso da linguagem, em
linguística, que reconhece uma única faculdade da linguagem junto com a diversidade
das línguas, e a exemplo das espécies em biologia, cujo fenótipo varia sem cessar no
tempo e o genótipo segue sendo o mesmo, ao se transmitir para a descendência, a
humanidade em sua diversidade, conforme DOMINGUES I; (2011).
3 OBJETO DE ESTUDO
31
múltiplas dimensões de um objeto de investigação sujeito a um estudo sistemático
que formaliza a <ciência homem>.
No quadro da história natural, o homem é entendido como um ente físico que
faz parte do todo natural, globalmente designado de <natureza>, podendo ser descrito
a partir dela. Embora tenha decorrido num plano de ampla complexidade no presente,
não exposta, realça – se que a adaptação da faceta descritiva dos estudos científicos
naturais (nomeadamente, a <biológica>) ao contexto de estudo social positivista
(referido como <sociológico>) funcionou como um modo de explorar as temáticas
humanas na vertente dos Estudos Sociais, conforme LEAL J; (2009).
Na decorrência dos registros em ciências naturais e/ou subjacente a exploração
em ciências naturais sociais das experiências dos grupos sociais humanos no âmbito
de múltiplas realidades vividas (em diversos contextos geográficos de ocupação
humana bem como em variados sentidos temporais, diacrônico e sincrônico), emerge
uma constatação analiticamente incontornável: o Homem, como ser natural,
cognitivamente consciente, de vivência em grupos sociais, comunicador em múltiplos
suportes, produtor e reprodutor de cultura através de esferas materiais e sócio-
simbólicos, conforme LEAL J; (2009).
De acordo com LEAL J; (2009), estabelecer uma definição absoluta e última
sobre o conceito de cultura, corresponde a uma tarefa que os autores de antropologia
preferem não empreender intensivamente, face ao objeto de estudo, as possibilidades
de combinação conceitual são quase exponenciais.
Recorde- se, a propósito, a < síntese> realizada por Alfred Kroeber e Clyde
Kluckhohn na obra “culture”: A critical Review of Concepts and Definitions” (1952),
correspondente a uma lista com mais de uma centena de definições.
Como medida simplificadora, é comum adotar – se a citação do antropólogo
britânico Edward Burnett Tylor, quando o autor, ainda durante o século XIX, e a
respeito da matéria do evolucionismo cultural, descreve a <cultura> no quadro da
definição etnográfica do seguinte modo: Cultura ou civilização, tomada em seu amplo
sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte,
moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem
na condição de membro da sociedade, conforme LEAL J; (2009).
32
3.1 Objetivo da antropologia
Hoebel e Frost (1981: 3-4 apud ANDRADE et al., 2010), afirmam que a “
antropologia fixa como seu objetivo o estudo da humanidade como um todo...” e
nenhuma outra ciência pesquisa sistematicamente todas as manifestações do ser
humano e da atividade humana de maneira tão unificada.
Para ANDRADE et al., (2010), é um objetivo extremamente amplo, visando ao
homem como expressão global, biopsicocultural, isto é, o homem como ser biológico
pensante, produtor de culturas e participantes da sociedade, tentando chegar, assim,
a compreensão da existência humana.
33
SOMATOLOGIA: a somatologia (somato, corpo humano, logos, estudo)
descreve variedades existentes do homem, diferenças físicas individuais e diferenças
sexuais (tipos sanguíneos, metabolismo basal, adaptação e etc.), conforme
ANDRADE et al., (2010).
ANTROPOMETRIA: a antropometria (anthropos, homem, metria, medida) usa
as técnicas de medição, procedimento quantitativo que fornece medidas do corpo
humano (crânio, ossos etc.), elaboradas por instrumentos especiais. Entre eles o
antropômetro, largamente utilizado, conforme ANDRADE et al., (2010).
ESTUDOS COMPARATIVOS DO CRESCIMENTO: recentemente, os
somatólogos ampliaram seu campo de estudo, no sentido de conhecer as diferenças
grupais relacionadas aos índices de crescimento e os outros aspectos correlatos:
alimentação, exercícios físicos, maturidade sexual etc., conforme ANDRADE et al.,
(2010).
34
3.5 Arqueologia
3.6 Etnografia
35
O método etnográfico é a base na qual se apoia o edifício da formação de um
(a) antropólogo (a). A pesquisa etnográfica constituindo-se no exercício do olhar (ver)
e do escutar (ouvir) impõe ao pesquisador ou a pesquisadora um deslocamento de
sua própria cultura para se situar no interior do fenômeno por ele ou por ela observado
através da sua participação efetiva nas formas de sociabilidade por meio das quais a
realidade investigada se lhe apresenta, conforme ROCHA A; et al., (2003).
A etnografia (éthnos, povo; graphein, escrever) consiste em um dos ramos da
ciência da cultura que se preocupa com a descrição das sociedades humanas. Lévi
Strauss (1967:14 apud ANDRADE et al., 2010) define – a de modo mais preciso e
objetivo.
Para ele, a Etnografia “ consiste na observação e análise de grupos humanos
considerados em sua particularidade (frequentemente escolhidos, por razoes teóricas
e práticas, mas que não se prendem de modo algum à natureza da pesquisa entre
aqueles que mais diferem do nosso), e visando a reconstituição, tão fiel quanto
possível, da vida de cada um deles”.
O objeto de estudo da Etnografia centra- se nas culturas simples, conhecidas
como “primitivas” ou ágrafas. São as chamadas sociedades de linhagem e
segmentárias. São grupos humanos que se opõem as sociedades complexas ou
civilizadas. Também estas podem constituir –se em foco de atenção do etnógrafo, por
exemplo, o interesse no estudo de sociedades rurais, conforme ANDRADE et al.,
(2010).
As sociedades simples encontram- se, ainda hoje, espalhadas pela Terra, cada
uma desenvolvendo uma cultura específica. Algumas já desapareceram, outras estão
em contato com o mundo exterior, em processo de mudança, poucas se conservam
isoladas.
36
forma que o pesquisador deve ser, ao mesmo tempo, etnógrafo e etnólogo, conforme
ANDRADE et al., (2010).
suas alegrias e seus sofrimentos, que tenha conhecido com eles seus
momentos de provação e abundância, e que não os encarem como simples
objetos de pesquisa examinados como célula num microscópio, mas que os
observe como seres humanos sensíveis e inteligentes que são, admitiria que
eles nada possuem de um “espírito primitivo, de um “pensamento mágico” ou
“prélógico” e que cada indivíduo no interior de uma sociedade “primitiva” é um
homem, uma mulher ou uma criança da mesma espécie possuindo uma
mesma forma de pensar, sentir e agir que um homem, uma mulher ou uma
criança de nossa própria sociedade. (Boas, 2003, p. 32 apud ROCHA A; et
al., 2003).
37
um antropólogo, mesmo nos dias de hoje. Diz o antropólogo polonês e posteriormente
naturalizado inglês:
38
tema e objeto de teses em universidades efetuando-se assim a passagem da
participação para a observação das situações vividas por tais indivíduos e/ou grupos,
numa tentativa de reuni-los no interior de um mesmo procedimento metodológico,
conforme ROCHA A; et al., (2003).
A etnometodologia foi neste caso fundamental para a pesquisa no campo das
ciências sociais migrarem de procedimentos e técnicas de pesquisa influenciadas por
uma sociologia funcionalista ou positivista para uma microssociologia com grande
influência do método etnográfico, em Antropologia. Um exemplo paradigmático é a
Escola de Chicago que influenciou grandemente os estudos antropológicos em
sociedades complexas, em especial orientando para a análise das práticas culturais
no contexto da vida social nos grandes centros urbanos, conforme ROCHA A; et al.,
(2003).
Reunindo esta experiência ao método etnográfico, a área de conhecimento da
Antropologia inovou em suas formas de pesquisar os fenômenos sociais nas
modernas sociedades urbano-industriais ao propor o conceito de relativização como
inerente à pesquisa em ciências sociais, resultado do jogo polêmico entre participação
e distanciamento do pesquisador em relação ao seu próprio território de pesquisa,
conforme ROCHA A; et al., (2003).
3.8 Etnologia
39
Enfatiza as inter-relações de homem e meio ambiente, indivíduo e cultura, na
tentativa de compreender a operosidade e a mudança das mesmas. Segundo Lévi-
Strauss (1967-396 apud ANDRADE et al., 2010), Etnografia, Etnologia e Antropologia
não constituem três disciplinas diferentes ou três concepções diferentes dos mesmos
estudos. São, de fato, três etapas ou três momentos de uma mesma pesquisa, e a
preferência por este ou aqueles destes termos exprimem somente uma atenção
predominante voltada para um tipo de pesquisa que não poderia nunca ser exclusivo
dos dois outros”.
3.9 Linguística
3.10 Folclore
40
3.11 Antropologia social
41
4 CONCEITUANDO O HOMEM
Fonte: opusdei.org
42
Pensando sobre o agente humano e suas múltiplas interações, Kroeber ajuda-
nos a distinguir o orgânico do cultural. Segundo ele o homem está inserido na
mecânica da natureza de forma igual pois, organicamente, possui necessidades
igualitárias a serem satisfeitas tais como o sono, alimentação, proteção, sexualidade
e etc., porém, a forma de suprir estas necessidades difere, certamente, de
agrupamento para agrupamento, de segmento social para segmento social. E isto
seria cultura, conforme LIDÓRIO A; (2009).
Se um indígena, membro de uma cultura tolerante ao infanticídio, ou mesmo
fomentadora do mesmo, um dia decidir não mais participar, e até mesmo se opor a tal
prática, movido por pura volição e escolha, sua história bem como de seu grupo
poderá ser perpetuamente alterada desde então. Portanto, o homem, apesar de ser a
célula menor no conceito antropológico geral e cultural, também é o agente
transformador. Desta forma pode-se diferir o homem dos demais agentes da natureza,
em termos culturais por “sua capacidade de transmitir sua história à geração vindoura,
avaliá-la de acordo com seus atuais princípios e desejos, e recriá-la à luz de suas
expectativas”, conforme LIDÓRIO A; (2009).
43
Recorremos, portanto, às palavras de Laraia quando diz que a grande
qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal
frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou
no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou
membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais
por ser o único que possui cultura, conforme LIDÓRIO A; (2009).
Segundo Geertz, as antigas abordagens definidoras da natureza humana, tanto
feitas pelo Iluminismo quanto pela antropologia clássica, são basicamente tipológicas,
e tornavam secundárias as diferenças entre indivíduos e grupos. Agora, através de
uma visão cultural vemos que se tornar humano é “tornar-se individual, e nós nos
tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais... (que) não são gerais, mas
específicos”, conforme LIDÓRIO A; (2009).
Portanto poderíamos conceituar homem, para nosso estudo antropológico,
como o ser em cultura, que se define a partir da sua história, suas ideias e
envolvimento social. Em sua consciência, em sua moralidade e racionalidade, assim
como em sua espiritualidade o homem pode aventurar-se num caminhar construtivo
em sua própria essência humana através de sua vocação cultural, conforme LIDÓRIO
A; (2009).
44
Produção, então, é o resultado da aplicação da tecnologia e do trabalho
humano nos recursos naturais. Dessa forma, a produção de energia constitui a
maneira de viver de um povo. Cada sociedade cria um enorme conteúdo cultural que
vai ditar as normas a serem respeitadas na satisfação das necessidades mais básicas.
Esta gama de saberes populares que moldam a relação homem-ambiente se converte
em rico material de estudo para as ciências sociais, conforme AGUIAR R; (2013).
Os quatro modos básicos de produção são: caça e coleta, agricultura de corte
e queimada, agricultura de irrigação e pastoreio nômade. É com base nestes sistemas
produtivos que as sociedades que vivem de forma tradicional garantem seu sustento.
A caça e coleta
É o modelo mais elementar de produção, onde o homem extrai o necessário
para sua subsistência por meio da caça de animais e coleta de plantas, frutas e raízes
disponíveis no entorno. Este tipo de economia só pode manter pequenos grupos, de
20 a 30 pessoas. Este modelo foi o primeiro a ser empregado pelo homem em tempos
pré-históricos, acompanhando a humanidade ao longo de sua existência. Hoje,
poucos grupos isolados, como os que vivem em florestas tropicais ou nas savanas
africanas, empregam este modo econômico, conforme AGUIAR R; (2013).
A agricultura de corte e queimada
É um modelo de produção que permanece em uso entre muitas comunidades
de pequena escala. Neste sistema, a vegetação em uma área a ser destinada para o
plantio é cortada e em seguida é ateado fogo. O objetivo é limpar a área para o plantio
e o carvão resultante da queima, em um primeiro momento, serve de nutriente.
Contudo, neste sistema o solo se esgota rapidamente, sendo a comunidade obrigada
a abandonar as terras cultivadas em um prazo médio de cinco anos. Este sistema
depende da participação das famílias e é capaz de manter comunidades com até
cerca de 200 pessoas, conforme AGUIAR R; (2013).
A agricultura de irrigação
Parece ter superado as dificuldades que se apresentam no modo de corte e
queimada. Ao irrigar as terras o agricultor aumenta seu potencial produtivo.
Associando a irrigação com um sistema de rotação de culturas, as comunidades
passaram a usufruir seus territórios de plantio por tempo indeterminado. Os
plantadores de arroz dos campos da China são um exemplo desse tipo de economia,
que por lá data de milhares de anos, conforme AGUIAR R; (2013).
45
Com uma grande quantidade de excedentes, tem-se início um intenso comércio
e aparece a especialização da mão de obra. Ou seja, se nas outras comunidades
todos os seus membros possuem as mesmas obrigações, com este novo sistema
econômico as pessoas passam a se dedicar a atividades específicas: surgem os
agricultores, os artesãos, os comerciantes. As grandes civilizações, que surgiram às
margens do Tigre e Eufrates há mais de 5 mil anos, passaram por esse processo de
especialização da mão de obra, conforme AGUIAR R; (2013).
O pastoreio nômade
É normalmente empregado por grupos humanos que vivem em regiões
inóspitas, como nos desertos do Saara ou da Mongólia. Diante de um clima hostil ao
homem, essas comunidades aprenderam a sobreviver conduzindo suas cabras e
camelos de oásis em oásis, estabelecendo trocas comerciais com outros grupos.
Diante desses modelos econômicos está a questão familiar mais básica: os
pais enfrentando a natureza para dar sustento a seus filhos. A isso denominamos
economia de status, onde os bens são produzidos e distribuídos não por compra e
venda, mas por força dos direitos e obrigações tradicionais. Em suma, um pai ou uma
mãe não fornecem uma refeição aos filhos porque estes a compraram, mas sim
porque o sustento da prole faz parte da obrigação tradicional destes pais.
Para a distribuição dos bens produzidos o homem desenvolveu três meios de
intercâmbio:
A reciprocidade:
Onde a troca se dá entre comunidades de laços afetivos, do tipo dar e
receber, que vivenciamos entre parentes ou aparentados e não há
regras de quantidade ou tempo do contra fluxo. A reciprocidade implica
o intercâmbio entre pessoas que estão numa posição simétrica, de
igualdade. É uma troca entre iguais, onde ninguém está em posição de
dominação, conforme AGUIAR R; (2013).
O modo redistributivo:
Que consiste em agrupar todos os bens produzidos em uma área
central e distribuí-los em parcelas igualmente proporcionais ao trabalho
empregado. Este processo é controlado por uma autoridade central
(como o cacique ou uma liderança comunitária), conforme AGUIAR R;
(2013).
46
O mercado:
Pessoas sem nenhuma relação de parentesco ou estranhas se reúnem
em um lugar específico para intercambiar artigos. A introdução de uma
unidade de medida de valores se tornou inevitável para esse tipo de
economia e assim surge o dinheiro, conforme AGUIAR R; (2013).
Os estudos antropológicos direcionados para a relação entre homem e
ambiente atualmente compõem o campo de estudo denominado antropologia
ecológica. A maneira como o homem se utiliza dos recursos disponíveis e os
transforma, agregando significado cultural aos elementos da natureza, vão constituir
o principal foco de estudo do antropólogo. Plantas, animais, elementos da natureza,
passam a integrar uma série de estruturas simbólicas e cosmológicas a fim de moldar
o universo social e conferir sentido de vida para os homens e mulheres que vivem de
economia tradicional, conforme AGUIAR R; (2013).
Comunidades de pescadores artesanais, ou ainda sociedades agropastoris de
pequena escala são alguns exemplos de grupos humanos que compõem o objeto de
estudo da antropologia ecológica. Praticam modos produtivos centrados em
conhecimentos tradicionais passados de pai para filho ao longo de muitas gerações.
Alguns desses conhecimentos são milenares, conforme AGUIAR R; (2013).
Entre os pescadores artesanais da Ilha de Santa Catarina, a vida social
obedece a uma clara ordem cosmológica. Os elementos naturais, como mar ou o
clima, são interpretados de modo a orientar as ações coletivas. Muitas vezes, seres
sobrenaturais, como as bruxas, são evocados para justificar o insucesso de
empreendimentos ou os males que assolam a comunidade, conforme AGUIAR R;
(2013).
Os pescadores artesanais hoje vivem um conflito contra os pesqueiros
industriais, a quem responsabilizam pela redução dos estoques pesqueiros. Esse
problema econômico gerou instabilidade social e tensão, levando os mais jovens ao
abandono das tradições, dilema que se repete em muitas outras comunidades
tradicionais Brasil e mundo afora, conforme AGUIAR R; (2013).
Num dado momento, se descobriu que as sociedades distribuíam de forma
diferente a organização do trabalho. Elas foram então classificadas dentro de dois
graus distintos de integração dos indivíduos: a solidariedade mecânica e a
solidariedade orgânica, conforme AGUIAR R; (2013).
47
Na solidariedade mecânica as atividades de subsistência são desenvolvidas
sem observar uma rigorosa divisão do trabalho, podendo a mesma tarefa ser
desenvolvida por membros de categorias sociais distintas. Já na solidariedade
orgânica, a sociedade está formada por unidades díspares, ou grupos especializados,
envolvidos de forma estrita em suas funções, conforme AGUIAR R; (2013).
48
Fonte: wordpress.com
50
alma substancial, seja como estudo empírico da alma, do qual jamais se poderiam
extrair asserções universais.
Com relação à forma, a Antropologia busca se distanciar da psicologia ao evitar
uma correspondência entre apercepção e sentido interno, nesse sentido, a
Antropologia jamais aborda uma alma como substância, ficando restrita ao
conhecimento do Eu objeto, disperso, fenomênico, conforme SILVEIRA F; (2015).
Foucault dirá que a Antropologia está em consonância com os desígnios da
Dialética transcendental, que denunciava a confusão entre a representação simples e
vazia do Eu e a compreensão da alma como substância. Esta confusão gera a ilusão
de que haveria uma substância especial – a alma – o que, com efeito, não passa de
uma hipóstase da função de unificação da consciência; um paralogismo, conforme
SILVEIRA F; (2015).
No entanto, fica resguardado o espaço à psicologia empírica como uma espécie
de “fisiologia do sentido íntimo” cujos conteúdos dependem das condições da
experiência ([2008], 2011, p. 51 apud SILVEIRA F; 2015). Neste ponto, Foucault
chega ao questionamento definitivo na investigação acerca das relações entre
psicologia e antropologia e, dentro dele, ao desafio central envolvido nas relações
entre o conhecimento antropológico e a ilusão antropológica:
51
A função do espírito enquanto um princípio não é organizar o ânimo,
constituindo-o como um ser vivo ou como ser absoluto, mas, antes, fazer nascer, na
passividade de sua determinação empírica, “o movimento fervilhante das ideias”
([2008], 2011, p. 55 apud SILVEIRA F; 2015). É com este movimento que o Gemüt
pode “fazer algo de si mesmo”, sendo este o maior uso empírico possível da razão
([2008], 2011, p. 55 apud SILVEIRA F; 2015).
Foucault faz notar que o espaço possível desta conclusão se dá numa
compreensão da ideia, “liberada de seu uso transcendental”, e considerada apenas
no âmbito de seu uso empírico, tendo um importante papel organizador na vida
concreta do espírito ([2008], 2011, p. 54 apud SILVEIRA F; 2015).
52
devido a tendências “naturais” da razão. Na primeira, a de abandonar o
âmbito da experiência possível em função do uso puro e, na segunda, a
de se perder em seu próprio jogo devido à abertura ilimitada à
possibilidade;
O espírito (Geist) poderia vir a ser compreendido como o princípio
fundamental da filosofia kantiana, “o núcleo da razão pura”, tendo um
caráter paradoxal, uma vez que é, ao mesmo tempo, a origem das
ilusões transcendentais e o juiz do retorno à legitimidade:
O Geist seria o fato originário que, em sua versão transcendental, implica que
o infinito jamais esteja aí, mas sempre em um essencial recuo – e, em sua
versão empírica, que o infinito anima, contudo, o movimento em direção à
verdade e a inesgotável sucessão de suas formas. O Geist está na raiz da
possibilidade do saber. E por isto mesmo indissociavelmente presente e
ausente nas figuras do conhecimento: ele é este recuo, esta invisível e “visível
reserva” na inacessível distância a partir da qual o conhecer adquire lugar e
positividade. Seu ser consiste em não ser aí, delineando, com isto mesmo, o
lugar da verdade. Fato originário que, em sua estrutura única e soberana,
sobrepuja a necessidade da Crítica e a possibilidade da Antropologia ([2008],
2011, p. 57 apud SILVEIRA F; 2015).
Fonte: yellowstonerecovery.com
54
realidade já dada de sínteses passivas, operadas para além da consciência e da
unidade do “eu penso”. E uma vez que o mundo se oferece antropologicamente como
âmbito de sínteses já operadas, o sentido interno se dá como consciência daquilo que
o homem sofre (leidet), não podendo mais se referir ao tempo como forma pura da
subjetividade, conforme SILVEIRA F; (2015).
O eu, na Antropologia, não sou transcendental, lugar das formas puras, e
identifica-se antes com o “ser sensível” do homem. Já o tempo é algo que está mais
próximo do mundo e da natureza, ligado às vicissitudes do corpo humano em suas
determinações empíricas. Isso não significa, contudo, que o tempo seja compreendido
ontologicamente, conforme SILVEIRA F; (2015).
Ele é “antropológico”, e se dá nas sínteses já operadas entre a existência
humana concreta e o mundo cosmopolítico. O “Eu” não impera aqui como lugar
originário destas sínteses, conforme SILVEIRA F; (2015).
No período final de redação da Antropologia, Kant troca correspondências com
o matemático Jakob Beck, nas quais a ênfase dada à sensibilidade e a questão das
sínteses operadas fora do Eu são discutidas. De acordo com Foucault, nestas
correspondências podem ser observados os temas maiores da Crítica:
A relação com o objeto;
A síntese do múltiplo;
A validade universal da representação (FOUCAULT [2008], 2011, p. 29
apud SILVEIRA F; 2015).
Segundo a objeção de Beck a Kant, haveria um problema incontornável
atrelado à representação do objeto por parte do sujeito. Se, diz Beck, a representação
é constituída pelo sujeito, como saber se ela não se torna solipsista e incomunicável
aos outros? Como ter certeza de que, na representação, o sujeito não apenas atribui
algo de si mesmo, na representação do objeto? Kant teria respondido à objeção
apelando para a ideia de “composição”. Não é no sujeito que deve estar o lugar de
encontro entre as representações partilháveis, mas do lado do objeto, enquanto este
afeta os próprios sujeitos, compondo com eles um conjunto partilhável, conforme
SILVEIRA F; (2015).
55
A representação é comunicável porque é o objeto, em uma relação de
composição com o sujeito, que torna possível a partilha, a comunicabilidade do
conhecimento ([2008], 2011, p. 28-30 apud SILVEIRA F; 2015). Foucault faz notar que
esta discussão é central para a maneira como a antropologia compreende o homem;
enquanto habitante de um mundo, e em constante relação com os outros.
Esta discussão desembocaria no problema do conhecimento de si. Ao tomar a
si mesmo como objeto, o sujeito não estaria efetivamente conhecendo, mas apenas
cindindo o Eu em Eu-objeto, de um lado, e Eu-sujeito, de outro. Esta discussão evoca
o problema das relações entre entendimento e sensibilidade na qual estará implícita
uma rejeição de Beck à consistência e à autonomia da sensibilidade, conforme
SILVEIRA F; (2015).
Em uma palavra: atribuir à sensibilidade um caráter de consistência neste
conhecimento significaria abdicar inteiramente de uma unidade sintética da
apercepção e, portanto, admitir uma inexorável cisão do sujeito, conforme SILVEIRA
F; (2015).
De acordo com SILVEIRA F; (2015), o texto da Antropologia apresenta uma
resposta implícita às objeções de Beck justamente no alto grau de relevância atribuído
à sensibilidade no processo de conhecimento:
Eu, como ser pensante, sou de fato um mesmo sujeito comigo, como ser
sensível, mas como objeto da intuição empírica interna, isto é, enquanto sou
afetado internamente por sensações no tempo, simultâneas ou sucessivas,
só me conheço como apareço a mim mesmo, não como coisa em si mesma.
Pois isso depende da condição do tempo, que não é um conceito do
entendimento (portanto não mera espontaneidade); por conseguinte, de uma
condição com respeito à qual minha faculdade de representação é passiva (e
pertence à receptividade) (KANT [1798b], 2006, §7 apud SILVEIRA F; 2015).
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Uma decorrência destas objeções de Beck seria o problema da distinção entre
filosofia teórica e prática ([2008], 2011, p. 30 apud SILVEIRA F; 2015). Enquanto
objeto da natureza o homem é determinado, mas enquanto conhece através de
representações e representa a si mesmo, ele se eleva a uma condição de ser de
liberdade, pois se torna ciente de suas faculdades. Também esta resposta aparece
como questão de peso na Antropologia, cujo domínio de possibilidade está ligado,
como vimos, justamente ao horizonte de uma liberdade que congrega teoria e prática.
A antropologia pragmática seria:
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O próprio “eu” na Antropologia, de acordo com Foucault, é destituído do poder
de unificar o múltiplo em sínteses, uma vez que se encontra disperso em meio ao “já
dado”, sem que se possa atribuir a ele um ponto primitivo de origem, conforme
SILVEIRA F; (2015).
5 A PSICOLOGIA E A ANTROPOLOGIA
De acordo com ANDRADE et al., (2010), as relações entre essas duas ciências
são bastantes estreitas, uma vez que ambas têm como foco de interesse o
comportamento humano. A antropologia ocupa-se do comportamento grupal e a
psicologia, do comportamento individual.
Os antropólogos buscam, nos dados levantados pelos psicólogos, explicações
para a complexidade das culturas e do comportamento humano e para a interpretação
dos sistemas culturais relacionados com os tipos de personalidade correspondentes.
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Indaga-se, assim, quais seriam os móveis da conduta social e qual o papel da cultura
no processo de adaptação humana, conforme ANDRADE et al., (2010).
Fatores biológicos, ambientais e culturais são as variáveis explicativas das
diferenças individuais, que determinam os diversos tipos de personalidade básicos
das culturas. Na tarefa de proceder a esse conhecimento, antropólogos e psicólogos
auxiliam – se mutuamente, fornecendo dados que propiciam a compreensão de
problemas comuns, conforme ANDRADE et al., (2010).
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6 BIBLIOGRAFIA
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TEREZA JARDIM PEREIRA, Gardênia; GOMES SANTOS, Patrícia Sinara.
Antropologia e método etnográfico: uma contribuição para a compreensão das
culturas: Anthropology and Ethnography: a contribution to the understanding
of cultures. Periodicos, [S. l.], p. 1-9, 1 out. 2015.
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