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Instituto Superior Politécnico Tocoísta

DECRETO PRESIDENCIAL Nº 83/16 DE 18 DE ABRIL – DIÁRIO DA REPÚBLICA, I SÉRIE Nº 61

I- ANO
ISPT - TRANSVERSAL

LUANDA/2023
Ficha Técnica

Autor:

Regência de Ética e pensamento Social


Santos Manuel João – Prof. Mestre
Santomadomba@gmail.com
https://app.periodikos.com.br/journal/santomadomba

Organização Cientifico-Pedagógica

Dr. Santos Manuel João


Dr. Fernando Lunga
Dr. Simão Gonçalves João
Dr. João Dombaxe Sebastião
Dr. Valdez Alberto
(ISPT)

Edição:

2ª – Revisada e actualizada

Impressão:

Tiragem:

1 – Exemplar

Copyright:

© Print/Biblioteca; ISPT – 2023 - Todos os Direitos Reservados


Todo o conteúdo desta obra (seja ele textual ou gráfico),
Constitui propriedade intelectual do Corpo Editor.
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Índice
Unidade I – Origem do Tocoísmo……………………………………………………….. 4
1. Conceito do Tocoísmo. ............................................................................................................. 5

1.1. O conceito do Antropomorfismo no Tocoísmo. ..................................................................... 5

1.1.1. Conceito do Antropomorfismo ............................................................................................ 5

1.1.2. Símbolos identificativos do Tocoísta. ................................................................................. 6

1.1.3. O Conceito do poder Supremo. ........................................................................................... 6

2. O prisma filosófico e objecto do Tocoísmo .............................................................................. 8

2.1. Caracterização de membros do Tocoísmo. ............................................................................. 9

Unidade – II ............................................................................................................................... 11

2.1. Meta ética e ética aplicada.................................................................................................... 11

2.1.1. Ética normativa - que é a Meta ética (moralidade)........................................................... 12

2.2. A ética utilitarista. ................................................................................................................ 13

2.2.1. O princípio da utilidade ..................................................................................................... 14

2.2.2. O utilitarismo..................................................................................................................... 14

2.3. Ética consequencialista......................................................................................................... 15

2.3.1. O Cálculo utilitário ............................................................................................................ 17

Unidade - III .............................................................................................................................. 17

3.1. Tocoísmo - consciência da dignidade e igualdade. .............................................................. 17

3.2. Olhar Sincrético Ocidental ao Tocoísmo (Leopoldville 1946 – 1950). ............................... 18

3.3. Tocoísmo desafia Ocidente - luta espiritual. ........................................................................ 19

3.4. Verdades contrárias em Africa. ............................................................................................ 20

3.5. Barreiras éticas na política educativa colonial em Angola. .................................................. 21

3.6. Dependência independência. ................................................................................................ 21

3.7. Tocoísmo na era de Identidade dos Indígenas. ..................................................................... 24

3.8. Visão do Tocoísmo na descolonização do conhecimento. ................................................... 26

3.9. A luta contra o racismo epistemológico no Evangelho. ...................................................... 28

Bibliografia ................................................................................................................................ 29
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Unidade I – Origem do Tocoísmo.


0. Introdução.

Todas sociedades, constituem – se por um povo com ideias de orgulho de pertença, motivadas péla
razão. A razão sempre prevalece em organizações profundas, que resistem dificuldades, até
escrever sua história. No início do pensamento social, desde a Antiguidade as pessoas tinham o
interesse em compreender o comportamento da matéria, razão de criarem teorias do conhecimento.
Também eram mistério certos aspectos do Universo, tais como a forma da Terra e o
comportamento dos objectos celestiais. O Tocoísmo, surge em Africa no fim da década 40 do
seculo passado, considerado como um povo sem escrita, sem arquivos, não tinham Estado, mas
guiados por disciplina divina.

Enquanto isso, seu Líder Patriota Simão Gonçalves Toco, reivindica dentro do período colonial
uma história completa. Para ser completa, tal história deveria também interessar – se pelo que as
outras civilizações produzissem sobre a alternidade que eles encontraram, e mesmo sobre a
alternidade ocidental.

Enquanto estratega, o Patriota Simão Gonçalves Toco, aplicou aquele “Princípio do Difuso
através do Infuso” de Sun Pin que afere: ao veloz oponha também um veloz, pois ele ficara
cansado, se ele for distante aumenta a distancia, se o caminho é curto, incurta ainda mais o
caminho. Aplicando este princípio, sempre que o colono transferisse o Nacionalista com o
objectivo de parar a sua actividade, o mesmo fingia que parava (engodo) mas incentivava ainda
mais a actividade espiritual – religiosa, criando novos pequenos grupos; (Santos A. d., 2019, p.
17) e nossas pesquisas permitem compara – lo com Sun Pin, Filósofo que se tornou general cujo
nome individual era Wu, nascido no Estado de China próximo de 500 a.C. em um auge das ciências
militares. (GOMES, 2007)

A integridade do Fundador do Tocoísmo no seu tempo, era notória que até então a história tinha
englobado todas as sociedades, mas quando se constituiu a história do progresso, Europa
acreditava ser a única humanidade susceptível de se transformar rapidamente; o resto ficou para
os géneros menores do domínio científico ou literário – os homens primitivos que viviam lado a
lado com os monstros, cujos autóctones são uma variedade de fauna. Após resistência, o Tocoísmo
quer escrever sua História, cujas gerações exprimem seu pensamento no património intangível,
com base na fé e na razão.
5

1. Conceito do Tocoísmo.
Conceito – é prática multicultural dos seguidores de Toco, na interacção em Deus partindo de
explicações racionais com auxílio do espirito santo (Santos J. M., 2021). Pelo índice do menor
grau de concordância filosófica e incerteza trazida em pesquisas teóricas.
Os seguidores são determinantes e fieis intérpretes da causa divina por intermédio dos
ensinamentos de Simão Gonçalves Toco, baseados na Bíblia. Aliás tal procedimento já tinha sido
observado no Congo Belga a quando da prisão do Profeta a 22 de outubro de 1949, em que os
discípulos não permitiam que seu líder ficasse aprisionado sozinho, pelo que entregaram – se
voluntariamente em número considerável, a ponto de preencherem duas prisões (a de Ndolo e
Filtra). Na mesma linha do cântico. (Santos A. d., 2019, p. 82); (Enciclopédia, 2018, p. 109) matéria
que falaremos ao longo do semestre.

1.1. O conceito do Antropomorfismo no Tocoísmo.

É do domínio geral que a maioria das culturas possuem uma longa tradição de fábulas, onde os
protagonistas são homens que representam formas reconhecíveis de comportamento de Deus ou
Deus expressando a forma humana. Diversas motivações podem influenciar o antropomorfismo,
como por exemplo, a falta de conexões sociais com outras pessoas, que acaba por motivar
indivíduos solitários a buscar conexões com entes não-humanos. Assim, o antropomorfismo actua
como uma ajuda no sentido de simplificar e dar maior sentido a episódios complexos da existência
humana.

1.1.1. Conceito do Antropomorfismo

O termo é a atribuição de características ou comportamentos humanos a Deus, animais não


humanos, deuses ou objectos; (Stella Arnt Rosa, 2018, p. 154) O termo Antropomorfismo é uma
combinação de duas palavras: Antropos ═ (homem) Morfé ═ (forma) Os conceitos de
Antropomorfismo e antropopatismo, servem na verdade para atribuir as características de humanos
a Divindades; porquanto este último é teológico.

O antropopatismo - é um termo usado mais propriamente na teologia para se referir ao acto de


colocar no Deus cristãos sentimentos propriamente humanos. Assim, o amor, a tristeza ou a
saudade são propriedades humanas, e não necessariamente de Deus, que é espírito. Cada cultura,
tem sempre uma forma de interpretar o seu mundo segundo sua mentalidade colectiva. Na
6

psicologia, por exemplo encontramos conceitos para explicar fenómenos complexos de natureza e
aqueles que são extraterrestres.

Mentalismo - é definido como uma doutrina segundo a qual, para além dos fenómenos físicos e
fisiológicos, há também fenómenos espirituais ou mentais que podem ser estudados através da
introspecção, espiritualidade dos mundos profundos. (Tabernáculo)

1.1.2. Símbolos identificativos do Tocoísta.

Atendendo que o movimento fundado por Profeta Simão Toco decorreu num período de opressão
colonial, tinha por convicção expressar seus ideais de forma discreta. A revolução para defesas do
direito dos povos autóctones em Africa, exigia dos Lideres estratégias na comunicação entre o
sagrado e o material. Considerando que o símbolo tem como objecto de materializar o imaterial,
e além da beleza estética, expressa a tradição ancestral, conectando o passado ao presente. Isto
denota que o símbolo exerce uma função de informar ou comunicar e até mesmo de interpretar de
forma significativa aquilo que estar relacionado ao sagrado como também ao cosmo. No
Tocoísmo: a Bandeira, o Distintivo, o Sino, o Hino de Aberturas solenes e de Encerramento, a
Efigie Oficial do Profeta, acaba de ser adicionada em memória esta última, na identificação dos
membros do grande Movimento Tocoísta pertencente a INSJCM. (Enciclopédia, 2018)

1.1.3. O Conceito do poder Supremo.

O Tocoísmo é uma ponte para chegar ao Cristianismo com carrega sincrética bastante elevada,
pois Simão Toco revela a personalidade central do movimento que opôs – se ao evangelho de
colonização. Assume, portanto, características de entidade Divina, na visão cosmo - antropológica
Africana, cuja religião toma o nome de apodo: Nzambi – ya – Simão Toco, traduzido; Deus de
Simão Toco. As religiões do oriente, por sua vez, como o cristianismo também traziam sua carga
de prática antropomórfica, em especial, a ideia acerca da natureza de Jesus Cristo, se esta seria
divina, humana, ou reunia as duas ao mesmo tempo. A postura de negação a figuras divina é muito
antiga nas sociedades, como também acontece no Tocoísmo, com a pessoa do seu fundador, o
Patriota Simão Toco. Registros históricos nos mostram que uma das principais e mais controversas
discussões em torno da Escola de Frankfurt referia - se à religião e à espiritualidade, pois, para eles,
o cristianismo representava o ressurgimento institucional da filosofia pagã, e Deus seria uma mera
ficção. A religião, segundo eles, levava as pessoas a projectarem seu sofrimento em uma entidade
divina; servia como distracção da miséria causada pelo capitalismo. Como os frankfurtianos
7

acreditavam na libertação e no desenvolvimento de uma consciência crítica, opuseram-se


totalmente a esta visão teocentrista imposta pelo cristianismo; (Liziany Müller Medeiros, 2018, p.
45) .

A Escola de Frankfurt tinha como finalidade fazer uma investigação social sobre a industrialização
moderna. Este movimento se iniciou na Alemanha e foi denominado instituído de pesquisa social.
Mas os produtos da indústria cultural levam inevitavelmente à alienação porque não induzem o
homem a se situar na realidade social, económica e histórica, nem a pensar criticamente sobre sua
situação no mundo; (Liziany Müller Medeiros, 2018, p. 49). Esta tarefa pertence a personalidades
Divinas que tem o espirito de profecia. Importa recordar que Émile Durkheim encontrava a
explicação das sociedades não influenciarem a existência de outras culturas que já existem, quer
do Rosseau que critica a sociedade do seu tempo ao conceito do (bom selvagem) atribuído ao
homem africano, pois para o Ocidente, a possibilidade de existir personalidade Divina em Africa
é vedada. Sabemos que existe filósofos da Teoria Crítica (teoria base da Escola de Frankfurt)
consideram na verdade, duas modalidades da razão: a razão instrumental ou razão técnico-
científica, que está a serviço da exploração e da dominação, da opressão e da violência, e a razão
crítica ou filosófica, que reflecte - se sobre as contradições e os conflitos sociais e políticos e se
apresentam como uma força libertadora na definição epistemológica.

O nascimento do Tocoísmo na década de 40 do século passado, debatia – se com incertezas de sua


afirmação na sociedade contra conceitos legitimados na visão ocidental do seu tempo. Sabendo
que nas sociedades vivemos num mundo onde cada vez mais há incertezas. (...) O problema é como
enfrentar e rejuntar a incerteza. Todos nós, quando percebemos alguma coisa no nosso campo de
visão, temos uma perceção complexa, pois com o olhar podemos ver o conjunto, selecionar e isolar
uma coisa entre outras ou passar de uma para outra, indo da parte ao todo e do todo à parte. Mas,
se aplicamos espontaneamente a perceção complexa, é muito mais difícil alcançar um
conhecimento complexo, pois conhecer é sempre poder rejuntar uma informação a seu contexto e
ao conjunto ao qual pertence (MORIN, 1997, p. 9), citado por; (Liziany Müller Medeiros, 2018,
p. 52)
8

2. O prisma filosófico e objecto do Tocoísmo

O Tocoísmo hoje em dia, está entre as mais renomadas comunidades Cristas na sua região Austral
da África, além da interpretação de um simples prisma filosófico, o movimento é ajustado ao
conceito de Igreja Tocoísta, o que no seu sentido; não é. O Tocoísmo não é uma ciência, mas sim
um processo sobre o qual decorre o ensino da Palavra de Deus 1 , visando o desenvolvimento
cultural e das capacidades cognitivas - operativas destes: “Tocoísmo decorre dentro da Igreja de
Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo como Instituição religiosa de caracter Crista, de âmbito
universal, sem fins lucrativos, apartidária, constituída de fiéis, independentemente do género,
origem ética, nação de origem, local de nascimento, ou condição sócio – económica, com
autonomia administrativa, financeira, jurídica e patrimonial2. (Estatutos, 2016, p. 14).”

Objecto evangélico – espiritual; - no surgimento do Tocoísmo, embora esteja


ausente o processo didáctico e sistemático, foi sempre pedagógico embora sua literatura não foi
comunicada de forma estruturada por meio de escrita, os fiéis precisavam de instruções (Lojas
espirituais) para ingressarem nas actividades eclesiásticas do mundo espiritual. O Profeta, usa a
própria cultura no contexto de cada localidade, para passar a doutrina salvífica. Simão Toco,
desmarca - se do método clássico da antiguidade do período medieval; usando hinos, contos e
provérbios a fim de proporcionar evangelização significativa.

Objecto Social. – A prática do Tocoísmo é exercida dentro da Igreja, sendo assim um


fenómeno social, embora não é cultura social. Ela desenvolve – se com a sociedade, na educação
e no ensino por imitação das boas práticas. Estas práticas de convivência social, acabam de afundar
suas raízes na sociedade. Os conhecimentos transmitidos na doutrina Tocoísta e na esfera produtiva
dos fiéis, de geração em geração, não teriam cunho social se não fossem transmitidos em função
do desenvolvimento da sociedade: na construção de Estação de Rádio, Escolas, Hospitais e
Universidades (1946). (Enciclopédia, 2018, pp. 74; III - 7). Nas relações Igreja /Estado, promove
o cumprimento escrupuloso da Lei Magna e de outras Leis que conformam o ordenamento jurídico
do País em que está sedeada, orando a Deus pelas autoridades constituídas, a fim de que haja paz
e prosperidade entre os povos. (Estatutos, 2016, p. 45; Art 77 n 2).

1
Poder de um ser supremo, com varias formas de tratamento, que varia de povo em povo.
2
Nestes termos, o Tocoísmo é praticado dentro da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e assenta na primazia
do bem comum, no desenvolvimento do espirito de solidariedade, no respeito da vida e da dignidade humana, na sã
convivência das nações e povos, para a harmonia mundial (valores). (Estatutos, 2016, pp. 16 e Art 9; n - 1).
9

Finalidade da Cultura Tocoísta. – Existem dois momentos indissociáveis na Cultura Tocoísta; a


recreação e o evangelho, activos dos conhecimentos e hábitos em condições específicos de cada
região. São notáveis relações dinâmicas entre elas, porquanto a composição temática é feita com
base nas explicações racionais com auxílio do espirito santo. (Hinos, Nkembo, Cultos solenes,
dominicais, campais etc.);

“Muitas pregações de Simão Toco, a história não pode registar, mas


paralelamente as pregações a mensagem do Profeta e dos Tocoístas ficou
estampada nos hinos, pois estes surgiram em auxílio aos sermões. Porém. Simão
Toco escreveu vários hinos em que deixa bem claro o pensamento e com
sentimento de se libertarem do jugo colonial (Santos A. d., 2019, p. 79)”.

2.1. Caracterização de membros do Tocoísmo.

a) Caracterização Física – (vestimenta e gastronomia). – Os membros Tocoístas, do género


masculino e feminino, tem o dever de se vestirem com rigor e aprumo, não devendo usar vestes
cujas características não de coadunam com os princípios bíblicos e professados pela INSJCM,
não sendo permitido: o uso de roupas transparentes nem bermudas; de bigode ou barba, uso de
jóias, que o membro do género masculino Tocoísta não use cabelo crescido; que o membro de
género feminino Tocoísta use saias ou vestidos acima dos joelhos ou maquilhagem
extravagante.

Em suma, a apresentação dos cristãos obedece igualmente às normas éticas e protocolares


convencionadas socialmente em que a Igreja não está dissociada enquanto organização social que
congrega seres humanos. (Estatutos, 2016, p. 100; Art 104; n 1 e 2) Na gastronomia, é geral: não
comer carne de porco, nem bebidas alcoólicas…Etc.

b) Caracterização Psíquica – (dons e talentos) - os fieis seguidores de Simão Toco e a doutrina


do Tocoísmo, defende – se o princípio de serem Voluntários de cristo em Fileiras. Entende –
se assim, serem responsáveis pela defesa da honra e pureza desta doutrina. É patente o
cumprimento do princípio doutrinário:

“Obediência ao Espirito Santo, assente no cumprimento escrupuloso de todas as


orientações e ensinamentos dimanados pelos órgãos vocacionados para o efeito
(Estatutos, 2016, p. 16; Art 8 ; a))”
10

Os membros Tocoístas possuem dons e talentos, que no âmbito das actividades afins,
desempenham de acordo as competências individuais. A incumbência dos deveres a que o membro
está adstrito constitui infracção disciplinar, punível nos termos do Regulamento Geral da Igreja.
(Estatutos, 2016, p. Idem). É de notar que dons, são saberes inatos enquanto os talentos
compreendem as habilidades de um saber – fazer.

Dons – estes surgem de forma involuntária. As pessoas sem fazerem nenhum esforço, acabam de
ter vigor interiorizado com domínio de um ofício ou vaticínio, como no caso: Vates e Vaticinadoras
(Senhoras). Vates – são pessoas que entram em transe com uma força divina e ficam habilitados
em interpretar fenómenos com visão probabilística.

“Os membros Tocoístas, tiveram pela primeira vez o impacto do “dom do espirito Santo”, às 00.00
horas na noite de 24 á 25 de Julho de 1949 na Rua de Mayengue 159, na sua residência, juntou no
total trinta e seis pessoas (Ele incluso) com o objectivo de se perguntar a Deus para quando é que
Africa receberia o verdadeiro Espirito Santo. Das trinta e seis pessoas inicialmente presentes, antes
da meia – noite, desistia uma permanecendo somente trinta e cinco. As 00.00 horas (meia noite)
depois de três orações sucessivas de modo intempestivo ouviram e sentiram um estrondo, como
que de uma trovoada se tratasse, acompanhada de um feixe luminoso de alta intensidade e
incidência a irradiar a casa toda, seguido de um impetuoso vento que se terá abatido sobre os
presentes provocando de imediato reacções muito estranho, isto é, revestidos espiritualmente de
Espirito Santo. (Enciclopédia, 2018, p. 105)”. Surge com efeito a
Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo3

3
A Efusão do Espirito Santo, aconteceu numa Sexta – feira, 25 de Julho de 1949, a casa do papá Kinavuidi, na Cité
Indígena de Leopoldville, vai – se enchendo de pessoas. São na sua maioria, zombos – ou … Akongo angolanos
emigrados da região do Uíge em Angola que encontravam – se la para ouvir os ensinamentos do profeta Simão Tôco.
11

Unidade – II

2.1. Meta ética e ética aplicada.

A ética é a área da filosofia, como estrutura do estudo utilizando as regras morais. É necessário
antes de falarmos do Tocoísmo, aprofundar um pouco do conceito do utilitarismo, usado por seu
Líder, Simão Toco. Inicialmente o conceito de utilidade desenvolvido por Bentham, que por sua
vez, com foco nas consequências das acções, visa à maximização da felicidade e a minimização
da dor, politica que tornou o Tocoísmo movimento de massas; das prisões 1951 às grandes
peregrinações - 2000. Na ética age – se com a consciência, logo, necessariamente tem o objecto
de estuda que é a moralidade. Falar de ética e moral dentro do conhecimento filosófico, não é a
mesma coisa. No senso comum, é a mesma coisa. Etimologicamente, temos a mesma ideia, mas
com significados diferentes.

Dentro da história do conhecimento, não temos os mesmos conceitos. Enquanto a ética faz suas
reflexões sobre moral. Compete a Meta ética lembrar – nos da literacia de Simão Toco no domínio
da dor e uso do prazer que levou – lhe a saber o certo e o errado durante a caminhada do seu
movimento – Tocoísmo.
A natureza colocou o género humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a
dor e o prazer. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer, bem como
determinar o que na realidade faremos. Ao trono desses dois senhores está
vinculada, por uma parte, a norma que distingue o que é recto do que é errado, e,
por outra, a cadeia das causas e dos efeitos (BENTHAM, 1979, p.02). Acredita
(Amanda Cardoso Barbosa, 1979., p. 5)

O Tocoísmo vai nascer no meio de uma colonização ocidental. Os princípios doutrinários


ensinados por Simão Toco eram uteis para indivíduos e colectivo. O mestre vai usar ao que
identificamos de noção do utilitarismo de Bentham na interpretação científica. A defesa da
maximização da felicidade parte da necessidade de identificação tanto dos interesses do indivíduo,
quanto dos que estão envolvidos na acção, facto esse que possibilita a inserção significativa dos
termos certo e errado em determinadas situações. (Amanda Cardoso Barbosa, 1979., p. 2)
12

2.1.1. Ética normativa - que é a Meta ética (moralidade)

A ética pode ser baseada de diversas maneiras, dado conhecimento de vários autores. Várias são
as concepções éticas de autores que falaram desta moralidade. Meta ética – uma espécie de
ramificação da ética, área de estudo do comportamento humano e nos conceitos basilares, bem
como o sentido das descrições das acções morais:

Ex: o que é o bem? Como diferenciar? O certo e errado? Qual a natureza dos conceitos? Natureza
dos juízos? Contextos culturais e Universais? O que conduz o individuo a fazer o mal e o bem! a
definição do pecado! Salvação. Heresia. Escravidão. Homem bomba. Pena de morte, etc.

A ética normativa pode ser concebida como pesquisa destinada a estabelecer e defender como
válido ou verdadeiro um conjunto completo e simplificado de princípios éticos gerais e também
outros princípios menos gerais, importantes para conferir uma base ética às instituições humanas
mais relevantes. A Meta ética trata dos tipos de raciocínio ou de provas que servem de justificação
válida dos princípios éticos e também de outra questão intimamente relacionada com as anteriores:
a do "significado" dos termos, predicados e enunciados éticos. Pode - se dizer, portanto, que a
Meta ética está para a ética normativa como a filosofia da ciência está para a ciência. Quanto ao
método, a teoria Meta ética se encontra bem próxima das ciências empíricas. Tal não se dá, porém,
com a ética normativa.

Desde a época em que Galileu afirmou que a Terra não é o centro do universo, desafiando os
postulados ético-religiosos da cristandade medieval, são comuns os conflitos éticos gerados pelo
progresso da ciência, especialmente nas sociedades industrializadas do século XX. A sociologia,
a medicina, a engenharia genética e outras ciências se deparam a cada passo com problemas éticos.
Em outro campo da actividade humana, a prática política antiética tem sido responsável por
comoções e crises sem precedentes em países de todas as latitudes. (Amanda Cardoso Barbosa,
1979., p. 14).

Enquanto decorriam as torturas, desterros, prisões e mortes, o fundador do Tocoísmo, usa a teoria
que consideramos também utilitarista: por princípio da utilidade entende - se aquele princípio que
aprova ou desaprova qualquer acção, segundo a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a
felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos,
segundo a tendência a promover ou comprometer a referida felicidade. Qualquer acção, com o que
tenciono dizer que isto vale não somente para qualquer acção de um indivíduo em particular, mas
13

também de qualquer acto ou medida de governo (BENTHAM, 1979, p.10). retomado por (Amanda
Cardoso Barbosa, 1979., p. 1). A morte dos Tocoístas era inevitável, para manter a invencibilidade
do movimento que futuramente veio ser Igreja.

A criação da leitura dos conceitos: Virtudes, Valores, Consciência- moral; leva – nos a estudar
estes processos na Metaetica. (será que teremos conceitos universais, morais com a mesma
interpretação?)

Falar da Ética normativa - o ser humano, existe para cumprir normas e para contestar também as
regras. Desde a idade Média, a ética racionalista, estava associada á ética normativa pois que a
partir das leis da física de Isaac Newton, a sociedade passou a ser vista como máquina, onde a ética
atenderia e regularia seu funcionamento. Enquanto a teoria evolucionista de Charles Darwin
possibilitou conceber a moral como produto da evolução do comportamento humano. A moral foi
sempre a linha para guia da razão nas acções humanas, como acredita Kant. Ela prossegue seus
objectivos de guiar o homem através da razão e experiencia sem ambiguidades entre ambos.

Ética aplicada – tem um direcionamento com temas ligados naquilo que é público ou privado.
Nestas definições, muitos escritores e autores medievais, legitimaram conceitos em defesa de
certas práticas culturais. A ética como sabemos, está virado muito ao lado privado, o que é feito
dentro de mim. A felicidade da Polis, da cidade e o que não posso fazer enquanto cidadão sem
merecer o que merecia.

A política esta virada ao lado do público, enquanto a ética faz grandes reflexões místicas, claras
na exigência da felicidade de todos por direito.

Ex: a Bioética – defende o direito a própria vida. Manipulamos a vida do individuo e á do publico,
assunto que a metaética, procura dentro de uma discussão encontrar a razão desta orientação, moral
e cultural do homem, com o uso: cadeia, julgamento, enforcamento, tortura, apedrejamento etc.
Conhecemos que o mundo contesta regras. Orientação: escrita e cultural. -

2.2. A ética utilitarista.

A teoria surgiu no século XIX e logo se espalhou pelo mundo contemporâneo segundo Jeremy
Bentham criou um método para calcular as melhores acções éticas que inaugurou a mentalidade
do mundo moderno. Sua intenção era dar uma base científica para o funcionamento dos governos
e grupos sociais, sendo sua teoria usada até os dias de hoje. Entendemos ser esta a filosofia que
14

Simão Toco usou para manter a baliza que vai levar seus compatrícios ao cristianismo na Angola
colonial.

2.2.1. O princípio da utilidade

Este princípio “consiste em construir o edifício da felicidade através da razão e da lei”


(BENTHAM, 1979, p.09), retomado por (Amanda Cardoso Barbosa, 1979., p. 4) O Tocoísmo
ficou constituído como pertença cultural na perspectiva utilitária dos autóctones do seu tempo.
Quanto ao problema da sucessão carismática (1983 - 2000), já que, embora fosse complexo
classificar Simão Toco na mesma categoria de líder onde colocaríamos Simon Kimbangu ou outros
profetas africanos, (em muitos aspectos Toco aproxima - se mais a um reformador como Lutero,
embora noutros seja identificado com características mais proféticas e / ou messiânicas, também é
verdade que partilha com os profetas tidos como mais “clássicos” ou ocidentais.

Para muitos autores na esteira de Weber, o carisma não é reproduzível, mas é alvo de processos de
rotinização, burocratização. É de notar que em volta de um líder carismático, não é passível de
recriação, mas converte - se numa estrutura política organizada a partir de directrizes supostamente
ditadas pelo líder desaparecido, apresenta: (João, 2017), na experiencia do ministério. No
Tocoísmo aqui em causa, o desaparecimento físico de Simão Toco exponenciou um problema de
sucessão, traduzido em conflitos violentos entre distintos protagonistas, sectores e alianças. Estes
conflitos são de uma complexidade difícil de resumir para comunicações públicas. No entanto,
começaremos por referir que, entre outras coisas, esses conflitos têm muito a ver com problemas
de geração, memória e presença: são perceptíveis divisões entre membros da comunidade religiosa
em causa que se recordam efectivamente da “presença” do profeta entre eles e aqueles que não a
lembram – mas que em alternativa reinventam novas maneiras de o tornar “presente” nas suas
vidas e actividade religiosa.

2.2.2. O utilitarismo

O utilitarismo como doutrina que se originou na Inglaterra, por Jeremy Bentham (17481832) e
John Stuart Mill (1806-1873), acaba de fazer ponte na análise filosófica em relação ao Tocoísmo
dos nossos tempos. Hoje, em Angola e na diáspora angolana, a ala “Golf” é, do ponto de vista
demográfico, mediático e financeiro, a hegemónica. Mas persiste em qualquer caso uma dimensão
conflitiva que envolve em particular o problema da memória do profeta, da sua trajetória biográfica
e dos seus ensinamentos, outros Grupos - Tocoístas: frequentemente vive - se, nestes conflitos, de
15

acusações de “apagamento”, “manipulação” ou “reescrita” da história Tocoísta, mediadas pela


legitimação política da questão geracional.

Em outras palavras, uma disputa sobre “quem detém o Tocoísmo verdadeiro” após o
desaparecimento de Simão Toco, reside apenas nas raízes tribais dos naturais do norte de Angola.
Essa doutrina é muito actual e seus argumentos são utilizados frequentemente nos processos
decisórios, seja no âmbito particular, militar ou político, justamente por se enfocar mais nas
consequências. Trata - se de uma teoria ética consequencialista, na qual se definem anteriormente
os bens a serem atingidos ou protegidos. E o Direito seria o meio de consegui-los. Do património
intangível, os vários Grupos estão associados á nómina do líder fundador Simão Toco, o qual de
forma pejorativa é chamado “Deus” ; ao tentar explicar de forma errada o significado dos nomes
na visão africana o Nzambi. A característica mais notória do Tocoísmo na visão do seu líder, é o
da liberdade do homem cativo pela opressão colonial do então. Na razão do ser humano que busca
o prazer e foge da dor. E este seria o embasamento para uma filosofia jurídica crítica e também
como modelo para o legislador hábil controlar e dirigir o comportamento social; acredita Bentham
citado por; (Yabiku, 2011, p. 2)

Nesse sentido, ele defendeu a idéia de que o princípio que rege tanto as acções individuais quanto
as sociais é: a busca da felicidade para o maior número de pessoas, incutindo aos homens a
necessidade de resistência perante a evangelização colonial. A sociedade é um sistema de
recompensas e punições, e a tarefa do governo consiste em garantir a estrutura para a
implementação das punições e as condições para que os indivíduos possam desfrutar das
recompensas que se seguem de seus próprios esforços (Yabiku, 2011, p. 4)

2.3. Ética consequencialista.

O consequencialismo considera que o agente moral deve sempre realizar um cálculo para prever o
resultado de sua acção. Entre as possibilidades, o agente deve optar pela acção que proporcione a
maior quantidade de prazer ao maior número de pessoas possível e pela maior quantidade de
tempo. Com o surgimento do Tocoísmo na Africa Ocidental no século XIX durante a ocupação
colonial, a repreensão fascista de Salazar, não fazia – se esperar. O Autor da Obra “Última
Digressão”, trás – nos números assustadores; (João, 2017)

Os Colonizadores Portugueses com intenção de exterminar a reivindicação dos indígenas


colaboradores de Toco, lançavam uma ofensiva em toda Angola, tendo assim massacrado no Norte
e Oeste, 3.590 - membros, segundo relatório dos Sobas (Autoridades locais que administravam o
16

poder colonial), na década de 50/60 isto é 1956 – 1962. Os massacres eram extensivos em todas
localidades onde os Tocoístas encontravam – se aprisionados, tendo degolado 2.629 - membros no
Sul de Angola, submetendo – os á provas difíceis de suportar: enrolavam – os algodões absorvidos
de gasóleo, e queimavam – os vivos; alguns eram arrancadas as línguas; cortejados as orelhas
etc…eram acusados de forma injustificada, proclamarem um Reino de Paz, cujo Profeta seria o
Governante. Os Milícias orquestravam informações fundadas saídas do Boletim de Informação No
4 do Quartel-general de Luanda, de 31 de Março de 1958, segundo as quais: os Tokoistas tinham
um novo Cristo Negro do qual Simão Toco era Profeta; (João, 2017, p. 25)

Desta informação, foram mortos 6.219 - membros Tokoistas contados em várias localidades, pois a acusação
segundo tradução errada das palavras pronunciadas por Tokoistas em língua kicongo, acusavam –
os revelavam a reivindicação da reposição do território Angolano aos autóctones. Anunciavam sim
um Reino celestial cujo Rei é o Cristo, o que é Bíblico, (pesquisado na Torre do Tombo em Lisboa-
2015).

Mapa dos massacres copiado dos Arquivos da Torre do Tombo/2015- Lisboa (Foto - Santos); Academia.edu,
(João, 2017)

Quando é necessária uma quantidade de dor para alguns para que ocorra o maior número de prazer,
deve-se reduzir ao máximo os danos possíveis. Por isso, atribui-se a Bentham um utilitarismo
17

quantitativo, pois visa apenas à quantidade de prazer; (Maura, 2012, p. 6) – um paralelo usado por
Simão Toco, manter o movimento dentro de uma africa de dor e sofrimento, simbolizando assim
aquele período com insígnia de: Estrela de oito pontas com um fundo vermelho. Era linguagem
por insígnia, a morte por causa justa.

2.3.1. O Cálculo utilitário

Na ética consequencialista, quando em situações difíceis, implica que o agente moral deve visar,
como finalidade, a uma acção moral que beneficie o maior número de pessoas da melhor maneira
e, caso seja necessário prejudicar alguém em detrimento da maioria, que os prejuízos sejam os
menores possíveis; (Maura, 2012, p. 6). Foi com este espirito conjugado que os Tocoístas passaram
em torturas carnificinas, para manter o movimento que futuramente passou a ser Igreja
exponencialmente erguida afirmando – se na sociedade.

Unidade - III
3.1. Tocoísmo - consciência da dignidade e igualdade.

O Tocoísmo considera que os valores de uma sociedade são construídos com base não apenas em
aspectos sociais, políticos ou culturais, mas também em aspectos religiosos. Apesar de as diversas
tradições religiosas surgidas em Angola terem formas próprias de propor seu modo de
comportamento, pois surgem em culturas e momentos distintos da historia, á do Tocoísmo tem
uma congruência com a luta de libertação do jugo colonial em Angola.

Do modo geral, seus princípios éticos podem colaborar para uma mudança positiva do mundo em
que vivemos. Isso se os princípios religiosos forem vividos por seus seguidores tanto nos aspectos
sagrados, durante cultos e celebrações, quanto fora deles, no dia a dia em quaisquer situações
influenciando a sociedade onde estão inseridos, pela consciência que:

Natureza é elemento sagrado

Terra é mais que lugar de moradia.

Sabedoria dos mais velhos tem valor; (Mikoski, pp. 60 - 71)

O Tocoísmo considera sim, que a ética supõe: respeito e cuidado com os membros da comunidade,
consciência da dignidade e igualdade de todos, respeito com a natureza, uma vez que ela tem
caracter sagrado. Os valores religiosos são também morais, justificados pela fé e associados aos
18

ensinamentos de uma doutrina religiosa. Esses valores podem variar de acordo com aquilo que,
culturalmente, uma religião constrói como sendo a base para o comportamento de seus seguidores.
No entanto, alguns valores podem ser comuns a diferentes religiões, como: o amor, a solidariedade,
o respeito e a própria fé. Esses valores servem de orientação para as ações das pessoas e se
relacionam diretamente com os ensinamentos de cada uma das tradições religiosas.

A diferença entre Tocoísmo e outras religiões é a inspiração Espiritual em vida corpórea, cujos
denominam – se Vates e Vaticinadoras, este último, refere - se aquelas do género feminino.
Quando possuídos ao espirito santo, interpretam a Bíblia em semelhança de Profetas. Por natureza,
não são categorias decisoras nas questões da religião ou da Igreja; podendo assim suas profecias
ser objecto de análise e reflexão.

3.2. Olhar Sincrético Ocidental ao Tocoísmo (Leopoldville 1946 – 1950).

Atendendo que os debates desenvolvidos por intelectuais Africanos, consagrados na luta pela
autodeterminação dos povos, no combate ao etnocentrismo e ao racismo, na proposição de
alternativas para a construção da justiça social e da democracia em seus respectivos países,
decorreu na década de 40 do seculo passado. Os Belgas que ocupavam o Congo, tanto outros
colonizadores ingressados na NATO, mantinham um olhar atento ás organizações indígenas
tendentes a desafiar contra suas politicas: Indirect Rule e o Assimilacionismo.

A ideia nacionalista de Simão Toco era notável nas congregações a que fazia parte. Ver
(Enciclopédia, 2018) Segundo o instrumento jurídico – legal que formalizava a expulsão dos
Tocoístas do Ex – Congo Belga para Angola, constava datada de 8 de dezembro de 1949, cuja
transcrição traduzida:

“Atendendo a que os indígenas originários de Angola, cujos nomes a seguir se indicam, praticam e
manifestam o desejo de continuar a praticar os ritos de uma doutrina mítico – religiosa
hierarquizada, pregando uma ordem nova que sob o Reino de um novo Cristo derrubará as
autoridades e os poderes actuais, para tomar o seu lugar e fazer reinar a justiça (Enciclopédia,
2018)”

A influência negativa dos Missionários na liberdade dos nativos Africanos, surgiu como estratégia
da época e das necessidades missionárias do pós-guerra que levaram á realização da Conferencia
Regional da África Central Ocidental de 1946. A mesma foi realizada pelo Conselho Missionário
Internacional, a Conferencia das Missões Estrangeiras da América do Norte e os Conselhos
19

Regionais Cristãos das áreas abrangidas pela Conferencia (Enciclopédia, 2018, p. 68). Importa
recordar que durante a década de 40, crescia cada vez mais a intenção dos nativos africanos
imporem seus direitos.

3.3. Tocoísmo desafia Ocidente - luta espiritual.

Portugal sendo país que já fazia parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte – NATO -
como uma aliança político-militar criada em 4 de abril de 1949, isto é, três meses antes da descida
do espirito santo (25 de julho de 1949) em Leopoldville, ano que relembra a Igreja de Nosso Senhor
Jesus Cristo no Mundo e o consequente surgimento do Tocoísmo. Portugal integrado na NATO
durante a Guerra Fria, desafiava qualquer organização dos nativos em clandestinidade, com dedo
apontado ao Tocoísmo, na defesa transatlântica Ex – Congo Belga – Angola.

Portugal apresentou a sua candidatura a membro de pleno direito da Organização das Nações
Unidas (ONU) em 1946, tendo sido logo recusado, situação que se repetiria anualmente até 1955,
ano da adesão efetiva, a 24 de fevereiro de 1956 o Secretário-Geral das Nações Unidas lhe dirigiu
carta, bem como aos demais dezasseis novos Estados - Membros, na qual lembrava as obrigações
exigidas pelo Capítulo XI dos que possuíssem territórios não - autônomos. Portugal mantinha ainda
seus territórios como províncias ultramarinas, partes integrantes da Metrópole, não sujeitos,
portanto, aquelas determinações de descolonização (defendiam – se).

Com a oração de Simão Gonçalves Toco, dirigida á Deus no ano de 1956, para que: “o poder e
força do Espirito Santo se manifestasse em toda a extensão da província do Uíge, (Quibeta, 2001,
p. 43) surgiram várias manifestações do fenómeno espiritual, embora muitas delas, hoje não são
tão vulgares na literatura oral. Passados 2 dias, que Portugal recebia a carta do Secretário-Geral
das Nações Unidas já no dia 26 de fevereiro de 1956, os Tocoístas da Aldeia Quitsangu no Bungo
– Uíge, haviam manifestado sob forma efusiva inspirados espiritualmente pela necessidade de o
Governo Português retirar – se dos territórios colonizados. Foi um acto considerado de rebelião,
tendo provocado milhares de Tocoístas mortos.
Quanto na verdade, a Assembleia – Geral da ONU, sob Comissão Especial que estudava o assunto,
e as suas conclusões, apresentadas já em 1960, foram contrárias ao ponto de vista do Governo
Português: não eram autónomos os territórios ultramarinos de Portugal - o Arquipélago de Cabo
20

Verde, a Guiné Portuguesa, as Ilhas de São Tomé e Príncipe e Angola.4 As consequências do surto
de Quitsangu no Bungo – Uíge surgiram, muitas acusações contra os Tocoístas5, (João, 2017, pp.
27; https://www.infopedia.pt/$admissaode-portugal-pela-onu).

3.4. Verdades contrárias em Africa.

Algumas individualidades divinas do século: XVIII - XIX em Africa, que sobressaíram com
atenção especial aos colonizadores ocidentais, figuram:

1. Mundungazi – Ngungunhane – 1850/ Moçambique.


2. Isaiah Shembe – 1870 – Igreja Sionista/ Africa do Sul
3. Willianm Wade Harris – Libéria
4. Haile Salassie – 1892 – Rás – Tafari/ Etiópia.
5. Simão Kimbangu - 1887 / Congo Zaire.
6. Joseph William E. Appiah – 1893/ Gana
7. André Matsowa – 1899/Africa Equatorial Francesa – Brazzaville.
8. Olumba – Olumba Obu – 1918/Nigéria.
9. Simão Gonçalves Toco – 1918/Norte de Angola.

Quando o imperador Haile Selassie foi destituído em 1974, os três mil anos da dinastia de Salomão
na Etiópia chegaram ao fim. No entanto, a história da Rainha de Sabá continua viva ainda hoje. A
rainha é para muitos um símbolo de beleza, amor e paz e alguém que se esforçou na busca de
conhecimento. Já para os etíopes, ela é uma verdadeiro ícone: https://www.dw.com/pt-002/rainha-
de-sab%C3%A1-uma-viagem-embusca-do-conhecimento/a-44487846.

O grupo é liderado por Olumba Olumba Obu, o fundador. Ele nasceu em 1918.Por anos, ele foi o
líder do grupo. Ele finalmente deixou o cargo em 1999. Ao contrário do cristianismo tradicional,
esta organização acredita que Olumba Olumba Obu é o Espírito Santo. No entanto, Obu disse: “Eu
não sou Jesus Cristo ou Deus”. O grupo leva o amor por outros homens, reencarnação,
vegetarianismo e veganismo a sério. Eles também acreditam em Deus e em Jesus, cujas realizações
são consideradas inferiores ao papel de Obu, que é completar a obra deixada inacabada por Jesus.

4
Os colonizadores diminuíam apenas o índice da tortura e as consequentes lapidações nas prisões onde encontrava –
se os Tocoístas, mas mantinham – se no poder político do território Angolano.
5
Destaca - se o Boletim de Informação No 4 do Quartel-general de Luanda, de 31 de março de 1958, segundo a qual:
os Tocoístas tinham um novo Cristo Negro do qual Simão Toco era Profeta.
21

https://www-bcs--ukorg.translate.goog/olumba-olumba-obu/who-is-this-man-ooo/. Destacando
apenas estes.

3.5. Barreiras éticas na política educativa colonial em Angola.

A integração do indígena passava por ele adquirir algumas condições e o ensino literário era uma
das condições. Neste processo de integração do indígena na sociedade através do ensino, as
missões religiosas jogaram um papel bastante determinante. Elas foram as pioneiras da introdução
do ensino literário em Angola. Existiam dentro dum sistema de administração colonial e apesar de
terem pensamentos específicos sobre o ensino, que consistiam em construir a cidade espiritual na
cidade terrena, obedeciam a uma política colonial de ensino. As escolas indígenas foram criadas
dentro dum contexto em que a mentalidade colonial entendia os povos como fragmentados e de
cultura rudimentar, sem organização política estável. O Estado sentia - se no dever de construir
escolas para ajudar a tirar os indígenas da situação em que se encontravam.

Os indígenas eram considerados como povo atrasado que pelo seu próprio esforço não podia
adquirir o conhecimento das verdades da fé, nem elevar as suas condições de vida. Sendo assim o
Estado e a Igreja achavam-se no dever de civilizar e elevar a cultura dos indígenas. O objectivo da
política era a integração das populações nativas na nação Portuguesa, pela transformação
progressiva dos seus usos e costumes. Para os colonizadores, num determinado momento do
período da monarquia constitucional se entendia que as colónias eram o prolongamento do solo da
pátria portuguesa e que os nativos teriam os mesmos direitos que os colonos e que não haveria
descriminação entre eles, já noutro período aparecem leis criminais para indígenas e leis criminais
para os não indígenas, o que Simão Toco protestava por meio da religião.

Para os colonizadores que em 1911 já estava publicada a Lei da Separação do Estado e da Igreja,
no ano de 1926 as missões adquirem personalidade jurídica e é publicado o Estatuto Orgânico das
missões pelo Ministro João de Belo. As reivindicações dos direitos por meio de religião usadas
por Simão Toco, tinham efeitos seguros e lentos num território colonizado; contesta alteração de
procedimentos nas escolas missionarias; (Enciclopédia, 2018, pp. 97 - 99)

3.6. Dependência independência.

O grande momento do ensino indígena entre o Estado Português e a Santa Sé foi marcado pela
assinatura da Concordata e do Acordo Missionário de 1940 e com a publicação do Estatuto
22

Missionário de 1941. Estes documentos vieram oficializar o papel das missões religiosas no ensino
indígena. Foi concedido à Igreja Católica o direito e a responsabilidade, em termos jurídicos, de
fundar e dirigir escolas para os indígenas. Depois de 79 anos, a situação repete – se: Retomando
Simão Toco; (Enciclopédia, 2018, p. 97)

O Jornal de Angola, aos 14/10/2021 última atualização 05h10, “Os termos do Acordo Quadro
entre o Governo angolano e a Santa Sé, celebrado em setembro de 2019, já podem ser
materializados, com a entrega formal, na terça-feira, dos instrumentos jurídicos e administrativos
sectoriais”. Da parte angolana, os sectores da Justiça e da Educação são os que mais benefícios
vão ter com a implementação do acordo. Por exemplo, casamentos realizados pela Igreja Católica
passam a ter validade na ordem jurídica angolana. Noutras palavras, quem se casar numa Igreja
Católica não vai precisar de fazê-lo numa conservatória do registo civil. A ideia é acabar com a
questão do casamento civil e religioso. A cooperação entre o Governo angolano e a Igreja Católica
no sector da Educação é antiga. Muitas são as escolas comparticipadas.

Com efeito, em nosso entender, neste sector, o Acordo-Quadro apenas veio formalizar a relação
que já existia. A historia conta que é nestas escolas que implementavam os diplomas e artigos que
colocavam os indígenas da outra margem dos colonizadores. Na
Portaria Provincial nº 183 de 27 de Outubro de 1922 encontramos 4 artigos que espelham o receio
de uma convivência entre os indígenas e colonos. O art.º. 14 diz que «fora dos bairros indígenas
só poderão morar europeus e os naturais de Angola que, pelo seu estado de civilização, façam vida
europeia e habitem em casas de tipo europeu». O art.º. 15º diz que «nas povoações dotadas com
bairros indígenas será absolutamente proibido a moradia de indígenas fora desses bairros. O arto
16º diz que será absolutamente proibida a moradia ou a pernoita de qualquer europeu nos bairros
indígenas;
https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/5192/1/lino2.pdf

Vicente Ferreira, ministro das Finanças e Colónias durante a República e alto-comissário em


Angola entre 1926 e 1928, nomeado procurador da Câmara Corporativa, insurge-se
veementemente contra a convivência entre colonos e indígenas. Num dos seus actos havia proposto
uma lei de separação entre brancos e negros. Norton de Matos dividia os habitantes de Angola nas
seguintes categorias:

Os silvícolas ainda não influenciados pelo viver próprio dos brancos, com os seus costumes
próprios;
23

Os europeus que se embruteceram em contacto com os autóctones e adoptaram costumes e hábitos


correspondentes;

Os nativos assimilados, mas sem ocupação útil, residentes nos subúrbios das cidades, conhecidos
pela designação de calcinhas, na linguagem corrente;

Os naturais que adaptaram costumes civilizados, integrando-se na vida social em moldes europeus;

Os brancos que formavam o núcleo orientador por excelência, promotor da elevação cultural,
económica e social. https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/5192/1/lino2.pdf

Com o surgimento do Instituto Superior Politécnico Tocoísta em Luanda, um olhar do


Promotor, está virado com ideias Pan – africanistas, conjugadas com outros pensadores:

“Os programas e cursos devem sofrer profundas modificações, a partir de


uma perspectiva africana. A história é uma fonte na qual poderemos não
apenas ver e reconhecer nossa própria imagem, mas também beber e
recuperar nossas forças, para prosseguir adiante na caravana do progresso
humano. Se tal é a finalidade desta História Geral da África, essa laboriosa
e enfadonha busca, sobrecarregada de exercícios penosos, certamente se
revelará fecunda e rica em inspiração multiforme. Pois em algum lugar sob
as cinzas mortas do passado existem sempre brasas impregnadas da luz da
ressurreição; (UNESCO, 2010, p. 55)”.

Importa recordar que a Conferencia Missionaria Internacional Missionaria de 1946 realizada á 19


á 25 de junho em Westerville, Ex – Congo Belga, foi palco de várias discussões contra a
epistemologia racial por parte dos participantes. Dirigindo – se aos Missionários, o Reverendo
Gaspar de Almeida, disse: a maneira como iniciaram a aclamar de luz aos vossos Países,
procedimento igual deve registar – se em Africa e aos Africanos. Os nossos pais trajavam – se de
panos, mas hoje usamos calças, casacos, camisas, sapatos, etc. será que a importância dessa luz é
apenas para os africanos? Africano para ter luz, tem de ser ensinado com a verdade e na verdade.
Só assim teremos luz, porque nós africanos também somos pessoas como vós; (Enciclopédia, 2018,
p. 79)

É de lembrar também que foi o Reverendo Gaspar de Almeida quem dirigia uma oração depois
que decorriam três dias de trabalho da Conferencia, pedindo direito ao aumento da ciência e
desenvolvimento social e cultural aos autóctones Africanos.

Pastor Jessé Chiúla Chipenda: suplicou pedindo direito ao desenvolvimento económico financeiro
de África e aos pretos ganharem dinheiro como os brancos.
24

Simão Gonçalves Toco: pediu o direito de acesso ao Espirito Santo de Deus, para que iluminasse
a Africa que encontrava – se sobre as trevas do pecado e em consequência, determinar o aumento
da palavra de Deus em todo o mundo; (Enciclopédia, 2018, p. 74)

Nas petições e outros procedimentos que os africanos convidados á conferencia faziam, era clara
demonstração de descontentamento, revolta e reivindicação silenciosa de seus direitos.

O Tocoísmo foi desde sempre um movimento de resistência a opressão colonial, que colocavam
em frente de sua governação os Missionários. Os missionários, ao contrário, sentiam -se obrigados
a tentar alterar o que encontravam e, nessas condições, um certo grau de conhecimento da história
da África poderia ser-lhes útil; (UNESCO, 2010, p. 62)

3.7. Tocoísmo na era de Identidade dos Indígenas.

O conceito indígena levar-nos-á a ver como estava estratificada a sociedade Angolana. Havia os
assimilados e os indígenas. Hoje, sabemos que uma boa parte da elite que levou Angola à
independência surgiu das zonas rurais, chamadas indígenas e que os seus estudos começaram nas
escolas indígenas. Com o Acto Colonial de 1930 os territórios passaram a chamar - se colónias
portuguesas. Em 1954 foi publicado o Estatuto do indígena que foi o reafirmar da existência das
leis para os indígenas e das leis para os colonos. Sampaio de Melo, um ilustre professor de Política
Indígena da Escola Superior Colonial, declarava que o Estatuto Indígena «não se aplica senão aos
indígenas de raça negra, ou descendentes dessa raça, que pelos seus usos e costumes e pela sua
instrução não se distingue do comum da sua raça.

No processo de ensino indígena, interessa-nos bastante saber o papel das missões religiosas e, de
modo particular, o papel das Missões Católicas. Muitas destas missões estavam implantadas no
interior de Angola, isto é, nas zonais rurais. Entre muitos protagonistas que podemos encontrar no
ensino indígena estavam os missionários: “BMS” Sociedade Bíblica Missionaria no Norte,
Missionários Congregacionistas no Centro e Missionários Presbiterianos no Sul de Angola.

Foi neste cenário que Simão Toco criou um documento que ele denominou de Cartão de Cristão,
identificando todos Tocoístas. Desviando – se da caderneta que o colonizador utilizou para
cadastrar os africanos, vulgo indígena. Para Simão Toco, o cartão de Cristão indicava que os
Tocoístas tinham uma identidade crista, e não de indígenas ou assimilados. O cartão de
identificação, dava ao associado da Igreja um estatuto de pertença social que reduzia o sentido das
categorias impostas pelo colonizador. (Santos A. d., 2019, p. 97)
25

Do mesmo autor, avança que: a identidade Tocoísta constituía – se de um elo social entre os
adeptos que por meio de um reportório de crenças, valores partilhados e utilização de símbolos,
identificavam – se e sentiam – se fortalecidos por pertencer ao meio social religioso comum. O
cartão traz dois capítulos que deixam bem patente a luta de Toco contra o regime colonial. Do
lado esquerdo do cartão está estampado o capitulo de Apocalipse 6:10 – 13 e do lado oposto, porem
o direito está estampado o capitulo de S. Lucas 6: 22 – 23. Os capítulos estampados no cartão do
cristão deixam bem claro o posicionamento de Simão Toco. O primeiro a clamar pela justiça e no
segundo a pedir perseverança ante as atrocidades porque dias melhores viriam e que seus fieis não
estranhassem a forma brutal como estes os tratavam, pois pertenciam a uma linhagem que sempre
maltratou os profetas. É este tipo de mensagem que o colonialista não gostaria que fosse divulgada.

Não por acaso que Salazar ex. – Presidente de Portugal e das colonias, ordenava a detenção de
Simão Toco, cujo pano do fundo estava na força da sua mensagem evangelizadora que galvanizava
as massas em prol de um nacionalismo religioso angolano da modernas corrente Pan-africanistas;
(Santos A. d., 2019, p. 98) O Pan-africanismo como se conhece, apegava – se nos valores
igualitários (que se opunham às desigualdades) cujas coexistiam da ordem social democrática.

No mesmo sentido, defendiam que as sociedades contemporâneas eram sustentadas por mitos
legitimadores de orientação oposta: os que legitimavam a desigualdade entre grupos sociais (como
as teorias raciais, o sexismo ou as teorias nacionalistas) e os que se opunham e promoviam a
igualdade entre grupos, como a ideia de direitos humanos universais, já consagrados em 1948;
Simão Toco, faz seu jogo democrático saído do Iluminismo no Ocidente, com o povo do
campesinato. É claro retomarmos que:
“os Iluministas espalhados pela Europa toda, acabavam de unir ideias perante
lacunas éticas, virando para uma nova dinâmica nos estados Europeus, Sec. XIX”.

Outra característica do meritocrático profeta Simão Toco que é identificada nesta estratégia, foi o
uso da Estrela como símbolo de identidade de seus membros. No histórico do distintivo, sofre duas
atualizações, até a terceira que actualmente existe que é branca com oito pontas num fundo verde.
A estrela é colocada usualmente do lado esquerdo da camisa ou do casaco, usada por mulheres e
crianças baptizadas. Bem como aparece também desenhada nas paredes dos Templos. Simão Toco
na entrevista que concedeu a Silva Cunha explicava que a estrela mostrava áfrica ter recebido o
espirito santo. Quanto ao número de pontas, os Tocoístas argumentam que as pontas simbolizam
o oitavo reino, cujo Rei será Nosso Senhor Jesus Cristo, retomando Quibeta, 2002: 179, citado
por; (Santos A. d., 2019, p. 95)
26

3.8. Visão do Tocoísmo na descolonização do conhecimento.

A visão de Simão Toco na descolonização do conhecimento do homem no seu saber fazer,


conjuga-mo – la, com a da Adilbênia Freire Machado, quando disse: “reflectir a filosofia africana
compreendendo - a como plural, diversa é uma ética de cuidado e de pertencimento, tecendo - se,
como uma poética de encantamento, implicada com o bem-viver, a potencialização da vida numa
relação comunitária e relacional desde o corpo inteiro. (Machado, 2019, p. 1) “

Este foi o rumo do Tocoísmo e desse modo, ao pensarmos a filosofia africana desde o paradigma
da ética do cuidado temos a perspectiva do conhecimento como prática de liberdade e
engajamento, abertura para o Outro, para o diverso. É importante pontuar que conhecimento usado
para destruição é pior do que sua ausência, é fundante que usemos o conhecimento como
responsabilidade partilhada e comprometida com a vida, do contrário estamos fazendo o que o
conhecimento ocidental, europeu, brancocêntrico, patriarcal fez e faz. Conhecimento só liberta
quando pautado na potência da vida, qualquer que seja ela, onde possamos ver nossas semelhanças
com os diversos, nossa humanidade é fonte e potência de vida. (Machado, 2019, p. 4)

Não implica que tenhamos que silenciar, sermos acríticos, ao contrário, sermos críticos, porém
numa perspectiva construtiva e não destrutiva, pois que é a colonialidade que mata e ensina a
matar, é a colonialidade que nega a vida, nega o conhecimento, pois o conhecimento é vida, assim,
nega o pertencimento por que pertencer implica encantar-se com o viver. A colonialidade tem
medo da vida, odeia a vida. É importante demarcar que a colonialidade não odeia todas as vidas,
mas algumas, fundamentalmente a do povo preto, do povo negro, africano e afrodescendente, dos
povos originários. A colonialidade hierarquiza o valor das vidas, desde a criação dos seus
“Outros”. Mas a visão de solidariedade de Simão Toco, vem de longa data:
De acordo com Grenfel, Profeta Simão Toco dinamizava a missionação de sua região, exerceu uma
grande e benéfica influencia sobre os rapazes daquela região. Criou projectos de socialização,
cursos nocturnos para adultos e constantes actividades entre jovens e crianças que o mantinham em
estreita relação com a sua comunidade - 1937; (Enciclopédia, 2018, p. 96).

A solidariedade do profeta a que se refere, é porque os Missionários não eram muito sensíveis que
os angolanos concluíssem a 4ª Classe, remetendo – os para níveis primários. O professor Simão
Toco, batia – se com insistência contra essa tendência negativa dos Missionários, tendo em função
dessa pressão anuíam que os alunos passassem a concluir o Ensino Primário. Essa postura de
27

Simão Toco colheu simpatia e reconhecimento do Povo do Bembe; (Enciclopédia, 2018, p. 97).
Ajustando os ideias do Profeta, Adilbênia
Freire Machado faz – nos lembrar ao parafrasear bell hooks (2006, p. 197), quando diz:

“se escolhemos dedicar nossas vidas à luta contra a opressão, estamos


ajudando a transformar o mundo em um lugar onde gostaríamos de viver,
bem-viver, em um lugar onde todas as pessoas, seus saberes e culturas sejam
valorizadas. Implicando-se em uma cura pessoal e coletiva, pois que acura
pessoal é, também, social, coletiva, desse modo, uma ética infinita do
cuidado, do cuidar-se, do pertencer, de uma poética de encantamento,
(Machado, 2019)”

Destacamos assim em vários contextos que Simão Toco inconformados dirige Carta Aberta aos
Missionários, em tom contestatária, manifestando clara e firmemente o seu descontentamento no
sentido de serem alterados alguns procedimentos incorretos, injustos, ilegais e desumanos, a que
os autóctones estavam sujeitos; assim essa foi a filosofia expressa em hinos e cânticos dominados
por todos Tocoístas; (Enciclopédia, 2018, p. 97). Para o Tocoísmo, a argumentação da causa de
liberdade de expressão na terra nativa, tal é um processo comunicativo, dar espaço ao dialogo entre
dois pontos de vista. Esta posição de Simão Toco querer ensinar aos autóctones a filosofia de
discussão era considerada como subversão ás ideias da politica salazarista:

“Se o debate e a discussão se podem instalar, é porque a realidade em


questão não é evidente, mas suscita, pelo menos, dois pontos de vista
diferentes. Assim, ao nível das ideias, é incontornável a existência de pontos
de vista divergentes, (Maria Paiva, 2010, p.
62)”.
28

3.9. A luta contra o racismo epistemológico no Evangelho.

Na visão do nacionalista Simão Toco, desde 1951 e á do Tocoísmo, é que: numa terra onde
prevalece a supremacia dos brancos, a vida dos negros é permeada por questões políticas que
explicam a interiorização do racismo e de um sentimento de inferioridade. Esses sistemas de
dominação são mais eficazes quando alteram nossa habilidade de querer e amar.

Nós negros temos sido profundamente feridos, como a gente diz, “feridos até o coração”, e essa
ferida emocional que carregamos afecta nossa capacidade de sentir e consequentemente, de amar.
Somos um povo ferido. Feridos naquele lugar que poderia conhecer o amor, que estaria amando.
A vontade de amar tem representado um acto de resistência para os Africanos. Mas ao fazer essa
escolha, muitos de nós descobrimos nossa incapacidade de dar e receber; como acredita (Machado,
2019, p. 64). Em condições similares, Simão Toco, reivindicava com protesto aos Missionários da
British Missionary Society (BMS), dizendo:

“ muita boa vontade tenho de continuar a exercer minha profissão nessas


missões, tanto no ensino no qual fui imposto pela Inspeção Geral do ensino
Primário em Luanda, assim como no Serviço Evangélico de que faço
também parte, embora tivesse eu mais habilitações no infinito grau e não
me queixasse com isso, porquanto tenho que me contentar com a sorte,
conforme o destino mandar ou, conforme a misericórdia divinal;
(Enciclopédia, 2018, p. 97)”
O Tocoísmo tinha um passado nojento de aglutinar as massas, mediante epistemologia racial com
que foi escrita sua historia durante o período colonial em vários documentos como movimento
subversivo. A filosofia do seu Líder Simão Toco, levou seus fieis continuadores com grande
convicção progressiva até aos dias de hoje. O essencial é proceder à crítica interna desses
documentos através do conhecimento íntimo do gênero literário em questão, sua temática e suas
técnicas, seus códigos e estereótipos, as fórmulas de execução, as digressões convencionais, a
língua (Terrorista – Tocoísta) em evolução, o público e o que ele espera dos transmissores da
tradução; acredita (UNESCO, 2010, p. 42)
29

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