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LUIZ HENRIQUE TORRES

RIO GRANDE: IMAGENS QUE


CONTAM A HISTÓRIA

PLUSCOM

2018
2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R5854 Rio Grande: imagens que contam a História / Luiz Henrique Torres. 2ª ed.,
rev. e ampl. Rio Grande: Pluscom Editora, 2018.

80p.

Bibliografia

ISBN: 978-85-9491-034-9

1. História da cidade do Rio Grande 2. História - Brasil 3. Fotografia. 4.


Espaços públicos. I. Torres, Luiz Henrique. II. Título

CDU : 94(81).082 CDD:981


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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO/5
CARTÃO POSTAL/7
A VILA DO RIO GRANDE EM 1776/8
HOMENS E AREIAS/9
A VILA DO RIO GRANDE EM 1824/10
COMÉRCIO DO CHARQUE/11
PORTO VELHO EM 1852/12
RUA DIREITA/13
PRAÇA XAVIER FERREIRA/14
A VINDA DE D. PEDRO II/15
PRAÇA TAMANDARÉ/16
PRAÇA DO QUARTEL/17
CATEDRAL DE SÃO PEDRO/18
IGREJA DO BOMFIM/19
CEMITÉRIO DO BOM FIM/20
CEMITÉRIO DO CARMO/21
IGREJA DO SALVADOR/22
IGREJA DA CONCEIÇÃO/23
RUA MARECHAL FLORIANO EM 1865/24
COMÉRCIO NA RUA RIACHUELO/25
PRAÇA TAMANDARÉ/26
A PRAÇA DOS ENFORCADOS/27
A PRAÇA DO POÇO/28
RUA MARECHAL FLORIANO EM 1865/29
RUA EWBANK/30
FESTEJOS DO SETE DE SETEMBRO/31
2º PRÉDIO DA ALFÂNDEGA/32
CAIS DA BOA VISTA/33
O TRABALHO NO PORTO/34
NAVIOS E NAVEGANTES/35
MERCADO PÚBLICO/36
AS RUAS DA CIDADE/37
RUA BENJAMIN CONSTANT/38
PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL E BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE/39
O TEMPO, O VENTO E A AREIA/40
PORTO VELHO EM 1876/41
SANTA CASA/42
PRÉDIO DA ALFÂNDEGA/43
A ERA DOS CAMINHOS DE FERRO/44
CIDADE NOVA/45
4

TRINCHEIRAS/46
QUARTEL DO 6º GAC/47
ANTIGA CASA/48
O CASARÃO DO RASGADO/49
QUARTEL GENERAL/50
O BALNEÁRIO CASSINO/51
CHALET DA PRAÇA TAMANDARÉ/52
ESTAÇÃO MARÍTIMA/53
COMÉRCIO NO PORTO VELHO/54
RUA GENERAL BACELAR/55
RUA RIACHUELO/56
CAIS DO PORTO VELHO/57
LEAL SANTOS/58
FÁBRICA RHEINGANTZ/59
CASSINO DOS MESTRES/60
A AVENIDA RHEINGANTZ/61
PORTO NOVO/62
AVIAÇÃO COMERCIAL/63
COMPANHIA DE TECELAGEM ÍTALO-BRASILEIRA/64
SWIFT/65
PORTO NOVO/66
CONSTRUÇÃO DOS MOLHES DA BARRA/67
O SETE DE SETEMBRO/68
TEATRO POLITEAMA/69
CHAFARIZ DA PRAÇA XAVIER FERREIRA/70
ESTÁTUA DA LIBERDADE/71
MONUMENTO A BENTO GONÇALVES/72
CLUBE CAIXERAL/73
REFINARIA IPIRANGA/74
CENÁRIOS DE 1940/75
SOCIABILIDADES/76
IGREJA DO CARMO/77
RUA MARECHAL FLORIANO NA BELLE ÉPOQUE (1900)/78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/79
O AUTOR/80
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Introdução

A cidade, em sua essência, é um


espaço civilizatório onde a construção e a
utopia da cidadania se processa. Espaço
de vida, morte, alegria e sofrimento,
especialmente, um espaço de construção
de experiências sociais, culturais,
psicológicas, econômicas e políticas. Na
cidade podemos vislumbrar o trabalho
humano que a modela, que desenha
detalhes estéticos a serem contemplados
com admiração, outras vezes com
indiferença e indignação. A cidade é o
nosso portal para as experiências
existenciais e para as contradições
humanas, para a busca de justiça social.
Espaço de afetividade, de procura pelo
impalpável e até de frustração.
A cidade é um encantamento a ser
construído todos os dias. O cais, o fluxo
das águas na Barra do Rio Grande, a
passagem das embarcações, a paisagem
das ilhas, as aves na praia do Cassino,
são partes de uma natureza que instiga,
mas, que somente o nosso olhar pode
transformar em encantamento. Daí que a
cidade é construída de energias e de
sensibilidade para poder escutar suas
vozes, inclusive, as vozes do passado.
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Para o historiador, olhar a imagem


congelada da cidade numa fotografia
originalmente feita em vidro é um
passaporte para o imaginário. A dinâmica
da mudança urbana alterou os cenários,
requintando a estética e por vezes,
mutilando a beleza e deixando marcas
esquálidas de fealdade naquelas ruas e
casarões outrora tão belos. A cidade
Antiga com suas ruas, prédios e
personagens captados e congelados na
imagem, retoma a vida num movimento
que depende de nossa vontade. Sabemos
que o objeto e o personagem foram levados
pelo fluxo do tempo, são ruínas ou cinzas,
mas que o fluxo infinito do nosso
pensamento continua a produzir cores,
movimentos e vida ao que não mais existe.
Os textos são uma provocação para
olhar estas fotos com empatia para fazer
um movimento imaginário no tempo.
Nestas fotos, está um pouco da cidade do
Rio Grande, este espaço do Brasil tão
próximo da Bacia Platina, que com os seus
braços de pedras abertos para a navegação
mundial, encontra no fluxo doce da lagoa
dos Patos e salgado do Oceano Atlântico,
o seu sentido mais profundo: uma janela
aberta para o mundo.
Luiz Henrique Torres
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CARTÃO POSTAL

Este cartão postal alemão, um clássico “gruss aus”


(de para) da década de 1900, retrata quatro cenários da
cidade do Rio Grande a partir de fotografias obtidas da
torre da Alfândega: o cais do Porto Velho antes dos
armazéns da Companhia Francesa; a rua Riachuelo e o
casario; a praça Xavier Ferreira com destaque à estátua
da liberdade; o Mercado Público e os veleiros no cais.
Neste livro, as imagens dos espaços públicos são
consideradas como espaços não apenas de relações
comerciais e de trabalho, mas como espaços de
sociabilidade e de constituição da identidade local a
partir de múltiplas experiências de atores sociais que ao
longo dos séculos edificaram práticas civilizatórias. São
imagens congeladas do passado que possibilitam contar
histórias da cidade do Rio Grande através de textos
breves que buscam o saudável exercício imaginativo de
viajar no tempo. Acervo: BRG.
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A VILA DO RIO GRANDE EM 1776

Esta aquarela do sargento-mor Francisco Ferreira de Souza


retrata o que foi encontrado pelos luso-brasileiros após a retomada da
Vila do Rio Grande com a fuga dos espanhóis. A ocupação espanhola
perdurou de 1763 a 1776. A força de mar e terra denominada de Exército
do Sul, sediada em São José do Norte, retomou a localidade em abril de
1776 superando a resistência espanhola focada nos vários fortes que
existiam entre o Ladino (atual área do Porto Novo) e o forte da Barra
(proximidades do molhe oeste).
A Vila encontrava-se tomada pelos ratos e com a maioria das
casas muito danificadas, sendo necessário à demolição da maioria para
posterior reconstrução das moradias. Durante a ocupação espanhola,
grande parte da população se dispersou pelo Continente do Rio Grande
tendo início o repovoamento a partir de 1776. Basicamente o prédio em
melhor condição de manutenção foi a Igreja de São Pedro que foi
respeitada pelos espanhóis por ser um local de culto religioso essencial na
manutenção do cotidiano de súditos católicos. Aquarela da Vila do Rio
Grande de São Pedro em abril de 1776. Arquivo de Évora (Portugal).
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HOMENS E AREIAS

A cidade edificada numa Restinga obrigou seus moradores a


um contínuo enfrentamento com as areias, os alagadiços e os ventos.
O soterramento de casas e a falta de pavimentação exigiam obras
públicas e particulares que os poucos recursos financeiros muitas
vezes tornavam lentas e que se estendiam por décadas. Uma parte
considerável da cidade é constituída por aterros que avançaram
adentrando as águas da Lagoa dos Patos e do Saco da Mangueira.
Consolidar os areais já era um desafio quando o naturalista
francês Auguste Saint-Hilaire esteve aqui por dois meses. Em seu
diário escrito no dia 12 de agosto de 1820 ele registrou: “soprou um
vento violentíssimo, nuvens de areia extremamente fina enchiam o
ar; saí por alguns instantes, sendo muito importunado pela areia que
me entrava nos olhos e me cobriam as vestes”. Foto da rua Marechal
Floriano próximo à esquina com Andradas - com areais e sem
calçamento – no ano de 1865. Acervo: BRG.
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A VILA DO RIO GRANDE EM 1824

O artista francês Jean-Baptiste Debret pintou essa aquarela


retratando a Vila do Rio Grande em 1824. É uma rara imagem
mostrando a concentração de prédios na área então recentemente
aterrada que formou a rua Nova das Flores (depois denominada rua
da Boa Vista e em 1865, denominada de Rua Riachuelo). A
concentração de prédios que hoje teriam quase 200 anos demonstra a
importância desta área para estudos de arqueologia histórica. Nota-
se que neste entorno, assim como na rua da Praia (Marechal
Floriano) estava a grande concentração de prédios comerciais da
cidade.
No centro da aquarela destaca-se a capela de São Francisco e
a igreja Matriz de São Pedro. A atual praça Xavier Ferreira não
passava de uma formação de areia que formava alagadiços em
períodos de chuvas. A praça Tamandaré confunde-se com a faixa
branca de areais e dunas que se estende até o horizonte (em direção
ao que atualmente constitui a Cidade Nova). Estas montanhas de
areia que se deslocavam com o vento era uma das histórias do medo
que marcava o cotidiano dos moradores.
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COMÉRCIO DO CHARQUE

O alicerce fundamental para desenvolver o comércio em Rio Grande foi a


economia pecuarista rio-grandense e o surgimento das charqueadas (a partir de 1778)
que possibilitaram um maior aproveitamento do gado. A civilização do uso restrito ao
couro e ao gado em pé dirigido a região mineradora, cedia espaço ao abate do gado para
aproveitamento do sebo, crina, chifre, couro, casco e especialmente da carne salgada, o
charque. Em torno do charque e da pecuária ocorreu o movimento que é um paradigma
até a atualidade: a Revolução Farroupilha.
Esta imagem de Jean Debret por volta de 1824 é paradigmática e rara: uma
pequena casa comercial vendendo mantas de charque e outros produtos. O atendente
negro está cochilando (evidenciando que o movimento estava fraco). Estas casas
comerciais existiram as dezenas na cidade e muitas foram o ponto de partida para a
acumulação financeira e o acesso ao comércio de exportação e importação realizado pelo
modal marítimo.
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PORTO VELHO EM 1852

A intensa movimentação de embarcações no porto em


1852 foi retratada nesta aquarela de Hermann Wendroth.
Observam-se navios à vela e a vapor, com o casario da rua da
Boa Vista ao fundo. Nicolau Dreys publicou, em 1839, a
seguinte passagem: “Pelos antecedentes, o leitor já sabe da
desgraçada posição da cidade de S. Pedro do Sul. No meio das
areias estéreis que a circundam e invadem continuadamente, ela
se apresenta como uma criação excepcional da política e do
comércio; indiferente e, como estrangeira ao território que ocupa,
não deve nada senão ao caráter ativo, industrioso e
empreendedor dos habitantes. Ali, o homem pode mais que a
natureza; aonde achou impotência e miséria, ele fez nascer à
prosperidade, pois a cidade de S. Pedro, com suas casas
suntuosas, seus ricos armazéns, seus cais regulares e seu porto
retificado, pode agora concorrer com as mais notáveis cidades da
América do Sul”.
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RUA DIREITA

A rua Direita (atual General Bacelar) sempre foi


uma das mais importantes da cidade pois na metade do
século XVIII aí se localizava a Casa do Governador
(esquina com a rua Comendador Pinto Lima) e a Igreja
Matriz de São Pedro, que eram pontos de fluência
administrativa, militar e religiosa. Na foto tirada da
esquina da rua Comendador Pinto Lima destaca-se à
direita o casarão da família Porto Alegre (onde na década
de 1970 foi construído o Edifício Galeria Conde) e ao
fundo a Igreja de São Pedro com o centenário eucalipto em
sua frente (plantado em 1877). O calçamento da rua é
irregular e as casas ainda conservam o estilo colonial em
suas fachadas. Atualmente, este trecho está muito
desfigurado. Luminárias do século XIX são visíveis apesar
da fiação elétrica indicar que esta já existia na cidade. Foto
da década de 1920. Acervo: BRG.
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PRAÇA XAVIER FERREIRA

A Praça Xavier Ferreira tem uma história que


remonta aos primeiros anos do século XIX. Teve
várias denominações até a atual, dada em 1935, em
homenagem ao autor do projeto de elevação da
então Vila do Rio Grande de São Pedro para Cidade
do Rio Grande (1835), o boticário e jornalista
Francisco Xavier Ferreira.
A Praça era chamada pela população, na
década de 1870, de Boulevart Rio-Grandense, local
de passeio das famílias ao entardecer e nos finais de
semana. Sofreu várias intervenções estéticas entre
as quais se destacou a colocação em 1875 do
chafariz vindo da França. No cartão-postal editado
por volta de 1905 o nome da Praça ainda é General
Telles.
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A VINDA DE D. PEDRO II

Quando da vinda do Imperador D. Pedro II a


Rio Grande (em julho de 1865) foi construído um Arco
do Triunfo na Praça Xavier Ferreira. Nesta fotografia
do mesmo ano é possível observar que o “Arco” ainda
está em construção, que a arborização da praça ainda é
precária e que os alagamentos são constantes com as
chuvas (conforme os jornais da Época descrevem).
Obras de melhorias seriam realizadas na década de
1870 inclusive com o cercamento da área. O formato
estético atual é da década de 1930. O monumento à
liberdade retratando o fim da escravidão é de 1889, já
o monumento ao Brigadeiro José da Silva Paes foi
inaugurado em 1939. Acervo: BRG.
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PRAÇA TAMANDARÉ

Os mapas/plantas do século XVIII indicam o espaço hoje ocupado pela praça


Tamandaré como um anecúmeno formado por cômoros de areia. O deslocamento
destes cômoros atrapalhava inclusive as práticas religiosas no atual prédio mais
antigo da cidade, a Matriz de São Pedro (1755), pois a areia dificultava o acesso dos
fiéis pela porta principal do templo. O terreno em frente aos estabelecimentos
militares e da administração foi denominado de Praça dos Quartéis, devido à
proximidade de edificações militares e também chamado popularmente de Geribanda.
No mapa urbano de 1829 a área da praça aparece descrita como um “terreno arenoso
com combros e por isso incapaz de se povoar presentemente”. No início da década de
1870 havia cinco poços construídos com tijolos e cantaria. A praça recebeu a
denominação atual em 1865, em homenagem a Joaquim Marques Lisboa, o
Almirante Tamandaré, nascido em Rio Grande em 1807.
Neste cartão-postal de 1904, observa-se o lago no sentido da rua General
Netto e em primeiro plano a “Vênus ao Banho”, escultura francesa em ferro fundido
originalmente colocada pela Companhia Hidráulica junto a praça Julio de Castilhos
na década de 1870 e removida para a Praça Tamandaré. Acervo: Walter Albrecht.
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PRAÇA DO QUARTEL

Na planta da cidade de 1904, a praça que no século XIX


ocupava uma área muito maior, já está reduzida pela criação das
ruas General Gurjão e Garibaldi e terrenos aforados. Com a
cessão à Escola de Engenharia de Porto Alegre, da parte norte da
Praça, esta aí edificou o prédio para uma escola elementar, onde
posteriormente funcionou a Escola Bibiano de Almeida. Em
1928 foi denominada de Praça Mauá. O Decreto Municipal nº
142, de 4 de junho de 1938, cede ao Ministério da Guerra “o
terreno denominado praça Mauá, para “Stadium General
Sampaio” (prática de exercícios físicos dos militares e da
juventude escolar”. O cartão-postal da década de 1910 mostra à
esquerda populares pegando bondes na esquina das ruas 24 de
Maio com Senador Corrêa. Destaca-se o Palacete pertencente aos
proprietários da Fábrica Ítalo-Brasileira (Fábrica Nova).
Acervo: BRG.
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CATEDRAL DE SÃO PEDRO

O mais antigo prédio edificado do Rio Grande do


Sul sobreviveu aos principais acontecimentos ocorridos na
cidade nos períodos colonial, imperial e republicano. Teve
sua construção autorizada pelo Governador do Rio de
Janeiro Gomes Freire de Andrade sendo inaugurado em
1755. Casamentos, batizados, enterramentos, ocupação
espanhola e retomada portuguesa da então Vila do Rio
Grande de São Pedro fizeram parte desta história.
Tentativas de demolição do prédio foram registradas desde
o século XIX, sendo intensificadas na década de 1930,
Porém, com o tombamento como Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional em 1938, uma parte fundamental da
história luso-brasileira no sul do Brasil foi preservada.
Fotografia mostrando a praça e o Largo Dr. Pio na
década de 1920. Foi elevada a Catedral em 1972. BRG.
19

IGREJA DO BOMFIM

O proprietário dos terrenos onde foi edificado a


capela e cemitério do Bomfim foi José Luiz da Silva
que realizou a doação em abril de 1832. Em 1842
doou novo terreno para construção da capela para os
serviços funerários. A capela recebeu a benção em 13
de agosto de 1843. Estava situada aos fundos do
cemitério, ou seja, na rua Duque de Caxias. O exterior
do prédio tinha as mesmas linhas da Igreja de São
Francisco, estando sobre a porta, uma lápide com a
data 1843. Em 1866 foi legalmente aprovada à
criação da Irmandade do Bomfim possibilitando
captar maiores recursos para construção de uma
igreja. Em 9 de dezembro de 1886 foi feita a benção e
colocação da pedra fundamental. Em 5 de dezembro
de 1887 a imagem do Senhor do Bomfim foi
conduzida em procissão da antiga capela para a nova
igreja. O cartão- postal da Igreja do Bomfim é datado
de 1904.
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CEMITÉRIO DO BOMFIM

A área hoje ocupada pela Igreja do Bomfim e pela


praça a sua frente, apresentava outra fisionomia e
funcionalidade em meados do século XIX. Quando de
sua construção, o cemitério do Bomfim estava afastado
do centro urbano, numa área para os lados dos pântanos
da Mangueira que se estendiam em direção ao atual Lar
Gaúcho. A entrada do cemitério era pela rua da
Alfândega (atual Andradas) enquanto a rua do Castro
(atual Duque de Caxias) ficava fechada por maricás e
pelo muro com as catacumbas. Chegando a rua Vice-
Almirante Abreu era necessário seguir em direção a rua
dos Andradas para ter acesso ao portão de entrada. Com
o início dos enterramentos (devido a epidemia de cólera)
no cemitério extra-muros em 12 de dezembro de 1855, o
cemitério do Bomfim ficou desativado com os seus
túmulos cercados pela cidade que avançava em acelerado
processo urbano. A demolição dos muros do cemitério
teve início em 25 de janeiro de 1882. Foram enterrados
no cemitério 5.570 pessoas. Aquarela de Wendroth
retratando o cemitério e a capela em 1852.
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CEMITÉRIO DO CARMO

O espaço dos mortos convivia muito perto dos passos


diários dos vivos! O cemitério do Carmo ficava nos fundos
da Igreja a qual estava situada na esquina da rua Benjamin
Constant com a Marechal Floriano na quadra que leva a
rua General Bacelar. Os enterramentos tiveram início após
1809 perdurando pelo menos até a década de 1860, mas com
restrito espaço disponível e com um centro urbano que
asfixiava o cemitério. Túmulos e ossos foram removidos para
o Cemitério Católico no final da década de 1920 e início da
década de 1930 quando a prefeitura municipal realizou
obras de abertura do Beco do Carmo dando o contorno atual
a rua Benjamin Constant. Na fotografia se destaca a obra
de arte funerária (importada da França) que na década de
1920 foi levada para o Cemitério Católico. Acervo: BRG.
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IGREJA DO SALVADOR
A Paróquia do Salvador foi criada em outubro de
1891 por missionários vindos do Seminário da Virgínia,
membros da Igreja Episcopal Anglicana dos Estados
Unidos (EUA). Até o ano de 1899, os cultos e reuniões
eram realizados em uma capela de tábuas que fora
adquirida da Igreja Presbiteriana, quando então foi
construída a atual Igreja do Salvador. O reverendo
Lucien Lee Kinsolving foi o idealizador da construção do
templo e residiu durante 20 anos em Rio Grande.
O prédio se destaca pela grandeza arquitetônica de
estilo neogótico inglês, tendo a planta baixa em formato
de cruz. A entrada principal é marcada por uma grande
torre e um quadro de azulejos intitulado “Cristo sobre as
águas”. Suas portas e janelas são em formatos ogivais em
autêntico estilo anglicano, característico desta
arquitetura religiosa.
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IGREJA DA CONCEIÇÃO
Criada no dia 3 de novembro de 1814, na Matriz de São Pedro, na então Villa
de Rio Grande a Irmandade da Conceição comprou em 1860, por três contos de réis, o
terreno na atual rua Andrade Neves, onde fica a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição.
No ano de 1872, a igreja começou a ser construída, sendo concluída em 1874,
quando a imagem de Nossa Senhora da Conceição (que havia sido enviada de
Portugal em 1847) saiu em procissão da Igreja da Matriz de São Pedro e seguiu até a
Igreja da Conceição. Em 1888, o Visconde Pinto da Rocha contribuiu para a obra de
ampliação da igreja que chegou às características arquitetônicas e estéticas atuais.
A Irmandade foi criada em Rio Grande por negros livres, conforme o primeiro
livro de registros da Irmandade de Conceição datado de 1817. Acervo: Fortunato
Pimentel.
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RUA MARECHAL FLORIANO EM 1865

A importância desta rua já foi destacada por Saint-Hilaire


em 1820, quando este descreveu o plano urbano da então Vila do
Rio Grande que era composta por “seis ruas muito desiguais,
atravessadas por outras excessivamente estreitas, denominadas
becos”. A rua mais extensa chamava-se Rua da Praia (Marechal
Floriano), localizando-se à margem do canal (Lagoa dos Patos):
nessa rua estavam situadas “quase todas as lojas e a maioria das
vendas, umas e outras igualmente sortidas. Várias casas com
janelas envidraçadas, cobertas de telhas e com sacadas de ferro,
estão situadas na Rua da Praia”.
Era denominada de rua da Praia, pois, a água chegava até
sua imediação. No foto de 1865 se observa a atuação de um
vendedor de água em pipa e provavelmente a foto mais antiga de
um figurante muito difundido na cidade até o presente: um
cachorro. Acervo: BRG.
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COMÉRCIO NA RUA RIACHUELO

Atividades comerciais foram essenciais para o


desenvolvimento da cidade, fato ressaltado pelo francês John
Luccock em 1809: “A proximidade do oceano, garante-lhe uma
preeminência permanente. É aqui que todos os navios têm que
entregar seus papéis, sendo que a maior parte deles raramente
segue adiante. É aqui também que os principais negociantes
residem ou têm seus agentes estabelecidos; de tal maneira que ela
pode ser considerada como o maior mercado do Brasil
Meridional”.
A fotografia do ano de 1870 (rua Riachuelo quase esquina
com a rua Ewbank), congelou ao passar do tempo os dois
figurantes deste cenário por onde transitavam pessoas e
mercadorias. Com o fluxo comercial rumando para o Porto Novo à
área se redefiniu para a logística da circulação de prestação de
serviços voltado ao centro da urbe.
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PRAÇA TAMANDARÉ

Na foto de 1865 observa-se a funcionalidade


inicial do local que não era ser um centro de lazer,
mas, um ponto de coleta de água. A antiga
denominação Geribanda (local de descomposturas pela
aglomeração popular na coleta de água por aguadeiros
e escravos, além da lavagem de roupa por lavadeiras)
foi o principal local de abastecimento de água na
cidade. Como observou Saint-Hilaire em 1820: “a
alguns palmos do solo acha-se água muito boa, da
qual se utilizam os habitantes da região”. Segundo ele,
ao abrirem um poço ou cacimba, os moradores tinham
um grande cuidado em protegê-lo para impedir a
entrada da areia, sendo que os negros, para tirar a
água, utilizavam um chifre de boi preso pelo meio de
uma vara comprida. Os poços da praça foram fechados
a partir de 1870 com a instalação de um chafariz pela
Companhia Hidráulica Rio-Grandense. Acervo:
Fototeca Municipal.
27

A PRAÇA DOS ENFORCADOS

O Largo do Moinho passou a chamar-se Largo da Praça da


Caridade com o início da construção do Hospital da Santa Casa
em 1855 (pedra fundamental foi colocada em 1850).
Posteriormente é denominado de praça Barão de São José do
Norte. Neste local inicialmente cercado de madeira, realizava-se o
enforcamento dos condenados a morte na cidade. Também neste
local,conforme planta de 1770, ficava o pelourinho (símbolo do
poder judiciário luso-brasileiro onde eram publicadas as normas
legais e aplicação de castigos, inclusive açoite em escravos). Na
década de 1930 a praça foi dividida em duas partes para
possibilitar o escoamento do trânsito, em especial dos bondes da
Linha Cidade Nova os quais eram obrigados a fazer duas
acentuadas curvas para seguirem para a rua Aquidaban. Nesta
foto de aproximadamente 1930, observa-se a passagem do bonde
num momento em que a praça ainda não tinha sido dividida
ficando de um lado o monumento a Antonio Carlos Lopes e do
outro, junto a Santa Casa, o chafariz francês da década de 1870.
Acervo: BRG.
28

A PRAÇA DO POÇO

A praça do Poço (atual praça Sete de Setembro) foi assim


denominada por ali ter sido construído um poço ou cacimba, nos
primeiros momentos da ocupação em a partir de fevereiro de 1737,
estando em sua proximidade localizado o Forte Jesus-Maria-José. Neste
espaço ocorreram as primeiras experiências sistemáticas de sociabilidade,
de convívio militar e civil, nos primórdios do Rio Grande do Sul luso-
brasileiro.
Auguste de Saint-Hilaire1, em 1820, fez o seguinte registro
sobre a Praça do Poço: “À entrada da cidade, um pequeno forte (...),
tão mal situado que parece destinado ao ataque da cidade. Junto
desse forte, uma praça quadrangular (atual Praça Sete de
Setembro), cercada de velhas casas, afastadas umas das outras, no
centro da qual se acha um grande tanque de pedra que fornece
muito boa água”. A fotografia (1894) mostra militares republicanos
na praça durante a Revolução Federalista e ao fundo o chafariz
francês aí instalado em 1874 o qual foi removido em meados da
década de 1910 e desapareceu. Acervo: BRG.
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RUA MARECHAL FLORIANO EM 1865

Na planta urbana de 1767, durante a ocupação espanhola, se


observa que a água da Lagoa dos Patos atingia as proximidades da rua
Marechal Floriano por vezes confundindo-se com esta rua. Em 1755 foi
construído, para evitar estagnação das águas da Lagoa, um cais de
pedra nos fundos do Palácio do Governador que ficava na esquina das
ruas General Bacelar com Pinto Lima. Com o aterro dos fundos das
casas da rua General Bacelar tem início as edificações e foi tomando
forma a rua Marechal Floriano. Na planta de 1767 observa-se um
Armazém Real, na esquina da Andradas; uma ponte, na altura da hoje
Zalony; e na altura da Coronel Sampaio, o trapiche dos Cavalos, por
onde se fazia a passagem dos animais para São José do Norte.
Na fotografia de 1865 observa-se a esquina da rua Marechal
Floriano com a rua Ewbank (prédio da antiga Alfândega à direita o
qual seria demolido uma década depois). No lado esquerdo, quase ao
fundo, se observa a cruz na fachada da Capela de São Francisco. Ao
fundo à direita o telhado do casarão do Rasgado com a fachada
encoberta pelas árvores da atual Praça Xavier Ferreira. Acervo: BRG.
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RUA EWBANK

Antiga rua do Arsenal (em referência ao Arsenal da


Marinha que aí ficava localizado) a rua Ewbank (nome dado
em homenagem ao engenheiro construtor da atual prédio da
Alfândega e também das obras do cais do Porto Velho entre
1872-1876), ficava aos fundos do prédio da Alfândega
(observam-se barris no chão). Era, portanto, uma rua
“agitada” pela chegada de mercadorias e também de
escravos/imigrantes/visitantes/passageiros em geral que
passavam pelo visto oficial antes de seguirem para os seus
destinos.
O personagem retrata com o seu guarda-chuva um
hábito comum no século XIX na cidade: o uso de guarda-chuva
para proteção do sol. Inclusive eram colocados anúncios em
jornais para conserto de sombrinhas e guarda-chuvas, um
mercado promissor na época. Pela sombra projetada a foto foi
obtida por volta do meio-dia. Fotografia de 1870. BRG.
31

FESTEJOS DO SETE DE SETEMBRO


Em 1860 ocorreu a emissão de uma série de cartões
(não postais) que eram vendidos como lembrança dos festejos
dedicados a Independência do Brasil de Portugal. Foi
criada a Sociedade Sete de Setembro para organizar as
atividades que eram constituídas por bailes, bandos de
máscaras percorrendo as ruas a caráter e cantando o Hino
da Independência, coreto na Praça Sete de Setembro com
danças e música, iluminação das casas com archotes,
lançamento de balões, tiros de canhão, girândolas de
foguetes, concurso de escalar o pau de sebo, desfile pelas
ruas como se fosse um festejo de blocos de carnaval,
festividades diária na praça para celebrar a independência.
Estes cartões possibilitaram visualizar as
comemorações patrióticas e lúdicas do Sete de Setembro em
tempos pretéritos. Acervo: BRG.
32

2º PRÉDIO DA ALFÂNDEGA
A Alfândega foi instalada na Vila do Rio Grande em 1804. Teve
um primeiro prédio definido por John Luccock como “uma construção de
cantaria, com paredes de cerca de dez pés de alto, coberto de um telhado
muito íngreme que lhe dá o aspecto de uma velha cocheira inglesa”. O
segundo prédio, dada a importância comercial crescente da localidade,
teve uma edificação sólida e foi construído no cenário local entre 1827-
1832 permanecendo até a sua demolição na primeira metade da década de
1870. Localizava-se na rua dos Andradas (frontal ao atual lago da
praça Xavier Ferreira) e esquina com a rua Marechal Floriano. Na foto
de 1870, a dimensão do prédio fica evidenciada, assim como a falta de
calçamento em sua frente. Acervo: BRG.
33

CAIS DA BOA VISTA

Nesta imagem de Francis Richard publicado em jornal


francês (Le Figaro) em 1865, observa-se o então cais da Boa Vista
antes das obras realizadas a partir de 1872. A linha de prédios
corresponde à localização atual e a atual rua Riachuelo ocupa uma
área reduzida. O autor da gravura assim expressou no jornal a sua
visão da cidade: “é um dos principais portos da parte meridional do
Brasil. Graças a sua situação, São Pedro de Rio Grande é o grande
escoadouro comercial do Uruguai. Recebe sobretudo do norte dessa
República, couros, sebos e carne seca (...) São Pedro é essencialmente
comercial. O cais da Boa Vista, de que estampamos o desenho, se
prolonga sobre a orla da lagoa e está rodeado pelas moradias dos
principais comerciantes brasileiros”. Em 19 de agosto de 1865 a
publicação inglesa “The Illustrated London News” (Londres)
reproduziu em preto e branco a imagem de Richard.
34

O TRABALHO NO PORTO

A aquarela de Hermann Wendroth retrata o trabalho


no Porto no ano de 1852. A mão-de-obra predominante era do
escravo negro. Cerca de 25% da população da cidade era
constituída por escravos trazidos ao Rio Grande para
atividades no porto ou como escravos urbanos domésticos ou
de ganho. O fluxo financeiro e a necessidade de mão-de-obra
impulsionavam esta presença que se prolongou até os últimos
anos que antecederam a abolição da escravatura em 1888. Os
escravos também atuavam embarcados. O trabalho manual de
homens livres era considerado de forma depreciativa pela elite
escravista brasileira. Formas de resistência à escravidão
podem ser acompanhadas em jornais do século XIX que tratam
de suicídios, fugas e assassinatos de seus senhores. Este é mais
um dos componentes do medo da época: a ruptura da ordem
social com o ato de sangue do escravo contra o senhor.
35

NAVIOS E NAVEGANTES
Entre inúmeros viajantes que estiveram em Rio Grande,
alguns deixaram escritos que perpetuaram a sua memória no
tempo. À maioria são anônimos passageiros que na história
escrita não ficou registro ou apenas são dados quantitativos na
documentação. Entre os que deixaram relatos está o Conde d’Eu
esposo da Princesa Isabel. Ele esteve na cidade alguns dias após
este registro fotográfico de julho de 1865, quando da passagem
de D. Pedro II. As embarcações procedentes do Brasil ou do
exterior são uma presença marcante em Rio Grande desde os
primórdios do povoamento e neste caso, a maioria são
embarcações do Rio de Janeiro.
Conde d’Eu escreveu em seu diário que à medida que o
navio aproximava-se para atracar no cais, a cidade despontava
precedida de uma floresta de mastros. Havia muitas casas de
comércio, inclusive alemãs, sendo as principais mercadorias os
couros e a carne seca. Existiam três ruas principais paralelas a
praia (Riachuelo, Marechal Floriano e Bacelar) nas quais se
viam lojas elegantes e na Marechal Floriano, muitas bandeiras
de consulados. Acervo: BRG.
36

MERCADO PÚBLICO

O primeiro Mercado Público foi construído em


1848. A construção do novo Mercado Público foi
realizada entre 1853 a 1863, no mesmo local do
antigo Mercado, porém numa maior dimensão que
deixou o antigo sobrevivendo em sua área central até
a completa demolição. A construção do atual
Mercado Público é uma das histórias das difíceis
condições financeiras com que se edificaram os
espaços públicos essenciais para a manutenção da
reprodução diária de uma sociedade. Pelo Mercado
transitaram mercadorias variadas, alimentos
essenciais para a população, dinheiro que alimentou o
capitalismo comercial e gerou empregos, impostos que
foram relevantes no orçamento da municipalidade e
práticas culturais de uma sociedade luso-brasileira.
Na fotografia do início do século XX se observa a
área interna do Mercado com as mesas e as bancas
com frutas e verduras, uma área de grande freqüência
pela população. Acervo: Museu da Cidade do Rio
Grande.
37

AS RUAS DA CIDADE

Na foto de 1870 a cidade tinha 33 ruas, 4 becos e 7


praças. A maioria das ruas havia sido renomeada recentemente
devido à atuação brasileira na Guerra do Paraguai. As
principais ruas eram: Riachuelo (Boa Vista); Pedro Segundo
(rua da Praia), a mais importante e quase toda calçada;
Príncipes (Direita e atual Bacelar), renomeada em homenagem
ao Conde d´Eu; Paisandu (Pito e atual República do Líbano);
Vinte de Fevereiro (rua do Fogo e atual Luiz Loréa);
Uruguaiana (rua dos Cômoros e atual Silva Paes); Barroso
(Canal); Caridade (atual Coronel Sampaio); rua Francisco
Marques; Trincheiras (rua General Portinho); Castro (Duque
de Caxias); Rasgado (General Neto); Lousada (24 de Maio);
Moinho (Aquidaban); Zallony (Beco do Corpo da Guarda)
entre outras ruas da área central. O prédio de três andares ao
fundo localizava-se na rua Coronel Sampaio. Acervo: BRG.
38

RUA BENJAMIN CONSTANT

Observando o Beco do Carmo (Benjamin Constant) da esquina da rua


Riachuelo, que era o principal cais de chegada a Rio Grande, podemos imaginar
a vista que os visitantes tinham da cidade ao desembarcarem em terra. O Beco
do Carmo conduzia a igreja do Carmo, ponto estratégico para agradecimentos
por graças alcançadas em chegar vivo até o destino após a viagem de navio e o
perigoso acesso pela “diabólica barra do Rio Grande”. Na primeira metade da
década de 1930 a rua será aberta desaparecendo o Beco que até então permitia
apenas em um dos seus lados a passagem de populares e carroças. A igreja em
estilo barroco colonial datada de 1809 foi demolida, mas, outra de grandes
dimensões foi construída em sua proximidade sendo inaugurada em 1938. Na
foto (por volta de 1900) o movimento em frente há igreja pode significar a
realização de uma missa ou de que uma cerimônia fúnebre (carruagem
funerária está parada em frente da Igreja!) esteja ocorrendo com posterior
enterramento no Cemitério Católico. Na janela de um prédio um espectador
está com o guarda-chuva aberto o que evidencia que o sol ainda estava
intenso. Acervo: BRG.
39

PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL E BIBLIOTECA RIO-


GRANDENSE

Na foto de 1894 (hasteada uma grande bandeira do Brasil),


observa-se na rua General Osório esquina com a rua General Neto o
prédio da Câmara Municipal (inaugurado em 1850) no local onde hoje
está edificada a Biblioteca Rio-Grandense. Em 1846 foi criado um
“Gabinete de Leitura” que se denominou em, 1878, de “Biblioteca Rio
Grandense”. A instituição teve sedes em quatro endereços sendo o
primeiro na rua do Arsenal (Ewbank). Em 1900 negociou o prédio atual
sendo a Câmara Municipal transferida para o prédio da Intendência
Municipal (que havia sido reformado). O prédio da Biblioteca começou a
sofrer remodelações a partir da década de 1920 alterando
completamente a estética original (prédio atual foi construído entre as
décadas de 1930-50). A Biblioteca Rio-Grandense é um dos espaços de
preservação da memória escrita possuindo um acervo bibliográfico,
fotográfico e de periódicos de projeção nacional. Acervo: BRG.
40

O TEMPO, O VENTO E A AREIA


O Tempo é o depositário de todas as experiências humanas, as
repetições do cotidiano e os acontecimentos que dão novos rumos ao
desenrolar diário da vida de um indivíduo ou de uma comunidade.
Na memória do tempo levitam grânulos que transportam não apenas
os fragmentos de porções de matéria formadas da decomposição de rochas,
mas também são um ponto de encontro na linguagem de quem esteve em
Rio Grande documentando os últimos quase três séculos de história: a
Areia.
Na memória do Tempo habita o secular deslocamento do ar que
conduz a areia aos olhos, às bocas, aos turbilhões difusos que encobertam o
horizonte e encobrem as moradias. Não há lembrança de Rio Grande sem o
Vento. A melhor definição do Tempo em Rio Grande está no Vento e na
Areia, um ponto de encontro de nascimentos e mortes, entre os séculos
XVIII a XXI. Fotografia do Porto Velho na década de 1910. Acervo:
BRG.
41

PORTO VELHO EM 1876

O cais do Porto Velho acompanhou o perfil do centro da


cidade desde os primórdios do século XIX. Foi um cartão de
visitas retratado por Debret em 1824, por Wendroth em 1852 e
nesta fotografia de 1876. Ponto de confluência das atividades de
embarque e desembarque, o porto representou um espaço de
trânsito de mercadorias e culturas.
Entre 1872-1876 o cais sofreu uma reforma e ampliação
para comportar o movimento de cargas. O centro urbano ligado as
atuais ruas Riachuelo e Marechal Floriano dinamizaram-se em
estreito vínculo com a existência deste universo portuário, por
onde luso-brasileiros, açorianos, negros, imigrantes alemães,
italianos, poloneses entre tantas etnias, pela cidade passaram ou
se radicaram. Acervo: BRG.
42

SANTA CASA

O atendimento hospitalar à população carente teve início em Rio Grande no


ano de 1806, quando o padre Francisco Ignácio da Silveira, criou uma sociedade
voltada ao auxílio das famílias carentes com distribuição de esmolas e alimentos.
Em 1831, a Sociedade Beneficiencia foi criada para ajudar os enfermos com
esmolas para os familiares. Esta sociedade em março de 1835 constitui a
Irmandade da Santa Casa sob invocação do Espírito Santo. A pedra fundamental
do hospital da Santa Casa foi colocada em 1850.
O irlandês Michael Mulhall assim definiu o hospital da Santa Casa em
1871: “é o mais belo edifício que é suficientemente grande para uma cidade
como Buenos Aires”. Fotografia da Santa Casa em 1909 feita pelo Estúdio
Fontana. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
43

PRÉDIO DA ALFÂNDEGA

O atual prédio da Alfândega, mostrado nesta foto em sua face da rua Ewbank,
foi mandado construir por D. Pedro II, estendendo-se as obras no período de 1874 a
1879.
Parte desta área era anteriormente ocupada pelo 2º prédio da Alfândega que foi
demolido. As dimensões e beleza do prédio em estilo neoclássico constituem um dos
principais cartões de visita da cidade. A imponência da arquitetura pode ser apreciada
pelos navegantes ou pelos transeuntes da área central. Em 1967, a construção foi
tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Cartão-postal da
década de 1910. Acervo: Leonardo Barbosa.
44

A ERA DOS CAMINHOS DE FERRO

No ano de 1884 dois acontecimentos alterariam substancialmente


o ritmo de desenvolvimento do sistema de transportes da cidade do Rio
Grande: o estabelecimento do serviço de bondes urbanos e a inauguração
da Estrada de Ferro Rio Grande-Bagé. A Estação de Rio Grande foi
construída pela Compagnie Imperiale des Chemins de Fer du Rio Grande
do Sul e Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway Company sendo
inaugurada no dia 2 de dezembro de 1884. A Estação de Rio Grande era
constituída por um prédio formado por um bloco central em dois
pavimentos, com duas alas laterais térreas, possuindo platibandas e
coberturas destacadas sobre a plataforma, sustentada por estruturas de
ferro. Cartão-postal da década de 1910 mostrando a parte frontal da
sede do sítio ferroviário: a Estação Central da Estrada de Ferro. Acervo:
Leonardo Barbosa.
45

CIDADE NOVA

Um dos referenciais de nascimento do que se tornaria a Cidade Nova foi


um espaço para o sepultamento extra-muros, colocando a morte para longe da
presença dos vivos que permaneceram na cidade antiga. Isto ocorreu em 1855
quando uma devastadora epidemia de cólera parecia evidenciar o que a
medicina social da época defendia: de que os mortos poderiam transmitir
doenças através dos miasmas. Até então o convívio entre vivos e mortos era
muito próximo, com as igrejas realizando sepultamento em seu interior (até
1840) e em seu entorno.
Romper os muros das Trincheiras com o cemitério foi um novo mundo
descoberto, no princípio apenas para os mortos e para alívio dos vivos! Um
segundo momento foi a Estação Ferroviária (1884)e quase simultâneo a
instalação da Fábrica Rheingantz (1885-1885), que levou as transformações
ditadas pelo capitalismo para a proximidade do cemitério e criou um complexo
industrial-urbano modelo no Brasil. Mas foi com a demolição dos muros das
Trincheiras a partir de 1880, que a Cidade Nova, planificada, começava a
tomar forma e crescer. Na foto bonde nas ruas Marechal Deodoro com Buarque
de Macedo na década de 1920. Acervo: BRG.
46

TRINCHEIRAS

Houve um tempo em que a cidade do Rio Grande buscava


proteção atrás de muros que lhe garantiam a defesa contra
invasões terrestres. A cidade continuou a viver atrás dos muros
até o final da década de 1870 e aí não parou mais de se expandir:
a cidade Nova faz parte deste fenômeno de crescimento.
A Cidade Velha rompeu os limites em que estivera
confinada e protegida, mas, preservou muitas histórias ligadas ao
medo, e também à segurança que residia numa linha militar
fortificada que isolava por terra a cidade do temível mundo
exterior nos períodos de guerra nos países platinos. Esta linha de
defesa militar do Exército Brasileiro, chamada de Trincheiras,
passava nas imediações do atual Canalete da Major Carlos Pinto
(o qual foi construído na década de 1920) e teve uma duração
entre a segunda metade da década de 1820 até a sua demolição em
1880. Na publicação de 1910 (fotógrafo Fontana) estão algumas
ruínas da fortificação em sua localização junto a Lagoa dos
Patos. A data de construção está incorreta na publicação de
Fontana. Acervo: BRG.
47

QUARTEL DO 6º GAC

Na planta de 1860 a cidade terminava nas


proximidades da rua da Esperança (Vice-Almirante Abreu),
acabando a rua 24 de Maio na rua Clara (Barão de Cotegipe),
persistindo a partir deste ponto os cômoros de areia. Porém,
nas proximidades e/ou junto às fundações do atual quartel do
6º GAC localizava-se um antigo quartel utilizado pelos
militares que garantiam a defesa da linha de trincheiras. A
construção do quartel foi realizada entre 1878 até 1881.
Com o fim das trincheiras, garantir a segurança da
cidade por avanço terrestre agora era responsabilidade das
forças do Exército concentradas no atual prédio do 6º GAC.
Em algum momento da década de 1850-60, a área ocupada
pelo antigo estabelecimento militar passou a ser chamada de
Praça do Quartel ou dos Quartéis. A área em sua frente hoje é
denominada de Praça das Forças armadas. Cartão postal da
década de 1920 mostrando a fachada do prédio. Acervo:
Leonardo Barbosa.

Cartão postal provavelmente da década de 1940.


48

ANTIGA CASA

Esta fotografia retrata, conforme a legenda original, a casa mais antiga da cidade a
qual remontaria ao século XVIII. Ela ficava na rua Comendador Pinto Lima no trecho
entre as ruas General Osório e a Marechal Floriano. O personagem da foto estende a mão
tocando no telhado evidenciando um pé-direito muito baixo. Interessante observar o
calçamento, com pedras que podem ter sido retiradas de ruas que tiveram um novo
calçamento e aqui foram colocadas (ou é o calçamento original do século XIX?).
Os primeiros calçamentos da cidade recuam ao período de 1862 a 1874. Na ausência de
pedreiras para calçamento, foi realizada a compra em outras localidades: Porto Alegre, São
Lourenço do Sul e no Rio de Janeiro. O calçamento observado é dos mais “toscos e
irregulares” e um similar, ainda pode ser observado na rua Luiz Loréa (na quadra junto a
Praça Sete de Setembro). A rua Comendador Pinto Lima é uma viagem no tempo foi aí
foram edificados dois endereços de importância administrativa: a Casa do Governador (de
onde se administrava o Rio Grande do Sul) e a Câmara Municipal (talvez o seu primeiro
endereço?). Fotografia tirada entre as décadas de 1920-30. Acervo: BRG.
49

O CASARÃO DO RASGADO

Joaquim Rasgado era um comerciante de charque e couros natural do Rio de Janeiro que
em 1824 mandou construir um amplo casarão em estilo colonial de dois pavimentos, chamado
pela população oitocentista de “casa nobre”. Um prédio que se destacava frente às poucas
construções para moradia particular de grandes dimensões que existiam na Vila do Rio Grande
na primeira metade do século XIX. O destaque obtido por este morador fez com que a rua que
passava em frente à residência fosse denominada de Beco do Rasgado. Atualmente é uma das
principais da cidade, a Rua General Neto (nome conferido em 1869).
O prédio assistiu grande parte do crescimento urbano da cidade, com o significativo
aumento da movimentação portuária no século XIX e o surgimento de casas comerciais. O
prédio, posteriormente, foi residência do comendador Tigre, sendo colocado à venda pelos
herdeiros no ano de 1886. A Intendência Municipal do Rio Grande comprou o prédio em 1894
mudando o estilo colonial da fachada para o neo-clássico renascentista, passando a ocupá-lo
em 1900. Fotografia do prédio em 1888, quando de uma exposição industrial. Acervo: BRG.
50

QUARTEL GENERAL
O Major Engº Antonio Gomes da Silva Chaves projetou e foi o responsável pela
construção que foi iniciada em 1892 e concluída em 1894. O prédio foi sede do
Comando do 6º Distrito Militar e, em 17 de agosto de 1906, ali ocorreu a reunião onde
foi acertado os termos do contrato para a abertura da Barra do Rio Grande. Fizeram-
se presentes o vice-presidente da República Afonso Pena e o governador do Estado do
Rio Grande do Sul Antonio Augusto Borges de Medeiros.
Segundo descrição do IPHAE, trata-se de um prédio de esquina implantado no
alinhamento do passeio público, possui planta em ‘L’, com pátio interno e dois
pavimentos. Com tratamento plástico típico do ecletismo, a fachada principal
apresenta uma composição simétrica em três volumes, hierarquizando o bloco
central, com a presença de motivos bélicos e as armas de Estado coroando a platibanda.
A edificação pertenceu à União Federal até 1990, quando foi adquirida pela Prefeitura
do Rio Grande. O imóvel foi restaurado na segunda metade da década de 1990,
passando a sediar secretarias do município. Sua localização é no Largo Eng. João
Fernandes Moreira esquina com General Osório, ficando de frente para a praça Xavier
Ferreira. Cartão-postal com datação de 1908 mostrando sua fachada e personagens da
época, inclusive uma mulher com vestidos espaçosos da Belle Époque. Acervo: Eduardo
Arriada.
51

O BALNEÁRIO CASSINO

O saber médico do século XIX orientava sobre os benefícios terapêuticos dos banhos
de mar. O balneário Cassino foi idealizado em 1885 e no ano seguinte foram dados passos
fundamentais para a concretização de um empreendimento planificado com a construção de
uma estrada de ferro, cujo projeto foi realizado pela Companhia Carris Urbanos do Rio
Grande. A inauguração do tráfego da linha de bondes a vapor ocorreu no dia 26 de janeiro
de 1890. A linha tinha uma extensão de 18.600m e representou o nascimento do Balneário.
Para ir à praia de banhos, os passageiros seguiam de bonde até o Parque (atual Presidente
Vargas próximo ao pórtico) e ali embarcavam no trem. A linha corria paralela a Estrada de
Ferro Rio Grande-Bagé até a Junção e a partir dali seguiam rumos distintos. A área da
praia do Cassino era chamada de Mangueira ou Costa da Mangueira. Tornou-se um centro
de confluência da elite da metade sul do estado. Fotografia por volta de 1908 do Estúdio
Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.
52

CHALET DA PRAÇA TAMANDARÉ

Em 1876 a Companhia Hidráulica adquiriu na França o “chafariz


dos anjinhos” e instalou no local onde, entre 1903-1909, foi edificado o
monumento a Bento Gonçalves. O chafariz foi transferido para o local
atual neste período. Em 1878 foram fechados os poços de fornecimento
de água por exigência do contrato feito com a Companhia Hidráulica.
Área almejada e que se valorizou com o desenvolvimento da cidade, a
praça Tamandaré começou a receber uma atenção mais destacada a partir
de 1895, através de projetos de melhoramento que se estenderam até o ano
seguinte. O projeto previu a construção de chalé, plantação de mudas de
árvores, ajardinamento, construção de lagos e ilhotas. Nestes lagos, em
1896, faltava somente a colocação do revestimento de fundo composto
por um barro especial oriundo de Pelotas.
Devido à grande dimensão de 44.124 metros quadrados, 316
metros de comprimento por 140 metros de largura, a manutenção deste
espaço público tem sido um desafio para os governos municipais. Neste
cartão postal da década de 1920 observa-se o chalet da praça que sediou
nos anos 1950 o Museu Oceanográfico. Acervo: Museu da Cidade do Rio
Grande.
53

ESTAÇÃO MARÍTIMA

No século XIX, Macega era a denominação dada à área que ia da atual


Barroso até a área atualmente ocupada pela Capitania dos Portos, V Comando
Naval, Regatas etc. Um espaço quase desabitado constituído por lodo, aguaceiros e
macegas. Na planta urbana de 1835, foi projetada uma praça nos limites desta
área pelo governador Soares de Andréa. A Praça foi inicialmente denominada em
meados do século XIX, de Praça do Novo Mercado (o qual não foi construído neste
local). A área passa a ser chamada de Praça Silveira Martins e na década de 1880
foi concedida à Southern Brasilian Railway para estender um ramal ferroviário até
o local modificando o projeto de uma área de lazer ou um mercado público. Nascia
a Estação Marítima, com a área atravessada por trilhos onde zorras conduziam
produtos para os navios atracados onde hoje a balsa para São José do Norte atua.
Postal colorido da Estação Marítima na década de 1910. Acervo: BRG.
54

COMÉRCIO NO PORTO VELHO

A constituição de um grupo mercantil no Rio Grande do Sul


esteve ligado aos interesses de negociantes da Colônia do Sacramento,
do Rio de Janeiro e da Bahia. Nos primórdios do século XIX, Rio
Grande era o principal centro de comércio da Capitania, estando o
crescimento socioeconômico ligado diretamente ao movimento
portuário. Surgiu uma elite comercial que investiu em obras de
melhoria da área portuária. Em 1823, foram concluídas as obras de
construção do porto e a dragagem do cais, permitindo que navios com
mais de duzentas toneladas ancorassem no Porto da Vila do Rio
Grande.
O ritmo comercial da Vila redefine o seu papel histórico de
praça militarizada passando para centro portuário de escoamento da
produção da Capitania dirigido ao mercado interno brasileiro. Como
já apontava John Luccock em 1809, Rio Grande era “o maior
mercado do Brasil Meridional’”. Fotografia da rua Riachuelo em
1865. Acervo: BRG.
55

RUA GENERAL BACELAR

A rua General Bacelar recebeu esta denominação em


préstimo ao General responsável pelo comando da defesa da
cidade durante a Revolução Federalista (1893-95). No século
XVIII, chamava-se rua Direita por ser o caminho que ligava
do forte Jesus-Maria-José até a Igreja Matriz de São Pedro.
Passou a se chamar em 1865 de rua dos Príncipes, em
homenagem a visita da família Imperial Brasileira. O Teatro
Sete de Setembro era um dos locais mais freqüentados Na
fotografia No cartão-postal editado por volta de 1930
observa-se pedestres, carros e carroças. A rua da esquina é a
Duque de Caxias e na sequência dos prédios, à direita, está o
Cine-Teatro Carlos Gomes e o Cine-Teatro Sete de Setembro.
Este trecho era dos mais freqüentados da cidade pela grande
freqüência popular aos cinemas. Acervo: Museu da Cidade
do Rio Grande.
56

RUA RIACHUELO

Nascida com o nome de rua Nova das Flores na


primeira metade da década de 1820, a Rua Riachuelo,
ao longo do século XIX, concorrerá com a rua da Praia
(Marechal Floriano) em concentração de casas
comerciais. O perfil estético da cidade mudará com o
aterramento que partindo da rua da Praia estendeu-se
até a atual rua Riachuelo. Nicolau Dreys, comerciante
radicado em Rio Grande na década de 1820, relatou
que a visão dos navegadores que chegavam à cidade
era ver os fundos das casas com seus pátios voltados
para a Lagoa (referindo-se a rua da Praia). Com a Rua
Nova das Flores a estética alterou-se com as casas de
frente para a Lagoa, ostentando sua arquitetura
neoclássica e eclética. Fotografia tirada da torre da
Alfândega em 1905 com preparativos festivos para
receber a canhoneira portuguesa Pátria. Acervo: BRG.
57

CAIS DO PORTO VELHO

Movimento de embarcações inclusive com navios a vapor


tendo como cenário urbano à rua Riachuelo que ainda não
apresenta os armazéns construídos na década de 1920. Ao
fundo se destaca o prédio da Alfândega. A fotografia
obtida por volta de 1910 foi feita na esquina da rua
Almirante Barroso.
Mesmo com a inauguração do Porto Novo em 1915, a
importância do Porto Velho persistiu como ancoradouro
de embarcações de pequeno e médio porte, descarga de
pescado e tráfego de passageiros, ligando São José do
Norte, a Ilha dos Marinheiros, Torotama, Leonídio e o
centro do Rio Grande. Acervo: BRG.
58

LEAL SANTOS
A Indústria Leal Santos foi fundada em Lisboa no ano de 1881,
inaugurando uma fábrica em Rio Grande no ano de 1889. Seus fundadores foram
Francisco Marques Leal Pancada, José Antônio Santos e Moysés Marcondes. Na
década de 1910 cerca de 600 funcionários trabalhavam na fábrica que produzia
bolachas com equipamentos que eram os mais modernos do Brasil naquele período.
Fabricava também enlatados com peixes, carnes, caças, frutas e legumes. As latas
de bolacha eram verdadeiras obras-primas produzidas na própria empresa. No ano
de 1947, com a denominação de Indústrias Reunidas Leal Santos S/A, as
atividades foram voltadas a indústria pesqueira com a utilização de dois barcos de
grande tonelagem para pesca em alto mar. No ano de 1967, em parceria com o
Grupo Ipiranga, constituiu-se a Leal Santos Pescal S/A, que chegou a ser a maior
empresa brasileira do setor pesqueiro em receita e em exportação. Na fotografia da
década de 1910, observa-se operários em frente a fábrica na rua Aquidaban.Acervo:
BRG.
59

FÁBRICA RHEINGANTZ

A trajetória desta que foi uma das mais importantes


indústrias do Rio Grande do Sul teve início com as atividades da
Rheingatz & Vater, no ano de 1873, uma empresa voltada ao
manufaturamento de lã ovina e que se tornou uma das mais
importantes indústrias têxtil do Brasil. A sociedade foi extinta
em 1881 passando ao controle de Carlos Rheingantz, o qual foi
agraciado por Decreto Imperial de 1883, com o título de
Comendador. Em 1884 a empresa passou a razão social de
Rheingantz & Cia, com ampliação das instalações fabris e
montagem de uma nova fábrica, destinada ao fabrico de panos de
algodão. Cartão-postal da década de 1910. Acervo: Eduardo
Arriada.
60

CASSINO DOS MESTRES

O complexo industrial urbano criado na Rheingantz também era de dimensão


social e política. A ênfase com a produção e a disciplinarização da mão-de-obra para o
trabalho em larga escala, foram percucientes. A disposição espacial das casas dos
trabalhadores (casas-em-fita), dos engenheiros e técnicos (edificadas conforme o estilo
arquitetônico de seus países de origem), mostra um plano urbano racionalizado que
aproxima o operário de um ambiente permanente de convívio com a fábrica e a
produção. As casas foram construídas a partir de 1885, sendo alugadas por baixos
valores pela empresa aos operários no sentido de buscar uma disciplina permanente do
operariado. O surgimento da escola junto ao espaço da fábrica apresenta um
importante papel de socialização, preparação para o trabalho e controle ideológico da
atual ou futura força de trabalho. Na fotografia o Cassino dos Mestres local que
inicialmente acolhia técnicos/engenheiros para momentos de lazer já aparece como
Sociedade de Mutualidade dos trabalhadores da fábrica. Um detalhe relevante é a
bomba de gasolina com a suástica colocada na calçada. Fotografia da década de 1920.
Acervo: Fototeca Municipal.
61

A AVENIDA RHEINGANTZ

A Avenida Rheingantz hoje é denominada de


avenida Presidente Vargas, sendo o acesso rodoviário mais
movimentado ao centro da cidade. Nesta fotografia tirada
do alto do pórtico que foi construído em 1950, se observa
um bonde estacionado no canteiro central demarcando o
final da Linha do Parque. No Parque ficava a sede da
estação de trens para o Cassino. O Parque também era um
local de lazer da população nos finais de semana. A
arborização se destaca frente aos poucos carros que
circulam pela avenida, numa cena quase bucólica
completamente distinta da atualidade. Fotografia do
início da década de 1950. Acervo: BRG.
62

PORTO NOVO

O jornal Echo do Sul noticiava em sua edição de 9 de


março de 1915 que o Porto Novo começava a funcionar
permitindo que navios de grande porte pudessem atracar: “Os
armazéns são em número de oito, de 120 metros de
comprimento por 20. O que lhe da a capacidade de 7.200
metros quadrados de superfície. Sobre o cais existem já
prontos 14 guindastes elétricos. As linhas férreas do cais
também já estão prontas e bem assim a comunicação com a
Compagnie Auxiliare des Chemins de Fer. Para movimentar
todos os aparelhos do Porto, internos e externos, a Compagnie
já tem montada uma usina de energia elétrica de 600
kilowatts de capacidade. As obras do porto reclamavam o
aterro de uma área de 120 hectares de terrenos pantanosos,
agora saneados, transformados em terra firme”.
A área do Porto Novo antes do aterramento era
pantanosa formando a Ilha do Ladino onde existiu um forte
espanhol em 1776. Fotografia do Porto Novo entre 1915-20.
Acervo: BRG.
63

AVIAÇÃO COMERCIAL

No centro desta fotografia, no Saco da Mangueira, está


um hidroavião. No ano de 1927 a aviação comercial
brasileira teve início com a Linha da Lagoa (Lagoa dos
Patos), ligando Rio Grande a Porto Alegre. A empresa
aérea Condor Syndicat, ainda neste ano, entregaria a
Linha da Lagoa para a empresa que estava nascendo: a
VARIG. Portanto, Rio Grande teve uma participação
especial nos primórdios da aviação comercial brasileira.
O avião pousava no Saco da Mangueira existindo um
trapiche de 350 metros para que os passageiros chegassem
nas proximidades do avião (visível à direita da fotografia).
O local de acesso ficava nas imediações do Sagrado
Coração da Maria na Av. Presidente Vargas. Fotografia
aproximadamente do ano de 1930-32 e, possivelmente,
seja o hidroavião gaúcho que está pousado. Acervo: BRG.
64

COMPANHIA DE TECELAGEM ÍTALO-


BRASILEIRA

Denominada pela população de Fábrica Nova, foi


fundada por Giovanini Hesemberger em 1894. Sua fachada
principal ocupava duas quadras com frente para a Av.
Senador Corrêa, terminando na esquina da rua 24 de Maio
onde havia o palacete em que residia o diretor. A fábrica
apresentava uma área construída de mais de 10.000 metros
quadrados sendo desativada na década de 1950 tendo as
instalações e o palacete, posteriormente demolidos, restando
apenas à chaminé. A indústria era especializada na
fabricação de tecidos de algodão. O algodão bruto era
transformado em diversos tecidos, empregando mais de 600
operários e utilizando modernos equipamentos. Em 1921, a
razão social mudou para Companhia de Tecelagem Ítalo-
Brasileira sendo um dos seus dirigentes Paulo Pernigotti.
Foto da década de 1920/30 mostrando a fachada para a Av.
Senador Correa e o Palacete dos Pernigotti. Acervo: Fototeca
Municipal.
65

SWIFT

A Companhia Swift do Brasil S.A. foi fundada nos Estados Unidos,


implantando seu parque industrial em Rio Grande, junto ao Porto Novo, em
1917. O frigorífico ocupava uma área de cerca de 27 hectares, constituída de
vários prédios numa especialização das atividades e dos diversos setores.
No parque industrial estavam disponíveis residências para os
principais funcionários e técnicos norte-americanos. A Companhia de
Bondes da cidade manteve uma linha que transportava os empregados até o
frigorífico. Para escoamento da produção, foi construído um cais próprio que
agilizava o carregamento dos navios. Era uma pequena cidade em
funcionamento, com ambulatório, laboratório, restaurante e porto
particular, empregando cerca de dois mil trabalhadores. Encerrou as
atividades no final da década de 1950. Cartão-postal por volta de 1920.
Acervo: Leonardo Barbosa.
66

PORTO NOVO

Em 1908, o engenheiro Corthell junto com investidores franceses


fundaram a Compagnie Française du Port de Rio Grande do Sul (a
Companhia Francesa). O projeto previa a construção de um porto
marítimo, a manutenção de um calado de 10 metros de profundidade
ao longo do canal e a edificação de dois molhes que garantiriam a
manutenção de um calado seguro para as embarcações. Uma obra que
custou cerca de 18 mil contos de réis-ouro.
Com as condições de navegação na barra e as condições de
segurança de um porto moderno, reassumia-se uma função histórica já
observada nos primeiros documentos do brigadeiro José da Silva Paes,
nas décadas de 1730-40, ou nos escritos dos viajantes estrangeiros do
século XIX: a de tornar Rio Grande uma janela aberta para o mundo!
Cartão-postal do Porto Novo aproximadamente em 1920. Acervo:
Museu da Cidade do Rio Grande.
67

CONSTRUÇÃO DOS MOLHES DA BARRA

A construção dos molhes da Barra teve início em


outubro de 1911 sendo a obra inaugurada em 1º de
março de 1915, quando o navio-escola Benjamin
Constant com um calado de 6,35 metros cruzou a barra e
atracou no Porto Novo.
O longo trajeto de reivindicações e desafios para a
população local resultou numa das mais importantes obras
de engenharia hidráulica de sua época, onde trabalharam
mais de quatro mil homens.
A partir de 1915, Rio Grande passou com maior
intensidade a dinamizar-se com o comércio marítimo
internacional. A “barra diabólica” cedia frente ao crescente
otimismo burguês do início do século 20 fundado na crença
do domínio da tecnologia sobre a natureza! Cartão
comemorativo da inauguração dos Molhes da Barra em
1915. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.
68

O SETE DE SETEMBRO
Em outubro de 1831foi criada a Sociedade Sete de Setembro que foi responsável pela construção do
prédio situado na rua Direita (atual General Bacelar) e que tinha a saída na atual praça Júlio de Castilhos.
A inauguração foi no dia 7 de Setembro de 1832 foi à apresentação da peça de Antônio Xavier de Azevedo,
O Bom Amigo. Foi o espaço teatral com infra-estrutura básica projetado no Rio Grande do Sul.
O prédio ficava recuado em relação ao alinhamento da rua e apresentava três pavimentos,
construído com o estilo austero da arquitetura tradicional luso-brasileira da época. O pavimento térreo era
constituído de cinco portas e o recuo da fachada era de oito metros do alinhamento da calçada.
No Sete de Setembro, pela primeira vez na cidade, ocorreu a apresentação de aparelhos óticos que
levaram a criação do cinema. É o caso da apresentação do aparelho Diorama em 1852, o qual produzia
imagens fantasmagóricas por meio de gás hidrogênio e oxigênio e a apresentação, em 1897, do
cinematógrafo Edison. Nas décadas seguintes o Sete de Setembro foi cinema, teatro, local de apresentações
etc.
Em 15 de novembro de 1949 o Cine-Teatro Sete de Setembro foi reinaugurado com a mais moderna
sala de projeção da cidade e administrada pela Empresa Cupello. Sua arquitetura foi modificada para o
estilo art déco e marcou o imaginário daqueles que o freqüentaram entrando pela General Bacelar e tendo
sua saída na Praça Júlio de Castilhos (que era chamada de Praça Sete...). Fotografia: atividade no Sete de
Setembro na década de 1940. Acervo: BRG.
69

TEATRO POLITEAMA
Um dos mais tradicionais espaços de teatro e cinema em Rio Grande foi o Politeama que
recua ao século 19. O artista e diretor circense, Albano Pereira, esteve por trás deste
empreendimento. Em 1875, foi autorizado pela Câmara Municipal a construir um circo de
apresentações entre o Mercado Público e a Câmara do Comércio. A construção em madeira foi
inaugurada em janeiro de 1876 e funcionou até julho de 1881, quando um temporal fez desabar
o prédio. O circo-anfiteatro foi reconstruído em madeira e inaugurado em dezembro do mesmo
ano com a denominação de Politeama Rio-grandense, sendo demolido em 1884. Albano Pereira
em sociedade com Antonio Rey, conseguiram os recursos para construir um prédio em alvenaria
na esquina das ruas Andradas com General Câmara. Em 15 de fevereiro de 1885, o espaço era
inaugurado com um baile a fantasia. Em estilo eclético, o Politeama possuía dois pavimentos e
tinha capacidade para 1.600 pessoas. Cadeiras eram retiradas da platéia que se transformava
em picadeiro para atividades circenses que foi a origem das apresentações promovidas por
Albano. Esta mesma estratégia permitia o espaço para os foliões pulassem os bailes de carnaval.
Em 15 de agosto de 1913 foi inaugurado no interior do Politeama o Victol Cinema que
apresentava filmes e números de variedades. Surgia o cine-teatro Politeama em que a linguagem
cinematográfica, num crescendo, passa a atrair o público. O Politeama foi demolido na década
de 1950. Fotografia do prédio com uma bandeira hasteada na década de 1920. Acervo: BRG.
70

CHAFARIZ DA PRAÇA XAVIER FERREIRA


Em Rio Grande existiram quatro chafarizes franceses, em ferro fundido que foram
adquiridos na década de 1870 e confeccionados na Fundição Durenne, ao norte de Paris. Com
o abastecimento de água feito até então em poços e cacimbas foi criada em 1872 a Companhia
Hidráulica Rio-Grandense. Três chafarizes sobreviveram ao passar do tempo e mudança de
funcionalidades no fornecimento de água (e falência da Companhia). O da Praça Xavier
Ferreira foi instalado em dezembro de 1874 e é chamado de Chafariz das Três Graças (altura
de 6,12m e 3,74m de largura), constituído por três estátuas femininas – as mitológicas Três
Graças: Aglae, Tália e Eufrosina, filhas de Vênus, deusa da beleza e da graça; formosas,
davam-se as mãos como se preparassem para dançar, presidiam às boas ações e dispensavam
aos homens, amabilidade, jovialidade e outras qualidades que constituem o encanto da vida.

As estátuas originais das Três Graças foram confeccionadas em mármore em 1566 e


estão no acervo do Museu do Louvre. A arte em ferro possibilitou que os centros urbanos se
tornassem espaços de conhecimento de obras artísticas clássicas que levaram a
aformoseamentos de espaços públicos e de constituição de sociabilidades. Cartão-postal com o
Chafariz das Três Graças por volta de 1905. Acervo: Walter Albrecht.
71

ESTÁTUA DA LIBERDADE

O monumento foi edificado na transição entre a Monarquia e a República e


buscava homenagear o 13 de Maio de 1888, data da Lei Áurea e fim da escravidão no
Brasil. Com a chegada dos republicanos ao poder buscou-se destacar também o 15 de
novembro de 1889, data da Proclamação da República. Os jornais rio-grandinos
inclusive anunciavam que a Coluna à Liberdade fora o primeiro monumento brasileiro a
homenagear a República. O assentamento da pedra fundamental da coluna ocorreu no
dia 28 de setembro de 1889. A inauguração ocorreu num domingo, dia 15 de dezembro
de 1889 já na era republicana.
O monumento consta de uma coluna de cerca de dez metros, um pedestal de
quatro metros e meio e a figura feminina com pouco mais de três metros totalizando
aproximadamente 18 metros.
A figura feminina foi o símbolo máximo da liberdade e da República. Não é
possível afirmar que o autor da obra o italiano Ravagnelli já estava com a estátua
feminina pronta quando da interferência republicana na obra ou se a presença simbólica
da mulher foi idealização monarquista aceita pelo olhar dos novos detentores do poder:
os republicanos. Cartão-postal por volta de 1915.
72

MONUMENTO A BENTO GONÇALVES


Com a chegada dos republicanos ao poder em 1889, a ideia da construção de um
monumento em homenagem ao general farroupilha foi prevista no art. 8º das disposições
transitórias da Constituição do Rio Grande do Sul (1891).
Fator que mobilizaria a cidade do Rio Grande para sediar o monumento ocorreu a
partir de agosto de 1900, quando chegam os restos mortais de Bento Gonçalves da Silva a
Rio Grande, os quais foram doados pelo filho, Coronel Joaquim Gonçalves da Silva. Os
despojos foram colocados em uma urna e ficaram em visitação no prédio da Intendência
Municipal a partir de setembro de 1900. A construção do monumento-túmulo representaria
um combate ao esquecimento e a preservação da memória farroupilha. Foi indicado para
confeccionar a obra o escultor português Antônio Teixeira Lopes numa “comunhão entre a
alma portuguesa e o patriotismo brasileiro” conforme o jornal Echo do Sul de 19 de março de
1904. A estátua foi assentada em 2 de junho, ficando proibida a circulação pública em seus
arredores sendo inaugurada em 20 de setembro data do início da Revolução Farroupilha.
Ilustração da Revista Rio Grande do Sul de 1910. Acervo: BRG.
73

CLUBE CAIXERAL

O prédio do Clube Caixeral ostenta em sua


fachada a data de 1912. No ano de 1911 ocorria
uma grande mobilização no sentido de
construção da sede situada na Marechal
Floriano, prédio que deverá ser restaurado nos
próximos anos. Conforme matéria na revista
“Rio Grande do Sul” de maio de 1911, ao
comemorar o 16° ano de sua fundação (que era o
dia 3 de maio de 1895), foi lançada a pedra
fundamental do seu edifício. A rara ilustração
estampa a fachada do prédio que ainda não
estava construído.
74

REFINARIA IPIRANGA

Em 1934, na cidade de Uruguaiana, foi criada a empresa


Destilaria Rio-Grandense. Em 6 de agosto de 1936, em Porto Alegre,
empresários brasileiros, argentinos e uruguaios, constituíram a empresa
Ipiranga S.A. Companhia Brasileira de Petróleos. Para construir uma
refinaria de petróleo foi escolhida a única cidade com porto lagunar-
marítimo no Rio Grande do Sul. O local da construção ficava nos
alagadiços junto ao Saco da Mangueira. Em 7 de setembro de 1937,
ocorreu a inauguração da Refinaria, que fora trazida da União Soviética.
A atuação da Ipiranga, especialmente com a Fundação Cidade do
Rio Grande, foi marcada pela inserção na comunidade através de
atividades de divulgação/preservação do patrimônio histórico e
arquitetônico e com a criação de cursos superiores no campo da
Engenharia, semente que originou a Fundação Universidade Federal do
Rio Grande em 1969. Na feliz definição de Francisco Martins Bastos, a
Ipiranga foi “o grão de areia que virou montanha”’. Em 2007 o controle
acionário das Empresas de Petróleo Ipiranga foi vendido e em 2009 passa
a se chamar de Refinaria Riograndense S/A. Fotografia aérea de meados
da década de 1950 da Foto Postal Colombo.
75

CENÁRIOS DE 1940

Este cartão publicitário comemorativo a


chegada do ano de 1940 apresenta alguns dos
espaços públicos de maior destaque de Rio Grande
naquela época: o Canalete da Major Carlos Pinto;
a Marechal Floriano esquina com Duque de
Caxias, a Praça Xavier Ferreira com o chafariz
das Nereidas, o café Nacional na esquina da
Marechal com a Duque de Caxias; na praça
Tamandaré: o monumento a Bento Gonçalves da
Silva e a Vênus ao banho (escultura francesa em
ferro fundido que recua a década de 1870).
Acervo: Walter Albrecht.
76

SOCIABILIDADES
Este flagrante fotográfico obtido a partir
do interior da Praça Xavier Ferreira (final dos
anos 1940-início dos anos 1950) retrata um dos
locais mais freqüentados da cidade: a esquina das
ruas Marechal Floriano com Duque de Caxias. O
prédio da esquina (à esquerda) funcionou no
início do século XX com o Cinema Ideal e neste
período o atrativo era o Café Nacional.
O prédio da direita é a sede da Associação
dos Funcionários do Comércio que foi construído
no início do século XX. O fluxo de calhambeques e
de bondes dá um ar de modernidade
metropolitana ao cenário.
As caminhadas (footing) e paqueras pela
larga calçada marcaram a época. Acervo: BRG.
77

IGREJA DO CARMO
Pertence à Ordem dos Carmelitas Descalços a pedra fundamental da
Igreja Nossa senhora do Carmo, foi lançada em 16 de fevereiro de 1930. A
inauguração da igreja ocorreu no dia 22 de abril de 1938, sendo a primeira missa
celebrada pelo carmelita descalço Higino de Jesus Maria. A Igreja do Carmo é
projeto arquitetônico do Frei Mariano de São José, religioso carmelita de
nacionalidade espanhola e possui 38 metros de altura e 17 metros de largura.
Na base dos campanários existem várias gárgulas e no topo da fachada a
estátua de Nossa Senhora do Carmo.
A inspiração para o templo foi a Catedral de Burgos (noroeste da
Espanha), construída no século XIII seguindo o padrão gótico francês e gótico
alemão. Esta célebre Catedral (onde El Cid está enterrado) foi à inspiração para
o trabalho do Frei Mariano na cidade do Rio Grande.
As duas agulhas das torres foram colocadas em 1952 e nesta fotografia
(meados dos anos 1950) elas já fazem parte do conjunto arquitetônico.
78

RUA MARECHAL FLORIANO NA BELLE ÉPOQUE (1900)

Às imagens nos fazem lembrar que estes fragmentos da trajetória de


realizações humanas em espaços de sociabilidade possibilitam inesgotáveis
leituras de práticas culturais. Nos permite constatar que o espaço e o tempo
nas sociedades estão em interação indissociável criando a cultura.
Nesta foto os passos dos dois personagens se projetam para um futuro
que está continuamente sendo criado e que se transforma em fragmentos
históricos quando visto da distância do contemporâneo.
A fotografia retrata um momento congelado do tempo, que no presente
chamamos de passado. Nosso olhar sobre as imagens é um processo de criação,
um despertar para uma longa caminhada da humanidade que se faz
conjugando passado, presente e futuro, num processo contínuo, de uma
história de permanências e passeidades. Acervo: BRG.
79

Porto Velho e casario da Riachuelo em 1865. Acervo: BRG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Francisco das Neves & TORRES, Luiz Henrique. A Cidade do Rio Grande: estudos históricos.
Rio Grande: FURG, 1995.
______ & _______. A Cidade do Rio Grande: uma abordagem histórico-historiográfica. Rio Grande:
FURG, 1997.
TORRES, Luiz Henrique. História e Educação Patrimonial da Cidade do Rio Grande. Rio Grande;
FURG, 1999.
________. Câmara Municipal do Rio Grande: berço do parlamento gaúcho. Rio Grande: Salisgraf,
2001.
________. Rio Grande: cartões-postais e patrimônio na Belle Époque. Rio Grande: Edfurg, 2013.

_______. História do Município do Rio Grande. Rio Grande: Pluscom, 2015.

ACERVO FOTOGRÁFICO
Biblioteca Rio-Grandense (BRG).

Museu da Cidade do Rio Grande.

Fototeca Municipal.

Eduardo Arriada.

Leonardo Barbosa.

Walter Albrecht.
80

BLOG: historiaehistoriografiadors@blogspot.com

O AUTOR

Luiz Henrique Torres é Doutor em


História do Brasil. Professor Titular na
Universidade Federal do Rio Grande onde
atua nos Cursos de História Licenciatura e
Bacharelado, nos Programas de Pós-
Graduação em Gerenciamento Costeiro e
Letras. É autor de mais de oitocentas matérias
sobre história da cidade do Rio Grande
publicadas no Jornal Agora.

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