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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

Paulo Francisco Donadio Baptista

A MONARQUIA E OS BANHOS DE
MAR: O CASO BRASILEIRO

BAPTISTA, Paulo Francisco Donadio


A MONARQUIA E OS BANHOS DE MAR:
O CASO BRASILEIRO
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):147-163, jul./set. 2016

Rio de Janeiro
jul./set. 2016
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A MONARQUIA E OS BANHOS DE MAR: O CASO


BRASILEIRO
THE MONARCHY AND SEA BATHING IN BRAZIL
Paulo Francisco Donadio Baptista1

Resumo: Abstract:
Este artigo situa a atitude dos membros da fa- This article assesses the attitude of the members
mília real brasileira em relação às práticas de of the Brazilian royal family towards the prac-
banho de mar adotadas pelas realezas europeias. tice of sea-bathing, as adopted by European
Relata a presença de D. João, Carlota Joaqui- royalties. It discusses the presence of D. João,
na, Pedro I, Pedro II, Tereza Cristina e Isabel Carlota Joaquina, Pedro I, Pedro II, Tereza
nas praias de banho da Corte Imperial. Analisa Cristina and Isabel on the bathing beaches of
como o exemplo tímido dado pelos monarcas the Imperial Court. We analyze how the timid
brasileiros deixou a aristocracia do Rio de Ja- example given by the Brazilian monarchs left
neiro indiferente aos banhos de mar e atrasou a the aristocracy of Rio de Janeiro indifferent to
adesão dos cariocas à sua prática. sea bathing and delayed the adherence of the
Cariocas to this practice.
Palavras-chave: Banhos de mar; Monarquia; Keywords: Sea baths; monarchy; Rio de Ja-
Rio de Janeiro. neiro.

No século XIX, a prática dos banhos de mar estava consolidada na


Europa. A Inglaterra havia tomado a dianteira na restauração do gosto
aristocrático pelos costumes balneários desaparecidos no final da Anti-
guidade romana. Com a ajuda de viajantes ingleses, as praias da Europa
continental ganharam fama de estações elegantes, ao lado das estações
hidrominerais. Autorizados pela medicina neo-hipocrática, os aquáticos
procuravam a cura dos seus males na respiração dos ares marinhos e na
imersão nas ondas salgadas do mar. Junto com o uso terapêutico, fundou-
-se uma estética das praias, baseada no gosto pela paisagem pitoresca da
beira-mar. Instituiu-se o verão como estação preferida dos banhistas e se
estabeleceram os divertimentos praianos, natação, regatas, convescotes,
bailes, passeios e jogos. Codificaram-se, sobretudo, os procedimentos
para a manutenção do pudor balneário, as máquinas de banho, as bar-
racas, as cabines de aluguel para troca de roupas, além da própria indu-
mentária praiana. Ao final do século romântico, uma pujante economia
movimentava praias do Báltico, do Mar do Norte, do Canal da Mancha,
do Atlântico, do Mediterrâneo e do Adriático, com suas residências de ve-
1 –1 Doutorando em História Social. UFRJ.

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raneio, seus hotéis de luxo, seus estabelecimentos balneários e uma varie-


dade de produtos e serviços para banhistas. Uma cultura praiana moderna
estava em vigor, atraindo diferentes setores da sociedade, a começar pelo
poder político.

Coube à aristocracia a primazia da reinvenção das praias balneárias.


Afastados da produção, vivendo da renda fundiária e sentindo-se fisica-
mente debilitados em meio a um mundo social revolucionado, muitos
nobres passaram a procurar, por meios próprios, a vilegiatura à beira-mar,
no intervalo entre uma guerra e outra. A burguesia em ascensão, à procu-
ra de prestígio e destinação para a riqueza recém-acumulada, não tardou
em imitar a nobreza nesse movimento rumo às praias. Com a revolução
tecnológica dos meios de transporte, o advento da navegação a vapor e,
sobretudo, a invenção das estradas de ferro, o acesso às estações praianas
começou a ser franqueado a uma população de classe média. Ao final do
século XIX, a regulamentação das férias e do descanso semanal permi-
tiu às classes trabalhadoras a adesão à moderna prática da fuga para as
praias.2 Num mundo de mobilidade social, a hierarquia funcionava como
um sistema de exemplaridade, em que o modelo fornecido pelo topo da
sociedade era seguido por setores subalternos em busca de afirmação.
O ócio conspícuo, para usar a expressão de um contemporâneo do final
desse século,3 sinalizava boa situação social, e as praias de banho serviam
perfeitamente à obtenção desse efeito.

Famílias reais e membros da alta aristocracia exerceram um papel de


proa nesse processo de difusão do costume por adesão à hierarquia. Reis
e rainhas, príncipes e princesas, duques e duquesas eram admirados pelos
súditos, que podiam acompanhar sua agenda de aparições por meio dos
jornais. Embora não exigisse a mesma pompa e o fausto das festividades
oficiais, a vida pessoal dessas figuras constituía parte indispensável dos
rituais monárquicos, cuja simbologia atuava na reafirmação do poder cen-

2 –1 CORBIN, Alain. O território do vazio, pp. 287-297; LENCEK, Lena e BOSKER,


Gideon. The beach, pp. 73-93.
3 –1 VEBLEN, Thorstein. Teoria de la classe ociosa.

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tral.4 A presença de uma dessas celebridades lançava o olhar de todos para


o lugar que prestigiava, fosse um teatro de concerto, fosse uma estação
de cura. Nas praias de banho não era diferente, pois o veraneio dos reis
ensejava uma série de festas, a que compareciam tanto os nobres da Corte
como os plebeus e a gente simples da localidade.

Weymouth, ao sul da Inglaterra, no Canal da Mancha, começou a ser


procurada pelo rei Jorge III e seus irmãos no final do século XVIII. Um
deles, o duque de Gloucester, mandou construir um palácio que se torna-
ria residência real. Mas foi em Brighton, também na Mancha, porém mais
perto de Londres, que se estabeleceu, no início do século XIX, a estação
balneária preferida da família real britânica. No reinado de Guilherme
IV, o Pavilhão Real animou a vida nessa cidade praiana, que passou a ser
considerada uma segunda capital. Nos seus banhos, o príncipe de Gales
seguiu tratamento de saúde por mais de quarenta anos. A rainha Vitória
chegou a visitar o Chain Pier de Brighton em 1837 e 1843, quando, en-
tretanto, a crescente demanda pela praia começaria a afastar a realeza e
alta aristocracia.5

Na França, a moda elegante do banho de mar lançada pelos ingleses


se espalhou com a ajuda decidida de Maria Carolina de Bourbon-Sicília,
duquesa de Berry. Graças a ela, a praia de Dieppe, a partir dos anos 1820,
passou a ser identificada com a monarquia francesa. A cada verão, sua
chegada à cidade representava um triunfo, com salvas de canhão, ilumi-
nação ornamental, distribuição de presentes, programa de teatro e baile
oficial. O povo aclamava sua protetora e cantava canções compostas em
sua homenagem. A entrada da duquesa no banho de mar configurava um
verdadeiro espetáculo.6 Mais tarde, Dieppe conquistou a aprovação do
imperador Napoleão III. Já no Segundo Império, entretanto, sua esposa,

4 –1 ELIAS, Norbert. A sociedade de corte.


5 –1 CORBIN, Alain. Op. cit., pp. 282-290; LENCEK, Lena e BOSKER, Gideon. Op. cit.,
pp. 72-90.
6 –1 CORBIN, Alain. Op. cit., pp. 290-292; MARTIN-FUGIER, Anne. Os ritos da vida
privada burguesa, p. 231; RAUCH, André. Les vacances et la nature revisité, p. 85.

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Eugenia, demonstrou predileção pelo banho de mar em Biarritz, que se


tornaria, a partir de 1850, a praia francesa da moda.7

A identificação das realezas com as estações balneárias se estendia


para outros países da Europa. No começo do século XIX, o rei da Prús-
sia, Frederico III, incentivou o desenvolvimento de balneários em Putbus,
Zoppot, Swinemünde, Warnemünde, Apenrade e Kiel, localidades da cos-
ta do Báltico. Em 1819, o rei da Suécia, Carlos XIV, frequentou Helsing-
borg. Por essa época, o príncipe Talleyrand foi a Nápoles tomar banhos.
Na Bélgica, Ostende ganhou importância a partir de 1834, quando o rei
Leopoldo I e a rainha Luisa-Maria passaram a temporada nessa praia.8 Na
Península Ibérica, em meados do século XIX, os banhos de mar também
eram procurados pelos monarcas. Isabel II, rainha de Espanha, foi a San
Sebastian em 1845 e a Barcelona, no ano seguinte. O rei de Portugal,
Fernando II, tomava banhos de mar mesmo em Lisboa. Já Luís I preferia
passar a temporada em Cascais, que frequentou assiduamente até o fim de
seu reinado, em 1889.9

Os monarcas que reinaram no Brasil, estabelecidos no Rio de Janei-
ro, de 1808 a 1889, também foram, ainda que não muito assíduos, usuá-
rios dos banhos de mar. A transferência da família real portuguesa para a
capital brasileira havia mudado a paisagem social da cidade. A chegada
da Corte portuguesa, um contingente de mais de quinhentas pessoas, en-
tre nobres e militares,10 e a chegada de muitos estrangeiros, provenientes
de diferentes países da Europa, a partir da abertura dos portos às nações

7 –1 WEBER, Eugen. França fin-de-siècle, p. 220; LENCEK, Lena e BOSKER, Gideon.


Op. cit., pp. 123-124.
8 –1 CORBIN, Alain. Op. cit., pp. 275; “Stokolmo”. In Gazeta do Rio de Janeiro, 25 de
setembro de 1819, p. 3; Idade d' Ouro do Brasil, 18 de setembro de 1818, p. 1; CORBIN,
Alain. Op. cit., pp. 294.
9 –1 “Notícias diversas”. In Diário do Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1845, p. 1; “Exte-
rior”. In Diário do Rio de Janeiro, 6 de julho de 1846, p. 1; “Extrato da correspondência
do Diário”. In Diário do Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1850, p. 2; “Correspondência
de Lisboa”. In Diário do Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1875, p. 1; “S. M. el-rei de
Portugal”. In O Paiz, 4 de setembro de 1889, p. 1.
10 – CAVALCANTI, Nireu. A reordenação urbanística da nova sede da Corte.

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aliadas de Portugal, desencadearam um incremento e uma diversificação


na vida cultural carioca. No período joanino, antes da crise que devolve-
ria a família real a Lisboa, o Rio de Janeiro foi palco de grandes festejos
monárquicos. Batizados, casamentos, aniversários e outros eventos im-
portantes para a afirmação da realeza eram comemorados com fausto.
Dias consecutivos de festas atraíam o público para um variado programa
de diversões, incluindo touradas, cavalhadas, encamisadas, encenações
teatrais e óperas, com a cidade sob iluminação especial, ensurdecida pelo
espocar de fogos de artifício. Além dos festivais da Coroa, cresciam as
procissões devotas e se multiplicavam as diversões em residências parti-
culares, com bailes e recepções. Na segunda década do século, aparece-
ram as primeiras sociedades recreativas e o primeiro teatro da cidade, o
São João.11 O primeiro grande jornal carioca, a Gazeta do Rio de Janei-
ro, dava notícia desses e outros acontecimentos. Os banhos de mar, nas
praias da cidade, não eram de todo desconhecidos, mas a grande atração
balneária da época era a Flutuante, espécie de barca de banhos, com ca-
marotes privativos para banhistas, fundeada no largo do Paço.12

Carlota Joaquina e D. João tomaram banhos de mar no Rio de Ja-


neiro, mas não se banhavam juntos. A distância entre as praias escolhidas
por cada um correspondia à luta política que os separava: ela, na praia de
Botafogo, extremo sul da cidade; ele, na ponta do Caju, extremo norte. Na
segunda década do século XIX, esses pontos eram arrabaldes afastados
do núcleo urbano, de difícil acesso, devido à precariedade dos meios de
transporte e das vias públicas. Assim, se saíam da cidade para ir aos ba-
nhos, os Bragança não chegaram a criar nessas praias pontos de reunião
para onde se dirigiam sazonalmente a aristocracia e a elegância. Carlo-
ta passava a maior parte do tempo hospedada em Botafogo, sem exigir
frequentes deslocamentos. João morava no Paço, no centro da cidade, e

11 – EDMUNDO, Luiz. A Corte de D. João no Rio de Janeiro (1808-1820); SILVA, Ca-


mila Borges da. O Símbolo Indumentário; MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias da
Rua do Ouvidor, p. 66.
12 – “Avisos”. In Gazeta do Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1811, p. 4; “Avisos”. In
Gazeta do Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1812, p. 4; “Avisos”. In Gazeta do Rio de
Janeiro, 22 de novembro de 1815, p. 4.

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mandou construir um abrigo balneário para seu uso, perto da quinta da


Boa Vista, no Caju. Mas, notoriamente avesso à água, utilizou os banhos
de mar por pouco tempo e essa prática não chegou a atrair séquitos de
admiradores. Na verdade, fora das situações oficiais, João VI raramente
fazia aparições públicas junto aos súditos.13 Em contraste com os hábitos
balneários das casas reais europeias, o primeiro casal real residente no
Rio de Janeiro fazia um uso discreto dos banhos de mar, quase sem espec-
tadores e sem espetacularidade nenhuma.

Sobre as abluções de Carlota Joaquina quase nada ficou anotado nos


registros historiográficos, além do constante afastamento do Paço. Ela se
banhava na companhia das filhas, mas não ficou menção à presença do
futuro imperador nos seus banhos. Carlota também recorria aos serviços
balneários do capitão de fragata Antonio José de Carvalho.14 A época ain-
da não era dos exercícios de natação nas praias e as damas comumente
solicitavam o amparo de um cavalheiro para enfrentar a força das ondas.
Os banhos de mar estavam longe de exigir uma atitude desportiva dos
banhistas em geral e muito menos das representantes do belo sexo.

Os banhos de mar de D. João não duraram muito tempo, mas perma-


neceram na crônica curiosa do passado. O príncipe, a contragosto, sub-
meteu-se às imersões marinhas por ordem médica. Havia algum tempo,
tinha sofrido com uma inflamação na perna, provocada por uma mordida
de carrapato mal curada.15 Agora, a lembrança desse padecimento des-
pertou nele o temor de ser atacado, debaixo d’ água, por caranguejos e
outros expoentes da fauna aquática. Assim, mandou construir um original
engenho, que nada tinha a ver com as máquinas de banho de mar conhe-
cidas na Europa. Tratava-se de uma “espécie de banheira perfurada”16,
ou melhor, um “jamelão ou cocho de madeira, suspenso por meio de cor-
rentes de ferro, ligadas a turcos do mesmo metal”,17 por meio do qual o
13 – NORTON, Luiz. A Corte de Portugal no Brasil, p. 132; MONTEIRO, Tobias. Histó-
ria do Império: a elaboração da Independência, p. 84.
14 – NORTON, Luiz. Op. cit., pp. 132-135; MONTEIRO, Tobias. Op. cit., p. 91.
15 – PEREIRA, Antonio Batista. Figuras do Império e outros ensaios, p. 336.
16 – GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio, p. 214.
17 – MONTEIRO, Tobias. Op. cit., p. 91.

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banhista era mergulhado no mar e em seguida içado de volta. Os turcos


de ferro, que sustentavam as correntes, eram “colocados além da linha
onde vinham rebentar as ondas sobre a praia”.18 As narrativas a respeito
não descreveram com detalhes o funcionamento desse mecanismo, nem
restaram vestígios arqueológicos que ajudem a esclarecê-lo. A despeito
disso, ou talvez por isso mesmo, a historiografia tomou gosto pelo episó-
dio, que foi incluído no anedotário de João VI e se transformou na lenda
segundo a qual ele teria usado os banhos para tratar as próprias mordidas
de carrapato.19

O herdeiro de João VI também conheceu os banhos de mar no Rio de
Janeiro, mas por motivos diversos. Enquanto o pai fazia uso da hidrote-
rapia por prescrição médica, o filho, sem se queixar de nenhuma moléstia
que justificasse uma temporada de cura, encontrava nas praias oportuni-
dade de recreação. Nem sempre se tratava, porém, de um prazer elegante,
como aquele sugerido pela atitude festiva da duquesa de Berry, em Die-
ppe. Chegado ao Brasil com 9 anos de idade, Pedro recebeu uma educa-
ção formal precária e foi criado mais ou menos livremente, na rua, entre
escravos e gente do povo. Adolescente, gostava de trabalhos braçais e se
ocupava voluntariamente com tarefas de cavalariça, entre as quais banhar
os animais na praia. Vivia mais tempo nos domínios da residência de São
Cristóvão e da fazenda de Santa Cruz, mas também conheceu Paquetá,
ilha do Governador e Praia Grande, em Niterói.20 Já imperador, Pedro I
frequentou, pelo menos algumas vezes, os banhos de mar em Botafogo,
onde brincava com as crianças e recebia o beija-mão dos banhistas. Nessa
praia, por iniciativa sua, foi construída uma edificação destinada à troca
de roupa dos frequentadores. Também usava uma chácara no Catete para
tomar banhos na praia do Flamengo.21
18 – EDMUNDO, Luiz. Op. cit., v. 1, p. 131.
19 – RENAULT, Delso. O Rio antigo nos anúncios de jornais 1808-1850, p. 26; GER-
SON, Brasil. Op. cit., p. 214.
20 – SOUSA, Octavio Tarquínio de. A vida de D. Pedro I, v. 1, pp. 77-81; LUSTOSA,
Isabel. D. Pedro I.
21 – DUNLOP, Charles Julius. Rio Antigo, v. 1, p. 33; EBEL, Ernst. O Rio de Janeiro e
seus arredores em 1824, p. 152.

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Esses banhos de mar de Pedro I, ou não foram muito frequentes, ou


não tiveram importância na relação do Imperador com os súditos, pois
não mereceram muita atenção de seus biógrafos. Os relatos mais ricos
de sua presença em Botafogo e no Flamengo foram deixados por dois
militares alemães, Ernst Ebel e Theodor Bösche, que atuaram como mer-
cenários, no Brasil, nos anos conturbados que se seguiram à proclamação
da Independência. Segundo o testemunho desses contemporâneos, o pri-
meiro imperador brasileiro costumava sair “a passeio, muito à vontade,
pela praia in puris naturalibus”.22 Contaram eles também que, certa vez,
durante uma recepção na residência do cônsul-geral da Prússia, no Catete,
aproximou-se da janela um grupo de senhoras “quando de repente, no
terraço do prédio fronteiro, apareceu o soberano do Brasil, completamen-
te nu, como um jovem Deus (...). As senhoras fugiram espavoridas... D.
Pedro, porém, soltou estrepitosa gargalhada, atirando-se em seguida ao
mar”.23

Essas narrativas talvez pertençam ao vasto rol de lendas que se pro-


duziu em torno do líder da Independência do Brasil. Sobretudo na obser-
vação de alguns estrangeiros, Pedro I foi apresentado como um homem
destituído de noções de pudor e de distinção social, capaz de se sentar à
mesa de refeições junto aos peões, quando lhe aprouvesse, ou de evacuar
na frente de uma tropa de soldados, certa ocasião em que se sentiu desar-
ranjado.24 Possivelmente, esses viajantes europeus, ao publicarem suas
aventuras em seus países de origem, procuravam fazer sensação junto a
um público puritano. Mas seus relatos a respeito da nudez balneária de
Pedro I nada tinham de inverossímeis.

Ao contrário do que sugere a anedota do rei nu,25 não havia nem lei
nem costume, no tempo das monarquias fortes, que impedisse um sobera-

22 – EBEL, Ernst. Op. cit., p. 152.


23 – Idem. Ver também: REZZUTTI, Paulo. D Pedro, a história não contada, p. 16.
24 – SOUSA, Octavio Tarquínio de. Op. cit., v. 1, p. 172; TAUNAY, Afonso de E. O Rio
de Janeiro de antanho: impressões de viajantes estrangeiros, pp. 151-152. Pedro I tam-
bém ganhou fama de boêmio nudista, mas longe das praias de banho: FREYRE, Gilberto.
Ordem e Progresso, p. LXXVII.
25 – “A roupa nova do imperador”, conto publicado por Hans Christian Andersen em

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no de se desnudar perante o público. Nos séculos XVII e XVIII, reis e rai-


nhas de França ficavam nus diante de serviçais, de outros integrantes da
sua família e dos aristocratas que tinham o privilégio de assistir à toalete
real, no ritual do quarto, destinado a reafirmar as diferenças hierárquicas
da sociedade de corte.26 Fora dos palácios, a céu aberto, os soberanos
também estavam autorizados a se desnudar, como o fez Jorge III, num
cerimonial na praia de Scarborough.27 Por que razão o imperador Pedro I
se sentiria constrangido em se despir na praia de Botafogo?

Diferentemente do rei da Inglaterra, porém, em suas abluções nas


praias de Botafogo e do Flamengo, Pedro I não participava de nenhuma
cerimônia. Na ausência de uma justificativa ritual para o seu procedimen-
to, cabia a reação escandalizada das convidadas do diplomata alemão ao
se depararem com a inesperada nudez imperial. Desde o fim do século
anterior, uma moral pudica se instalava nas praias de banho europeias e a
liberdade dos homens para andarem nus estava sob ataque.

Possivelmente, Pedro estava consciente do privilégio dos monarcas


com respeito à nudez pública do corpo, quando se riu do susto tomado
por aquelas senhoras à janela do consulado prussiano. Mas certamente
não havia conhecido a desenvoltura nudista no convívio com a Corte ins-
talada no Rio de Janeiro. A juventude passada na companhia da gente
simples que ocupava as ruas da cidade colonial pode lhe ter ensinado essa
atitude da nudez balneária. Pois não era incomum nessa época, tanto nas
praias cariocas como nas praias da Inglaterra e da Europa continental, a
presença de homens nus ou seminus, pertencentes à localidade, traba-
lhando, banhando-se ou descansando.28 No Rio de Janeiro, incluíam-se
nesse extrato social os escravos e os libertos que lavavam cavalos, des-
pejavam lixo ou simplesmente folgavam nas praias centrais da cidade. O
espaço público não era destinado às mulheres que não fossem escravas,
1837. ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Andersen.
26 – ELIAS, Norbert. Op. cit., pp. 58-62; LADURIE, Emmanuel Le Roy. Saint-Simon ou
o sistema da Corte, pp. 54-55.
27 – LENCEK, Lena e BOSKER, Gideon. Op. cit., p. 84.
28 – TRAVIS, John K. Continuity and change in english sea-bathing, 1730-1900: a case
of swimming with the tide; CORBIN, Alain. Op. cit., pp. 96-97.

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trabalhadoras ou prostitutas. Se ocorreu, de fato, o nudismo praiano de


Pedro I nada tinha de muito espantoso aos olhos da maioria dos cariocas.

Pedro II teve uma educação completamente diferente da do pai. Lon-
ge da liberdade das ruas, recebeu de seus preceptores uma formação eru-
dita, apropriada a um futuro estadista. Coroado aos 14 anos de idade, a
partir de então já não teria oportunidade de entrar em contato com o povo
fora da vidraça social que sua posição hierárquica impunha.

A primeira referência à presença de Pedro II numa praia de banhos


ocorreu na imprensa em abril de 1855, quando sua esposa, Tereza Cris-
tina, precisou fazer uso dos banhos de mar por prescrição dos seus mé-
dicos. Para isso, suas majestades se hospedaram por algumas semanas
na chácara do marquês de Abrantes, na praia de Botafogo. O Imperador
já havia conhecido o lugar pelo menos três anos antes, quando assistiu a
uma das regatas organizadas pelo mesmo marquês. Agora, para facilitar
o trânsito da carruagem imperial, foi providenciado pela municipalidade
o melhoramento do Caminho Novo de Botafogo (hoje rua Marquês de
Abrantes).29

Novas referências aos banhos de mar tomados pelos imperadores


do Brasil reapareceram em 1877. Dessa data até pelo menos 1883, Pe-
dro e Tereza Cristina fizeram uso regular de banhos de mar terapêuticos.
Mas agora preferiam se manter nos domínios domésticos que ligavam a
residência real de São Cristóvão ao balneário da ponta do Caju.30 Costu-
mavam sair de madrugada, desacompanhados dos camaristas e assistidos

29 – “Notícias diversas”. In Correio Mercantil, 8 de abril de 1855, p. 1; “Ilma. Câmara


Municipal”. In Diário do Rio de Janeiro, 16 de julho de 1855, p. 1; FLETCHER, James
Cooley e KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros: esboço histórico e descritivo.
v. 1, pp. 282-283; LYRA, Heitor. História de D. Pedro II – Ascensão, p. 370; GERSON,
Brasil. Op. cit., pp. 374-375; RENAULT, Delso. Rio de Janeiro: a vida da cidade refletida
nos jornais 1850-1870, pp. 62-63.
30 – “Folhetim da Gazeta de Notícias”. In Gazeta de Notícias, 15 de novembro de 1877,
p. 1; “Tópicos do dia”. In A Folha Nova, 12 de novembro de 1883, p. 1.

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apenas por alguns cadetes, praças do Exército e um capitão que os seguia


até o mar.31

Por essa época, a filha mais velha do casal, a princesa Isabel, também
fazia uso dos banhos de mar, como parte de um tratamento médico, em
resposta ao seu “temperamento linfático (...), a um certo grau de cloro-
-anemia que se notava em seu hábito externo, bem como aos sintomas
evidentes de um vício herpético”.32 Não era evidente a eficácia dessa tera-
pêutica, mas Sua Alteza insistiu nos banhos de mar. De 1886 a 1889, sem-
pre na primavera, Isabel instalou-se no seu palácio da rua da Guanabara,
em Laranjeiras, de onde saía, no final da tarde, para o banho da praia do
Flamengo, em companhia do esposo, o conde d’ Eu.33

Ao contrário do que se poderia esperar de uma realeza, todos esses


banhos de mar da família imperial brasileira foram muito discretos. Impe-
rador e imperatriz praticamente se escondiam na ponta do Caju. Princesa
Isabel, herdeira presuntiva do trono, personagem de importância política
depois da assinatura da lei do Ventre Livre, preferia o horário da tarde,
menos frequentado, para fazer a sua talassoterapia.34 Esses banhos, apesar
de públicos, não se ofereciam como oportunidade para os súditos verem e
cumprimentarem os soberanos. Assim, rara exceção constituiu o episódio
das baleias na praia de Copacabana, que, de resto, nada teve a ver com
banhos de mar propriamente ditos.35

Em agosto de 1858, circulou no Rio de Janeiro a notícia de que duas


imensas baleias tinham encalhado na praia da Copacabana. O acesso a
essa parte do litoral oceânico, todo cercado de montanhas, estava faci-
litado depois da abertura, três anos antes, da estrada do Barroso (atual

31 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador, p. 219.


32 – “Palestra médica”. In O Progresso Médico, 1877, p. 230.
33 – “Ao High-Life”. In O Paiz, 15 de abril de 1886, p. 4; Gazeta da Tarde, 13 de outubro
de 1887, p. 2; “Corte”. In Diário do Comércio, 11 de setembro de 1889, p. 1.
34 – “Ao High-Life”. In O Paiz, 15 de abril de 1886, p. 4.
35 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. cit., p. 321; RENAULT, Delso. Rio de Janeiro: a
vida da cidade refletida nos jornais 1850-1870, p. 156; GERSON, Brasil. Op. cit., pp.
413; “Publicações a pedido - Copacabana - A mão de Deus”. In Diário do Rio de Janeiro,
2 de setembro de 1858, p. 3.

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ladeira dos Tabajaras), que, escalando o morro de São João, ligava o final
da rua Real Grandeza, em Botafogo, à primeira via traçada em Copaca-
bana, a rua do Barroso (atual rua Siqueira Campos). Agora, era possível
alcançar o lugar por meio de veículos, atenuando-se o sacrifício dos pe-
regrinos que demandavam a Igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana,
única edificação da localidade, além das cabanas de pescadores que a
rodeavam.36 Nessas condições, parte do povo carioca se animou a ir ver
as famosas baleias. E o jovem Imperador, acompanhado da esposa e das
duas filhinhas, também se colocou a caminho, na manhã de 22 de agosto.

Na ida como na volta, Pedro e companhia percorreram a pé uma boa


parte do caminho, ao lado de outros curiosos. Um observador estrangeiro
ficou surpreso ao ver “a família imperial passeando rodeada pelo povo e
conversando com a maior afabilidade com as pessoas de todas as clas-
ses, que disputavam entre si a fortuna de se chegar para aquelas augus-
tas personagens”.37 Como os soberanos não eram escoltados por nenhum
guarda, as pessoas podiam se aproximar sem dificuldade. “O povo con-
corria a oferecer às princesinhas ora uma flor, ora uma fruta, e desobstruía
o caminho de qualquer empecilho que pudesse molestá-las no passeio”.38
Foi um dia de festa inusitado, cheio de piqueniques, num lugar diferente,
só recentemente descoberto pela cidade. As baleias, motivo da romaria,
não compareceram, mas nem por isso aquela gente se sentiu frustrada.
Pois foi uma das raras vezes em que os cariocas puderam exercer o seu
papel de súditos, num teatro improvisado, fora de qualquer data da mo-
narquia.

O povo brasileiro habitava um reino um tanto distante do modelo


monárquico europeu que deveria inspirá-lo. Faltava à monarquia solitária
das Américas a vida de corte brilhante que caracterizava esse tipo de so-
ciedade. Faltava ao monarca tupiniquim a disposição para assumir o pa-
pel espetaculoso, grandioso, luxuoso, que o trono lhe exigia. Assim, aos
36 – GERSON, Brasil. Op. cit., pp. 412-413; BERGER, Eneida e Paulo Copacabana –
História dos Subúrbios, p. 48; Copacabana 1892-1992 – subsídios para a sua história,
pp. 36-37.
37 – “Notícias diversas”. In Correio Mercantil, 24 de agosto de 1858, p. 1
38 – Idem.

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súditos restava se contentarem com a escassez e a pobreza das cerimônias


oficiais do Império.

No começo do reinado, o jovem imperador chegou a promover gran-


des festas, em comemoração aos casamentos de integrantes da família
real, como ocorria no tempo do seu avô. Mas esse ímpeto inicial se per-
deu e, em 1852, pelo encerramento dos trabalhos nas câmaras, foi realiza-
do o último grande baile oferecido pelo imperador. A partir daí, Pedro II
passou a frequentar os bailes do Cassino Fluminense.39 Terminada a guer-
ra do Paraguai, aboliu o uso da indumentária real, do cetro e da coroa, e
passou a vestir seu célebre jaquetão.40 Nas cerimônias de gala oficiais, no
paço da cidade, colocava uma farda de marechal de exército. Em 1872,
extinguiu a prática do beija-mão.41 Com essas atitudes, Pedro II simples-
mente havia descartado o uso de um aparato simbólico indispensável à
sustentação das monarquias de então.

Não era por acaso, mas pela defesa deliberada de um estilo de vida
e ao mesmo tempo de uma política de Estado, que o monarca brasileiro
desprezava as oportunidades de conferir à sua vida pessoal a espetacula-
ridade em que investiam os seus colegas europeus para bem governar. Os
banhos de mar dos Bragança, no Rio de Janeiro, eram de uma intimidade
essencialmente burguesa.

Esses banhos, de fato, não tinham muita importância para a família


imperial. Funcionavam apenas como procedimento terapêutico, usado
quando necessário, por determinação médica. Não se transformaram num
prazer, como aquele sugerido por Pedro I. O gosto de Pedro II pendia para
o lado oposto ao mar: a serra.

A partir de 1850, Petrópolis substituiu a fazenda de Santa Cruz como


lugar de veraneio dos imperadores. Na sua cidade, Pedro se sentia bem.
Com o tempo, começou a morar quatro a cinco meses por ano em seu pa-
lácio de verão. Petrópolis era uma cidade europeia, sem pobreza exposta
39 – CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II, pp. 90-94.
40 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. cit., pp. 320-322.
41 – CARVALHO, José Murilo de. Op. cit., p. 94.

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nas ruas, onde aristocracia e diplomacia podiam fazer valer sua elegância.
Aí Pedro II passeava à vontade ao lado dos súditos, como naquele dia em
Copacabana.42

Ora, Petrópolis, cidade serrana, havia sido construída de modo a


proteger a monarquia das epidemias que começavam a grassar no Rio
de Janeiro, cidade portuária, na estação do calor. A altitude e o clima
ameno prometiam saúde, no receituário da mesma medicina neo-hipocrá-
tica que prescrevia banhos de mar. Prometiam refrigério para a canícula,
igualmente procurado nas praias pelos banhistas. Petrópolis atraía a sua
população sazonal precisamente no verão, estação tradicionalmente con-
sagrada aos banhos de mar. Assim, ao carregar consigo o séquito da Corte
para a cidade serrana, todo verão, Pedro II esvaziava o Rio de Janeiro
e afastava a aristocracia das praias. Esse divórcio se acentuou nos anos
1880, quando, por um lado, a melhoria dos transportes abreviou a subida
para a serra e, por outro, o Boqueirão do Passeio assistiu ao aparecimento
da mania dos banhos de mar.

As praias de banho do Rio de Janeiro não se estabeleceram como


programa elegante do mesmo modo que nas praias europeias, onde a
aristocracia moldou o gosto praiano, antes que a burguesia dele se apro-
priasse. Como nas praias de banho da Europa, pescadores, marinheiros,
lavadores de animais e outros trabalhadores locais, além de toda sorte de
desocupados, foram expulsos desses trechos do litoral por uma crescente
massa de banhistas. Mas quem desencadeou esse processo não foram os
maiorais da Corte. Quase não houve, na crônica balneária carioca do sé-
culo XIX, menção a nomes de famílias da alta aristocracia. A ocupação
das praias centrais do Rio de Janeiro, nas três últimas décadas da centú-
ria, ocorreu por iniciativa da burguesia local, em que se incluíam desde
comerciantes endinheirados até empregados do comércio, pequenos fun-
cionários públicos e outros remediados; enfim, uma variedade de pessoas
que nem compunham a vasta pobreza carioca nem acompanhavam a no-

42 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. cit., pp. 231-244; CARVALHO, José Murilo de. Op.
cit., p. 95; KOSERITZ, Carl Von. Imagens do Brasil, pp. 61-68; RENAULT, Delso. O Rio
antigo nos anúncios de jornais 1808-1850, p. 236.

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A monarquia e os banhos de mar: o caso brasileiro

breza honorífica em sua vilegiatura petropolitana. Houve, assim, em com-


paração com o movimento praiano europeu, um grande retardo na adesão
dos cariocas à voga romântica dos banhos de mar e, em alguma medida,
contribuiu para isso o exemplo tímido fornecido pela realeza brasileira,
principalmente no Segundo Reinado, que durou quase meio século.

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Texto apresentado em março/2016. Aprovado para publicação em


junho/2016.

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