Você está na página 1de 130

LUIZ HENRIQUE TORRES

O DIA EM QUE O CASSINO PAROU:


O PROJETO ECLIPSE

PLUSCOM
RIO GRANDE
2017

1
de Luiz Henrique Torres.
Criação da Arte, composição e diagramação: Luiz Henrique Torres.
Revisão: Rejane Martins Torres.
A obra se destina a fins acadêmicos e não comerciais, estando disponível para ser lida/baixada gratuitamente no blog:
historiaehistoriografiadors.blogspot.com.br
ISBN: 978-85-9491-009-7

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O112 O dia em que o Cassino parou: o projeto eclipse / Luiz Henrique


Torres. Rio Grande: Pluscom Editora, 2017.

130p.
Bibliografia
ISBN: 978-85-9491-009-7

1. História - Brasil 2. Rio Grande do Sul 3. Rio Grande. I.


Torres, Luiz Henrique. II. Título

CDU : 94(81).082
CDD:981

2
SUMÁRIO
O PROJETO ECLIPSE/5
A CORRIDA ESPACIAL NO BRASIL/7
O BALNEÁRIO CASSINO/10
ATIVIDADES ESPACIAIS NO BRASIL – ANOS 1950-1960/14
PARA LOCALIZAR A BASE DE FOGUETES/15
UM ECLIPSE NO EXTREMO-SUL DO BRASIL/31
O PROJETO ECLIPSE (síntese para quem tem pressa...)/35
A COBERTURA JORNALÍSTICA DO PROJETO ECLIPSE/38
O ESPETÁCULO DO SÉCULO NA “MANCHETE” E “O CRUZEIRO”/71
FOGUETES UTILIZADOS NO CASSINO/83
INSTRUMENTOS USADOS POR TÉCNICOS DA NASA, DASA E SANDIA/105
PESSOAL TÉCNICO E GERENTES DE AGÊNCIAS/112
IMAGENS DO PROJETO ECLIPSE/120
CENTROS DE PESQUISA PARTICIPANTES/121
ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS/123
EXPERIMENTOS REALIZADOS/124
ARTIGOS CIENTÍFICOS PUBLICADOS/125
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/127
O AUTOR/130

3
Campo de lançamento de foguetes do Cassino no dia 12 de novembro de 1966.

4
O PROJETO ECLIPSE

O Balneário Cassino (nas proximidades da Querência) foi o local de lançamento de foguetes no convênio Brasil/Estados
Unidos (NASA) que propiciaram o levantamento de dados científicos sobre o eclipse solar ocorrido no dia 12 de novembro de
1966. Foi o maior projeto científico neste campo do conhecimento já realizado no Brasil!
Se até hoje alguns questionam se o homem chegou a Lua, podemos questionar da veracidade de que a NASA e outras
agências americanas realizaram o lançamento de foguetes no Cassino! Este livro vai contar parte desta história e mostrar
porque o Cassino e Rio Grande pararam naquele dia.
A ideia de escrever o livro nasceu em novembro de 2006 quando escrevi uma série de matérias divulgando o Projeto
Eclipse na coluna Memória & História do Jornal Agora. Naquela época havia um relativo silêncio sobre o assunto. No decorrer
das comemorações do cinqüentenário do Projeto foi possível concretizar a escrita do livro e também disponibilizar o seu
acesso no blog: “historiaehistoriografiadors.blogspot.com.br”.
Fiz um levantamento das fontes documentais, fotografias, livros, artigos, jornais e sites, buscando uma coleta de
informações que propiciassem transmitir a grandiosidade deste Projeto em duas dimensões: 1)a científica com a participação
de agências norte-americanas, instituições de pesquisa e de cientistas de vários países; 2)a dimensão da recepção popular que
alterou o cotidiano da cidade e que deixou lembrança dos acontecimentos na imagética e na oralidade.
O espetáculo do eclipse do Sol e do lançamento dos foguetes sofreu inúmeras leituras da imprensa o que projetou a
experiência científica que estava ocorrendo nos quadros da cultura pop da astronáutica dos anos 1960.
Será realizada uma visita a memória documental e visual que ficou registrada em publicações ligadas a execução do
Projeto Eclipse. Especialmente, será enfatizada a cobertura realizada pela imprensa escrita local, estadual e nacional. A
proposta é buscar o máximo de elementos que permita compartilhar esta experiência que hoje está parcialmente esquecida
pelas novas gerações e rarefeita na maioria da população e dos veranistas que freqüentam o Balneário Cassino.
Quando realizava a Graduação em Historia e em Física (Curso não concluído) na Universidade Federal de Santa Maria, fiz
várias leituras sobre Astronomia e Astronáutica. Realizar o livro foi um reencontro com aquelas leituras que buscavam
encurtar às distâncias entre os processos humanos terrenos e o Cosmos.

5
.

Logo da NASA no ano do Projeto Eclipse.

6
A CORRIDA ESPACIAL E O BRASIL

A disputa entre Estados Unidos e União Soviética pela conquista do espaço resultou em pesados investimentos e grandes
avanços científicos e tecnológicos. O primeiro feito de destaque foi soviético, quando, em 1957, ocorreu o lançamento do
primeiro satélite artificial a entrar em órbita, o Sputnik 1. Em 1958 foi criada a NASA (National Aeronautics & Space
Administration), que desenvolveu o programa espacial norte-americano. Esta agência foi responsável pelo lançamento do
satélite americano Explorer 1 e o envio de uma missão tripulada a Lua, que lá chegou em 20 de julho de 1969 no módulo
lunar Eagle, da nave Apollo 11.

Entre o primeiro astronauta no espaço, o soviético Iuri Gagarin que em 1961 afirmou que “a Terra é azul”, e a frase de
Neil Armstrong ao caminhar na Lua em 1969, “um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a Humanidade”,
transcorreu o período mais rico da história humana em termos de expectativas e de conquistas que projetassem o espaço
cósmico como a fronteira final do processo civilizatório.
Nas últimas duas décadas do século XX, ocorreu o fim da Guerra Fria, a desaceleração dos investimentos na pesquisa
espacial, o pragmatismo da tecnologia em nome da Guerra nas Estrelas e o Cosmos como um desconhecido ainda distante do
contato imediato de terceiro grau humano. A civilização tecnológica das grandes potências redefiniu suas fronteiras para
investir na reprodução do capital, disputas por mercados, novas cruzadas contra os rebeldes, lapidando a massa bruta do
planeta até a exaustão e deixando o espaço para os filósofos e poetas. Obviamente, inúmeras atividades espaciais persistem
(lançamento de sondas e uma viagem tripulada a Marte), mas, o frenesi eclipsou frente à radical redução dos orçamentos.
Nos anos 1960, o espaço tinha outro significado, pois, o aparentemente inexorável avanço tecnológico rompendo as
barreiras da gravidade que nos atrai para o centro da Terra, empurrava a imaginação humana numa sucessão de avanços que
projetavam o homem para fora do planeta. A série Perdidos no Espaço lançava a imaginação, em setembro de 1965, até para

7
vôos espaciais em direção a estrela Alfa Centauri. A série Jornada nas Estrelas (Star Trek) com estréia em setembro de 1966
ampliou o conceito de viagem espacial e lançou a frase ícone dos anos 1960: “O Espaço, a fronteira final”.
É neste período de ideologias, desenvolvimentismo, governos militares, Guerra do Vietnã e crença no progresso
crescente da ciência, que a praia do Cassino entrou para a história da Astronomia e recebeu lições de Astronáutica que foram
inesquecíveis para parte das mais de 50.000 pessoas que observaram o eclipse total do Sol no dia 12 de novembro de 1966.
Neste ano, cientistas instalaram suas bases em Rio Grande (no Balneário Cassino e no Bolaxa), Bagé e Tartagal
(Argentina), realizando a maior cobertura científica já feita do fenômeno “eclipse total do Sol”. Cinqüenta anos depois,
estruturas de concreto ainda são visíveis (numa ampla área que passou ao controle do Exército Brasileiro), onde ocorreram os
lançamentos de foguetes levando equipamentos para estudar o eclipse. Ainda hoje, podemos imaginar um filme de ficção que
só poderia ser realizado com duas fontes financiadoras: uma gratuita, o eclipse do Sol e a outra, constituída por milhões de
dólares em equipamentos e foguetes que pareciam saídos de filmes produzidos por Hollywood nos anos 1950-60. O objetivo
deste livro é preservar uma parte destes acontecimentos que projetaram o Balneário Cassino no cenário nacional e
internacional. Inicialmente, explicar o que é um eclipse total do Sol, a importância de sua observação e o que poderia ser
esperado durante o fenômeno. A seguir, vamos caracterizar o Balneário Cassino e as linhas gerais do Projeto Eclipse além de
reproduzir parte da cobertura realizada pela imprensa local e nacional. Um amplo levantamento de imagens fica
disponibilizado para os interessados em aprofundar os estudos.
Imprescindível destacar algumas fontes informativas essenciais para confecção do livro: Ivan Janvrot Miranda, Adauto
Gouvea Motta, Klebe Danta Rolim e Ronaldo R. Mourão. A visita a Rio Grande em 2013 de integrantes do Centro de Cultura
Espacial e Informações Turísticas da Barreira do Inferno (CCEIT/Parnamirim-RN), foi muito relevante para promover uma
divulgação do Projeto Eclipse e realizar entrevistas para retomada da memória local. O Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais disponibilizou fotografias em sua página eletrônica e a NASA disponibiliza informações e imagens sobre o Projeto. A
enciclopédia “astronautix” é uma visita obrigatória para entender a história dos foguetes. Fundamental é destacar o
empréstimo de livros e fotografias (para reprodução) pelo Eng. Alfredo Perez que em 1966 assistiu “in loco” os lançamentos.

8
Fazendo referência a Biblioteca Rio-Grandense (instituição que possuiu um essencial acervo de jornais e revistas que cobriram
o evento), estendo em nome desta Instituição o meu agradecimento a todos os colaboradores diretos e indiretos que
contribuíram para a escrita deste livro que busca a divulgação e valorização do Projeto Eclipse.

Lançamento de foguete no Cassino. Dia 12 de novembro de 1966.

9
O BALNEÁRIO CASSINO

A história do Balneário Cassino remonta ao século XIX e representou uma série de inovações administrativas,
comportamentais e de infra-estrutura no contexto das aspirações de elites provinciais em reproduzir os hábitos burgueses da
Europa no extremo sul do Brasil. A proposta surge em 1885, associado à ligação deste balneário com a cidade do Rio Grande
através de uma via férrea. Em 1884, Rio Grande passa a contar com o transporte urbano feito por bondes e neste mesmo ano
é inaugurada a Estrada de Ferro Rio Grande-Bagé. Discussões a respeito da construção de um Porto para navios de maior
tonelagem foram ampliadas nos anos posteriores até a construção dos Molhes da Barra e Porto Novo, inaugurados em 1915.
Representantes da elite industrial e comercial da cidade projetaram a construção de um balneário planificado e fundado na
concepção do banho de água salgada como um benefício para a saúde humana.
Cartão-postal de A. Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande (MCRG).

10
A prática dos banhos de mar na Europa firmou-se nos séculos XVIII e XIX, estando associado a uma concepção medicinal
que considerava o banho marítimo como um remédio para problemas de saúde. Nesta concepção, a praia consistia num
espaço a ser freqüentado por elites em sintonia com os referenciais médicos-terapêuticos europeus. Inspirados na fama dos
balneários franceses de Dieppe, Deauville e Biarritz, precursores dos banhos de mar com finalidade medicinal, empresários
locais arrojaram-se em busca do capital indispensável para a concretização do empreendimento. O projeto apresentado em
1885 pela Companhia Carris Urbanos, basicamente foi fundamentado na extensão da ferrovia da cidade até o futuro balneário,
na construção de um hotel e a infra-estrutura para os banhos de mar. Um espaço planificado para o estabelecimento de um
balneário marítimo representou uma inovação no Brasil! A inauguração oficial do Balneário deu-se com a abertura do tráfego
ferroviário em 20 de janeiro de 1890 e com o transporte de passageiros no dia 26 do mesmo mês.

Fotógrafo Fontana por volta de 1908. MCRS.

11
O Balneário Vila Sequeira, mais tarde chamado de Cassino, correspondeu às expectativas iniciais e ganhou um espaço
sofisticado de hotelaria e a construção de chalés junto a Av. Rio Grande. Foi difundida a prática dos banhos terapêuticos,
inaugurando a sistemática prática do veraneio que foi sendo popularizada ao longo das décadas do século XX. Ao longo das
décadas passou por processos de crescimento e também de crise, acompanhando o cenário econômico local, nacional e
internacional. Como o balneário foi alicerçado no capital oriundo do comércio de exportação e importação e do capital
industrial, as crises que se intensificaram desde a década de 1930 levou a uma descapitalização local destes segmentos e a
decadência patrimonial. Na década de 1960, período de crise econômica severa no município, o Cassino vivia numa fase de
transição entre a grande expansão urbana e populacional que passou a ocorrer a partir da década de 1970 e a especulação
imobiliária que levou a derrubada de parte considerável dos chalets originais.
Fotógrafo Fontana por volta de 1908. MCRG.

12
Cassino no início da década de 1930. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense (BRG).

Cassino em 1965. MCRG.

13
ATIVIDADES ESPACIAIS NO BRASIL – ANOS 1950-1960

Um brevíssimo histórico possibilita contextualizar o Projeto Eclipse dentro de uma política de aproximação estratégica e
militar com os Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial. Em 1947 o Brasil assinou com os Estados Unidos o Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca e em 1952 o Acordo de Assistência Militar. Em 1956 um novo acordo consistiu em
colocação de uma base de rastreamento norte-americano em Fernando de Noronha. “As atividades espaciais no Brasil tiveram
início em 1956, quando os governos do Brasil e dos Estados Unidos estreitavam seus laços diplomáticos em nome da
segurança do hemisfério norte. Dentre os pontos de acordo, estava à instalação de uma base militar norte-americana na Ilha
de Fernando de Noronha. Esta base, na verdade, era uma estação de rastreio de veículos espaciais, no arquipélago, de onde
seriam rastreados os artefatos lançados em Cabo Canaveral, na Flórida EUA” (ROLIM, Trampolim para o Espaço). Em troca da
base, o Brasil recebeu 100 milhões de dólares em material militar e os americanos ficaram em Fernando de Noronha até 1965.
A NASA, foi criada em 1958 e o ambiente de convênio irá se ampliar.
Em 1961, é criada a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE) que é uma precursora do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Técnicos brasileiros são enviados para programas de intercâmbio em universidades norte-
americanas como é o caso do capitão da Aeronáutica Fernando Mendonça que se especializou na Universidade de Stanford e
se tornou o primeiro diretor do INPE. Em 1964 é criado o Grupo de Trabalho de Estudos e Projetos Especiais (GTEPE) que
passou a se denominar GETEPE em 1966, grupo que esteve atuando no Projeto Eclipse. Com o lançamento de um foguete Nike
Apache em 15 de dezembro de 1965, teve início os lançamentos sistemáticos de foguetes na Barreira do Inferno. Ainda em
1965 foi assinado um Plano de Cooperação Técnica e em 1966 um Memorando de Entendimento Brasil-Estados Unidos para a
cobertura do eclipse solar de 1966. A cooperação Brasil-Estados Unidos para cobertura do eclipse solar está contextualizada
nesta aproximação de uma década (1956/1966 - rastreamento de artefatos lançados em Cabo Canaveral) e na cooperação
para formação de recursos humanos e equipamentos para viabilização do esforço espacial brasileiro.

14
PARA LOCALIZAR A BASE DE FOGUETES
As imagens a seguir permitem localizar espacialmente do campo de lançamento de foguetes (também chamado de base
de foguetes). A estrutura de uso temporário foi construída em outubro de 1966 para permitir o lançamento de foguetes com
instrumentos (carga útil) para obter dados para as experiências científicas voltadas ao eclipse total do Sol de 12 de novembro
de 1966. Veículos, aparelhos, estruturas de lançamento, inúmeros técnicos, cientistas e pessoal de apoio, complementavam
um cenário movimentado e fundado em tecnologia de ponta para 1966. De fato era mais um ensaio ocorrido num período de
avanços rápidos na astronáutica e da corrida espacial que em 1969 levaria o primeiro foguete tripulado para a Lua. Rio Grande
e o Cassino fizeram parte de um capítulo desta história da conquista espacial de forma primorosa! Infelizmente, por ser
temporária, a experiência foi sendo esquecida pelas novas gerações. Porém, estes eventos deverão estar em destaque quando
da escrita de uma História da Ciência da Cidade do Rio Grande.

Estas fotografias aéreas da base e também as imagens do Google earth (coordenadas do local), permitem um movimento
parcial no tempo entre o antes, a construção e a visão atual da base. Plataformas de concreto ainda persistem no grande
terreno e as fotografias, permitem identificar com precisão as funcionalidades. Através destas imagens seria possível realizar
um passeio turístico ou memorialístico valorizador desta história ocorrida no Balneário Cassino.

15
Campo de Lançamento no Cassino. Acervo: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

16
Junto à linha de praia (sentido direita-esquerda) observa-se o Balneário Cassino, a Querência e uma descontinuidade com uma área verde: o campo de lançamento de
foguetes.

17
Campo de lançamento sendo visível as estruturas de concreto para lançamento dos foguetes (imagem de 2015).

18
De uma altitude de 167 metros o piso de concreto para lançamento dos foguetes ainda é visível. Os foguetes da NASA foram lançados neste local.

19
Numa altura de 167 metros, o piso de concreto construído em 1966 em outro ponto do terreno ainda é observável. Os foguetes da DASA foram lançados deste local.

20
Vista aérea do Balneário Cassino antes do início da construção do Campo de Foguetes. No canto superior direito, área esbranquiçada antes da linha de praia, podemos
observar o local que será construído a Base onde se destaca a formação arenosa. Acervo: Museu da Cidade.

21
Vista geral do Campo de Lançamento de Foguetes e suas estruturas. À direita superior a área de lançamento da NASA. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.
22
Vista aérea do Campo de Lançamento de Foguetes sentido Cassino-Querência. Acervo: papareia.

23
Campo de lançamento em estágio inicial de construção. INPE.

24
Vista Aérea do Campo de Lançamento de Foguetes. Acervo: Alfredo Perez.

25
Vista aérea do Campo de Lançamento com o Oceano Atlântico ao alto. INPE.

26
Campo de Foguetes. INPE. O primeiro estágio podia cair a cerca de apenas 4 km da praia.Foguetes de mais curto
alcance caíram no Oceano a 50km do campo de lançamento. Apenas para se ter uma
ideia vaga e com trajetória hipotética, seguindo a linha vermelha, pode ser observada a
distância da queda na água. Os Molhes da Barra se tornam diminutos nesta escala de
eventos.

27
Campo de Lançamento de Foguetes. INPE.

28
Imagem da NASA com excelente identificação das estruturas do Campo de Lançamentos de Foguetes do Cassino. Acervo: Janvrot (2005).

29
Flores do campo se confundem com o concreto das plataformas em fotografia recente. Acervo: Autor.

30
UM ECLIPSE NO EXTREMO SUL DO BRASIL
Inicialmente, vamos buscar entender o que é um eclipse total do Sol que só pode ocorrer na Lua Nova (quando a Lua
está posicionada entre a Terra e o Sol e toda a luminosidade do Sol é escondida pela Lua numa estreita faixa terrestre).
Conforme o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão1 os eclipses do Sol como os da Lua, constituem “elemento
fundamental para os historiadores na determinação da correspondência entre os diferentes calendários e na retificação de
algumas cronologias antigas. Entretanto, a principal contribuição científica dos eclipses solares foi desenvolvida durante
eclipses totais do Sol, que propiciaram magníficos estudos da atmosfera solar”. O estudo dos eclipses também está voltado
para o estudo da cromosfera solar, sua coroa e para análise da influência dos fluxos solares na atmosfera terrestre. “Outra
importante observação é a do desvio ou efeito Einstein sobre as estrelas aparentemente circunvizinhas do Sol, durante os
eclipses”. Segundo o astrônomo, os eclipses do Sol podem ser centrais ou parciais. Um eclipse central ocorre quando o eixo do
cone de sombra formado pela Lua se encontra com a Terra. O deslocamento deste ponto de encontro sobre o solo terrestre
define a linha de centralidade do eclipse. Um eclipse central constitui um eclipse total quando a extremidade do cone de
sombra varre a superfície terrestre segundo uma oval de intersecção, cujas dimensões irão depender da distância da Lua a
Terra. O deslocamento desta oval sobre o Sol delimita a faixa de totalidade do eclipse. Um eclipse será total para os
observadores situados no interior dessa faixa, que pode atingir até mais de 300 quilômetros de largura. A duração de um
eclipse total do Sol é muito pequena; nas circunstâncias mais favoráveis não é nunca superior a 7 minutos e 58 segundos, em
um lugar central da faixa de totalidade.2 Para poder observar o Sol durante esse curto espaço de tempo, os principais
observatórios do mundo realizam expedições aos locais em que o eclipse é visível como total. Este foi o fator da vinda de
tantos cientistas ao Cassino e a Bagé.

1
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Os Eclipses:da superstição a previsão matemática. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 1993, p. 18 e segs.
2
MOURÃO, 1993, p. 77.

31
Ronaldo Mourão descreve o cenário a ser observado durante a ocorrência de um eclipse total do Sol que segundo ele é um dos
mais impressionantes espetáculos cósmicos que a natureza oferece. Poucos minutos antes do completo desaparecimento do disco solar,
encoberto pelo lunar – instante de curta duração, no máximo de cerca de 7 minutos, que se convencionou chamar de totalidade -, a noite
começa a cair. Surge, então, uma réstia de luz que emerge do bordo lunar e difunde pelo céu uma luz crepuscular. Suas qualidades
características não são semelhantes às da luz ordinária. O céu, bem como a paisagem situada no interior da sombra lunar, assume um
colorido muito estranho. Os animais agitam-se, inquietam-se, como se algo sui-generis estivesse acontecendo. A sensibilidade transmite
às mentes rústicas, estímulos opostos à luz diurna. Os pássaros voltam aos ninhos. Abrem-se as flores fotossensíveis, como as “damas–
da-noite”. A temperatura em queda provoca, às vezes, o aparecimento do orvalho. Antes que a obscuridade chegue ao observador,
sombras volantes, como manchas escuras oscilantes, surgem nas superfícies brancas. Se o observador estiver bem localizado, verá nos
últimos segundos, no fundo do horizonte, a sombra da lua, como uma possante tromba, correndo a uma velocidade incrível. As últimas
labaredas do Sol vão lentamente desaparecendo, acabam esfacelando-se, ou melhor, fragmentando-se em pontos luminosos distintos
separados pelas irregularidades do bordo lunar. No instante máximo, quando o ponto central da sombra lunar atinge o observador, uma
imensa coroa branca aparece. A cromosfera forma o bordo brilhante, de vermelho muito vivo. No limbo solar eclipsado, surgem
freqüentemente os arcos das imensas protuberâncias, de cor também vermelha. Os planetas e as estrelas mais brilhantes aparecem. O
impacto da noite é brutal. Subitamente, os olhos banhados até os últimos segundos por uma tênue radiação solar amortecida são
dominados pela escuridão, sem tempo para se ajustarem. Depois de um momento, a visão se acomoda e descobre que a noite não é na
realidade muito profunda. A coroa e a cromosfera em conjunto fornecem tanta luz quanto uma Lua cheia. Outras regiões da atmosfera
terrestre, situadas além do cone de sombra, onde o Sol ainda brilha parcialmente eclipsado, difundem luz. No horizonte, aparece uma
réstia luminescente. No fim do eclipse, o Sol surge lentamente brilhando como um metal em fusão e, de súbito, o dia ressurge, a coroa se
torna mais fraca, parecendo durante um minuto um anel amarelo. Sob o efeito da irradiação, o primeiro ponto do Sol a reaparecer assume
uma largura fictícia, como um enorme diamante no anel coronal. Um minuto mais, a luz retorna ao normal. O espetáculo cósmico termina
numa cortina de luz3.

3
MOURÃO, 1993, p. 86-87.

32
“O eclipse (de 1966) foi de considerável
interesse para estudos da ionosfera. Isso é
justificado pelo fato de que o caminho da
fase de totalidade varre através da região
equatorial geomagnética e através da
anomalia equatorial em áreas onde a
ionosfera e os observatórios geomagnéticos
estão localizados, ou onde observações
temporárias podem ser facilmente
arranjadas. Observações conjugadas
geomagneticamente tem um interesse
especial para os estudos de fenômenos que
envolvem o fluxo de plasma e propagação
de ondas ao longo das linhas de campo”.
ROLIM, O Dia em que o Sol se Escondeu.

https://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEplot/SEplot1951/
SE1966Nov12T.GIF Acesso: 08-10-2017.

33
O portal de eclipses da NASA disponibiliza informações sobre inúmeros eclipses que foram investigados cientificamente.
O endereço eletrônico é https://eclipse.gsfc.nasa.gov/eclipse.html

34
O PROJETO ECLIPSE (síntese para quem tem pressa...)
O que foi: O Projeto Eclipse realizou a cobertura científica do eclipse total do Sol ocorrido no dia 12 de novembro de 1966, às 11h10 que reuniu
centenas de cientistas de vários países e executou o lançamento de foguetes pela NASA/DASA/SANDIA no Balneário Cassino e em Tartagal. O
objetivo geral era analisar as consequências dos eclipses nas relações energéticas Sol-Terra e do comportamento das altas camadas da atmosfera
terrestre durante o período de sombra.

Organizações e países participantes: Brasil, Estados Unidos, Itália, Holanda e Uruguai, mais 200 cientistas e técnicos de 60 organizações estrangeiras
de operação e de pesquisa científica: CLBI – Centro de Lançamento da Barreira do Inferno; INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; NASA –
National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço); DASA (German Agency Deutsche Aerospace);
SANDIA (American Manufacturer of Rockets and Spacecraft); CNAE – Comissão Nacional de Atividades Espaciais; GETEPE – Grupo Executivo e de
Trabalho e Estudos de Projetos Espaciais; CNPq- Conselho Nacional de Pesquisas; Força Aérea Brasileira e Exército Brasileiro.

Locais participantes no Brasil: Balneário Cassino, Rio Grande, Bagé, Porto Alegre, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Tartagal
(Salto-Argentina – onde foram lançados 12 foguetes).

Duração da totalidade do eclipse: o Sol ficou completamente encoberto por 1m57s. A linha de centralidade passou muito próxima a Bagé e ainda
mais próxima do Distrito do Taim.

Experiências realizadas: 99 experimentos nos campos da Astronomia, fenômenos coronais, geodésia, absorção, geomagnetismo, ionosfera, processos
fotoquímicos, propagação, radiação solar e seus espectros e ruídos atmosféricos. Cientistas dos Estados Unidos, Itália, Holanda, Uruguai e Brasil
participaram dos experimentos.

Estrutura: mais de 800 toneladas de equipamentos que foram montados em 41 locais com equipamentos e postos de observação; alojados 380
cientistas; 4 aeronaves (KC135 e 990 – 1 em Porto Alegre/RS, 1 no Rio de Janeiro no aeroporto do Galeão e 2 em Buenos Aires, com 36 organizações
envolvidas na observações ao nível de 10.000m); Foguetes: 1 campo de lançamento no Cassino, 22 foguetes e 5 sítios de acompanhamento (rastreio,
fotografia, transmissão e recepção de dados) para observação dos fenômenos entre 100 e 300km.

35
Lançamento de foguetes: Foi construído um Campo de Lançamentos de Foguetes no Balneário Cassino, constituído por oito prédios, 7,5 km de ruas,
dezenove plataformas, linha de alimentação de energia elétrica e intercomunicação para alimentar dezesseis trailers com radares, computadores e
telemetrias. No dia 12 de novembro foram lançados, quatorze foguetes, além de três lançados como teste em data anterior. Os foguetes lançados
foram: cinco NIKE-APACHE, três NIKE-HYDAC, quatro NIKE-JAVELIN e cinco NIKE-TOMAHAWK. Cinco foguetes reservas foram montados e
posteriormente desmontados. Os foguetes destinavam-se a observações na faixa de 100 a 300 quilômetros de altura. Para completar o quadro de
medidas, foram instalados, nas proximidades de Cassino, mais cinco sítios fazendo rastreio, fotografias, transmissão e recepção de dados, com
atividades associadas aos foguetes lançados. MOTTA, 2003.

A escolha do local: a área do campo de lançamento de foguetes no Cassino foi selecionada, no início de 1966, por cientistas e engenheiros do Brasil e
dos Estados Unidos por estar muito próxima da linha de totalidade do eclipse e pela segurança dos foguetes caírem no Oceano. Os lançadores de
foguetes começaram a ser montados em 22 de outubro.

Custos: O custo teria sido de 16 bilhões de cruzeiros. A NASA contribuiu com 1 Bilhão de cruzeiros na administração do projeto e deixou uma
indenização de cem milhões de cruzeiros para a Aeronáutica. Em material a NASA doou CR$ 60 milhões.

Resultados: Foi a mais completa e complexa operação do gênero até então realizada no planeta. Os resultados colhidos foram tema de um Congresso
patrocinado pela CNAE em São José dos Campos, São Paulo, em fevereiro de 1968. Também foram publicados dezenas de artigos em revistas
científicas.

Fontes jornalísticas pesquisadas: Correio do Povo, Rio Grande, O Peixeiro, O Cruzeiro, Manchete, Diário de Notícias (Rio de Janeiro), Estado de
São Paulo e Diário de Notícias (Porto Alegre).

Bibliografia: MOTTA, Adauto Gouveia. Esboço Histórico da Pesquisa Espacial no Brasil. São José dos Campos: INPE, 2003; ROLIM, Keble
Danta. O Dia em que o Sol se Escondeu: a história do fenômeno do eclipse solar do dia 12 de novembro de 1966. E-book; MIRANDA, Ivan
Janvrot. Os Primórdios da Atividade Espacial na Aeronáutica. Editora Incaer, 2005; MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Os Eclipses. São
Leopoldo: Ed. Unisinos, 1993.
Sites: http://www.inpe.br/50anos/linha_tempo/66.html; http://www.astronautix.com/c/cassino.html; http://www.clbi.cta.br/cceit/projeto/show/12.

36
Acervo fotográfico: Biblioteca Rio-Grandense (BRG); Museu da Cidade do Rio Grande (MCRS); Correio do Povo; Rio Grande; Manchete; O
Cruzeiro; acervo pessoal de Ubiratan Freitas (fotografias de seu irmão Tibiriçá Freitas) e acervo pessoal de Alfredo Perez.

A CNAE foi a representante do CNPq e a execução do Projeto foi uma cooperação GTEPE/CNAE. A Coordenação Geral e contato com
organizações estrangeiras foi Fernando de Mendonça (CNAE); Administração Geral Tenente-Coronel Aviador Sobral Vieira; Escritório Executivo
em Rio Grande Sr. Cyrilo da Ros; Direção e Operação dos experimentos com Foguetes (Campo de Lançamento do Cassino) Cel. Moacyr Tedesco
(GTEPE/NASA). O GTEPE participou com 70 militares e um grande número de militares do Esquadrão de Controle e Alarme sediado em Porto
Alegre. O oficial de segurança do Projeto Ivan Janvrot Miranda relatou que as dificuldades foram grandes para garantir o lançamento seguro de
tantos foguetes em curto espaço de tempo. Foi necessário juntar a documentação de cada Agência (NASA, DASA e SANDIA) e de cada foguete e
organizar a Contagem da Operação e ainda garantir o “silêncio de radiofrequência”. “Foi um trabalho de uma semana trancado, incomunicável, no
quarto do hotel. Muitas reuniões foram necessárias para se chegar ao modus operandi entre as três Agências”.

Técnicos na montagem de lançador. INPE.

37
A COBERTURA JORNALÍSTICA DO PROJETO ECLIPSE

A imprensa estadual, nacional e internacional, noticiou as atividades de lançamento de foguetes da Base do Cassino, o
local escolhido para os lançamentos dos foguetes em território brasileiro.
Inicialmente, destacaremos algumas matérias publicadas na imprensa do Rio Grande do Sul, em especial, a cobertura do
Correio do Povo e do jornal Rio Grande. As matérias serão lidas no tempo de sua narrativa, a maioria das quais, antecedia os
lançamentos.
Com grande destaque ao tema nas semanas que antecederam os lançamentos, o Correio do Povo fez ampla cobertura
do Projeto Eclipse. Para isto, enviou jornalistas para a cobertura do evento em cidades do sul do Rio Grande do Sul, como Bagé
e com especial destaque, para a praia do Cassino onde ocorreu, segundo o jornal, a parte “mais espetacular do projeto” que
foi o lançamento de foguetes: “Cerca de quinhentos observadores de diferentes nacionalidades, entre cientistas e técnicos,
estão a postos, para dentro de poucas horas iniciar uma das mais extraordinárias operações, só possível graças ao avanço
tecnológico verificado nestes últimos anos. Trata-se de uma completa observação do estreito cone de sombra produzida pelo
eclipse total do Sol, através de equipamento que, há pouco tempo, somente se poderia encontrar nas páginas da literatura de
ficção”.4
Conforme o Correio do Povo, quando o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) resolveu impulsionar um amplo
programa de estudos do eclipse total do Sol, visível numa faixa de terra que parte da praia do Cassino, no Atlântico, indo até
Lima (Peru), no Pacífico, ficou decidido que a Comissão Nacional de Atividades Espaciais seria o órgão de execução do
trabalho, devendo o Brasil ceder seu território para observadores e estudiosos de outras nacionalidades. Inicialmente, os
Estados Unidos demonstraram interesse pela cobertura sendo elaborado um plano de colaboração técnica entre os dois países,
no ano de 1965. O Brasil comprometeu-se a fornecer não só o transporte como todos os demais recursos locais disponíveis,

4
Correio do Povo. Porto Alegre, 12 de novembro de 1966.

38
cabendo aos norte-americanos a cessão do material científico bem como de cientistas e técnicos. Posteriormente, italianos,
franceses, holandeses, argentinos e uruguaios somaram seus esforços ao Projeto. O Presidente do CNPq viajou do Rio de
Janeiro para assistir ao lançamento dos foguetes na praia do Cassino, assim como o Ministro da Aeronáutica5.
O jornal Rio Grande ressaltou que o projeto fazia parte de um amplo programa científico internacional para observar e
estudar o eclipse total do Sol. Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) e a Comissão Nacional de Atividades
Espaciais (CNAE) iriam executar uma série de experimentos com foguetes de sondagem numa área localizada nas
proximidades do Cassino. Outras duas agências Norte-Americanas participariam com a NASA (a SANDIA e a DASA) na parte do
programa com foguetes. Quase uma centena de experimentos seriam realizados no Brasil durante o eclipse, todos
coordenados pela Comissão para o Eclipse do Conselho Nacional de Pesquisas. O programa de pesquisas com foguetes
durante o eclipse é baseado em um “Memorando de Entendimento” entre a CNAE do Brasil e a NASA. Este Memorando é datado
de 18 de julho de 1966, como resultado de reuniões nos últimos 12 meses. Cientistas, engenheiros e técnicos dos dois países
estão trabalhando juntos e dividindo responsabilidades na construção do local de lançamento, instalando os equipamentos
necessários em terra e provendo sua manutenção, montando foguetes e construindo cargas úteis, conduzindo as operações
de lançamento e adquirindo e registrando os dados6.
As cargas úteis científicas serão lançadas com foguetes de sondagem capazes de atingir altitudes de 80 a 280
quilômetros. Quatro tipos de foguetes serão usados: Nike-Apache, Nike-Hydac, Nike-Javelin e Nike-Tomahawk. Os foguetes
Nike surgiram em 1951, quando o Exército Americano concentrava esforços no campo dos mísseis antiaéreos disparados da
superfície para o ar. Todos são veículos de dois estágios utilizando propelente sólido; seus comprimentos variam de 8 a 10
metros sendo que o primeiro estágio impulsionador tipo Nike tem 43 cm de diâmetro. Os foguetes são fornecidos pela
agência dos participantes norte-americanos. As cargas úteis foram construídas pelas agências Norte-Americanas e pela CNAE
no Brasil. As 21 cargas úteis deste programa irão levar experimentos destinados a medir características e propriedades da alta
5
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.
6
Rio Grande, 24 de setembro de 1966.

39
atmosfera e ionosfera, antes, durante e depois do eclipse do Sol, como os bloqueios das radiações solares pela Lua. Diversas
técnicas e artifícios serão usados para medir a densidade e temperatura eletrônica, densidade de íons, densidade atmosférica
e ventos em grandes altitudes. Serão feitas medidas das variações ocorridas com o tempo e no espaço7.
Segundo o jornal Rio Grande, alguns experimentos se destinam a procurar novas informações sobre a energia irradiada
pelo Sol. Os cientistas esperam aprender mais sobre as relações Sol-Terra e condições de equilíbrio entre a atmosfera
turbulenta do Sol e do ambiente terrestre. Um eclipse solar apresenta uma oportunidade para se estudar os distúrbios que
ocorrem nas proximidades da borda ou limbo solar e seus efeitos no ambiente terrestre, incluindo as condições atmosféricas
do planeta e nos sistemas de comunicações. O Sol está agora iniciando a fase ascendente do seu ciclo de atividades e de
manchas solares. Dois lançamentos serão executados entre 5 a 7 dias antes do eclipse. Dezenove lançamentos serão
efetuados em um período de 4 horas e concentrados no curto período da totalidade, aproximadamente às 11:10 de 12 de
novembro. O período de totalidade dura menos de 2 minutos. Em um eclipse total, a distância da Lua a Terra é suficiente
somente para que seu tamanho oblitere momentaneamente o brilho do Sol. O movimento rápido de cone de sombra sobre
uma parte da superfície da Terra desloca-se na direção sudoeste. No caso particular do eclipse de 12 de novembro, a linha da
totalidade cruza o Oceano Pacífico, o Peru, a Bolívia, a Argentina, o Brasil e o Atlântico Sul.
O local de lançamento dos foguetes do Programa de Pesquisas do Eclipse, nas proximidades do Cassino, foi selecionado
no início de 1966 por um grupo de cientistas e engenheiros do Brasil e dos Estados Unidos. O campo de lançamentos e
provisões está muito próximo da linha de totalidade e os foguetes serão lançados sobre o Oceano e este campo de
lançamento foi construído por técnicos do CNAE. Os lançamentos e a manutenção dos equipamentos em terra incluindo radar,
telemetria, comunicações, controle e os sistemas geradores de força estão sendo montados e operados por técnicos
brasileiros e norte-americanos. A maioria dos equipamentos está instalada em duas dúzias de grandes trailers além dos 5
prédios construídos para este fim. O equipamento começou a chegar a Base em meados de setembro. A direção do Programa

7
Rio Grande, 24 de setembro de 1966.

40
Brasileiro e Norte-Americano de Foguetes está dividida entre a Comissão Nacional de Atividades Espaciais com o Dr. Fernando
de Mendonça como Coordenador Geral e o Sr. C. E. Sobral Vieira como Administrador do Programa do Eclipse por parte do
CNAE. O administrador do programa por parte da NASA é Gary Milliner8.
Num sítio localizado ao lado da estrada, no Bolaxa, os norte-americanos da Cubic Agave DME, montaram uma estação
de radares destinada a captar os sinais emitidos pelo equipamento levado nos foguetes. No dia 01 de novembro ocorreu o
lançamento de quatro foguetes quando já estavam montados e prontos para lançamento na Base do Cassino sete disparadores
da DASA, quatro da NASA e oito da SANDIA.
No programa brasileiro-norte-americano, foi definido que foguetes com instrumentos sondariam a atmosfera e a
ionosfera da Terra, a fim de medir as perturbações, durante o tempo em que a Lua estivesse obstruindo temporariamente a
radiação solar. No programa argentino-norte-americano, doze foguetes equipados com instrumentos seriam lançados das
vizinhanças de Tartagal, a fim de obter informações sobre os efeitos do eclipse sobre os ventos, temperatura e conteúdo de
ozônio na atmosfera. Todo o esforço norte-americano envolveria 300 cientistas incluindo cerca de 60 experiências científicas.
A partir do depoimento prestado por especialistas, o Correio do Povo, afirmou que nunca na América Latina, uma
operação desta natureza ou a ela semelhante, exigiu tal soma de recursos materiais e humanos, daí a manchete do dia 12 de
novembro: Rio Grande hoje centro científico internacional. Forças da Marinha e do Exército deram apoio ao programa como
elementos de segurança. Equipes observaram o eclipse em terra, principalmente em Bagé, D. Pedrito, Arroio Grande, Itaqui,
Alegrete e Pinheiro Machado. Outros cientistas voaram a bordo de um Convair 990 e quatro Boeings adaptados, que
transportaram o instrumental necessário à observação dos efeitos da sombra e da luz da ionosfera, a uma altura de 14.000
metros. Outros cientistas na Base de Lançamentos do Cassino, principalmente americanos, orientaram os cientistas brasileiros
no lançamento de 14 foguetes em disparos sucessivos, “tarefa nada simples para uma ação em quinze rampas. Também
participa do projeto o navio oceanográfico dos EUA, OSS-01, processando dados oceanográficos e meteorológicos”.9
8
Rio Grande, 24 de setembro de 1966.
9
Correio do Povo,12 de novembro de 1966.

41
Estação de Telemetria Cubic Agave Corporation no Bolaxa. Acervo: INPE.

42
Avião cargueiro da Força Aérea Americana. Fotografia de Tibiriçá Freitas (cedida por Ubiratan Freitas).

43
Avião-laboratório norte-americano coronado “Galileo” da NASA em Estação Meteorológica Móvel da NASA. Acervo: Tibiriçá Freitas
Porto Alegre. Correio do Povo de 04-11-1966. e cedido por Ubiratan Freitas.

44
Convair 990 modificado para observação do eclipse.

45
Navio cargueiro norte-americano que trouxe equipamentos para o projeto. Acervo: Tibiriçá Freitas (cedido por Ubiratan Freitas).

46
Matérias do Jornal Rio
Grande de 12 e 24 de
novembro com as
medidas de segurança e
a expectativa de que
25.000 veículos
chegariam ao Cassino.
O jornal ressaltou a
parceria científica entre
o Brasil e os Estados
Unidos.

47
O Correio do Povo questionou quem estaria pagando a despesa? Segundo informação do serviço de imprensa do
Consulado dos Estados Unidos, as instituições norte-americanas interessadas no projeto, NASA, DASA (Defense Atomic
Supporting Agency - Órgão oficial americano para o aperfeiçoamento de foguetes) e a SANDIA, pagavam as despesas de
lançamento, vendo os americanos no eclipse uma excelente oportunidade de pesquisas. O valor total dos gastos com o eclipse
seria de 16 bilhões de cruzeiros.

Campo de lançamento em montagem. Equipamentos da NASA são visíveis em primeiro plano. Fotografia obtida no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
48
Correio do Povo. 04 de novembro de 1966.

49
A vinda dos cientistas agitou a cidade do Rio Grande! No dia 7 de novembro a NASA homenageou os poderes
municipais, na pessoa do General Armando Cattani (prefeito – interventor federal) e do sr. Silvério Miranda Junior (presidente
da Câmara Municipal). Durante o jantar oferecido aos chefes do executivo e do legislativo, foram estes brindados com painéis
fotográficos que reproduzem vista aérea da base de foguetes do Cassino, elaborados num laboratório da NASA, nos Estados
Unidos. Na parte social, ocorreu uma apresentação de teatro e interpretações de coro orfeônico pelos alunos do Liceu
Salesiano Leão XIII que teve assistência numerosa, inclusive de cientistas norte-americanos. Ontem às 20h30 (9 de novembro),
no Cine Carlos Gomes, realizou-se o espetáculo oferecido aos técnicos e cientistas. O espetáculo intitulava-se “Bossa Nova na
Lua”. No dia 10 de novembro haverá retreta na Praça Xavier Ferreira, pela Banda União Musical. No dia 11, no Cine Glória,
apresentasse a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que desenvolverá um programa de música brasileira erudita10.
Conforme o jornal Rio Grande, o major da Força Aérea Brasileira Cyrillo da Rosa é o chefe do Projeto Eclipse em Rio
Grande. Estava morando “há tempos” no Cassino, onde, dirigia as obras da área de lançamento de foguetes, sendo o
responsável pela compra de materiais, contratação de serviços, fiscalização das obras e além de fazer as relações públicas. O
sr. Manoel Manoel Marques Fonseca Júnior, tinha a seu encargo o transporte do equipamento chegado ao Porto do Rio Grande
e dos materiais que vinham do interior do estado. Veículos rastreadores da NASA chegaram ao Porto do Rio Grande e rumaram
para o Cassino.11

10
Rio Grande, 10 de novembro de 1966.
11
Rio Grande. 24 de outubro de 1966.

50
Centro do Rio Grande em meados dos anos 1950. Nos anos 1960 a cidade continua a viver uma grave crise econômica devido ao fechamento de inúmeras indústrias. Nos
anos 1970, a construção do Super Porto e conseqüente geração de milhares de empregos promoveu a verticalização da área central com a construção de edifícios com 10 ou
mais andares. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 51
As matérias jornalísticas do Correio do Povo exploraram o cenário inovador vivido no Estado: “O fim-de-semana vai ser
de disco voador... De fato, amanhã e domingo haverá no céu do Rio Grande do Sul muita coisa além do que a nossa vã
filosofia alcança. Da base do Cassino, o foguete que subirá às 12h05m fará se expandir a 80 quilômetros de altura uma nuvem
de Tetra Metil de Alumínio (TMA), que terá cor esverdeada e será observada a 150 quilômetros de distância”.12 Conforme o
Correio do Povo, a nuvem tinha a finalidade de permitir a observação dos ventos predominantes naquela altitude. Mas a
nuvem não seria o único “corpo estranho” a povoar o céu gaúcho, pois do Cassino, seriam lançados vários balões
meteorológicos e de Alegrete subiriam balões meteorológicos com 40 metros de diâmetro levando em seu bojo 100.000
metros cúbicos de gás. Cinco aviões da NASA e de outras entidades, “todos jatos quadri-reatores estarão por outro lado,
voando na área, dando mais movimentação, ainda, ao corredor aéreo que existirá sobre o território gaúcho. Os aviões
equipados com equipamento moderníssimo, constituindo-se em verdadeiros laboratórios voadores, voarão a 10.000 metros
de altura e, segundo disse o Dr. Fernando Mendonça (diretor da Comissão Nacional de Atividades Espaciais), fazendo blague,
evitarão sempre serem atingidos pelos foguetes a serem disparados da base do Cassino”.13 Neste dia 12 de novembro o
comando aéreo interditou vôos de qualquer espécie no período compreendido entre 9 e 15 horas em toda a faixa gaúcha por
onde seria observado o eclipse.
Segundo o Correio do Povo, na véspera dos lançamentos (11 de novembro) já era muito intenso o movimento dos
turistas que se deslocavam para a Praia do Cassino. Grande número de ônibus, caminhões e automóveis se concentraram nas
imediações da área interditada. O caminho seguido pelos turistas foi o seguinte: Estrada do Vieira, passando pela Ponte Preta,
pelos Molhes atingindo uma área que dista aproximadamente 1.500 metros da base de lançamentos. Grande número de
barracas estava armada nesta área tornando o aspecto pitoresco. O extraordinário deslocamento humano para o local, fez com

12
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.
13
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.

52
que a firma Frigosul-Anselmi preparasse 10.000 lanches para serem vendidos aos turistas. O comércio e a indústria da cidade
do Rio Grande fecharam suas portas no dia do eclipse14.

A pacata imagem da Praça Xavier Ferreira na década de 1950 ainda era o cenário visto pelos cientistas em 1966. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.
14
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.

53
No relato do Correio do Povo as cargas úteis, contendo “material caríssimo e de extrema delicadeza” que servirão para
enviar à base do Cassino as observações do eclipse não serão recuperadas. As cargas, juntamente com os dois estágios de
cada foguete, cairão ao mar. Mas não haverá nenhuma embarcação para recolhê-las. A previsão é que a maré e as ondas
tragam até a praia, dias, semanas ou meses após a conclusão da operação as cargas úteis, as quais deverão ser devolvidas à
Comissão Nacional de Atividades Espaciais15.
Lançadores da NASA e os foguetes Nike-Apache.

15
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.

54
Lançadores da NASA e os foguetes Nike-Apache, observando-se grande movimentação do pessoal técnico.

55
Correio do Povo. 11 de novembro de 1966.

Correio do Povo. 05 de novembro de 1966.

56
Os carros que se deslocarem para a Praia do Cassino a fim de observarem o eclipse, não podiam seguir diretamente até
a praia. O acesso foi feito pela estrada que leva a 4ª Seção da Barra, do DEPREC e aos molhes. “Dali, pela praia, os carros iriam
até o Cassino, atingindo após, a pé, os seus ocupantes a área destinada ao público. No local onde o público poderá postar-se,
haverá condições ótimas para visualização completa de toda a operação, já estão instalados alto-falantes, que levarão até ali a
contagem regressiva, em português, permitindo assim que o público acompanhe perfeitamente todo o desenvolvimento da
operação.”16 Os hotéis da praia do Cassino estavam lotados há quase uma semana. Ocorre que além dos técnicos da NASA,
DASA e SANDIA, que ficaram alojados na colônia de férias da Ipiranga17, próximo à Base, inúmeros técnicos brasileiros e
pessoal da FAB, ficaram alojados na praia do Cassino. Populares apelidaram a Base de Cabo Kennedy em miniatura.
Além da Base de Foguetes, outros projetos estavam em andamento como o realizado por pesquisadores do Exército
Americano, instalados a 10 km a sudeste da Vila da Quinta e um projeto sobre a Região D da Ionosfera, realizado a 25
quilômetros ao sul do Balneário e a cerca de 100 metros do mar, onde dois pesquisadores trabalharam.
A previsão, na véspera do lançamento, é de que os foguetes Nike-Javelin subiriam da base de lançamento do Cassino,
conduzindo carga útil composta de ponta de prova de Langmuir e câmara Gerdien para medidas de densidade eletrônica da
região D da ionosfera, incluindo temperatura de elétrons, espécies de íons positivos e negativos. Os demais foguetes deste
tipo levariam carga idêntica para procederem aos experimentos programados. Todos os Nike-Javelin a serem lançados pela
DASA, voariam durante cerca de 4 minutos até o ponto de impacto no Atlântico, a 49 quilômetros de distância da base. A
altura máxima a ser alcançada por esse tipo de foguetes é, também a menor dentre todos que serão usados nas pesquisas em
torno do eclipse total do Sol: 85.000 metros. O ângulo efetivo de lançamento para os foguetes era de 85 graus. Os foguetes
Nike-Hydac a serem lançados pela DASA, levariam, como carga útil, espectrômetros de massa (bombeado), ponta de prova de
rádio freqüência, ponta de prova de potencial retardado, contador Geiger e detectores de radiação H Lyman alfa, para

16
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.
17
Um quadro/mural teria foi deixado por técnicos para agradecer o tempo de estadia e o acolhimento recebido. Até alguns anos atrás há relatos de sua existência
naquele local.

57
medidas nas regiões D e E da ionosfera relacionadas com densidade eletrônica, temperatura de elétrons, densidades e
temperaturas de íons positivos, fluxo de energia de raios X e H Lyman alfa. Lançados da base do Cassino em ângulo efetivo de
82,5 graus os Nike-Hydac voariam durante 5 minutos e 30 segundos, até o ponto de impacto, no Oceano, situado a 108
quilômetros de distância. A altura máxima a ser alcançada por esse tipo de foguete será de 116.000 metros18.
Lançadores da DASA e a subida do primeiro foguete Nike Javelin às 11h38m10s. Acervo: Alfredo Perez.

18
Correio do Povo, 12 de novembro de 1966.

58
Estação de Telemetria no Bolaxa. INPE.

59
Lançamento de um foguete Nike Tomahawk da agência SANDIA. Lançamento de um foguete Nike Tomahawk da agência SANDIA às 10:00:00
Acervo: Alfredo Perez

60
As manchetes do dia 13 de novembro destacaram: “Precisão absoluta no lançamento dos foguetes empolgou 50 mil
pessoas na Praia do Cassino; A Base de Foguetes do Cassino cumpriu sua missão de sondagem do eclipse do Sol. O repórter
do Correio do Povo enviado para a cobertura relatou não ser uma tarefa fácil descreve a grande emoção que se apoderou de
mais de cinqüenta mil pessoas que se deslocaram para a Praia do Cassino para assistir, ao lançamento dos foguetes
meteorológicos, disparados em perseguição do eclipse total do Sol. Houve um silêncio expectante ao longo da praia, numa
extensão de mais de quatro quilômetros no momento em que os alto-falantes transmitiram a contagem regressiva para o
primeiro disparo. Multidão, autoridades e talvez uma centena de homens de imprensa ficaram imobilizados, olhos presos à
Base de Lançamento, onde o foguete que abriria a operação, - um Nike-Tomahawk de uma tonelada de peso e dez metros de
comprimento – brilhante ao Sol, já quebrado por uma pontinha de sombra da Lua, estava prestes a varar os céus. Uma
explosão admirativa escapou de todas as bocas, quando o S-1 iniciou sua vertiginosa disparada, produzindo o surdo ruído de
quebra supersônica, atingindo grande altura, para, ao desprender-se o estágio inicial, desaparecer caindo ao mar, segundo
depois, o primeiro propulsor de empuche”.19 Dezenas de milhares de pessoas aguardam o eclipse na praia do Cassino
no dia 12. O terceiro da direita para a esquerda é Alfredo Perez, que
gentilmente cedeu fotografias e livros sobre o tema.

19
Correio do Povo, 13 de novembro de 1966.

61
Para o repórter do Correio do Povo, este foi o primeiro e inesquecível instante vivido por todos os que estiveram
presentes à Praia do Cassino, vivendo, em realidade, um autêntico dia de Cabo Kennedy. Não há exagero em dizer-se que a
emoção produzida no povo, misto de orgulho e de perplexidade, ficará indelevelmente marcada, como a visão de algo
fantástico, que teve em cada um – é lícito julgar-se pelas exclamações -, um participante, alguém que realmente viveu um
espetáculo transcendente. Eram 10 horas, enquanto no céu ampliava-se o disco de sombra do Sol. O primeiro disparo –
comunicava a direção técnica da Comissão Nacional de Atividades Espaciais – transcorrera normalmente. Houve desafogo e
satisfação nas fisionomias. Instantes depois a carga útil do Nike-Tomahawk – acrescentava a mesma fonte de informação –
enviava, de uma altura de mais de 100 quilômetros suas primeiras notícias para o registro dos aparelhos de terra. O eclipse
total do Sol só ocorreria às 12h8m00s (horário brasileiro de verão), mas a mancha no Sol – em meio a um dia de intensa
luminosidade – avançava muito mais lentamente do que concordaria em permitir a enorme expectativa geral.
Dando continuidade ao relato de um participante ocular deste dia, após o lançamento do primeiro foguete, fato que
emocionou milhares de pessoas postadas na praia do Cassino, outro acontecimento superou o anterior em intensidade: o
exato momento em que subiam aos céus seis foguetes, separados por alguns minutos e o Sol, encoberto quase totalmente,
produzia a noite que ressaltou mais ainda o enorme clarão produzido pelo empuche do primeiro estágio20. Os foguetes
subiram no horário exato, com exceção do lançamento nº 10 que foi cancelado: 10h00m00s; 11h38m10s; 11h55m19s;
12h02m00s; 12h06m00s; 12h07m00s; 12h07m30s; 12h08m00s; 12h08m37s; 12h22m30s; 12h33m00s; 12h50m00s;
13h35m00s; 14h00m00s.
A previsão era de tempo nublado e chuvoso para o dia do eclipse. Porém, as condições meteorológicas permitiram uma
observação privilegiada do fenômeno. Pela primeira vez o eclipse foi fotografado por astronautas, os quais estavam em órbita
na nave norte-americana Gemini 12, a trezentos quilômetros de altura. Em Bagé, o tempo estava excelente para observação,
porém ocorreram incidentes tragicômicos que prejudicaram as observações: o eclipse já se encontrava em pleno

20
Correio do Povo, 13 de novembro de 1966.

62
desenvolvimento, quando junto a Estação de passageiros do Aeroporto, local onde se registrou a maior concentração
científica, um mecânico que estava consertando uma pane de um avião da FAB, inadvertidamente acionou o motor do
‘Douglas’. As explosões do motor “ecoaram como trovões no instrumental de precisão dos cientistas, que, em bando, falando
cada qual sua língua materna, mas utilizando palavras que não ousariam, mesmo adultos, pronunciar perto de suas genitoras,
precipitaram-se ao encontro da origem e do autor daquelas interferências em suas observações”21.
Os foguetes subiram no horário exato, com exceção de um cancelamento, iniciando as 10h00m e finalizando as
14h00m, num total de 14 foguetes.
No dia 17 de novembro, uma matéria do Correio do Povo ainda destacava: “Nunca, em nossa história, recebemos a visita
de tantos e tão ilustres homens de Ciência, dos mais diferentes países, que aqui permaneceram semanas. Até hoje não
havíamos sequer imaginado que, ali, na praia do Cassino, fosse implantada, de uma hora para outra, tão custosa e moderna
base científica, para lançamento de foguetes”.
O grande interesse despertado pela população e pelo ineditismo das experiências científicas foi amplamente noticiado
pela imprensa do Rio Grande do Sul. Destacamos, em especial, a cobertura realizada pelo Correio do Povo e pelo jornal Rio
Grande, além de outros periódicos estaduais aqui citados. Porém, não se buscou esgotar a pesquisa mas sim trazer um pouco
do relato que empolgou os leitores durante aquelas semanas que antecederam o eclipse do Sol.

21
Correio do Povo, 13 de novembro de 1966.

63
Correio do Povo. 13-11-1966. 64
65
66
67
Diario de Notícias (Porto Alegre), 13 de novembro de 2017.

68
Diário de Notícias. Rio de Janeiro. 14-
11-1966. Banhista e o eclipse no Rio.

69
Jornal Estado de São Paulo. 13-11-1966.
“A cidade do Rio Grande viveu momentos de indescritível movimentação desde o momento que foram
assentadas na praia do Cassino as bases de lançamentos de foguetes destinados a pesquisar a passagem do eclipse
até o instante em que a operação se tornava realmente efetiva. Bafejada pela sorte a Noiva do Mar tornou-se o ponto
de atração turística e científica, cortejada e cortejada por todos aqueles que desejavam assistir o acontecimento
máximo do século cuja oportunidade seria vedada a muitas gerações pelo espaço de tempo que o fenômeno leva a
repetir-se, com mais de três séculos de espera, tempo esse que nos cansaria demasiadamente se nos fosse
permitido esperá-lo, embora sentados. O acontecimento foi sem dúvida alguma magnífico, espetacular. Sacudiu a
sensibilidade de todos, provocou admiração, proporcionando-nos, a felicidade em contemplá-lo e acompanhá-lo,
tornando-nos ocasionalmente testemunhas oculares da história, de um fato que jamais voltaremos a assistir, e que
os momentos que perdemos aguardando-o, verificando-o nos satisfez plenamente”. Matéria assinada por Pimenta
da Costa, Jornal Rio Grande, Rio Grande, 26 de novembro de 1966.

“Depois de 48 horas de instabilidade do tempo e chuvas, a cidade do Rio Grande amanheceu, hoje inundada de
sol, evitando uma tremenda decepção a toda uma população que durante meses acompanhou, com expectativa, a
montagem da custosa base de foguetes na Praia do Cassino distante 250 quilômetros daqui. Também cerca de cem
mil pessoas que se deslocaram dos mais distantes lugares do Estado, do País e mesmo do exterior, pois além dos
cientistas estrangeiros, turistas argentinos e uruguaios em grande número estavam presentes e tiveram a satisfação
de apreciar um espetáculo inesquecível”. Diário de Notícias, Porto Alegre, 13 de novembro de 1966.

Às 11h10 do dia 12 de novembro de 1966 o dia virou noite e a temperatura caiu bruscamente. A sombra da Lua encobriu totalmente o Sol por quase
dois minutos com uma visão perfeita para os que assistiam ao fenômeno na beira da praia do Cassino. O Sol, a Lua e o planeta Vênus estavam
próximos no céu, todos na constelação de Libra.

70
O ESPETÁCULO DO SÉCULO NA “MANCHETE” E “O CRUZEIRO”
As duas maiores revistas ilustradas brasileiras dos anos 1960 realizaram a cobertura do Projeto Eclipse. Equipes foram
deslocadas para o Balneário Cassino e para Bagé buscando documentar os lançamentos. Estas revistas são voltadas, em
especial, ao fotojornalismo (parcerias repórter-fotógrafo) na cobertura de eventos de destaque nacional e internacional. No
contexto do interesse popular pela corrida espacial/astronáutica e pela presença norte-americana em um projeto inédito no
Brasil, o Cassino foi divulgado em três edições.
A revista O Cruzeiro surgiu no Rio de Janeiro em 10 de novembro de 1928. Foi editada por Assis Chateaubriand pelos
Diários Associados. Nos anos 1960, a revista apresentava um design chamado de “bossa nova”. Sua orientação editorial era
voltada a modernidade e a tecnologia moderna e não ao saudosismo do passado colonial/imperial. Era uma revista ilustrada
de grande sucesso de vendas (que chegou a vender mais de 700.000 exemplares semanais) e que deixou de circular em julho
de 1975 assinalando a decadência dos Diários Associados.
A revista Manchete foi fundada por Adolpho Bloch em abril de 1952. Inspirou-se na revista ilustrada parisiense Paris
Match e enfatizou a linguagem do fotojornalismo e os enfoques modernos. Rivalizou e até superou as tiragens da revista O
Cruzeiro e deixou de circular semanalmente no ano de 2000 com a falência de Bloch Editores. Números especiais foram
lançados após esta data.
A cobertura do Projeto Eclipse ia ao encontro da pauta “modernidade e tecnologia” e a cobertura fotográfica destacou os
lançadores, os foguetes, os cientistas, as perspectivas de geração de novos conhecimentos, a presença no Brasil neste cenário
científico e tecnológico. Grande ênfase foi dada a presença das mais de 50.000 pessoas que acorreram à praia do Cassino para
observar o eclipse e especialmente, observar ao lançamento de foguetes.
Uma nova chance de observação de um eclipse total do Sol visível no Balneário Cassino somente vai ocorrer em 8 de
fevereiro de 2111 e em 15 de setembro de 2118. Portanto, felizes aqueles que preservaram a memória do eclipse de 1966...

71
Manchete. 05 de novembro de 1966.

72
Manchete. 05 de novembro de 1966
73
Manchete. 05 de novembro de 1966

74
Manchete. 26 de novembro de 1966.

75
Manchete. 26 de novembro de 1966.

76
Manchete. 26 de novembro de 1966.

77
Manchete. 26 de novembro de 1966.

78
O Cruzeiro. 26 de novembro de 1966.

79
O Cruzeiro. 26 de novembro de 1966.

80
O Cruzeiro. 26 de novembro de 1966.

81
O Cruzeiro. 26 de novembro de 1966.

82
FOGUETES UTILIZADOS NO CASSINO - Os dados foram retirados da Enciclopédia Astronáutica (http:www// astronautix.com).

Quatro tipos de foguetes, todos da família Nike, foram lançados nas atividades do Projeto Eclipse no Cassino: Nike-
Apache; Nike-Javelin; Nike-Tomahawk; Nike-Hydac. A seguir, será feita uma breve descrição destes foguetes.
Foguete Nike-Javelin com inscrições Brazil/United States of America.

83
NIKE-JAVELIN
Nike-Javelin é um foguete americano de sondagem constituído por dois estágios. Ocorreram lançamentos entre 1963 e
1978. A massa bruta é de 900 kg, diâmetro de 0,42m, altura de 8,20m e apogeu de 130km.

1966 05 de novembro - . . 15:35 GMT - Lançamento do site : Cassino . LV Família :Javelin . Veículo de Lançamento : Nike
Javelin .
 Ionosfera missão . - Nation : EUA . Agência : BRL , DASA . Apogee : 80 km (49 milhas).

1966 12 de novembro - . . 13:38 GMT - Lançamento do site : Cassino . LV Família :Javelin . Veículo de Lançamento : Nike
Javelin .
 Ionosfera missão . - Nation : EUA . Agência : BRL , DASA . Apogee : 80 km (49 milhas).

1966 12 de novembro - . . 14:08 GMT - Lançamento do site : Cassino . LV Família :Javelin . Veículo de Lançamento : Nike
Javelin .
 Ionosfera missão . - Nation : EUA . Agência : BRL , DASA . Apogee : 80 km (49 milhas).

1966 12 de novembro - . . 14:50 GMT - Lançamento do site : Cassino . LV Família :Javelin . Veículo de Lançamento : Nike
Javelin .
 Ionosfera missão . - Nation : EUA . Agência : BRL , DASA . Apogee : 80 km (49 milhas).

1966 12 de novembro - 15:35 GMT - Lançamento do site : Cassino . LV Família :Javelin . Veículo de Lançamento : Nike
Javelin .
Ionosfera missão . - Nation : EUA . Agência : BRL , DASA . Apogee : 80 km (49 milhas).

84
NIKE-APACHE
O Nike-Apache foi um foguete de sondagem de dois estágios usado pela NASA para levar instrumentos à atmosfera
superior. O Nike-Apache foi lançado 636 vezes entre 1961 e 1978. Ele se tornou popular devido ao baixo custo de cada
unidade (US$ 6.000,00) e possibilidade de ser lançado de locais com pouca infra-estrutura.

1966 November 12 - . 14:01 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Deacon. Launch Vehicle: Nike Apache.
 Aeronomy / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: NASA. Apogee: 185 km (114 mi).

1966 November 12 - . 14:05 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Deacon. Launch Vehicle: Nike Apache.
 Ionosphere / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: NASA. Apogee: 197 km (122 mi).

1966 November 12 - . 14:07 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Deacon. Launch Vehicle: Nike Apache.
 Ionosphere / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: NASA. Apogee: 160 km (90 mi).

1966 November 12 - . 14:10 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Deacon. Launch Vehicle: Nike Apache.
 Ionosphere / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: NASA. Apogee: 195 km (121 mi).

1966 November 12 - . 16:00 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Deacon. Launch Vehicle: Nike Apache.
 Ionosphere / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: NASA. Apogee: 200 km (120 mi).
http://www.astronautix.com/n/nikeapache.html

85
O Nike-Apache foi o primeiro foguete lançado do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). A Barreira do Inferno é uma Base
da Força Aérea Brasileira para o lançamento de foguetes fundado em 1965. No Projeto Eclipse uma equipe do então CLFBI (Centro de
Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno) atuou no Cassino e era chefiada pelo Cel. Ivan Janvrot. A NASA foi responsável pelo
lançamento de cinco Nike-Apache no Cassino.

86
NIKE-TOMAHAWK

Foguete americano de dois estágios que teve o primeiro lançamento em 1963 e o último em 1995. Massa bruta de
990kg, diâmetro de 0,42m, altura de 10,8m e apogeu de 370km. Agência Sandia (American manufacturer of rockets and
spacecraft). Sandia Laboratories, Albuquerque, USA. Foguete inicialmente usado para apoio em programas da Comissão da
Energia Atômica dos EUA.

1966 November 12 - . 12:00 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk.
 Solar x-ray / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: Sandia. Apogee: 297 km (184 mi).

1966 November 12 - . 13:54 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk.
 Solar x-ray / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: Sandia. Apogee: 115 km (71 mi).

1966 November 12 - . 14:29 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk

87
Montagem de um foguete Nike Tomahawk em plataforma da SANDIA no Cassino.

88
NIKE-HYDAC
Parte da família de foguetes Javelin. Lançamentos entre 1966 e 1983. Dois estágios com massa bruta de 900kg,
diâmetro de 0,42m, altura de 9,10m e apogeu de 150km. O site “astronautix.com” indica (informação que não confirmei) que
a agência responsável pelos lançamentos dos Nike-Hydac foi a Air Force Cambridge Research Laboratory (AFCRL),
Cambridge, Massachusetts, USA. Conforme Janvrot a agência responsável foi a DASA.

1966 November 5 - . 14:55 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Test mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 96 km (59 mi).

1966 November 12 - . 14:45 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Solar mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 250 km (150 mi).

1966 November 12 - . 14:55 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 115 km (71 mi).

1966 November 12 - . 15:09 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 250 km (150 mi).

1966 November 12 - . 15:22 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 115 km (71 mi).

1966 November 15 - . 13:23 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Hydac.
 Solar mission - . Nation: USA. Agency: AFCRL. Apogee: 150 km (90 mi).

89
90
SANDIA

American manufacturer of rockets and spacecraft. Sandia Laboratories, Albuquerque, USA. A origem da agência está
ligada ao Projeto Manhattan, durante a II Guerra Mundial, quando foram desenvolvidas as primeiras bombas atômicas nos EUA.
Nos anos 1940 era um laboratório de engenharia de armas nucleares.

1966 November 12 - . 12:00 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk.

 Solar x-ray / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: Sandia. Apogee: 297 km (184 mi).

1966 November 12 - . 13:54 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk.

 Solar x-ray / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: Sandia. Apogee: 115 km (71 mi).

1966 November 12 - . 14:29 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Tomahawk.Launch Vehicle: Nike Tomahawk.
Logo da SANDIA entre 1956-1970.
 Solar x-ray / eclipse mission - . Nation: USA. Agency: Sandia. Apogee: 115 km (71 mi). Thunderbird com três penas.

91
LOGO DA SANDIA NA DÉCADA DE 1940

92
Lançador SANDIA. Campo de Lançamento de Foguetes do Cassino. INPE.

93
Lançador SANDIA. INPE.

94
Lançador SANDIA. INPE.

95
Lançadores SANDIA. INPE.

96
Lançadores SANDIA. INPE.

97
DASA
German agency. Deutsche Aerospace AG, Bremen, Germany. 1962 July 9 - . 08:51 GMT - . Launch Site: Johnston
Island. Launch Complex: Johnston. AKA: Daimler-Benz Aerospace; Deutsche Aerospace; ERNO; US Defense Atomic Support
Agency. Location: Albequerque, New Mexico.

1966 November 5 - . 15:35 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Javelin.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: BRL, DASA. Apogee: 80 km (49 mi).

1966 November 12 - . 13:38 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Javelin.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: BRL, DASA. Apogee: 80 km (49 mi).

1966 November 12 - . 14:08 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Javelin.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: BRL, DASA. Apogee: 80 km (49 mi).

1966 November 12 - . 14:50 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Javelin.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: BRL, DASA. Apogee: 80 km (49 mi).

1966 November 12 - . 15:35 GMT - . Launch Site: Cassino. LV Family: Javelin. Launch Vehicle: Nike Javelin.
 Ionosphere mission - . Nation: USA. Agency: BRL, DASA. Apogee: 80 km (49 mi).

http://www.astronautix.com/s/strypiantares.html

98
Montagem de um lançador DASA. Acervo: INPE.

99
Lançadores da DASA. INPE.

100
Lançador da DASA. INPE.

101
Lançador DASA. INPE.

102
Lançador DASA. INPE.

103
Lançadores da DASA. Foto:Tibiriçá Freitas. Acervo: Alfredo Perez.

104
INSTRUMENTOS USADOS POR TÉCNICOS DA NASA, DASA, SANDIA E AFCLR (fotografias
cedidas pelo Sr. Alfredo Perez).
Instrumento utilizado no campo de lançamento de foguetes.

105
Conjunto de cilindros ejetáveis pertencente as cargas úteis dos foguetes.

106
Carga útil dos foguetes.

107
Carga útil dos foguetes.

108
Cilindro ejetável observando-se antenas telemétricas.

109
Carga útil dos foguetes.

110
Instrumentação usada por técnicos da NASA, DASA e SANDIA em observação do Eclipse Total do Sol no Cassino.

111
PESSOAL TÉCNICO E GERENTES DE AGÊNCIAS (Imagens Ivan Janvrot Miranda–Os Primórdios da Atividade Espacial na
Aeronáutica)
Coleta e plotagem dos dados resultados da sondagem meteorológica.

112
113
114
115
Vista geral do Centro de Controle.

116
Sala de Meteorologia.

117
Reunião de Coordenação Tedesco, Janvrot com os Gerentes da NASA, DASA e SANDIA.

118
Fotografia de parte do grupo envolvido nas atividades da base de foguetes.

119
IMAGENS DO PROJETO ECLIPSE

Nesta fotografia colorida se constata que os veículos da NASA são nas


cores azul e branco.

120
CENTROS DE PESQUISA PARTICIPANTES (RELAÇÃO PARCIAL DE MISSÕES BRASILEIRAS E
ESTRANGEIRAS)22
Observatório Nacional, com Muniz Barreto, Sylvio Silva, Carlos Lacombe, Paulo Silva, José Nogueira e outros (determinação do
tempo das efemérides pelos instantes de contato);

Observatório de Valongo da UFRJ, com Luiz Eduardo Machado e Silio Vaz (determinação dos instantes e fotografias);

Instituto Astronômico e Geofísico com Abrahão de Moraes e outros (medida da radiação e fotografia da coroa);

Instituto Tecnológico da Aeronáutica com G. Quast, R. Vilhena e J. Pacheco (fotografia da coroa);

Instituto de Astronomia da RFRGS com J. Haertel e outros (fotografias das várias fases);

Universidade de Mackenzie, com P. Kaufmann, O. Matsuura e P. Marques dos Santos (ruído solar, medida da fase e amplitude
em VLF medida do diâmetros da radiocoroa, medida da polarização nos dois hemisférios solares);

Universidade de Pensilvânia em William Pritheroe, (espectrofotometria cromosférica);

Universidade de Adelphi, com H. Courten (busca de cometas circunsolares);

Laboratório de Cambridge, com G. Sales (radiossondagens e brilho do céu);

Instituto Tecnológico de Illinois, com R. Sears (efeitos de propagação em VLF);

Edgerton, Germeshausen and Grier, Inc. com W. Boquist (medidas ópticas da coroa);

22
Dados retirados do levantamento feito por Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, 1993, p. 214-215.

121
Academia Naval dos Estados Unidos, com V. Gogolak (medidas do fluxo solar em radiofreqüência);

Observatório de Roma, com M. Cimino (medidas fotoelétricas e de escurecimento do disco solar);

Observatório de Sonnemborg (Utrech), com J. Hontgast (perfil do espectro cromosférico);

Observatório de Montevideo e Serviço Geográfico Militar, com C. Echecopar e J. Cervino (registro de contatos e fotografias).
Foguete sendo preparado para lançamento no
Cassino. Fotógrafo: Tibiriçá Freitas.

122
ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS

CLBI – Centro de Lançamento da Barreira do Inferno;

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais;

NASA – National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço);

DASA - German Agency Deutsche Aerospace;

SANDIA - American Manufacturer of Rockets and Spacecraft;

AFCRL - Air Force Cambridge Research Laboratory, Cambridge, Massachusetts, USA.

CNAE – Comissão Nacional de Atividades Espaciais;

GETEPE – Grupo Executivo e de Trabalho e Estudos de Projetos Espaciais;

CNPq- Conselho Nacional de Pesquisas;

Força Aérea Brasileira;

Exército Brasileiro.

123
EXPERIMENTOS REALIZADOS23
Absorção: 4;
Astronomia: 7;
Fenômenos Coronais: 4;
Geodésia: 2;
Geomagnetismo: 3;
Ionosfera – Camadas Inferiores: 16;
Ionosfera – Camadas Superiores: 3;
Meteorologia: 5;
Processos Fotoquímicos: 8;
Propagação de Ondas Eletromagnéticas: 3;
Radiação Solar –Espectro Visível: 21;
Radiação Solar – Espectro Infravermelho: 10;
Radiação Solar – Espectro Ultravioleta – Raio X: 8;
Radiação Solar – Espectro RF e Microondas: 3;
Rastreamento de Foguetes: 1;
Ruído Atmosférico: 1.

Os experimentos foram divididos em: a)Experimentos de Solo - 41 locais, na faixa da totalidade, para instalação de
equipamentos e postos de observação científica; b)Experimentos de Bordo - 4 aeronaves -KC135 e 990- para sobrevôo da faixa
de totalidade e observação no nível de 10.000 metros; c)Experimentos com Foguetes – 1 Campo de Lançamento, 22 foguetes e
5 sítios de acompanhamento(rastreio, fotografia, transmissão e recepção de dados) para observações dos fenômenos na faixa
de 100 a 300 km de altura.

23
Conforme Ivan Javrot de Miranda. Os Primórdios da Atividade Espacial na Aeronáutica, p. 114-115.

124
ARTIGOS CIENTÍFICOS PUBLICADOS COM BASE NAS OBSERVAÇÕES DO ECLIPSE
(BREVÍSSIMO ARROLAMENTO DE ALGUNS TÍTULOS):

ARGO, H. V.; BERGEY, J. A.; EVANS, W. D. Å coronal X-ray emission during the 12 November 1966 eclipse. Solar Physics.
december 1968, V. 5, p 551-563.

BYARD, Paul L.; KISSELL, Kenneth E. Observations of the infrared FeXIII lines in the solar corona of 12 November, 1966.
Solar Physics. December 1971, V. 21, p. 351-359.

CACCIN, B.; MOSCHI, G.; RIGUTTI, M.; FALCIANI, R. Spectropolarimetric analysis of the solar corona during the 12 November
1966 total eclipse. Solar Physics, March 1971, V. 17, p. 89-96.

KAUFMANN, P.; MATUSUURA, O.T.; SANTOS, P.M. Experimental results from measurements performed during the 12 November
1966 total solar eclipse with a 4.28-cm radio polarimeter. Icarus (New York), v. 7, p. 380-386, 1967.

KAUFMANN, P. Some characteristics of an S-component of solar radiation identified on November 1966 eclipse at 4.28-cm
wavelength. In: Solar Physics. Dordrecht, v. 4, p. 58-66, 1968.

KIRK, J. G., NEWBY, J. S. Curvature and surface distribution of the polar rays in the solar corona on 12 November 1966.
Solar Physics. April 1974, V. 35, p. 377-384.

MALVILLE, J. McKim; SCHMAHL, Edward J. Photoelectric measurements of the green coronal line during the eclipse of
November 12, 1966. Solar Physics. June 1968, V. 4, p 224-228.

SAITO, Kuniji; TANDBERG-HANSSEN, E. The arch systems, cavities and prominences in the helmet streamer observed at the
solar eclipse, November 12, 1966. Solar Physics. July 1973, V. 31, p. 105-121.

125
SCHAAL, R. E. Effects on VLF propagation from the 1966 Solar Total Eclipse. In: Simpósio Internacional do Eclipse. São José dos
Campos – SP, INPE, 1968.

WALDMEIER, M. Die totale Sonnenfinsternis vom 12. November 1966 Naturwissenschaften. January 1967, V. 54,p. 597-600.

WEEKS, L. H. & SMITH, L. G. Lα measurements during the solar eclipse of 12 November 1966. In: Solar Physics. v. 20, pp. 59-
63, 1971.
Revista holandesa criada em 1967 voltada aos estudos de física solar e
pesquisa estelar. Principal magazine para publicação de artigos sobre
o Sol.

126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MIRANDA, Ivan Janvrot. Os primórdios da atividade espacial na Aeronáutica. Editora Incaer, 2005.
MOTTA, Adauto Gouveia. Esboço Histórico da Pesquisa Espacial no Brasil. São José dos Campos: INPE, 2003.
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Os Eclipses. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 1993.
ROLIM, Keble Danta. O Dia em que o Sol se Escondeu: a história do fenômeno do eclipse solar do dia 12 de novembro de 1966.
E-book.
_______. Trampolim para o Espaço: meio século de contribuições da Barreira do Inferno para o desenvolvimento do Programa
Espacial Brasileiro. Parnamirim/RN, Edição do Autor, 2015.
TORRES, Luiz Henrique. Balneário Cassino: o nascimento do banho de mar planificado no Brasil. Rio Grande: FURG, 2009.
______. História do Município do Rio Grande: fundamentos. Rio Grande: Pluscom, 2015.

Sites:
http://www.inpe.br/50anos/linha_tempo/66.html;
http://www.astronautix.com/c/cassino.html;
http://www.clbi.cta.br/cceit/projeto/show/12
http://history.nasa.gov/SP-4401/ch8.htm
http://www.inpe.br/50anos/english/timeline/66.html». Acesso em: 30-09- 2015.
https://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEplot/SEplot1951/SE1966Nov12T
http://www.riograndeemfotos.fot.br/site/index.php (exposição 50 Anos do Projeto Eclipse)
http://www.google.earth
http://www.guaipeca.blogger.com.br (site papareia)

127
Jornais e Revistas:
Correio do Povo. Porto Alegre.
Diário de Notícias. Rio de Janeiro.
Diário de Notícias. Porto Alegre.
Jornal Rio Grande. Rio Grande.
O Peixeiro. Rio Grande
Manchete. Rio de Janeiro.
O Cruzeiro. Rio de Janeiro.

Acervo fotográfico:
Acervo pessoal de Alfredo Perez.
Acervo de fotografias de Ivan Janvrot Miranda;
Acervo pessoal de Ubiratan Freitas (fotografias de seu irmão Tibiriçá Freitas);
Biblioteca Rio-Grandense (BRG);
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE);
Museu da Cidade do Rio Grande (MCRS);
Correio do Povo;
Jornal Rio Grande;
Manchete;
O Cruzeiro.

Blog

historiaehistoriografiadors.blogspot.com.br

128
Fotografias e montagem de Gerson Abramson (retirado do site papareia).

129
O AUTOR

Site papareia.

O autor é Doutor em História e professor Titular da Universidade


Federal do Rio Grande. Atua no Programa de Pós-Graduação em
Gerenciamento Costeiro.

130

Você também pode gostar