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CONTAGEM REGRESSIVA
LINHA DO TEMPO
BIBLIOGRAFIA
CONTAGEM REGRESSIVA
a Como aconteceu quando um psiquiatra da Nasa perguntou ao astronauta Mike Mullane que
epitáfio gostaria de ter gravado em seu túmulo. Mullane respondeu: “Um marido carinhoso e um pai
dedicado”, ainda que em seu livro A bordo de um foguete ele brinque: “Por uma viagem ao espaço,
eu teria vendido minha mulher e meus filhos como escravos”.
b Juntando-se os astronautas que usaram a fama para ganhar um lugar no Senado e os senadores
que usaram sua influência para conquistar um lugar numa missão da Nasa, tem-se praticamente um
quórum do Senado no espaço. (John Glenn conseguiu fazer as duas coisas, ao voltar ao espaço aos 77
anos, depois de ser eleito senador.) O ardil às vezes dá errado, como aconteceu quando Jeff
Bingaman derrotou Harrison Schmitt (astronauta do Projeto Apollo que se elegeu para o Senado pelo
Novo México), usando como slogan de campanha a frase “Mas, e em Terra, o que ele tem feito por
vocês?”.
c Na semana passada, li a transcrição preliminar de um depoimento em que os “merdas” e
“diabos” estavam riscados como se fossem nomes de agentes secretos num dossiê da CIA, a agência
de inteligência americana. Durante a missão da Apollo 10, Gene Cernan reagiu a um quase acidente
com “não poucos infernos, porras e bostas”, e o diretor de uma Escola Bíblica de Miami escreveu ao
presidente Nixon exigindo uma retratação pública. A Nasa obrigou Cernan a pedir desculpas. Mas ele
teve a última palavra em suas memórias: “Bando de putos bestalhões”.
2. A VIDA NUMA CAIXA
e do confinamento
Yuri Gagarin está num pedestal da altura de dois andares, num canteiro
gramado de uma avenida em Moscou. De longe, já é possível adivinhar que
é ele pela posição dos braços — um pouco afastados do corpo, com os
dedos juntos, como um super-herói voador. Da base do monumento,
olhando para cima, não se vê a cabeça do primeiro homem no espaço,
apenas o peito heroico e a ponta do nariz, projetando-se para a frente. Um
homem de camisa preta, com uma garrafa de Pepsi debaixo do braço, para a
meu lado. Tem a cabeça baixa, o que interpreto como um sinal de respeito,
até ver que ele está aparando as unhas.
Deixando de lado a glória nacionalista, o voo de Gagarin em 1961 foi
basicamente um feito psicológico. Sua tarefa era simples, embora de modo
algum fácil: “Entre nessa cápsula. Vamos mandar você, sozinho e com
muito perigo, para além da fronteira do espaço. Vamos catapultá-lo para um
nada letal e sem ar, onde homem algum jamais esteve. Você vai rodear o
planeta, depois descer e nos contar o que foi que sentiu”.
Havia muitas conjecturas na época — tanto na agência espacial soviética
quanto na Nasa — em relação às consequências psicológicas desconhecidas
de uma viagem ao cosmos. Será que a chegada ao “negro”, como os pilotos
o chamavam, faria o astronauta ter alucinações? Ouçamos as sinistras
palavras do psiquiatra Eugene Brody por ocasião do Simpósio de
Psiquiatria Espacial, em 1959: “Pode-se, pelo menos em teoria, esperar [...]
que a separação da Terra, com todo seu significado simbólico inconsciente
para o homem [...] produza — mesmo num piloto bem selecionado e bem
treinado — algo semelhante ao pânico da esquizofrenia”.
Temia-se que Gagarin, fora de controle, sabotasse a missão histórica. A
preocupação foi suficiente para que as autoridades, antes do lançamento,
impedissem a utilização dos controles manuais da cápsula Vostok. E se uma
coisa desse errado, as comunicações cessassem e o Piloto-Cosmonauta no 1
tivesse de assumir o controle da cápsula? Seus superiores também tinham
pensando nisso e, ao que parece, recorreram a programas de televisão e
filmes em busca de uma solução: Gagarin recebeu um envelope lacrado que
continha a combinação secreta para destravar os controles.
A preocupação não era totalmente infundada. Num estudo publicado na
revista Aviation Medicine, em abril de 1957, 35% dos 137 pilotos
entrevistados relataram ter experimentado uma estranha sensação de
separação da Terra ao voar em altitudes elevadas, quase sempre em voos
solitários. “Foi como se eu tivesse rompido os vínculos com a esfera
terrestre”, disse um piloto. O fenômeno chegou a ganhar nome: “efeito
distanciamento”. Para a maioria dos pilotos, a sensação não era de pânico,
mas de euforia. Só dezoito dos 137 chamaram de medo ou ansiedade o que
sentiram. “Parece tão pacífico, é como se eu estivesse em outro mundo.”
“Sinto-me como um gigante.” “Um rei”, disse outro. Três comentaram que
se sentiram mais perto de Deus. Um piloto chamado Mal Ross, que bateu
uma série de recordes de altitude com aviões experimentais no fim da
década de 1950, por duas vezes relatou uma estranha “sensação de
exultação, de querer voar sem parar, para sempre”.
Nesse mesmo ano, 1957, o coronel Joe Kittinger elevou-se a 29,3
quilômetros de altitude numa cápsula vertical lacrada, do tamanho de uma
cabine telefônica, suspensa sob um balão de hélio. Quando seu suprimento
de oxigênio baixou a um nível perigoso, o superior de Kittinger, David
Simons, ordenou-lhe que iniciasse a descida. “VENHA AQUI ME PEGAR”,
replicou Kittinger, letra por letra, em código Morse. Kittinger diz que foi
uma brincadeira, mas Simons não entendeu assim. (O código Morse sempre
foi um péssimo instrumento de humor.) Em seu livro de memórias Nas
alturas, Simons diz lembrar-se de ter pensado que “o estranho e pouco
conhecido fenômeno do distanciamento talvez tivesse se apoderado da
mente de Kittinger [...] que ele [...] estava tomado por esse devaneio
misterioso e decidido a voar para sempre, sem atentar às consequências”.
Simons comparou o fenômeno do distanciamento ao “êxtase mortal das
profundezas”. O “êxtase das profundezas” é um estado clínico: uma
sensação de calma e invulnerabilidade que pode tomar conta de um
mergulhador, geralmente em profundidades superiores a trinta metros. O
estado é conhecido, de modo mais prosaico, como narcose por nitrogênio
ou como Efeito Martíni (cada dez metros além de vinte metros de
profundidade equivaleriam a uma dose da bebida). Simons imagina que
num dia não muito distante os médicos aeroespaciais venham a falar de um
estado conhecido como o “mortal êxtase do espaço”.a
Simons estava certo, embora a Nasa preferisse a expressão menos
floreada “euforia espacial”. “Alguns psiquiatras da Nasa”, diz o astronauta
Gene Cernan em suas memórias, “haviam me avisado que quando eu
olhasse para baixo e visse a Terra girando, talvez fosse tomado pela euforia
espacial.” Pouco tempo depois, Cernan realizou uma caminhada espacial —
a terceira na história — durante o voo da Gemini ix. Os psicólogos estavam
nervosos porque os dois primeiros astronautas a fazer essas caminhadas
tinham manifestado não só uma singular euforia como uma preocupante
relutância em voltar para o interior da cápsula. “Eu me senti muito bem,
num estado de espírito animado, e relutei em deixar o espaço aberto”,
escreveu Alexei Leonov, o primeiro ser humano a flutuar livremente no
vácuo do espaço, em 1965, preso à sua cápsula Voskhod por uma mangueira
de ar. “Com relação à suposta chamada barreira psicológica, que seria
intransponível por um homem que se preparasse para confrontar sozinho o
abismo cósmico, não percebi barreira alguma e até esqueci que ela podia
existir.”
No quarto minuto da primeira caminhada espacial da Nasa, o astronauta
Ed White, da Gemini iv, declarou, num arroubo, que se sentia como o dono
de “1 milhão de dólares”. Esforçou-se para achar palavras que
descrevessem o que sentia. “Eu... É simplesmente incrível.” Há momentos
em que a transcrição da missão lembra a transcrição de uma sessão de
psicoterapia grupal da década de 1970. Vejamos a conversa de White e seu
comandante, James McDivitt, dois pilotos da Força Aérea, depois da
caminhada:
WHITE: Foi uma sensação muito natural, Jim.
McDVITT: [...] Você parecia estar no ventre de sua mãe.
O que a Nasa receava não era que o astronauta se sentisse eufórico, mas
que a euforia pudesse sobrepujar seu bom senso. Durante os vinte minutos
que durou o êxtase de White, o Controle de Missão tenta várias vezes
intervir. Por fim o comunicador da cápsula, Gus Grissom, fala com
McDivitt:
GRISSOM: Gemini iv, volte para dentro!
McDIVITT: Eles querem que você volte para cá agora.
WHITE: Voltar?
McDIVITT: Voltar.
GRISSOM: Recebido e entendido. Faz um bom tempo que estamos
tentando falar com você.
WHITE: Ei, Cabo, me deixem [tirar] umas fotos.
McDIVITT: Não, volte. Agora.
WHITE: [...] Ouça, eu sei que vocês estão com pressa, mas já estou indo.
Mas não estava. Passaram mais dois minutos. McDivitt começa a
implorar.
McDIVITT: Venha agora, por favor [...]
WHITE: Na verdade, estou só tentando tirar uma foto melhor.
McDIVITT: Não, venha agora.
WHITE: Estou tentando tirar uma foto da nave.
McDIVITT: Ed, venha para cá agora!
Mais um minuto se passa antes que White faça um movimento em
direção à escotilha, dizendo: “Este é o momento mais triste de minha vida”.
Em vez de se preocupar com astronautas que não querem voltar para a
nave, as agências espaciais deveriam ter se preocupado com a possibilidade
de eles não conseguirem entrar nela de volta. White precisou de 25 minutos
para passar pela escotilha e chegar em segurança ao interior da nave. Em
nada melhorava seu estado de espírito saber que, se ficasse sem oxigênio ou
desmaiasse por qualquer outra razão, McDivitt tinha ordens de cortar o cabo
que o ligava à nave em vez de arriscar a própria vida tentando fazer com
que ele passasse pela escotilha.
Consta que Alexei Leonov suou tanto que perdeu nada menos que cinco
quilos e meio num esforço análogo. Seu traje tinha sido tão pressurizado
que ele não conseguia dobrar os joelhos, e teve de entrar de cabeça, e não
com os pés, como fora treinado. Ficou preso tentando fechar a escotilha
atrás de si e teve de reduzir a pressão do traje para entrar — uma manobra
potencialmente letal, equivalente à de um mergulhador que sobe depressa
demais.
O relato do Escritório de História da Nasa inclui um detalhe fascinante da
Guerra Fria: Leonov teria recebido um comprimido letal para usar caso não
conseguisse entrar na nave e seu companheiro, Pavel Beliaiev, se visse
forçado a “deixá-lo em órbita”. Como a morte por cianureto, o veneno mais
comumente associado a comprimidos de suicídio, é mais lenta e mais
penosa do que a morte por privação de oxigênio, o uso do comprimido não
faz sentido. (À medida que as células cerebrais morrem por falta de
oxigênio, a euforia se instala e ocorre uma última e magnífica ereção.)
Um especialista em fisiologia espacial, Jon Clark, me disse que a história
do comprimido para suicídio é infundada. Eu enviara um e-mail a Clark, em
seu escritório no Instituto Nacional de Pesquisas Biomédicas Espaciais,
com relação à complicada logística necessária para que um astronauta
engolisse um comprimido quando metido num traje espacial, e ele fez
algumas consultas.b Suas fontes russas também desmentiram outro boato,
segundo o qual Beliaiev tinha ordens de dar um tiro em Leonov se ele não
conseguisse entrar na nave. Na verdade, foi a queda de Leonov e Beliaiev
no território de uma matilha de lobos sorrateiros o que levou ao acréscimo
de uma pistola leve, pelo menos por algum tempo, ao kit de sobrevivência
em regiões ermas dos cosmonautas.
Depois da caminhada espacial de Ed White, os relatos de euforia espacial
rarearam, e logo os psicólogos pararam de se preocupar. Tinham agora uma
nova fonte de apreensão: a “vertigem de altura em EVA”. Ver a Terra girar a
cerca de 350 quilômetros de distância pode causar um medo paralisante.
Jerry Linenger, que esteve na Mir, escreveu em suas memórias sobre a
sensação “medonha e persistente” de estar “caindo em direção à Terra [...]
dez ou cem vezes mais depressa” do que num salto livre de paraquedas. E
era isso mesmo o que estava acontecendo. (A diferença, naturalmente, é que
o astronauta está caindo num imenso círculo em torno da Terra e não vai
chegar ao chão.)
“Muito tenso, agarrei o corrimão [...]”, escreveu Linenger, referindo-se
aos momentos de pavor na ponta do braço retrátil de quinze metros da Mir,
“fazendo força para manter os olhos abertos e não gritar.” Um engenheiro
da Hamilton Sundstrand, empresa que produz trajes espaciais para a Nasa,
me falou do caso de um astronauta não identificado que, logo após sair pela
escotilha, passou os dois braços em torno das pernas de um colega.
Charles Oman, especialista em enjoos e vertigens que trabalha no
Instituto Nacional de Pesquisas Biomédicas Espaciais, diz que a vertigem
de altura não é uma fobia e sim uma reação normal à nova e aterrorizante
realidade cognitiva de estar caindo no espaço a uma velocidade de 28 mil
quilômetros por hora. Seja isso o que for, os astronautas relutam em
comentar. “É muito difícil extrair relatos deles”, diz Oman.
Como treinamento para as caminhadas espaciais, os astronautas vestem o
traje de EVA e ensaiam, dentro de uma enorme piscina, o tanque de
flutuabilidade neutra, os movimentos que terão de fazer. Flutuar na água
não é exatamente igual a flutuar no espaço, mas é uma boa simulação para
que os astronautas ensaiem a execução de tarefas e se familiarizem com o
lado de fora de uma nave espacial. (No fundo do tanque, em Houston, há
maquetes de partes externas da ISS.) No entanto, o treinamento não contribui
em nada para eliminar a vertigem de altura durante a EVA. O treinamento
com realidade virtual pode ajudar um pouco, mas não há como simular de
modo eficaz a sensação de uma queda livre no espaço. Se o leitor quiser ter
uma ideia bastante remota do que é isso, suba num poste telefônico (usando
um cinto de segurança) e tente ficar de pé na ponta dele — como às vezes
fazem os participantes de seminários de energização e os candidatos a
emprego em companhias telefônicas. “As empresas de telefonia perdem
mais ou menos um terço de seus estagiários nas primeiras semanas”, diz
Oman.
a Toda modalidade de viagem tem sua aberração mental característica. Os caçadores esquimós
que viajam sozinhos em águas calmas e vítreas são por vezes atacados pela “angústia do caiaque” —
um delírio em que veem o barco sendo inundado, ou sua proa afundando ou se erguendo sobre a
água. Os leitores talvez se interessem pelo artigo “Relatório preliminar sobre a angústia do caiaque
entre os esquimós da Groenlândia Ocidental”, que inclui um exame das motivações para o suicídio
entre os esquimós e observa que quatro dos cinquenta suicídios estudados tinham sido cometidos por
esquimós idosos “que tiravam a própria vida como resultado direto da inutilidade decorrente da
velhice”. O artigo não informa se eles se lançavam em massas de gelo flutuantes, como às vezes se
ouve dizer, ou se a viagem em massas de gelo tem sua própria síndrome de ansiedade característica.
b O comprimido teria de estar preso a um suporte no interior do capacete, da mesma forma que
ficam as barras de cereais, posicionadas de modo que basta ao astronauta virar a cabeça para comê-
las. Ou, como me disse um deles, Chris Hadfield, virar a cabeça e ficar com a cara lambuzada. As
barrinhas ficam ao lado do tubo de beber, que costuma vazar, transformando a pasta de cereal numa
“massa gosmenta”. “Por isso deixamos de usá-las”, disse ele.
c Uma página de autoajuda na internet garante que “se você não tenciona viajar ao espaço [...] a
astrofobia talvez não afete sua vida de maneira significativa”.
4. VOCÊ PRIMEIRO
A perspectiva alarmante da
a Para medir a gravidade, usa-se um gravímetro. Levando esse instrumento para uma área de
formações rochosas muito densas, veremos a atração da gravidade aumentar. (As variações na
densidade da Terra alteram a gravidade o suficiente para desviar em até um quilômetro e meio a
trajetória dos mísseis, razão pela qual, na era da Guerra Fria, os mapas da gravidade da Terra eram
ultrassecretos.) O efeito diminui se a rocha densa for uma montanha alta e se você estiver a sete ou
oito quilômetros acima da superfície média da Terra. Se você levar uma balança de banheiro para o
alto do Everest, notará que lá em cima você pesa um pouco menos, descontando-se, é claro, os
quilinhos que obviamente perdeu na subida.
b Ou um saco de lixo da estação espacial, ou uma espátula da Nasa. Se um astronauta solta
objetos, eles se tornam satélites durante um período (de semanas ou meses) em que perdem
velocidade, até sair de órbita. O termo “satélite” se aplica a qualquer objeto que orbite em torno da
Terra. A tal espátula estava sendo usada para testar uma técnica de calafetagem para reparar
amassaduras no exterior dos ônibus espaciais, causadas, ironicamente, por lixo espacial. Não há
motivo para você temer ser morto pela queda de espátulas ou gurus do LSD, porque essas coisas
pegam fogo ao reingressar na atmosfera terrestre. (As cinzas do dr. Leary foram novamente cremadas
em algum momento de 2003.)
c Para animar as futuras gerações a assumir a luta contra a gravidade, Babson financiou a
construção de monumentos de pedra em treze importantes faculdades americanas. A “pedra
antigravidade”, como se tornou conhecida a do Colby College, assim declara sua meta: “Lembrar aos
estudantes as bênçãos que advirão quando se descobrir um semi-isolador capaz de explorar a
gravitação como uma força livre e reduzir os acidentes aéreos”. Os estudantes se animaram de uma
forma inesperada: numa atividade que virou um divertido rito pró-gravidade, derrubaram a pedra
antigravidade tantas vezes que a faculdade por fim a transferiu para um lugar de mais difícil acesso.
Além das pedras, Babson fez às faculdades doações pequenas, mas sem declarar explicitamente que o
dinheiro deveria ser empregado em pesquisas antigravidade. Por opor-se a promover ciência “Mickey
Mouse”, o Colby College utilizou o dinheiro para construir um caminho elevado entre dois edifícios.
“Pelo menos”, declarou uma pessoa ligada à instituição, “a passagem está longe do chão.”
d O sistema direcional dos foguetes V-2 era notoriamente instável. Em maio de 1947, um deles,
lançado do Campo de Provas de White Sands, em vez de ir para o norte, foi para o sul, caindo a
quatro quilômetros e meio do centro de Juárez, no México. A reação do governo mexicano ao
bombardeio americano foi admiravelmente contida. O general Enrique Diaz Gonzales e o cônsul-
geral Raul Michel reuniram-se com autoridades americanas, que divulgaram pedidos de desculpas
oficiais e os convidaram a assistir ao “próximo lançamento de foguete” em White Sands. A
população mexicana mostrou-se igualmente fleumática. “Queda de bomba não interrompe o festival
da primavera”, anunciou a manchete do El Paso Times, acrescentando que “muitas pessoas pensaram
que a explosão fosse um tiro de canhão anunciando a abertura da fiesta”.
5. SEM AMARRAS
a Ou o passeio de uma jornalista no biplano de dois lugares de Tom Cruise, que fez uma série de
acrobacias aéreas, a última das quais um “estol de badalo” que acabou comigo. O avião era desses de
nacela aberta e eu estava no assento da frente, o que significava que qualquer coisa que escapasse do
saco que se agitava ao vento junto de meu cotovelo iria direto no rosto bronzeado e perfeito do sr.
Cruise. Ele é um homem limpo. O desastre se avizinhava, mas consegui manter os tacos onde
estavam — por um triz.
b Não foi a medicina aeroespacial que a inventou. No caso de pacientes mais turbulentos, era
frequente que os hospícios do século XIX prescrevessem algumas rotações na cadeira de Cox. Em
1834, um médico escreveu num relatório sobre novas técnicas psiquiátricas: “Quando um paciente
comete um ato irracional ou violento, é posto a girar, preso à cadeira rotatória, [...] até se acalmar,
pedir desculpas e prometer emendar-se ou até começar a vomitar”. Eram tempos difíceis para os
insanos. Outros “tratamentos” incluíam “mergulhos-surpresa em água gelada”.
c O movimento intestinal também foi investigado como sinal de náusea iminente. Um astronauta
do ônibus espacial usou um “monitor acústico intestinal” sobre o ventre durante toda a missão. Não
sinta pena dele. Tenha pena do camarada da Força Aérea que foi incumbido de passar duas semanas
escutando sons intestinais para garantir que nenhuma conversa que encerrasse informações sigilosas
tivesse sido gravada inadvertidamente.
d Ficar de cabeça para baixo é visto como descortesia com os companheiros da tripulação por
outra razão. É difícil compreender o que uma pessoa diz quando sua boca está voltada para baixo.
Numa conversa normal, fazemos mais uso de leitura labial do que julgamos. O astronauta Lee Morin
me disse que é dificílimo ler os lábios de uma pessoa inclinada mais de 45 graus. Além disso,
acrescentou ele, “acontece o lance do queixo”. Os queixos ficam parecendo narizes. Muito
perturbador.
e Num voo parabólico, as manobras evasivas são críticas. Joe McMann, que dirigia o Escritório
de Gestão de EVA, da Nasa, contou-me que certa vez estava voando na companhia de um homem que
de repente vomitou. “Eu me dei conta de que em mais ou menos três segundos aquele vômito iria
bater em mim com a força de 2 G. Estava fazendo todos os movimentos possíveis para sair do
caminho.” Um funcionário da Nasa com quem conversei jura que a gravidade dupla torna mais difícil
vomitar.
f A Nasa não inventou o Tang, mas os astronautas dos projetos Gemini e Apollo o tornaram
famoso. (Foi a Kraft Foods que inventou o insumo, em 1957.) A Nasa ainda usa o Tang, apesar de
surtos periódicos de má publicidade. Em 2006, terroristas juntaram Tang com um explosivo líquido
caseiro, uma mistura que pretendiam utilizar num voo transatlântico. Na década de 1970, o Tang era
misturado com metadona para desestimular os usuários de heroína em reabilitação a injetarem a
droga. Mas mesmo assim injetavam. Consumido dessa maneira, o Tang provoca dores nas
articulações e icterícia, mas reduz a incidência de cáries.
g Chato, mas provavelmente menos do que o incidente em que a camisinha de látex de sua bolsa
de urina se soltou, pouco antes da decolagem que o traria de volta à Terra. Duke minimizou o caso:
“Bem, um líquido quente descendo pela perna esquerda [...] e uma bota cheia de urina”.
h O que significa “enjoado como um cachorro”? Depende do cachorro e de como ele estiver
viajando. De acordo com pesquisas realizadas na Universidade McGill na década de 1940, não há
como provocar enjoo em 19% dos cães. Em um certo experimento, dezesseis cães foram postos a
navegar com tempo ruim. Dois vomitaram no caminhão que os levava ao lago. Sete vomitaram no
barco e um vomitou tanto no caminhão quanto no barco. Embora a viagem de barco deixasse os cães
“abatidos e obviamente prostrados” — ainda que, talvez, não mais do que os donos do caminhão e do
barco —, um estudo posterior com cães submetidos a grandes balanços provocou muito vômito, mas
“poucas evidências subjetivas de que o cão ache o balanço desagradável”. Usam-se cães para estudar
o enjoo humano porque as duas espécies são quase igualmente suscetíveis ao mal. Não se usam
porquinhos-da-índia nem coelhos porque as duas espécies parecem ser as únicas imunes ao enjoo.
i Por uma estranha coincidência, assisti hoje, ao meio-dia, a uma palestra sobre esse assunto.
(“Urubus-de-cabeça-vermelha: fato ou ficção?”) O palestrante levara consigo sua mascote, uma
dessas aves, de nome “Amigão”, que cheirava ainda pior do que se poderia imaginar. Isso se devia ao
fato, disse ele, de Amigão ter passado mal no trajeto de carro e vomitado. Antes ele tinha nos
informado que, quando ameaçados, os urubus-de-cabeça-vermelha se defendem vomitando naquilo
que os ameaça. Eu estava na segunda fileira de assentos, e acredito piamente que o vômito dessas
aves seja um poderoso veneno. A menos que você seja um coiote. Fato: o coiote considera o vômito
do urubu-de-cabeça-vermelha uma iguaria, e ataca as aves apenas para fazer um lanchinho.
j Há quem creia que Merrick suicidou-se, enquanto outros afirmam que foi um acidente. Mas
todos concordam que seu prenome era Joseph, e não John. A produção londrina, se bem me lembro,
usou “John”, nome mais conhecido, talvez para não sobrecarregar o programa com uma nota de
rodapé (como estou sendo obrigada a fazer). Aproveito a oportunidade para lhes dizer que David
Bowie interpretou Merrick uma vez. Não lançou mão de maquiagem ou próteses e usou pouquíssima
roupa. Trabalhou todo torto, como era Merrick, e sua atuação foi de partir o coração.
7. O CADÁVER NA CÁPSULA ESPACIAL
Testes de Colisão
John Bolte não está no 99o percentil, mas é bem grande. Quando dirigiu
o carrinho vagabundo que aluguei, ele tinha de se debruçar para a frente,
por cima do volante, para caber ali. Enquanto dirigia, lia torpedos no
celular, atualizando-se sobre o placar do jogo de beisebol do filho mais
velho. Eu tinha quase certeza de que, se ele saísse da estrada, o carro
viraria, mas ele se levantaria do meio das ferragens como se nada tivesse
acontecido, dizendo: “Final do oitavo período, nove a três!”.
Bolte acaba de chegar da Universidade Estadual de Ohio, onde dirige o
Laboratório de Pesquisas da Biomecânica de Lesões. Está aqui para conferir
o trabalho de seus alunos e ajudar nos últimos preparativos antes que o
êmbolo dispare. Veste uma roupa de centro cirúrgico e um boné de beisebol
virado para trás. Está ajudando a vestir F, empurrando o punho do morto na
manga arregaçada de uma camiseta de mangas longas, uma tarefa que ele
compara com a de vestir o filho de cinco anos.
Agora o desafio é pôr F no assento do trenó. É mais ou menos como
meter um bêbado quase em coma num táxi. Dois estudantes o seguram
pelos quadris, enquanto Bolte sustenta as costas de F com as duas mãos. F
está deitado de costas com as pernas dobradas erguidas, como um homem
cuja cadeira à mesa do jantar caiu para trás.
O êmbolo está à direita de F. O cadáver sofrerá o impacto ao longo do
eixo lateral. “As colisões laterais são muito mortais porque...”, Gohmert se
detém, “não devo dizer colisão.” A expressão preferida pela Nasa é “pulso
de pouso”. (A Nascar dá preferência a “contato”.) “A Nasa tem de treinar
esses camaradas”, admirou-se Bolte em dado momento. “Você dirige uma
pergunta a esses rapazes e vê que eles fazem uma pausa e refletem
cuidadosamente sobre a resposta.” Já Bolte não é assim. A frase de que eu
mais tinha gostado naquele dia, até então, tinha sido dele: “Ele está vazando
tanto assim por causa de alguma coisa séria?”.
O que esses “pulsos” laterais têm de tão mortíferos? A lesão axônica
difusa. Quando uma cabeça desprotegida é agitada bruscamente de um lado
para outro, o cérebro chacoalha contra as paredes do crânio. O cérebro é
formado por uma substância molenga. Ao ser chacoalhado, ele
alternadamente se comprime e se distende. No caso de um impacto lateral,
em contraposição a um choque frontal, a distensão estica as longas
extensões dos neurônios, chamadas axônios, que conectam os circuitos do
cérebro entre os dois lobos. Os axônios incham, e se incharem demais a
vítima pode entrar em coma e morrer.
Algo semelhante ocorre com o coração. Cheio de sangue, o coração pode
pesar 340 gramas. Num impacto lateral, ao contrário do que acontece num
impacto frontal, há mais espaço para que ele chacoalhe contra a aorta.g Se a
aorta se distende o suficiente, e se o coração estiver repleto de sangue nesse
momento, o órgão e a artéria podem se separar. “Anatomização aórtica”,
como disse Gohmert. Isso ocorre com menos frequência numa colisão
frontal porque, como o tórax é relativamente plano nessa direção, o coração
fica mais ensanduichado em seu lugar. O coração também se solta no caso
de impactos longitudinais, como os que acontecem em quedas de
helicópteros, porque há muito espaço para que ele se projete para baixo e
exceda o limite da capacidade de distensão da aorta.
F está pronto, finalmente. Passamos ao pavimento superior a fim de ver a
ação da sala de controle. Baterias de refletores se acendem com um funf
dramático. Entretanto, o impacto propriamente dito é uma frustração só.
Como o impacto se faz com ar,h os testes com o trenó são inesperadamente
silenciosos — tragédias sem dor. E são rápidos, rápidos demais para que o
olho capte muita coisa. O teste é filmado em velocidade ultrarrápida, de
modo que o vídeo possa ser reproduzido em câmera extremamente lenta.
Todos nos aproximamos um pouco da tela. O braço de F se dobra para
cima sob o apoio do ombro, projetando-se no espaço onde antes ficava o
apoio das costelas que fora removido. O braço parece ter uma junta auxiliar,
dobrando-se onde não deveria se dobrar. Isso tem sido um problema
constante. Como diz Gohmert, “A tendência é que os espaços vazios no
assento se encham de partes do corpo”. (Depois se verificou que o braço
não estava quebrado.)
F suportou um impacto máximo de 12 G a 15 G — ou seja, o limiar da
lesão. Gohmert explica que a extensão das lesões da vítima de um acidente
depende não só de quantos G ela suportou, mas também de quanto tempo o
veículo leva para parar. Por exemplo, se um carro se detém no momento em
que bate num muro, o motorista pode suportar, durante uma fração de
segundo, uma carga máxima de 100 G. Se o carro dispõe de um capô
dobrável — um componente de segurança comum atualmente —, a energia
desses mesmos 100 G é liberada de forma mais gradual, reduzindo a força
máxima para, talvez, 10 G, o que aumenta bastante as chances de
sobrevivência.
Quanto mais tempo o carro levar para parar, melhor — com uma exceção
perigosa. Para compreendê-la, é preciso entender o que acontece ao corpo
durante uma colisão. Os diferentes tipos de tecido são acelerados com maior
ou menor rapidez. Os ossos aceleram mais depressa que os músculos. Num
impacto lateral, o crânio deixa para trás as bochechas e a ponta do nariz.
Pode-se ver isso ao congelar a imagem do rosto de um boxeador no
momento em que ele recebe um golpe de lado na cabeça.i Na colisão frontal
de um carro, o corpo do motorista começa a se deslocar primeiro. É atirado
para a frente até ser detido — pelo volante ou pelo cinto de segurança — e
depois arremessado para trás. Uma fração de segundo depois que o
motorista começa a ser lançado para a frente, seu coração e os outros órgãos
se separam. Ou seja, no instante em que o coração é jogado para a frente,
choca-se com as costelas, que já fazem o percurso de volta. Tudo se desloca
para a frente e para trás a velocidades diferentes, colidindo com a caixa
torácica e dando rebote. E isso acontece em milésimos de segundo. Tão
depressa que palavras como jogar, atirar e arremessar não são corretas. Os
ossos e órgãos estão de fato vibrando ali.
O grande perigo, explica Gohmert, é que um desses órgãos (ou mais de
um) comece a vibrar em sua frequência de ressonância. Isso fará com que as
vibrações se amplifiquem. Se um cantor emite uma nota que corresponde à
frequência de ressonância de uma taça de vinho, o vidro começa a vibrar,
com energia cada vez maior. Se a nota for emitida com sonoridade
suficiente e mantida durante tempo suficiente, a taça se quebrará. Os que
têm a minha idade vão se lembrar dos anúncios de Memorex, com Ella
Fitzgerald, em que a taça de vinho se desfazia em mil pedaços. A mesma
coisa pode acontecer a um órgão do corpo humano que atinge sua
frequência de ressonância numa colisão. Ele pode livrar-se de suas amarras.
Pior: “Na verdade”, disse Gohmert, depois de buscar a melhor forma de se
expressar, “a pessoa morre como se estivesse numa batedeira”.
Talvez você esteja se perguntando: Ella Fitzgerald conseguiria
despedaçar o fígado de uma pessoa? De jeito nenhum. O vidro tem uma
frequência de ressonância relativamente elevada, na faixa das ondas sonoras
audíveis. Os órgãos do corpo ressoam na faixa de comprimento de ondas
longas, inaudíveis, chamadas infrassom. Já um foguete cria poderosas
vibrações infrassônicas. Porventura essas ondas sonoras seriam capazes de
agitar e separar os órgãos de uma pessoa? A Nasa realizou testes sobre isso
na década de 1960, para ter certeza, como me disse um especialista em
infrassons, de “que não levaria geleia à Lua”.
Os alunos de Bolte estão pondo F numa maca e levando-o para um
furgão branco. Ele será transportado para o Centro Médico da Universidade
Estadual de Ohio, onde passará por tomografias e radiografias. Todos esses
procedimentos se desenrolarão exatamente como ocorreriam se o paciente
estivesse vivo, incluindo uma fila de espera de 45 minutos e problemas
burocráticos.
O olhar de Gohmert para em F. É difícil interpretar sua expressão. Estará
constrangido por ter submetido um corpo humano a esse tipo tratamento?
Ele se volta para Bolte. Por essa eu não esperava. “Você algum dia já pôs
um deles no banco dianteiro para poder andar na pista exclusiva para carros
com duas pessoas ou mais?”
PARA A HUMANIDADE
Primeira bandeira dos EUA na Lua pode ser hasteada por um chimpanzé
a O dístico em inglês, WORLD’S FIRST ASTROCHIMP HAM, melhoraria bastante com uma vírgula
antes de Ham. Do jeito que está, alguém pode imaginar um prato de ham [presunto, em inglês] feito
com a carne de um animal de pesquisa morto. Há antecedentes. Num inacreditável lapso de relações
públicas, conhecido como Projeto Churrasco, porcos que haviam morrido de manhã num teste de
cintos de segurança promovido pela Força Aérea em 1952 foram servidos no jantar.
b Os astronautas tinham como pilotar as cápsulas, usando foguetes direcionais, mas não havia
necessidade para tanto. A cápsula podia ser pilotada por um sistema automático, operado pelo
controle de terra, no “modo chimp”, como disse o astronauta Mike Collins.
c O simulacro de astronauta é uma tradição que remonta ao Projeto Sputnik, quando os soviéticos
realizaram testes com um boneco, a que deram o nome de Ivan Ivanovitch, e também com gravações,
para verificar a qualidade da transmissão de voz. De início, sugeriu-se a gravação da voz de uma
pessoa cantando, de modo a deixar claro para as estações de escuta ocidentais que não se tratava de
um espião. Alguém observou que isso poderia gerar boatos de que um cosmonauta espião
enlouquecera. A gravação foi mudada para um coral, pois mesmo o mais ingênuo funcionário da
contraespionagem ocidental saberia que não era possível acomodar um coro num satélite Korabl-
Sputnik. Como se fosse pouco, houve quem propusesse ainda uma voz lendo uma receita de sopa
russa. O chimpanzé-astronauta americano chamado Enos girou em volta da Terra com uma gravação
em fita que dizia: “Comunicador de cápsula, aqui fala o astro. Estou na janela e a vista é tremenda”, o
que levou o presidente Kennedy a anunciar ao mundo: “O chimpanzé decolou às 10h08. Informou
que tudo está perfeito e funcionando bem”. Sem dúvida, gerando boatos, na KGB, de que o presidente
americano enlouquecera.
d Ham e Enos viajaram em compartimentos pressurizados e por isso não precisaram de trajes e
capacetes pressurizados. Não obstante, tinham sido criados alguns protótipos de trajes espaciais para
chimpanzés, entre os quais o “Traje SPCA” — homologado pela Sociedade para a Prevenção de
Crueldade contra Animais. “Para provar que um traje era seguro para um homem, tencionávamos
testá-lo num chimpanzé, mas para provar que o traje era seguro para um chimpanzé, tínhamos de
testá-lo num homem”, disse num e-mail Joe McMann, coautor de Trajes espaciais americanos. “Um
problema complicado.”
e Uma verdadeira fixação para a menina. Três meses antes, mais ou menos na época do voo de
Enos, Jackie Kennedy alugou um macaco para a festa do primeiro aniversário da filha, na Casa
Branca, um evento amplamente coberto pelas agências de notícias na época. Além de um macaco
vivo, a festa tinha sanduíches de geleia, apitos, triciclos que corriam “de um lado para outro do andar
térreo da Casa Branca” e, acredito, sedativos para Jackie. Caroline sem dúvida desejava muito ter seu
próprio chimpanzé espacial. Era uma expectativa razoável, já que Nikita Kruschev dera à mãe dela
um dos filhotes da cadela espacial Strelka. O cachorrinho foi um presente, mas também uma troça:
Strelka tinha feito um voo orbital mais de um ano antes de Enos. Segundo o livro Animais no espaço,
o pessoal da Casa Branca fez com que o filhote fosse radiografado “em busca de microfones ou de
uma possível arma apocalíptica”.
f Não que Stapp fosse destituído de sentimentos. O coronel escrevia sonetos e poemas de amor
para sua mulher, Lilian, bailarina do American Ballet Theater. Estão reunidos numa coletânea à
venda, por cinco dólares, na lojinha do Museu de História Espacial do Novo México. Stapp não leu
um poema de sua lavra no sepultamento de Ham, embora um trecho de um deles fosse apropriado
para a ocasião: “Se os chimpanzés falassem, logo desejaríamos que não o fizessem”.
g Ham tem dois registros, o primeiro como “Chang” e o segundo como “Ham” (acrônimo de
Holloman Aeromedical). Quando o animal foi escolhido como finalista para o voo, as autoridades
decidiram mudar seu nome, temendo que um macaco chamado Chang ofendesse os chineses. Por
medida de segurança, daí em diante os chimpanzés passaram a receber nomes de membros do pessoal
da Base Holloman ou alcunhas que fizessem referência a sua própria aparência, como no caso de
Feioso, Donzelinha, Malvadão e Orelhudo.
h O pessoal da Base Holloman desistiu desse termo depois de receber muitas cartas de
etimologistas irritados. O sufixo “nauta”, que vem do grego e do latim, significa “navegante”. Assim,
a palavra astronauta refere-se ao “navegante do espaço”. Já chimponauta seria um neologismo de
formação equivocada.
i Segundo Asif Siddiqi, historiador da astronáutica, os russos preferiam treinar cães para as
viagens espaciais porque os símios são demasiado excitáveis, muito propensos a se resfriar e “mais
difíceis de vestir”. E porque Serguei Korolev, mandachuva do programa espacial soviético, tinha
paixão por cães. Os Estados Unidos e a União Soviética construíram um Túmulo do Soldado
Desconhecido, mas só a Rússia tem um Túmulo do Cão Desconhecido (perto de São Petersburgo),
homenageando as contribuições de objetos de pesquisa caninos.
j Não eram jornais de grande nível. Certas manchetes proclamavam absurdos como “Black Label
foi eleita cerveja de qualidade” e “Ciência cura hemorroidas!” — anúncios compostos ardilosamente
na tipologia do jornal, de forma a parecer notícias. Isso para não falar de uma matéria sob um título
capcioso que levava o leitor a crer que Ham fora sequestrado. Mas, segundo a matéria, dois homens
haviam arrombado a porta dos fundos de um supermercado e fugido com mais de uma dúzia de latas
de presunto.
k Ao contrário do que em geral se crê, o sangue de um astronauta não ferve se o traje espacial se
rasgar ou se houver uma despressurização da nave. E ainda que ele inche, não estourará. O corpo
funciona como uma espécie de traje pressurizado para o sangue, mantendo em estado líquido os
gases dissolvidos. Só os fluidos corporais expostos diretamente ao vácuo é que realmente fervem.
(Como aconteceu, em 1965, a um voluntário que, num teste, vestia um traje espacial defeituoso numa
câmara de altitude. A última coisa de que se lembrava, antes de perder os sentidos, era a sensação da
saliva borbulhando na língua.) Além disso, hoje em dia os trajes espaciais são projetados para
compensar rasgões com uma rajada de ar a uma pressão muito maior. Atenção: numa situação de
despressurização de nave e desde que disponha de um suprimento de oxigênio, um astronauta tem
dois minutos para descobrir qual é o problema e repará-lo. Se esse tempo for excedido, ele estará em
sérias dificuldades. Sabe-se disso devido a experiências em câmaras de vácuo cujos detalhes, se você
os conhecesse, fariam seu sangue ferver.
l Ou nunca, se o orçamento da Nasa para 2010 for aprovado sem emendas.
9. POSTO MAIS PRÓXIMO:
em nome da ciência
Borman e Lovell não usaram seus trajes durante toda a missão, como
estava previsto. No segundo dia, o médico Charles Berry começou a
interceder junto à administração da Nasa em favor deles. Chegou-se a um
acordo: pelo menos um de cada vez se manteria vestido com o traje espacial
(para o caso de ocorrer uma despressurização de emergência). Borman tirou
o palitinho mais curto, e Lovell pulou fora de seu traje. Durante anos, o
filho de Lovell contaria aos amigos: “Papai orbitou a Terra só de cueca!”.
Na hora 55, Borman abriu o zíper de seu traje e baixou-o até a metade.
Na hora 100, pediu à direção da Nasa para tirá-lo completamente.
Passaram-se cinco horas. Houston voltou à linha. Borman poderia tirar seu
traje se Lovell vestisse o dele. Lovell tentou resistir (“eu preferiria deixar as
coisas como estão, se vocês não se importarem”), mas a Nasa foi firme.
Hora 163: Lovell está com o traje, Borman está sem ele. Finalmente,
Charles Berry venceu e os dois trajes foram postos de lado. Recorda Berry
em seu depoimento, caso não tivesse sido autorizado, “acho que não
teríamos completado catorze dias naquela nave […] São dois sujeitos
usando trajes espaciais, sentados, um com a perna no colo do outro. É uma
situação realmente difícil”.
Poderia ser pior. Tente passar três meses de cama.
a Borman às vezes era um tanto rude. Como diria Lovell, “Passar duas semanas com Frank
Borman em qualquer lugar é uma provação”.
b Por isso, os testes de eficácia dos desodorantes e antitranspirantes incluem uma “coleta
emocional”. Um grupo de voluntários, com almofadinhas debaixo dos braços para absorver as
secreções, é obrigado a cantar ou falar diante de uma plateia. Depois disso, confere-se o peso das
almofadinhas e os cheiros das axilas são avaliados por juízes profissionais. Certa vez, quando eu
escrevia um artigo sobre cheiros corporais, fui convidada a servir como juíza. “Dê umas cheiradinhas
rápidas, de coelho”, me recomendaram.
c Por causa do suor e da pele morta (calosidades), as plantas dos pés e os espaços entre os artelhos
constituem uma meca para as bactérias, em quantidade e variedade. Uma espécie de bactéria que se
alimenta de pele morta, a L. brevis, excreta substâncias que têm cheiro de queijo curado. Talvez fosse
mais exato dizer que certos queijos curados têm cheiro de chulé: os queijeiros normalmente inoculam
a L. brevis em alguns de seus produtos.
d E talvez os cervos. Uma edição de 1994 da revista Crop Protection detalha a tentativa
fracassada mas divertida de botânicos da Universidade da Pensilvânia que pretendiam proteger certo
tipo de arbusto ornamental contra ataques do veado-de-cauda-branca borrifando a planta com ácido
3-metil-2-hexanoico. O que provoca uma inusitada dúvida de marketing: quem gostaria de ter em
casa um rododendro exalando cê-cê?
e Ou seja, pele morta. O Dorland’s Medical Dictionary define caspa como “substância farelenta
de origem epidérmica” — uma sugestiva combinação de caspa e cereal matinal. Experimente os
novos Flocos de Caspa Kellogg’s!
f Cerca de 4,2 mililitros por dia, segundo a tabela que consta de um estudo de Mattoni e Sullivan
intitulado “Sinopse de peso e volume de dejetos corporais de todo tipo gerados no ambiente fechado
de um veículo espacial tripulado de alto desempenho”. Isso dá pouco menos de uma colher de chá de
secreção oleosa, equivalência obtida com auxílio de uma tabela de conversão. Empregadas em
sequência, as duas tabelas permitiriam a um padeiro maluco ou geograficamente isolado substituir
sebo por gordura vegetal ou calcular o equivalente a uma xícara de farinha em descamação epitelial.
11. OS ELEITOS NA HORIZONTAL
Peggy Whitson passou exatamente pelo que mais preocupa Dennis Carter
e John Charles. Nesse cenário, os astronautas que foram privados de peso
durante meses ou anos no espaço, comprometendo ossos e músculos, se
veem numa emergência: suportar a gravidade durante um pouso forçado,
saltar para fora da cápsula, puxar os colegas por medida de segurança. No
caso de Peggy, como já vimos, isso aconteceu em 2008. Ela e dois outros
tripulantes voltavam da Estação Espacial Internacional quando tiveram de
enfrentar um reingresso na atmosfera à velocidade de um projétil e um
pouso em 10 G. Fagulhas desprendidas durante o pouso incendiaram a
grama, e o astronauta So-yeon Yi machucou as costas.
Falei com Peggy sobre o incidente.c No dia para o qual a entrevista
estava programada, houve problemas técnicos com o sistema telefônico.
Quando ouvi a voz de Peggy na linha, já haviam se passado seis dos quinze
minutos que eu tinha. Pulei das amenidades direto para o fogo e ossos
fraturados. “Comandante, sou uma grande admiradora. Não teve medo de
que suas pernas se quebrassem quando teve de sair da cápsula Soyuz?”
“Não”, disse Peggy. Ela tinha preocupações mais urgentes. Respirar
durante a reentrada em 8 G, por exemplo, e não vomitar diante dos
agricultores cazaques no campo em que pousaram.
Em sua primeira missão na ISS, disse Peggy, ela tinha feito tanto
exercício que seus ossos ficaram mais densos do que eram antes da partida.d
Sua perda foi de menos de 1%. “Fiz tantos agachamentos que na verdade
aumentei um pouco nos quadris.” Tom Lang, que estudou o esqueleto dos
astronautas da ISS, não fica muito convencido com essas coisas. A massa
óssea total de um astronauta ao retornar pode ser muito parecida ao que era
antes da missão, mas está distribuída de maneira diversa. A maior parte do
aumento se dá em partes ósseas exigidas para sustentar o andar. Mas as
partes do quadril que podem se quebrar numa queda não estavam nem perto
do que eram antes, o que deixaria mulheres como Peggy vulneráveis a
fraturas em idade mais avançada.
Quando alguém cai, a parte superior do quadril — mais especificamente,
o colo femoral e o trocânter maior, que formam a parte superior do fêmur
— sofre o impacto de um golpe lateral. Não é essa a estrutura que se
fortalece com corridas ou agachamentos. As partes do osso exigidas pelo
andar e pelas atividades diárias se mantêm surpreendentemente bem com a
idade. O corpo tende a redistribuir massa óssea nessas áreas — à custa de
outras estruturas, inclusive aquelas sobre as quais a pessoa cai. Por esse
motivo, alguns especialistas em osteoporose acham que evitar quedas é uma
prevenção contra fratura de quadril melhor do que os exercícios de força.
Perguntei a Tom Lang se alguém já pensara na possibilidade de prevenir
fraturas simplesmente aplicando uns golpes no quadril de pessoas idosas
algumas vezes por dia. Não tão fortes a ponto de quebrar alguma coisa, é
claro, mas com energia suficiente para que o impacto estimulasse os
osteócitos a fortalecer a estrutura. Eu não esperava que ele respondesse com
uma afirmativa. Disse-me para entrar em contato com Dennis Carter na
Universidade Stanford.
“Era só uma ideia”, disse Carter quando telefonei. “Nunca construímos o
aparelho.” Ele não batia, mas apertava. “Você se sentaria numa
espreguiçadeira com um dispositivo de cada lado apertando seus quadris,
bem sobre o trocânter maior, que é o osso que recebe o golpe numa queda.”
Parece uma ideia bem inteligente, mas as empresas com que Carter
conversou não se interessaram. Será que elas acharam que as mulheres
poderiam quebrar os quadris e processá-los? “É isso. E acho que era bizarro
demais para eles.”
Seria possível fortalecer os ossos do quadril com algum tipo de queda
controlada? Mais uma vez, eu não esperava um sim. Carter contou que uma
aluna de graduação do Laboratório de Pesquisa Óssea da Universidade
Estadual do Oregon tinha estudado a questão. Como parte de sua tese, Jane
LaRiviere fazia seus pacientes se deitarem de lado, levantar-se a uma altura
de dez centímetros e cair no piso de madeira, trinta vezes em cada sessão,
três vezes por semana. Ao fim da experiência, as imagens mostraram um
aumento significativo, ainda que pequeno, da densidade óssea no colo do
fêmur daquele lado do corpo em comparação com o outro. Um dos
professores de Jane LaRiviere, Toby Hayes, acredita que se os impactos
tivessem sido um pouco mais fortes e o experimento, mais prolongado, os
resultados teriam sido mais evidentes.
Mas se examinarmos com cuidado, nada funciona muito bem. O cálcio
falha. Até certo ponto, o exercício também. Os bifosfonatos estão sob
suspeita de causar necrose da mandíbula em alguns pacientes. “A última
novidade em matéria de prevenção é a mesma de quarenta anos atrás”,
admite John Charles.
Os astronautas não se importam. “Eles querem ir a Marte”, diz Charles.
“Foi para isso que entraram neste programa.”
Peggy Whitson acredita que alguém vai arranjar uma solução médica
segura quando a missão tripulada a Marte se tornar uma realidade. O
cenário mais provável é que exames genéticos passem a integrar a seleção
de astronautas. (Há um importante componente hereditário no que se refere
a perda óssea.) Charles imagina que a Nasa recrute, para viagens a Marte,
astronautas “quase à prova de balas — pessoas que nunca tiveram pedras
nos rins, com boa densidade óssea, boas taxas de colesterol, baixa
sensibilidade à radiação…”.
Os ossos das mulheres negras são entre 7% e 14% mais densos, em
média, do que os de brancas e asiáticas. (Não tenho estatísticas para homens
negros, mas cabe supor que eles também tenham ossos mais robustos.)
Perguntei a Charles se a Nasa não deveria pensar numa tripulação negra
para a viagem a Marte. “Por que não?”, ele respondeu. “Durante décadas,
tivemos um projeto totalmente louro e de olhos azuis.”
Uma tripulação de ursos-negros seria outro meio de tratar a questão da
perda óssea. Depois de quatro a sete meses de hibernação, eles saem de suas
tocas com os ossos tão fortes quanto eram antes. Alguns pesquisadores
creem que os ursos podem ter a solução para o tratamento e a prevenção da
perda óssea. Falei com um desses pesquisadores, Seth Donahue, professor
de engenharia biomédica na Universidade Tecnológica de Michigan. Ele
disse que os ossos dos ursos hibernadores quebram da mesma forma que os
de acamados e astronautas. A diferença é que o corpo deles absorve cálcio e
outros minerais do sangue e os reaplicam aos ossos. Do contrário, o cálcio
presente no sangue deles atingiria uma concentração mortal. Isso porque
durante esses quatro a sete meses de hibernação os ursos não se levantam
nem para ir ao banheiro. Todos os minerais ósseos que são lançados na
corrente sanguínea quando os ossos se desfazem se acumulariam no sangue.
“Por isso, eles desenvolveram um mecanismo de reciclagem do cálcio.” É
por isso que não morrem. A proteção aos ossos é “uma feliz consequência”.
Donahue e outros pesquisadores estudaram os hormônios que controlam
o metabolismo dos ursos para tentar identificar algum componente que
pudesse ajudar as mulheres na pós-menopausa (e os astronautas) a
desenvolver novos ossos. Chegaram ao hormônio paratireoidiano. Uma
empresa de Donahue produz uma versão sintética desse hormônio que está
sendo testada em ratos e, se tudo correr bem, será testada em mulheres na
pós-menopausa. Até o hormônio paratireoidiano humano provoca o
crescimento dos ossos nas mulheres. É uma das maneiras mais eficazes de
aumentar a densidade óssea pós-menopausa. Infelizmente, em ratos, doses
elevadas desse hormônio provocam câncer ósseo, e por isso a Food and
Drug Administration, o órgão federal que regulamenta alimentos e
medicamentos nos Estados Unidos, restringe o seu uso a um ano e apenas a
mulheres que já tenham sofrido fraturas. Segundo Donahue, o hormônio
paratireoidiano dos ursos ao que parece não tem efeitos colaterais adversos,
então cruze as garras para que isso funcione.
Há outra razão para o interesse da Nasa pelos ursos hibernadores. Se os
seres humanos pudessem hibernar, inalando um quarto do oxigênio que
consomem normalmente, sem comer ou beber durante seis meses dos dois
ou três anos que duraria uma missão a Marte, imaginem a economia de
oxigênio, alimento e água! (Quanto menos bagagem a bordo de uma nave,
mais barato se torna o lançamento. Uma vez que atingisse a velocidade
necessária para escapar à gravidade da Terra e deixasse para trás a
resistência da atmosfera terrestre, a espaçonave praticamente deslizaria até
Marte.) Cada quilo a mais no peso lançado soma milhares de dólares ao
custo do projeto. Escritores de ficção científica roubaram essa ideia há
décadas, equipando espaçonaves fictícias com hibernáculos de temperatura
controlada de alta tecnologia.
Algum dia as agências espaciais chegaram a discutir a hibernação
humana? Sim, e continuam a fazê-lo. “O tema nunca morre”, diz John
Charles. “Só hiberna.” Charles não aposta muito nessa possibilidade.
“Mesmo que funcionasse, nós reduziríamos mesmo as provisões de uma
nave tripulada numa missão de três anos a Marte? E se o hibernáculo
pifasse e todo mundo acordasse? Quanto alimento e oxigênio extras
levaríamos, por via das dúvidas? E quando essa quantidade chega ao ponto
de anular a economia obtida com a hibernação?”
Há outra razão pela qual a coisa poderia não funcionar. Os ursos
hibernadores tiram toda a água e energia de que necessitam das reservas de
gordura que acumulam comendo sem parar antes de entrar na toca. Segundo
o Centro de Ursos da Universidade Estadual de Washington, um urso
pequeno (do tamanho de um astronauta) se entope de maçãs e bagas,
comendo o equivalente a 40% de seu peso corporal por dia — mais de trinta
quilos diários de alimento — durante esse período.
Seis meses vivendo apenas de gordura — mesmo sendo sua própria
gordura — provavelmente não seria algo muito saudável, a menos que o
corpo estivesse adaptado a isso. Fato pouco conhecido: os ursos
hibernadores têm altas taxas do mau colesterol. (Têm também taxas do bom
colesterol muito elevadas — o que talvez explique por que não há registro
de doenças cardíacas entre eles.)
Acamados não são ursos. Precisam comer, beber e excretar, e esta última
função foi a desgraça de Tim. Na Faru, cocô se faz na cama e em nenhum
outro lugar. Usar uma comadre deitado de costas é uma maneira pouco
natural e esquisita de se “fazer” (como diria minha sogra, Jeanne). Tim
sentou-se e foi flagrado pela câmera que filmava seu companheiro de
quarto. (Ele não tinha puxado a cortina daquele lado porque Aaron não
estava presente.) “Não pensei que isso tivesse tanto impacto”, disse-me ele.
“Mas acabou bagunçando os dados científicos.”e Tim foi convidado a
deixar o experimento.
Leon não tem nenhum problema com esse aspecto da condição de
acamado. “Depois das primeiras vezes, isso vira uma coisa natural. E eu
vou… um montão. Pelo menos quatro ou cinco vezes mais que qualquer
outro voluntário aqui. No fim de três meses, isso dá cerca de 260 vezes [...]”
Essa é uma das coisas em que os acamados são diferentes dos astronautas.
Com acamados, não há tabus quanto aos temas de entrevista.
Isso inclui sexo. Joe Neigut havia me mostrado a área de banho, um
ambiente azulejado do tamanho de uma baia de estrebaria, guarnecido de
uma maca à prova d’água. “Então o banho”, perguntei, “é o único…
momento de privacidade para eles, entende o que quero dizer?”
“É…”, respondeu Joe. E começou a falar sobre o novo chuveiro, que
tinha substituído um jato industrial parecido com os que se usam nos
restaurantes para lavar pratos. Eu não estava bem certa de que ele tinha me
entendido, por isso perguntei a Leon. Ele confirmou que o chuveiro era
“onde a maioria faz isso”. Como acontece com os astronautas em órbita, os
voluntários da Faru não recebem orientação formal sobre masturbação. Mas
Leon, sendo Leon, perguntou ao psicólogo da unidade. “Quero dizer, se
fosse uma coisa que pusesse o teste a perder, ou algo assim, eu não faria.” O
psicólogo corou e deu-lhe sinal verde.
Numa biografia, o astronauta Michael Collins conta o caso de um médico
da era Apollo que recomendava masturbação regular durante missões mais
longas como prevenção de infecções prostáticas. O médico da missão de
Collins à Lua “decidiu ignorar o conselho”, e desde então a atitude básica
quanto à pressão sexual humana tem sido ignorá-la. A agência espacial
russa faz a mesma coisa. O cosmonauta Alexandr Laveikin contou-me que
também ouvira dizer que a abstinência prolongada pode causar infecções de
próstata, mas que a agência espacial finge que o problema não existe. “Fica
a seu critério o modo de lidar com o assunto. Mas todo mundo faz, todo
mundo entende. Não é nada de mais. Meus amigos perguntam: ‘Como se
faz sexo no espaço?’. Eu respondo: ‘Com a mão!’.” E no que se refere à
logística? “Há meios para isso. E às vezes acontece por si só quando a gente
está dormindo. É natural.” John Charles me contou que tinha ouvido falar
na relação entre a saúde da próstata e a “manoestim” — na Nasa tudo tem
uma abreviatura —, mas nunca ouvira um debate formal, pró ou contra a
masturbação orbital.
Nem sobre sexo a dois, aliás. Aqui na Faru, o assunto aparece nas regras,
embora indiretamente. Os visitantes não podem sentar-se ou deitar-se nas
camas. “Minha mulher não deu bola para isso”, graceja Leon. “Um pouco
de mim saiu daqui!” Eu tinha passado pelo quarto dele de novo, para me
despedir. Ele queria me mostrar fotos da família no computador.
“Já vou indo. Sei que você tem…”
Leon sorri. “Nada para fazer?”
Sean Hayes estava tirando sua roupa de mergulho quando telefonei. Ele é
biólogo marinho e escreveu uma dissertação sobre estratégias de
acasalamento das focas-comuns. A flutuação na água é bem parecida com a
flutuação em gravidade zero — tanto que os astronautas treinam as tarefas
que desempenharão no espaço numa enorme piscina. E como é mais fácil
encontrar um especialista em focas (caramba, focas!) disposto a falar sobre
sexo em ausência de peso do que fazer a Nasa tocar no assunto, voltei-me
para os biólogos marinhos.
“Elas são muito discretas”,a diz Hayes sobre as espécies da família dos
focídeos (ao contrário de suas primas, da família dos otarídeos, que
acasalam na praia e equilibram bolas no focinho). Hayes inventou um
equipamento especial para espionar focas-comuns selvagens e mesmo assim
nunca conseguiu ver a euforia flutuante dos pinípedes. Em seu hábitat
natural, a foca-malhada, da mesma forma que os homens do espaço, nunca
foi vista no ato. Se você quiser saber como é, precisa pôr um casal dessas
focas numa piscina. Hayes mandou-me um estudo escrito por dois
pesquisadores da Johns Hopkins que fizeram exatamente isso.
O que os biólogos observaram confirmou uma desconfiança minha:
quando se trata de intercurso sexual, a gravidade é cúmplice. “O macho
passa a maior parte do tempo segurando a fêmea com firmeza, tentando
assumir a posição de coito e nela permanecer”, disseram os pesquisadores.
Seus dentes funcionam como uma terceira mão, mordendo as costas da
fêmea para evitar que a flutuação os separe.b Uma foto mostra o casal no
fundo da piscina, tentando contrariar a terceira lei de Newton: a cada ação
corresponde uma reação igual e contrária. Elimine ou reduza muito a força
da gravidade: o empuxo vai levar o objeto amado para longe.c
Ao contrário do que ocorreu com a foca-malhada, os astronautas não
foram postos numa piscina para que se visse como eles fazem. Apesar do
que disse o falecido G. Harry Stine no livro A vida no espaço:
Na década de 1980, realizaram-se experimentos clandestinos na calada
da noite no tanque de simulação de flutuação neutra em ausência de
gravidade do Centro Espacial George C. Marshall, em Hutsville,
Alabama. Os resultados experimentais mostram que seres humanos
podem copular em ausência de gravidade. No entanto, permanecer juntos
é um problema. Os pesquisadores clandestinos descobriram que era bom
ter uma terceira pessoa para empurrar na hora certa para o lugar certo. Os
pesquisadores anônimos […] descobriram que essa é a solução adotada
pelos golfinhos. Um terceiro golfinho está sempre presente durante o
processo de acasalamento. Isso levou à criação do equivalente espacial
do Mile High Club da aviaçãod conhecido como Clube dos Três
Golfinhos.
Stine é mais conhecido por seus livros de ficção científica, e parecia não
conseguir abandonar seus hábitos ao escrever não ficção. Ou talvez alguém
do Centro Marshall tenha lançado o boato? Escrevi para o escritório de
relações públicas de lá para ver se alguém poderia esclarecer a origem do
caso. Arredios como esquilos. “Oi, Mary. Estou mandando cópia deste e-
mail a nosso historiador, Mike Wright, já que ele provavelmente poderá lhe
proporcionar informação histórica sobre o Laboratório de Flutuação Neutra.
Em princípio a resposta é sim, tivemos um Laboratório de Flutuação Neutra
no Centro Marshall, mas ele foi fechado (Mike pode dar mais dados) e o
trabalho passou a ser feito no Centro Espacial Johnson, em Houston.” Era
como se meu e-mail não tivesse sequer mencionado sexo ou G. Harry Stine.
A julgar por seu nível de exatidão em relação aos golfinhos, Stine não é
confiável. Nas palavras de Randall Wells, o mais conhecido especialista em
golfinhos dos Estados Unidos, “Apenas dois golfinhos são necessários para
o acasalamento”. Depois de certa insistência minha, Wells observa que às
vezes um segundo macho ajuda a encurralar a fêmea, mas nunca se viu que
desse algum empurrão para facilitar o coito. Aliás, esse terceiro parceiro é
mesmo desnecessário porque o pênis do golfinho é preênsil.e A
pesquisadora Janet Mann, da Universidade de Georgetown, explicou que o
macho pode “enganchar-se na fêmea” e mantê-la junto de si durante os
poucos segundos necessários para terminar seu serviço. No entanto, ela
desconfia que os machos precisam dessa vantagem não tanto porque seja
difícil manter-se acasalado flutuando, mas porque normalmente as fêmeas
se esquivam e tentam escapar. A julgar pelo que ouvi a respeito de
astronautas do sexo masculino, no caso deles não é esse o problema.
Com relação ao experimento descrito por Stine, ele faz pouco sentido.
Por que funcionários da Nasa se arriscariam a perder o emprego se podiam
fazer o mesmo “estudo” na piscina do quintal? E por que alguém precisaria
de um experimento formal? Como me disse por e-mail o astronauta Roger
Crouch, se um casal quisesse fazer sexo no espaço poderia simplesmente
fazer o que os casais fazem na Terra: “é só começar e melhorar com a
experiência”.
Quanto à afirmação de Stine sobre a dificuldade que os participantes
teriam de “permanecer juntos”, Crouch mostrou incredulidade. “Nada
impede o uso de braços e pernas para manipular ou segurar o parceiro. Uma
vez que um dos parceiros tenha enroscado firmemente os pés ou o corpo”
— e aqui ele sugere o uso de silvertape se tudo o mais falhar — “o resto
depende da imaginação dos parceiros. Nem o Kama Sutra poderia cobrir
todas as possibilidades.”
Escrevi a Crouch a respeito de uma outra pilhéria sobre sexo espacial na
internet, a Publicação Nasa 14-307-1792. Trata-se de um “sumário pós-
voo” forjado, produzido por volta de 1989, sobre os resultados da
exploração supostamente realizada na missão STS-75, de “abordagens das
relações maritais continuadas num ambiente orbital de gravidade zero”. Foi
a primeira vez que vi uma fraude que citava outra fraude — os
“experimentos similares realizados num tanque de flutuação neutra” de
Stine.
Com uma “barreira pneumática amortecedora de som” erguida entre os
deques para obter privacidade, um casal de astronautas teria experimentado
dez posições, quatro delas “naturais” e seis com restrições mecânicas. A
posição no 10 foi uma das duas selecionadas como “as mais satisfatórias”:
“Cada um dos parceiros segurando a cabeça do outro entre suas coxas”. O
relatório concluía com uma recomendação para triagem de futuros casais de
astronautas com base em “sua capacidade de aceitar ou adaptar-se às
soluções usadas nos testes 3 e 10” e com uma referência a um próximo
vídeo de treinamento sobre sexo para astronautas. Ainda que pareça
mentira, com um intervalo de anos, dois autores de livros sobre o espaço
morderam a isca e citaram o Documento 14-307-1792 como se fosse
autêntico. Uma rápida visita ao site da Nasa teria mostrado que a missão
STS-75 foi realizada em 1996, sete anos depois do surgimento do
“documento”, e, a propósito, tinha uma tripulação integralmente masculina.
a Você também seria, se entre suas preliminares figurasse a emissão de “sons de porta rangendo”
e você precisasse vir à tona para “manter contato visual enquanto um arqueja na cara do outro”.
b A lontra-do-mar dá outras provas das dificuldades do sexo em gravidade reduzida. Para ajudar a
manter a fêmea no lugar, o macho costuma puxar a cabeça dela para trás e segurar-lhe o nariz com os
dentes. “Nossos veterinários tiveram de fazer rinoplastia em algumas das fêmeas”, diz Michelle
Staedler, coordenadora de pesquisa sobre lontras-marinhas do Aquário da Baía de Monterey. (O sexo
pode ser traumático também para o macho, vítima de ataques aéreos de gaivotas que confundem seu
pênis ereto com alguma nova iguaria oceânica e aplicam-lhe bicadas.)
c Essa é sem dúvida a razão pela qual Steve “Caçador” Hunt, o homem cujas fotos e vídeos
aparecem em underwatersex.net, preferiu deixar de lado a flutuabilidade neutra e “submergir até um
banco de areia situado a uns dez metros de profundidade” para seu encontro “Mergulhadores Nus”
com uma anônima “dona de casa solitária e entediada”. Diz Steven: “Você é capaz de imaginar todas
as posições que pode praticar sem gravidade?”. Vai precisar, porque Steven ensaia as mesmas velhas
posições que você pode ver num tanque de mergulho, só que com uma nada atraente máscara de
mergulho distorcendo o rosto.
d O Mile High Club é o grupo informal a que passa a pertencer o casal que tem relações sexuais
num avião a pelo menos uma milha de altitude. (N. T.)
e Os golfinhos são capazes de usar o pênis, literalmente, para segurar coisas e até mesmo, como já
aconteceu, pessoas que pagaram para nadar com eles. “Houve casos em que machos em cativeiro
[…] seguraram uma pessoa pelo tornozelo com o pênis”, disse Janet Mann, e por esse motivo os
machos acabaram sendo retirados da maior parte desse tipo de entretenimento. A darmos crédito ao
site Sex with Dolphins, as fêmeas também fazem isso. “De repente, ela resolveu segurar meu pé com
a abertura genital”, diz o autor, e explica que as fêmeas não só têm fendas vaginais musculosas como
podem “manipular e transportar objetos com elas”. Que maravilha para quem não tem pernas! Eu
quis perguntar a Janet Mann que coisas já se viu golfinhos carregarem com os órgãos genitais, mas a
essa altura ela tinha parado de responder meus e-mails.
f Esse é o mesmo homem que, depois de ver uma foto panorâmica de uma belíssima e
inesquecível paisagem marciana, observou: “Parece a periferia de Las Vegas”. É engraçado que ele
tenha dito isso. Enquanto escrevo, está sendo levantado um financiamento de 1,6 bilhão de dólares
para o resort Mundo de Marte, no deserto perto de Las Vegas.
g Felizmente, não foi inspirada no modelo de negócios de Bigelow em terra firme. Estes são
trechos de comentários publicados no TripAdvisor sobre as Budget Suites of America, administradas
pela empresa de Bigelow em Las Vegas. “[…] um desagradável cheiro de mofo […] A cama não
tinha estrado, apenas molas ensacadas postas no velho carpete”; “[…] a área da piscina tinha cheiro
de urina […] a água turva”; “[…] o ar-condicionado não funciona […] a TV não funciona […] os
seguranças parecem agentes da Gestapo.”
h Até se aposentar, Silvia Saint apareceu em mais de duzentos filmes pornográficos. Embora um
ou outro tenha uma pitada de classe (como o kubrickiano De boca bem aberta), a maior parte de sua
filmografia (Hot Bods and Tail Pipe #14, The Adventures of Pee Man) indica que ela, aos 33 anos,
teve um merecido descanso.
i April Ronca e seus colegas desenharam um distintivo para pesquisadores que mostrava uma
nave espacial grávida cercada de naves-bebês. (Da mesma forma que os astronautas, os cientistas que
trabalham numa missão costumam comemorar seus projetos costurando distintivos nas roupas.) A
Nasa vetou o distintivo, embora permitisse um distintivo “Espermatozoide no Espaço”, que mostrava
a cabeça de Homer Simpson com uma cauda de espermatozoide. (A mulher do pesquisador de
espermatozoides tinha uma ligação familiar com o criador dos Simpsons, Matt Groening.) Pode não
haver sexo no espaço, mas sexismo há.
13. VENTANIAS E VERTIGENS
a Base é um acrônimo formado por Building Antenna [torre de rádio], Span [ponte] e Earth
[penhasco] — os quatro pontos baixos e perigosos de onde ele salta. Segundo um estudo da revista
Journal of Trauma em 2007, o índice de mortalidade e ferimentos nos saltos Base é de cinco a oito
vezes mais elevado do que no salto livre. Mesmo assim, é mais baixo do que você imaginaria: em dez
anos, nove de 20 850 saltos do maciço Kjerag, na Noruega, terminaram em morte.
b A Nasa procurou a David Clark Company devido à experiência da empresa com tecidos
emborrachados. “Um traje espacial não passa de um saco emborrachado antropomórfico”, diz o
coronel Dan Fulgham, especializado em testes de sistemas de fuga. “Não tínhamos nenhuma
experiência de trabalho com sacos emborrachados. Recorremos à David Clark Company, de
Worcester, Massachusetts. Eles estavam produzindo vinte grosas por mês de sutiãs e cintas para a
Sears e a Roebuck.” Fulgham guarda belas lembranças de quando ia de carro a Worcester para
reuniões e dava espiadas em modelos de provas que perambulavam por ali. O contrato para a
produção dos trajes de pouso lunar da Apollo foi firmado com a International Latex, que mais tarde
se tornaria a Playtex. Na época isso não teve muita publicidade.
c Os bonecos eram realistas o bastante para enganar um grupo de mulheres de oficiais reunidas
para um chá na casa do general Edwin Rawlings, da Força Aérea. De uma hora para outra, um vulto
humano estatelou-se no chão a pouca distância do quintal de Rawlings. Ato contínuo, apareceu Joe
Kittinger ao volante de uma caminhonete, jogou o boneco na caçamba e saiu em disparada. As
mulheres acharam que se tratava não de um alienígena e sim de um aviador. Mais tarde, Kittinger
recebeu uma ligação informando que as convidadas da senhora Rawlings tinham reclamado da forma
desrespeitosa como tinha sido tratado o “paraquedista” morto.
d Fato comprovado. Em 1941, cientistas do Laboratório de Pesquisa de Medicina da Aviação da
Fundação Mayo convenceram uma mulher que tinha uma abertura pós-cirúrgica no crânio a
submeter-se à câmara de altitude. A paciente (nunca esse nome foi mais adequado) foi posta diante
de uma régua, e os pesquisadores, como caddies num campo de golfe, fincaram uma bandeirinha
triangular bem no ponto onde estava o buraco. Quando a “transportaram” a 8500 metros de altitude, a
bandeirinha tinha subido um centímetro inteiro.
14. A ANGÚSTIA DA SEPARAÇÃO
em gravidade zero
Treino de Posição
a No entanto, poderia ter sido pior. Também foi cogitada, para as tripulações do Projeto Apollo, a
“luva de defecação”. Com ela, o astronauta teria de levar a mão às costas e defecar na própria palma
e virar a luva pelo avesso, mais ou menos como se faz hoje para recolher e descartar cocô de
cachorro com um saco plástico. Depois pensou-se na Algema de Dedos Chinesa, uma bolsa que se
fechava em torno do bolo quando era puxada pela extremidade. O nome “dedo chinês” se refere ao
brinquedinho de criança de mesmo nome — e possivelmente ao gesto que os astronautas faziam em
reação à geringonça.
b Como o tempo dos astronautas era rigidamente programado, e como normalmente os
movimentos intestinais não podem sê-lo, os tripulantes eram levados a ter conversas como esta,
transcrita da missão Apollo 15, entre o comandante Dave Scott e o piloto do Módulo Lunar James
Irwin:
SCOTT: Al, por que você e eu não damos uma parada agora, quando…
IRWIN: Eu gostaria de fazer um cocô, se houver uma brecha, Dave.
SCOTT: Está bem.
IRWIN: Diga-me quando posso ir.
c Ainda existem amostras dos astronautas da época da Skylab e da Apollo, guardadas em freezers
na cobertura de um edifício de segurança máxima, sem janelas, no Centro Espacial Johnson, em
Houston — o único que abriga a coleção de rochas lunares (não biológicas) da Nasa. “Não tenho
certeza de como estará agora nosso estoque de excrementos da Apollo”, diz John Charles. “Quarenta
anos de congelamento, com ocasionais degelos em blecautes provocados por furacões, podem tê-los
reduzido a meros vestígios de sua antiga glória.” Em 1996 eles ainda estavam lá, pois o geólogo
planetário Ralph Harvey deu com eles quando se perdeu, ao conduzir um grupo de turistas VIP em
visita. “Na época, todas as portas se abriam com a mesma senha”, recorda. “Abri aquela porta, e foi
como dar com uma cena de Os caçadores da arca perdida. Havia filas e mais filas de freezers
compridos e baixos. Todos eles tinham uma luzinha piscando, um indicador de temperatura e uma
etiqueta com o nome do astronauta. Merda, tive a impressão de que eles armazenavam os astronautas
ali! Tirei as pessoas daquele lugar às pressas. Mais tarde, soube que era ali que eles guardavam fezes
e urina dos astronautas.” Harvey não se lembra do número da sala. “Você tem de topar com ela, é a
única maneira de encontrá-la. É como Nárnia.”
d Rethke chama isso de “efeito casca de laranja”. O termo se refere também a um defeito numa
superfície pintada com spray, comum no acabamento de um carro. Seja como for, o cara da oficina
lhe deve um pedido de desculpas.
e Foi também a principal razão para que os russos preferissem fêmeas — ao menos para voos de
animais. Era dificílimo treinar cachorros para que urinassem num dispositivo de coleta, pois as
limitações da cápsula impediam que assumissem a posição natural para isso: com a perna levantada.
f Segundo um cronograma da evolução da fralda, no site disposablediaper.net, a fralda para
adultos teve sua estreia em 1987, no Japão. A ideia da fralda descartável, no entanto, remonta a 1942.
Quem a inventou foi uma empresa sueca — e não a Nasa, como se pensa. Ao examinar o diagrama,
contudo, pode-se ter a impressão de que a Nasa estava envolvida no assunto. Existem fraldas com
secagem a vácuo, fraldas sem enchimento, fraldas com sistema de fechamento flexível e “chassi
menor e orelhas laterais elásticas”. A fralda para adultos da Nasa é um produto adquirido na rede
comercial. A atual chama-se Absorbencies [absorvências]. É difícil imaginar nome pior para uma
fralda, exceto talvez o nome anterior, Rejoice [júbilo].
15. DESGULOSEIMAS
a A observância de ritos religiosos é ainda mais difícil numa espaçonave real. As limitações de
peso levaram Buzz Aldrin a carregar uma “hóstia minúscula” e um cálice de vinho do tamanho de um
dedal para sua comunhão “faça você mesmo” na Lua. A gravidade zero e o dia orbital de noventa
minutos suscitaram tantas dúvidas para astronautas muçulmanos que foi preciso escrever um
“Manual de instruções para a prática do culto na Estação Espacial Internacional”. Em vez de exigir
que os astronautas rezassem cinco vezes durante cada órbita de noventa minutos em torno da Terra, o
manual permitia que eles se guiassem pelo ciclo de 24 horas do local de lançamento. Podiam usar
lenços de papel (“não menos de três”) para as abluções rituais. E como o muçulmano em órbita que
começasse a orar voltado para Meca provavelmente terminaria sua oração de bunda para Meca,
tomou-se o cuidado de permitir que ele simplesmente se voltasse para a Terra ou “para qualquer
lugar”. Finalmente, em vez de abaixar a cabeça até o chão, manobra árdua em gravidade zero, o fiel
poderia prostrar-se “abaixando o queixo até perto do joelho”, “usando a pálpebra como indicador da
mudança de postura” ou — no mesmo espírito de “para qualquer lugar” — simplesmente
“imaginando” a sequência de movimentos.
b Suplemento nutricional líquido fabricado pelos laboratórios Abbott. É comumente administrado
por via oral ou nasogástrica e indicado a pessoas incapazes de se alimentar ou que enfrentam
problemas graves para perda de peso. (N. E.)
c O primeiro alimento consumido por um astronauta da Nasa no espaço, mas não o primeiro
alimento consumido no espaço. Os soviéticos ganharam mais essa corrida. O purê de maçã de Glenn
perdeu para a carne pulverizada com gelatina fragmentada da Laika e para o lanche sem nome de
Yuri Gagarin (nas palavras de Elena, arquivista do Museu Gagarin, “Alguns chamam de sopa, outros
de purê. Com certeza era alguma coisa em tubo!”).
d Perdão, eu quis dizer inovador. Esse foi o adjetivo usado pelo autor do obituário de Lepkovsky
no boletim da Universidade da Califórnia em 1985. O texto nos informa que Lepkovsky foi coautor
do primeiro atlas do cérebro da galinha e isolou riboflavina a partir de “centenas de milhares de
galões de leite”. No pouco tempo que lhe sobrava, gostava de dançar e atuava como analista amador
do mercado de ações, sem dúvida colhendo ganhos substanciais com laticínios no mercado de
futuros.
e Os testes de alimentação no simulador foram notícia em San Antonio, cidade onde fica a Base
Brooks da Força Aérea. Além do Express, o San Antonio Light também publicou uma reportagem. O
anúncio que saiu ao lado era da Blue Cross/ Blue Shield, na época a principal seguradora do país. O
subtítulo da matéria dizia (posso mandar uma cópia a quem não acreditar): “Vamos lá, San Antonio!
Todos fazendo o número 1!”.
f Egesta é meu novo eufemismo favorito para “fezes” e um nome comercial para privadas ainda
melhor do que Ejecto. Com certeza é melhor que Totó. Quem daria a uma privada o nome de seu
cãozinho?
g Os astronautas poderiam viver de bife e ovos? Má ideia. Deixando de lado os problemas com o
colesterol, ficaria faltando a maior parte das vitaminas. Fahey informa que nem mesmo cães
selvagens vivem apenas de proteína. “Quando matam a presa, comem um verdadeiro smorgasbord de
coisas diversas.” É um smorgasbord diferente do que é servido no restaurante sueco. “Normalmente,
eles comem primeiro o conteúdo do estômago.” Como a presa costuma ser herbívora, essa é a parte
que corresponde às verduras.
h Se você estiver entre os 50% da população que produzem metano, pode brincar de luz piloto
humana: seus amigos aproximam um fósforo de seus gases para vê-lo inflamar-se e queimar com
uma chama azul.
i O repolho ressurgiu sob a forma de kimchi — repolho fermentado e condimentado — a bordo da
Estação Espacial Internacional por ocasião da visita do primeiro astronauta coreano. O criador do
kimchi espacial, Lee Ju-woon, trabalha no Instituto Coreano de Pesquisa em Energia Atômica, onde
os cientistas estão criando meios de captar a energia da fissão intestinal do kimchi. Brincadeira. Mas
poderiam estar.
16. ROUPA SUJA PARA O JANTAR
a Se o produto é sem fio, à prova de fogo, leve e robusto, miniaturizado ou automático, é bem
provável que a Nasa tenha alguma coisa a ver com sua tecnologia. Estamos falando de
compactadores de lixo, coletes à prova de bala, transferência de dados sem fio a alta velocidade,
monitores cardíacos implantáveis, ferramentas elétricas sem fio, membros artificiais, aspiradores de
pó sem fio, tops de ginástica, painéis solares, aparelhos ortodônticos invisíveis, bombas de insulina
computadorizadas, máscaras de bombeiros. De vez em quando, aplicações terrestres enveredam por
um caminho inesperado: analisadores digitais de imagens lunares permitem à Estée Lauder
quantificar “sutilezas de outro modo indetectáveis” na pele de mulheres que usam seus produtos,
criando fundamento para absurdas afirmativas referentes à eliminação de rugas. Bombas de calor
eletrônicas e miniaturizadas, criadas para o Programa Apollo, levaram à Porca Robótica. “Na hora da
alimentação, uma lâmpada de aquecimento, que simula o calor do corpo da porca, acende-se
automaticamente e a máquina emite grunhidos rítmicos como uma mamãe porca chamando os
filhotes. No momento em que estes correm em direção à mãe mecânica, um painel em sua parte
frontal se abre, expondo a fileira de tetas”, escreveu um não identificado escriba de novidades da
Nasa, certamente arrancando grunhidos de seus superiores no Escritório de Relações Públicas da
agência.
AGRADECIMENTOS
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título original Packing for Mars: The Curious Science of Life in the Void
ISBN 978-85-8086-635-3
www.editoraparalela.com.br
atendimentoaoleitor@editoraparalela.com.br
Curiosidade mórbida
Roach, Mary
9788543803326
272 páginas