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Introdução à Astronomia do Sistema Solar

Airton Lugarinho de Lima Camara

Introdução

Nossa mente, assim como o próprio céu, é povoada de estrelas. Facilmente imaginamos um céu estrelado,
quando fechamos os olhos ou, então, quando temos uma noite encoberta. As estrelas brilhando, lá no alto, fazem
parte de nossa ciência e de nossa mitologia. Não há povo algum, na História, que não tenha se preocupado em
explicar o seu aspecto, sua finalidade e sua origem.
Muitas pessoas não sabem, até hoje, que a grande bola amarela que nos ilumina durante o dia – o Sol – é
um objeto igual aos que nos aguça a mente à noite, soltando a imaginação por longínquos recantos habitados
pelas estrelas e, quem sabe, também por alguns seres muito estranhos. Se eles existem, de onde vêm? Será que
existem? Em que lugar do Universo pode existir vida?
Algum tempo ainda há de passar até que possamos responder, a contento, a todas essas perguntas. Mas uma
delas pode ser respondida já. A vida no Universo, qualquer que seja a forma que tenha, tem de habitar um plane-
ta ou um satélite. Não há vida nas estrelas. Apesar de elas terem um papel de extrema importância na existência
da vida, não podem abrigá-la! Elas permitem que a vida surja, mas sempre fora delas; elas concedem, mas não
acolhem!
É quase impossível que encontremos organismos vivos fora de satélites ou de planetas. O espaço interpla-
netário ou interestelar é hostil aos seres vivos. Sua temperatura é muito baixa, não permitindo que as reações
químicas necessárias à vida se processem de forma satisfatória a seu desenvolvimento e, muitas vezes, a impe-
dem totalmente. As radiações muito fortes e letais cruzam o espaço, associando-se à baixa temperatura para
desestimular toda e qualquer tentativa de a vida se estabelecer.
Os satélites giram em torno de seus planetas, que giram em torno de suas estrelas, que giram em torno do
centro de suas galáxias, que giram em torno do centro de seus Grupos Galácticos, que giram em torno de um
ponto ainda desconhecido, teorizado pelo astrofísico inglês Paul Birch, em agosto de 1982.
A grande arma do Universo é o movimento. O repouso não existe no “dicionário” do Universo. A vida imi-
ta essa atividade – nunca para. O constante movimentar dos organismos vivos trouxe à existência o Homem, que
colocado a bordo de uma gigantesca nave – a Terra – percorre milhares de quilômetros por ano, enquanto se
prepara para conhecer sua própria residência cósmica. Aos poucos, o Homem vai desvendando os mistérios até
então insondáveis. Nós já estamos viajando em busca do conhecimento básico. Estamos aprendendo a conhecer
o nosso Sistema Solar, a conhecer os homens que primeiro nos colocaram em contato com o espaço e com suas
revelações, mesmo que isto tenha sido em detrimento de sua própria segurança.
Vamos embarcar, neste momento, para fazermos uma viagem. Visitaremos o Sistema Solar, pousaremos na
superfície dos planetas e de alguns satélites para sabermos que aspecto eles têm. Vamos entrar em contato com
o que a Astronomia já sabe sobre a família solar para podermos ficar sabendo onde estamos e como somos.

A origem: como tudo começou


No início do Universo, as estrelas somente surgiam de grandes nuvens de hidrogênio e hélio – que são os
elementos mais simples que existem. Nada mais havia além desses dois elementos e foi com essa simples, mas
fundamental matéria-prima que o Mundo foi construindo-se lentamente, possibilitando o surgir de cada uma das

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estrelas, planetas, satélites, enfim, de todos os habitantes do Universo, culminando com uma das mais comple-
xas e intrigantes manifestações físico-químicas: a vida.
A condensação desses elementos – conhecida por colapso gravitacional – nas gigantescas nuvens (chama-
das nebulosas gasosas) foi mapeando cada galáxia. As partes constituintes das nebulosas foram se aproximando,
pouco a pouco, reunindo em pontos diferentes uma grande quantidade de matéria. Quando esses pontos atingi-
ram uma concentração insuportável, do ponto de vista da temperatura e da pressão, acenderam-se para o Mundo,
nascendo de cada um deles uma estrela, pontilhando o céu ainda não observado, construindo um palco onde os
atores ainda não estavam contratados.
As estrelas, da mesma forma que os seres vivos, têm sua existência limitada em dois pontos: nascimento e
morte. Elas podem morrer de três formas diferentes. Duas dessas formas envolvem o que é conhecido pela As-
trofísica como Supernova, fase da evolução estelar que é muito violenta. A estrela explode e envia ao espaço, a
seu redor, cerca de 90% da matéria que a constituía.
Durante sua existência uma estrela fabrica em seu núcleo os elementos que conhecemos. A partir do hidro-
gênio e do hélio, uma estrela é capaz de construir o carbono, o oxigênio e todos os outros elementos. Quando
seu ciclo vital termina e ela explode, esses elementos são expulsos, constituindo uma nebulosa conhecida por
Remanescente de Supernova.
A matéria expulsa contém uma grande quantidade de energia cinética – a energia do movimento –, o que
faz com que a nuvem se expanda em grande velocidade. Aos poucos essa energia vai se dissipando e a matéria
vai perdendo velocidade. Mais tarde essa matéria pode sofrer novo processo de colapso gravitacional e se trans-
formar em outra estrela. A Phênix renasce das cinzas!
Como a nuvem, agora, é rica em elementos diferentes do hidrogênio e do hélio, a estrela que surge tem,
também, elementos pesados em seu interior. Nem todos os elementos pesados da nuvem se encontram no interi-
or da estrela que renasce. Uma grande parte deles pode se combinar de uma forma que não será a estelar, é uma
forma que o Universo somente conheceu após a morte de pelo menos uma estrela: um planeta!
Esse foi o caso de nosso Sol. Ele não é uma estrela composta de matéria da época do nascimento do Uni-
verso. Sua matéria é reciclada.
Cada átomo que compõe o Sistema Solar, a Terra, as páginas deste livro, assim como você próprio, saiu do
interior de uma estrela morta há muito tempo. Nós somos irmãos. Irmãos dos planetas, do ar e do mar. Irmãos
de todos os homens – somos irmãos, em cinzas...

Do geocentrismo ao heliocentrismo
Desde remotíssimas eras, quando o lampejo da inteligência surgiu na espécie humana, muitas perguntas
começaram a dividir com a sobrevivência a mente humana ainda cândida. O céu estrelado devia fascinar nossos
irmãos no tempo, céu este pontilhado de pequenos pontos, teimosos e persistentes. Mas não todos. Alguns se
moviam, mudavam de lugar, desafiando toda e qualquer explicação. Não, havia uma explicação. Tinha de ha-
ver! Eram os deuses que os faziam mudar, ou, então, eles mesmos eram deuses se movendo.
Acabara de nascer a série de indagações e tentativas de obter respostas que culminariam com as espaçona-
ves Pioneer e Voyager, levando o Homem aos confins do espaço interplanetário, pois ali, naquele distante dia e
com um anônimo inquisidor, começaria a saga do Homem pelo Sistema Solar!
Quantos conceitos surgiram e seriam esquecidos até o Sistema adquirir a conceituação que tem hoje em dia!
Quantas “verdades” surgiram e se foram! O que faz uma verdade ser tão mutável?
A verdade é uma certeza do Conhecimento que coincide com a certeza de quem conhece. Se há uma verda-
de absoluta, totalmente independente do que eu sei ou do que virei a saber, essa verdade me é proibida. Não
temos como saber se lidamos com ela ou não. Não há outra forma de conhecimento verdadeiro senão o que se
refere ao ser, que nunca o transcende.
Quando analisamos as concepções científicas de povos antigos ou mais atrasados que nós, temos a sensação
de superioridade, uma certeza de que sabemos mais, por isso somos melhores que eles. O que não levamos em
conta é que a verdadeira superioridade se encontra no potencial de saber, isto é, na inteligência. O que determi-
nado cérebro sabe, é uma contingência, às vezes até mesmo histórica, ao passo que o que um determinado cére-
bro pode aprender é que o distingue de todos os outros. É preciso distinguir a ignorância que é o
desconhecimento das coisas, com a estupidez que é a incapacidade de aprender coisas.
Os antigos eram inteligentes, apenas não tiveram acesso a contingências históricas que permitissem um de-
senvolvimento maior de suas concepções astronômicas. Muitas vezes aquelas contingências eram manipuladas
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por instituições ou por interesse dos poderosos que tinham por objetivo esconder o conhecimento adquirido.
Não importando se para isso fosse necessário mandar para a fogueira homens com o calibre de Giordano Bruno,
assassinado pela “Santa” Inquisição em 16 de fevereiro de 1600, ou manter prisioneiro um Galileu Galilei ou até
mesmo destruir toda uma biblioteca, como ocorreu com a Biblioteca de Alexandria que começou a ser destruída
pela força do pilo e da tocha em 349 d. C., quando o imperador romano Teodósio mandou queimar centenas de
manuscritos, condenando a Humanidade a iniciar seu longo período de trevas.
Parece que havia, em Alexandria, perto de meio milhão de volumes, cada um deles um pergaminho escrito
a mão. Somente restaram alguns deles e fragmentos de outros. Somente sobrou o bastante para termos a certeza
de que, se eles não tivessem sido destruídos, a História do Homem sobre a Terra seria muito diferente...
Imaginem que Anaximandro, nascido em 610 a. C., sabia que a Terra era redonda! Demócrito, nascido em
470 a. C., defendia a idéia de que a Via Láctea era uma reunião de estrelas! Em 375 a. C., Heráclides do Ponto
afirmou que a Terra girava em torno de seu eixo e Mercúrio e Vênus orbitavam o Sol! Em 275 a. C., Aristorco
de Samos sustentava que o Sol e não a Terra era o centro dos movimentos celestes!
Sob o signo do fogo e da força, o Homem mergulhou no lodaçal, onde permaneceu por mais de 2000 anos.
Até que aparecesse Nicolau Copérnico, que colocou a Terra em seu devido lugar. Até que aparecesse Galileu
Galilei que perscrutou o Sistema Solar com sua luneta até enxergar quem realmente era pequenino e pôde abrir
as portas de sua prisão, unindo-a ao espaço!
A História da Ciência foi escrita com persistência e dor. O primeiro passo foi dado há muito tempo, e nós, agora,
somente devemos seguir a trilha. Podemos percorrer o caminho com serenidade, com a certeza de que, uma vez inici-
ada a jornada, nada mais deterá o desenvolver da Ciência e o aumento do Conhecimento da espécie!

Os orientais e os gregos
De uma maneira geral todo o pensamento oriental se diferencia do pensamento ocidental em sua essência.
O modo de ver o Mundo não constitui uma exceção à regra. A Cosmogonia oriental (uma Cosmogonia é o corpo
teórico que tenta explicar a origem do Universo) é povoada por deuses próprios que, em alguns pontos, tocam as
Cosmogonias ocidentais.
O Caos bíblico e o grego encontram similar no Brahma dos hindus e no Tao dos chineses. Uma vez criado,
o Universo seguia seu destino controlado pelos deuses.
Na antiga Babilônia, importante região que fica localizada no atual Iraque, viveu na cidade de Sippar um
astrônomo chamado Kiddinu (340 a. C.-?). Nessa época a Grécia iniciava seu caminho na Astronomia. A Babi-
lônia não desenvolveu teorias complicadas para o Universo, mas tinha a seu favor séculos de observação astro-
nômica, fato pouco conhecido, pois quase toda a cultura babilônica se perdeu nos meandros do tempo, ficando
para nós apenas algumas referências de outros autores, muitas vezes gregos.
Kiddinu descobriu a sucessão dos equinócios (os equinócios são pontos de interseção do equador celeste
com a eclítica, que é a órbita da Terra. Esses pontos não são fixos, eles descrevem 1 volta completa a cada
25600 anos). Essa descoberta foi de grande importância para o trabalho do grego Hiparco (190 a. C.-120 a. C.),
que veio a elaborar o primeiro mapa do céu.
Os hindus muito pouco influenciaram o pensamento ocidental. Deve-se, entretanto citar Brahamagupta
(598?-660?). Este astrônomo e matemático não contribuiu quase nada para a Astronomia de uma forma direta,
pois seus conceitos eram muito errados e não eram aceitos nem por seus contemporâneos. A importância desse
homem está em uma contribuição feita à Astronomia por meio da Matemática. Ele foi o responsável pela intro-
dução do conceito de zero. Esse conceito veio facilitar de uma forma revolucionária as anotações astronômicas,
tornando-as mais fáceis de serem feitas e transmitidas. Agora as posições dos planetas, no céu, podiam ser crite-
riosamente resguardadas do tempo e do espaço, pois agora podiam viajar até outros astrônomos.
Brahamagupta trouxe à Astronomia o uso ilimitado da Matemática. A Astronomia perdia sua característica
puramente observacional e se infiltrava no terreno da especulação matemática, da previsão das posições planetá-
rias. Nada é perfeito; da mesma forma que isto contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da Astronomia,
também contribuiu para o surgimento de uma deturpação que até nossos dias sobrevive: a pseudociência da
astrologia.
Os árabes também tiveram uma grande importância no desenvolvimento das ciências atuais. Grandes ma-
temáticos sempre difundiram seu conhecimento entre os povos que conquistavam ou com os quais entravam em
contato. Muhammad ibn Musa Al-Khwarizmi (780-850), nascido em Khwarismi (na atual República do Usbe-
quistão), era um grande matemático. Este homem desenvolveu uma importante parte da Matemática chamada
Álgebra, que havia sido criada por um grego chamado Diofanto. O livro de Al-Khwarizmi chamava-se Ilm al-
Jabr wa’l Muqabalah (A Ciência da Transposição e da Supressão). Na versão latina, a palavra al-Jabr aparecia
como “álgebra”, emprestando sua forma a todo o ramo da Matemática tratado na obra.

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As ligações de Al-Khwarizmi com os números eram tão fortes, que a tradição ligou seu nome definitiva-
mente a eles, gerando a palavra algarismo, baseada em seu nome.
Por ironia, o matemático, ao aplicar sua própria técnica para calcular o tamanho da circunferência da Terra,
errou muito, chegando ao resultado superestimado de 64 mil quilômetros, ao invés dos 40.200 quilômetros reais.
A Ciência grega se baseava em um princípio que afirmava que o Mundo era impregnado pela mente, por is-
so era ordenado e regular. Permitia, assim, a existência de uma Ciência Natural. O Mundo era feito de puro mo-
vimento.
A concepção grega nos leva a ver uma interação íntima entre as criaturas do Mundo e ele próprio. O pen-
samento grego nos leva a uma bela concepção – a de que cada um de nós é responsável pela atividade que orga-
niza o Mundo. Somos parte. Mesmo quando agimos como se não fôssemos.

Cláudio Ptolomeu
Ptolomeu nasceu, provavelmente, no ano 75 de nossa era em Ptolemaida Hermia, na Grécia. Alguns histori-
adores afirmam que Ptolomeu era de fato um egípcio. A data de sua morte é desconhecida, alguns afirmam que
foi aos 78 anos de idade. Sua vida particular é muito desconhecida. Existe um mistério em torno da vida de Pto-
lomeu, chegando ao ponto de alguns autores acharem que ele nunca existiu, sendo obra de alguma instituição
interessada na divulgação do Geocentrismo.
De certo, sabemos que seu trabalho mais importante foi desenvolvido em Alexandria na já famosa Bibliote-
ca. A importância real de sua obra não está no que fez de original, mas sim na grande síntese que preparou. Tra-
balhou em cima da obra do grego Hiparco. Alguns afirmam que Ptolomeu não passou de um copiador de
Hiparco, já que nenhuma obra original do grego chegou até nós, com a exceção de uma contribuição na interpre-
tação do Sistema Solar que era geocêntrico.
A obra de Ptolomeu, escrita por volta do ano 140, está sob a forma de uma enciclopédia em 13 volumes. O
Ocidente veio a tomar conhecimento dela por meio de uma tradução árabe. O título original da obra era A Com-
posição Matemática de Cláudio Ptolomeu. Os árabes, por volta do século IX, trouxeram-na para o Ocidente
com o título Al Magiste – O Maior. Por esse motivo essa obra é conhecida, entre nós, por Almagesto.
Fazem parte do Almagesto, trabalhos de Eudoxo de Cnido, Heráclito do Ponto, Aristarco de Samos e Hipar-
co. A contribuição pessoal de Ptolomeu está quase inteiramente no livro I, onde afirma que:

os céus são esféricos e os objetos celestes têm movimentos circulares;


a Terra é esférica;
a Terra se encontra no centro do Universo;
a Terra é imóvel.

Somente a Segunda afirmação de Ptolomeu tem fundamento. Ele não acertou quase nada do que pensou ou
do que escreveu, mas as instituições estabelecidas gostaram muito do que leram no Almagesto. Muitos morre-
ram por afirmarem que o Almagesto era uma coletânea de disparates.
Por 14 séculos o Sistema Solar e o Mundo ficaram na seguinte ordem: Terra, Lua, Mercúrio, Vênus, Sol,
Marte, Júpiter e Saturno.
Os teólogos gostaram muito dessa idéia. Imaginem, eles mesmos seriam o centro do Universo! Deus criara
o Mundo para girar em torno de suas próprias cabeças! O grande sucesso do Geocentrismo estava no fato de
colocar o homem no centro do Universo, era uma visão antropocêntrica, por isso fazia tão bem ao ego da turma!
Quem se atrevia a ter os pés no chão merecia a fogueira!

Nicolau Copérnico
Chega o ano de 1473, mais precisamente o dia 19 de fevereiro. Nessa data nasce Nicolau Copérnico, na ci-
dade de Torum. A distante Polônia do século XV tornou-se palco da grande revolução astronômica, que foi a
retirada da Terra do centro do Sistema e a sua troca pelo Sol. Este homem realizou uma das maiores proezas da
Ciência Ocidental – arrumou a casa planetária. Ele não hesitou em parar o Sol e mover a Terra! Em sua época, a
ideia de que a Terra se move está no ar. Falta apenas a coragem para se colocar a ideia no papel.
O trabalho de Copérnico estava longe de ser original, pois muitos gregos sabiam de tudo aquilo, há mais de
2000 anos! A grandeza do trabalho copernicano está na audácia de apresentar tudo aquilo, mesmo sendo contra
o pensamento da Igreja, a que ele próprio pertencia. Copérnico era cônego da catedral de Frombork.
O pensamento copernicano, muito influenciado pela forma e pela ordenação do Almagesto de Ptolomeu, foi
apresentado na obra De Revolutionibus Orbium Coelestium, que significa Sobre a Revolução das Esferas Celestes.
Durante quatro anos, Copérnico relutou em publicar sua obra, temendo represálias, pois qualquer referência
a um possível movimento da Terra já era uma heresia, tirá-la do centro do Mundo significaria sua morte. Con-
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vencido por amigos, finalmente vem a ordem de publicação. O encargo ficou com o matemático Rético (1514-
1576). Por motivos de desavenças doutrinárias, Rético teve de se ausentar, deixando a função para o ministro
luterano Andreas Osiander. Como Lutero era terminantemente contra a doutrina copernicana, Andreas introdu-
ziu um prefácio como se fosse escrito pelo próprio autor, afirmando que tudo aquilo não era uma teoria a respei-
to do Universo, mas uma simples colocação matemática para facilitar o cálculo de tabelas planetárias!
O livro ficou pronto no dia 24 de maio de 1543, dia em que Copérnico morreu. Não se sabe ao certo se ele
chegou a ter consciência de que o livro que estava em suas mãos, no leito de morte, era o De Revolutionibus. E
o Mundo conheceu a obra copernicana com o prefácio apócrifo. Isto afetou a reputação de Copérnico, até que
em 1609 Kepler descobriu a verdade e a publicou em um de seus livros, limpando a honra de Copérnico, dei-
xando a lama para Andreas.
Como era o Sistema que Copérnico propunha para substituir o de Ptolomeu? Não era muito complicado, eis
alguns pontos básicos:

– os astros estão distribuídos por sete órbitas ou esferas concêntricas;


– a esfera mais externa, a sétima, é a das estrelas fixas;
– Saturno ocupa a sexta esfera, Júpiter e Marte ocupam a quinta e a quarta, respectivamente;
– a Terra está na terceira esfera e arrasta em seu movimento a esfera da Lua, que está centrada no centro do
nosso planeta;
– Vênus e Mercúrio ocupam a segunda e a primeira esferas;
– todo esse conjunto de esferas está girando, com exceção da sétima, a das estrelas fixas, que, segundo Co-
pérnico, “contém tudo e se contém a si mesma, estando por isso mesmo imóvel”;
– a esfera de Saturno fira em 30 anos, a de Júpiter em 12 anos, a de Marte em 2 anos;
– a terceira esfera, a terrestre, gira em 1 ano, sendo que esta tem mais um movimento, a rotação, que dura 1
dia. Com esse novo movimento, Copérnico explicava o nascer e o ocaso dos astros. Renascia a velha ideia de
Heráclito do Ponto, sobre a rotação terrestre;
– a esfera venusiana gira em 9 meses e a de Mercúrio, em 80 dias.

Finalmente, “no meio de tudo isso, repousa o Sol. Com efeito, neste templo, o mais belo que existe, quem
colocaria essa luminária em outro, ou melhor lugar, que este de onde ele pode iluminar tudo ao mesmo tempo”?
Copérnico escreveu uma dedicatória especial ao papa Paulo III, onde se encontram palavras que merecem
ser lembradas:
Provavelmente aparecerão aqueles que, apesar do desconhecimento total das Ciências Matemáticas, jul-
guem-se com do direito de opinar sobre elas, na base de qualquer passagem da Escritura Santa, traduzem mal,
torcendo maliciosamente o verdadeiro sentido, de acordo com seus propósitos, atrevendo-se a condenar ou per-
seguir a minha Teoria! Estes EU desprezo completamente...
A teoria de Copérnico foi condenada e perseguida. Sua obra somente saiu do Índex da Igreja Católica em
1835, em uma época onde a Gravitação Newtoniana já estava com 151 anos de idade, os telescópios e as lunetas
já existiam há 167 e 226 anos, respectivamente, e estávamos a apenas 70 anos da publicação da Teoria da Rela-
tividade, por Albert Einstein!

Galileu Galilei
O dia 15 de fevereiro de 1564 passou à História da Ciência como o dia do nascimento de um dos maiores
homens de todos os tempos. Nesse dia veio à existência Galileu Galilei, em Pisa, na Itália.
O pai de Galileu, que fora matemático, queria que seu filho fosse médico (já naquele tempo os médicos ga-
nhavam 30 vezes ou mais do que um matemático ou físico, o que dizer de um astrônomo?) e mantinha Galileu
longe das Ciências Exatas. O destino agiu e colocou o jovem Galileu em uma conferência sobre Geometria. Isto
foi o bastante para que o futuro da Física, e da Astronomia, ficasse comprometido. Ao consultar obras de Ar-
quimedes, Galileu sentiu que era aquilo o que queria para si, e convenceu seu relutante pai a permitir que ele
seguisse a nova carreira.
Muitas contribuições à Física foram dadas no decorrer de sua existência, mas a Astronomia começou a ser
modificada quando Galileu tinha 45 anos. Nesta época, 1608, Galileu tomou conhecimento da existência de um
objeto inventado pelo holandês Hans Lippershey, que tinha a propriedade de aproximar as coisas. Imediatamen-
te manda comprar um desses objetos – era a luneta –, desmonta-a, aperfeiçoa seu sistema de lentes e consegue
fazer uma luneta que aumenta perto de 32 vezes. Tudo pronto. O Universo começa a mudar de forma!
Utilizando-se do poderoso aliado, Galileu descobre que a Lua não é um corpo liso e brilhante como queria A-
ristóteles. Galileu descobre crateras e montanhas na Lua; estuda manchas irregulares no Sol; mostra que a Via
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Láctea é uma multidão de estrelas; vê objetos girando em torno de outro corpo – descobre os satélites de Júpiter.
Galileu torna-se um iconoclasta – um destruidor de imagens e de ídolos.
Finalmente ordenou e retirou das teorias copernicanas toda a influência de Ptolomeu. O Sistema Solar a-
proximava-se de sua forma atual.
Em 1633, Galileu é julgado culpado de heresia e é obrigado a ler sua abjuração diante do “santo” tribunal
da Inquisição. Tinha ele 69 anos de idade. Em 1638 fica cego, no cativeiro, mutilação causada por longas obser-
vações do Sol. Os prejuízos causados pela radiação solar ainda não eram conhecidos. No dia 8 de janeiro de
1642, o Mundo fica mais pobre, morre aos 78 anos de idade o homem que ampliou a visão do Homem até as
estrelas.
Até hoje Galileu é lembrado e o será ainda por toda a História. Seus algozes foram esquecidos...

Johann Kepler
O Sistema Geocêntrico – a Terra no centro do Mundo – era muito complicado. Eram necessárias muitas esferas
para que os movimentos planetários pudessem ser descritos e com uma precisão muito baixa, apenas satisfatória para
uma época em que os instrumentos de medição eram bastante precários. Não adiantava nada saber-se que um dado
fenômeno iria ocorrer à meia-noite, porque era totalmente impossível saber-se quando era meia-noite!
O advento das leis de Galileu sobre o pêndulo é que permitiu a construção de relógios bastante precisos pa-
ra que as medições científicas pudessem ser aprimoradas, e, aí, o sistema de Ptolomeu começou a ficar cada vez
mais fora de lugar – o Geocentrismo desmoronava.
O ajuste final do sistema heliocêntrico – com o Sol no centro – foi, finalmente, dado por um estranho ho-
mem: o matemático e astrônomo Johann Kepler.
As condições políticas não estavam muito boas para Kepler, em sua cidade natal, e ele parte para Praga para
trabalhar com um dos maiores observadores da história da Astronomia: Tycho Brahe.
Tycho, ao longo de sua vida, foi acumulando dados observacionais. Havia uma grande quantidade de in-
formações sobre a posição dos planetas, principalmente sobre Marte. Quando Tycho morreu, em 1601, Kepler
tomou seus apontamentos e começou a trabalhar neles.
Durante seus estudos Kepler notou que por mais que tentasse os dados de Marte não combinavam com uma
órbita circular. Após alguma relutância ele teve de admitir que o conceito de perfeição calcado nos círculos e
nas esferas durante milênios, se esfarelava diante de seus olhos. Os dados de Marte somente se encaixavam em
uma elipse, figura que se parece com um círculo achatado.
Em 1609, Kepler publica Astronomia Nova, onde aparece sua descoberta, que passou à História como a
Primeira Lei de Kepler, que é chamada Lei das Órbitas e podemos enunciá-la:
A órbita dos planetas em torno do Sol é uma elipse, onde o Sol ocupa um dos focos.
A Astronomia Nova continha outra descoberta importante que ficaria conhecida como Segunda Lei de Ke-
pler, que é a Lei das Áreas.
Em tempos iguais, os planetas descrevem áreas iguais.
Essa lei afirma que quanto mais próximo do Sol está um planeta, mais rápido ele é.
As elipses de Kepler haviam terminado de arrumar a casa, o Sistema Solar não viria a sofrer nenhuma mo-
dificação em sua forma até nossos dias, apenas o número de habitantes do Sistema iria aumentar com as desco-
bertas de outros planetas e satélites.
A palavra satélite é concepção de Kepler. Quando Galileu avistou os satélites de Júpiter, hoje chamados de
Galileanos, escreveu a Kepler e enviou-lhe uma luneta de sua fabricação, com instruções para que a apontasse
para Júpiter. Apesar de um ligeiro descrédito, o astrônomo alemão assim o fez e... maravilhou-se. Havia mesmo
corpos girando em torno de algo que não era a Terra! Em sua resposta a Galileu, Kepler sugere a palavra satélite
para designar aqueles novos corpos. Satélite significa: parasita de um homem poderoso!
O fato de o Sol ocupar um dos focos das elipses planetárias e a velocidade dos planetas variar com a proxi-
midade a ele levaram Kepler a manifestar uma forte, e correta, suspeita de que o Sol seria responsável, de algu-
ma forma, pelo controle do Sistema. Na época, as forças magnéticas do físico inglês William Gilbert (1544-
1603) fascinaram o astrônomo, que tentou explicar a atração do Sol pelo magnetismo. Tudo foi em vão, e o
Mundo esperou mais meio século para que Newton viesse a criar a Teoria da Gravitação Universal e explicasse,
finalmente, o que faltava.
Em 1619, Kepler publica mais um livro, dessa vez de péssima qualidade. Carregado de um forte misticis-
mo, somente aparece uma passagem digna de nota, como um oásis. Era o que seria conhecido como a Terceira
Lei de Kepler, a Lei dos Períodos:
O quadrado do período de revolução de um planeta é proporcional ao cubo de sua distância até o Sol.
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Figura. 1. – Elementos de uma elipse: f e f’ = focos da elipse, a –
diâmetro maior, diâmetro menor.

Agora nada mais faltava todos os dados estavam prontos, somente aguardando a chegada do último grande
“arrumador” do Sistema Solar, o físico inglês Isaac Newton (1642-1727). De posse dos conhecimentos deixados
por Galileu e por Kepler, Newton criou o que seria a grande síntese da Física e pôde extrair ao Mundo sua Gra-
vitação Universal. Segundo ele próprio: “Se pude enxergar tão longe, é porque subi nos ombros de gigantes...”

Figura. 2 – As áreas “S” são idênticas e foram descritas em


tempos iguais como diz a Segunda Lei de Kepler.

Figura 3. Esquema da Terceira Lei de Kepler, que de-


monstra que o período de translação de um planeta
é ligado a distância média do planeta ao Sol.
S – Sol
d – distância do planeta ao Sol
p – planeta.

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Hélios: o portador da existência
A rotina nos libera de obrigações, como a de perceber ou reparar nos objetos que estão presentes
em nosso dia-a-dia. Um desses objetos é o Sol. Que está sempre ali, brilhando, mesmo nos dias em que
os homens estão obscurecidos.
Será mesmo assim? O Sol nasceu sempre e continuará a fazê-lo eternamente? É claro que não! O
Sol teve um início e terá um fim e a Terra, com ele. A eternidade é uma ansiedade humana que não
assola o Universo.
Já vimos no capítulo “A Origem: Como Tudo Começou” como o Sol nasceu, agora vamos ver co-
mo funciona.
Nossa estrela, assim como todas as outras estrelas em atividade, é constituída de gás, não de gás
comum formado por moléculas ou átomos. É um gás muito especial que somente agora o Homem está
aprendendo a manipular. É o plasma.
A matéria comum sem estar sob altas pressões ou temperaturas (essa matéria é conhecida como
ordinária), é constituída por átomos, que são formados por três partículas principais e fundamentais
chamadas próton (com carga elétrica positiva e habitando o núcleo atômico), nêutron (sem carta elétri-
ca e também habitando o núcleo) e elétron (com carga elétrica negativa, de igual valor à do próton, e
que habita regiões que envolvem o núcleo atômico). Nos átomos, o número de prótons é igual ao nú-
mero de elétrons, garantindo assim a neutralidade elétrica do conjunto: o átomo é eletricamente neutro.
O plasma possui a importante característica física de não ser neutro. Ele possui carga elétrica. Co-
mo? É muito simples. Os átomos do gás perdem seus elétrons dos envoltórios e “expõem” os núcleos.
Os elétrons ficam livres no meio do gás, desassociados de seus antigos núcleos, que passam a constitu-
ir íons.
Um exemplo deste gás diferente se encontra em nossa experiência do dia-a-dia. A lâmpada fluo-
rescente, chamada comumente de “luz fria”, é um tubo que contém plasma em seu interior. É um
plasma frio porque não é obtido por aumento de temperatura, mas pela passagem de uma corrente elé-
trica provocada ao acendermos a luz.
Nas estrelas, o plasma é formado pela grande temperatura reinante, que cede energia aos elétrons,
possibilitando-os vencerem a atração elétrica exercida pelo núcleo positivo. Os elétrons “fogem” dos
átomos e temos formado o plasma constituinte das estrelas. Nestes astros, a matéria mais abundante
são o hidrogênio e o hélio, que são formados por um próton e um elétron, no caso do hidrogênio, e por
dois prótons, um nêutron e dois elétrons, no caso do hélio. Como estão sob a forma de plasma, o que
temos são prótons livres (núcleos de hidrogênio) e prótons e nêutrons (núcleos de hélio). Esses núcleos
“expostos” é que darão vida à estrela.
A temperatura e a pressão no núcleo estelar são muito grandes. Para vocês terem uma idéia do es-
tado físico da matéria no interior de uma estrela, vamos olhar para dentro do Sol. Cada centímetro
quadrado do núcleo solar está sob uma pressão de 70 milhões de toneladas e a temperatura interna
chega aos 10 milhões de graus Celsius (antigamente era conhecido por grau centígrado) e o Sol é ape-
nas uma estrela média. Imaginem os dados de uma estrela gigante!
A “impressão digital” de um átomo é o número de prótons que existe em seu núcleo. Essa quanti-
dade, chamada número atômico, é a responsável pela identidade do elemento químico. O hidrogênio
tem 1 próton, e somente 1. O hélio tem 2, o lítio tem 3, o berílio tem 4 e assim por diante até o número
atômico 92, que é o urânio.
O que ocorre no núcleo de uma estrela é que, com a cumplicidade necessária da grande pressão e
da alta temperatura, os núcleos de hidrogênio são reunidos para formar elementos mais pesados. A
pressão “aperta” e a temperatura “solda” os prótons, fabricando os elementos químicos que existem.
Assim, as estrelas fabricam a matéria-prima dos Sistemas Estelares. Mas não toda de uma vez. Essa
fabricação se dá aos poucos. A estrela começa queimando hidrogênio para fazer hélio; quando começa

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a escassear o hidrogênio, ocorrem mudanças na estrela que permitem o início da queima do hélio, que
por ser mais pesado consome mais energia e precisa de uma temperatura e uma pressão mais altas para
iniciar o processo.
Muita energia sobra da fabricação dos elementos. Uma grande parte dessa energia vem da aniqui-
lação da matéria. A Teoria da Relatividade nos ensinou que a matéria e a energia podem ser converti-
das uma na outra, e essa conversão é demonstrada através da famosa fórmula de Albert Einstein: E =
mc2, onde E representa a energia, m representa a massa envolvida, e c2, o quadrado da velocidade da
luz. Como a velocidade da luz é extremamente alta (cerca de 300.000 km por segundo), os dados obti-
dos com a equação são muito altos.
Vamos exemplificar. Se nós temos 1 quilograma de matéria (qualquer uma, desde ouro até o lixo)
e conseguimos transformar esse quilograma em energia, inteiramente, teremos:
E = 1 X (300.000.000 metros por segundo)2
E = 9 X 1016 joules
O joule é uma unidade de energia, e a expressão 9 X 1016 significa o número 9 seguido de 16 ze-
ros. Essa imensa quantidade de energia “aprisionada” na forma de 1 quilograma de matéria é equiva-
lente a uma explosão de um artefato de hidrogênio de 100 megatons! Se nós soubéssemos fazer isso, a
humanidade não teria mais problemas de energia, somente teriam problemas os lixeiros, que perderiam
seus empregos!
O nosso Sol é capaz de, a cada segundo, transformar em energia a fabulosa cifra de 4 milhões e
400 mil toneladas de matéria! Isso equivale a todo o calor solar que alcança a Terra em um ano!
Dessas reações – chamadas reações de fusão – são produzidas, por segundo, 652,5 milhões de to-
neladas de hélio. E, assim, o Sol vai vivendo e permitindo que a vida se mantenha em nosso planeta.
Essas fantásticas conversões ocorrem no núcleo do Sol, que é a camada mais central da estrela e
mais quente. Essa camada está “acesa” há 4 bilhões e 500 mil anos e permanecerá assim por outro tanto.
Envolvendo o núcleo, temos a zona de convecção. Nesta região, a energia é transportada através
de “bolhas” de matéria. É o mesmo fenômeno que aparece na água fervente, onde vemos algumas bo-
lhas subindo à superfície. Essas bolhas trazem energia do núcleo até as camadas mais externas, onde a
liberam para o espaço.
Acima da zona de convecção, temos a fotosfera, que é a região visível, para nós. É até essa camada
que a zona de convecção transporta sua energia. Aqui, a densidade é bastante inferior à anterior, per-
mitindo que a energia seja liberada, não precisando mais usar o “transporte” das bolhas de matéria.
Daqui sai a energia que nos mantém e que um dia permitiu o surgimento da vida da Terra.
A fotosfera não é uma superfície conforme estamos acostumados a observar. A superfície da Terra
é algo sólido e bem definido, por exemplo. A fotosfera de uma estrela é mais um limite de percepção
do que um limite físico. Como a energia luminosa é muito intensa nesta região, é ela que se destaca à
observação. Mas o Sol não “acaba” na fotosfera, ele se distende através da coroa, por todo o Sistema
Solar. A rigor podemos dizer que os planetas estão dentro do Sol, pois a coroa solar se estende para
além da órbita de Plutão. Aos poucos, a densidade da coroa vai caindo, até chegar a um nível desprezí-
vel em algum ponto além do frio e afastado Plutão.
Durante os eclipses solares totais podemos observar a coroa brilhando ao redor do disco obscure-
cido da Lua que encobre o do Sol. Essa camada é composta de partículas com muita energia, como
íons, elétrons, prótons.
A massa solar é da ordem de 2 x 1030 quilogramas, o que significa o número seguido de 30 zeros!
Um bom exercício seria escrever e tentar ler esse número! Não somente a massa do Sol que é um nú-
mero grandioso, todos os seus dados o são. O diâmetro solar é da ordem de 1.392.530 Quilômetros,
seu volume é 1 milhão e 300 mil vezes mais poderosa do que a terrestre. Tudo pesaria 274 vezes mais,
no Sol!
É com esse poder de sua gravidade que o Sol mantém os planetas aprisionados à sua volta, conce-
dendo, em troca, luz e calor e mantendo a integridade física do Sistema Solar.

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Hermes: um inferno revelado

Mercúrio é o primeiro planeta a contar do Sol. Essa proximidade com a nossa estrela lhe garante a
duvidosa honra de ser muito quente e muito árido. Sendo, por isso, imensamente hostil a qualquer
forma de vida que os homens conhecem.
O nome escolhido para batizar esse planeta, certamente, vem do fato de Hermes ser o mensageiro
dos deuses (ver. Os Nomes: Quem São Eles?). Em sua atribuição, Hermes corria muito, característica
essa que nosso irmão planetário também possui, pois é o mais rápido dos planetas da família solar. Sua
órbita pequena garante esse efeito (consulte a tabela no final do volume).
Devido à sua grande proximidade ao Sol e sua pequena massa, Mercúrio não tem água, atmosfera,
nem minerais de baixo ponto de fusão, pois o grande calor do Sol já vaporizou estes materiais, se é que
um dia houve algo parecido, naquele mundo esquecido. A energia liberada pelo Sol é transmitida ao
gás atmosférico dos planetas. Se a gravidade do planeta não é muito grande, ela não consegue “segu-
rar” os gases altamente energizados e eles escapam para o espaço, o mesmo acontecendo com o vapor
d’água.
A translação mercuriana (o ano) é muito curta, dura 88 dias terrestres. A rotação (o dia) é extre-
mamente lenta e dura 1.416 horas, o que equivale a quase 59 dias Terrestres! Um estudante teria um
ano letivo muito curto, mas em compensação o dia de aula seria tedioso!
Mercúrio orbita sua tórrida trajetória inteiramente sozinho. Nunca foi visto nenhum satélite em
torno do pequenino mundo cinza.
A ausência de atmosfera permite a penetração dos meteoritos sem que haja qualquer tipo de frena-
gem. Como resultado, sua superfície é inteiramente coberta por crateras de impacto. Nos mundos onde
existe atmosfera, a massa gasosa protege a superfície de choques com meteoritos. A massa meteorítica
é queimada, por atrito na atmosfera, formando o que conhecemos por meteoros ou como popularmente
são conhecidos: estrelas cadentes.
O núcleo do planeta é formado por metais, e seu tamanho é relativamente grande se levarmos em
conta as pequenas dimensões planetárias. Uma análise comparativa da densidade de Mercúrio com a
da Terra mostra que o núcleo mercuriano ocupa cerca de 75% do volume do planeta e deve ser extre-
mamente rico em ferro. Sua densidade é cerca de 5,50 e a da Terra é 5,52 (a densidade da água, que é
usada para comparação, é 1). A região externa (a superfície) é formada quase que dos materiais do
manto terrestre: silicatos.
A forma da órbita mercuriana, pouco excêntrica (a excentricidade é uma grandeza que mede o a-
chatamento das elipses), somada às velocidades de translação e de rotação fazem o Sol se comportar
estranhamente no céu mercuriano. Por um breve período de uma semana, durante a passagem de Mer-
cúrio pelo periélio (menor distância ao Sol), um observador na superfície mercuriana por ver o Sol ir
diminuindo sua velocidade no céu até que para, anda um pouco para trás e depois reinicia seu caminho
lento e habitual. Para os mais desavisados isto seria certamente interpretado como um milagre ou como
uma interferência divina.
Mas não fica somente nisso, o Sol mercuriano ainda tem outro capricho. Um observador localiza-
do a 90o de longitude de uma das bacias polares, a Caloris (lugar mais quente do planeta), veria o Sol
nascer e se pôr duas vezes no mesmo dia, durante a passagem pelo periélio. Isso ocorre devido à com-
posição de movimentos do planeta.
Uma atmosfera, além de proteger um planeta do incansável bombardeio de meteoritos, permite
uma distribuição de temperatura mais uniforme. A camada gasosa faz com que não haja uma diferença
muito grande entre a temperatura do dia e a da noite. Em Mercúrio, a superfície atinge 227 oC durante
o dia e cai para -173 oC à noite. Essas diferenças são bruscas e, no terminadouro (a linha que separa a
noite do dia), as rochas se fragmentam devido às mudanças bruscas de temperatura.
Em março de 1974, Mercúrio recebeu a visita do Homem, através de seus prolongamentos dos o-
lhos e do cérebro: a Mariner 10 orbitou o planeta mandando à Terra muitas fotografias e diversos in-

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formes que foram fundamentais para a compreensão final do planeta e talvez da própria formação do
Sistema Solar.
A distância Sol-Mercúrio é de 57 milhões e 900 mil quilômetros. Em escala astronômica isso é
muito pouco. Para fazermos uma comparação, essa distância é igual a 27.200 vezes a distância entre
Porto Alegre e Brasília, o que não é muito.
A massa de Mercúrio é da ordem de 3,34 X 1023 quilogramas. Mercúrio é um mundo inóspito, á-
rido e muito hostil à vida.

Afrodite: um inferno velado


Se os antigos soubessem, mesmo que fosse um pouquinho só, como é Vênus, jamais teriam dado a
ele o nome da deusa da beleza e do amor. Vênus é muito intrigante, mas está longe de ser belo. Lá é a
residência ideal para o próprio demônio. E parece que ele se diverte criando mistérios incríveis para o
Homem.
Vênus está perto da Terra, portanto os dois planetas foram formados praticamente da mesma “par-
te” da nuvem primordial. A composição química de Vênus é a mesma da Terra, com uma importante
exceção: Vênus não tem água! E não temos a menor certeza do que aconteceu a ela, se é que existiu.
A atmosfera é muito rica em dióxido de carbono (o nosso conhecido gás carbônico), a da Terra
também o foi, mas os oceanos absorveram parte do gás e também foi associado à crosta terrestre, cri-
ando as rochas carbônicas. Mas, em Vênus, não tendo oceanos, o gás ficou poluindo a atmosfera. Isso
já era suficiente para torná-la irresistível para a vida terrestre, mas não satisfeito, Vênus tem outra par-
ticularidade: a atmosfera é rica em ácido sulfúrico! Imaginem que chuva belicosa existe por lá!
Toda essa fantástica atmosfera, muito densa, é responsável pelo famoso efeito estufa. Isso significa
que a luz solar entra na atmosfera, aquece a superfície do planeta, que passa a emitir radiação infra-
vermelha (“raio” de calor) que não sai de volta para o espaço. A realimentação da radiação infraverme-
lha novamente aquece a superfície planetária, o que novamente aumenta a temperatura e isso faz com
que a superfície venusiana chegue a 460 oC! Essa é a maior temperatura já registrada no Sistema Solar,
com a óbvia exceção do Sol. Não existe uma chuva de ácido sulfúrico, somente, mas é uma chuva
quente!
A pressão atmosférica na superfície chega a ser 90 vezes maior que a pressão na superfície da Ter-
ra. Cada centímetro quadrado está sob a fantástica pressão de 100 quilogramas! Num mundo desses, as
sondas soviéticas e norte-americanas não conseguiram funcionar por mais de 1 hora. Mas essa pequena
vida útil foi suficiente para nos enviar muitas informações importantes e surpreendentes.
Todos esperavam que a superfície venusiana fosse desgastada, que a erosão fosse muito forte, pois
a pressão, a temperatura e a composição química da atmosfera sugeriam isso. Mas não é assim. As
imagens enviadas pelas sondas soviéticas da série Venera mostraram rochas pontiagudas com bordas
bem demarcadas! As surpresas não acabaram por aí. Até uma altitude de 31 quilômetros, a atmosfera
se mostra clara e tranquila! A luminosidade até essa altitude corresponde à de um dia nublado aqui na
Terra. Contrastando com a tranquilidade dessa camada atmosférica, temos camadas superiores aonde
os ventos chegam a 360 quilômetros por hora.
A superfície venusiana, coberta por basalto (rocha formada de lava vulcânica), conforme o mais
detalhado estudo já feito pelas sondas soviéticas Venera, possui vulcões, como se fosse um requinte
final para impedir, de vez, a presença humana no planeta. Pelo menos uma vantagem o Homem teria,
se pousasse em Vênus. Devido à enorme temperatura da superfície, as gotas de chuva de ácido sulfúri-
co não a alcançam, evaporam antes de atingi-la, liberando os homens de usarem um inusitado e incô-
modo guarda-chuva!
A lenta velocidade de rotação do planeta parece ser a responsável pela ausência de um campo
magnético. Na Terra, tudo indica que a rotação provoca correntes no núcleo metálico, causando o apa-

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recimento do campo magnético; em Vênus, com a rotação tão lenta que o dia é maior que o ano, esse
efeito não surge.
A duração do ano venusiano é de 224,7 dias terrestres (224 dias, 16 horas e 48 minutos) e o dia du-
ra... 5.832 horas, o que equivale a 243 dias terrestres. Mais uma estranha surpresa nos aguarda em Vê-
nus: ele gira ao contrário dos outros planetas! Gira de leste para oeste, como foi descoberto pelos
radares baseados na Terra, durante a década de 60. Existem inúmeras teorias para explicar essa fato,
embora nenhuma delas tenha um caráter definitivo. A maioria é extremamente tola, como a que diz
que Vênus e a Terra se chocaram no passado remoto, provocando a inversão do movimento rotacional
venusiano.
A sonda norte-americana Pioneer-Vênus descobriu outro dado muito estranho sobre esse planeta já
coroado de ocorrências surrealistas. A uma altitude entre 70 e 95 quilômetros, a temperatura do ar é de
15 a 20 oC mais quente nos polos do que no Equador!
Nós sabemos que os planetas são achatados nos polos e, consequentemente, mais bojudos no e-
quador. Todos os planetas? Certamente que não! Vênus é esférico! Não foi possível detectar-se ne-
nhum achatamento neste cada dia mais misterioso planeta.
Existe uma hipótese para explicar para onde foi toda a água que um dia, talvez, tenha existido em
Vênus. Primeiro foi imaginado que lá existiu uma quantidade de água igual à da Terra. Depois foi cal-
culado como ficaria a pressão atmosférica se toda essa água fosse vaporizada e chegou-se à espantosa
cifra de uma pressão de 300 atmosferas. Isso equivale a uma pressão exercida por 500 quilogramas em
cada centímetro quadrado, o que condenaria Vênus a um efeito estufa muito forte.
Devido à presença do vapor d’água na atmosfera, a temperatura da superfície chegaria a 1.800 oC.
O que é uma temperatura suficiente para fundir rochas! E Vênus fundiu-se até a profundidade de 450
quilômetros. Enquanto isso, a luz ultravioleta do Sol ia decompondo a água atmosférica em hidrogênio
e oxigênio. O levíssimo hidrogênio ia escapando para o espaço, enquanto o oxigênio misturava-se com
a rocha fundida, formando rochas oxidadas. Em cerca de 250 milhões de anos, todo o hidrogênio teria
escapado e o oxigênio estaria integrado à crosta. Isto é uma hipótese, muito boa, mas, ainda assim,
uma hipótese.
Muitas vezes recebemos a visita de “venusianos”. Os defensores dessas ideias não imaginavam o quão
terrível era o ambiente venusiano. Era apenas uma tentativa de diminuir a solidão humana. O Homem
ainda sonha em encontrar companhia na galáxia. Talvez um dia consiga o seu intento, porque, sepa-
rando o sonho da realidade, temos apenas a condição humana.

Gaia e Selene: o planeta da vida e o planeta da desolação

Com uma azul suave, a Terra se mostra bela e tranquila a um viajante do espaço. De longe, lá do
alto de uma órbita, é totalmente impossível detectar-se qualquer indício de que o planeta abriga vida.
Vista de uma grande distância, a sensação é de paz e de tranquilidade. Imersa no frio e no silêncio do
espaço, nossa residência planetária navega sua órbita em torno do Sol quase indiferente à presença de
seus tripulantes. Dentre todos os planetas do Sistema, o nosso se destaca, com seu azul, tal um farol
que indica ao navegante do espaço quão belo é o porto a que se dirige.
Nascida há 4 bilhões e 500 milhões de anos, a Terra vem evoluindo sem parar, desde então. Inú-
meras mudanças ocorreram em sua superfície até chegar à configuração que habitamos hoje. Sua at-
mosfera era bastante diversa da que hoje nos protege e nos permite respirar.
A atmosfera primitiva era diferente da atual. Nos primórdios da Terra não havia oxigênio como e-
xiste hoje em dia. O hidrogênio perdeu-se no espaço; o dióxido de carbono foi sendo absorvido pelas
águas e pelo solo, formando, entre outros minerais, o nosso conhecido mármore.
Naquela época o espaço estava cheio de rochas, remanescentes da formação do Sistema Solar. Es-
sas rochas tornavam-se meteoritos que castigavam a superfície do planeta, que ainda estava em seu
berço. Desses choques, muitas vezes fantásticos, apareceram o oxigênio atmosférico e os gases atuais.

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Os meteoritos possibilitaram a formação da atual atmosfera, criando, assim, a possibilidade do
surgimento da vida, que uma vez estabelecida contribuiu para sua composição atual, pois consumia gás
carbônico e liberava o oxigênio. Assim foi preparado o terreno para o aparecimento dos animais e,
entre eles, o homem.
Nossa atmosfera pode ser dividida em troposfera, que significa zona de perturbações, e se estende
desde o nível do mar até 15 quilômetros de altitude. Nela ocorre a maioria dos fenômenos meteoroló-
gicos. Na parte mais alta a temperatura é de -56 oC. É aqui que ocorrem os ventos mais violentos, po-
dendo chegar até a 500 quilômetros por hora.
Acima temos a estratosfera, que foi batizada com esse nome por não possuir correntes de ar verticais,
somente horizontais. A estratosfera vai dos 25 até os 50 quilômetros de altura. A temperatura aumenta até
chegar aos -8 oC. A maior concentração de ozônio (forma de oxigênio com três átomos ao invés de dois,
que é a forma mais comum) está nesta camada, tornando-a de suma importância para a vida terrestre, por-
que o ozônio protege nossa superfície dos raios ultravioleta, vindos do Sol, que são letais.
A próxima camada é a ionosfera, que recebeu esse nome devido à grande concentração de íons. É a ra-
diação cósmica e a ultravioleta que ionizam os átomos dessa camada que vai de 50 km até os 700 km. Até
a altura de 85 km, aparece a subcamada chamada mesosfera, onde a temperatura vaia de -8 oC até -80 oC.
Aí aparecem as formações de nuvens cirros, e é nesta camada que as ondas de rádio são refletidas, possibi-
litando uma comunicação a longa distância. Os meteoros se manifestam nesta altitude.
Além dos 85 km, a temperatura aumenta rapidamente até 1.220 oC, durante o dia e 750 oC durante
a noite. É bom deixar claro que essa temperatura não é o mesmo conceito de temperatura que temos
aqui na Terra. É uma temperatura que mede o movimento dos íons formadores da camada e chama-se
termosfera, e é nela que ocorrem as auroras polares.
A última e menos densa das camadas aparece agora e tem o nome de exosfera. Sua temperatura é
de 1.220 oC. A densidade dessa zona é muito baixa, varia de 108 (100.000.000) até 100 partículas por
centímetro cúbico.
Acima de nossa atmosfera, a Terra ganhou um novo guardião. Às 10 horas e 10 minutos do dia 7
de fevereiro de 1984, o astronauta norte-americano Bruce MacCandless se livra de suas ligações com a
nave recuperável Challenger e se liberta no espaço! É o primeiro voo livre do Homem no espaço. É um
feito memorável. Toda a Humanidade, assim como seu planeta natal, desliza sob seus pés. Bruce, figu-
ra branca no espaço negro, mais lembra o voo de um guardião a orar por todos nós...
Demorou muito, mas chegou o dia! O Homem tira os pés da Terra e, finalmente, os coloca no
céu... Todas as noites, vislumbramos o céu noturno que nos fascina e estimula. Percorrendo a escuri-
dão celeste, incansavelmente, a Lua ilumina a arte e a poesia dos homens. Até que, quebrando todo o
mistério, terminando com as ilusões, Neil Armstrong “deu um pequeno passo para um homem, mas
um gigantesco salto para a Humanidade” – andou em solo lunar no dia 21 de julho de 1969.
Afinal, a Lua era sólida, não era coberta por nada pegajoso ou mesmo habitada por selenitas beli-
cosos. Era um mundo morto e seco. Algumas outras vezes, o homem andou pelo solo lunar, até as via-
gens serem suspensas por motivos financeiros. Mas como é a Lua?
Sua paisagem é monótona, marrom, coberta por crateras geradas por choques de meteoritos, igual
ao caso de Mercúrio. A Lua não tem atmosfera. Durante as grandes explosões solares, quando o Sol
envia ao espaço, com violência inusitada, grande quantidade de gás podemos encontrar traços de hi-
drogênio na Lua. Mas, aos poucos, ele vai sendo cedido ao espaço e ela volta à sua condição anterior.
A principal consequência da companhia da Lua é sua interação gravitacional. Essa interação gera o
conhecido e muitas vezes não compreendido fenômeno das marés. Existem marés nos oceanos e nos
continentes. As marés oceânicas são facilmente observadas, pelo fato de os líquidos serem mais plásti-
cos do que os sólidos, sofrendo uma deformação muito maior como resultado de forças iguais. A força
gravitacional da Lua “puxa” os oceanos da Terra, criando a maré cheia, enquanto em pontos defasados
de 90o a maré será baixa. A Lua “carrega” a maré alta em seu caminho em torno da Terra.
Como o núcleo da Terra é sólido, os continentes se comportam como se flutuassem sobre ele, pos-
sibilitando o surgimento de marés continentais não fortes o suficiente para gerar qualquer tipo de pro-
blema para nós. É imperioso deixar bem claro que esse fenômeno não tem nenhuma relação com os
terremotos.

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Geologicamente a maior incidência na Lua é o basalto com feldspato entre 60 e 70%. Essa rocha
recebe o nome de “kreep”. Há bastante silicato na superfície lunar. O granito também aparece, sendo
que 1% das rochas lunares tem origem “extralunar”, resultando dos restos dos meteoritos.
A fina poeira que cobre a superfície lunar é oriunda da pulverização das rochas lunares por impactos
de meteoritos e pelas bruscas mudanças de temperatura a que são expostas. Durante o dia, a temperatu-
ra é de 120 ºC e à noite cai bruscamente para -150 oC.
Como o período de rotação da Lua coincide com seu período de translação, temos sempre a mesma
face lunar voltada para nós. Isto significa que o outro lado não se mostra a nós, mas recebe luz solar.
Não existe o famoso lado escuro da Lua, apenas um que não é visível.
Podemos ver 59% da superfície da Lua e não os esperados 50%. Isto porque existe uma oscilação
do eixo da Lua que permite esse fato. A essa oscilação, chamamos de libração da Lua.
O movimento de translação ao redor da Terra cria um dos efeitos mais interessantes e injustiçados:
as fases da Lua. As fases são devidas às posições que o sistema Terra-Lua assume durante seus movi-
mentos. A Lua não muda de tamanho, portanto suas influências gravitacionais não se modificam. Não
têm nenhuma lógica as influências atribuídas às fases, por milênios. A única influência que há é na
arrecadação dos cabeleireiros, pois muita gente insiste em cortar os cabelos orientada pelas fases da
Lua que se mantém indiferente a essa insensatez.
A Lua continuará iluminando os homens, ausente de suas crendices, incólume aos medos e mitos. Não
importa o que os homens pensem a seu respeito, ela continuará seu caminho, servindo unicamente como
relógio ou calendário, pois todos os poderes atribuídos a ela estão realmente... dentro dos homens.

Ares: um planeta ferido de morte


Marte, por sua colocação avermelhada, sempre atraiu a atenção humana para si. Carrega a trágica
honra de ter o nome do deus da guerra. Quão fascinante é imaginar que existe, bem perto de nós, um
planeta que deve ser habitado! Quantas vezes os homens imaginaram habitantes para o nosso irmão
planetário. Curiosamente, quase sempre os habitantes de Marte eram verdes! Esse é um mistério maior
do que saber se realmente existe vida em Marte.
Essa pergunta ainda não está inteiramente respondida. Já sabemos que não existe vida inteligente
ou mesmo alguma forma de vida macroscópica, mas a existência de vida microscópica ainda é um
mistério. As experiências efetuadas pelas naves Vicking que lá pousaram em 1976 não foram conclu-
sivas, e as atividades das duas sondas foram suspensas por falta de recursos financeiros, porque fabri-
car bombas é mais importante do que estudar o Sistema Solar, dentro do pensamento do grupo que
manipula as verbas da NASA.
A cor de Marte nada tem de belicosa. Nós fomos inúmeras vezes invadidos por pequenos marcia-
nos verdes. Talvez influenciados pela cor de sangue, os homens transferem aos hipotéticos marcianos
toda sua violência. E nós, que habitamos um belo planeta azul e caçamos animais e... homens?
Quando da época da formação de Marte, uma grande quantidade do ferro que está no planeta ficou
na superfície, ao invés de se alojar no centro do planeta, conforme ocorreu com os outros. Essa camada
de ferro foi lentamente reagindo com o oxigênio da atmosfera. O resultado dessa reação química foi
que a superfície marciana ficou coberta por óxido de ferro é um velho conhecido nosso, pois é vulgar-
mente conhecido por ferrugem. Marte é o único exemplar conhecido de planeta enferrujado!
Os leitos secos dos rios marcianos testemunham uma época em que havia água líquida na superfí-
cie. O desaparecimento da água feriu Marte... de morte.
Os famosos canais marcianos não existem. Durante muito tempo eles foram motivo de controvér-
sias, pois Percival Lowell, astrônomo norte-americano, era defensor ferrenho dessa hipótese e chegou
a desenhar mapas de Marte, onde apareciam os canais, concluindo, como isso, que os marcianos ti-
nham uma avançada civilização tecnológica. Foram somente tentativas desesperadas de encontrar
companhia para os homens, mas nada adiantou. E nós? Continuamos sozinhos no Sistema Solar.

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A temperatura da superfície marciana varia de -123 oC a 25 oC, no equador. O problema da sobre-
vivência do homem em Marte não é sua temperatura, que é perfeitamente suportável, o problema con-
siste na atmosfera muito rarefeita. A pressão atmosférica, na superfície, é cerca de 100 vezes menor
que a pressão ao nível do mar, aqui na Terra.
De um modo geral, Marte não é muito hostil à presença humana e futuras gerações podem perfei-
tamente coexistir com colônias humanas em solo marciano, tornando realidade a profecia antiga de
que Marte era habitado, só que, desta vez, os marcianos seremos nós.
Marte é um planeta com muitas crateras. A atmosfera, sendo fraca, não impede que os meteoritos
bombardeiam sua superfície. Entre outras formações montanhosas, lá se encontra o maior vulcão já
visto pelo homem. É o Monte Olimpo, que mede 24 quilômetros de altura, isto é, três vezes a altura do
Monte Everest, na Terra. A cratera deste vulcão mede perto de 28 quilômetros de largura e a base da
montanha tem, de comprimento, cerca de 620 quilômetros, o que é quase uma vez e meia a distância
entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Marte tem calotas polares que variam em função da estação do ano. Elas são compostas principal-
mente por “gelo seco”, que é a forma congelada do gás carbônico (hoje é o gás mais abundante na ra-
refeita atmosfera marciana, contribuindo com a percentagem de 95%); alguma água também se
encontra nas calotas polares.
Supõem-se que também encontremos água congelada abaixo da superfície, formando uma camada de
gelo logo abaixo do solo. Isso acontece na Terra, nas regiões árticas, e é conhecido por “permafrost”.
Dois satélites compartilham, com Marte, seu caminho em torno do Sol. Eles são Fobos e Deimos
(veja Os Nomes: Quem São Eles?). Provavelmente, são dois pequenos asteroides aprisionados pela
gravitação marciana. Não passam de duas pequenas rochas de forma alongada, parecidas com um pão.
Fobos tem, por dimensões, 27 X 21 X 19 quilômetros, e Deimos, 15 X 12 X 11 quilômetros. Dentro da
Lua caberiam mais de 1 milhão e 700 mil Fobos e 11 milhões e 450 mil Deimos!
O ano marciano é praticamente o dobro do ano terrestre. Ele equivale a 1,88 ano da Terra, e a du-
ração do dia é extremamente similar à do nosso, sendo de 24 horas e 37 minutos.
É possível que Marte esteja em uma fase de sua existência que anteceda o surgimento da vida. Po-
de ser que essa seja apenas uma esperança humana de não estar só. A água pode estar aguardado o
momento certo de surgir na superfície, CO2 para os vegetais existe de sobra, é só esperar, pois Marte
está apenas ferido de morte, mas ainda resta uma esperança.

Afrodite: um inferno velado


Dentre todos os deuses, Júpiter se destacava: um dos mais poderosos. Comandante supremo, nin-
guém lhe era superior. Com o planeta é quase assim. Maior que todos os outros juntos, Júpiter é co-
mandante gravitacional do Sistema e só perde para o imperioso Sol.
Se reuníssemos a massa de todos os planetas restantes, a massa joviana seria duas vezes e meia su-
perior àquela soma. Se em algum lugar da galáxia existem astrônomos que já detectaram a presença de
planetas em torno do Sol, eles certamente só seriam capazes de inferir a presença de Júpiter, a existên-
cia de outros planetas ficaria, para eles, no campo da pura especulação.
Tudo é gigante neste ciclópico planeta. Seu aspecto, bastante conhecido, apresenta a famosa man-
cha vermelha. Muita coisa já foi pensada e escrita a respeito. Muito mistério ainda existe em torno de-
la. Atualmente se acredita que seja o topo de um furacão que ocorre na densa atmosfera joviana há
muitos anos.
Quando Galileu observou Júpiter com sua primitiva luneta, em 1610, não registrou a presença da
Grande Mancha Vermelha. Possivelmente a mancha estava em fase mais clara e a luneta não era muito
boa. É possível também que ela ainda não existisse, pois se é uma tempestade, deve ter tido um início e
terá, certamente, um fim. O primeiro registro da mancha vermelha apareceu em 1664. Quem a obser-

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vou foi o inglês Robert Hooke, e a mancha passou a ser conhecida como Mancha de Hooke. Uma nova
referência a ela aparece em 1831, é dada por Heinrich S. Schawabe, astrônomo alemão.
Somente no ano de 1878 é que inicia uma série contínua de observações da mancha, agora rebatizada
como Grande Mancha Vermelha. Neste ano, Ernest W. Tempel, astrônomo alemão, a descreve como uma
elipse oval situada a 20o ao sul do equador, com o diâmetro maior paralelo ao Círculo Máximo.
O diâmetro maior da mancha mede 45 mil quilômetros e sua largura é de 13 mil quilômetros. Den-
tro dessa mancha cabem, com folga, três Terras! A atmosfera joviana é extremamente densa e comple-
xa: todo o planeta é complexo.
A ideia tradicional que temos de um planeta, com uma superfície sólida, onde podemos pousar
nossas naves, não tem lugar entre os planetas gigantes. Júpiter é uma mistura de líquido com gás. O
que vemos, ao observar o planeta, é o topo das nuvens, que têm uma espessura de 240 quilômetros.
Sendo composta de 82% de hidrogênio e 17% de hélio, outros gases contribuem com a pequena per-
centagem de 1%.
Logo abaixo das nuvens, vem uma camada de transição entre hidrogênio gasoso e líquido, com
17.000 quilômetros de espessura. Essa camada circunda outra, que contém hidrogênio líquido e hidro-
gênio metálico (o hidrogênio metálico é um estado que surge quando a pressão é extremamente alta e
os elétrons ficam soltos e assumem a liberdade de vagar de um átomo para outro; este estado é denso e
sólido), com a espessura de 44.000 quilômetros, uma temperatura de 11.000 oC e uma pressão de 3
milhões de atmosferas. Abaixo disso, um pequeno núcleo rochoso, com a temperatura de 30.000 oC,
com o tamanho da Terra!
Suas nuvens apresentam marcas distintas. Elas são divididas em faixas escuras e claras. As claras são
as Zonas, que são esbranquiçadas, e as escuras são os Cinturões, que são amarelo-alaranjados. Essas
regiões têm o período de rotação diferenciado, isto é, giram com velocidades diferentes. O dia médio
joviano é muito pequeno. O gigante, com seu volume superior ao de 1.000 Terras, gira com rapidez
suficiente para que seu dia dure apenas 9 horas e 50 minutos!
A temperatura no topo das nuvens, conforme a nave norte-americana Pioneer mediu em 1974, é de
-118 oC e, surpreendentemente, não existe diferença entre a temperatura dos polos e a do equador!
Os planetas recebem energia do Sol e, portanto, a energia liberada por um planeta tem de ser me-
nor do que a que recebe do Sol. Com Júpiter não é assim, pois ele brinca de estrela e produz energia
em seu interior. Para um planeta, convenhamos, é uma atividade inusitada. A composição química do
planeta é muito mais para estrela do que para planeta. Júpiter é uma estrela frustrada, que não teve
pressão nem temperatura suficientes para iniciar o processo de fusão nuclear.
O campo magnético joviano é muito forte e se estende por uma região maior do que supunha, e es-
se engano quase custou a missão Pioneer, que escapou de ser destruída pelas poderosas forças magné-
ticas de Júpiter. O campo magnético joviano é invertido em relação ao terrestre, o que significa que se
utilizássemos uma bússola, lá em Júpiter, a agulha apontaria para o sul.
Existem 16 satélites conhecidos girando em torno de Júpiter. Esse dado não é definitivo, pois é
quase certo que existem dezenas de pequenas rochas orbitando o planeta dos deuses, asteroides e re-
manescentes da formação do Sistema. Deste conjunto, destacam-se os quatro maiores e mais famosos
satélites do Sistema Solar, os galileanos. São eles: Io, Europa, Ganimedes e Calisto.
Já foram identificados 10 vulcões em IO, e são extremamente violentos. Uma erupção observada
em um deles, o Pele – um vulcão em forma de coração –, mostrou que ele expelia matéria com uma
velocidade superior a 3.500 quilômetros por hora!
Parece que existe uma fina camada de enxofre cobrindo um oceano de enxofre líquido que repousa
em um núcleo rochoso. Alguém pousado em Io veria neve laranjada caindo do céu com pedaços de
enxofre derretido, se solidificando na superfície pelo terrível frio de -110 oC. Io é a filial do próprio
inferno, se bem que frio!
Europa é o menor dos galileanos. Sua superfície é monótona, não possuindo vales, crateras ou
mesmo montanhas. A visão de sua superfície apenas mostra um intrincado desenho de linhas claras e
escuras, que podem ser fissuras na superfície congelada do satélite. A ausência de crateras pode ser
explicada, se imaginarmos que uma eventual formação desse tipo seria imediatamente fechada pelo
gelo meio derretido que afluiria das camadas mais inferiores.

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Ganimedes tem, de diâmetro, 5.280 quilômetros. Este satélite é maior do que Mercúrio. A superfí-
cie de Ganimedes é coberta por uma camada de gelo, com uma espessura entre 80 e 90 quilômetros, e
sob ela há uma camada de água líquida ou de gelo macio, cobrindo um núcleo rochoso. Existem mon-
tanhas razoavelmente altas e, apesar de seu tamanho, nenhum traço de atmosfera foi detectado. Gani-
medes é um mundo morto.
Calisto é o mais externo dos galileanos e o menos denso. Existe uma grande quantidade de gelo
cobrindo o núcleo rochoso de alguns quilômetros. Sua superfície é tão coberta por crateras que parece
não existir nenhuma parte plana. A superfície de Calisto é gelada e muito antiga. Talvez a mais antiga
que já observamos no Sistema Solar.
A Voyager 1 descobriu mais uma formação ao redor de Júpiter: um anel. Na verdade, não é um anel
muito grande, é bastante pequeno, com 49 quilômetros de espessura, e não pode ser visto da Terra.
Mesmo a nave Pioneer não conseguiu detectá-lo. Ele é formado praticamente de poeira. É mesmo pos-
sível que não seja permanente.
O que pensaria Galileu se estivesse vivo, hoje, para saber sobre seus satélites tudo que sabemos?
Talvez nem acreditasse no que veria. E seus algozes, o que diriam? Provavelmente iriam querer fazer
uma fogueira para “assar” as sondas Pioneer e Voyager!

Cronos: o senhor dos anéis


Saturno é um mundo muito semelhante a Júpiter em seu modelo básico de estrutura: um núcleo ro-
choso, relativamente maior que o núcleo de Júpiter, coberto por camadas inferiores de hidrogênio me-
tálico e as superiores de hidrogênio líquido. O hélio também aparece de uma forma abundante.
Não apresenta na superfície nenhuma marca predominante, como a Grande Mancha Vermelha.
Seu período de rotação é muito curto, chegando a 10 horas e 39 minutos.
Como seu irmão maior, Saturno também emite mais energia do que a recebida pelo Sol. O motivo
dessa “fabricação” de energia deve ser a mistura de hidrogênio com hélio. O hélio congelado nas ca-
madas mais exteriores se condensa em “gotas” que caem em direção ao centro do planeta e o atrito
dessas gotas com o hidrogênio líquido produz a energia que detectamos.
De início, foram observados dois anéis em Saturno que foram batizados, em 1826, com as letras A
e B. Mais tarde, um novo anel foi descoberto e chamado de anel C. Entre os anéis A e B, existe uma
separação, chamada Divisão de Cassini, em homenagem a seu descobridor, e dentro do anel A existe
uma pequena brecha, chamada Divisão de Encke. Os anéis medem 271.000 quilômetros de um lado a
outro. Com a chegada das sondas norte-americanas Voyager, mais anéis foram descobertos. Mais exte-
riores aos A e B foram vistos os F, E e G. A ordem alfabética perdeu-se inteiramente! Finalmente ficou
claro que não existiam 7 ou 8 anéis mas milhares deles! As faixas que identificávamos como anel A ou
B eram, na verdade, uma miríade de anéis e brechas, que vistos da Terra pareciam contínuos.
Os anéis são constituídos de poeira e fragmentos de rocha, cobertos de gelo. É essa cobertura que é
responsável pelo intenso brilho dos anéis. Ela reflete muito a luz solar, tornando possível a um obser-
vador baseado em terra, com um pequeno instrumento, visualizá-los.
A atmosfera saturnina é a detentora da maior atividade jamais observada no Sistema solar. Seus
ventos chegam a ultrapassar os 1.600 quilômetros por hora.
Apesar de seu tamanho ser considerável, cerca de nove vezes e meio o diâmetro da Terra, sua mas-
sa não acompanha esse gigantismo. Saturno é menos denso do que a água. Se fosse possível colocá-lo
dentro de um oceano, ele flutuaria!
Saturno possui o único satélite com atmosfera que conhecemos. É Titã, um estranho mundo. Sua at-
mosfera é quase que totalmente formada de gás metano (composto orgânico formado por um átomo de
carbono e quatro de hidrogênio). Essa substância facilmente se une entre si para formar moléculas maiores,
como o etano e o etileno, que são os responsáveis pela coloração alaranjada da atmosfera de Titã.

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Os hidrocarbonetos (essas substâncias compostas por carbono e hidrogênio), com vários átomos de
carbono, se liquefazem com mais facilidade que o metano, por isso a superfície de Titã deve ser coberta
por um oceano de hidrocarbonetos, em outras palavras, Titã deve ser coberto por um mar de gasolina!
Os satélites de Saturno têm outra surpresa para nós. Existem satélites múltiplos, como Tétis, que
divide sua órbita com os satélites S 16 e S 17 (ainda sem nomes próprios), e Dione A e Dione B. Co-
nhecíamos estrelas múltiplas, planetas duplos (vejam Plutão) e, agora, satélites múltiplos. Todos pare-
cem abominar a solidão, no Universo.
Com Saturno termina o Sistema Solar conhecido desde a antiguidade. O Sistema Solar, daqui para
frente, somente se tornou conhecido em um passado recente.

Urano, Poseidon e Hades: os confins do Sistema Solar

O ano era 1781, o observador, William Herschel, um astrônomo alemão radicado na Inglaterra. O
equipamento, um telescópio de 15 centímetros de diâmetro. O resultado, a descoberta de um novo
componente do Sistema Solar: Urano.
Muito tempo se passou até nós aprendermos alguma coisa de mais concreto, sobre Urano, do que
sabíamos naquele distante dia do século XVIII. Isto porque o novo astro está a uma distância espanto-
samente grande da Terra e, obviamente, do Sol. Esta distância é de 2 bilhões e 869 milhões de quilô-
metros.
Somente sabíamos que se tratava de um gigante com 51.800 quilômetros de diâmetro, e que era
esverdeado. Nenhum telescópio pôde mostrar detalhes da superfície uraniana. Teoricamente, imaginá-
vamos que o planeta deveria ser formado por um núcleo rochoso coberto por hidrogênio líquido, que
seria então coberto pela atmosfera. Não é exatamente igual a Júpiter e a Saturno, pois a concentração
de hidrogênio e hélio é diferente, além de apresentar muita amônia, metano e água. A pressão central é
de 20 milhões de atmosferas e a temperatura chega a 6.730 oC, que é equivalente à temperatura da fo-
tosfera solar!
Uma característica muito curiosa e misteriosa de Urano é a inclinação de seu eixo de rotação em
relação ao plano de sua órbita. Enquanto essa inclinação, na Terra, é de 23.5o (essa inclinação é que é
responsável pelas estações do ano), a de Urano é de 98o. Isso faz com que Urano mostre ao Sol, e a
nós, seus polos! Durante uma parte do período orbital (o seu ano) um dos polos recebe luz e mais tarde
é o outro polo que recebe. É como se Urano “rolasse” em sua órbita. Devido à longa duração de seu
período orbital, 84 anos terrestres, a noite nos polos dura 21 anos terrestres, por causa dos movimentos,
e suas combinações, do planeta em órbita.
No dia 10 de março de 1977, três astrônomos – J. Elliot, T. Dunham e D. Mink –, a bordo do Ob-
servatório Aéreo Kuiper, que é um avião Lockheed C-141 adaptado, descobriram nove anéis em torno
de Urano. Essa descoberta foi fantástica. Jamais se pensou que outro planeta além de Saturno os possu-
ísse. O de Júpiter seria descoberto mais tarde, em 1979. Esses anéis diferem dos de Saturno por serem
escuros, quase como poeira de carvão.
Quase nada sabemos sobre seus cinco satélites conhecidos. São todos menores que a nossa Lua e
possivelmente com gelo e cobertos de crateras, mas isso é pura especulação, e devemos esperar que a
sonda norte-americana Voyager chegue até lá em 24 de janeiro de 1986, para sabermos mais alguma
coisa sobre o Sistema de Urano.
Um pouco mais distante está Netuno, o mais externo dos planetas jovianos. Os planetas são dividi-
dos em terrestres (com características físicas iguais às da Terra) e jovianos (com características pareci-
das com Júpiter). Os terrestres são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte e Plutão. Os outros são jovianos. Os
satélites são todos terrestres.
Netuno foi avistado por telescópio em 1846 por Johann Gottfriede Galle, astrônomo alemão. Galle
procurou Netuno com cartas marcadas, pois sua posição esta previamente calculada. Quando Urano foi
descoberto, os cálculos para ajustar sua órbita teimosamente não coincidiam com as posições observa-

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das Urano teimava em não entrar na órbita cuidadosamente calculada para ele. A única explicação para
essa teimosia era a existência de outro planeta que, com sua gravidade, atrapalhava a órbita teorica-
mente calculada. A caçada começou.
Em setembro de 1845, o matemático inglês John C. Adams pediu a Sir George Biddle Airy, astrô-
nomo real da Inglaterra, e a James Challis, diretor do Observatório de Cambridge, que verificassem o
céu na posição que ele indicava, pois lá estaria o novo planeta. Nenhum dos dois deu ouvidos ao jovem
e desconhecido matemático. Quase que ao mesmo tempo, o famoso astrônomo francês Urbain Jean
Joseph Leverrier fez os mesmos cálculos e chegou a uma resposta quase idêntica à de Adams, e quan-
do comunicou seus resultados em 1846 foi imediatamente ouvido e Galle descobriu Netuno nas coor-
denadas previstas. As honras ficaram para Leverrier, na época, mas hoje é atribuída a Adams a mesma
importância na descoberta do oitavo planeta.
Netuno é quase um gêmeo de Urano, seu tamanho é parecido, tem de diâmetro 49.500 quilôme-
tros, e é um pouco mais azulado que seu predecessor. A estrutura interna é praticamente idêntica.
Dois satélites são conhecidos e confirmados. Estudos recentes, datados de 1981, trouxeram à baila
duas importantes dúvidas. Uma é a existência de um terceiro satélite ainda não batizado e sem uma
órbita calculada, a outra é a suspeita de que Netuno também possui um sistema de anéis, fazendo com
que todos os planetas jovianos possuam tais formações. Em agosto de 1989, quando a sonda Voyager
chegar aos sistema de Netuno, essas dúvidas poderão ser desfeitas e conheceremos muito mais a res-
peito do último dos gigantes, o último dos jovianos.
O brilho de Netuno é tão pequeno (a distância dele ao Sol é da ordem de 7 bilhões e 497 mil qui-
lômetros), que ele foi observado em 1612 e 1613, por Galileu, que pensou tratar-se de uma estrela.
Agora chegamos à fronteira do Sistema Solar conhecido e encontramos por lá mais uma raridade:
não um simples planeta, mas um planeta duplo! A história recente está cheia de surpresas planetárias, e
os últimos anos nos têm mostrado que nosso sistema planetário é muito mais excitante do que imagi-
návamos.
Durante muito tempo se disse que o menor planeta do Sistema era Mercúrio. No que estávamos
redondamente enganados, pois essa primazia é de Plutão, que, com seus 3.100 quilômetros de diâme-
tro, é menor do que a nossa Lua.
A descoberta de Netuno trouxe outro problema, pois também esse astro não se “encaixaria” na ór-
bita calculada. Conclusão: havia um nono planeta que era o responsável por essa anomalia na órbita de
Netuno. A caçada recomeçou.
Até 1916, quando morreu Percival Lowell, o planeta ainda não fora encontrado. Lowell procurou-
o por grande parte de sua vida, mas em vão. Outra caçada, desta vez baseada nos cálculos do norte-
americano W. H. Pickering, feita em 1919, também não deu em nada. Em 1928 resolveu-se construir
um telescópio de 33 centímetros, que com seu amplo campo de visão poderia ver grandes regiões do
céu de cada vez. O instrumento foi financiado por A. Lawrence Lowell, irmão de Percival.
Desta vez o caçador era Clyde Tombaugh, um jovem astrônomo amador criado em uma fazendo
do Kansas, nos Estados Unidos, sem nenhuma qualificação além de uma fantástica paciência e muita
habilidade. Após um trabalho exaustivo, onde verificou placas fotográficas com mais de 90.000.000
estrelas, apareceu um pequeno ponto que se movia entre elas. Estava descoberto Plutão. O dia era 18
de fevereiro de 1930.
Apesar de Plutão ser frio, o nome do deus do inferno foi lembrado (veja Os Nomes: Quem São E-
les?) porque se inicia com as letras PL, que são as iniciais de Percival Lowell.
Plutão tem uma órbita muito estranha, que o leva a cruzar a órbita de Netuno. Não há perigo de
choque, mas faz com que, por longos períodos, ele não o planeta mais distante do Sol, como está ocor-
rendo agora. Até o ano de 1999, Netuno é o planeta mais distante do Sol, porque Plutão está passando
por “dentro” da órbita de Netuno.
Em estudos feitos em 1977, James Christy, do Observatório Naval de Washington, percebeu que,
nas fotografias feitas, Plutão aparecia muitas vezes um pouco alongado. Pediu confirmação a outros as-
trônomos do Observatório de Cerro Tololo, no Chile, o que veio a ser feito: Plutão tinha um satélite. Em
julho de 1978 novamente veio uma confirmação do fato, desta vez do Observados de Mauna Kea. Muitas
dúvidas ainda existiam, pois achavam que Plutão é que era alongado, e não havia um corpo ao seu redor.

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Até que chegou o dia 20 de junho de 1980 e o telescópio de Mauna Kea obteve uma foto em que apare-
ciam os dois corpos separados. Os astrônomos que tiraram a fotografia eram D. Bonneau e R. Foy.
Caronte, como foi batizado, não é um satélite normal. Ele tem um terço do diâmetro de Plutão e
está a menos de 20.000 quilômetros de sua superfície. O período de revolução de Caronte é de 6 dias, 9
horas e 17 minutos, o mesmo período de rotação de Plutão, o que provoca o inusitado efeito de um
satélite estacionário no céu plutoniano. Somente um hemisfério do planeta é capaz de avistar Caronte.
O aspecto final do sistema é o de um halter com massas de diferentes tamanhos.
A pequena massa de Plutão (mesmo somando-se a de Caronte) não explica as perturbações na ór-
bita de Netuno. Será que existe um décimo planeta? Esta é uma dúvida que persiste até nossos dias.
Em dezembro de 1983, o astrônomo Gerry Neugebauer, do Observatório do Monte Palomar e che-
fe do projeto do satélite telescópico IRAS (projeto conjunto dos Estados Unidos, Inglaterra e Holanda),
comunicou a descoberta de um corpo ainda não identificado, além de Plutão. Há uma boa chance de
ser o décimo planeta tão procurado. Se for, a distância dele à Terra é de 90 bilhões de quilômetros.
Ainda não há certeza apenas a de que a caçada recomeçou.

Asteroides e cometas: os caçulas e os mensageiros


O astrônomo italiano Giuseppe Piazzi estava trabalhando na correção de uma carta celeste, no final
do ano de 1800. Na última noite do ano, Piazzi estava examinando a constelação do Touro, quando
descobriu uma estrela que não se encontrava nas cartas celestes. Já passava da meia-noite, era 1o de
janeiro de 1801. No dia seguinte tomou sua posição e notou que ela havia se movido! No dia 3 de ja-
neiro, Piazzi teve certeza de que não poderia ser uma estrela. A primeira dúvida era se se tratava de um
cometa. Mas seu aspecto era inteiramente diferente. Parecia realmente ser uma estrela, só que se deslo-
cava! O matemático alemão Hohann Karl Friedrich Gauss calculou sua órbita e verificou que o objeto
descrevia uma trajetória em torno do Sol, e que ficava inteiramente entre as órbitas de Marte e Júpiter.
Feitos os cálculos finais verificou-se que a distância média do objeto ao Sol era de 413.800.000
quilômetros. Piazzi batizou-o com o nome de Ceres, a deusa romana da agricultura e da fecundidade.
Estavam descobertos os novos habitantes do Sistema Solar: os asteroides.
Os asteroides são corpos muito pequenos e de formas irregulares que habitam principalmente um
“cinturão” localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. Ceres é o maior asteroide conhecido, e tem
apenas 1.000 quilômetros de comprimento. Os que habitam o cinturão recebem nomes femininos da
mitologia grega, os que orbitam fora desta região têm seus nomes também da mitologia grega, mas
nomes masculinos.
Esses asteroides de nomes masculinos podem, às vezes, passar perto da Terra, como ocorreu com
Hermes, que em outubro de 1937 passou a 776.000 quilômetros de nós (o dobro da distância Terra-Lua).
Existem dois grupos que se destacam por suas posições, pois orbitam a mesma órbita que Júpiter.
Um grupo, o que orbita à frente de Júpiter, chama-se Troianos, e o que orbita atrás de Júpiter chama-se
Gregos. Como a configuração é constante, não há o perigo de os asteroides serem “atropelados” pelo
planeta gigante, e é possível agradar-se a gregos e troianos...
Hoje conhecemos centenas e centenas de asteroides. Eles recebem seus nomes de seus descobridores.
Quando um asteroide é descoberto, o astrônomo que fez a descoberta manda à União Astronômica
Internacional a notícia. Depois da confirmação da órbita ela é comparada com todas as outras, já co-
nhecidas, para que se tenha a certeza de não tratar de uma “redescoberta”. Estando tudo em ordem, o
descobridor o batiza.
No dia 7 de outubro de 1982 o astrônomo belga Henri Debehone batizou sua última descoberta
com um nome de Figueiredo em uma homenagem ao presidente do Brasil, que se tornou o segundo
brasileiro no espaço, pois existe uma cratera na Lua com o nome de Santos Dumont. O professor De-
bohone é astrônomo do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A des-

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coberta foi feita com base nas observações feitas no Observatório Sul-europeu, que fica em La Silla,
no Chile.
Outros corpos que habitam o Sistema Solar são os cometas. Durante séculos foram considerados
portadores de pragas e da má sorte. Ao invés de observarem os cometas, os antigos ficavam tentando
reparar o mal que a aparição trazia. O primeiro astrônomo a observar um cometa, com o cuidado de
registrar sua posição em relação às estrelas fixas, foi o alemão Regiomontanus (1436-1476), que ob-
servou um cometa muito brilhante que passou em 1472.
Aos poucos, o medo foi passando e a observação científica foi tomando o lugar das crenças e de
teorias absurdas como a do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.), que achava que os cometas eram
vapores flamejantes da atmosfera.
O processo de geração de energia que ocorre no Sol libera muitas partículas de alta energia e radi-
ações poderosas como a gama e a X. A esse conjunto chamamos vento solar. É apenas uma analogia,
nada tendo de vento, como concebemos na Terra. É esse vento que, ao se chocar com as cabeças co-
metárias, provoca a formação das caudas, que são os rastros deixados pelos cometas, enquanto eles
orbitam o Sol e se aproximam dele. As maiores caudas são formadas durante a maior aproximação ao
Sol, diminuindo conforme o corpo se afasta. Com isso o cometa “gasta” sua matéria, e cada vez que
passa está menor. Até que se acaba.
Por isso as caudas dos cometas não apontam para o Sol. É a mesma coisa que ocorre com o esca-
pamento dos automóveis, a fumaça fica sempre para trás.
Um cometa esquemático tem uma cabeça, que é formada por um núcleo e por uma região envol-
vente chamada cabeleira. Em média, uma cabeça tem 20.000 quilômetros de diâmetro (é maior do que
a Terra) e em alguns casos pode chegar até a 120.000 quilômetros! (Isto é, o diâmetro de Saturno!) Da
cabeça parte a cauda, que pode Ter dezenas de milhares de quilômetros de comprimento. A maior cau-
da já registrada foi a do cometa 1843 (isso significa que foi o primeiro a ser descoberto no ano de
1843), que tinha uma cauda de 323 milhões de quilômetros. Quando a cabeça do cometa estivesse per-
to do Sol, sua cauda ia além da órbita de Marte!
Mesmo com todo esse gigantismo, os cometas são muito pouco densos, sua massa não é condizen-
te com todo esse tamanho. Já foi dito que um cometa é o nada visível. A Terra já atravessou a cauda de
um cometa algumas vezes. Em 1861, atravessamos a cauda o Tebbutt, em 1910 atravessamos a cauda
do Halley e em 1975 atravessamos a do Suzuki-Saigura-Mori e nada nos aconteceu!
Quando a população da Terra soube que iríamos atravessar a cauda do Halley, em 1910, o pânico
se estabeleceu, e a humanidade voltou às origens. Houve gente que vendeu o que tinha e mudou-se
para as montanhas, como se elas estivessem a salvo de alguma “desgraça cometária”. Muita gente se
aproveitou da situação, como os ambulantes que vendiam, nas ruas de Nova Iorque, máscaras contra
gases de cometas!!
A origem dos cometas é atribuída a uma nuvem que circunda o Sistema Solar e é formada coma a ma-
téria que restou da nuvem primordial. Mas alguns cometas escapam do Sol para não mais voltar. Da mes-
ma forma, alguns cometas escapam de outras estrelas e podem chegar até nós. Os nossos, ao saírem, levam
nossas notícias para além do Sol, para os confins da galáxia. Os cometas podem se tornar mensageiros das
estrelas, nos trazendo notícias de outros sistemas estelares e levando as nossas até eles.
Os cometas parecem ser portadores de uma importante mensagem para os homens. Eles nos tra-
zem a melancolia da eternidade e nos mostram a brevidade da vida. Tal uma maldição, eles retornam...
e retornam... tornando-se testemunhas da mortalidade dos homens...

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Os nomes: quem são eles?*

SOL – Nome latino de Helios. Filho de titã Hipérion e da titânia Téia. Esposou Perse e tiveram quatro
filhos: Circe, Eetes, Pasífae e Perses. Sua principal função era trazer luz e calor à Terra. Partindo
da Etiópia, percorria o céu em um carro de fogo puxado por quatro cavalos brancos que soltavam
chamas pelas narinas. O Sol é representado por um jovem extremamente belo, coroado de raios
luminosos e conduzindo um carro flamejante.
MERCÚRIO – Nome latino de Hermes, uma das doze divindades do Olimpo. Filho de Júpiter e Maia
nasceu no Monte Cilene, na Arcádia. Inventou a lira e a flauta. Júpiter fez dele seu arauto. O nome
deste deus foi emprestado ao planeta mais veloz do Sistema Solar. Inicialmente, Mercúrio era in-
vocado como deus dos pastores e protetor dos rebanhos, mais tarde passou a ser invocado como
deus das estradas e depois do comércio e dos ladrões. É representado como um jovem nu ou com
uma túnica curta. Na cabeça, um chapéu de abas largas, adornado com asas.
VÊNUS – Nome latino de Afrodite, deusa do amor e da beleza. Uma das doze divindades do Olimpo.
Nasceu da conjugação da espuma do mar com o sêmen do Céu, que, mutilado por seu filho Saturno,
alcança as águas. Logo após seu nascimento, Vênus foi levada pelos ventos para a ilha de Citera, ao
sul do Peloponeso, e depois para Chipre, onde as Horas conduziram-na para o Olimpo. Casou-se
com Vulcano, mas o traiu com Marte, com quem teve Fobos, Deimos, Cupido e Harmonia.
TERRA – Nome latino de Gaia. Surgiu do Caos. Sem o princípio masculino, engendrou o Céu, as
Montanhas e o Mar. Mais tarde uniu-se a seu filho Céu e teve os titãs, os cíclopes e os hecatônqui-
ros. Com o Mar teve Nereu, Taumante, Fórcis, Ceto e Euríbia. Pouco a pouco a Terra, símbolo da
fecundidade, passou a ser considerada como a mãe do Universo e dos deuses. É representada como
uma mulher gigantesca, de formas pronunciadas e seios muito grandes.
LUA – Nome latino de Selene. Filha de Hipérion e Téia, era irmã do Sol. Uniu-se a Júpiter e teve uma
filha, Pândia. Foi amante de Pã e de Endimião, com quem tem 50 filhas. É representada por uma
bela jovem que percorre o céu em um carro de prata, puxado por dois cavalos.
MARTE – Nome latino de Ares, deus da guerra. Uma das doze divindades do Olimpo. Filho de Júpiter
e Juno. De caráter brutal, amante da luta e semeador de desentendimentos entre deuses e os mor-
tais, Marte era desprezado pelos próprios olímpicos. Enquanto as outras divindades participavam
das lutas, defendendo um lado ou outro, Marte golpeava ao acaso. Apresentava-se sempre acom-
panhado de seus filhos Fobos e Deimos e da Discórdia.
Deimos – Filho de Marte e de Vênus. Personifica o terror. Fiel companheiro de seu pai, conduzia o
carro de Belona, divindade guerreira de origem sabina que sempre acompanhava Marte.
Fobos – filho de Marte e de Vênus. Personifica o medo, acompanhava seu pai nos campos de batalha,
incitando aos combatentes a fugirem.
JÚPITER – Nome latino de Zeus, a maior divindade do Olimpo. Filho de Saturno e Cibele. Para evitar
que o pai o devorasse, como fizera com seus irmãos, sua mãe o escondeu numa gruta, em Creta. A
criança foi cuidada por Amaltéia. Tratado e protegido, ele adquiriu toda sua força divina. Com o
auxílio de uma droga fornecida por Métis, a Prudência, Júpiter conseguiu que Saturno vomitasse
seus irmãos devorados, que se uniram a ele, aos hecatônquiros e aos cíclopes para atacar e destro-
nar Saturno. Ao fim da luta, que durou dez anos, o Universo foi dividido entre Júpiter e seus dois
irmãos: Netuno e Plutão. Concebido inicialmente como uma divindade do céu e dos fenômenos
atmosféricos, Júpiter, aos poucos, foi adquirindo um caráter de líder dos deuses, símbolo da auto-
ridade, da justiça e da ordem.

(*) A grafia dos nomes relativos à mitologia greco-romana está de acordo com o Dicionário de Mitologia Greco-Romana, de Marisa
Soares de Andrade e Maria Izabel Simões, com a consultoria do professor Angelo Ricci, e a grafia dos termos shakespeareanos está de
acordo com as obras Tragédias e Comédias e Sonetos, tradução de F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes.
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Adrastéia* – Deusa da vingança, filha de Júpiter e da Necessidade. Seu nome significa “aquela a quem
não se pode escapar”.
Ananque – Nome grego da Necessidade. Filha de Saturno, é irmã de Júpiter. Era a personificação da
obrigação absoluta e da força constrangedora do destino. Na Filosofia, a férrea lei do destino tor-
nou-se o modelo sobre o qual o macrocosmo do Universo e o microcosmo humano devem reger
seus movimentos e suas ações. Platão afirmava que a Necessidade tinha três filhos: o Passado, o
Presente e o Futuro.
Calisto – Filha de Licaão. Fez voto de castidade e passava a vida a caçar, pelas montanhas. Foi amado
por Júpiter, que, para seduzi-la, tomou forma de Apolo. Juno, esposa e irmã de Júpiter, tomada pe-
lo ciúme, transformou-a em ursa. Júpiter levou-a aos céus sob a forma de uma constelação: a Ursa
Maior.
Carme – Filha de Eubulo. Uniu-se a Júpiter e teve Britomartir.
Elara – Filha de Mínias, rei de Orcômeno e de Eurianassa. Júpiter amou-a e, para poupá-la dos ciúmes
de Juno, escondeu-a nas profundezas da Terra.
Europa – Filha de Agenor e Telefasa. Júpiter encontrou-a em uma praia e enamorou-se dela. Metamor-
foseou-se em um touro branco, que foi montado por Europa. O animal mergulhou no mar e nadou
até Creta, onde Júpiter uniu-se a Europa e tiveram três filhos: Minos, Radamato e Sarpedão.
Ganimedes – Herói de Tróia, considerado o mais belo dos mortais. Ganimedes pastoreava os rebanhos
de seu pai quando foi avistado por Júpiter, que, impressionado com a beleza do rapaz, levou-o para
o Olimpo, onde alcançou a imortalidade. Sua função era servir néctar nas assembleias divinas.
Himália – Ninfa de Rodes, à qual Júpiter se uniu sob a forma de uma chuva fecundante.
Io – Era sacerdotisa de Juno. Levado pela grande beleza de Io, Júpiter apaixonou-se por ela, o que atrai
a ira de Juno. Para evitar a vingança da esposa, Júpiter transforma Io em uma novilha branca. Mas
tarde, já no Egito, para onde foge, Io é cultuada com o nome de Ísis.
Leda – Esposa de Tíndaro, rei da lacedemônia. Em uma única noite, Leda uniu-se ao marido e a Júpi-
ter, que dela se aproximara sob a forma de um cisne. À noire ela pôs dois ovos. De um saíram Cas-
tor e Helena e, do outro, Pólux e Clitemnestra. Pólux e Helena são filhos de Júpiter. Castor e
Pólux, símbolos do amor fraterno, são levados ao céu para habitar a constelação de Gêmeos, no
Zodíaco.
Lisitéia – Obscura personagem da mitologia foi mais uma das amantes de Júpiter.
Pasífae – Filha do Sol e de Perse. Casou-se com Minos, que era filho de Júpiter e Europa, tornando-se
assim nora do senhor dos deuses.
Sínope – Filha de Marte e Egina. Foi amada por Júpiter, que jurou conceder-lhe o que desejasse.
SATURNO – Nome latino de Cronos. Filho do Céu e da Terra é o mais jovem dos titãs. A pedido
de sua mãe castrou o pai e tomou-lhe o lugar no trono do Universo. Com a titânia Cibele, teve Jú-
piter, Netuno e Plutão.
Dione – Filha do Céu e da Terra, mãe de Vênus em algumas tradições. Em Dodona, onde tinha o culto
especial, era considerada esposa de Júpiter. Era irmã de Saturno.
Encelados – Gigante irmão de Saturno, que lutou contra Júpiter, após a vitória do deus sobre seu pai.

(*) Quando Galileu descobriu os quatro maiores satélites de Júpiter, não os batizou, o que foi feito por Simon Marius, com a concordân-
cia de Kepler. Para não homenagear personalidades vivas, acharam melhor seguir a tradição e colocar nomes mitológicos. Escolheram:
Io, Calisto, Europa e Ganimedes. E todos haviam tido ligações amorosa ilícitas com Júpiter. Mais tarde, quando E. Bernard descobriu o
quinto satélite, Camille Flamarion propôs o nome Amaltéia, que não tinha sido exatamente um amor ilícito do deus. Depois, mais saté-
lites foram sendo descobertos e a União Astronômica Internacional nomeou uma comissão para batizar os satélites. A decisão foi a de
encontrar nomes de personagens que tiveram ligações amorosas ilícitas com Júpiter, os mais obscuros possíveis. Assim, os satélites
jovianos foram batizados. Existem outros nomes para estes mesmos satélites, mas eu utilizei dos nomes da UAI. Uma norma suplemen-
tar: os satélites que têm sua revolução no sentido horário recebem nomes terminados por a e os que têm revolução anti-horária recebem
nomes terminados por e.
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Febe – Titânia, filha do Céu e da Terra, irmã de Saturno.
Hipérion – Titã, filho do Céu e da Terra, irmão de Saturno e pai do Sol, da Lua e da Aurora.
Iapeto – Titã, filho do Céu e da Terra. Esposu Climene, com quem teve Atlas, Menécio, Prometeu e
Epimeteu. Era irmão de Saturno.
Jano – Jano nasceu como mortal. Quando Saturno foi expulso da Grécia por Júpiter e seus irmãos, Ja-
no o acolheu. Saturno, agradecido, deu a seu protetor o poder de ver o passado e o futuro. Após
sua morte foi divinizado e tornou-se o deus das portas, dos caminhos, do início e do fim de todas
as atividades. Muitas vezes era representado com dois rostos, um olhando para o futuro e outro,
para o passado.
Mimas – Líder dos gigantes que lutaram contra Júpiter, após sua vitória contra Saturno e os titãs.
Réia – Nome grego de Cibele. Chamada mãe dos deuses. Filha do Céu e da Terra, esposa de Saturno.
Seus filhos são Júpiter, Vesta, Ceres, Juno, Plutão e Netuno.
Tétis – Filha do Céu e da Terra era uma das titânias, irmã de Saturno. Esposou Oceano, com quem teve
3.000 filhos: os rios da Terra.
Titã – Designação geral para todos os filhos do Céu e da Terra, portanto para todos os irmãos de Sa-
turno.
URANO – Nome grego do Céu. Algumas versões fazem Urano filho da Noite, outras dão-lhe a Terra
como mãe. Nas versões mais correntes, Urano é o esposa da Terra, geradores dos titãs, cíclopes e
dos hecatônquiros. Detestando os filhos, aprisionava-os nos confins da Terra. Saturno, revoltado
com a constante fecundação de sua mãe, luta contra o pai e assume o trono do Universo.
Ariel – É um duende, o espírito do ar, na peça do teatrólogo inglês William Shakespeare (1564-1616)
A Tempestade.
Oberon – Na peça de Shakespeare, Sonho de uma Noite de Verão, era o rei das Fadas. Oberon é a ver-
são inglesa de Alberico, rei dos elfos das lendas medievais suecas e escandinavas, nas quais apare-
ce como um gnomo deformado e malicioso.
Miranda – Heroína da peça de Shakespeare A Tempestade. É o único nome do sistema de Urano que
não é um espírito, mas um ser humano.
Titânia – Na peça de Shakespeare Sonho de uma Noite de Verão, Titânia era a rainha das Fadas. Titâ-
nia foi, pela primeira vez, utilizada por Ovídio (43 a. C.-18 d. C.) na peça Metamorfoses, como ou-
tro nome para a deusa Diana, a caçadora.
Umbriel – É um espírito triste e lamuriento encontrado no poema burlesco-épico O Roubo da Madeixa
de Cabelo, de Alexandre Pope (1688-1744), poeta clássico inglês. Pope cunhou esse nome basea-
do no termo latino Umbra, que significa sombra.
NETUNO – Nome latino de Poseidon. Uma das doze divindades do Olimpo era filho de Saturno e
Cibele. Na partilha do Mundo, Júpiter ficou com o céu e a Terra, Netuno com o reino das águas.
Comandava as ondas e as tempestades, mas não tinha poder sobre os rios, que eram divindades di-
ferentes. Vivia em um castelo debaixo d’água, percorria seus domínios em um carro puxado por
cavalos brancos, empunhando seu tridente.
Nereida – Designação coletiva das 50 filhas de Nereu e Dóris. Habitavam o palácio do pai no fundo do
mar Egeu. Anfitrite, uma das nereidas, desposou Netuno.
Tritão – Filho de Netuno e Anfitrite. Acolheu os argonautas e indicou-lhes a rota certa para alcançar o
Mediterrâneo.
PLUTÃO – Nome latino de Hades. Filho de Saturno e Cibele era uma das doze divindades do Olimpo.
Lutou junto com Netuno e Júpiter, contra Saturno. Por ocasião da luta pelo poder no Mundo, os cí-
clopes deram-lhe um capacete que o tornava invisível. Na partilha do Mundo coube a plutão o rei-

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no dos mortos. Raramente interferia nos assuntos terrestres. Era invocado no sentido de se fazer
cumprir as vinganças e as maldições. Plutão possuía uma faceta benéfica, pois era cultuado por
propiciar o desenvolvimento das sementes e favorecia a produtividade dos campos.
Caronte – Filho de Érebo e da Noite. Divindade que habitava o Hades, reino de Plutão. Sua função era
transportar as almas através do Aqueronte, rio que separava os espíritos do limite do inferno. Ape-
nas dirigia a barca, os mortos eram os remadores.

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