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PROGRAMA

APOLLO
Hóstia, explosões
e golfe: os
detalhes técnicos,
os imprevistos
e os bastidores
de todas as 17
missões. PÁG. 20

O passado, PROJETO N-1


As tentativas
o presente e secretas da URSS
de pousar na Lua,
o futuro da era um ano antes
dos EUA. PÁG 16
espacial – e as
histórias não
ARTEMIS
contadas do CONTRA SPACEX
Como a Nasa
maior passo que pretende voltar à
Lua em 2024 – mas
a humanidade o setor privado
pode chegar mais
já deu. rápido. PÁG. 58
O pequeno
passo e
o grande
salto
1
C corrida
alunissagem realizada pela Apollo 11,
em 20 de julho de 1969, terminava a
corrida espacial. Mas, ao mesmo tempo,
começava a primeira era de exploração
lunar ipulada, concluída em 1972 e
até hoje sem sucessora, embora planos
para uma retomada não faltem, e eles
8 Sputnik,
estejam cada vez mais maduros. Laika e Gagarin
A revista que está em suas mãos
conta a espetacular história de como 10 Mercury
todos os asos se alinharam, meio sé- e Vostok
culo aás, para propiciar as primeiras
andanças de 12 homens pela superfície 12 Gemini e
COM SEUS 3.474 KM de diâmeo, a Lua lunar. Os primeiros passos, os projetos,
representa um território de quao Bra- as avenras e desvenras, os riscos Voskhod
sis e meio, localizado a pouco menos de e as recompensas, numa jornada que,
400 mil quilômeos de distância, num mais que ajudar a dar à luz o mundo ul- 14 A invasão
eterno balé ao redor da Terra. Seu visual aconectado que nos cerca hoje, elevou dos robôs
estéril e sem vida é ao mesmo tempo a humanidade para além dos aparentes
um desafio e uma promessa – “magní- limites de seu próprio confinamento 16 Lua vermelha
fica desolação", nas palavras de Buzz planetário. Uma vez derrubada essa
Aldrin, segundo homem a caminhar barreira, as fronteiras do furo são
por esse connente removido da Terra, delimitadas apenas pela imaginação.
ainda hoje largamente inexplorado. Se na mitologia foi Prometeu quem
Há exatos 50 anos, por razões ge- deu o fogo aos humanos, na realidade
opolícas peculiares, duas nações se foi Apolo quem os ensinou a usá-lo.
lançaram a uma disputa em que quase
nenhuma despesa era excessiva, quase
nenhum risco era exagerado, para pro-
var que era possível levar humanos à EDITOR
Lua e azê-los de volta à Terra. Com a Salvador Nogueira
2 3 4
apollo herança artemis
20 O caminho para a Lua 50 Das viagens 58 O novo caminho
22 Apollo 1 à Lua, nasce o para a Lua
23 Apollo 7 mundo moderno 60 A nova corrida
24 Apollo 8 52 Os gigantes espacial
se encontram 64 O futuro da Lua
26 Apollo 9
no espaço
28 Apollo 10
54 A era dos
30 Apollo 11 ônibus espaciais
36 Apollo 12
38 Apollo 13
40 Apollo 14
42 Apollo 15
44 Apollo 16
46 Apollo 17
1
corrida
NUMA DISPUTA desenfreada para ver quem tinha
maior poderio tecnológico (sem falar em foguetes
capazes de transportar ogivas nucleares mais
devastadoras), Estados Unidos e União Soviética
disputaram palmo a palmo, voo a voo, os cerca
de 384 mil quilômetros que separam nosso
planeta de seu único satélite natural: a Lua.

T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A
CORRIDA

1 2

1. Yuri Gagarin, o
primeiro humano
no espaço.
2. A cadela Laika,
que voou no
satélite Sputnik 2.

Sputnik, Em apenas quatro


anos, a União
Soviética lançara

Laika e
o primeiro satélite,
primeiro animal e
primeiro humano ao
espaço. Perdendo

Gagarin
feio, os americanos
se viram obrigados
a mirar mais
Fotos: Getty Images

alto: a Lua.
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Q
Diante de tamanha comoção, o grupo de engenhei-
ros e cienstas liderado por Sergei Korolev, o pai do
programa espacial russo, não perdeu o ming. Menos
de um mês depois, em 3 de novembro daquele ano,
voaria o Sputnik 2, ansportando a bordo a cachorri-
nha Laika – era a sinalização de que a União Soviéca
pretendia levar humanos ao espaço. E, de lá, poderia
sobrevoar os Estados Unidos quanto quisesse. Sem
falar que foguetes capazes de colocar espaçonaves em
órbita também poderiam ansportar com facilidade
bombas nucleares até o ouo lado do mundo, sem
grande demora ou impedimento.
O governo americano precisava responder. Por
ordem do presidente Dwight Eisenhower, o programa
de satélites foi acelerado, e a primeira tentava de
QUATRO DE OUTUBRO de 1957 foi o dia responder ao Sputnik veio em 6 de dezembro de 1957.
em que a humanidade acordou para o Diante das câmeras, o foguete Vanguard subiu por
espaço. Pela primeira vez, a Terra nha apenas dois segundos antes de despencar e explodir
um aso companheiro em órbita de si sobre a plataforma. Papelão.
que não era produto direto da nareza E o que você faz quando seu foguete falha? Chama
– um satélite arficial. O lançamento do o Meirelles? Não, chama o Von Braun. Werhner von
Sputnik, conduzido pela anga União Braun, criador dos foguetes V-2 que bombardearam
Soviéca, deu início à chamada corrida Londres para a Alemanha nazista durante a Segun-
espacial. Ninguém sabia direito o que da Guerra, havia sido azido aos Estados Unidos e
estava por vir, é verdade. Tanto que, “desnazificado” pela Operação Clipe de Papel, junto
na edição do dia seguinte do Pravda, com muitos ouos cienstas importantes, e estava
o jornal oficial soviético, nem foi a abalhando na Agência de Mísseis Balíscos do Exér-
manchete principal: só saiu no pé da cito em Huntsville, Alabama. Ele preparou às pressas
primeira página. APESAR DA uma nova tentava de lançamento, com seu novo
Nem mesmo o premiê soviéco, Ni- foguete Jupiter-C, e em 31 de janeiro de 1958, parndo
kita Kruschev, se tocou da importância DIANTEIRA de Cabo Canaveral, o satélite americano Explorer 1
do negócio. Mais tarde, ele relembraria angia sua órbita. Sob o governo Einsenhower, em
o episódio assim: “Quando o satélite foi SOVIÉTICA, 29 de julho de 1958, era fundada a Adminisação
lançado, eles me telefonaram dizendo Nacional de Aeronáuca e Espaço – hoje todo mundo
que o foguete nha tomado o curso O SATÉLITE só chama de Nasa. Sua principal missão: responder à
correto e que o satélite já estava girando União Soviéca e preparar asonautas americanos
em torno da Terra. Eu parabenizei o AMERICANO para seus primeiros voos espaciais.
grupo de engenheiros e técnicos nesse O preço políco de sair aás na corrida espacial
feito impressionante e calmamente fui EXPLORER 1 foi alto. Em 1960, os republicanos perderam a eleição
para a cama.” para um jovem senador democrata de Massachusetts,
Nos EUA, condo, a reação foi muito FOI O John F. Kennedy, sob o argumento de que havia um
diferente. O jornal The New York Times aaso inaceitável na tecnologia americana de mísseis.
da mesma data estampou o lançamento PRIMEIRO A A União Soviéca, condo, manteria a dianteira.
com uma manchete de ês linhas em Em 12 de abril de 1961, antes que qualquer america-
leas garrafais: Soviécos disparam DETECTAR OS no angisse o espaço, o piloto russo Yuri Gagarin,
satélite terrese para o espaço; está nascido numa fazenda comunal nos arredores de
circulando o globo a 18 mil milhas por CINTURÕES Moscou, completaria uma órbita ao redor da Terra
hora; esfera é raseada em quao pas- a bordo da nave Vostok 1, tornando-se o primeiro
sagens sobre os EUA. DE RADIAÇÃO humano a deixar seu planeta de origem – ainda que
A reação foi de choque, no que ficou por pouco mais de uma hora e meia.
conhecido como “efeito Sputnik”. Pela QUE EXISTEM Kennedy então chamou ao pé do ouvido o admi-
primeira vez, desde o início da Guer- nisador da Nasa, James Webb, e perguntou: qual
ra Fria, os americanos se senam em AO REDOR meta seria tão difícil que teríamos chance de chegar-
inferioridade tecnológica (e militar) mos primeiro que os russos? A resposta você pode
comparados aos soviécos. DA TERRA. imaginar qual foi. Estava aberta a corrida para a Lua.
CORRIDA

Mercury
e Vostok
Entre 1961 os
e 1963, as
primeiras naves
foguetes
Após dois voos suborbitais
tripuladas de
com o Redstone, a Nasa
americanos adotou o Atlas, capaz de voo
e soviéticos orbital, como o soviético R-7.
demonstraram
que seria
possível ao VOSTOK
ser humano 1961 - 1963
sobreviver Yuri Gagarin (1961)
Gherman Titov (1961)
e trabalhar Andriyan Nikolayev (1962)
no espaço. Pavel Popovich (1962)
Valery Bykovsky (1963)
Valentina Tereshkova (1963)

MERCURY-REDSTONE
1961
Alan Shepard Jr. (1961)
Virgil "Gus" Grissom (1961)

MERCURY-ATLAS
1962 - 1963
John Glenn (1962)
Imagens: divulgação

Scott Carpenter (1962)


Walter Schirra (1962)
Gordon Cooper (1963)
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S
Nessa, Gagarin chegou primeiro ao espaço, em 12 de
abril. Shepard só deixaria a atmosfera em 5 de maio.
Quase um empate? Nada disso. O voo de Gagarin
havia sido orbital – ele deu uma volta na Terra e
desceu, em 1 hora e 48 minutos. Já o de Shepard foi
subir e cair – uma escalada a 187 km de alde e
uma descida em queda livre. Tudo isso em 15 minutos.
Apenas 13 dias após essa “missão", em 25 de maio,
o presidente John F. Kennedy discursaria diante do
Congresso, ecoando os úlmos eventos. “Se vamos
vencer a batalha que agora se ava ao redor do mundo
ene liberdade e rania, as realizações dramácas no
espaço que ocorreram em semanas recentes deveriam
deixar claro para nós, como o Sputnik fez em 1957,
o impacto dessa avenra nas mentes dos homens
SE VIVÊSSEMOS no planeta dos macacos, em toda parte", afirmou. “Eu acredito que esta nação
a grande festa do voo espacial ipulado deveria se comprometer a angir a meta, antes que
não seria em 12 de abril, aniversário do esta década termine, de pousar um homem na Lua e
lançamento de Yuri Gagarin, e sim em azê-lo de volta em segurança para a Terra."
31 de janeiro. Nessa data, em 1961, foi Em reospecto, a iniciava chega a ser assustadora.
ao espaço Ham – o primeiro chimpanzé Àquela alra, os programas Vostok (Oriente, em rus-
asonauta. E ele era americano. so) e Mercury (Mercúrio, o deus mensageiro romano)
Se do vesse corrido bem, essa estavam só começando a determinar a viabilidade de
teria sido a úlma missão de teste do humanos sobreviverem ao ambiente espacial, que
projeto Mercury, desnado a levar os dirá abalharem nele a ponto de concluírem com
primeiros americanos ao espaço. Só sucesso uma jornada à Lua. E mesmo nesse quesito
que não foi bem isso que aconteceu, os soviécos estavam bem mais adiantados.
e o nosso amigo Ham foi quem se deu Impulsionada por um foguete mais potente, a
mal. O foguete Redstone, projetado por QUANDO Vostok era mais parruda e podia realizar voos mais
Wernher von Braun, ofereceu potência longos. Para que se tenha uma ideia, a Vostok 2, com o
maior que a esperada e o voo acabou JOHN F. cosmonauta Gherman Titov, decolou em 6 de agosto
sendo mais longo e ríspido. A cápsula de 1961, e ele passou 1 dia, 1 hora e 18 minutos em voo.
caiu no mar longe do navio de resgate. KENNEDY A Mercury, por conta da menor capacidade do
Foi desno melhor que o de Laika, foguete Redstone, começou limitada a voos subor-
a cadela soviéca que havia voado ao PROPÔS A bitais, e realizou um segundo deles em 24 de julho,
espaço pouco mais de ês anos antes com Virgil Grissom a bordo. Mas a primeira missão
num satélite sem capacidade de retorno IDA À LUA, orbital teria de esperar o lançador Atlas, e o primeiro
seguro à Terra, e que morreu menos de americano a igualar Gagarin e orbitar a Terra só voaria
sete horas depois do lançamento, por AINDA MAL em 20 de fevereiro de 1962 – John Glenn completaria
uma combinação de esesse e hiper- ês voltas ao redor da Terra, em 4 horas e 55 minutos.
termia causada por falha na cápsula. SE SABIA SE Ao final, cada projeto realizaria seis voos, ene
Apesar de ter sobrevivido, o chim- 1961 e 1963. Ene os soviécos, o mais duradouro
panzé Ham ficou bem aumazado: HUMANOS foi o da Vostok 5, iniciado em 14 de junho de 1963,
durante o voo, ele experimentou a com o cosmonauta Valery Bykovsky a bordo: 4 dias,
sensação de ter 14,7 vezes o próprio PODERIAM 23 horas e 7 minutos. Ene os americanos, o mais
peso, conforme a aceleração brutal li- duradouro foi o úlmo voo da cápsula Mercury, em
teralmente o esmagava em seu assento. DE FATO 15 de maio de 1963, em que o asonauta Gordon
Em plena corrida espacial, alguns nos Cooper passou 1 dia e 10 horas em órbita. De quebra,
Estados Unidos consideraram esse voo TRABALHAR os soviécos usaram a Vostok 6 para lançar Valenna
um sucesso e queriam que o próximo, Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço, dois
a ser conduzido o mais rápido possível, DE FORMA dias após a decolagem de Bykovsky, em 16 de junho.
levasse o asonauta Alan Shepard Jr. Concluída a primeira fase dos voos espaciais i-
Von Braun, condo, advogava cautela EFETIVA NO pulados, americanos e soviécos precisariam desen-
e pediu mais um teste antes de embar- volver e testar as habilidades e tecnologias para dar
car um humano numa cápsula Mercury. ESPAÇO. o próximo passo: ir à Lua.
CORRIDA

Gemini e
Voskhod
Os soviéticos saíram na frente, com a
M
MESMO ANTES de definir a arquitera
de suas missões lunares, a Nasa sabia
primeira caminhada espacial; os americanos
que precisaria demonsar previamen-
Fotos: Getty Images

devolveram com a primeira acoplagem – ambas te certas capacidades para ter alguma
habilidades essenciais para a ida à Lua. chance de sucesso. Por exemplo: o de-
senvolvimento de técnicas eficientes
de encono e acoplagem em órbita, o
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1. Alexei Leonov
teve de parar os abalhos e criar algo mais simples:
em caminhada a Voskhod (Nascente), nave capaz de – forçando a
espacial, numa barra – levar ês pessoas. Seu primeiro voo foi em
pintura de 12 de oubro de 1964, com Vladimir Komarov, Boris
sua autoria. Yegorov e Konstann Feokskov. A missão durou um
2. Ed White, que dia e colocou a União Soviéca de novo na dianteira.
realizou a primeira Não bastasse isso, menos de seis meses depois, a
caminhada missão Voskhod 2 realizaria a primeira caminhada
americana.
espacial da história. Foi em 18 de março de 1965. O
cosmonauta Alexei Leonov passou 12 minutos fora
da nave, protegido só por seu aje espacial, enquanto
seu colega Pavel Belyayev o esperava do lado de den-
o. Os soviécos venderam o feito como mais um
sucesso, mas a história real foi puro drama e perigo.
No espaço, o aje de Leonov inflou demais e ele
mal conseguia se mover. Sofreu para voltar à nave.
Depois, o sistema automáco de pouso falhou, e os
cosmonautas só conseguiram acioná-lo na órbita se-
guinte, descendo numa floresta gélida e remota. Os
dois passaram a noite espantando lobos, até serem
resgatados. Segundo e úlmo voo da Voskhod.
Cinco dias depois, em 23 de março de 1965, a Nasa
lançaria o primeiro voo ipulado do Projeto Gemini.
A bordo da Gemini 3, os asonautas Virgil “Gus”
Grissom e John Young deram ês voltas ao redor da
Terra. Dali para a frente, os americanos finalmente
começariam a tomar a dianteira na corrida para a Lua.
Na Gemini 4, em 3 de junho de 1965, Edward White
II faria a primeira caminhada espacial americana. E,
numa sequência de voos em rápida sucessão, a Nasa foi
matando vários desafios para a fura viagem lunar.
As naves Gemini 6 e 7 fizeram um encono no espaço,
VOANDO A e a Gemini 8 realizou a primeira acoplagem espacial
teste de equipamentos desnados às da história, ao se conectar a um propulsor Agena.
caminhadas espaciais e a realização de CADA DOIS A missão, conduzida em 16 de março de 1966,
manobras orbitais sofiscadas. nha como comandante um tal de Neil Armsong,
Para atender a essas demandas, ainda OU TRÊS e sua perícia como piloto foi essencial. Logo após
em 1961, a agência americana decidiu a acoplagem, um propulsor lateral avou avado e
criar um projeto intermediário, Gemini MESES, AS começou a rotacionar a cápsula, que chegou a girar
(Gêmeos), usando os foguetes Titan II a uma revolução por segundo. Armsong teve de
e uma cápsula para dois ipulantes. MISSÕES usar o sistema de retorno para recuperar o conole
A União Soviéca estava surfando na antes que ele e seu colega David Scott desmaiassem,
onda espacial, e não havia qualquer in- GEMINI e aí não houve oua escolha senão abortar a missão.
tenção de deixar os americanos saltarem Voos subsequentes fizeram acoplagens anquilas
adiante. Por isso, o líder soviéco Nikita AJUDARAM e, na Gemini 11, Charles “Pete” Conrad Jr. e Richard
Kruschev requisitou que o projesta- Gordon Jr. usaram o Agena para elevar a nave a uma
chefe Sergei Korolev criasse uma nave OS EUA A alde de 1.374 km, cruzando um dos cinrões de
com capacidade para mais de um cos- radiação gerados pelo campo magnéco terrese e
monauta e a lançasse antes da Gemini. TOMAR A mosando que os asonautas não teriam proble-
Para Korolev, era um passo aás. Ele já mas em cruzá-los, a caminho da Lua. Isso era uma
estava abalhando num modelo mais DIANTEIRA incógnita e uma preocupação na época (temia-se pela
sofiscado, a famosa Soyuz, cápsula que saúde dos ipulantes). O programa foi encerrado com
até hoje ansporta gente ao espaço. Só NA CORRIDA a Gemini 12, num voo iniciado em 11 de novembro
que ela não ficaria pronta a tempo de de 1966. Nele, a Nasa descobriu o seu mais hábil
bater a Gemini, de forma que Korolev ESPACIAL. “caminhante espacial”: Edwin “Buzz” Aldrin.
CORRIDA

A invasão
dos robôs
Antes que astronautas pudessem andar na Lua, missões
não tripuladas tiveram de abrir caminho, mapeando o solo e
garantindo que nada que pousasse lá afundaria em seguida.

U
onde o terreno seria mais favorável para
uma tentava.
Até então, a melhor forma de fazer
reconhecimento do solo lunar era por
telescópios, que só permiam enxergar
“detalhes” com pelo menos 300 meos
de comprimento. Para pousar uma na-
ve de poucos meos, essa resolução
era essencialmente inúl. Além disso,
não se sabia sequer a consistência do
solo lunar. Havia quem pensasse que
qualquer coisa que pousasse na Lua
poderia simplesmente afundar, como
se esvesse sobre areia movediça.
Seria preciso, portanto, determinar
UMA BOA MEDIDA da temeridade que que condições seriam enconadas por
foi anunciar, em 1961, um projeto de lá antes de colocar humanos a caminho
levar gente à superfície da Lua é que da superfície. E quem começou na fren-
pracamente do que cercava a viabi- te foi, para variar, a União Soviéca. A
lidade da empreitada era desconhecido primeira sonda não ipulada de sucesso
na época. Poderiam asonautas lidar a ser enviada para lá foi a Luna 2, que
com a ausência de peso por vários dias colidiu com o satélite naral em 14 de
durante a jornada? Seria possível tolerar setembro de 1959. (Pois é, naquela épo-
o ambiente de radiação interplanetária ca colidir já era considerado sucesso.)
Foto: divulgação

sem ficar doente? O desconhecido era Em seguida, veio a Luna 3, a primeira


tão grande que não se sabia sequer se a fotografar o lado afastado da Lua, em
era mesmo possível pousar na Lua e 7 de oubro de 1959.
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A Terra vista da
A imagem não era grande coisa, mas impressio-
Lua pela sonda nava por ser a primeira vez que a humanidade nha
Lunar Orbiter 1, a chance de ver a metade da Lua que está sempre de
em versão original costas para a Terra. Como nosso satélite naral tem
e reprocessada rotação e anslação sincronizados, vemos sempre a
digitalmente. mesma face dele daqui. A Luna 3 revelou que a face
oculta era bem diferente, mais marcada por crateras
e quase totalmente desprovida de “mares”, as regiões
mais planas e escuras que podemos ver até mesmo
a olho nu no lado próximo.
Ene os americanos, o primeiro programa lunar
não ipulado foi o Ranger, conduzido pelo JPL (La-
boratório de Propulsão a Jato) da Nasa. O objevo
era basicamente viajar na direção da Lua e ir rando
fotos, até ombar com ela. Com a determinação de
Kennedy de levar humanos ao solo lunar, seu princi-
pal objevo se tornou fazer imagens mais próximas
de potenciais locais de pouso. Condo, a primeira
missão a enviar fotos desse po foi a Ranger 7, que
bateu na Lua em 31 de julho de 1964.
Esse contraste fazia parecer que os soviéticos
estavam muito à frente. Mas o uque aí é que, do
lado de lá da Corna de Ferro, só eram anunciadas
publicamente missões que vessem algum sucesso.
Antes da Luna 1 (que voou com sucesso, mas errou a
Lua), os soviécos haviam feito ês tentavas que ter-
minaram em falha no lançamento. Depois do sucesso
da Luna 3, houve 13 fracassos (mas só cinco números)
OS até a Luna 9, que em 3 de fevereiro de 1966 se tornou
a primeira nave da história a pousar suavemente na
SOVIÉTICOS Lua. Em seguida, em 31 de março de 1966, a Luna 10
se tornaria o primeiro satélite arficial lunar.
TIVERAM Os americanos, a essa alra, já estavam nos cal-
canhares dos russos. A Surveyor 1 alunissou com
GRANDE sucesso em 2 de junho de 1966, na primeira de uma
série de sete missões (das quais cinco foram bem-
SUCESSO sucedidas). Chamou especial atenção a Surveyor 6,
que em 10 de novembro de 1967 realizou a primeira
COM SUAS decolagem na Lua – um salto de poucos meos –,
ouo processo fundamental se as missões ipuladas
MISSÕES não quisessem acabar em agédia.
Por ouo lado, a Nasa nha também o programa
NÃO Lunar Orbiter, com cinco espaçonaves que, ene 1966
e 1967, mapearam 99% da superfície lunar com re-
TRIPULADAS, solução de 1 meo, permindo assim a escolha de
locais de pouso ideais para as missões Apollo.
CHEGANDO Os soviécos prosseguiram com suas missões
não ipuladas Luna até 1976, realizando coletas de
A PILOTAR amosas de solo (reenviadas de volta à Terra) e pe-
rambulando pela superfície com dois jipes robócos,
DOIS Lunokhod 1 e 2. Mas, fora isso, passaram as déca-
das seguintes fingindo que jamais haviam tentado
JIPINHOS enviar seus cosmonautas à Lua e que, portanto, os
americanos avaram uma corrida cona ninguém.
NA LUA. Nada, condo, poderia estar mais longe da verdade.
CORRIDA

Lua
Foi por muito pouco.
Negado durante
décadas, o programa
lunar soviético quase

vermelha
conseguiu a primazia
no envio das primeiras
missões tripuladas ao
nosso satélite natural.

S
igual,
só que
não
O programa
soviético usaria
estratégia similar
à dos americanos,
mas com
capacidade menor.

SE TUDO TIVESSE corrido conforme os planos sovi-


écos, o primeiro homem a pisar na Lua teria sido
o cosmonauta Alexei Leonov, no ano de 1968. Três
anos antes, o projesta-chefe do programa espacial
da União Soviéca, Sergei Korolev, havia recebido
N-1 autorização oficial do governo para executar o projeto,
que envolvia a consução de um superfoguete e de
1969-1972
espaçonaves capazes de levar um único ipulante
Lançador de alta ao solo lunar.
capacidade com Enquanto os americanos tocavam seu programa
três estágios e lunar diante dos olhos do mundo todo – com todas
105 metros, o N-1 as tentavas frusadas e dificuldades narais –,
seria capaz de os soviécos manveram o seu em total sigilo. Por
impulsionar até
décadas, chegaram até a negar que vesse exisdo
23,5 toneladas até
a Lua. Realizou
qualquer esforço para levar uma nave ipulada à Lua.
quatro voos entre Mas os documentos da época, liberados após o fim
Imagens: divulgação

1969 e 1972, da Guerra Fria, mosam que não só a disputa exisu


todos marcados como quase terminou em vitória para os vermelhos.
por falhas no O programa ficou conhecido apenas pela sigla
primeiro estágio. N-1/L-3. O N-1 era um foguete de alta capacidade
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capaz de impulsionar veículos ipu- Os planos previam os primeiros voos-teste para 1966,
lados à órbita lunar, era uma espécie e as missões reais de órbita e pouso aconteceriam
de Sarn V russo. Já sob a designação ene 1967 e 1968.
L, havia ês veículos-base, L-1, L-2 e Hoje, até os especialistas russos concordam que o
L-3. O L-1 era uma nave ipulada que plano soviéco era cheio de falhas e muito arriscado.
apenas contornaria a Lua, enquanto as Mas até 1965 ninguém – deno ou fora da União So-
séries L-2 e L-3 seriam usadas para co- viéca – pensava assim. A ideia por ás do programa
locar cosmonautas na Lua. Tanto o L-1 LIMITADO, era apenas chegar lá primeiro, não chegar lá melhor,
quanto o L-2 eram versões adaptadas então qualquer esforço – e risco – estava valendo.
do projeto básico da Soyuz, espaçonave O MÓDULO Afinal, os soviécos permaneciam invictos na cor-
desenvolvida por Korolev para opera- rida espacial, não tendo perdido um único marco
ções orbitais que até hoje segue em uso. LUNAR importante para os americanos.
As cápsulas do po L-1 eram versões As coisas só foram se complicar mesmo no fim
ligeiramente encolhidas da Soyuz, que SOVIÉTICO de 1965, quando Korolev teve diagnoscado um cân-
podiam ser lançadas para a Lua com cer de cólon. Foi internado, atado e operado. Em
foguetes já disponíveis na União Sovi- L-3 TINHA janeiro de 1966, morreu sem ver um único teste de
éca desde 1964, como o Proton. Mas suas criações lunares.
as naves L-2 e L-3 precisariam esperar UM TERÇO O programa do foguete N-1 connuava em de-
pelo desenvolvimento do gigante N-1. senvolvimento, mas os avanços eram lentos. Já o L-1
A L-2 era uma espécie de Soyuz DA MASSA estava bem adiantado e diversos protópos chegaram
vitaminada, capaz de ansportar dois a ser lançados. O mais inigante deles, em setembro
cosmonautas até a órbita lunar, fazendo DE SEU de 1968, promoveu a primeira visita às cercanias da
as vezes da cápsula Apollo americana. E Lua por habitantes da Terra – só que eram tartaru-
o L-3 era um módulo de pouso com ca- EQUIVALENTE gas, moscas, bactérias, sementes e plantas. Detalhe:
pacidade para apenas um cosmonauta, elas voltaram à Terra em segurança, pavimentando o
que teria de descer sozinho até a Lua. AMERICANO. caminho para um furo voo circunlunar ipulado.
Provavelmente teria acontecido se os americanos
não vessem se antecipado e lançado a Apollo 8 na
direção da Lua, em dezembro daquele ano (leia mais
na pág. 24). Depois disso, só um pouso lunar ipu-
Módulo lunar soviético com capacidade
lado poderia servir aos soviécos, e eles decidiram
para um único cosmonauta, ele chegou
a ser testado numa órbita terrestre baixa
concenar os esforços no N-1.
L-3
em quatro lançamentos não tripulados. A corrida enava em seu momento decisivo. No
1970-1971 início de 1969, o gigante N-1 finalmente estava pronto
para um voo-teste. Às 9h18 da manhã do dia 21 de
fevereiro, o foguete se desprendeu da base e subiu,
deixando aás de si uma elipse de fumaça branca. O
sonho durou 68,7 segundos, até que vibrações anô-
malas e um incêndio fizeram o comando abortar a
missão e explodir o N-1, a 30 quilômeos de alde.
Uma segunda tentativa ainda seria conduzida
em 3 de julho daquele ano, mas os resultados não
foram muito diferentes. Depois de 50 segundos de
voo, o enorme N-1 ficou fora de conole e teve de
ser desuído no ar.
Apenas 13 dias depois, para do Ceno Espacial
Kennedy, na Flórida, a missão americana Apollo 11.
Em 20 de julho, Neil Armsong e Edwin “Buzz”
Aldrin fincariam a bandeira americana na superfície
lunar, marcando a definiva virada dos Estados Uni-
dos na corrida espacial (leia mais sobre ela na pág. 30).
O N-1 ainda teve dois voos de teste, em 1971 e 1972,
ambos fracassados, antes de o programa ser suspenso
pelos soviécos em 1974 e cancelado sumariamente,
de forma melancólica, dois anos depois.
2
apollo
ENTENDA COMO A NASA desenhou as missões
que levaram os primeiros humanos à Lua e
como os americanos correram vários riscos para
executar os ousados passos exigidos para deixar
pegadas no solo lunar. Ao todo foram 11 voos
tripulados, 6 pousos, 1 missão fracassada e 1
tragédia fatal – isso sem falar nos “quases”.

T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A
APOLLO 6

O caminho 4

para a Lua 3

Para realizar as primeiras viagens tripuladas ao satélite natural, a


Nasa decidiu apostar em um superfoguete e duas espaçonaves.

U
2

1.saturn V
Criado por Wernher von
Braun e sua equipe do
Centro Marshall de Voo
Espacial, este foguete de
110,6 metros foi o mais
poderoso já produzido.

1. PRIMEIRO ESTÁGIO
1
2. SEGUNDO ESTÁGIO
UMA VEZ DEFINIDO o objevo de levar humanos à
3. TERCEIRO ESTÁGIO
Lua, em 1961, a decisão mais importante a ser tomada
pela Nasa era a de como executar a missão – e desen- O primeiro estágio era movido
volver as espaçonaves e os foguetes necessários para a querosene, e os outros dois,
a hidrogênio líquido, com
isso. De todas as opções, a escolhida, ainda em 1962,
oxigênio como oxidante.
foi a que envolvia o chamado “encono em órbita
lunar" (lunar orbit rendezvous). Duas naves viajariam
4. MÓDULO LUNAR (LM)
juntas até os arredores da Lua, mas apenas uma delas
desceria à superfície com os asonautas, retornando Encapsulado, ele era extraído
em seguida para um encono em órbita lunar, para do foguete após o lançamento.
que os ipulantes se ansferissem à oua nave, que
por sua vez os levaria de volta para casa. 5. MÓDULO DE COMANDO
A missão exigiria a criação de um superfoguete e E SERVIÇO (CSM)
duas naves: o módulo de comando e serviço (CSM), Abrigava os astronautas em voo.
Imagens: divulgação

para levar os asonautas da Terra para a órbita da


Lua e de volta, e o módulo de excursão lunar (LEM, 6. TORRE DE ESCAPE
mais tarde simplificado como LM, “módulo lunar"), Ejetava o módulo de comando,
para ir à superfície da Lua e de volta ao espaço. em caso de emergência.
DOSSIÊ SUPER 21

2.apollo
O sistema era composto por duas
3.passo a passo
Confira todas as etapas que precisariam ser
TRAJETO
DE IDA

naves independentes. A primeira cumpridas na arquitetura Apollo para uma TRAJETO


delas, dedicada ao voo entre a Terra missão capaz de levar humanos à Lua. DE VOLTA
e a Lua, era o módulo de comando
e serviço. A segunda, focada 1. DECOLAGEM O Saturn V 7
apenas em pouso e decolagem coloca o sistema Apollo em uma
na Lua, era o módulo lunar. órbita baixa ao redor da Terra.
6

8
CSM – MÓDULO 2. INJEÇÃO TRANSLUNAR Uma
DE COMANDO E SERVIÇO reativação do terceiro estágio do
Saturn V coloca as naves a caminho.
Abrigava até três tripulantes.
Ao fim da missão, era
ejetado o módulo de serviço, 3. SEPARAÇÃO O módulo
responsável por propulsão, de comando e serviço (CSM)
suporte de vida, oxigênio se separa do foguete.
e água, e a única parte
a retornar à Terra era
a cápsula do módulo 4. EXTRAÇÃO O CSM se 5
de comando, feita vira e acopla ao LM (módulo
para resistir ao lunar). O terceiro estágio
calor da reentrada do Saturn V é descartado. 9
4
atmosférica.

5. AJUSTES DE CURSO A Apollo


usa o propulsor do módulo de serviço
para ajustar sua rota para a Lua.

3
6. INSERÇÃO ORBITAL O
módulo de serviço dispara para
colocar a Apollo em órbita lunar.
10
2
7. POUSO Dois dos três
astronautas se transferem
MÓDULO LUNAR (LM) para o LM e com ele descem
Com capacidade para duas pessoas, até a superfície da Lua.
servia para realizar o pouso na Lua. Era
dividido em duas partes, o estágio de
descida, que permitia o pouso, e o estágio 8. PARTIDA O estágio
de ascensão, que abrigava os astronautas de ascensão do LM leva
os astronautas de volta à 11
durante sua estadia em solo lunar e era a
única parte do sistema a retornar da Lua. órbita lunar com o CSM.
12

9. RETORNO 1
O propulsor do CSM é
disparado para colocar
a nave num curso de
volta para a Terra.

10. RETORNO 11. REENTRADA 12. POUSO NA ÁGUA


O módulo de O módulo de comando Com a ajuda de paraquedas,
serviço é ejetado e a reentra na atmosfera. O o módulo de comando
cápsula do módulo atrito gera temperaturas desce em segurança
de comando viaja superiores a 2.500 no oceano, onde é
sozinha para a Terra. graus Celsius. resgatado por um navio.
APOLLO

O ÚLTIMO VOO do projeto Gemini foi concluído em


novembro de 1966 e a Nasa estava pronta para iniciar
as missões Apollo. Ou, pelo menos, ela achava que
EMBLEMA
estava. O resultado foi a maior agédia do programa,
e a morte de ês ipulantes – sem que eles sequer
deixassem o chão. A dura lição aprendida pela agên-
cia espacial americana foi que a pressa é inimiga do
asonauta.
Ene fevereiro e agosto de 1966, foram realizados
dois voos de teste (AS-201 e AS-202), suborbitais e
sem ipulação, com módulos de comando e serviço
Apollo. Um terceiro voo (AS-203), sem uma cápsula
de verdade a bordo, em julho daquele ano, ajudou
a qualificar o foguete Sarn IB (versão precursora
DURAÇÃO
do Sarn V, “modesta", desnada apenas a voos em
Não chegou órbita terrese), e os gerentes do programa senram
a decolar. confiança em agendar o primeiro voo ipulado, AS-
204, para 21 de fevereiro de 1967.
Foram escalados para a missão Virgil “Gus" Gris-
som, que já havia voado na Mercury e na Gemini,
Edward H. White II, responsável pela primeira ca-
TRIPULANTES minhada espacial americana na Gemini, e o novato
Roger B. Chaffee. No programa, era cosmeiro os
Virgil I. Grissom asonautas acompanharem a manufara de suas
Edward White II espaçonaves, e nesse caso não foi diferente. O io che-
Roger B. Chaffee
gou a manifestar sua preocupação com a quandade
de material inflamável deno da cápsula, principal-
mente náilon e velcro, num veículo a ser pressurizado
com oxigênio puro, potencializando incêndios.
Abandonando a anpáca sigla AS-204, a ipula-
DEU CERTO?
ção estava atando o voo como Apollo 1, e um ensaio
Não. Um para o lançamento estava marcado para 27 de janeiro
incêndio no de 1967. O chamado teste “plugs-out" consisa em
interior da preparar a nave para lançamento, com os ipulantes
A chamuscada cápsula durante deno, desconectar a nave dos sistemas de conole
cápsula da um teste em de solo e simular a contagem regressiva. O teste não
Apollo 1, após solo matou a
era considerado perigoso, uma vez que nem o foguete,
o incêndio que tripulação.
nem a cápsula seriam abastecidos com combustível.
vitimou sua
tripulação.
Ainda assim, as coisas não iam bem. A comunica-
ção ene a ipulação e o ceno de conole estava
falhando, o que fez Grissom dizer: “Como vamos
chegar à Lua se não conseguimos conversar ene
dois ou ês prédios?"
Às 18h31 (hora local), uma faísca gerada por um

Apollo
fio desencapado deno da cápsula iniciou um in-
cêndio. A cápsula só podia ser aberta por fora, num
procedimento lento. A atmosfera de oxigênio sob alta
pressão fez o fogo se alasar a enorme velocidade. Do
primeiro grito de incêndio por Grissom à rupra da
parede interna do módulo de comando, gerada pelo

1
Fotos: divulgação/NASA

súbito aumento da pressão, se passaram 15 segundos.


Os asonautas pararam de gritar um pouco antes,
mortos por asfixia antes de serem carbonizados.
O desastre que quase colocou O Projeto Apollo só iria realizar seu primeiro voo
ponto final ao sonho de ir à Lua. ipulado dali a 20 meses, em 11 de oubro de 1968.
DOSSIÊ SUPER 23

A TRAGÉDIA DA APOLLO 1 quase descarrilou por


completo o programa lunar americano. Comissões de
invesgação foram insídas, e o Congresso passou
EMBLEMA
a quesonar a viabilidade do projeto. O desenho da
cápsula teria de ser totalmente reformulado, com es-
pecial atenção à segurança. Resultado: meses e meses
de espera até que asonautas americanos pudessem
voltar ao espaço.
Poderia ter sido a opornidade ideal para a União
Soviéca tomar a dianteira na corrida para a Lua,
mas por lá a pressa também fazia das suas, e o pri-
meiro lançamento ipulado da espaçonave Soyuz
terminaria em agédia. O cosmonauta Vladimir
Komarov decolou a bordo da nave em 23 de abril de
DURAÇÃO
1967, naquele que seria seu segundo e úlmo voo
De 11 a 22 de espacial. O voo durou um dia e o veículo apresentou
outubro de 1968. uma tonelada de problemas. Na volta, o paraquedas
da cápsula falhou em abrir, e Komarov morreu no
impacto com o solo. A Soyuz 2 só poderia voar dali
a 18 meses, em oubro de 1968. A disputa ene as
duas potências permanecia parelha.
TRIPULANTES A pedido das viúvas de Grissom, White e Chaffee,
a Nasa dedicou a eles a designação oficial Apollo 1, e
Walter M. Schirra dali a numeração seguiu, contabilizando também dois
Donn E. Eisele lançamentos não ipulados de 1966. Em novembro de
R. Cunningham
1967, a missão Apollo 4 testa um módulo de comando
e serviço no primeiro voo do poderoso Sarn V. Em
janeiro de 1968, a Apollo 5 faz o primeiro voo do
módulo lunar em órbita terrese. Em abril, a mis-
são Apollo 6 tenta demonsar a capacidade de voo
DEU CERTO?
anslunar com um módulo de comando e serviço,
Sim. A missão mas o terceiro estágio do Sarn V tem problemas,
testou com em seu segundo voo. Tudo isso sem ipulação.
sucesso pela Em 11 de oubro, finalmente, era a hora de voltar
Lançamento primeira vez a levar asonautas ao espaço. A Apollo 7 teve como
do Saturn o módulo de comandante Wally Schirra, em seu terceiro e úlmo
IB, levando a comando e
voo, acompanhado pelos novatos Donn Eisele e R.
Apollo 7, em serviço em
órbita terrestre.
Walter Cunningham. O lançamento seria propelido
11 de outubro
de 1968.
pelo Sarn IB, num voo de 11 dias em órbita terrese.
Com o equipamento, do funcionou. Condo, a
missão ajudou a descobrir algumas falhas de “siste-
mas" nos humanos. A bordo da Apollo, mais espaçosa
que as cápsulas Mercury e Gemini, os asonautas
experimentaram pela primeira vez “enjoo espacial" –

Apollo
desorientação e náusea causada pela ausência de peso.
Além disso, Schirra ficou resfriado durante o voo,
e o esesse fez com que ele e seus colegas respon-
dessem de forma ríspida a pedidos do conole da
missão. Eles brigaram pela hora de ligar a câmera de
TV para a ansmissão ao público, e Schirra estava

7
determinado a realizar a reenada sem capacete, pre-
De volta ao espaço, na ocupado que a mudança de pressão pudesse estourar
seus tímpanos. Apesar dos pesares, a missão foi um
primeira missão tripulada sucesso e pavimentou o caminho para voos maiores.
do programa lunar. Apollo estava de volta nos ilhos.
APOLLO

1. Jim Lovell,
William Anders
e Frank Borman
em treinamento.
2. O nascer da
Terra visto da
órbita da Lua
pela Apollo 8.
3. O primeiro
lançamento
tripulado do
foguete Saturn V.

Apollo 8
Fotos: divulgação/NASA

A primeira visita de
seres humanos às
imediações da Lua.
DOSSIÊ SUPER 25

E
Lua? Em agosto eles revisaram a sequência, criando
a missão C' (C-linha), a ser executada pela Apollo 8.
Além de ser espetacular por si mesma – a primeira
viagem humana até os arredores da Lua –, ela tornava
a anga missão E supérflua, permindo manter o
cronograma mais ou menos no lugar.
Se em agosto parecia a coisa certa a fazer, imagine
em setembro, quando a União Soviéca lançou uma
cápsula L-1 (missão Zond 5) com duas tartarugas e
ouos bichinhos a bordo, numa missão circunlu-
nar que retornou à Terra, sã e salva? Os sistemas da
Apollo eram bem mais sofiscados, mas num jogo
que era tanto de aparências quanto de realizações,
teria sido um golpe e tanto se os primeiros humanos
a contornar a Lua fossem soviécos.
ELA FOI A MISSÃO mais corajosa e ar- Para os americanos, a missão Apollo 8 seria a
riscada de todo o Projeto Apollo – a definiva volta por cima. Mas os riscos não eram
primeira viagem de seres humanos para poucos. Era o primeiro voo ipulado com um foguete
fora do poço gravitacional de seu plane- Sarn V. E havia um detalhe ainda mais perrba-
ta de origem, rumo a seu único satélite dor: dos dois únicos testes não ipulados realizados,
naral. E nasceu parida de um aaso. o lançador apresentou problemas consideráveis no
Em setembro de 1967, na esteira da segundo – e exatamente ao fazer a manobra que teria
agédia da Apollo 1, os gerentes do pro- EMBLEMA de ser conduzida agora, com ipulação.
grama lunar formataram uma sequência Wernher von Braun, chefe da equipe responsável
de missões até o pouso, designadas por pelo foguete, assegurou aos gerentes que os problemas
leas. Eram elas: enfrentados na Apollo 6 haviam sido todos corrigidos
e que o veículo estava pronto.
A Voo não ipulado do módulo de co- No dia 21 de dezembro de 1968, o comandante
mando e serviço (CSM) com o Sarn V. Frank F. Borman II e seus colegas, James A. Lovell
B Voo não ipulado do módulo lunar Jr. e William A. Anders, parriam da plataforma 39A
(LM) na órbita baixa da Terra. do Ceno Espacial Kennedy, na Flórida, naquela que
C Voo ipulado do CSM na órbita seria a primeira viagem ipulada ao redor da Lua.
baixa da Terra. Como promedo por Von Braun, o foguete funcionou
D Voo ipulado conjunto do CSM e perfeitamente, e o io usou o motor do módulo de
do LM em órbita baixa da Terra. DURAÇÃO comando e serviço para enar em órbita da Lua no dia
E Voo tripulado do CSM e do LM De 21 a 27 de 24 de dezembro de 1968. Lá, eles foram os primeiros
simulando uma missão lunar a uma dezembro de 1968. seres humanos a observar – e regisar – o nascer da
órbita média de 6.500 km de alde. Terra visto das imediações lunares.
F Voo tripulado do CSM e do LM Em órbita lunar, os asonautas ansmiram suas
até a Lua, demonsando a técnica de impressões do que podiam ver do solo. E, na véspera
encono em órbita lunar. de Natal, eles leram para seus espectadores os dez
G Primeiro pouso ipulado na Lua. primeiros versículos do Livro do Gênesis, da Bíblia.
TRIPULANTES
E concluíram: “Da ipulação da Apollo 8, fechamos
As missões Apollo 4 e 6 cumpriram Frank F. Borman II com boa noite, boa sorte, um feliz Natal e Deus os
o objevo A, e a Apollo 5 deu conta James A. Lovell Jr. abençoe – todos vocês na boa Terra.” Foi a maior au-
do objetivo B. A meta C veio com a William A. Anders diência televisiva da história na época – ansmissão
Apollo 7 e, em princípio, a Apollo 8 ao vivo para 64 países. Ouos 30 também exibiram,
seguiria o roteiro do objevo D. Só que mas numa veiculação aasada, no mesmo dia.
o módulo lunar não estava pronto; o Para os asonautas, condo, ainda havia um dra-
veículo ainda enfrentava problemas de ma a ser vivido: o motor do módulo de comando e
desenvolvimento. DEU CERTO? serviço teria de disparar corretamente para colocá-los
Como a necessidade faz a invenção, Sim. A tripulação no caminho de volta à Terra. Se não funcionasse,
os gerentes pensaram fora da caixinha se tornou a primeira eles ficariam presos na órbita da Lua para sempre.
– e se a Apollo 8 fosse só com o módulo a viajar até a órbita Felizmente, deu do certo, e a Apollo 8 fez um pouso
de comando e serviço até a órbita da da Lua e voltar. suave no Pacífico no dia 27 de dezembro.
APOLLO

Apollo
9 O último teste das
naves lunares em
órbita terrestre baixa.

ALÉM DE COLOCAR
A os Estados Unidos na dianteira
da corrida para a Lua, a missão Apollo 8 ganhou o
tempo necessário para que o módulo lunar ficasse
pronto. Seguindo o planejamento da Nasa, esse pri-
2
meiro teste deveria acontecer com a missão po D,
em órbita terrese baixa. E assim nasceu a Apollo 9,
fazendo o que originalmente a 8 deveria ter feito.
O planejamento original era lançar a missão em 28
de fevereiro de 1969, mas os ês ipulantes escalados
– o comandante James McDivitt, o piloto do módulo
de comando David Scott e o piloto do módulo lunar
Rusty Schweickart – pegaram um resfriado. Como
eles seriam bastante exigidos nos dez dias de voo, a
Nasa optou por adiar o lançamento até que esves-
sem recuperados. Então o lançamento do Sarn V
ocorreu às 11 horas, no dia 3 de março.
Era o po de adiamento que só um voo em órbita
Fotos: divulgação/NASA

terrese podia sofrer; numa fura viagem à Lua, do


teria de ser sincronizado com as posições da Lua, da
Terra e do Sol para que os asonautas enconassem o
lugar de pouso correto, no nível de iluminação exato.
Diversos procedimentos seriam conduzidos pela
DOSSIÊ SUPER 27

primeira vez durante a Apollo 9. Além de promove-


1. David Scott sai
rem vários testes do motor do módulo de serviço, os
pela escotilha
asonautas fizeram pela primeira vez a exação do
do módulo de módulo lunar, que subia ao espaço preso ao terceiro
comando Gumdrop. estágio do Sarn V. Sem essa manobra, seria impos-
2. O módulo lunar sível pousar na Lua. Cabia a Scott pilotar o módulo de
Spider é testado comando durante o teste. Uma vez acopladas, as duas
em órbita terrestre. espaçonaves permaneceram em órbita baixa, enquanto
3. McDivitt, Scott o terceiro estágio do Sarn V seria disparado para,
e Schweickart solitário, assumir uma órbita ao redor do Sol.
a caminho da
Diversos testes de propulsão com as duas naves
plataforma de
conectadas foram conduzidos e, no terceiro dia de voo,
lançamento 39A.
o plano era que McDivitt e Schweickart se ansferis-
sem para o módulo lunar para pilotá-lo pela primeira
vez. Surgiu com essa missão a adição de dar nomes
diferentes a cada uma das naves. Quando estavam
acopladas, as duas eram apenas “Apollo 9". Condo,
separados, o módulo de comando e serviço se tornava
Gumdrop, e o módulo lunar virava o Spider.
Só que as coisas foram se complicando quando
Schweickart começou a passar mal para valer – enjoo
espacial dos brabos. Ele vomitou duas vezes, uma a
EMBLEMA bordo do Gumdrop, oua no Spider, e o comandante
McDivitt chegou a solicitar um canal privado com
os médicos em Houston para saber o que fazer. Mas,
apesar do duro processo de adaptação, eles conse-
guiram iniciar os testes do módulo lunar e chegaram
a disparar seu motor de descida, ainda acoplado ao
módulo de comando e serviço.
No quarto dia, Schweickart fez uma caminhada
espacial, usando o aje desenvolvido para as furas
caminhadas lunares, num teste de ansferência de
ipulação de emergência, a ser feito pelo lado de fora
1
DURAÇÃO do veículo. Em circunstâncias normais, o método
não deveria ser ulizado, mas era uma das muitas
De 3 a 13 de conngências para as quais os responsáveis pelo
março de 1968. programa queriam estar preparados.
3
No quinto dia, o Spider se separou do Gumdrop
e os asonautas realizaram os testes mais crícos
para a missão: voo solo e a fura reunião das duas
naves, tentando simular com tanta fidelidade quanto
possível como esse procedimento se daria em órbita
TRIPULANTES
lunar. Deu do certo, e o único sistema que não pôde
James A. McDivitt ser completamente testado foi o radar de pouso, já
David R. Scott que ele não funcionaria à distância em que o módulo
Russell L. Schweickart lunar orbitava a Terra.
Nos dias subsequentes, o teste se tornou basica-
mente de resistência – verificar o desempenho do
módulo de comando e serviço durante todo o período
em que ele seria exigido numa missão de pouso lunar.
DEU CERTO? A cápsula retornou à Terra em 13 de março, abrindo
Sim. Todos os testes caminho para o úlmo ensaio antes das primeiras
das naves feitos em pegadas humanas na Lua. Ou será que a Apollo 10 já
órbita terrestre foram poderia realizar o primeiro pouso? A dúvida bateu
bem-sucedidos. ene os gerentes do programa.
APOLLO

1 2

Apollo 10 O ensaio geral para


a primeira alunissagem
tripulada.

E
improviso e responsável por colocar a
Nasa na dianteira da corrida pela Lua.
A agência espacial americana sabia que
o pouso estaria ene a 10 e a 11 – pro-
vavelmente a 11, mas e se surgisse um
movo para pressa, como um lança-
mento soviéco iminente? Por via das
dúvidas, Donald “Deke" Slayton, o chefe
dos asonautas, decidiu escalar duas
equipes 100% compostas por veteranos
para as ambas as missões.
Para a Apollo 10, os escolhidos foram
EMBLEMA o comandante Thomas P. Stafford, indo
para seu terceiro voo espacial, o piloto
Fotos: divulgação/NASA

ENTRE 1966 E 1969, os planos na sequência das mis- do módulo de comando John W. Young,
sões Apollo sofreram mudanças frenécas, ditadas por também indo para seu terceiro voo, e
um misto de aprendizagem, disponibilidade, lógica o piloto do módulo lunar Eugene A.
e pressa. O maior símbolo dessa metamorfose am- Cernan, em sua segunda missão.
bulante foi a bem-sucedida Apollo 8, concebida de Quando esteve no Brasil, em 2010,
DOSSIÊ SUPER 29

1. Gene Cernan,
era questão de honra cumprir o prazo. Então, para
Thomas Stafford
não arriscar demais e não perder tempo, a Apollo 10
e John Young. foi a única missão do programa a parr da plataforma
2. O módulo de 39B do Ceno Espacial Kennedy, na Flórida. Isso
comando e serviço para que as preparações da Apollo 11 seguissem a
Charlie Brown, galope na plataforma 39A, logo ali ao lado.
em órbita da Lua. A Apollo 10 chegou à órbita lunar em 21 de maio,
3. O estágio o módulo lunar Snoopy (pilotado por Stafford com
de ascensão apoio de Cernan) se separou do módulo de comando
do módulo
Charlie Brown (sim, uma homenagem dos asonautas
lunar Snoopy
aos personagens de Charles Schulz) e iniciou a descida
no reencontro
com o módulo
para a Lua, chegando a sobrevoar a região do Mar
de comando
da Tranquilidade, escolhida para o primeiro pouso,
Charlie Brown. a meros 15 km de alde – pouco mais que a alra
típica de cruzeiro de um avião de passageiros na Terra.
Imagine dois asonautas einados, a apenas um
passo de iniciar um pouso lunar. Qual seria a tentação
de, conariando ordens, ir adiante e alunissar? Depois
de enfrentar a rebeldia dos irritadiços asonautas da
Apollo 7, a Nasa preferiu não arriscar, e nem abasteceu
totalmente o estágio de ascensão do módulo lunar.
Ele só nha combustível suficiente para reenconar
o módulo de comando a parr de uma alde de
15 km. Se Stafford e Cernan procedessem com um
pouso não autorizado, não poderiam deixar a Lua.
“Se eu gostaria de ter estado no primeiro pou-
so? Claro que sim”, disse Cernan. “Mas do jeito que
Cernan contou assim a história: “Eles aconteceu foi melhor, foi uma boa decisão, e para
decidiram mandar a Apollo 8 para a mim funcionou ainda melhor, porque ve a chance
Lua sem o módulo lunar. A Apollo 9 de voltar e comandar a ipulação que eu escolhi, no
teve o módulo lunar em órbita terres- que acabou sendo o úlmo voo até a Lua. Então, em
e, e nos ocorreram duas coisas para reospecto, não me arrependo de nada.”
a missão seguinte: se vamos enviar A Apollo 10 foi a missão que até hoje levou os
esses caras até a Lua, colocá-los nessa DURAÇÃO asonautas mais longe de casa – ao angir a Lua
missão perigosa, por que não os dei- perto do momento de máximo afastamento lunar em
De 18 a 26 de
xamos ir até o final e tentar pousar? maio de 1969.
sua órbita ao redor da Terra, a nave chegou a estar a
Por que assumir o risco, ir tão longe e 408.950 km da cidade de Houston, lar dos asonau-
não deixá-los pousar? E ouo grupo tas. A distância média Terra-Lua é de 384 mil km.
disse: bem, vamos deixá-los fazer do A missão permaneceu em órbita da Lua até a
menos pousar. Vamos aceitar os riscos, madrugada do dia 24, quando o módulo lunar se
executar todos os passos que precedem separou, realizou o ensaio para o pouso e tornou a
o pouso e deixar só esse úlmo passo TRIPULANTES subir para reenconar-se com o módulo de comando
para o próximo voo. E então essa foi a Thomas P. Stafford e serviço. O procedimento não foi sem emoção. Na
decisão, tomada antes de parrmos.” John W. Young hora de elevar sua alde para o reencono, durante
Com isso, a Apollo 10, realizada ene Eugene A. Cernan a separação do estágio de descida, o veículo começou
18 e 26 de maio de 1969, foi o úlmo a girar fora de conole, e Stafford e Cernan ocaram
passo, um “ensaio geral”, antes da tão vários palavrões até recobrarem o domínio sobre o
sonhada alunissagem ipulada, estabe- veículo. A Nasa, na época, minimizou o incidente.
lecida como meta pelo presidente John Mas mais algumas piruetas e a missão se tornaria
F. Kennedy oito anos antes. Àquela al- DEU CERTO? irrecuperável, condenando o módulo a uma indese-
ra, faltavam menos de sete meses para Sim. O ensaio geral
jável colisão com a superfície lunar.
expirar o prazo estabelecido pelo líder abriu caminho para É uma boa medida de como os americanos arrisca-
americano, assassinado em 1963, que uma tentativa de ram um bocado para vencer a corrida espacial – mas
indicava que a missão deveria ocorrer pouso lunar na todos os riscos estavam a apenas um passo de serem
antes do final da década. Para a Nasa, missão seguinte. compensados.
APOLLO

Apollo
11
Um pequeno passo
para um homem, um
salto gigantesco
para a humanidade.

N
NUNCA UMA VIAGEM espacial foi tão importante ou
acompanhada tão de perto pelos olhos do mundo todo.
Após pracamente uma década de corrida acirrada
ene as duas grandes superpotências do século 20,
a Apollo 11 tentaria realizar o sonho ancesal do ser
humano de pisar na superfície da Lua.
A missão, claro, começava muito antes da deco-
lagem. Em 9 de janeiro de 1969, a Nasa anunciava
formalmente a ipulação escalada: como comandante,
Neil A. Armsong; como piloto do módulo de coman-
do, Michael Collins; e como piloto do módulo lunar,
Edwin “Buzz" Aldrin. A escolha de Armsong como
comandante era sensata, mas o chefe dos asonautas
Deke Slayton nha dúvidas quanto ao temperamento
Foto: divulgação/NASA

de Aldrin, que havia criado problemas com alguns de


seus colegas. Slayton chegou a propor a Armsong
que Aldrin fosse ocado por James Lovell, da Apollo
8, mas, após um dia de reflexão, o comandante de-
cidiu ficar com Aldrin, com quem abalhava bem,
DOSSIÊ SUPER 31

acreditando que Lovell merecia mais tarde ter seu


A decolagem próprio comando – o que de fato ocorreu, na Apollo 13.
da Apollo 11, Oua decisão que precisaria ser tomada era ao mes-
na plataforma
mo tempo prosaica e de um simbolismo ímpar: após
39A do Centro
uma alunissagem bem-sucedida, quem desceria do
Espacial
Kennedy.
módulo lunar para se tornar o primeiro homem a pisar
na Lua? Até então, em toda a história do programa
espacial americano, a caminhada espacial nunca era
feita pelo comandante da missão. Havia expectava
de que isso fosse mando no programa Apollo e de
saída chegou a ser dito que Aldrin seria o primeiro
a sair. Versões iniciais da lista de eventos nos ei-
namentos também previam a saída de Aldrin antes.
E então isso foi modificado. Por um lado, a própria
esura interna do módulo lunar sugeria isso. Era
mais fácil para o comandante sair primeiro do que
para o piloto do módulo lunar, que teria que caminhar
por ás dele num espaço apertado para alcançar a
escolha. De fato, Aldrin chegou a danificar o si-
mulador numa tentava de sair primeiro. Em abril,
tornou-se oficial: Armsong sairia primeiro.
EMBLEMA
Em 2016, em enevista a este jornalista, Aldrin
diria, em tom de frusação: “Para todo sempre na
história, eu serei conhecido, não como o primeiro
homem ou o úlmo homem, mas como o segundo
homem. Bem, eu gosto de prata, mas..."
Apesar de não ter gostado, Aldrin reconheceu que
a decisão da Nasa fora acertada. “Pensando nisso de-
pois, não havia absolutamente nenhum jeito de que
aquela missão esvesse correta com o Neil olhando
pela janela e me vendo descer a escada e ser o pri-
meiro. Isso não teria feito ninguém feliz, realmente.
Porque sempre teria a pergunta: 'Por que o Neil não
DURAÇÃO foi antes?' E aquela era a resposta certa."
Na época, além das razões prácas que tornavam
De 16 a 24 de
julho de 1969.
mais fácil o comandante sair primeiro, a agência espa-
cial americana estava preocupada em ter alguém com
o perfil certo para um momento solene e histórico.
Enquanto Armsong era compeneado e de pou-
cas palavras, Aldrin era espalhafatoso e provocador.
Além de do, embora vesse experiência militar,
TRIPULANTES Armsong era civil, e Aldrin, oficial da Força Aérea.
Neil A. Armstrong Essa mesma solenidade foi solicitada dos aso-
Edwin 'Buzz' E. Aldrin Jr. nautas na hora de bazar suas espaçonaves. Depois
Michael Collins de Gumdrop, Spider, Charlie Brown e Snoopy, a Nasa
queria uma sensibilidade maior na Apollo 11, o que
levou Armsong, Collins e Aldrin a bazarem seu
módulo de comando e serviço de Columbia e o mó-
dulo lunar de Eagle. O primeiro era uma referência
DEU CERTO? ao Columbiad, canhão fictício que propiciava uma
Sim! A alunissagem
viagem à Lua no clássico de Jules Verne de 1865, Da
é um sucesso, e Terra à Lua, além de se referir também ao explorador
a Nasa valida sua genovês Cristóvão Colombo. Já o segundo, a Águia,
estratégia para a remetia ao animal símbolo dos Estados Unidos,
conquista da Lua. representado também no emblema da missão. Os
APOLLO

asonautas decidiram não colocar os neil


próprios nomes na figura, com o in-
ito de sinalizar que a humanidade
toda estava representada pela Apollo 11.
armstrong
COMANDANTE
Também coube à Nasa definir o lo-
cal de pouso designado para a missão,
a partir de cinco sítios previamente
selecionados com imagens de satélite
capradas pelas missões não ipula-
das. Da lista de possibilidades, acabou
sendo escolhida a de número 2, no Mare
Tranquilitas, ou Mar da Tranquilidade,
uma das bacias relavamente planas e
pouco acidentadas do hemisfério pró-
ximo lunar. Em sua missão de “quase
pouso", a Apollo 10 sobrevoou a região
a apenas 15 km de alde e considerou
o local adequado para a tentava.
E então, às 9h32 (hora local) do dia
16 de julho de 1969, o Sarn V decolou
da plataforma 39A do Ceno Espacial
Kennedy, na Flórida, levando o io de
asonautas e a Apollo 11 até uma órbita
terrese baixa. Após uma volta e meia
ao redor da Terra, o terceiro estágio do
foguete, ainda acoplado à nave, disparou
por 5 minutos e 48 segundos, colocando
o conjunto a caminho da Lua.
Por medida de segurança, e a exem-
plo das missões Apollo 8 e 10, a aje-
tória inicial era de “retorno livre”. Ou
seja, se algo desse errado no caminho e
fosse impossível realizar qualquer oua para não ter experimentos durante a
manobra, a nave faria um oito ao redor ida.” Salvo por dois ajustes de curso
da Lua e voltaria à Terra, por gravidade. no caminho, o principal abalho era
Uma vez na rota translunar, era se preparar para pousar na Lua.
preciso separar a nave do foguete. O Em 18 de julho, Armsong e Aldrin
módulo de comando e serviço Colum- colocaram pela primeira vez seus ajes
bia se desacoplou, virou 180 graus e se espaciais e testaram os sistemas do mó-
1930–2012
encaixou ao módulo lunar, para realizar dulo lunar. Em 19 de julho, iniciou-se
sua exação do terceiro estágio do fo- O mais famoso astronauta da a manobra de inserção orbital lunar.
guete, onde viajou protegido por quao história da exploração espacial Um disparo do motor do módulo de
nasceu em Wapakoneta, Ohio,
painéis ejetáveis. (Poucas horas depois, serviço por 357,5 segundos colocou a
e formou-se em engenharia
a ipulação viu um objeto distante apa- aeronáutica pela Universidade de
nave numa órbita elípca, e um segundo
rentemente acompanhando a Apollo 11 Purdue. Armstrong passou algum disparo de 17 segundos circularizou a
a caminho da Lua. O tal “óvni” era quase tempo como aviador na Marinha órbita com alde em torno de 110 km.
com certeza um desses painéis.) americana antes de deixar a Em 20 de julho, checagem final do
Era comum que todas as missões carreira militar e se tornar piloto Eagle e, 100 horas e 12 minutos após a
espaciais americanas levassem vários de teste para a Naca, organização parda (4 dias, 4 horas e 12 minutos),
experimentos a ser realizados no in- aeronáutica precursora da Nasa. ele se desacoplou do módulo de coman-
Fotos: divulgação/NASA

terior da cápsula pelos asonautas no Nessa função, ele pilotou o avião- do Columbia. Na descida, Armsong e
ambiente de microgravidade. Mas não foguete X-15, capaz de realizar Aldrin; em órbita lunar, Collins.
voos suborbitais, e foi selecionado
na Apollo 11. “Não queríamos disações O módulo lunar disparou seus moto-
para a Nasa na segunda turma
para os ês dias em que fomos para res para frear e, com isso, guiar sua des-
de astronautas, em 1962.
a Lua”, disse Aldrin. “Então pedimos cida até a Lua com a ajuda da gravidade
DOSSIÊ SUPER 33

1 3

1. Aldrin, na fotografia mais famosa da Apollo 11.


2. O módulo Eagle retorna da superfície lunar.
3. Uma das poucos fotos de Armstrong na Lua.

michael collins
PILOTO DO MÓDULO DE COMANDO
lunar. Até aí, do exatamente como executado na
missão de ensaio, Apollo 10.
A etapa final da descida, condo, seria bastante
1930- tensa. Após novas manobras e o uso do motor de des-
Nascido em Roma, cida para um pouso conolado, Armsong e Aldrin
Collins foi o segundo notaram que o terreno sob a nave estava passando
filho de um oficial do alguns segundos antes do esperado – eles pousariam
Exército americano além do sío de pouso originalmente planejado.
estacionado na Itália. Para ajudar, o limitado sistema de computador da
Interessado pela carreira nave estava sobrecarregado por dados e disparando
militar, ele preferiu a alertas de falha constantes. Armsong teve de con-
Força Aérea para evitar
olar a descida final para evitar terreno pedregoso
acusações de nepotismo.
e consumiu 40 segundos a mais de combustível do
Entrou para o grupo
de astronautas com a
que o previsto – e terminou com apenas mais 25
terceira turma, de 1963. segundos esmados de reserva de combustível. Ele
Chegou a ser escalado teve de evitar uma cratera para onde o sistema de
para a tripulação daquela pouso automáco estava levando o Eagle, enquanto
que seria a Apollo 8, mas Aldrin frenecamente lia as informações do painel. E
um problema cervical então, após alguns segundos de silêncio que parece-
o tirou da missão. ram uma eternidade no Ceno de Conole, vieram as
APOLLO

palavras de Armsong: “Houston, Base


Tranquilidade aqui... o Eagle pousou.”
buzz aldrin
PILOTO DO MÓDULO LUNAR
Às 16h17 (hora da Flórida) do dia 20
de julho, com o pouso bem-sucedido,
começava um período de avidades de
pouco mais de 21 horas em solo lunar –
mas, claro, de todo esse tempo, a maior
parte gasta deno do módulo mesmo.
Pouco depois do pouso, os asonau-
tas nham um período de descanso
agendado, mas preferiram pular e ini-
ciar imediatamente os procedimentos
para a primeira caminhada sobre a Lua.
Duas horas e meia após a descida, Buzz
Aldrin realizou uma comunhão – a pri-
meira cerimônia religiosa em solo lunar.
Presbiteriano, o asonauta solicitou ao
pastor de sua igreja um kit com cálice
e hósa, mas realizou o ato de forma
1930-
privada. Isso porque a Nasa ainda estava
enfrentando um processo judicial por Nascido em Nova Jersey, Edwin Eugene Aldrin Jr. se
formou na Academia Militar de West Point em 1951, como
supostamente fazer apologia religiosa
engenheiro mecânico. Na Força Aérea, realizou 66 missões
com a leira do Gênesis na Apollo 8.
de combate durante a Guerra da Coreia. Entre 1959 e 1963,
Pouco mais de quao horas após a fez doutorado em astronáutica pelo Instituto de Tecnologia
alunissagem, Neil Armsong estava de Massachusetts, na esperança de virar astronauta. Seu
pronto para iniciar a saída do módu- apelido favorito sempre foi “Buzz”, modo como a irmã mais
lo Eagle rumo à superfície da Lua. Às nova o chamava. Hoje, seu nome é oficialmente Buzz Aldrin.
22h39 (na Flórida), o asonauta abriu
a escolha e vagarosamente iniciou a
descida da escada à superfície. Dezes-
sete minutos depois, colocou sua bota volta caso uma emergência obrigasse
esquerda sobre o solo lunar. “Um pe- a uma decolagem rápida.
queno passo para um homem, um salto OS Cerca de 20 minutos depois, Aldrin
gigantesco para a humanidade.” se juntou a Armsong na superfície.
Transmida pela televisão, graças a PRIMEIROS Eles colheram amosas e instalaram
uma câmera instalada no próprio módu- um pacote de experimentos em solo,
lo lunar que Armsong avou ao des- PASSOS DO contendo poucos insumentos: um sis-
cer a escada, a imagem fantasmagórica mógrafo que ansmiria dados à Terra,
em preto e branco do primeiro homem HOMEM NA um coletor de partículas de vento solar,
na Lua foi vista ao vivo por cerca de azido de volta com eles, e um reor-
530 milhões de pessoas no mundo todo, LUA FORAM refletor projetado para rebater pulsos de
batendo o recorde da ansmissão da laser e permir uma medição precisa
Apollo 8 na véspera de Natal de 1968. VISTOS AO da distância ene a Terra e a Lua.
Na superfície lunar, os asonautas Durante os abalhos, Armsong e
tinham como principal missão me- VIVO POR Aldrin fincaram a bandeira americana
ramente sobreviver. Dados os riscos no solo lunar e receberam um telefone-
envolvidos na primeira tentativa de CERCA DE ma do presidente Richard Nixon.
pouso, o planejamento de experimentos Além dos insumentos científicos,
na superfície da Lua para a Apollo 11 530 MILHÕES eles deixariam na Lua também meda-
foi bem limitado. De saída, Armsong lhas em homenagem aos asonautas
teria de simplesmente reportar o que DE PESSOAS e cosmonautas que deram suas vidas
estava vendo ao redor, avaliar o estado pela conquista da Lua. Também foram
do módulo lunar e colher uma “amosa EM TODO O levadas mensagens de boa-fé de 73 lí-
de conngência” – um punhado de pó, deres mundiais e um broche com um
uma pedrinha ou oua, para azer de MUNDO. ramo de oliveira, um símbolo de paz.

Fotos: divulgação/NASA
DOSSIÊ SUPER 35

1. O resgate do Columbia no Oceano Pacífico.


2. Rochas lunares trazidas pela Apollo 11.
3. Célebre registro de uma pegada no solo lunar.
4. Buzz Aldrin descarrega equipamentos na Lua.
5. Em quarentena a bordo do USS Hornet, os
astronautas encontram o presidente Nixon.

Aldrin foi o primeiro a retornar ao módulo lunar,


seguido por Armsong cerca de 40 minutos depois.
No total, as avidades exaveiculares duraram pou-
co mais de duas horas e meia. De volta ao módulo
lunar, um período de descanso de sete horas, antes
da decolagem. O módulo lunar era dividido em duas
partes, os estágios de descida e ascensão, com o pri-
1 meiro servindo de plataforma de lançamento para o
segundo, onde ficava a cabine para os asonautas.
Mesmo depois do pouso bem-sucedido, ainda
havia tensão para a inédita decolagem lunar. Nixon
2 3
já nha até um discurso preparado, caso houvesse
fracasso na parda. Felizmente não foi preciso ler a
funesta mensagem. A decolagem se deu no dia 21
de julho, e Aldrin notou pela janela que o jato de
exaustão parecia ter derrubado a bandeira – o que
de fato aconteceu e foi confirmado por imagens do
local de pouso colhidas décadas mais tarde pela sonda
Lunar Reconnaissance Orbiter.
Após a subida, o estágio de ascensão do Eagle
tornou a acoplar com o Columbia. Com amosas
(21,5 kg de rochas lunares) e asonautas ansferidos
ao módulo de comando, o Eagle é descartado, para
cair no solo lunar, e o motor do módulo de serviço é
acionado para colocar a nave no rumo de volta para a
Terra. Em 24 de julho, a cápsula da Apollo 11 reena
4
na atmosfera terrese, sendo recuperada no Oceano
Pacífico pelo USS Hornet. Era o fim da mais ousada
avenra já empreendida pelo ser humano. Mas a
burocracia estava apenas no começo.
Os ês asonautas veram de preencher formu-
lários aduaneiros para enar nos Estados Unidos
e, antes de iniciarem uma rnê pelo mundo, ainda
5
passariam 21 dias em quarentena, para que os médicos
se cerficassem de que eles não haviam sido conta-
minados por alguma infecção lunar (parece uma ideia
maluca hoje, mas na época não dava para descartar).
As rochas azidas pela Apollo 11 seriam cata-
logadas e estudadas num laboratório construído
especialmente para esse fim, no Ceno de Espaço-
naves Tripuladas (hoje Ceno Espacial Johnson), em
Houston, e os Estados Unidos declarariam vitória
definiva na corrida espacial, cumprindo o desafio
lançado pelo presidente Kennedy oito anos antes. Mas,
para o programa Apollo, as coisas estavam apenas
esquentando. O próximo voo seria em quao meses.
APOLLO

Apollo 12
O primeiro pouso
de alta precisão e a
primeira expedição
lunar de dois dias.

1 2

1. Alan Bean
3
descendo do
módulo lunar.
2. Conrad, Gordon
e Bean posam
para foto antes
do lançamento.
3. Um eclipse
solar produzido
pela Terra, visto
pela Apollo 12
na volta da Lua.
Fotos: divulgação/NASA
DOSSIÊ SUPER 37

A
(já em seu terceiro voo espacial), o piloto do módulo
de comando Richard F. Gordon Jr. (em seu segundo
voo) e o novato piloto do módulo lunar Alan L. Be-
an. O io formava uma equipe muito mais unida e
desconaída que a da Apollo 11, e dava para senr.
A decolagem do Sarn V aconteceu em 14 de
novembro de 1969, a parr da plataforma 39A do
Ceno Espacial Kennedy – em meio a uma baita
chuva. O foguete chegou a ser angido por um raio
aos 36 segundos de voo, o que deu uma zoada na
insumentação do módulo de comando e serviço
Yankee Clipper. Como se não bastasse, um segundo
raio golpeou o foguete aos 52 segundos, deixando
pirado o indicador de ade (orientação espacial)
do módulo de comando. A telemeia também esta-
A APOLLO 11 PROVOU que era possível va chegando bagunçada ao conole da missão em
viajar até a Lua e retornar em segurança. Houston. A energia caiu a bordo. A sorte foi que o
Já a missão seguinte deveria mosar gerente responsável pela parte eléica se lembrou
que o sistema Apollo era sofiscado a de um teste que teve falha de telemeia similar e
ponto de permir uma alunissagem de sugeriu uma solução obscura e que por sua vez Alan
alta precisão. Afinal, de que adiantaria Bean conseguiu lembrar do que se atava, por ter
obter imagens orbitais do globo lunar parcipado de um einamento que simulou aquela
para escolher os locais cienficamente EMBLEMA falha. Não fosse isso, Conrad poderia ter optado por
mais interessantes, se os asonautas abortar a missão. Graças à intervenção, com a energia
não podiam pousar onde se deseja para restaurada, o voo pôde prosseguir sem problemas.
uma invesgação mais detalhada? Três dias e meio depois, a Apollo 12 angiu a órbita
Primeira missão de tipo H (pós- lunar. A separação do Inepid se deu sem problemas,
-primeiro pouso) na lista da Nasa, a e Conrad e Bean rumaram para a superfície, enquanto
Apollo 12 tentaria essa descida de pre- Gordon permanecia sozinho no Yankee Clipper. E
cisão, além de permir estadias de até a manobra foi com toda a precisão desejada: a nave
dois dias na Lua, com duas sessões de pousou a apenas 183 meos da Surveyor 3. Ao descer
caminhadas lunares. Ficou decidido que a escada e colocar sua bota na superfície, Conrad
o módulo lunar Inepid deveria pousar proferiu as famosas palavras: “Whoopie! Cara, pode
nas proximidades do sío de pouso de ter sido pequeno para o Neil, mas é grande para mim.”
uma das missões não ipuladas da Na- DURAÇÃO Era do parte de uma aposta que o asonauta
sa, a Surveyor 3. Se a missão pudesse De 14 a 24 de havia feito com uma jornalista para provar que a Nasa
descer à distância de uma caminhada de novembro de 1969. não havia insuído Armsong a dizer o que ele disse
um marco tão claro quanto esse, estaria antes de se tornar o primeiro homem a pisar na Lua.
demonsado que a Apollo podia enviar A Apollo 12 levou uma câmera colorida de televi-
asonautas a locais escolhidos de forma são, mas a ansmissão durou pouco. Infelizmente, ao
bastante criteriosa pelos cienstas. reposicioná-la, Bean acabou apontando-a para o Sol
A má notícia é que o local em si, no por tempo suficiente para danificar o equipamento.
TRIPULANTES
Oceanus Procellarum, era muito similar E não seria a única apalhada dele. Bean também
ao que Neil Armsong e Buzz Aldrin Charles 'Pete' Conrad Jr. esqueceria na Lua vários rolos de filme com as foto-
viram no Mare Tranquilitas, o que Richard F. Gordon Jr. grafias radas durante as duas caminhadas espaciais,
frusava quem estava interessado em Alan L. Bean ambas com pouco menos de quao horas cada. Ao
ciência lunar. Em compensação, a boa todo, o Inepid passou cerca de 38 horas na Lua, antes
notícia é que seria muito interessante de decolar para o reencono com o Yankee Clipper.
ver em que estado estava a Surveyor Em um retorno sem problemas, os asonautas
3, depois de passar quase ês anos na veram o privilégio de observar um eclipse solar
Lua. Partes da sonda poderiam ser a- DEU CERTO? causado pela Terra, e foram resgatados no Oceano
zidas de volta para a Terra para análise Sim. O Intrepid Pacífico em 24 de novembro de 1969. Era o fim de um
mais deda. pousou a apenas 183 ómo ano para o programa espacial americano. Mas,
Os escolhidos para a missão foram o metros de seu alvo, como a Nasa logo descobriria, confiança excessiva
comandante Charles “Pete" Conrad Jr. a sonda Surveyor 3. pode ser exemamente perigosa.
APOLLO

Apollo 10 quase perdeu o módulo lunar,


com asonautas deno, na manobra de

Apollo
reencono com o módulo de comando.
A Apollo 11 realizou uma alunissagem
com pouco combustível, alarmes falsos
do computador e uma manobra ma-
nual para escapar de uma cratera. A
Apollo 12 decolou na chuva e tomou

13
dois raios, que os engenheiros temiam
Uma potencial ter danificado o sistema de acionamento
dos paraquedas; vesse sido esse o caso,
tragédia convertida os asonautas estariam condenados à
num colossal triunfo. morte no retorno. Em cada uma dessas
ocasiões, uma agédia em potencial. E,
no entanto, nada aconteceu. Isso cria

N
uma falsa impressão de segurança.
Quando chegou a hora de lançar a
NINGUÉM ENVOLVIDO com as missões Apollo 13, a confiança da agência era
Apollo se iludia quanto aos riscos. A total. Seria a primeira missão realmente
Apollo 7 decolou com ventos desfa- dedicada à ciência, visitando um local
voráveis; se houvesse necessidade de de alto interesse dos esdiosos da Lua:
abortar a missão durante a decolagem, a formação Fra Mauro, onde se espera-
a cápsula poderia ir parar em terra, em vam enconar rochas ejetadas do im-
vez de no mar, ameaçando a sobrevivên- pacto violento que formou a bacia do
cia da ipulação. A Apollo 8 arriscou Mare Imbrium. Tanto que o emblema
uma viagem jamais realizada antes. A da missão azia os dizeres “Ex Luna,

1 2

1. Haise,
Lovell e
Swigert são
resgatados
pelo USS
Iwo Jima.
2. A Lua
vista da
Apollo 13.
DOSSIÊ SUPER 39

Sciena” (“da Lua, conhecimento”, em lam). o espaço. O pouso na Lua teve de ser
Foram escalados James A. Lovell, em seu quarto abortado, e a missão deixou de ser ci-
e úlmo voo, e dois novatos, T. Kenneth Matngly ência para virar sobrevivência.
II e Fred W. Haise Jr. Apenas ês dias antes da de- A decisão foi desativar o Odys-
colagem, Matngly foi diagnoscado com suspeita sey, preservando a pouca eleicidade
de rubéola e sacado da ipulação. Voaria o reserva que nha para a fura reenada na
para a posição, John L. “Jack" Swigert. atmosfera, usando o módulo lunar
O voo paru em 11 de abril de 1970, numa decola- Aquarius como um bote salva-vidas.
gem sem problemas, e os dois primeiros dias foram de Originalmente projetado para abrigar
absoluta anquilidade. O conole da missão estava dois asonautas durante o pouso na
francamente entediado. As viagens à Lua começavam Lua, ele passou a ser ocupado por ês,
a virar rona, e o público já não dava mais tanta que veram de racionar eleicidade,
atenção – as ansmissões feitas pelos asonautas a oxigênio e água. As temperaras em
caminho da Lua nem iam mais ao ar ao vivo na tele- seu interior chegaram a ficar tão baixas
visão. Pouco depois de uma delas, no terceiro dia de quanto 4 °C, e a ipulação ainda foi
viagem, a 322 mil km da Terra, a ipulação executava obrigada a improvisar um sistema para
um procedimento de rona nos tanques do módulo de literalmente encaixar um quadrado num
serviço quando se ouviu um estampido forte, seguido círculo, já que os suprimentos de hidró-
por uma explosão. Uma falha grave de equipamento xido de lío usados para rar o dióxido
havia acontecido. Swigert foi o primeiro a mandar de carbono da cabine do módulo lunar
no rádio um “Ok, Houston, vemos um problema eram insuficientes para a viagem toda, e
Fotos: divulgação/NASA

aqui", que o capcom (responsável pela comunicação EMBLEMA os do módulo de comando vinham em
no ceno de conole) teve de pedir para reper. invólucros num formato diferente do
Era mesmo um problemão. O módulo de comando que se encaixava na oua nave.
e serviço Odyssey estava pracamente inulizado, Usando o motor de descida do Aqua-
depois de perder todo o oxigênio de reserva para rius, a Apollo 13 foi colocada numa a-
jetória de retorno livre – ela passaria
por ás da Lua e voltaria à Terra, para
uma reenada no Oceano Pacífico. Ao
passar cerca de 140 km mais distantes
da superfície lunar do que uma órbita
típica de uma missão de pouso, e ainda
perto do ponto em que a Lua estava
DURAÇÃO mais afastada da Terra, a Apollo 13 foi
De 11 a 17 de a nave ipulada que até hoje voou mais
abril de 1970. longe do nosso planeta, 400.171 km. (Na
Apollo 10, os asonautas chegaram a
ficar mais longe que isso de Houston,
por conta da rotação da Terra, mas
nunca esveram tão afastados assim
do próprio planeta.)
TRIPULANTES
Após dias de apreensão e abalho
James A. Lovell Jr. duro, o módulo de comando se separou
John L. 'Jack' Swigert do módulo de serviço avariado para o
Fred W. Haise Jr. retorno. Os asonautas fotografaram
os danos causados pela explosão, pouco
antes de reenarem na atmosfera. Os
paraquedas funcionaram e a cápsula
desceu no Pacífico em 17 de abril de
DEU CERTO? 1970. Poderia ter sido uma grande a-
Não. Uma explosão gédia. Mas acabou sendo um grande
na ida à Lua impediu iunfo. A Apollo 13 retornava sã e salva
o pouso e quase da mais perigosa viagem já realizada
matou a tripulação. até a Lua.
APOLLO

Apollo 14
A volta do primeiro astronauta americano em grande estilo.

EMBLEMA

DURAÇÃO
O
O ACIDENTE QUE vimou a Apollo 13 levou a uma
invesgação, e os voos lunares foram interrompi-
De 31 de janeiro a
dos por alguns meses. Sua sucessora, a Apollo 14,
9 de fevereiro de 1971.
só voaria em 31 de janeiro de 1971, com modifica-
ções inspiradas pela missão anterior. O objevo
era essencialmente o mesmo: pousar na formação
Fra Mauro, alvo original da viagem abortada.
Era mesmo o desno de Alan B. Shepard Jr.
TRIPULANTES visitar aquela região lunar. Ele e sua ipulação,
Alan B. Shepard Jr. composta pelo piloto do módulo de comando S-
Stuart A. Roosa art A. Roosa e pelo piloto do módulo lunar Edgar
Edgar D. Mitchell D. Mitchell, haviam originalmente sido escolhidos
por Donald “Deke" Slayton, o chefe dos asonautas,
para a Apollo 13. A gestão do programa recusou.
Shepard ainda não estaria pronto para comandar
uma missão com a complexidade da Apollo.
Estamos falando de um herói americano, reali-
DEU CERTO? zador do primeiro voo espacial dos EUA (leia mais
Fotos: divulgação/NASA

Sim, a Apollo
na pág. 10). Só que, após aquela missão suborbital
14 cumpre os de 15 minutos, Shepard ficou encostado. Em 1964,
objetivos originais fora diagnoscado com um problema no ouvido
da 13 e retoma a interno que causava crises de tonra e náuseas.
exploração lunar. Ele só voltaria à ava após uma cirurgia, em 1969,
DOSSIÊ SUPER 41

1. O módulo Antares desce em Fra


Mauro, mas em terreno inclinado.
2. Alan Shepard chega à Lua, em
sua segunda missão espacial.

em avidade. Mas conduziu uma missão fantásca.


Claro que houve apertos pelo caminho, como sempre
acontece. No início da jornada, o módulo de coman-
do Kitty Hawk teve dificuldades para se acoplar ao
módulo lunar Antares. A ipulação fez cinco ten-
tavas infrutíferas até que, na sexta, deu certo. Se
o problema voltasse a acontecer no retorno da Lua,
poderia ameaçar a vida dos asonautas.
Ouos soluços com o módulo lunar também ve-
ram de ser enfrentados antes da descida. Ele estava
avando sozinho no modo de aborto, o que poderia
causar problema na alunissagem. Um software teve de
ser escrito às pressas, na Terra, e enviado ao Antares,
programando o computador para ignorar o sinal falso.
E aí o pouso deu certo. Mas numa região com incli-
nação de oito graus, o que deixou o módulo “torto”.
Ao longo de duas caminhadas, Shepard e Mitchell
colheram um monte de amosas, instalaram insu-
mentos científicos e, na segunda excursão, tentaram
chegar, ladeira acima, à borda da cratera Cone, com
1 seus 300 meos. Após muito caminhar, a dupla pre-
feriu voltar, com medo de ficar sem oxigênio. Ima-
gens analisadas depois permiram concluir que eles
chegaram bem perto, a menos de 30 meos da borda.
2
mas a avaliação foi a de que precisaria Foram quase 45 quilos de rochas azidas para
einar mais. Por isso, Jim Lovell acabou a Terra e a maior distância percorrida a pé na Lua
com a Apollo 13, e Shepard passou à 14. em todo o programa Apollo: 2,7 km ao todo. Foi a
Ironicamente, o local de pouso também primeira vez que os asonautas usaram uma espécie
acabou passando da 13 para a 14. de carrinho de mão para ansportar equipamentos
Para os asonautas, o aperto do ano e também a primeira caminhada espacial em que o
anterior havia ficado para ás. “Estáva- aje do comandante nha uma faixa vermelha no
mos confiantes de que o problema havia capacete – desnada a ajudar a idenficar quem era
sido entendido e resolvido”, disse Edgar quem nas imagens. (Os ajes da Apollo 13 já nham
Mitchell, em enevista concedida em a mudança, mas não chegaram a ser usados.)
2001. “Mas temíamos que, em caso de Também foi a primeira vez que um asonauta deu
falha da Apollo 14, o Congresso e o pú- uma tacada de golfe na Lua. Shepard “conabandeou”
blico parassem de apoiar o programa.” duas bolas de golfe, que ele então golpeou com o
Era um risco real. Em janeiro de insumento de coleta da amosa de conngência.
1970, antes do voo da Apollo 13, a Nasa Segundo ele, a segunda bola viajou por “milhas e mi-
já havia decidido cancelar a planejada lhas e milhas”, beneficiada pela baixa gravidade lunar.
Apollo 20. Depois do acidente, resolve- As caminhadas na Lua duraram um total de 9
ram também não conduzir as missões horas e 22 minutos, e o Antares permaneceu em Fra
18 e 19. Dava a impressão de que esta- Mauro por 33 horas e 30 minutos até a decolagem do
vam tentando encurtar o programa para estágio de ascensão, para o reencono de Shepard
reduzir riscos, além de custos. e Mitchell com Roosa em órbita lunar. A rota para
Aos 47 anos, Shepard era àquela al- a Terra foi percorrida sem sobressaltos, e a missão
ra o mais velho asonauta americano terminou no Pacífico em 9 de fevereiro de 1971.
APOLLO

2 3

1. O jipe
lunar LRV
viajava para
a Lua todo
dobrado.
2. James
Irwin prepara
o jipe para
mais uma
travessia.
3. David
Scott
trabalha na
superfície
da Lua.

Apollo 15
Fotos: divulgação/NASA

A estreia do jipe lunar


e das estadias de
longa duração na Lua.
DOSSIÊ SUPER 43

A
e serviço, colocando-o numa órbita cujo ponto mais
baixo esvesse a apenas cerca de 16 km da Lua. Dali,
o Falcon (nome dado ao módulo lunar da Apollo 15)
poderia se desprender do Endeavour e realizar uma
alunissagem consumindo menos combustível.
O novo módulo lunar agora podia manter os as-
onautas na Lua com segurança por até ês dias, o
que permiria a realização de ês caminhadas. E o
melhor de do: num comparmento externo, todo
dobradinho, viajava um jipe, o Lunar Roving Vehi-
cle (LRV). Movido a bateria, ele aumentaria muito o
alcance da exploração conduzida pelos asonautas.
A alunissagem aconteceu em 30 de julho e, antes
da primeira caminhada, Scott faria um procedimento
novo: ele abriria a escolha superior do Falcon (nor-
malmente usada somente quando acoplado ao módulo
ALÉM DAS MISSÕES de po H, pouso de comando) e olharia de cima para os arredores, a fim
de precisão, a Nasa imaginava conduzir de planejar melhor as viagens dos próximos ês dias.
as de po I, que envolviam a instalação No começo da primeira caminhada, eles desceram
de insumentos de observação no mó- e armaram o LRV para a primeira avessia lunar
dulo de serviço das naves, e as de po sobre rodas. Por alguma razão, as rodas da frente
J, que, além dessas capacidades orbitais EMBLEMA
não queriam virar, mas as de ás, que também eram
avançadas, permiriam maiores esta- esterçáveis, deram conta. Scott e Irwin fizeram uma
dias e mais mobilidade na superfície. A longa volta colhendo amosas e retornaram às proxi-
Apollo 15 seria a primeira viagem lunar midades do Falcon para instalar os insumentos cien-
com o perfil dos pos I e J. tíficos. Passaram 6 horas e 32 minutos abalhando.
Em 26 de julho de 1971, o coman- Na segunda saída, eles passaram mais 7 horas e 12
dante David R. Scott (em seu terceiro minutos explorando, e desta vez, sem explicação, as
e úlmo voo) e os novatos pilotos do rodas frontais do LRV resolveram cooperar. O objevo
módulo de comando, Alfred M. Worden, era chegar ao Delta do Monte Hadley. As ansmissões
e do módulo lunar, James B. Irwin, par- vindas da Lua indicavam que Scott e Irwin estavam
ram rumo a uma região montanhosa se diverndo para valer. A úlma avidade do dia
da Lua, Hadley-Apennine, mais especi- foi fincar a bandeira americana no solo.
ficamente um vale a oeste dos Montes DURAÇÃO Para o terceiro dia, 2 de agosto, mais 4 horas e 49
Apenninus e a leste da Rima Hadley, um minutos do lado de fora do Falcon, com uma série de
De 26 de julho a
sulco produzido por angos processos 7 de agosto de 1971.
avidades. Scott carimbou selos para o correio ame-
vulcânicos na superfície lunar. ricano e, diante da câmera, realizou um experimento
O lançamento anscorreu sem so- soltando uma pena e um martelo da mesma alra,
bressaltos e, uma vez que a Apollo 15 ao mesmo tempo, para verificar que, como predisse
já estava a caminho da Lua, o terceiro Galileu no século 17, ambos caíam com a mesma
estágio do Sarn V foi direcionado a velocidade, a despeito de terem massas diferentes.
impactar cona o satélite naral, de TRIPULANTES Os asonautas também deixaram uma placa me-
forma a gerar um “selenomoto” (terre- David R. Scott morial dedicada a todos os asonautas e cosmonautas
moto lunar) para os sismógrafos ins- Alfred M. Worden que pereceram na corrida para a Lua e Scott deixou
talados nas missões Apollo 12 e 14. (O James B. Irwin uma Bíblia sobre o painel do LRV, que permaneceria
sismógrafo da Apollo 11 havia pifado por lá após a parda deles. O odômeo marcou 27,9
em agosto de 1969.) O procedimento de km percorridos, com um total de 19 horas e 7 minutos
impactar o terceiro estágio do Sarn de avidades exaveiculares, e pouco mais de 68
V, por sinal, já havia sido realizado pela horas “morando" na Lua.
Apollo 13, no que foi o único resultado DEU CERTO? O retorno dos asonautas à Terra, com 77 kg de
científico gerado pela missão na Lua. Sim. A missão provou
rochas, aconteceu em 7 de agosto, com um pequeno
Para as missões J, o módulo lunar es- que era possível susto – um dos ês paraquedas da cápsula falhou.
tava mais pesado, o que exigia que parte passar três dias na Mas o pouso no oceano pôde ser feito em segurança
da manobra de descida fosse realizada Lua e demonstrou com dois deles, concluindo com sucesso a primeira
em conjunto com o módulo de comando o uso do jipe lunar. missão de longa duração em solo lunar.
APOLLO

1. Charles Duke,
36, o mais jovem
caminhante lunar.

Apollo
2. Duke analisa um
rochedo na Lua.
3. Young em seu
"grand prix".
4. A Terra vista da
Lua em ultravioleta.

16
A missão lunar
que mostrou que
nem tudo que
parece de fato é.

A
EMBLEMA

2
DURAÇÃO

De 16 a 27 de
abril de 1972.
ATÉ A APOLLO 16, todos os locais de pouso haviam
sido deno dos “mares” (maria, plural de mare em
lam, terminologia criada por angos asônomos
para se referir às regiões mais escuras e planas da
Lua, visíveis mesmo a olho nu) ou próximos a eles.
Daí a opção, no penúlmo voo, de fazer uma visita à TRIPULANTES
formação Descartes, que não só ficava nos alplanos John W. Young
(as regiões mais claras da superfície), como estava T. Kenneth Mattingly II
bastante afastada de qualquer dos mares. Os cienstas Charles M. Duke Jr.
na época acreditavam que a cratera Descartes e seus
arredores haviam sido formados por vulcanismo lu-
nar ango, e um dos objevos da missão era colher
amosas para corroborar ou refutar essa hipótese.
Para ipular a penúlma missão de exploração DEU CERTO?
Fotos: divulgação/NASA

lunar do Programa Apollo, a Nasa escolheu o veterano Sim. Os astronautas


John W. Young (então indo para seu quarto voo), T. pousaram no
Kenneth Matngly II (que havia escapado da Apollo 13 local indicado e
por uma suspeita de rubéola) e Charles M. Duke Jr. trouxeram rochas
O lançamento aconteceu no dia 16 de abril de 1972. estudadas até hoje.
DOSSIÊ SUPER 45

Foi a segunda missão de po J, com mais tempo em


solo lunar e insumentos avançados no módulo de
serviço. Originalmente, era para ter sido em março,
mas uma série de problemas técnicos obrigaram a
Nasa a adiá-la. Era a primeira vez que isso acontecia
numa missão Apollo a caminho da Lua, mosando
que, vencida a corrida espacial, os gerentes da Nasa
estavam ficando cada vez mais cautelosos – um aci-
dente é sempre ruim, mas o gosto seria mais amargo
ainda se uma agédia marcasse o fim do programa,
ansformando todo o esforço numa vitória de Pirro.
A chegada à órbita da Lua se deu no dia 19, e no
dia 21, após um aaso de seis horas para lidar com
problemas técnicos, o módulo lunar pousou. Com isso,
Charles Duke se tornou o mais jovem caminhante
lunar, então com 36 anos.
O jipe lunar, LRV, mais uma vez deu mobilidade
exa aos inépidos exploradores, que puderam per-
correr com ele 26,7 km ao longo de ês dias, com
direito a um “grand prix” de John Young fazendo um
circuito com o veículo diante das câmeras.
No primeiro dia, os dois desceram e testaram o
rover, instalaram insumentos científicos e coleta-
ram amosas. Um dos experimentos, de medição
de fluxo de calor no interior da Lua, pifou depois
que Young opeçou nos cabos. Em compensação, os
asonautas veram o privilégio de operar o primei-
ro telescópio na Lua. Era um especógrafo/câmera
de ulavioleta – luz que é fortemente filada pela
atmosfera da Terra, mas pode ser observada da Lua.
O disposivo foi instalado à sombra do Orion, e os
asonautas nham de apontá-lo manualmente para
fazer as imagens, regisadas em um carcho de filme
3
que foi recolhido e azido de volta à Terra.
As duas ouas caminhadas lunares foram dedica-
das à visita de alvos geológicos e à coleta de amosas.
E pelas imagens os cienstas já podiam sugerir o
que a análise das rochas confirmaria mais tarde – a
origem de Descartes não é vulcânica como se pensava.
Foram ao todo 71 horas na superfície lunar, das
quais 20 horas e 14 minutos em caminhadas fora da
nave. Na volta à órbita, os asonautas ainda passaram
mais um dia girando ao redor da Lua, para concluir as
observações feitas com o módulo de serviço, antes de
tomar o caminho de volta para a Terra. Curiosamente,
4
após as observações, Ken Matngly teve de fazer uma
caminhada espacial para fora da nave para recolher
os filmes dos insumentos e azê-los de volta para
revelação. O mesmo procedimento havia sido feito na
Apollo 15 e voltaria a se reper na Apollo 17.
Os asonautas pousaram no Pacífico no dia 27 de
abril de 1972 e não precisaram passar por quarentena
após o retorno. O procedimento havia sido abandona-
do após a Apollo 14, ponto em que todos já estavam
convencidos de que a Lua era totalmente estéril.
APOLLO

1. O panorama no vale Taurus-


Littrow; Schmitt figura ao centro.
2. Os seis locais de pouso das missões Apollo.

Apollo
3. Gene Cernan, o último homem na Lua.

Completando o me, Ronald Evans

17
faria seu único voo espacial, como pi-
Na última missão, o primeiro loto do módulo de comando America.
A decolagem norna era necessá-
cientista na Lua, e muitos ria para que a ipulação chegasse na
recordes quebrados. hora certa – com o nível de incidência
solar mais adequado – ao vale Taurus-
-Litow, desno da úlma expedição
Apollo. A parda se deu em 7 de dezem-
bro de 1972, e o pouso do módulo lunar
Challenger em seu desno na superfície

E
aconteceu em 11 de dezembro.
Diversos recordes foram estabeleci-
EMBLEMA
dos – maior estadia na Lua (75 horas) e
maior tempo de caminhadas lunares (22
horas e 3 minutos), disibuído em ês
sessões. Também foi a maior distância
percorrida até hoje por um jipe ipu-
lado em ouo corpo celeste – 35,7 km.
Por fim, a maior coleta de amosas de
todo o projeto Apollo – 110,5 kg. Além
de do isso, a missão foi vibrante.
“A Apollo 17 foi acusada de ter sido a
missão em que nós mais nos divermos
na Lua", contou Cernan. “Nós dissemos
DURAÇÃO e fizemos muitas coisas, todos os ex-
perimentos, mas nos divermos tam-
De 7 a 19 de
dezembro de 1972.
bém. E ouxemos muitos resultados
EMBORA A NASA esvesse einando de geologia. Mas eu disse aos meus dois
cienstas como asonautas havia al- colegas: ‘Vocês só vão vir para esses
gum tempo, nenhum deles nha sido lados uma vez. Portanto, aproveitem.
escalado para ir à Lua. Havia pressão Apreciem o momento. Não se preocu-
para que essa chance não fosse perdida pem com a questão de se vocês vão ou
e, então, na Apollo 17, a agência decidiu TRIPULANTES não voltar para casa. Muitas pessoas
incluir o geólogo Harrison “Jack" Sch- Eugene A. Cernan dizem: você pousa na Lua, você se fecha,
mitt – primeiro e único pesquisador Ronald E. Evans e a única preocupação que você tem é se
até hoje a visitar nosso satélite naral. Harrison H. Schmitt vai voltar para casa. O negócio é deixar
O comandante escolhido para se tor- para pensar nisso durante a viagem de
nar o úlmo homem a pisar na Lua no volta. Quando você está na Lua, você
século 20 foi Eugene A. Cernan, que fez tem de aproveitar o momento. Na hora
o “quase pouso" da Apollo 10. Para ele, em que vermos de iniciar o retorno,
a segunda viagem lunar, desta vez pa- DEU CERTO? esse é o instante certo para fazer uma
Fotos: divulgação/NASA

ra descer à superfície, seria ainda mais Sim. A última missão


pequena oração. Não antes, OK? Então
especial. “Esse foi o voo mais longo, o lunar cumpriu todos aproveitem.' E foi o que fizemos."
primeiro e único lançamento norno, os seus objetivos e No primeiro dia, eles ainda veram
e teve uma série de desafios diferentes", se tornou recordista um problema: uma das pás que pro-
disse, durante visita ao Brasil, em 2010. de estadia na Lua. tegiam as rodas do LRV (o jipe lunar)
DOSSIÊ SUPER 47

1 2

se quebrou. Um reparo de improviso foi feito, e o incêndio antes? E quando você se encona com a
veículo funcionou todo o tempo com esse remendo. nave-mãe em órbita lunar, ainda precisa sair de lá e
Concluída a terceira caminhada, qual foi a sensa- pegar o caminho de casa. A sasfação vem quando
ção? “Ah, eu fiquei desapontado. Nós gostaríamos de você parte de volta para casa, ajusta o curso para re-
ter ficado mais tempo", admiu Cernan. “As coisas enar na atmosfera. A parr daí, não há muito mais
estavam indo bem, mas algumas vezes é quando que você possa fazer, além de esperar. Aí é que vem
as coisas estão bem que é hora de parr. Sabe, não uma sensação de graficação, de sasfação. Eu nha
tínhamos eleicidade suficiente, não tínhamos oxi- a responsabilidade, como comandante, de ter sucesso,
gênio suficiente… talvez véssemos para ficar mais voltar para casa vivo, e fizemos do isso. Tive imenso
um dia, mas o plano era 72 horas, e funcionou bem. orgulho e sasfação pelo que conseguimos fazer."
Você não pode discutir com o sucesso. E a coisa Com o fim da Apollo 17, as primeiras viagens à Lua
não termina quando parmos. Ao sair da superfície, virariam história, em meio a um clima de contenção
você precisa chegar à órbita lunar. E se você tem um de gastos, redução de riscos e desinteresse público.
3
herança
COM O FIM DAS MISSÕES LUNARES, em 1972, as
superpotências redirecionaram seus programas
para a realização de experimentos e viagens de
longa duração em órbita terrestre baixa, culminando
com a criação da Estação Espacial Internacional.
Mas é graças ao legado do Projeto Apollo que
vivemos hoje num mundo ultraconectado.

T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A
HERANÇA

Das viagens
à Lua, nasce
o mundo
moderno
Como as missões empreendidas pela Nasa ajudaram a catapultar o
desenvolvimento da informática e de centenas de outras tecnologias.

APESAR DE SEU CUSTO elevadíssimo ( o equivalente

A
a US$ 112 bilhões em 11 anos), o programa Apollo
ouxe benefícios palpáveis para a economia ame-
ricana e, em úlma análise, ajudou a parir o mundo
digital ulaconectado em que vivemos hoje.
Para começar, há os efeitos difusos, difíceis de
quanficar, mas que certamente veram um papel.
Um bocado de gente que era criança e adolescente na
década de 1960 cresceu vendo as fantáscas realiza-
ções do programa espacial e se movou a perseguir
uma carreira em ciência, tecnologia, engenharia ou
matemáca, o quarteto de disciplinas essenciais reu-
nidas hoje na sigla inglesa STEM. É a tal “geração
Foto: divulgação/MIT

Apollo". “Houve um aumento dramáco no número


de esdantes cidadãos americanos que buscaram
graduação avançada em disciplinas STEM", diz Eligar
Sadeh, da empresa de consultoria Asoconsulng.
DOSSIÊ SUPER 51

–, e esse processo culminou com o celular que está


neste momento no seu bolso. Na época, o módulo
lunar nha de abalhar com um computador cuja
memória de abalho (RAM) nha apenas 64 kbytes,
o equivalente a uma única foto em baixa resolução.
Mas é assim que as coisas começam.
A Nasa se tornou uma grande consumidora da
nascente indúsia eleônica e, ao lado do desen-
volvimento militar de mísseis balíscos, ajudou a
derrubar o preço dos circuitos integrados para que
eles enconassem seu caminho na economia de mer-
cado. Há esmavas de que, já em 1963, o programa
Apollo estava sozinho consumindo 60% de toda a
produção americana de circuitos integrados. E nesse
caso específico a aplicação nas viagens lunares era
muito mais exigente que a dos mísseis, porque era
necessário garanr confiabilidade num ambiente
mais exemo, o espaço. Tudo isso ajudou a parir o
mundo moderno.
Teria acontecido sem o programa Apollo? Prova-
velmente sim. Mas demoraria mais.
E não custa também a gente lembrar o fato de
que, quando você tenta superar um desafio tão ab-
surdamente difícil e cheio de nuances quanto levar
seres humanos à Lua e azê-los de volta à Terra, seus
programas de pesquisa e desenvolvimento produzirão
tantas inovações que é inevitável que, cedo ou tarde,
elas se tornem produtos usados aqui mesmo, no nosso
codiano, para melhorar a nossa vida.
A Nasa mantém uma base de dados com todas
as invenções que se tornaram produtos derivados
(cosma-se usar o termo “spin-offs") de seus pro-
gramas espaciais. Só ligados ao programa Apollo, são
mais de 1.800 produtos até hoje. Quer uma lisnha?
Simulação
Sistemas de resfriamento de ajes desenvolvidos
do cockpit do para as caminhadas lunares hoje são usados por pi-
módulo lunar lotos, técnicos de reatores nucleares, funcionários de
da Apollo 11 estaleiros e pessoas com esclerose múlpla; máquinas
Um efeito muito mais claro diz durante o de diálise se beneficiam de um processo químico de-
respeito ao desenvolvimento da com- pouso na Lua. senvolvido pela Nasa para filar resíduos tóxicos que
putação. Qualquer voo espacial exige as torna mais econômicas; equipamentos para manter
cálculos feitos em tempo real, com rá- os asonautas em forma com exercícios anaeróbicos
pido processamento e a máxima mi- estão em academias; sistemas de filagem de água
niarização possível. Estamos falando das naves foram parar em filos doméscos; comida
de uma época em que computadores desidratada e congelada hoje existe nas prateleiras
ocupavam salas inteiras. Mas, durante o dos supermercados; tecidos resistentes ao fogo usa-
programa Apollo, a Nasa precisou fazer dos hoje pelos bombeiros nasceram das chamas da
os computadores caberem deno do Apollo 1; ntas usadas em automóveis; lubrifican-
relavamente modesto módulo lunar, tes para bulações; materiais de isolamento térmico
para colher e processar dados em tempo criados para espaçonaves agora revestem casas, e por
real de modo a permir a alunissagem. aí vai... uma lista de 1.800 produtos não vai caber
A iniciava deu um impulso enorme aqui, mas dá uma ideia de como o programa lunar
no processo de miniarização dos cir- serviu como um imenso catalisador para a criavidade
cuitos integrados – até então uma novi- humana. E os benefícios estão ao seu redor, sem que
dade com pouca demanda de mercado você se dê conta de onde eles vieram.
HERANÇA

1 2

Os gigantes
se encontram
no espaço
Fotos: divulgação/NASA

Após a conquista lunar, soviéticos e americanos se concentram em desenvolver aplicações


em baixa órbita. E uma era termina em 1975, com a acoplagem de uma Apollo e uma Soyuz.
DOSSIÊ SUPER 53

1. Americanos e
a Nasa ainda estava focada em suas úlmas missões
soviéticos treinando lunares. Era um feito inédito na exploração espacial,
juntos para... capaz de recuperar um pouco do orgulho soviéco
2. ...a missão de perdido, não fosse por um detalhe: nada deu certo.
teste Apollo- A primeira ipulação desnada a visitar a Salyut 1
Soyuz, de 1975. (Vladimir Shatalov, Aleksei Yeliseyev e Nikolai Ruka-
vishnikov) teve problemas na acoplagem e não pôde
abrir a escolha para enar. Lançada no dia 22, teve
de retornar mais cedo, no dia 24, e, pior, na reenada
atmosférica gases tóxicos começaram a preencher a
cápsula, levando Rukavishnikov a um desmaio. Mas
os ês sobreviveram sem sequelas. E essa foi a melhor
das missões da Salyut 1.
A pior foi a segunda e úlma, iniciada em 7 de
junho. A ipulação era para ter sido Alexei Leonov
(o primeiro caminhante espacial), Valeri Kubasov e
Pyo Kolodin, mas, quao dias antes do voo, um
raio X de Kubasov revelou sinais de berculose, e
a ipulação reserva assumiu a Soyuz 11. Desta vez,
Georgy Dobrovolsky, Vladislav Volkov e Viktor Pat-
sayev conseguiram enar e cumprir seus objevos
a bordo. Fizeram experimentos com plantas, usaram
um telescópio, realizaram observação da Terra, apa-
receram na televisão soviéca e bateram o recorde
de estadia ininterrupta no espaço – quase 24 dias.
A cápsula voltou no dia 30, no que parecia ter sido
um pouso normal. Mas, quando a equipe de resgate
a abriu, a ipulação estava morta. Uma falha deixou

A
o ar da cápsula vazar para o espaço, antes da descida.
Do lado americano, havia a intenção de fazer o
bolo e comê-lo também. Ainda em meio às missões
lunares, criou-se o Programa de Aplicações Apollo,
O PROJETO com o objevo de usar os sistemas já prontos em
ouos projetos. Assim nasceu o Skylab, o primeiro
DE TESTE laboratório espacial americano, lançado com o úlmo
dos foguetes Sarn V a voar, em 14 de maio de 1973.
APOLLO- A primeira ipulação, composta por Charles "Pete"
Conrad Jr., Joseph Kerwin e Paul Weitz, bateu o re-
SOYUZ FOI corde de permanência no espaço: 28 dias. A segunda
ipulação, composta por Alan Bean, Owen Garriott
A PRIMEIRA e Jack Lousma, subiu em 28 de julho e passou 59 dias
no espaço. O úlmo voo para o Skylab aconteceria
TENTATIVA ene 16 de novembro de 1973 e 8 de fevereiro de
A REAÇÃO DOS SOVIÉTICOS à vitória 1974, com uma ipulação de novatos (Gerald Carr,
americana na corrida espacial foi fingir DE CRIAR UM Edward Gibson e William Pogue) e duração de 84 dias.
que não era com eles. Por anos, negaram Restava apenas uma úlma Apollo para voar, numa
ter feito qualquer esforço para ir à Lua, CLIMA DE missão histórica: a primeira colaboração espacial ene
enfazando que seu objevo era desen- as superpotências. Em 17 de julho de 1975, a Apollo
volver estações espaciais para voos de COOPERAÇÃO ipulada por Thomas Stafford, Vance Brand e Donald
longa duração em órbita baixa. "Deke" Slayton acopla no espaço com a Soyuz 19,
A primeira dessas estações foi a ESPACIAL ipulada por Alexei Leonov e Valeri Kubasov – um
Salyut 1, lançada no dia 19 de abril de teste para o caso de uma superpotência ter algum dia
1971 por um foguete Proton (cujo mo- ENTRE EUA de promover uma missão de resgate para socorrer
delo básico, com algumas aalizações, um rival. Era o fim de uma era – com apertos de mão
segue em operação até hoje), enquanto E URSS. ene americanos e soviécos.
HERANÇA

A era dos
Projeto de naves
reutilizáveis
tentou, sem
sucesso, baratear

ônibus
o custo de acesso
ao espaço,
mas gestou o
maior projeto

espaciais
de cooperação
da história: a
Estação Espacial
Internacional.

1 2

1. Primeiro
lançamento
de um ônibus
espacial, o
Columbia
(STS-1).
2. Ele
decolava
como
foguete, mas
pousava
como avião.
3. A Estação
Espacial
Internacional,
3
vista do
ônibus
Atlantis.
DOSSIÊ SUPER 55

O
Nixon abraçou a única bandeira possível na era
pós-Apollo: o programa dos ônibus espaciais (space
shuttles). A promessa era de que uma frota de na-
ves reulizáveis, capazes de decolar como foguetes
e pousar como aviões, poderia baratear – e assim
revolucionar – o acesso ao espaço.
Fora um protópo de teste, o primeiro ônibus espa-
cial foi o Columbia, que fez sua decolagem inaugural
em 12 de abril de 1981. Para pilotá-lo, a Nasa escalou
John Young, em seu quinto voo espacial, depois de
parcipar de duas missões Gemini e duas missões
Apollo, tendo a seu lado o novato Robert Crippen.
Os planos oficialmente eram montar uma frota para
então consuir uma estação espacial.
Em 28 de janeiro de 1986, os ônibus espaciais
O MUNDO ERA UM LUGAR muito diferente em 1961, mosariam sua face mais perigosa. Logo após sua
quando John F. Kennedy lançou o desafio de ir à décima decolagem, o Challenger explode, matando
Fotos: divulgação/NASA

Lua, e em 1972, quando Richard Nixon definiu o sete pessoas e o sonho de baratear o acesso ao espaço.
que viria após a conquista lunar. O primeiro queria Em compensação, os soviécos estavam indo muito
bater os russos, não importando o custo. O segundo bem, obrigado, tocando seu programa de estações
teve de pagar a conta, em meio a recessão e crescente Salyut. Em 1986, eles iniciariam a consução de uma
desinteresse público com o espaço após a Apollo 11. estação modular, a Mir (Paz, em russo). As duas potên-
cias chegaram a discur um programa conjunto, mas
o papo só evoluiu após o colapso da União Soviéca.
Em 1992, George Bush e Boris Yeltsin assinaram um
acordo em que ônibus espaciais poderiam voar à Mir,
com americanos servindo a bordo da estação russa,
e russos viajando nas naves americanas.
No ano seguinte, os dois governos concordaram em
desenvolver um complexo orbital conjunto, a Estação
Espacial Internacional (ISS), agregando também ao
projeto Canadá, Japão e países europeus. Seu primei-
ro componente foi lançado em 1998, e desde 2000
a estação está permanentemente ipulada. Quanto
à anga Mir, encerrou suas operações em 2001 e
reenou na atmosfera, mergulhando no Pacífico.
O processo de consução da ISS foi temporaria-
mente perrbado pelo acidente do ônibus Columbia,
que matou seus sete ocupantes durante a reenada,
em 1º de fevereiro de 2003, após ter o bordo da asa
danificado por espuma que se desprendeu do tanque
externo do veículo após a decolagem. A conclusão
do painel de invesgação do acidente foi de que os
ônibus espaciais eram inerentemente perigosos e
deviam ser aposentados o mais breve possível.
A retomada dos voos se deu em 2005, e a conclu-
são da consução da Estação Espacial Internacional
aconteceu em 2011. Após 12 missões, as naves reu-
lizáveis da Nasa foram aposentadas. A ISS segue
em órbita, sempre ipulada, e tem financiamento
garando até 2024. A parr daí, a Nasa espera pas-
sar a gestão de sua parcipação na estação para a
iniciava privada, focando suas atenções em voos
maiores. Depois de algumas décadas, o furo, mais
uma vez, está batendo à nossa porta.
4
ARTEMIS
APÓS DÉCADAS DE IDAS E VINDAS, a Nasa agora
lidera um esforço internacional para retorno à Lua.
O Programa Artemis, que reúne diversas iniciativas
combinando esforços públicos e privados, quer
colocar botas no solo já em 2024. Ainda há pedras
pelo caminho, mas o futuro da humanidade na
superfície lunar nunca pareceu tão promissor.

T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A
ARTEMIS

1. Concepção
artística da
estação lunar
proposta
pela Nasa.
2. Cápsula
Orion em teste
no Pacífico.

O novo
Dificilmente
haverá uma onda
de financiamento
como a que

caminho
permitiu o Projeto
Apollo. Mas, por
meio de um misto
de cooperação

para a Lua
e inovação, a
Foto: divulgação/NASA

humanidade
deve retornar à
Lua – em breve.
DOSSIÊ SUPER 59

M
a década de 2020 terá novamente humanos voando
ao redor da Lua – e possivelmente até pousando nela.
Em 2003, com o acidente do ônibus espacial
Columbia, uma comissão foi criada para avaliar o
programa espacial americano. Ficou claro então que
faltava um objevo de longo prazo, e no ano seguinte
o presidente George W. Bush anunciou um plano de
retorno à Lua até 2018, em preparação para uma fura
viagem a Marte. Foi criado o Projeto Constellaon,
uma tentava de reper as velhas missões lunares
numa escala maior, algo que o então adminisador da
Nasa Mike Griffin definiu como “Apollo com anabo-
lizantes". Mas faltou dinheiro, e em 2010 o presidente
Barack Obama decidiu cancelar a iniciava.
O Congresso, condo, impediu a perda total. Em
vez disso, salvou a cápsula Orion – versão moderna
MUITO ANTES de ser chamado a pro- da Apollo – e manteve também em desenvolvimento
jetar o Sarn V, foguete gigante que um superfoguete, o SLS, comparável ao Sarn V.
levaria as naves Apollo à Lua, Wernher (A ideia por ás do SLS é baseá-lo em tecnologias
von Braun escreveu em 1952 um argo desenvolvidas para os ônibus espaciais, aproveitando
na revista Collier's em que rascunhava a infraesura disponível. O maquinário para fabri-
o furo espacial prestes a se desfral- cação do velho Sarn V, claro, há muito se perdeu.)
dar. Ele acreditava que em primeiro Ambos os projetos vêm andando meio que aos
lugar seriam desenvolvidos foguetes ancos e barrancos, mas têm assentamento em to-
para ansporte até a órbita terrese, da a experiência adquirida com a gestão da Estação
seguidos pela consução de uma es- Espacial Internacional (ISS). Por exemplo, o módulo
tação espacial ipulada gigante, de on- de serviço da Orion é fornecido pela ESA, a Agência
de furamente poderiam ser enviadas Espacial Europeia. É certo que a próxima empreitada
missões à Lua e, mais tarde, a Marte. UMA NOVA lunar será realizada em regime de parceria ene países
Na década seguinte, a Guerra Fria – modelo oposto ao que foi adotado na Guerra Fria.
inverteria essa lógica, obrigando o pre- CÁPSULA, Com efeito, a Nasa decidiu que irá consuir uma
sidente John F. Kennedy a apostar de pequena estação orbital ao redor da Lua, o Lunar Ga-
cara no objevo mais difícil – a con- CHAMADA teway, nos mesmos moldes da ISS, com conibuição
quista da Lua. Só que, uma vez vencida de vários países. Em fevereiro, o Canadá foi o primeiro
a corrida espacial, a Nasa não teria mais ORION, E país a aderir formalmente, comprometendo-se a pro-
um cheque em branco e seria obrigada duzir um braço robóco. Espera-se que Japão, Rússia
a realizar novos projetos com recursos UM NOVO e países europeus também embarquem no projeto.
mais modestos. Para dar uma ideia, no Mais importante que isso, a Nasa está fazendo um
auge do gastos com o programa Apollo, FOGUETE, esforço danado para realizar o primeiro lançamento do
em 1966, ela chegou a comandar quase SLS com uma cápsula Orion, sem ipulação, em 2021.
5% do total do orçamento federal ameri- O SLS, No ano seguinte, o voo seria ipulado – a primeira
cano. Aalizando pela inflação, seriam viagem aos arredores da Lua desde a Apollo 17, meio
cerca de US$ 46 bilhões, só naquele ano. PROMETEM século antes. E aí tentar pousar humanos de volta na
Daquele ponto em diante, o orça- Lua na terceira missão SLS/Orion, em 2024. O novo
mento da Nasa foi murchando e, em REALIZAR projeto foi bazado apropriadamente de Artemis.
1971, um ano antes do fim das viagens Afinal, na mitologia grega, Ártemis é a irmã de Apolo,
à Lua, angiu o patamar aal. Hoje, MISSÕES e é certo que as novas missões terão mulheres nas
corresponde a 0,5% do orçamento fe- ipulações que conduzirão a segunda grande era de
deral, cerca de US$ 20 bilhões. Isso, LUNARES exploração lunar.
por si só, explica por que a Nasa não foi Muito bem, do lindo. Mas vai acontecer ou é só
mais à Lua e ainda estamos a aguardar TRIPULADAS programa espacial de powerpoint, como vários dos
uma nova onda de exploração lunar. planos infalíveis da Nasa nas úlmas décadas? Desta
Felizmente, as circunstâncias estão mu- A PARTIR vez, graças a inovações exaordinárias na indúsia,
dando e, meio século após as primeiras um retorno à Lua na próxima década parece bem
expedições, há razões para acreditar que DE 2022. provável, quiçá inevitável – como veremos a seguir.
ARTEMIS

A nova
corrida
espacial
Descubra de que maneira empresas como
a SpaceX e a Blue Origin, com a ajuda da
Nasa, estão abrindo as portas para a futura
ocupação do espaço pela humanidade.

S
SE UM DIA PEDIREM para que a gente
diga quando exatamente começou o fu-
ro da exploração espacial, eu tenho
um palpite: 6 de fevereiro de 2018. Foi
nessa data que a empresa americana
SpaceX lançou pela primeira vez seu
foguete Falcon Heavy. Foi também a
primeira vez que uma empresa, com re-
cursos próprios, consuiu um lançador
capaz de levar uma nave ipulada à Lua.
O Falcon Heavy, neste momento, é
o foguete mais poderoso em operação.
Ele ainda apanha do clássico Sarn V,
que podia empurrar até 45 toneladas na
direção da Lua. Mas ele rivaliza com o
ambicioso (e fracassado) N-1 soviéco,
Foto: divulgação/SpaceX

sendo capaz de impulsionar cerca de


20 toneladas numa injeção anslunar.
E não fica tão longe assim do SLS, ao
menos em sua versão inicial, proje-
tada para carregar 26 toneladas. (Nas
DOSSIÊ SUPER 61

Primeiro
versões mais avançadas, esse número sobe para 37
lançamento do e 45 toneladas, equalizando seu desempenho com o
Falcon Heavy, do Sarn V.) O que assusta é a diferença de preço.
realizado na Enquanto o Falcon Heavy foi desenvolvido por US$
tradicional 500 milhões e seu custo de lançamento unitário é
plataforma 39A, de R$ 90 milhões, o SLS já custou à Nasa mais de
na Flórida. US$ 10 bilhões, começou a ser desenvolvido antes
e ainda não terminou, e terá cada lançamento com
custo esmado em US$ 1 bilhão.
Qual foi a mágica? Nesse caso, podemos dizer que
realmente foi o olho do dono – Elon Musk. Ele era
só um nerd sul-africano radicado nos EUA até ficar
bilionário ao criar – e vender em 2002 – uma empre-
sinha chamada PayPal, por US$ 1,5 bilhão. E aí o que
ele fez com a grana? Invesu quase do na criação
de uma empresa espacial, a SpaceX. (O que sobrou
ele gastou na fabricante de carros eléicos Tesla.)
Aplicando a culra da revolução da internet e de
engenharia de software, Musk criou um plano para
desenvolver seus foguetes, começando pelo Falcon 1,
um lançador de pequeno porte capaz de colocar umas
poucas centenas de quilos em órbita terrese baixa.
Mas sua função principal era desenvolver o motor que
impulsionaria um veículo maior, o Falcon 9. Os ês
primeiros voos do Falcon 1, em 2006, 2007 e 2008,
fracassaram. Àquela alra, Musk só nha dinheiro
para mais um voo. Mas no quarto, em setembro de
2008, funcionou. E aí a SpaceX conseguiu um con-
ato com a Nasa para ansportar carga até a Estação
Espacial Internacional, com o Falcon 9 e uma cápsula
SE A SPACEX criada para isso, a Dragon. O valor: US$ 1,6 bilhão.
O primeiro voo do Falcon 9 aconteceu em 2010,
QUISESSE deu certo, e desde então a SpaceX já realizou mais
de 70 lançamentos, com uma falha total, uma falha
LANÇAR EM parcial e uma explosão feia na plataforma, dias antes
de um voo. E, se o Falcon 9 é um derivado do Falcon
2019 UMA 1, o Falcon Heavy é um derivado do Falcon 9.
Com essa família de lançadores, a SpaceX rapida-
CÁPSULA mente se tornou uma campeã no mercado comercial
de lançamento de satélites, cobrando um quarto do
TRIPULADA que a concorrência pelo mesmo serviço. Mas os rivais
iam começar a arrancar os cabelos mesmo a parr
NUM VOO de 2015, quando a empresa começou a tentar pousar
suavemente o primeiro estágio dos dois que tem o
AO REDOR Falcon 9 (o equivalente a 90% do custo do veículo)
após o uso. O primeiro sucesso veio em dezembro
DA LUA, ELA daquele ano, abrindo caminho para reulização – o
santo graal da exploração espacial, já que os foguetes
JÁ TERIA eram o único meio de ansporte que (até então) só
servia para uma única viagem para depois ser des-
TODOS OS cartado. (Os ônibus espaciais tentaram mudar isso,
mas adicionaram tanta complexidade que ficou mais
ELEMENTOS caro do que se fossem descartáveis.)
Nesse mesmo espírito, o Falcon Heavy também
NECESSÁRIOS. é capaz de pousar seus propulsores (essencialmente
ARTEMIS

ês primeiros estágios do Falcon 9 reu-


nidos lado a lado), como demonsado
em seu voo inaugural. No melhor eslo
brincalhão de Musk, esse lançamento
de teste disparou um carro (da Tesla,
claro!) na direção de Marte.
A SpaceX também ganhou um con-
ato com a Nasa de US$ 2,6 bilhões
para desenvolver uma versão ipulada
de sua cápsula Dragon, a fim de ans-
portar asonautas até a Estação Espa-
cial Internacional. Um voo de teste, sem
ipulação, já anscorreu com sucesso,
e espera-se que ene 2019 e 2020 o
primeiro voo ipulado ocorra. (Nisso,
ela está numa corrida cona a Boeing,
que também recebeu conato similar,
de US$ 4,2 bilhões, para fornecer os
mesmos serviços de ansporte. A ideia 1
da Nasa é ter sempre pelo menos duas
opções para seus asonautas não fica-
rem à beira da esada se alguma das
empresas ver problemas.)
Agora, sabe quanto pesa uma cápsula
Crew Dragon, carregada? Coisa de 16
toneladas. Isso significa que, usando
apenas seus próprios sistemas, hoje,
a SpaceX em princípio poderia lançar
gente num voo ao redor da Lua. Por
isso, o mundo se surpreendeu quando,
na véspera do primeiro voo do Falcon
Heavy, Musk anunciou que havia de- 3
sisdo de cerficar o seu foguete mais
poderoso para voos ipulados, o que
deixaria na esada um cliente privado
que já havia conatado um voo cir-
cunlunar desse po. E sabe por quê? Empresas adicionais no mercado
Porque o projesta-chefe da SpaceX de foguetes estão tendo de inovar e
já estava de olho no desenvolvimento desenvolver modelos ao menos par-
de seu próximo foguete, que será ca- cialmente reulizáveis. A Arianespace,
paz não só de ir à Lua como também gigante francesa que dominava o mer-
orbitá-la e alunissar. A empresa já está cado comercial até a SpaceX esagar a
consuindo protópos desse veículo, EMPRESAS ESTÃO brincadeira, já percebeu isso, e o mes-
bazado de Starship-Super Heavy. mo vale para a United Launch Allian-
O objevo final de Musk é viabili- SENDO CONTRATADAS ce, consórcio da Boeing e da Lockheed
Fotos: divulgação/SpaceX, NASA, Blue Origin

zar uma colônia em Marte. Então, em Marn. Ambas estão pensando em ter
tese, os sistemas que a SpaceX está de- PELA NASA PARA partes recuperáveis e reulizáveis em
senvolvendo devem ser mais do que seus próximos lançadores.
suficientes para ir à Lua. Mas, mesmo FORNECER SERVIÇOS E ainda há os recém-chegados, como
que esse novo projeto acabe não dando a Blue Origin, fundada por Jeff Bezos,
certo, o impulso já está dado. A Nasa DE TRANSPORTE ATÉ dono da Amazon e homem mais rico
já aprendeu que pode obter serviços do mundo, que está desenvolvendo um
espaciais a um custo final muito menor, A LUA. MAS ISSO É lançador de alta capacidade quase tão
e o setor privado já entendeu que terá potente quanto o Falcon Heavy, o New
de inovar para permanecer compevo. APENAS O COMEÇO. Glenn. A companhia já demonsou sua
DOSSIÊ SUPER 63

1. Propulsores da SpaceX pousam após voarem.


2. Módulo lunar proposto pela empresa Blue Origin.
3. Cápsula Crew Dragon em voo de teste.
4. Interior da cápsula New Shepard.
5. Carro Tesla lançado no primeiro voo do Falcon Heavy.

capacidade com o foguete suborbital New Shepard,


que começará a fazer voos de passageiros até a borda
do espaço ainda neste ano. E depois do New Glenn,
que deve voar a parr de 2021, a empresa planeja um
foguete ainda maior, o New Armsong.
Em maio deste ano, Jeff Bezos organizou uma
apresentação para mosar ao mundo o Blue Moon,
um módulo de pouso lunar inicialmente desnado a
2 ansporte de carga, mas que pode ser adaptado para
levar ipulações. Ele afirma que a Blue Origin está
pronta para ajudar a Nasa a cumprir seu objevo de
colocar humanos no solo lunar em 2024, como parte
do recém-anunciado Programa Artemis. Na oua
ponta, o adminisador da Nasa, James Bridensne,
anunciou pequenos conatos para 11 empresas, a
fim de que elas submetam projetos de módulos luna-
res capazes de ansportar asonautas do Gateway,
estação orbital lunar planejada pela agência, para a
Lua. Ene as companhias selecionadas estão Boeing,
Lockheed Marn, Northrop Grummam, SpaceX e
Blue Origin. Só gente que não brinca em serviço.
4 Esmulando também missões não ipuladas, a
Nasa adotou o modelo comercial para ansporte de
pequenas cargas úteis à superfície da Lua. Três em-
presas farão “carretos" ene 2020 e 2021, levando
5
até 23 experimentos a diferentes regiões do satélite
naral por um custo total de US$ 253,5 milhões. E
a ideia é expandir o ritmo nos anos seguintes.
Ou seja, a corrida espacial ganhou uma nova versão,
só que agora é ene empresas. E do mesmo modo
que, nos anos 1960, a Nasa viabilizou a indúsia de
circuitos integrados ao comprar uma penca deles para
as missões Apollo, ela agora esmulará o ansporte
espacial ao conatar esses serviços diretamente das
empresas. Depois, as companhias estarão livres para
vender os mesmos serviços para ouos clientes.
E é por isso que a volta à Lua parece inevitável.
A aal conjunra torna muito difícil acreditar que
simplesmente do que está em andamento vai dar
errado. No fim das contas, pode até demorar mais
uma década ou duas, mas quando os historiadores
do furo colocarem a Apollo 17 em contexto, ela
não será mais vista como é hoje, a etapa final da
exploração lunar ipulada. Ela terá sido meramente
o fim do começo.
ARTEMIS

O futuro Não é mais uma corrida


entre duas superpotências;
vários países e empresas

da Lua
têm hoje interesse em
explorar a Lua. Primeiro
pela ciência. Depois?
O céu é o limite.

V
VAMOS TIRAR ISTO da frente logo de
cara: sabemos que o desno de todas
as previsões sobre o furo é errar, e
o erro cosma crescer quanto mais
tempo tentamos abarcar. Prever que
humanos voltarão a visitar a Lua num
prazo de dez anos é bem razoável e há
pouca chance de estar errado. Mas ir
muito além disso torna o esforço cada
Concepção
vez mais inócuo. Ainda assim, vale a
artística de uma pena fazê-lo, porque é assim que o fu-
habitação em ro é consuído – primeiro com ideias
uma "vila lunar", e sonhos, depois com planos e, apenas
ideia da Agência na úlma etapa, como realidade.
Espacial Europeia. Eu, por exemplo, já me peguei pen-
sando muitas vezes em como seria jogar
futebol na Lua. É, futebol na Lua. Já
vimos a tacada de golfe de Alan Shepard
na Apollo 14, mas como seria futebol?
O campo teria de ser maior? As aves
mais altas? A bola mais pesada? O mero
fato de a gravidade lunar ser um sexto
DOSSIÊ SUPER 65

A SpaceX espera viabilizar a construção


de uma base lunar como esta com
seus veículos Starship-Super Heavy.

enviou seu primeiro orbitador lunar, a


Smart-1. A Jaxa (agência espacial japo-
nesa) enviou o seu, Selene, em 2007,
mesmo ano em que os chineses lança-
ram o deles, Chang'e 1. Em 2008, foi a
vez dos indianos, com a Chandrayaan 1.
Em 2010, a China voltou à carga com
a Chang'e 2 e, em 2013, tornou-se o
terceiro país a fazer um pouso suave
na Lua, com a Chang'e 3. A ousadia
aumentou com a Chang'e 4, que realizou
o primeiro pouso suave da história no
lado oculto da Lua, em janeiro de 2019.
O grupo israelense SpaceIL tentou
realizar o primeiro pouso privado na
Lua, que falhou por pouco em abril.
Mas vem mais por aí. Ene países e
empresas, podemos esperar espaço-
naves indianas, chinesas, alemãs, sul-
coreanas, russas, japonesas e até uma
brasileira – a Garatéa-L, missão privada
coordenada pelo engenheiro espacial
Lucas Fonseca. A um custo de US$ 10
milhões, ela deve ir à órbita da Lua no
início da próxima década.
Achar que, após a primeira onda,
da terrese ansformaria uma das maiores prácas toda essa gente vai perder o interesse
de enetenimento da Terra em algo muito diferente é improvável. Os chineses já falam em
do que é. Morar em ouos mundos necessariamente pouso ipulado ao redor de 2030.
cria variações culrais, enriquece nosso repertório. OS Todas essas expedições terão um
Então, a primeira coisa que dá para dizer que vai foco importante em ciência. Mas, se
acontecer quando houver pessoas morando na Lua é PRIMEIROS os foguetes de alta capacidade (como
que isso tornará a humanidade socialmente mais rica o Starship-Super Heavy, da SpaceX) se
e interessante. O ambiente na superfície é inóspito. LUNARIANOS tornarem uma realidade, não há por que
Os furos lunarianos viverão entocados, apenas de acreditar que as únicas razões para ir
vez em quando colocando um aje espacial para ca- TERÃO à Lua serão científicas. Jeff Bezos acha
minhar pela superfície e apreciar a vista. As primeiras que o único modo de proteger a Terra
habitações serão módulos acoplados na superfície e DE VIVER é ir levando, ao longo de gerações, toda
depois recobertos por regolito – os pequenos grãos a indúsia pesada para o espaço.
de solo que recobrem a Lua –, a fim de obter prote- ENTOCADOS, Não dá para imaginar indústrias
ção cona radiação e micrometeoritos. Mais tarde, aproveitando incenvos fiscais para
PARA SE
Fotos: divulgação/ESA, SpaceX

podemos imaginar máquinas escavando túneis no se instalar na Lua nos próximos 50


subsolo, criando uma vasta infraesura. anos. Mas e nos próximos 100? E nos
Por fim, podemos apostar que a exploração fura PROTEGER próximos 500? Quando nos damos
da Lua será um empreendimento internacional. Foi-se conta de que o furo diante de nós
o tempo em que americanos e russos mannham o DA não tem um prazo final, do se torna
monopólio dos orbitadores e dos módulos de pouso possível. É só a gente querer. Bora bater
lunares. Em 2003, a ESA (Agência Espacial Europeia) RADIAÇÃO. um fuba lunar?
Fundada em 1950
VICTOR CIVITA ROBERTO CIVITA
(1907-1990) (1936-2013)

Conselho Editorial: Fábio Carvalho e Thomaz Souto Corrêa

Diretora de Marketing: Andrea Abelleira

Diretor de Redação: Alexandre Versignassi


Editores: Bruno Garattoni
Editora Assistente: Ana Carolina Leonardi
Repórteres: Bruno Vaiano, Luiza Monteiro e Rafael Battaglia
Editora de Arte: Bruna Sanches
Designers: Anderson C.S. de Faria, Carol Malavolta, Juliana Caro, Yasmin Ayumi
Estagiárias: Ingrid Luisa (texto), Juliana Krauss (arte)

Editor: Bruno Garattoni


Colaboraram nesta edição: Salvador Nogueira (edição e texto), Estudio Nono (projeto gráfico e edição de arte),
Alexandre Carvalho (revisão) e Anderson C.S. de Faria (produção gráfica)

A CONQUISTA DA LUA
ISBN 978-85-69522-90-4

é um livro da Editora Abril S.A., distribuído em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo.
O Dossiê A conquista da Lua não admite publicidade redacional.

IMPRESSO NA GRÁFICA ABRIL

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A163c
Abril Comunicações
A conquista da Lua. / Abril Comunicações ; editado por Salvador
Nogueira. – São Paulo: Abril, 2019.
66 p ; il. ; 27 cm.

(Dossiê Superinteressante , ISBN 978-85-69522-90-4 ; ed. 404-A)

1. Astronomia - Lua. 2. Exploração espacial. 3. Lua – Expedição espacial.


I. Título. II. Abril Comunicações. III. Nogueira, Salvador. IV. Série.

CDD 523.3

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