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INTRODUÇÃO

Introdução

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INTRODUÇÃO

Do Home-Studio de Eduardo Juliato


Valinhos - SP

Salve salve, produtor!

Se você comprou este livro digital (você comprou, certo?), eu


imagino que você produza música eletrônica. Embora muitos
conceitos que você vai conhecer aqui sejam universais para a
mixagem de qualquer tipo de música, eu tenho que dizer que sou
um produtor de música eletrônica e toda a minha experiência se
resume a isso.

Desde quando comecei a produzir, em meados de 2009, eu


percebi que a qualidade das minhas músicas dependeria
fortemente das minhas habilidades de mixagem. E então, assim
como faz qualquer estudante de produção, fui pra internet caçar
conteúdos.
Bem, o cenário naquela época era bem diferente do que é hoje.

O Youtube era um terreno baldio.


Não existia Instagram.
O Facebook era um bebê.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Portanto, muitas das informações que eu consumia vinham de


fóruns gringos e blogs. O resultado é que eu consumia
fragmentos de informação. Muitas vezes, informações
equivocadas. Outras vezes, informações sobre mixagens de
bandas (acredite, não é a mesma coisa). E, na maioria das vezes,
informações irrelevantes.

A verdade é que eu demorei muitos anos para entender, de fato,


o que é a mixagem. E demorei muito mais do que isso para
aprender a mixar com uma qualidade razoável. Eu não sei se tem
algum produtor que se orgulha 100% das suas mixagens. Eu,
certamente, não sou um deles! Eu sempre estou insatisfeito e
acho que dá pra melhorar. Por isso, continuo estudando e
praticando até hoje. A evolução nunca para!

Mas, mesmo sendo um eterno insatisfeito com as minhas


habilidades, eu sei que hoje em dia eu tenho um ouvido mais bem
treinado e faço boas mixagens. Mas, como estou no campo de
batalha, assim como você, aprendendo coisas novas e treinando
todos os dias, é provável que dentro de pouco tempo eu queira
atualizar esse livro com novos conceitos e filosofias que aprendi.

Hoje, temos um cenário completamente diferente de quando


comecei a produzir. Existe um turbilhão de informações na
Internet.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Dica daqui, tutorial dali, PDF pra cá, Live pra lá, curso daqui, série
de vídeos gratuitos de lá… Eu acredito que grande parte dessas
informações é realmente valiosa, produzida com cuidado e por
profissionais competentes. Mas, tudo isso acabou gerando um
novo problema:

CONFUSÃO!!!

Quer aprender como fazer compressão paralela?


Tem um vídeo no Youtube ensinando. Aliás, tem 200 mil!
Quer aprender sobre equalização mid-side?
Mesma coisa.
Quer saber tudo sobre um plugin de saturação?
Adivinha só? Tem tudo no Youtube!
Tem uma dúvida específica?
Caixinha de pergunta no Instagram!

Se tem tudo isso de graça na internet à sua disposição, por que


raios você gastou o seu dinheiro com esse livro?

R: Você quer CLAREZA!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

A internet está cheia de informações, boas, ruins, fragmentadas,


controversas, específicas, bagunçadas… Não que não sejam
úteis, mas a verdade é que quando você senta pra mixar a SUA
música, você se depara com uma situação específica, muitas
vezes diferente daquelas dos tutoriais, e que, portanto, exige
ações específicas.

Foi por isso que eu criei este material. A minha ideia é que ele
seja um mapa. Eu escolhi esse termo "mapa" porque um mapa é
apenas UM caminho. Não necessariamente o único caminho, mas
apenas uma possibilidade.

É com os conhecimentos que eu compartilho aqui


neste livro que eu tenho mixado as minhas músicas
ultimamente.
E tem funcionado bem, obrigado.

Recentemente, um engenheiro de masterização de um estúdio


de Londres fez uma masterização pra mim e, quando entrei no
site dele, eu vi que tinha uma opção de contratar, além da
masterização, um feedback detalhado. Logo, comprei. Quem é
que não quer um feedbackzinho de um especialista?

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Sabe o que aconteceu? Ele devolveu o dinheiro, dizendo que não


tinha nenhum feedback sobre a minha mix, que estava tudo ok.
Fiquei meio em choque. Triste e feliz ao mesmo tempo. Como eu
aprendi tudo absolutamente sozinho, eu não tinha muita
confiança sobre a qualidade das minhas mixagens. Eu sabia que
não estavam péssimas. Mas, eu não tinha muita certeza se
realmente estavam no caminho certo.

O fato é que eu desenvolvi um passo-a-passo para mixagem, que


eu uso há muitos anos e que eu venho aprimorando desde então.
Eu ensino esse passo-a-passo desde 2015, mas essa versão que
você vai conhecer é a mais atual e a que eu uso atualmente.

Provavelmente, outros profissionais do áudio possuem visões


diferentes, usam técnicas diferentes e podem discordar das
minhas ideias.

Mas, esse método FUNCIONA!

Esse manual foi criado para descomplicar a mixagem para


produtores de música eletrônica em geral.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

O QUE ESPERAR DESTE LIVRO

Este livro foi criado para te ajudar a desenvolver um workflow na


mixagem. Ou seja, saber exatamente o que fazer, etapa a etapa.
Como começar e como terminar uma mix. Algo como um
checklist.

Este não é um livro sobre conceitos básicos que vai te ensinar


"o que são os compressores, equalizadores, dinâmica,
fundamentos disso e daquilo"... Esse tipo de informação técnica
e chata (e também necessária) eu deixo para outros autores. Eu
vou assumir que você já possui o mínimo de conhecimento e
familiaridade com os plugins mais utilizados na mixagem, como
compressor, equalizador, reverb, saturação, limiter, delay etc.

Quando eu planejava esse material, eu fiquei lembrando das


minhas dificuldades lá atrás e eu criei algo que pudesse clarear
totalmente a minha visão. Como eu não posso enviar esse livro
para o passado para me ajudar a sofrer menos, eu espero que ele
sirva para clarear o seu caminho.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Um dos meus objetivos foi criar um conteúdo que fosse prático,


leve, efetivo e com uma linguagem do dia-a-dia, que até minha
mãe pudesse compreender. Bem, acho que falhei nesse último
ponto.

Mas, de qualquer forma, eu tentei fugir do tecnicismo (nem sei se


existe essa palavra) e da linguagem complexa. Não que o nível de
conhecimento não fosse profundo, mas eu fiz questão de
apresentar tudo da maneira mais leve possível, com um pouco de
humor e também de mau-humor, exatamente como eu sou.

Leia o livro de ponta a ponta


Convenhamos, eu usei uma fonte grande pra caramba aqui. Em
uma tarde você lê tudo. Depois de ler a primeira vez, você pode
simplesmente consultar o livro quando for mixar uma música e
ficar com alguma dúvida.

E fique à vontade para tirar uma foto do livro e compartilhar no


Instagram, marcando o meu perfil @eduardojuliato. É um jeito de
eu conhecer um pouco mais sobre os meus leitores (e também
ganhar uma divulgação gratuita).

#partiumixar

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Capítulo 01

Decifrando a
Mixagem

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DECIFRANDO A MIXAGEM

O que é essa tal de Mixagem?

A mixagem é uma combinação de arte e ciência que tem como


objetivo garantir o equilíbrio, definição, posicionamento e
ambientação de cada elemento da sua composição. Eu gosto de
pensar que a mixagem começa muito antes da mixagem. A
verdade é que uma boa masterização depende de uma boa
mixagem, que depende de um bom arranjo, que depende de uma
boa composição.

Uma boa mixagem começa na composição!

Diferente de uma banda, o produtor de música eletrônica é


responsável por quase todas essas etapas da construção de
uma música. E, portanto, o conhecimento de mixagem vai te
ajudar a construir/orquestrar melhor seus instrumentos.

O que quero dizer é que, quando você tem uma noção de


mixagem, você já começa construindo a sua música com os
elementos encaixados, ocupando diferentes espaços no
espectro, de maneira mais equilibrada. Desta forma, você facilita
muito a etapa de mixagem!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
DECIFRANDO A MIXAGEM

Lembra daquele conceito básico de física, que dois corpos não


ocupam o mesmo lugar no espaço?
Na mixagem não é muito diferente! Portanto, na etapa de
composição e arranjo, um produtor experiente já constroi os seus
elementos ocupando diferentes posições no espectro de
frequências.

Estou produzindo ou mixando?


Existe uma certa nebulosidade acerca dos limites entre a
produção e a mixagem. Eu sempre gosto de tratar essas tarefas
de maneira separada - inclusive criando projetos diferentes na
DAW (Digital Audio Workstation) para cada etapa. Entretanto, é
impossível separar completamente as tarefas, visto que a cada
equalizador, reverb, compressor ou saturação que você insere
em um instrumento, você já está mixando.

Portanto, na minha visão, existe uma mixagem básica que você


faz enquanto produz (os gringos chamam de Mixing As You Go) e
a mixagem final, que é aquela que você faz quando termina o
projeto de produção.

Resumindo: Enquanto eu produzo, eu dou um tapinha na mix.


Depois, eu faço a mix de verdade.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
DECIFRANDO A MIXAGEM

Os 6 Domínios da Mixagem

A mixagem tem o poder de atribuir a


uma música um aspecto tridimensional,
com todos os elementos espalhados
nesse espaço psicoacústico. Mas além
dos domínios básicos de um cubo 3D -

altura, largura e profundidade, existem outros domínios que um


engenheiro de mixagem precisa dominar.

Você vai ler essa mesma informação em qualquer livro de


mixagem. Os créditos vão para Bobby Owsinsky, autor do livro
"The Mixing Engineer's Handbook". O Bobby define esses 6
domínios como:

Equilíbrio
É a relação do nível de volume entre os elementos da música.
Essa é uma das primeiras e, talvez, a tarefa mais importante da
mixagem. Uma mixagem bem feita depende de um bom equilíbrio
entre os elementos. É a tarefa que chamamos de ajuste relativo
de ganhos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
DECIFRANDO A MIXAGEM

Espectro de Frequências
É a garantia de que todas as frequências audíveis sejam
devidamente representadas. É o que chamamos de balanço
tonal.

Panorama
Significa posicionar cada elemento musical no campo sonoro.
Observe as músicas que você tem como referência, como cada
elemento é posicionado no estéreo.

Dimensão/Espaço
Significa adicionar ambiência a um elemento musical. É aqui que
são adicionados reverb, delay e outros efeitos. Isso cria um
aspecto de profundidade em determinados elementos.

Dinâmica
O controle dinâmico é onde a compressão, gating, limitação e
outros processamentos são utilizados. Isso acontece em
elementos individuais, em grupos de canais e na faixa toda. Esse
processo visa garantir o controle da amplitude. Em outras
palavras, o controle das variações de volume.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
DECIFRANDO A MIXAGEM

Estética
A estética é o que torna a sua mixagem única. Cada engenheiro
de mixagem tem o seu "tempero". Lembra que eu falei que a
mixagem é uma mistura de arte e ciência? Aqui a arte entra!

Isso é um breve resumo do que é a mixagem. Não se preocupe,


vamos falar de cada um desses aspectos ao longo do livro.

A Visão na MIX

Mais importante do que dominar todas as técnicas de mixagem, é


desenvolver uma visão, ou melhor, uma audição que te permita
enxergar (ou ouvir?) uma big picture ANTES de começar a
mixagem.

O que quero dizer é que antes de começar a mixagem, você


precisa ouvir a música e identificar O QUE precisa ser feito para
que ela chegue no nível que você deseja. Por isso, alguns
engenheiros de mixagem ouvem inúmeras vezes uma música
antes de começar a mixar, fazendo anotações em um bloco de
notas.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
DECIFRANDO A MIXAGEM

Exemplo:

Diagnóstico da mix
Falta brilho

O snare está baixo

A bateria poderia ser mais potente

Os graves estão embolados

Falta attack no baixo

Os leads poderiam ser mais abertos

no estéreo

O vocal poderia estar mais à frente

O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO


DECIFRANDO A MIXAGEM

Entende o que eu quero dizer?

A mixagem não é sair colocando compressor em tudo, utilizando


as técnicas super cool que você aprendeu no Youtube. É sobre
identificar O QUE precisa ser feito. O "COMO" é menos
importante.

Por exemplo, se eu identifiquei que o meu vocal poderia estar


mais evidente (O QUE), eu posso tomar várias ações diferentes
(COMO) para resolver esse problema, como aumentar o volume,
utilizar saturação, reverb, layer, evidenciar algumas frequências
no equalizador etc.

Por isso, aprender técnicas isoladas é tão pouco


eficiente!

Quando você aprender a desenvolver um olhar diagnóstico para


sua mix, você será capaz de fazer uma boa mixagem apenas com
fader de volume, um equalizador, um reverb e um compressor
(todos nativos da sua DAW). Simples assim!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Capítulo 02

A Minha
Filosofia de
Mixagem

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A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

Calma aí! Você já vai chegar no Mapa da MIX!

Mas, antes, eu quero que você conheça alguns aspectos da


minha filosofia de mix. São conceitos e ideias que norteiam o meu
processo de mixagem.

Se algo está soando bem, deixe assim!


Eu me lembro de quando comecei a produzir (e mixar) e eu
adicionava compressores em todos os canais. Eu não sabia o
porquê. Simplesmente colocava porque parecia que ficava bom.
Na verdade, eu achava que ficava bom porque simplesmente o
compressor causava um aumento de volume. Com essa prática,
eu aniquilava a dinâmica nas minhas músicas!

Portanto, se você não tem uma razão clara para usar um


compressor ou qualquer outro plugin, não use. Se o elemento
está soando ok, deixe-o em paz!

Tente criar uma VISÃO antes de começar a mix


Ok! Eu acho que já falei sobre isso. Mas vale a pena repetir para
que você não se esqueça. Antes de sair atirando compressores,
equalizadores e reverbs com uma metralhadora, tente entender
O QUE falta na sua mix, qual direção você deseja seguir, onde
você quer chegar.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

Ouça algumas vezes (sem olhar para o projeto) e faça anotações.


Faça um diagnóstico da sua mix.

Cheat Sheet é meu ovo!


Se você segue alguns perfis de dicas no Instagram, certamente,
você já foi bombardeado com posts do tipo "cheat sheet", como
por exemplo "Snare Compression Cheat Sheet" (fórmula de
compressão para snares), "Vocal Mix Cheat Sheet" (fórmula de
mixagem para vocal).

Entenda uma coisa, não existem atalhos!

Essas "fórmulas" não servem pra nada. São fragmentos de


informação da pior qualidade! Eu respeito quem produz e quem
gosta desse tipo de conteúdo, mas a minha visão é que isso não
serve pra nada!

Na mixagem, cada caso é um caso, cada objetivo é um objetivo,


cada direção é uma direção. Algumas vezes, eu quero mais
attack e menos corpo no meu snare. Outras, eu quero mais corpo
e menos attack. Tudo depende do contexto! Enfim, vou parar de
falar sobre isso para não cansar minha beleza. Acho que você já
entendeu a ideia!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

A Mixagem não é um jogo de Tetris


Não sei se esse jogo é da sua época. Mas, quando eu era
criança, todo mundo tinha um mini-game portátil à pilha, do
Paraguai, que tinha esse jogo de Tetris, no qual você tinha que
encaixar peças geométricas perfeitamente.

Pois é, a molecada dos anos 90 não tinha


Playstation 5 para matar o tédio. A gente tinha
que jogar TETRIS ou fazer bagunça na rua
mesmo, como apertar a campainha dos
vizinhos e sair correndo.

Quando eu, já adulto, comecei a mixar, eu achava que eu tinha


que fazer equalizações agressivas em cada elemento para
encaixá-lo no espectro como um jogo de tetris. Não é assim
que funciona! Não entre em paranoia com isso.

A Mixagem é como uma pintura


Observe a imagem a seguir. Perceba como existe um aspecto de
profundidade, separação entre os elementos e contrastes.
Temos elementos mais definidos à frente (pedras), outros mais
borrados ao fundo (montanhas). Temos contraste de cores e
texturas (amarelo, verde, azul, laranja…). E temos elementos
posicionados em diferentes lugares nesse espaço tridimensional.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

O processo de mixagem é exatamente isso, mas com outro


sentido - audição, ao invés de visão. Vamos fazer uma viagem
mental agora.

Imagine que as pedrinhas são os pratos, o rio é kick e baixo. A


árvore amarela os leads principais com uma determinada
saturação. A vegetação verde são os synths com uma
saturação diferente. Lá no fundo, as montanhas são as
ambiências e pads. As folhas alaranjadas são algumas
percussões. A montanha de pedra mais à frente é o clap.

Eu sei, é muita viagem. Mas, quando eu estou mixando, eu tenho


essa visão, que estou pintando um quadro.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

Faça o Máximo com o Mínimo


Muitos renomados engenheiros de mixagem concordam que a
mixagem in the box (somente com plugins) hoje em dia se tornou
absolutamente poderosa. Isso porque a qualidade dos plugins
melhorou enormemente e continua melhorando a cada dia.

Mais uma vez, vou dizer: você não precisa dos plugins mais chics
e badalados do momento para fazer boas mixagens. Não que
eles não sejam legais, não que eu não seja doido para meter o
meu cartão de crédito toda vez que vejo um plugin novo sendo
lançado (e faço isso às vezes, escondido da minha mulher). Mas,
você precisa ser capaz de fazer uma BOA MIX com o mínimo.

E quando digo "o mínimo", me refiro ao fader de volume, ao


compressor, equalizador, limiter, delay e reverb nativos da sua
DAW. Só isso! E ainda estou sendo generoso. Você deveria ser
capaz de fazer uma boa mix SOMENTE com fader de volume e
um equalizador. Isso é "o grosso" da mix.
Não adianta nada adicionar azeite trufado e Foie Gras em um
arroz que não foi cozido direito.

Abordagem Top-Down
Essa é uma abordagem que eu passei a utilizar recentemente e
mudou o jogo pra mim.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
A MINHA FILOSOFIA DE MIXAGEM

Eu aprendi isso com o premiado engenheiro de mixagem Luca


Pretolesi. O aspecto central da estratégia é começar uma
mixagem pelo master bus e, em seguida, pelos subgrupos,
mantendo o foco na música como um todo, em vez de primeiro
tratar todos os elementos individuais da mixagem.

O processamento que aplicamos no master bus (entenda como o


master-channel) e depois aos subgrupos tem o maior impacto no
som geral da mixagem. Desta forma, podemos obter uma
mixagem coesa e equilibrada em muito pouco tempo.

Depois de obter um som sólido em nosso master bus e


subgrupos, finalmente trabalharemos com as faixas individuais,
mas apenas onde for necessário. Esse processo garante que
estamos trabalhando de forma mais holística e o resultado final,
na minha experiência, é sempre melhor.

Resumindo:
1. Comece a mix pelo Master
2. Trabalhe os Grupos (Mix-Busses)
3. Vá para os canais individuais
4. Depois, você me agradece.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

Capítulo 03

O Mapa da
Mixagem

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O MAPA DA MIXAGEM

O que você vai ler agora foi organizado de uma forma didática em
passos simples. Mas, como todo mapa, ele te fornece um
caminho que não é o único. Muitas vezes, você vai querer mudar
a rota e, possivelmente, vai ter um resultado melhor.

Em outras palavras, algumas vezes, é melhor comprimir antes de


saturar, ou equalizar antes de comprimir. Existem, sim, algumas
premissas básicas para te ajudar a definir a ordem dos
processos, mas não existem regras.

O que você precisa entender é que a ordem dos fatores altera o


produto, ou melhor, a ordem dos plugins altera o resultado final.
Mas, novamente, não existe certo ou errado. Comprimiu antes de
saturar e ficou bom? Ótimo! Inverteu a ordem e ficou melhor
ainda? Excelente! Não deixe esses detalhes confundirem a sua
cabeça!

Lembre-se sempre: o que importa é o resultado final. Não importa


o caminho que você escolheu pra chegar lá.

O Mapa da Mix é um workflow de 9 passos que você pode seguir


exatamente na mesma ordem ou fazer suas adaptações.
O resumo é o seguinte:

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Checklist da Mixagem
Passo 01 - Organização do projeto

Passo 02 - Balanceamento de volumes

Passo 03 - Processamento de grupos

Passo 04 - Processamento de canais individuais

Passo 05 - Edição

Passo 06 - Automações

Passo 07 - Comparação com referência e ajustes

tonais

Passo 08 - Exportação das Stems e ajustes finais

Passo 09 - Exportação final

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 01: ORGANIZAÇÃO DO PROJETO

Como eu já disse, o produtor de música eletrônica é um ser


metido que quer fazer tudo (na verdade, precisamos fazer tudo,
ou quase tudo. Nossa realidade é diferente de um cantor de
Sertanejo!). Compor, arranjar, mixar, masterizar, tocar, divulgar,
fazer a artwork, o design, a distribuição, os vídeos e tudo mais.

Sendo assim, logo que você termina de produzir a sua música,


você precisa enviar para o engenheiro de mixagem, que no caso
é você mesmo (mas ninguém precisa saber). O engenheiro de mix
precisa de organização. Pode parecer frescura, mas não é.
Observe os vídeos no Youtube de grandes engenheiros de mix,
como eles são organizados em seus projetos.
Siga os passos a seguir para organizar o seu projeto e começar a
sua mix com o pé direito.

Criar um novo projeto


A primeira coisa é criar um novo projeto. Um projeto exclusivo
para a mixagem. "Mas, Eduardo, eu não posso usar o mesmo
projeto?". Pode, mas é melhor preservar o arquivo original. Vai
que você estraga tudo e fica pior do que antes.
Além disso, quando você cria um novo projeto, você muda um
interruptor no seu cérebro, de "produção" para "mixagem".
Escuta o pai!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Passar tudo pra áudio


O próximo passo é passar todos os canais para áudio. Se você
usa o Ableton, é o famoso Freeze & Flatten. Eu sei que você deve
estar se perguntando "mas, por que?".
Obrigado pela pergunta. Existem muitas razões para isso:

1. Os arquivos em áudio são "fixos". Ou seja, eles não sofrem


possíveis modulações que os instrumentos virtuais podem
criar, fazendo com que a cada vez que você dê o play, o
elemento seja tocado de uma forma diferente.
2. Você tem muito mais possibilidades de edição.
3. Seu projeto fica mais leve.
4. Porque eu estou falando que é pra fazer assim.

Organizar os elementos por grupos (e colorir)

Eu gosto de criar alguns grupos


específicos para mixar a minha
música. Desta forma, o projeto
Grupo 01: Kick
fica organizado e facilita muito o e bass
Grupo 02: Bate
ria (pratos, cl
snares…) aps,
trabalho. Você pode criar os
Grupo 03: Percu
ssões (bongos
congas, drum ,
grupos da maneira como fizer fills…)
Grupo 04: Synth
s
mais sentido pra você, mas se Grupo 05: Pad
s, Ambiences,
Atmosferas
quiser seguir o meu método, é Grupo 06: FX (U
plifters,
Downlifters…)
assim: Grupo 07: Voca
ls (Se houver)

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Além disso, eu tenho uma cor padrão para cada grupo. É sempre
assim:

Grupo 01: Kick e bass (Vermelho)


Grupo 02: Bateria (Azul)
Grupo 03: Percussões (Azul)
Grupo 04: Synths (Laranja)
Grupo 05: Pads, Ambiences, Atmosferas (Rosa)
Grupo 06: FX (Verde Claro)
Grupo 07: Vocals (Roxo)

Criar os canais de retorno principais


Na mixagem, eu uso muitos efeitos por canais de retorno (Return
Channels no Ableton) por 2 motivos principais:

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

1 - Quando eu insiro um plugin (ex.: reverb) diretamente no canal,


ele faz um blend com o sinal. Isso quer dizer que, à medida que
eu aumento a porcentagem de WET, ele diminui o sinal original. Já
num canal de retorno, é um sinal paralelo que não interfere no
sinal original. É claro que tudo depende do meu objetivo. Se eu
quero usar um reverb para posicionar um elemento lá no fundo,
reduzindo a definição (lembra da montanha lá no fundo no
quadro?), eu insiro direto no canal.

2 - Eu posso usar os mesmos efeitos em vários canais diferentes


e dosar a porcentagem que eu quero em cada canal.

Criando os canais de retorno


Eu gosto de usar, basicamente, 4 reverbs e 2 delays. Ou seja, eu
começo a mix com 6 canais de retorno.
IMPORTANTE: Sempre que você for inserir um plugin no canal de
retorno, lembre-se de definir 100% WET.

Return Channel 01: Reverb com decay muito curto.


Return Channel 02: Reverb com decay curto.
Return Channel 03: Reverb com decay médio.
Return Channel 04: Reverb com decay longo.
Return Channel 05: Delay 1/4D.
Return Channel 06: Delay 1/8D.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Definir as referências
É importantíssimo trabalhar com músicas de referência,
principalmente quando você não tem muita experiência e,
sobretudo, uma boa acústica e bons monitores.

Na escolha das referências, eu sempre busco músicas do


mesmo gênero, com uma instrumentação parecida, se possível
no mesmo tom e no mesmo BPM. Não é difícil encontrar. Basta ir
ao Beatport, escolher alguma label que se assemelha ao som
que você produz, e escolher uma música no mesmo tom e,
possivelmente, no mesmo BPM (o BPM não é tão importante).

Se você tiver algum plugin como o Reference - Mastering The Mix


ou Metric AB - Adaptr, basta inserir a música referência lá e ele já
normaliza o volume das duas, para uma comparação justa, e te
oferece muitas informações importantes acerca do espectro,
abertura estéreo e dinâmica.

ADAPTR - METRIC A|B

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se você não tiver esses plugins, tudo bem. Insira a música em um


canal de áudio e reduza o volume em uns 10dB. Abra um
analisador de espectro e compare o espectro das duas. Todos
esses recursos visuais são importantes, mas nunca se esqueça
que o melhor plugin que você tem são os seus ouvidos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 02: BALANCEAMENTO

Eu sempre gosto de começar a mixagem por uma das tarefas


mais importantes - o ajuste relativo de ganhos. Em outras
palavras, equilíbrio de volume entre cada elemento. O termo
ajuste relativo de ganhos é porque é uma relação entre os canais,
e não um valor absoluto. Isso quer dizer que não importa tanto o
volume de cada canal, mas sim como está esse volume em
comparação com os outros.

Afinal, na masterização, o volume será normalizado para padrões


comerciais. De uma maneira geral, essa tarefa é simples. Basta
subir ou descer os faders de volume (é isso que você vê os
engenheiros de mixagem fazendo em documentários naquelas
mesas analógicas). Entretanto, ela exige que você tenha ouvidos
bem treinados. Além disso, precisamos entender alguns
conceitos importantes, que vão te ajudar inclusive a produzir de
maneira mais eficiente.

Headroom no áudio digital


Vamos falar da forma mais simples possível. Afinal, nossa ideia
com esse material é simplificar e não te confundir mais. No áudio
digital, o volume máximo é 0dBFS (decibels full scale). Quando
um som ultrapassa essa marca, ocorre clipping e,
consequentemente, distorção.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

É importante manter um bom headroom em cada elemento que


você cria na música. Isso significa que, se você inserir um
instrumento com uma variação dinâmica muito grande (entenda:
com picos grandes), é interessante controlar esses picos com
um compressor ou limiter, para que não ocorra distorção.

Muitos engenheiros de masterização vão pedir que você


mantenha um headroom de 3 a 6dB no master bus. Isso significa
que a faixa final da sua mix vai ficar com os picos entre -3 e -6dB.

LOGIC X - LEVEL

Este Peak Meter, nativo do Logic, inserido no Master-Channel, está


mostrando que que os picos estão batendo em aproximadamente -5dB.
Isso quer dizer que existe um Headroom de 5dB, o que é bastante
razoável.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Gain Staging
No universo das gravações analógicas de instrumentos, os
engenheiros tem que ficar atentos entre 2 limites relacionados ao
volume: noise floor e headroom. Noise floor é um ruído inerente a
qualquer equipamento, na maioria das vezes inaudível. Entretanto,
quando um instrumento é gravado a um volume muito baixo, ao
aumentar o volume na mix, acaba vindo junto esse ruído
indesejado.

Por outro lado, quando o instrumento é gravado em volume muito


alto, ocorre distorção (a nossa vida de fazer música eletrônica
100% digital é bem mais fácil, não?). Embora no mundo digital, o
noise floor (e até mesmo o headroom) nem sejam uma graaaande
preocupação, eles existem. É importante que o seu sinal se
mantenha nem muito próximo do 0dB e nem muito baixo.

Outro fator importantíssimo que você precisa entender é que


cada plugin que você insere em um canal possui uma entrada e
uma saída. Portanto, o sinal pode ser atenuado ou amplificado. É
preciso se atentar a isso e sempre ajustar o volume do Output
(saída) para manter o equilíbrio.

Sinal de áudio com


Sinal de áudio a mesma amplitude

INPUT OUTPUT

Plugin X que eu Inventei

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O MAPA DA MIXAGEM

Por exemplo:
- Eu tenho um canal de um determinado instrumento que está
batendo a -6dB.
- Eu insiro um compressor, mas sem perceber, o sinal foi para
-4dB.
- Então, eu insiro uma saturação e o sinal vai pra -2dB.
- Eu insiro um EQ com boost e o sinal vai para -1dB.

Eu acabei de matar o meu headroom. Então, a cada plugin que


você inserir, atente-se ao volume de entrada e de saída. Ou seja,
se você inserir um plugin e ele aumentar o volume, você diminui o
volume de saída (output). Se ele diminuir o volume, você aumenta.
O ideal é que exista um equilíbrio na estrutura de ganho, assim
como no meu super plugin imaginário. Vou colocar aqui de novo
porque deu trabalho para criar:

Sinal de áudio com


Sinal de áudio a mesma amplitude

INPUT OUTPUT

Plugin X que eu Inventei

Picos X Volume médio


O loudness de um sinal pode ser medido de várias formas
diferentes. Peak, True Peak, RMS, LUFS, dentre outras. O que
você precisa entender é que existem 2 grupos de medidas:

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O MAPA DA MIXAGEM

Peak e True Peak: informam o volume em um ponto


específico no tempo

LUFS e RMS: informam o volume médio em um tempo


especificado

Não vamos entrar em detalhes técnicos aqui - Eu prometi que


esse não seria um daqueles livros chatos de mixagem. Mas, o
que eu quero que você entenda é que existe uma relação entre
picos e volume médio. O volume médio (sobretudo LUFS) é como
o ser humano percebe o som.

O que isso quer dizer, na prática?

Às vezes, você tem um instrumento que tem picos grandes mas o


volume percebido é baixo. E é aí que entram os compressores e
limitadores. A gente segura os picos (tentando não distorcer), e
aumenta o volume médio.

A nossa percepção de volume está relacionada ao tempo de


sustentação. Vou explicar de um jeito mais fácil. Imagine um hi-
hat bem curtinho, com pico em -1dB. Seria um volume alto, mas
como o tempo de duração desse pico é muito pequeno, não
percebemos como um volume muito alto.

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O MAPA DA MIXAGEM

Por outro lado, se um elemento com as mesmas frequências


tivesse uma sustentação de 1 segundo, ao invés de um pico ultra-
rápido, a nossa percepção de volume seria infinitamente maior.

Por que eu quis salientar essas informações?

Muita gente me pede uma "receita" de volumes na mix. E essa


relação entre picos e volume médio é o motivo pelo qual as
receitas não funcionam. Ora, um snare a -16dB pode ter um
loudness muito variável, a depender da dinâmica, de como ele foi
comprimido, limitado etc. Entende?

Sendo assim, as duas medidas são importantes, mas quando eu


vou fazer o balanceamento de volumes, eu vou pelo ouvido.
Basicamente, eu zero o fader, fecho os olhos e vou aumentando
até que eu achar que está legal. Entretanto, se os dBs no fader
estiverem altos, o que significa que o elemento tem uma faixa
dinâmica considerável (picos grandes), eu sei que eu vou precisar
reduzi-la de alguma forma, na maioria das vezes com compressor
ou limiter.

O balanceamento na prática
Eu sei que você gosta de uma receitinha. Mesmo sendo,
particularmente, avesso a esses artifícios, eu gosto de começar
o balanceamento pelo kick. E eu sempre deixo o kick a -10dB.

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O MAPA DA MIXAGEM

Todos os demais elementos da mix vão estar mais baixo que o


kick. Eu faço desta forma porque, na minha experiência, quando o
kick está a -10dB e todos os outros elementos estão abaixo
desta medida, no final da mix, eu vou ter um headroom de -3 a
-6dB. Sempre dá certo!
Mas, isso é um pouco pessoal. Você pode começar a mix com o
kick a -8dB ou -6dB. O mais importante é a relação de volumes
ENTRE os elementos.

Os mais importantes primeiro


Quem são os protagonistas da sua música? Em geral, o maior protagonismo na música eletrônica é do kick e do
baixo. Então, esses são os 2 primeiros elementos que eu faço o balanceamento de volumes. Em seguida, você vai
definir. Talvez, seja o vocal, talvez sejam os leads. Quando você faz dessa forma, você fortalece o protagonismo
dos elementos principais. E assim, você vai aumentando o fader de cada elemento até ter um balanceamento
ideal.

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O MAPA DA MIXAGEM

Dicas para Balanceamento

1. Eu sei que essa dica é muito clichê, mas esse é o momento de

confiar 100% nos seus ouvidos. Feche os olhos, vá aumentando os

volumes e sentindo.

2. As músicas de referência podem te ajudar a ter uma direção.

3. Não precisa ficar perfeito logo de cara. Você vai ajustar o

balanceamento ao longo de toda a mix.

4. Se você não tem ideia do volume de um instrumento, experimente

essa técnica simples. Em primeiro lugar, zere o volume e vá

aumentando lentamente até chegar no ponto que você acha ideal.

Anote o valor. Em seguida, você vai fazer o processo inverso,

começando do volume mais alto e descendo (sem olhar pro

medidor). Anote. Escolha o valor entre um e outro. Por exemplo, no

primeiro momento, você achou que tinha ficado bom em -16dB. No

segundo momento, você achou que tinha ficado bom em -14dB.

Provavelmente, o -15dB é o ideal.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Eu garanto que depois desse passo, a sua mix já vai estar uns
50% melhor. Agora, já podemos ir para o próximo passo! No
próximo passo, vamos fazer algo que talvez seja novo pra você:
começar a mixagem do Master-Bus, para os Mix-Bus e, por fim,
os canais individuais. Parece maluco, não?

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O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 03: PROCESSAMENTO EM


GRUPOS

O conceito aqui é bem simples. Primeiro, começamos


processando levemente o Master-Bus (o seu canal Master). Em
seguida, os grupos de canais que já foram criados anteriormente.
Por fim, os canais individuais. Acredite em mim, isso funciona
muito bem!

"Mas, Eduardo, eu vi num tutorial que não se deve colocar nada


no Master!"

Esse papo de "nunca", "sempre", "é proibido", "é obrigatório" é


muito questionável. Tudo pode, desde que o resultado final fique
interessante. Honestamente, eu não faço muita coisa no Master
Bus, por exemplo. Eu pego leve! Afinal, você está atuando em
TODO o sinal da sua mix. Qualquer alteração mínima causa um
grande impacto!

Então, já fica a dica aqui para o processamento em grupos, ok?


Seja sutil nos processamentos ou você pode estragar a
mixagem.
Então, vamos lá…

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O MAPA DA MIXAGEM

Master-Bus
Geralmente, eu uso apenas 2 plugins no Master: Compressor e
Equalizador, além dos meters (analisador de espectro,
goniometer etc). Não existe uma recomendação do melhor
compressor para essa função. Se você usa o Ableton, o Glue
Compressor pode ser bastante efetivo para essa função. A ideia
aqui é processar levemente para criar um pouco mais de coesão
entre os elementos.

Independente do compressor que você escolher, as


recomendações básicas são (olha eu passando fórmulas!):

Attack Lento (10 a 30 ms)


Release Rápido (menos de 50 ms ou Auto-release)
Ratio: 2:1
Threshold: O suficiente para promover 1-2db de redução de ganho (Não mais do que isso!).

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O MAPA DA MIXAGEM

Já em relação ao equalizador, eu costumo usar esse plugin para


pequenos ajustes tonais. A sutileza aqui também é exigida. Vá
com calma. Quando eu falo em "ajustes tonais", eu me refiro a
observar se a mix como um todo precisa de um pouco mais de
frequências altas ou graves, ou talvez atenuar um pouquinho de
médio-graves. Geralmente, vou trabalhar com um Q largo e os
cortes ou boosts não passam de 2-3dB.

Isso já vai fazer a sua mix entrar em uma espécie de forma (tipo
uma forma de bolo mesmo). As próximas decisões, tanto nos
grupos, como em canais individuais, vão seguir essa mesma
forma que já foi criada.

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O MAPA DA MIXAGEM

Mix-Busses (Grupos)
O próximo passo é o processamento em grupos. Aqui, a sutileza
ainda é necessária, porém, já temos um pouco mais de liberdade
para trabalhar.
Em geral, a sequência de processamento dos grupos é parecida
com o processamento de canais individuais. Em cada grupo, eu
vou usar uma cadeia de plugins mais ou menos nessa ordem:

1. Saturação
2. Equalização corretiva
3. Compressão
4. Equalização aditiva
5. Limiter (se necessário)

Essa ordem pode mudar, a depender das minhas decisões


artísticas e/ou técnicas. Como eu já disse, a ordem dos plugins
altera o resultado final, mas não existe certo e errado.

O racional dessa sequência é o seguinte:


Em primeiro lugar, vem a saturação porque, além de criar
harmônicos, geralmente, ocorre um efeito sutil de compressão.
Sendo assim, se eu fizesse a equalização corretiva ANTES da
saturação, eu teria que fazer de novo APÓS devido aos
harmônicos que são gerados. E, sinceramente, às vezes eu faço
isso!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Após a saturação, vem a equalização corretiva. Quando falamos


em equalização corretiva, eu quero dizer que só vamos atenuar
(cortar) frequências e não evidenciar. Nesse caso, eu vou atenuar
graves desnecessários e possíveis ressonâncias.

Eu recomendo que você trabalhe com slope do tipo Shelf para


atenuar graves ou agudos e Bell para eliminar ressonâncias. O
slope do tipo Shelf causa menos alteração de fase, que é um
fenômeno natural dos equalizadores, a não ser os equalizadores
de fase linear. De qualquer forma, lembre-se de fazer atenuações
sutis, afinal, você está trabalhando em um grupo de canais.

Você deve estar pensando "por que não fazer boosts


(equalização aditiva) agora"?

Ora, essa é uma excelente pergunta. Acontece que, o próximo


passo é a compressão. E, quando você evidencia (faz boosts) nas
frequências, elas serão as primeiras a ativar o compressor. E não
é isso que queremos!

Falando em compressores, esse é o próximo passo e aqui vale a


mesma recomendação do master bus. Uma compressão sutil,
com 1-2dB de redução de ganho para "colar" os elementos.
Experimente diferentes tipos de compressores.

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O MAPA DA MIXAGEM

Veja o que fica melhor. Explore. Seja feliz. Não fique esperando
por algum tutorial com as malditas regras!

Ainda falando sobre compressão, existem várias técnicas que


você pode explorar, como a compressão em série (experimente
utilizar 2 ou quem sabe 3 compressores na sequência), ou a
compressão paralela (essa fica irada no grupo de bateria, caso
você queira uma potência extra!). Eu não vou ensinar como se faz
compressão paralela aqui. O Youtube está cheio de tutoriais
ensinando o passo-a-passo. Divirta-se!

Aqui, a ideia é falar mais sobre a estratégia! E falando nisso, a


compressão paralela não é algo exclusivo para baterias. Você
pode experimentar em outros grupos também. De novo,
EXPERIMENTE!

Depois de comprimir (gentilmente) os grupos, é hora da


equalização aditiva. Aqui eu sugiro que você utilize equalizadores
que emulam os analógicos, como por exemplo o Maag4 ou o
Dangerous Bax, o PuigTec da Waves. Todos esses são pagos,
mas existem opções gratuitas, como o Tokyo Dawn Labs - Slick
EQ, o Luftikus EQ e o Mellowmuse EQ1A.

best Free Equalizers...

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O MAPA DA MIXAGEM

Esses EQs são especiais para fazer boosts porque são


extremamente musicais e sutis. Eles não são tão precisos e
cirúrgicos como o FabFilter ProQ3 ou o EQ nativo da sua DAW,
mas suas curvas de equalização são bastante sutis e mesmo que
você faça boosts mais agressivos, você percebe que não estraga
o som.

Por fim, em alguns grupos, eu uso um limiter. Mais uma vez, com
muita sutileza, com pouca redução de ganho. O objetivo é dar
uma controlada final na dinâmica e colar ainda mais os
elementos. Cuidado com esse plugin porque ele é muito
poderoso e pode arruinar a sua mix!

Dica: Cuidado com a Estrutura de Ganho

Lembra que eu falei do Gain Staging? Bem, você já nivelou os


volumes de cada canal com o máximo de cuidado e precisão.
Agora, você não quer estragar todo esse trabalho, né? Então,
você precisa ficar muito atento à estrutura de ganho quando você
insere cada plugin no grupo.

Por exemplo, se o grupo de bateria estava batendo em -7dB, o


ideal é que esse mesmo valor se mantenha depois de inserir
todos os plugins. Por isso, a CADA plugin que você inserir, ajuste
o OUTPUT para que o ganho se mantenha.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Muito bem! Chegou a hora de começar o trabalho em canais


individuais.
Mas, deixa eu te falar uma coisa. Nesse momento, a sua mix já
está 80% pronta e você fez apenas 20% do trabalho. Essa é a
Regra de Paretto que se aplica à mixagem.
Essa maneira de mixar faz com que você consiga mixar de forma
rápida e eficiente. Agora, são apenas detalhes!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 04: PROCESSAMENTO CANAIS


INDIVIDUAIS

Antes de falarmos sobre o processamento de canais individuais,


é importante que você saiba que nem todos os canais vão
precisar de todos os processamentos que vou citar aqui. Na
verdade, alguns não vão precisar de nada. Tudo depende do seu
objetivo.

1 - Saturação/Distorção
Somente esse assunto daria outro livro, mas a ideia aqui não é te
encher de informações técnicas, fundamentos de áudio e física
de ondas. Tecnicamente, existem diferenças entre saturação e
distorção e, sobretudo, nos processos que geram cada uma
delas. Mas, para facilitar o entendimento, o que você precisa
saber é que esses plugins geram harmônicos. Ou seja, CRIAM
frequências!

Existem vários tipos de distorção e saturação e cada um tem


suas particularidades, sua coloração. Alguns geram harmônicos
pares, outros ímpares. Sendo assim, podemos pintar o nosso
quadro com diferentes cores! Cada saturação tem o poder de
colorir determinados elementos. Mas não é por isso que você vai
inserir saturação em tudo, ou sua mix vai ficar bem suja e sem
definição.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Escolha alguns elementos e teste diferentes tipos de saturação.


Particularmente, o único elemento que eu não uso saturação é o
kick. Eu gosto de mantê-lo extremamente limpo. Aliás, na maioria
das vezes, eu não faço qualquer tipo de processamento no kick.

A saturação também faz parte do meu processo de sound-


design, quando estou criando meus timbres. Então, aqui é um
daqueles pontos em que a mixagem e a composição se
sobrepõem. Como eu já disse, a saturação é o primeiro
processamento dos canais porque, em primeiro lugar, ela pode
desempenhar um leve controle da dinâmica, funcionando mais ou
menos como um compressor. Em segundo lugar, ela gera
harmônicos para trás e para frente da frequência fundamental
dos elementos.

Sendo assim, eu acho mais coerente usar um compressor em um


elemento com a dinâmica levemente mais controlada. E faz mais
sentido pra mim utilizar um equalizador depois, já que vários
harmônicos foram criados.

Mais uma vez vou dizer, você não precisa saturar cada
instrumento da sua mix, até mesmo porque você já fez isso em
grupos. O objetivo é escolher alguns elementos para oferecer a
eles uma textura extra e um aspecto mais analógico, menos
polido, menos digital.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

A saturação faz com que a sua mix fique com um aspecto de


estúdio profissional, equipamentos analógicos e equipamentos
caríssimos que na maioria das vezes não podemos comprar.
Deus abençoe a tecnologia!

Bom, agora você deve tá pensando "Beleza, Eduardo, já entendi


que a saturação é legal. Mas como eu uso essa bagaça?".
A pergunta é boa, mas a resposta não vai ser. A verdade é que
existem muitas opções de saturação, tanto nativas da sua DAW,
como gratuitas e, é claro, as pagas.

Existem emulações de Tape Machines, Tube (Válvula),


Transistors, Amplificadores de Guitarra, distorção digital e muitas
outras… Como eu já disse, cada uma tem uma característica. O
que você precisa fazer, então? Conhecer e se familiarizar com
elas. Baixe algumas gratuitas (basta pesquisar no Google e você
vai encontrar uma tonelada de opções), invista em alguma outra,
conheça bem os plugins nativos da sua DAW.

Outra recomendação é que você experimente mais de uma


saturação em um mesmo instrumento. Às vezes, eu uso duas ou
três, ou quem sabe oito (rs)…

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

2 - Equalização corretiva
Depois da saturação (se houver), o próximo passo é a
equalização corretiva. Esse é um procedimento que eu faço em
basicamente todos os canais. O meu EQ favorito é o Fabfilter Pro-
Q3, mas o equalizador nativo da sua DAW resolve o problema.
A diferença do Pro-Q3 é que ele tem mais funções e uma
interface muito bem construída. Aliás, os plugins da FabFilter são
meus preferidos.

Como eu já mencionei algumas dezenas de vezes, esse não é um


livro muito técnico. Eu não quero gastar seu tempo explicando os
princípios de funcionamento dos equalizadores, ondas, slopes,
tipos de cortes etc. Vou assumir que você já tem alguma
experiência com isso. [Se você quiser dominar todos esses
fundamentos, no curso A Arte da Equalização, que está
disponível no PME-Club, é tudo que você precisa].

No processo de equalização corretiva, eu tenho 2 objetivos


claros:

1. Atenuar frequências indesejadas (principalmente graves e


ressonâncias)
2. Reduzir o mascaramento de frequências.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Objetivo 01: Atenuar frequências indesejadas


Aqui a ideia é "limpar" mesmo. Atenuar frequências muito graves
de elementos que não precisam tanto delas, como por exemplo,
pratos, snare, vocais, alguns synths, fx…

Tome cuidado para não eliminar graves demais e tornar a sua mix
magrinha e sem graça. Eu já fiz muito isso! Eu diria que é seguro
atenuar os graves abaixo de 100-150Hz da maioria dos
elementos, exceto kick e bass. Mas, isso pode variar.

Para eliminar os graves, você pode usar um filtro hi-pass em


canais individuais. Já nos grupos, eu sugiro usar filtro do tipo
shelf, para não causar alterações de fase. Esse negócio de
alterações de fase pode causar um pouco de confusão, mas
vamos falar de uma maneira bem simples aqui. O equalizador
pode alterar a fase de alguns elementos, principalmente aqueles
mais graves.
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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Isso é um efeito colateral de qualquer equalizador. Mas, nem


sempre é um problema. Quanto mais agressivo for o seu slope,
boosts e cortes, maiores serão as alterações de fase. Por
exemplo, experimente inserir um filtro hi-pass com slope de
48dB/oitava em 50Hz no seu baixo. Você vai notar uma alteração.
Às vezes, ele até ganha alguns decibéis.

Durante muito tempo, eu fiquei confuso com essa observação.


Ora, se eu estou ATENUANDO frequências, por que diabos o
baixo ganha volume?
Isso acontece devido a um "flip" na fase do baixo. Quanto mais
grave o elemento, maior o comprimento de onda e, portanto,
mais perceptível será qualquer variação na fase, o que, como já
disse, nem sempre é ruim!

Talvez, você esteja se perguntando "Mas, e os equalizadores


Linear Phase?". Qualquer plugin que possua uma opção "Linear
Phase", em tese, não altera a fase. Com o equalizador, não é
diferente. Então, por que então não usar SOMENTE equalizadores
de fase linear?
O equalizador de fase linear também tem os seus efeitos
colaterais. Um deles é a latência, que pode atrasar um pouquinho
o sinal. Outro efeito, bastante desagradável, é o pre-ring. É como
se fosse um borrão que acontece antes do transiente inicial,
causando uma perda na definição e punch da onda.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Qual utilizar então? Mais uma vez, vou ter que te decepcionar.
Não existe certo e errado. Você precisa testar. Às vezes, eu uso
um EQ de fase linear no meu baixo e fica ok. Às vezes, eu prefiro
o "EQ normal". Mas, já que você quer uma sugestão, eu sugiro
usar EQ de fase linear em grupos e nos elementos mais graves,
como kick e bass.

Mas, não é só frequências graves que vamos atenuar. Em alguns


instrumentos, eu vou atenuar médios, agudos, o que for
necessário para que ele soe mais limpo e definido. Tome muito,
muito cuidado ao eliminar frequências altas dos elementos.

Eu vejo muitos produtores iniciantes socando um filtro low-pass


(retirando agudos) no baixo, por exemplo. Isso mata a definição
do baixo, principalmente se você produz psytrance ou qualquer
tipo de música que exija um bass com attack bem definido, como
Brazilian Bass, Slap House etc…

Médio-graves são um problema em muitos elementos. É uma


região ocupada por muitos instrumentos. Isso acaba criando o
que chamamos de "muddyness". É como se tivesse lama nessa
região. Fica sem definição e embolado. Por isso, é muito comum
eu fazer alguns cortes em 200-500Hz em vários synths e até
mesmo no bass.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

O excesso ou a falta de energia em cada banda de frequência


proporciona alguma característica à sua mix. Conhecer esses
detalhes é o grande segredo da equalização. A maioria dos
termos é em inglês. Acostume-se!
Há anos que eu ensino sobre isso com a imagem abaixo. Pra mim,
essa imagem é tão bonita quanto uma obra de Monet.

CRÉDITOS DA IMAGEM: MUSICIANONAMISSION.COM

Calma, você não precisa decorar tudo isso. A imagem é completa


até demais. Eu vou descrever agora os principais aspectos que
você precisa entender para dominar a equalização.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

BOOMY: Excesso de graves


Muitas vezes, queremos um bass bem gordo e grave. Quem não
gosta? Entretanto, a coisa mais comum de acontecer é o baixo
estar exagerado nos graves. Isso faz com que ele perca
definição e se torne boomy. Nesse caso, um corte do tipo shelf
nos graves abaixo de 100Hz pode ser bastante útil.

A maioria das músicas de alunos que eu vou dar feedback está


com excesso de graves. Em outras palavras, boomy.
Como saber se seu bass está boomy? Com o tempo, seu ouvido
vai ficando treinado com o equilíbrio tonal das suas mixagens,
mas antes disso, o seu melhor recurso são as músicas de
referência. Compare os graves das duas e você vai perceber se
sua música está boomy ou não.

Bem, o contrário também existe. Pouca energia nos graves faz


com que a mix se torne "magra", "weak", sem força, precisando
de um caldo de mocotó.

MUDDY: Médio-graves embolados


Como eu já disse, essa é uma região em que as frequências de
muitos instrumentos se sobrepõem. O resultado é um som
"enlameado" (muddy).

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Eu me lembro de quando comecei a produzir e as informações


eram escassas, algumas pessoas diziam nos fóruns "faça um
corte em 250Hz no seu bass". Durante alguns anos, eu fiz isso
quase que no piloto automático. Hoje, eu entendo que essa é
uma região de lama. Se você sente que a sua mix está um pouco
congestionada nessa banda de frequências, experimente fazer
alguns cortes do tipo bell em alguns elementos, como synths e
bass.

BOXY: Presença de médios e falta de graves/agudos


Outro termo muito comum que você vai ouvir de mim se for meu
aluno em alguma mentoria. Quando a mix como um todo está
desequilibrada, com falta de graves e agudos e,
consequentemente, com médios mais proeminentes, ela fica
com um aspecto como se estivesse soando dentro de um cano.

Uma mix boxy é muito desagradável de se ouvir. Isso porque o


ouvido humano não gosta tanto de médios como ele gosta de
graves e agudos (é sério isso).

Algumas vezes, você vai corrigir esse problema apenas com o


balanceamento de volumes. Outras vezes, atenuando um pouco
de frequências médias de determinados elementos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Eu me lembro de quando comecei a produzir e as informações


eram escassas, algumas pessoas diziam nos fóruns "faça um
corte em 250Hz no seu bass". Durante alguns anos, eu fiz isso
quase que no piloto automático. Hoje, eu entendo que essa é
uma região de lama. Se você sente que a sua mix está um pouco
congestionada nessa banda de frequências, experimente fazer
alguns cortes do tipo bell em alguns elementos, como synths e
bass.

BOXY: Presença de médios e falta de graves/agudos


Outro termo muito comum que você vai ouvir de mim se for meu
aluno em alguma mentoria. Quando a mix como um todo está
desequilibrada, com falta de graves e agudos e,
consequentemente, com médios mais proeminentes, ela fica
com um aspecto como se estivesse soando dentro de um cano.

Uma mix boxy é muito desagradável de se ouvir. Isso porque o


ouvido humano não gosta tanto de médios como ele gosta de
graves e agudos (é sério isso).

Algumas vezes, você vai corrigir esse problema apenas com o


balanceamento de volumes. Outras vezes, atenuando um pouco
de frequências médias de determinados elementos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

HARSH: Excesso de médios e médio-agudos


Só de falar, já doi o meu ouvido. Uma mix harsh (áspera) é quando
existem alguns elementos com muita energia nos médios e
médio-agudos, principalmente médio-agudos.
Para resolver esse problema, podemos fazer atenuações em 1-
5kHz. Alguns elementos, como snare e pratos tendem a
apresentar esse problema. Alguns synths com distorção também.

BRILHANTE: Excesso de agudos


Todo mundo quer uma mix brilhante, mas não tanto. O excesso
de agudos tende a desequilibrar a mix e, desta forma, fica um
pouco desagradável de se ouvir.
Honestamente, esse não é um problema que eu observo com
muita frequência. Na verdade, o oposto é muito mais frequente:
falta de brilho, o que torna a mix "dark".

Resumindo

Graves a)
Weak (frac
esso: Boomy | Falta:
Exc

es
Médio-grav k (fraca)
o: M uddy | Falta: Wea
Excess

Médios ca
xy | Falta: O
Excesso: Bo

Médio-agud
os presença
alta: Apagada, sem
rsh |F
Excesso: Ha

Agudos lta: Dark


cesso: Brilhante | Fa
Ex

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

A correção desses problemas se dá, na maioria das vezes, nos


grupos. Mas, é importante ter esse olhar clínico e tentar observar
tudo isso nos canais individuais também.

Uma dica final, mas muito importante, sobre a equalização


corretiva: tente não equalizar os elementos solados. Procure
equalizar cada um no contexto da mix, com todos os outros
elementos tocando junto. Eu sei, o dedo chega a coçar pra clicar
no "solo". Pode solar para não ficar ansioso. Mas, sempre
observe o resultado no contexto.

Muitas vezes, um elemento soa feioso em solo. Mas, no contexto


da mix, ele fica bem. O contrário também acontece muito. O
elemento solado está lindo, mas no contexto da mix, ele some.
Lembre-se sempre que ninguém, a não ser você, vai ouvir os
elementos individuais. Foque na obra como um todo!

Objetivo 02: Reduzir mascaramento de frequências


Mascaramento de frequências é quando dois ou mais
instrumentos estão disputando os mesmos espaços no espectro
de frequências. O meu primeiro conselho é: Não entre em
paranóia com isso ou você vai transformar a sua mixagem num
jogo de Tetris (já tivemos essa conversa).

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Lembra que eu falei que uma boa mixagem dependia de um bom


arranjo. Aqui, o aspecto de orquestração dos elementos é
bastante relevante. Pense numa orquestra. Cada instrumento
ocupa uma determinada banda de frequências e são
posicionados de modo que você ouça todos os músicos bem.
Simplesmente porque estão bem posicionados.

No arranjo é a mesma coisa. Se você inserir 10 canais de synths


na mesma oitava, eles vão conflitar. Não que uma boa mixagem
não resolva, mas é melhor ter isso em mente logo quando você
está produzindo. Na física de ondas, quando 2 elementos estão
tocando na mesma frequência, as ondas (ou parte delas) se
somam ou se cancelam.

É inevitável que ocorra sobreposição de frequências num arranjo.


E é por isso que começamos a mixagem sempre dos
instrumentos mais importantes para os menos importantes.

Imagine que você já trabalhou a mix do kick, bass, vocals e synth


leads. Eles estão soando bem, com uma boa definição. À medida
que você vai abrindo novos canais (os menos protagonistas),
você precisa observar se eles estão atrapalhando os
protagonistas. Então, você pode fazer alguns cortes (ou boosts)
para encaixar um pouco mais.

60
O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

O FabFilter ProQ3 é incrível porque ele tem uma função que se


chama "Collisions". Ele mostra basicamente o mascaramento de
frequências em todos os canais nos quais este equalizador
estiver presente. Mas, confie no seu ouvido! Até pouco tempo
atrás não existia esse recurso e as mixagens eram realizadas
normalmente… com os ouvidos!

Resumindo, comece a mixagem dos mais importantes para os


menos importantes. Conforme for abrindo cada canal, observe se
ele está conflitando com os que são mais importantes do que
ele. Faça ajustes necessários.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se você quer saber a minha ordem de importância, seria algo


mais ou menos assim (mas isso pode variar):

1. KICK e BASS
2. SYNTHS LEADS E MELODIAS
3. VOCALS (Eu não uso acapellas, vocais cantados etc. São
vocais psicodélicos, portanto, menos protagonistas).
4. SNARE
5. PRATOS E PERCS
6. PADS
7. FX E AMBIENCES

É claro que eu posso ter uma música em que o vocal é o


elemento mais importante, ou talvez a bateria. Tudo depende do
gênero e da proposta.

3 - Controle Dinâmico
Com os instrumentos já limpinhos, chegou a hora de controlar a
dinâmica. Os plugins que alteram a dinâmica incluem os
compressores, gates, de-essers, compressores multibanda,
transient shapers e limiters. O limiter é o único que eu não uso
nesse passo. Ele geralmente é o último plugin da cadeia. E em
geral, eu quase não uso em canais individuais, a não ser que o
áudio tenha picos muito rebeldes.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Antes de começar a falar desses plugins, vamos fazer uma


revisão absolutamente não-técnica sobre o que é dinâmica.
Quando falamos "dinâmica", estamos nos referindo à variação de
amplitude de um sinal. Em outras palavras, a variação de volumes.
Tem muita coisa a se falar sobre dinâmica e mais ainda sobre
compressores. Não é nosso objetivo esgotar a tecnicidade desse
assunto aqui.

Cada elemento da sua música tem uma variação dinâmica.


Geralmente, amplitude sai do ponto zero, sobe até atingir o
máximo e vai decaindo. Isso é o que chamamos de Envelope de
Amplitude, o famoso ADSR (attack, decay, sustain e release).
Além da dinâmica de cada elemento (ou cada nota que é tocada),
temos a dinâmica do canal, do grupo, da música toda.

Os processadores dinâmicos, de certa forma, controlam alguns


ou todos esses parâmetros. Quanto mais reduzimos a faixa
dinâmica, ou seja, essa variação de volume, também conhecida
como dynamic range, mais loudness a sua mix ganha. E é por isso
que surgiu, há alguns anos atrás, uma coisa chamada Loudness
War.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Acontece que antigamente, não se comprimia muito as músicas.


Se você pegar uma faixa de Rock ou Jazz dos anos 60, 70, 80,
havia muita dinâmica. E então, perceberam que quanto mais
comprimida uma faixa, mais volume percebido (loudness). E
então, passaram a comprimir, comprimir e comprimir cada vez
mais até o ápice dessa prática nos artistas de EDM.

Felizmente, essa prática está caindo em desuso, em partes,


devido ao Spotify que normaliza todas as músicas em -14 LUFs.
Uma música muito comprimida perde completamente a
tridimensionalidade e torna-se uma parede sonora, sem
profundidade e, na minha opinião, muito desagradável de se ouvir.
Então, não se deixe enganar pelo efeito aparentemente positivo
de uma compressão extremamente agressiva. Você ganha
loudness mas perde outros atributos importantes da sua mix,
como eu acabei de mencionar.

No processo de mixagem, portanto, eu costumo pegar leve na


compressão e deixo para o engenheiro de masterização fazer o
ajuste final. Ele vai comprimir e limitar na medida certa, mantendo
uma dinâmica competitiva. Falando nisso, eu recomendo que
você terceirize a masterização.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Compressão em canais individuais


A pergunta é: Quando utilizar compressão em canais individuais?
Existem algumas situações que podem ser beneficiadas com a
compressão. Um compressor pode evidenciar o attack e reduzir
o corpo ou pode reduzir o attack e evidenciar o corpo. Além
disso, alguns compressores podem "colorir" o som, criando um
efeito sutil parecido com uma saturação. Portanto, existem
algumas situações nas quais eu vou querer utilizar um
compressor:

1. Quando eu quero mais punch


2. Quando eu quero menos punch
3. Quando eu quero mais precisão
4. Quando há variações de volume em uma faixa e eu quero criar
um pouco mais de normalização
5. Quando eu quero colorir

Então, antes de sair colocando compressor sem um objetivo


claro, pense se você deseja alguma dessas coisas acima.

Exemplo 01: eu tenho um loop de hi-hats que tem uma variação


muito grande na dinâmica. Isso faz com que, para deixar esse
loop num volume percebido adequado, pode ser que eu perca
um pouco de headroom devido aos picos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Nesse caso, eu poderia usar um compressor para controlar


esses picos, ganhar um pouco de loudness e não comprometer o
meu headroom. Dessa forma, eu tenho uma dinâmica mais
controlada.

Exemplo 02: Eu tenho um vocal em que algumas sílabas estão


mais baixas, outras mais altas, com muita variação dinâmica. Eu
posso usar um compressor para normalizar essa dinâmica e
tornar o meu vocal muito mais consistente.

Exemplo 03: Eu quero mais punch em cada nota do meu baixo.


Com um compressor, eu posso alcançar notas mais precisas e
com mais punch. Eu posso também utilizar um compressor
"colorido" para dar um pouco mais de textura e presença para
esse baixo.

Exemplo 04: Meu snare possui um tail muito grande e eu quero


que ele seja mais definido. Advinha quem pode ajudar a resolver
esse problema? Sim, o compressor.

Transient Shaping em canais individuais


Transient shapers são uma espécie de compressores
específicos para transientes. E, convenhamos, são muito mais
simples e práticos para você moldar os transientes.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Basicamente, eu uso transient shapers na bateria. Se eu tenho um


hihat muito pontudo, eu posso arredondá-lo, tornando-o bem
mais soft e agradável. Se um snare está um pouco desaparecido
no contexto da mix, um transient shaper evidenciando o attack
pode resolver o problema.

Um aspecto bem interessante para você considerar ao longo de


toda a sua mixagem é o contraste. Contraste entre aberto e
fechado no estéreo, brilhante e dark, bastante loudness e pouco
loudness etc. Aqui, no controle da dinâmica, também podemos
criar esses contrastes. Por exemplo, um hi-hat mais "pontudo" (ou
sharp, como dizem os gringos), contrastando com outro bem
mais arredondado. Experimente esses contrastes sempre que
puder.

De-Esser em canais individuais


O De-Esser também é um primo do compressor, mas ele atua em
frequências agudas e é utilizado, na maioria das vezes, em
vocais, com o objetivo de reduzir sibilâncias.
Se você utiliza vocais em suas produções, os De-Essers são seus
grandes aliados! O funcionamento é simples. Eles eliminam
sibilâncias, os "sssss" em determinadas sílabas dos vocais.
Apesar de serem específicos para vocais, outros instrumentos
também podem se beneficiar desse plugin, como pratos e outros
elementos com frequências agudas.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

4 - Equalização aditiva
Se você está lendo esse material enquanto faz a mix em uma
música, eu tenho certeza que nesse momento ela já está muito
boa! Os elementos já estão limpos, balanceados e com a
dinâmica controlada.

A equalização aditiva é algo que acontece mais em grupos, mas


em canais individuais também. Aqui o objetivo é evidenciar
determinadas características de um instrumento para que ele se
encaixe melhor na mix e fique mais presente.

Para esse objetivo, você pode usar o EQ nativo da sua DAW, sem
problemas, mas os resultados são sempre melhores, na minha
opinião, quando você utiliza equalizadores que emulam
analógicos. Eu já expliquei um pouco sobre isso quando falamos
do tratamento dos grupos.

Mais uma vez, aqui é interessante pensar em contrastes.


Eu posso usar, por exemplo, o Maag4 para evidenciar os agudos
de 40kHz em um synth ou em um hihat, por exemplo. Se você
sabe um pouquinho de fisiologia humana, você já deve estar se
questionando "Como assim 40 mil Hertz? Eu aprendi na escola
que o ouvido humano não é capaz de ouvir acima de 20 mil Hertz
(20kHz). Estamos produzindo músicas para morcegos?"

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

É meio esquisito mesmo. Mas, acontece que, nesse EQ, as


curvas (slopes) são tão sutiz, que quando você dá um boost em
40kHz, ele acaba refletindo em 20, 10kHz mas de uma maneira
sutil e agradável. Se você faz um boost nos agudos com um EQ
normal, é muito fácil ficar harsh ou brilhante demais. Com esses
EQs "analógicos" é diferente.

Resumindo, aqui você vai sutilmente evidenciar algumas


frequências em determinados elementos para encaixá-los ainda
mais na mix. Não tem muito segredo. Experimente sem medo!

5 - Controle do Estéreo
Agora que sua mix já está limpa, polida e equilibrada, chegou a
hora de ir para o próximo nível, trabalhando a abertura estéreo de
alguns elementos. Há muito sobre o que se falar sobre estéreo,
mas vamos tentar não complicar as coisas aqui.

Esse passo poderia ser tratado junto com o próximo -


profundidade, devido à intersecção dos efeitos de algumas
aplicações, como reverbs e delays (que, ao mesmo tempo,
podem criar estéreo e profundidade).

Mas, para efeitos didáticos, vamos tratar em passos separados.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Eu não vou explicar os fundamentos do estéreo aqui. Se você


quiser dominar esse assunto, no PME-Club existe um curso
chamado "A Arte do Estéreo" que ensina todos esses
fundamentos. Aqui vamos falar de forma prática.

Todo mundo quer uma Mix "WIDE", não? Sim, é o que queremos.
Mas, alguns cuidados precisam ser tomados. Em primeiro lugar, a
sua mix precisa ter uma boa quantidade de informação no centro
(mono), como kick, bass, snare etc. Em geral, quanto mais grave
o elemento, menos ele responde bem ao estéreo. É por isso que,
geralmente, kick e bass são mono. Não quer dizer que o seu bass
não possa ter informações estéreo. Sim, ele pode. Mas, ele
precisa também de informações mono.

Além disso, é interessante manter um certo contraste para criar


separação entre os elementos e abertura estéreo. O que quero
dizer é que você não vai "abrir" todo mundo no estéreo. Uma boa
mix tem contrastes.

Eu não queria entrar em termos técnicos aqui, mas o estéreo


surge da DIFERENÇA entre os lados esquerdo (L) e direito (R) de
um sinal.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Imagine o seguinte. Você quer criar um snare super aberto. Então,


você duplica o canal e, em um canal, você faz um hard pan,
jogando o sinal completamente para a esquerda e, no outro,
completamente para a direita. O que acontece? Nada! No
máximo, vai ser um aumento do volume. Por que? Porque não
existe diferença entre L e R.

Se, por outro lado, você fizesse qualquer alteração na onda, na


fase, no timbre, na dinâmica ou nas frequências de maneira
diferente entre L e R, você já perceberia um estéreo sendo
criado. Você pode, inclusive, usar samples ligeiramente
diferentes.

Isso também vale na síntese sonora. Se você pegar o som de um


oscilador e fizer um hard pan para a esquerda e, no outro, hard
pan para a direita, o que acontece? Nada! Agora, se as ondas
forem ligeiramente diferentes, você vai ter um sinal mais estéreo.
Então, é assim que, tecnicamente, surge o estéreo. Mas, quanto
maiores forem as diferenças entre L e R, mais chances de o sinal
ter problemas de mono-compatibilidade.

Mono-compatibilidade significa o quão intacto um sinal soa


quando tocado em mono.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Existem muitas técnicas que criam um estéreo incrível, mas são


perigosas em relação à mono-compatibilidade. Por exemplo, a
técnica Hass Effect, que cria um estéreo incrível, raramente gera
bons resultados em mono.

E aí você pode estar se perguntando "Por que eu vou querer que


meu som toque bem em mono?". Aqui começa a treta! Algumas
pessoas vão dizer que seu som precisa soar perfeitamente bem
em mono porque muitos sound-systems do mundo são mono etc.
Outros vão dizer que não faz o menor sentido se preocupar com
isso porque a maioria dos sound-systems do mundo, incluindo
headphones, speakers de computador, televisão etc são estéreo.

A minha visão é o caminho do meio. Eu não entro em paranóia


com isso. Já entrei algumas vezes e acabei estragando algumas
músicas por isso. Mas, quando você tem uma mix com boa parte
dos elementos em mono, não tem muito problema. Não deixe o
monstro da mono-compatibilidade te assustar!

Eu sempre gosto de dar uma checada na mix. Eu coloco um Utility


no Master e vejo como a mix está soando em mono. Se estiver
muito, muito debilitada (o que é muito raro), eu vou revisar e
tentar resolver esses problemas.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Filosofia para criação de estéreo

1. É provável que sua música já tenha bastante informação


estéreo. Vários presets nos VSTs e efeitos que utilizamos ao
longo da composição já criam estéreo.
2. Mantenha uma boa quantidade de informações no centro
(mono), como kick, bass, snare, alguns synths, vocais etc. Não
quer dizer que esses elementos não possam ter informação
estéreo.
3. Pense numa árvore. O tronco são os graves. Os galhos são os
médios e as folhas são os agudos.
4. Use diferentes técnicas de estéreo e tente sempre manter
contrastes. Ex.: Hi-hat offbeat centralizado x Hi-hat 1/16 com
Auto-Pan (estéreo). Ex. 2: Pad centralizado x Arp estéreo.

Estéreo Dinâmico X Estático


Os elementos podem ter uma posição fixa no estéreo, como por
exemplo um pad, vocal ou lead, ou podem ficar se movimentando
de um lado para outro. A minha grande dica é não colocar
movimentos em muitos elementos ou sua mix vai causar
labirintite. É legal manter a maioria dos elementos "parados" e um
ou outro se movimentando da esquerda pra direita. Isso também
causa contraste e faz com que as pessoas percebam o elemento
se movimentando com muito mais clareza.

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O MAPA DA MIXAGEM

10 Técnicas para Criação de Estéreo

Técnica 01: Sound-Design


Quando você está criando um elemento num VST, é muito
comum criar estéreo sem perceber. Basta abrir mais de 1 voz nos
osciladores e você já tem um elemento estéreo. Além disso,
muitos instrumentos virtuais possuem efeitos internos, como
chorus, reverbs e delays que também contribuem para esse
processo.

Técnica 02: Diferenças em L e R


Qualquer diferença entre os lados L e R cria estéreo. Com esse
conceito em mente, você pode fazer várias coisas diferentes. Até
mesmo com um equalizador, fazendo cortes e boosts em pontos
diferentes entre L e R, é possível criar estéreo.

Técnica 03: Widening Plugins


Hoje em dia, existem muitos plugins com a função de criar ou
manipular o estéreo, como o Ozone Imager, o Melda Stereo
Spread, o Wider (gratuito), dentre outros. É um recurso
interessante, mas, claro, para ser usado com cautela, em canais
específicos. Lembre-se do contraste!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Técnica 04: Panning


Essa é bem conhecida. Toda DAW tem um knob de PANORAMA
(PAN) em cada canal, de modo que você pode posicioná-lo para
esquerda ou para direita. Eu uso com bastante sutileza e,
particularmente, não gosto de mixagens com informações muito
diferentes entre L e R.

Por exemplo, eu já vi muitas dicas no Instagram, de um perfil que


copiou de outro, que copiou de outro, que copiou de outro, que
era um perfil de dicas para BANDAS! E aí, o cara sugere
posicionar o snare à esquerda. Observe as músicas eletrônicas
que você tem como referência. O snare quase nunca toca de um
lado só. Ele pode ser estéreo, mas é equilibrado dos dois lados.

O mesmo com hi-hats. É muito comum o produtor "pannear" um


prato para esquerda ou direita e não posicionar nenhum outro
elemento do outro lado. Na minha opinião, a mix fica torta. Na
música eletrônica, não é como a mixagem de uma banda, em que
você quer dar ao expectador a experiência de estar de frente
para o baterista. É outro mundo! As coisas são bem mais
proporcionais entre L e R.

O panning é uma técnica bem interessante para descongestionar


a sua mix quando mais de um instrumento toca ao mesmo tempo,
com frequências parecidas.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Você pode posicionar levemente um pra esquerda e outro pra


direita. E assim, a mix vai ganhando mais abertura e clareza.

Técnica 05: Haas Effect


Ah! O Hass effect. Tão controverso, amado e odiado. Uma coisa
não podemos negar, ele é um efeito brutal. Mas, ele também
possui um efeito negativo: ferrar com a mono-compatibilidade do
elemento. Isso quer dizer que se você usar essa técnica em
algum instrumento, é provável que ele soe degradado em mono.

Sendo assim, entre os que amam e os que odeiam, eu sou do


time que usa como um recurso especial em alguns elementos
não tão protagonistas na minha música. Além disso, eu sou do
time dos que não se preocupam muito se o som vai soar
PERFEITO em mono! O Haas é uma das ferramentas que você
pode inserir em seu arsenal.

O conceito é bem simples. Com um plugin delay, você vai atrasar


somente um dos lados do sinal em 10-20 ms. Fim. Faça isso e
você vai ver seu sinal abrir milagrosamente no estéreo.
Existem alguns plugins específicos de Haas Effect. Na verdade, é
uma técnica que eu uso bem pouco. E se usar, vai ser em um
instrumento ou outro na minha mix.

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O MAPA DA MIXAGEM

Técnica 06: Micro-Shifting


O conceito é bem simples, muito parecido com o da Técnica 2.
Mas, aqui, a ideia é alterar levemente o pitch entre L e R. Você
pode fazer isso na etapa de síntese sonora ou duplicando os
canais e utilizando em um dos canais um plugin que altera o pitch,
como o Sound-Shi​​fter Pitch, da Waves.

Se você quiser mais facilidade ainda nesse processo, você pode


usar um plugin da Sound-Toys, o Micro-Shift. Ele faz esse
trabalho de forma simples e intuitiva.

Técnica 07: Mid-Side EQ


Algumas das técnicas que estamos falando aqui CRIAM estéreo,
outras apenas manipulam um estéreo existente. É o caso da
equalização Mid-Side. Para ficar bem claro o entendimento aqui,
vou dar uma breve explicação. Eu já disse que o estéreo surge da
diferença entre L e R, não é?

Bem, imagine que você tem um sinal em L que é 95% igual ao R e


apenas 5% do sinal é diferente. Esses 5% são o estéreo, ou SIDE.
Já os outros 95% são o centro, ou mono, ou MID. Isso é o
processamento MID-SIDE. Com ele, eu tenho a possibilidade de
manipular a parte mono e a parte estéreo de um sinal de forma
separada.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se eu der um boost nas frequências médias somente no SIDE de


um instrumento, eu vou estar evidenciando o estéreo. Se eu
quiser reduzir o estéreo, eu posso cortar o SIDE. Com esse
processamento, temos bastante controle sobre o estéreo (já
existente) de um elemento.

Técnica 08: Efeitos de Modulação


Quase todos os plugins de modulação, como flanger, phaser ou
chorus terão um efeito na largura estéreo. Não são efeitos que eu
costumo usar com muita frequência, até mesmo porque eles
também são danados pra arruinar a mono-compatibilidade. Mas,
são técnicas legais para manter no seu arsenal!

Técnica 09: Processamento Paralelo


Sabe a compressão paralela? Você pode fazer o mesmo com o
estéreo. Por exemplo, eu tenho um canal de um synth principal.
Eu direciono sinal para um bus, no qual eu vou abrir no estéreo
agressivamente - e sem medo de ser feliz. Depois, eu vou fazer
um blend dos 2 sinais.

A vantagem dessa técnica é que, por mais que o som do


processamento paralelo tenha a mono-compatibilidade muito
comprometida, não importa, porque o sinal original está intacto.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Técnica 10: Estéreo dinâmico


Para criar movimentos no estéreo, você pode fazer automações
no PAN, ou utilizar plugins como o Auto-Pan (nativo do Ableton), o
Pan Man (Sound-Toys) e diversos outros. Alguns delays também
entram aqui nessa categoria.

A técnica é bem simples, mas a estratégia é o mais importante. E


a estratégia aqui é o contraste. Ou seja, não utilize essa técnica
em muitos instrumentos ao mesmo tempo. É muito mais
interessante ter poucos elementos se movimentando.

Bom, agora você já tem 10 técnicas para criação de estéreo. É


muito mais do que suficiente para você ter ótimos resultados na
sua mix.

Por fim, se você não tem muita ideia sobre como abrir, quanto
abrir e quais elementos abrir no estéreo, sempre, sempre,
sempre observe as referências. Existem plugins muito bons que
mostram uma comparação inclusive do estéreo, tais como o
Reference - Mastering The Mix e o Metric AB - Adaptr.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

6. Profundidade
Chegou a hora de trazer um pouco mais de tridimensionalidade
para a sua mix. Antes de falarmos sobre os conceitos e técnicas,
é importante deixar claro que esse aspecto de profundidade é
apenas uma percepção psicoacústica. Algo como uma ilusão.

Vou explicar melhor.


Imagine que você está no seu quarto e uma pessoa deixa uma
panela cair na cozinha. Você, sem pensar, já consegue identificar
de onde veio o barulho. Você consegue identificar a direção e a
distância. Isso acontece devido à nossa capacidade de
interpretar a intensidade (amplitude) e as frequências.

Um som gerado na cozinha e que chega até o meu quarto


precisou percorrer uma certa distância e atravessar algumas
barreiras (filtros), como portas, paredes, etc. Estando no meu
quarto, eu não ouço as mesmas frequências e a mesma
intensidade de amplitude do que uma pessoa que estivesse na
cozinha. A amplitude é reduzida e algumas frequências são
literalmente filtradas pelas barreiras físicas, sobretudo as mais
agudas, que tem menos energia.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Isso é o que acontece na vida real e nós imitamos na mixagem.


Em outras palavras, se eu tenho um instrumento com volume alto
e presença de todas as frequências, sobretudo médio-agudos e
agudos, naturalmente, ele vai dar a ilusão que está mais à frente.
Se este mesmo instrumento tiver o volume reduzido e os agudos
atenuados, ele parece ir lá para o fundo.

Se apenas controlando o volume e as frequências já temos um


aspecto tridimensional na mix, é muito provável que, nesse
momento, mesmo sem fazer nada, a sua mix já possua certa
tridimensionalidade, devido às diferenças de volume e diferenças
no espectro. E é exatamente por esse motivo que, quando você
comprime demais a sua mixagem, ela perde tridimensionalidade.

Os Planos de Profundidade
Imagine que você tem um cubo tridimensional. Alguns elementos
vão estar à frente, outros vão estar na metade e outros vão estar
lá no fundo. É importantíssimo trabalhar esses contrastes nos
elementos, utilizando diferentes técnicas que vamos descrever a
seguir.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Técnicas de criação de profundidade na Mix

Técnica 01: Equalização


Um simples equalizador é capaz de posicionar um instrumento à
frente ou atrás em nosso plano tridimensional.
Se atenuamos os graves e, principalmente, os agudos, o som vai
para o fundo. Do contrário, ele vem pra frente. Dando um boost
nos agudos, ele vem muito pra frente.

Você pode criar movimentos interessantes com automações no


filtro, trazendo uma bateria toda lá do fundo para a frente ou o
contrário, simplesmente com um low-pass filter.

Técnica 02: Volume


O loudness é inimigo da profundidade. Se você é daqueles que
gosta de uma masterização extremamente agressiva,
comprimida, com o máximo de loudness, você jamais vai ter
muita profundidade na sua música.

As variações de volume são importantes. Alguns elementos vão


estar lá no fundo, tocando baixinho, como se fossem aquelas
montanhas no fundo da nossa paisagem. Outros vão estar mais
"na sua cara", o mais volume e mais definição.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Com esse simples controle, você já consegue criar uma boa


noção de profundidade na mix. Por exemplo, o kick e bass são
elementos com maior volume na mix. Portanto, eles estão mais à
frente. Já as ambiências e atmosferas possuem um volume muito
menor, o que dá a impressão de estarem lá no fundo.

É interessante também fazer automações no volume para criar


mais movimento "Back-Front". É o tipo de coisa que os
produtores tem um pouco de medo de fazer, mas o resultado
pode ser muito interessante.

Técnica 03: Reverb


O reverb é o primeiro plugin que vem à mente quando o objetivo
é criar profundidade e ambientação de um instrumento. Mas,
tome cuidado. É muito, muito comum eu analisar músicas de
alunos e elas estarem completamente "lavadas" (excesso de
reverb).

O reverb pode tirar definição e poluir a mix. Por isso, ele pede
que seja usado com contraste. Isso quer dizer, alguns elementos
mais secos (sem reverb) e outros mais molhados (com reverb). E
não é só isso, diferentes reverbs criam diferentes percepções de
profundidade.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Em primeiro lugar, existem 2 formas de aplicar um reverb.


Diretamente no canal (insert) ou em um canal de retorno/auxiliar.
Como eu já disse em algum momento desse livro, eu costumo
deixar 4 reverbs pré-definidos em canais de retorno. Mas isso
não quer dizer que eu não os utilizo diretamente no canal.

Como decidir entre o plugin direto no canal ou em canais de


retorno?

O que precisamos ter em mente é que, quando um plugin é


inserido diretamente no canal, à medida que eu abro o WET, o
sinal original (DRY) é reduzido na mesma proporção. Portanto, se
eu tiver um reverb com Wet em 50%, significa que o meu sinal
original foi reduzido pela metade.

Já num canal de retorno é diferente. Eu não altero em nada o meu


sinal original. Eu simplesmente ADICIONO um sinal complementar
com o efeito. Sempre que eu crio um canal de retorno, eu deixo o
WET no 100%, afinal eu vou controlar a intensidade deste sinal
auxiliar da maneira como eu quiser.

Trocando em miúdos, um reverb direto no canal, devido à


mesclagem com o sinal original, faz com que o sinal perca
definição e seja posicionado mais ao fundo, a depender da
configuração do reverb.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO 4
O MAPA DA MIXAGEM

Sendo assim, eu uso desta forma quando eu quero um som mais


lavado, sem muita definição, como por exemplo, uma ambiência
lá no fundo, um crash, um vocal psicodélico, alguma percussão…
Por outro lado, eu também utilizo os reverbs em canais de
retorno. Vou falar sobre eles no próximo tópico.

Técnica 04: Os 4 BUS-Reverbs


Essa é uma técnica que eu aprendi em um curso com o Zeamoon,
um alemão que costuma fazer algumas masterizações pra mim. A
ideia é ter 4 reverbs diferentes nos seus canais de retorno:

Reverb 01: Muito curto


Reverb 02: Curto
Reverb 03: Médio
Reverb 04: Longo

Antes de explicar como configurar seus 4 reverbs, você precisa


entender 2 parâmetros principais: Decay e Pre-delay. O Decay é o
tail do reverb - quanto tempo ele demora para decair até chegar
no zero. E o pre-delay é quanto tempo leva para que ocorram as
primeiras reflexões. Resumindo, se o pre-delay é muito rápido, o
efeito do reverb começa exatamente junto com o sinal original.
Se o pre-delay é 20ms, esse é o tempo que leva para o reverb
começar, após o sinal original ter sido tocado.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

O pre-delay se baseia na nossa própria percepção humana. Por


exemplo, se você está em um quarto pequeno e bate uma palma.
O som da palma vai bater na parede e retornar rapidamente (pre-
delay rápido), talvez em menos de 10ms. Seu cérebro já entende
"estou em um ambiente pequeno".

Por outro lado, se você estiver em uma igreja e bater uma palma,
o som vai demorar bem mais para bater nas primeiras superfícies
e retornar até você. Essa combinação de decay e pre-delay pode
criar diferentes ambientes nos reverbs.

Distribuindo a utilização destes 4 reverbs em vários instrumentos


da sua mix vai garantir diferentes posicionamentos no plano
tridimensional.

O Reverb "Muito Curto"


A ideia deste reverb é trazer um elemento mais à frente. Sim, é
possível fazer isso com reverb. Para tanto, eu já tenho um preset
no Valhalla Room, com Decay bem rápido (0.3s) e pre-delay bem
curto também (2.6ms).

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

O Reverb "Curto"
Aqui o objetivo é criar um ambiente pequeno. Portanto, eu já
tenho o meu preset com um decay de 0,88s. No Fab-Filter Pro-R
não temos o controle Pre-Delay, mas temos o Distance (longe ou
perto) e o Brightness (brilhante ou dark). Com isso, podemos criar
os ambientes desejados.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

O Reverb "Médio"
O reverb médio já tem um decay um pouco mais longo que o
anterior e um pouco mais de distância também. Você não precisa
obedecer essas medidas exatas. A ideia é ter 4 reverbs
diferentes.

O Reverb "Longo"
Aqui a ideia é ter um decay bem maior (5-10 segundos), mais
profundidade e menos brilho.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se você tiver dificuldade em configurar os seus reverbs, utilize


presets. Não precisa ser exatamente desse jeito, com esses
plugins. Use o que você tem aí. A ideia, como eu já bem disse, é
ter 4 ambientes diferentes. Um "na cara", um pequeno, um médio
e um grande.

Agora, utilizando os canais de retorno, você pode aplicar esses 4


reverbs em vários instrumentos da sua mix. E como são só 4, o
efeito acaba sendo bem interessante porque basicamente todos
os elementos da sua mix vão ser divididos em 4 posições de
profundidade. Isso vai tornar sua mix muito mais tridimensional.

Técnica 05: Transient Shaping


O conceito é bem simples. Quanto mais attack (transiente) um
sinal sonoro possuir, mais à frente ele vai estar. Com isso, já
podemos começar a pensar em contrastes.
Você pode deixar um synth com attack mais definido (sharp)
contrastando com outro com attack atenuado. Um vai estar
naturalmente mais à frente e outro mais ao fundo.

Bitter Sweet - Transient Shaper Gratuito

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM
Técnica 06: Delay
O delay já faz parte do dia-a-dia de qualquer produtor. É uma
ferramenta com bom potencial de criação de profundidade,
principalmente se você filtrar os agudos das repetições.
Isso pode ser feito no canal de retorno, simplesmente
colocando um EQ com corte do tipo Shelf nas frequências
agudas, ou utilizando um plugin que já possua essa função como
o Replika, na Native Instruments ou o EchoBoy da Sound-Toys.

Replika - Native Instruments

Até aqui, sem muita novidade, mas talvez o que seja novo pra
você é que quanto mais rápidas forem as repetições mais você
percebe o efeito como à frente. Por exemplo, um delay 1/16
parece mais à frente do que um 1/4. Outra coisa que talvez você
não saiba é que delay fora de sincronização com a sua música
fica muito mais na cara.
Sendo assim, agora você já tem mais algumas técnicas para usar
com seus delays favoritos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 05: EDIÇÃO DE ÁUDIO

Depois de finalizar o tratamento em canais individuais, chegou a


hora de se atentar aos detalhes para que sua mix soe
verdadeiramente profissional.

O primeiro passo é a edição final. Eu sugiro dar o play em cada


instrumento da sua mix e verificar se existem clicks, ruídos, ou
algum tail demasiadamente longo de reverbs, por exemplo.
Clicks e pops são muito comuns em samples que são cortados
bruscamente. Nesse caso, um fade out ou fade in pode resolver
o problema.

Sempre que for cortar um áudio, faça isso no "zero crossing


point", o ponto onde a onda está no zero. Você pode configurar a
sua DAW para fazer isso automaticamente. Quando você não
corte nesses pontos exatos, acontecem clicks.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 06: AUTOMAÇÕES

As automações podem levar a sua mixagem para um novo


patamar! É claro que as automações não precisam acontecer
necessariamente nesse passo específico. Elas podem surgir ao
longo do processo de produção e em qualquer fase da mixagem.
Mas, eu gosto de pensar nas automações como um passo extra,
que vai trazer uma característica muito mais profissional para a
sua mix.

Se você for olhar para o passado, essa estratégia faz muito


sentido porque antigamente os engenheiros de mixagem
simplesmente gravavam as automações em tempo real em uma
fita. A música ia tocando, eles iam mexendo nos faders e tudo era
gravado. Imagina o nível de precisão que era necessário. Hoje em
dia é tudo mais fácil. Fazemos automações!

Aqui vão algumas sugestões de parâmetros nos quais você pode


utilizar automações:

Volume
Particularmente, eu não gosto de fazer automação no volume do
canal. Sendo assim, quando vou utilizar essa técnica, eu insiro um
plugin (Utility) e faço as devidas automações no Gain deste
plugin.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Filtro
Fazer automações nos filtros é muito comum. Você pode fazer
automações no Hi-Pass, no Low-Pass, na ressonância, onde você
quiser. Você pode criar tensão e trabalhar variações de energia
com essa técnica.
Experimente aplicar uma automação de filtro hi-pass ou low-pass
em todo o grupo da bateria antes de chegar no break. Ou fazer
uma automação no filtro hi-pass no grupo de kick e bass.

Abertura estéreo
Você pode criar contrastes no estéreo com automações. Por
exemplo, você pode inserir um plugin que possua controle de
largura estéreo, como o Utility do Ableton, no canal Master e
fechar a abertura estéreo na Build-Up, deixando o Drop com
muito mais estéreo. Isso vai criar um contraste e trazer muito
mais potência pro drop.

Decay e Sustain de elementos da bateria.


Se os elementos da sua bateria, principalmente os pratos, estão
em um sampler, você pode criar tensão e energia com
automações no decay e sustain. Dessa forma, o elemento
começa mais sequinho e termina bem aberto.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se você estiver trabalhando já com os canais todos em áudio,


você pode obter o mesmo efeito inserindo no canal um transient
shaper. Você vai inserir uma automação no sustain, do mais
fechado para o mais aberto. O efeito é que a bateria vai se
abrindo, ganhando mais energia e tensão.

Reverb
Automações nos reverbs são muito bem vindas. Você pode criar
efeitos muito interessantes, criando movimentos no plano
tridimentional, simplesmente com automações no WET.
Experimente fazer automações em vários parâmetros da sua mix.
Use sua criatividade!

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO 4
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 07: COMPARAÇÃO COM A


REFERÊNCIA E AJUSTES TONAIS

Nesse momento, sua mix já está pronta. Mas, é sempre bom dar
uma comparada com as tracks referência que você escolheu.
Esse é o momento de comparar com muito cuidado.

Observe como estão os graves, médios, agudos.


Observe a abertura estéreo.
Observe a dinâmica.

É provável que sua mix esteja com os graves um pouco mais


altos do que a referência. É possível que esteja faltando brilho.
Esse é o momento em que você pode fazer alguns ajustes bem
leves diretamente no Master-Bus ou nos grupos.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 08 (OPCIONAL): EXPORTAÇÃO


DAS PRINCIPAIS STEMS

Esse é um passo opcional e não é sempre que eu faço. Mas,


algumas vezes, eu gosto de exportar as principais stems (grupos)
e abrir em outro projeto para um toque final na mixagem. É como
se fosse uma pré-masterização por stems.
Eu exporto as seguintes stems:
1. Kick
2. Baixos
3. Bateria
4. Synths
5. Pads e Ambiences
6. Fx
7. Vocals

Não me pergunte porque eu faço isso. Eu não aprendi com


ninguém. Mas, quando eu faço esse procedimento, o meu
cérebro tende a parar de olhar a mix com um viés mais visual e
observar mais o equilíbrio tonal.

Quando eu tenho apenas 6 ou 7 faixas, eu foco mais ainda no


TODO, e não nas particularidades. Isso faz com que eu tome
decisões mais assertivas para controle de parâmetros como
equilíbrio tonal, estéreo etc.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

PASSO 09: EXPORTAÇÃO FINAL

Você chegou ao final da sua mix. Mas, sinceramente, eu duvido


que você vai ter coragem de exportar hoje. É claro que você vai
querer conferir amanhã de novo, dar mais um tapinha aqui, outro
ali. Tá tudo certo!
Só que, em algum momento, você vai ter que dizer adeus.

Eu gosto de dizer que você não termina uma mixagem. Você


desiste dela! Geralmente, isso acontece quando chega a data
que você combinou de entregar para a label ou uma festa que
você vai tocar se aproxima (e você quer tocar as novas, sempre!).

Chegou a hora de exportar o projeto e enviar para o engenheiro


de masterização. Eu não sei se eu já falei sobre isso, mas eu
recomendo que você terceirize a masterização. Deixe para um
profissional ajustar os últimos detalhes da sua obra. Não que
você não possa fazer. Você pode. Funciona também. Mas, um
engenheiro de masterização, geralmente, tem uma acústica boa,
bons equipamentos e um ouvido fresco!

Quando você contrata um engenheiro de masterização, você


pode trabalhar de duas formas: masterização "simples" ou por
stems.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
O MAPA DA MIXAGEM

Se for do jeito mais simples, você simplesmente vai exportar em


uma única faixa estéreo, geralmente com 24 bit e 44.100 kHz de
sample rate. Entretanto, se você produziu o projeto com sample
rate de 48kHz, mantenha o mesmo para a exportação.
Se for uma master por stems, você vai exportar 5 a 7 faixas, mais
ou menos como descrevi acima.

Geralmente, a masterização por stems é um pouco mais cara do


que a normal. Mas, é interessante porque ela permite ao
masterizador trabalhar melhor e resolver alguns problemas da
mix. Não que isso seja o papel da masterização, mas ele trabalha
com essa possibilidade.

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
INTRODUÇÃO

CONCLUSÃO

1
CONCLUSÃO

A mixagem é um processo que leva tempo para você aprimorar


suas habilidades. Mas, com esse passo-a-passo, eu tenho
certeza que esse tempo vai ser muito menor.
Você não precisa seguir à risca. Você pode e deve adaptar para a
sua rotina. Você pode incluir algumas técnicas legais que
aprendeu no Youtube ou no Instagram. Você pode simplificar
mais ainda se quiser.

O que importa, SEMPRE, é o resultado final. Não importa o


caminho que você percorreu. Por isso, mais uma vez, eu batizei
esse conteúdo de MAPA. Modéstia à parte, acho que fui assertivo
no nome, exatamente porque o meu objetivo é oferecer um
caminho para quem não tinha nenhum.

Agora, que você já tem esse mapa, você pode testar outras rotas
diferentes. Mas, nunca se esqueça de estudar os fundamentos,
os conteúdos de base, como por exemplo:

Equalização
Compressão
Reverb
Saturação
Processamentos multibanda
Delays

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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO
CONCLUSÃO

Plugins diversos
Dinâmica
Fundamentos de áudio
Etc etc etc

Esse livro é um guia prático, mas ele não substitui esse


conhecimento de base. Para isso, o melhor caminho que você
pode escolher é a nossa academia para produtores de música
eletrônica - PME-Club. Todos esses conteúdos (e muito mais)
estão disponíveis de forma prática, didática e de fácil
compreensão para produtores de música eletrônica.

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Muito obrigado por ter lido este material. Foi um prazer


compartilhar essas informações com você. Tamo junto e nos
vemos no palco!

Eduardo Juliato
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O MAPA DA MIX - EDUARDO JULIATO

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