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Contraponto Serial (2o.

Semestre 2022) – Aula 2

Introdução à teoria dos conjuntos e série dodecafônica

Prof. Fernando Cardoso Pereira - fernando.cardoso@unesp.br


DISCIPLINA DE CONTRAPONTO SERIAL - Calendário

09/08 16/08 23/08 30/08 06/09 13/09 20/09 27/09 04/10 11/10 18/10 25/10 01/11 08/11 15/11 22/11 29/11 06/12

Aulas 01 X 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 X 14 15

Trabalhos T1 T2 T3 T4

Provas P1

Recuperação R1

Datas importantes

16/08 – Exames de saúde Prof. Fernando


15/11 – Proclamação da República
23/09 – Limite Trancamento de disciplina do 2o Semestre e Anual
DISCIPLINA DE CONTRAPONTO SERIAL
Conteúdos das aulas:

Aula 1. Introdução (Krenek)


Aula 2. A série de 12 tons (Cap. I do Krenek)
Aula 3. Escrita a uma parte (Cap. II do Krenek)
Aula 4. Escrita a duas partes (Cap. III do Krenek)
Aula 5. Formas derivadas da série (Cap. IV do Krenek)
Aula 6. Invenções a duas vozes usando O e I (Cap. V do Krenek)
Aula 7. Escrita a duas partes usando todas as quatro formas das séries (Cap. VI do Krenek)
Aula 8. Escrita a três partes (Cap. VII do Krenek)
Aula 9. Extensão das regras relativamente a repetição de tons (Cap. VIII do Krenek)
Aula 10. Transposições das séries-formas (Cap. IX do Krenek)
Aula 11. Disposição de formas mais amplas (Cap. X do Krenek)
Aula 12. Séries especiais (Cap. XI do Krenek)
DISCIPLINA DE CONTRAPONTO SERIAL

Livros de referência:

Diether de la Motte. Contrapunto, Editorial Labor S.A., Tradução de Miguel Angel Centenero Gallego, 2a. Edição, 1995
Ernst Krenek. Studies in Counterpoint based on the Twelve-Tone Technique. New York: G. Schirmer, Inc., 1940
Jean & Brigitte Massin. História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, 1997.
Itens da aula passada:

• Romantismo pré-1900 - Franz Lizst e o Poema Sinfônico

• A virada para o século XX (Wagner, Debussy, Mahler, Strauss)

• Primeiras obras de Arnold Schoenberg (1874-1951)

- Poema sinfônico “Noite Transfigurada” Op. 4 (1899)


- Quarteto de Cordas No. 1 em Dm Op. 7
- Quarteto de Cordas No. 2 em F#m Op. 10
- Três peças para piano Op. 11
- O livro dos jardins suspensos Op. 15

• Exercício preparatório: Composição por gematria

Textos para leitura:

• Diether de la Motte, Contrapunto, Cap. 10 – A nova música


• Ernst Krenek. Studies in Counterpoint, INTRODUÇÃO
(Aula passada) Exercício preparatório: Composição por gematria

Neste exercício, cada aluno deve realizar a gematria de seu nome segundo um período numérico de 1 a 12, números aos
quais se associarão cada uma das letras do alfabeto. O aluno poderá utilizar seu nome próprio e mais um ou dois
sobrenomes. Em seguida, o aluno transformará a sequência numérica resultante em uma sequência de notas com alturas
distintas, por meio de correspondência com as 12 notas cromáticas no pentagrama abaixo.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
x y
w l m
k a
12
11 1 n z
v j b
10 2 Gematria:
F e r n a n d o C a r d o s o
u i 9 3 co
6 5 6 2 1 2 4 3 3 1 6 4 3 7 3
8 4
t h d p
7 5 F E F C# C C# D# D D C F D# D F# D
g 6 e
s f q
r
Teoria dos conjuntos
(Robert Hutchinson, Music Theory for the 21th-Century Classroom)
https://musictheory.pugetsound.edu/mt21c/SetTheorySection.html

Técnica usada na análise da música expressionista, no caso, música atonal

• Primeiras abordagens analíticas abrangentes deste repertório:


- Allen Forte, The Sctructure of Atonal Music (1973) – teoria matemática dos conjuntos aplicada à música
- Outras abordagens: John Rahn, Basic Atonal Theory (1980); Joseph Straus, Introduction to Post-Tonal Theory (1990)

• Primeiros compositores associados à música atonal:


- Arnold Schoenberg (1874-1951)
- Anton Webern (1883-1945)
- Alban Berg (1885-1935)

• Em vez de escalas e acordes, o principal material para essa composição são os intervalos.
- Nomenclatura tradicional – imbuída de implicações tonais.
- 5ª aumentada: distingue-sede uma 6ª menor na música tonal, apesar do mesmo som e no. de semitons;
- na música atonal: não há implicações para a enarmonia

• Números inteiros são utilizados para representar alturas e intervalos, devido às implicações tonais da notação de pauta.
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

Cap. 1 – Conceitos básicos e definições

Equivalência de Oitava:

Quarteto de Cordas No 4 de Schoenberg:

• Frase 1 - início do primeiro movimento


• Frase 2 - alguns compassos antes do final.

• As versões diferem particularmente em ritmo e extensão.

• A extensão da segunda é tão ampla que o violino não alcança todas as notas; o violoncelo tem que ajudar.

• É fácil reconhecer que elas são basicamente a mesma melodia – em outras palavras, que elas são equivalentes.

• Não são idênticas, mas elas têm algo básico em comum, expresso precisamente pelo conceito de equivalência de oitava.
Classe de Altura (“Pitch Class”)

É um conjunto de todas as alturas que estão separadas por um número inteiro de oitavas.

Importante para a Teoria dos Conjuntos, uma classe de notas são todas as notas relacionadas umas às outras por oitava.

• Por exemplo, a classe de alturas C consiste nos Dós em todas as oitavas.

Portanto, quando se quer referir a um Dó qualquer, contuma-se usar o termo “classe de alturas C”, que representa todos
os Dós possíveis, em qualquer posição de oitava.
Notação de alturas e de intervalos por números inteiros
(Robert Hutchinson, Music Theory for the 21th-Century Classroom)
https://musictheory.pugetsound.edu/mt21c/SetTheorySection.html

Nome de notas: C C♯/D♭ D D♯/E♭ E F F♯/G♭ G G♯/A♭ A A♯/B♭ B


no. inteiro: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Pode ser útil lembrar que a tríade C maior (C, E e G) consiste em inteiros 0, 4 e 7.

Intervalo No. de Semitons Intervalo No. de Semitons


2m 1 5J 7
2M 2 6m 8
3m 3 6M 9
3M 4 7m 10
4J 5 7M 11
Trítono 6 8J 12
Grupo (“Set”) ou Grupos de Classes de Altura (“Pitch-class Set”),

ou Classe de Grupos (“Set Class”), ou Coleção de Alturas (“Pitch Collection”)

Em teoria musical, é uma coleção de objetos sejam alturas ou classes de alturas, ou ainda durações ou timbres

• Um conjunto por si só não possui necessariamente uma estrutura ordenada.

• Contudo, conjuntos podem ser distintos enquanto “ordenados” ou “não ordenados”

• Nomenclatura quantitativa (no. de elementos distintos):

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
díade tricorde tetracorde pentacorde hexacorde heptacorde octacorde nonacorde decacorde undecacorde dodecacorde
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

Cap. 1 – Conceitos básicos e definições - Intervalos entre notas:

• é simplesmente a distância entre duas notas, medida pelo número de semitons entre elas.

• é criado quando nos movemos de nota a nota no espaço de notas.

• pode ser tão amplo quanto a nossa faixa de audição ou tão pequeno quanto um semitom.

intervalos direcionados ou ordenados:

- número precedido por um sinal de mais: intervalo ascendente;


- número precedido por um sinal de menos: intervalo descendente.

intervalos não ordenados:

- preocupação somente com o espaço absoluto entre duas notas.


- para tais, iremos apenas prover o número de semitons entre as notas.
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

Cap. 1 – Conceitos básicos e definições - Intervalos entre notas:

• intervalos ordenados entre notas focam nossa atenção sobre o contorno da linha, equilíbrio de movimento asc. e desc.
• intervalos não ordenados entre notas ignoram o contorno e concentram-se inteiramente na distância entre as notas.
Nome de notas: C C♯/D♭ D D♯/E♭ E F F♯/G♭ G G♯/A♭ A A♯/B♭ B
no. inteiro: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

O primeiro acorde consiste em E♭, B e D, ou inteiros de altura 3, 11 e 2.


Se examinarmos a distância intervalar, encontramos 8 semitons entre os inteiros de altura 3 e 11, e 3 semitons entre 11 e 2.

Note que estamos trabalhando em um sistema módulo 12, ou seja, reiniciamos nossa numeração após 11 (... 11, 0, 1, 2...).
Estamos acostumados a pensar no módulo 12, pois todos lidamos com relógios (uma reunião das 11h às 14h dura 3 horas).
Portanto, um intervalo do inteiro tom 11 ao inteiro tom 2 abrange 3 semitons.

O segundo acorde, B, G, Bb (11, 7, 10) tem a mesma construção intervalar.


Forma normal
(Robert Hutchinson, Music Theory for the 21th-Century Classroom)
https://musictheory.pugetsound.edu/mt21c/SetTheorySection.html

Forma normal representa as notas de um grupo de alturas (como elas ocorrem na música) em sua forma mais compacta.

Para determinar a forma normal, siga esses passos:

1. Coloque as notas de um conjunto de


classes de alturas de uma peça musical
em ordem numérica crescente (como
em uma “escala”). Elimine quaisquer
alturas duplicadas.

2. Examine todas as possíveis ordenações


(“rotações”) de “escalas” ascendentes
até encontrar a forma mais compacta –
ou seja, aquela que abrange o menor
intervalo da nota mais grave à mais
aguda.
Forma normal
(Robert Hutchinson, Music Theory for the 21th-Century Classroom)
https://musictheory.pugetsound.edu/mt21c/SetTheorySection.html

3. No caso de duas ordenações terem o (perfect 5th) (diminished 4th)


mesmo intervalo da altura mais grave para
a mais aguda, escolha o conjunto que tiver
o menor intervalo entre a primeira e a
penúltima altura.

Forma Normal (mais compacta)


4. Em caso de empate absoluto, escolha o
grupo que começa no menor número. A (minor 2nd, tritone, perfect 5th) (minor 2nd, tritone, perfect 5th)
forma normal para as alturas ao lado é:
[2, 3, 8, 9]

3. A forma normal é escrita entre colchetes e


com vírgulas. A forma normal encontrada
no exemplo superior foi [11, 2, 3, 7].
Ernst Krenek. Studies in Counterpoint based on the Twelve-Tone Technique. New York: G. Schirmer, Inc., 1940

Capítulo I (tradução: Prof. Fernando Cardoso)

A Série de Doze Tons

A série de doze tons que serão usadas nos exercícios seguintes são sucessões de doze tons diferentes. No decorrer
desses exercícios, o aluno logo perceberá a importância dos intervalos entre os tons consecutivos da série, pois sua
recorrência frequente os tornará marcos melódicos e harmônicos conspícuos. Como os primeiros exercícios são bastante
curtos, essa consideração ainda não é primordial. Assim, ao construir séries de doze tons, é necessário observar apenas
algumas regras essenciais:

1. Não use séries com muitos intervalos iguais, pois com repetições do mesmo intervalo será dificil evitar a monotonia
no desenvolvimento melódico.
2. Evite mais de duas tríades maiores ou menores formadas por um grupo de três tons consecutivos, como por
exemplo:

Ex. 1

porque as implicações tonais que emanam de uma tríade são incompatíveis com os princípios da atonalidade
Ernst Krenek. Studies in Counterpoint based on the Twelve-Tone Technique. New York: G. Schirmer, Inc., 1940
(cont.)

Como uma série não é um tema, mas apenas um padrão básico, é aconselhável escrevê-la em notas inteiras, sem barras
de compasso. A seguir é apresentada uma série adequada:

Ex. 2

Todos os exemplos do livro de Krenek, no tanto que estiverem relacionados com a técnica de doze tons, terá como base
esta série do exemplo 2.

Na técnica de doze tons, apenas a ordem de sucessão dos tons na série dodecafônica é relevante, independente de seu
registro. As séries a seguir são consideradas idênticas ao exemplo 2:

Ex. 3 Ex. 4
Dessa forma, na composição, os tons da série podem ser usados em qualquer posição de oitava, dado que apenas a
ordem de sucessão permanece sem mudanças.

O uso de sustenido e bemol é arbitrário. Na música tonal, o sentido de

Ex. 5 Ex. 6 Ex. 7

É diferente, mesmo quando produzido em teclados com afinação temperada, devido à coordenação desses tons a
diferentes centros tonais. Em música atonal, Db, por exemplo, é idêntico a C#, mesmo quando tocado em instrumentos
de cordas. Uma certa inadequação de nossa notação para a escrita de música sem tonalidade será notada; ainda assim,
por razões práticas, não temos porque não usar esta notação. Se escrevemos a seguinte frase:

Ex. 8 de uma outra forma: Ex. 9,

fazemos assim apenas pelo desejo por maior clareza gráfica, não por considerações de coordenação tonal.
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

EXERCÍCIOS DO CAP. 1 – Conceitos e Definições Básicas

I. Notação com inteiros: Qualquer nota pode ser representada por um inteiro. Na notação comumente usada do “Dó fixo”,
Dó = 0, Dó# = 1, Ré = 2, e assim por diante.
Ex. I.1. Represente as seguintes melodias como séries de inteiros:
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

EXERCÍCIOS DO CAP. 1 – Conceitos e Definições Básicas

Ex. I.2. Mostre ao menos duas maneiras pelas quais as seguintes séries de números podem ser escritas na pauta musical:

a. 0 1 3 9 2 11 4 10 7 8 5 6

b. 2 4 1 2 4 6 7 6 4 24 2 1 2

c. 0 11 7 8 3 1 2 10 6 5 4 9

d. 11 8 7 9 5 4
Joseph Straus. Introduction to post-Tonal Theory. Londres: Prentice Hall International, 1990

EXERCÍCIOS DO CAP. 1 – Conceitos e Definições Básicas

II. Classe de Altura:

- Alturas de mesmo nome, independente da posição no espectro sonoro, são membros de uma mesma classe de altura.

- Sendo equivalentes, essas alturas podem ser representadas por números de 0 a 11, considerando o Dó fixo.

- Módulo 12 (mod 12): qualquer no. inteiro maior que 11 ou menor que 0 pode ser reduzido a um inteiro entre 0 e 11.

- maior que 11: subtrai-se 12

- menor que 0: soma-se 12

Ex. II.1. Usando mod 12, reduza cada um dos seguintes nos. inteiros para um inteiro entre 0 e 11:

a. 15 b. 27 c. 49 d. 13 e. –3 f. –10 g. –15
Forma normal a partir da gematria
1. Anote seu nome e números de gematria. Ao lado, marque e classifique o conjunto de classes de alturas observado
2. Anote a melodia que você compôs no pentagrama, alinhada ao números da gematria
3. Selecione as 4 primeiras classes de altura e ordene de forma crescente; rotacione até obter outras 3 formas
4. Corrija os elementos fora da ordem crescente por adição de + 12 e calcule o 1o. âmbito
5. A forma com menor âmbito será a forma normal (notação em colchetes)
6. Se houver empate de âmbitos, calcule o próximo âmbito (interno) para encontrar a forma normal.
OBS. Há um EXEMPLO na pg. seguinte.
conjunto de alturas:
classificação:

conjunto elementos fora da ordem crescente correção (Mod. 12) 1o. âmbito 2o. âmbito 3o. âmbito forma normal
ordenado ( , , , ) ( , , , ) [ , , , ]
rotacionado ( , , , ) ( , , , )
rotacionado ( , , , ) ( , , , )
rotacionado ( , , , ) ( , , , )
Forma normal a partir da gematria - EXEMPLO

OBS. IMPORTANTE: Nossa gematria inicial não considerava o Dó como “zero” mas sim como “um” (como em
qualquer gematria). Portanto há um conflito de representação para o Dó, que em classes de altura deveria ser “zero”.
Apesar disso não ser um problema nesses exercícios, o aluno pode subtrair uma unidade de cada número da gematria para
retificar seu conjunto ordenado original.

F e r n a n d o C a r d o s o conjunto de alturas: (6,5,2,1,4,3,7)


6 5 6 2 1 2 4 3 3 1 6 4 3 7 3 classificação: heptacorde

conjunto elementos fora da ordem crescente correção (Mod. 12) 1o. âmbito 2o. âmbito 3o. âmbito forma normal
ordenado (1, 2, 5, 6) (1, 2, 5, 6) 5 [1, 2, 5, 6]
rotacionado (2, 5, 6, 1) (2, 5, 6, 13) 11
rotacionado (5, 6, 1, 2) (5, 6, 13, 14) 9
rotacionado (6, 1, 2, 5) (6, 13, 14, 17) 11
Apresentação de Vinícius Baldaia
(Mestrando do IA em estágio docência em nossa disciplina)
módulo de terça menor + semitom no Op.
11, n. 1 de Schoenberg
segundo sistema do Op.
24 de Webern
analisado, apontando os
cânones dos módulos
de semitom + terça
menor.

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