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JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós
Foi ali que ele vislumbrou um conhecido asterismo da constelação do Centauro, cuja
extraordinária beleza se destacou em forma de cruz.
Sua carta ao Rei de Portugal é o mais antigo documento a mencionar a designação Crux,
pelo qual mais tarde seria conhecida a constelação do Cruzeiro do Sul, uma das mais
belas e significativas constelações do firmamento.
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eclipses, como o da Lua de Abril de 1642, visto do Forte dos Reis Magos, na foz do rio
Potengi, em Natal (ilustração abaixo).
Astrônomos ilustres
DESDE O FINAL DO SÉCULO XVII e durante o século XVIII vários astrônomos
ilustres visitaram o Brasil. Edmund Halley, o descobridor do famoso cometa que leva
seu nome, esteve em diversas cidades do litoral. Foi ele quem determinou a declinação
magnética do Rio de Janeiro, em 1699.
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2ª Parte
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós
Mantinha contato estreito com muitos nomes ilustres da época, como Camille
Flamarion e Victor Hugo, com os quais dividia a paixão pela Astronomia. Fundou
bibliotecas, museus, observatórios astronômicos e meteorológicos em várias partes do
país, algumas vezes mantendo-os com recursos pessoais. Ainda jovem, com apenas 22
anos, era um Imperador dedicado, simples e tranqüilo.
O Imperial Observatório do Brasil havia sido criado por decreto em 1827, no Rio de
Janeiro, mas só começara a funcionar quase vinte anos depois. D. Pedro II deu forma e
alma a instituição, cedendo os próprios instrumentos que utilizava em seu observatório
particular na Quinta da Boa Vista, para que o Imperial Observatório pudesse iniciar suas
atividades.
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Imperial Observatório, no Morro do Castelo,
Rio de Janeiro, como era em 1881.
Adaptação de uma gravura de Rubens de
Azevedo.
O mal da República
A REPÚBLICA PRATICAMENTE DESTRUIU o Imperial Observatório. Aliás fez
bem mais que isso: retardou o desenvolvimento do espírito científico no país, tão
valorizado nos tempos do Segundo Reinado.
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Final
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós
É desse esforço, em qualquer área do conhecimento humano, que surge o nosso super-
homem. Tem sido assim com um número cada vez maior de brasileiros, profissionais ou
não, que levam muito a sério sua paixão pelo firmamento. Nesta última parte da série
Astronomia no Brasil vamos conhecer uma pequena amostra de seus feitos mais
recentes.
Na época não foi fácil convencer a incrédula comunidade científica. Afinal, ciência se
faz com argumentações convincentes. Mas ele provou que estava certo. Hoje é
conhecido como o descobridor de um sistema estelar duplo.
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Sob o céu que tem mais estrelas
SANTOS DUMONT É HOMENAGEADO com uma cratera na
Lua. O romancista José de Alencar também tem uma, em Mercúrio.
Muitos dos que escolheram outras profissões também fazem parte desse
time. Um astrônomo amador de verdade não se contenta em reconhecer
os objetos celestes. Ele domina métodos científicos e realiza observações que podem ser
transmitidas para outros estudiosos. E tem muito valor.
Hoje, há pessoas que julgam esse tipo de conhecimento como cultura inútil. Saber que a
Terra gira em torno do Sol pode não ter serventia no cotidiano da maioria absoluta dos
brasileiros. O que muitos ignoram é que as implicações na obtenção do maravilhoso
conjunto de novos conhecimentos trazidos pela Astronomia são capazes de transformar
o Homem e sua relação com o mundo.
Mas eles tinham certeza da data da chegada: 22 de abril de 1500, uma quarta-feira. Só
que para Cabral e seus conterrâneos os anos começavam em 25 de dezembro: o
calendário utilizado era o Juliano - não era como nos dias atuais, em que usamos o
Gregoriano.
A diferença? 10 dias. Dez dias que foram esquecidos pela maioria dos historiadores na
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contagem de muitos eventos anteriores a 1582, ano em que o Papa Gregório XIII
reformou o então calendário Juliano, que por acumular erros, já não mais coincidia com
eventos da natureza, como o início das estações.
E quando desejamos contar o tempo até uma data anterior ao ano da reforma do
calendário, devemos nos preocupar em adicionar os 10 dias que foram retirados do ano
de 1582 para que o calendário voltasse a se adequar aos eventos naturais. Feito isto, o
quinto centenário da chegada dos portugueses ao Brasil completou-se somente em 2 de
maio do ano 2000.
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Uma série de pequenas biografias dos principais nomes que ajudaram a construir a
ciência dos astros. Todos eles já nos deixaram, mas suas vidas e obras serão lembradas
enquanto existirem olhos humanos a contemplar o firmamento.
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Charles Messier
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Messier anotou com cuidado a posição de uma nebulosa que até lembrava um cometa
difuso, na constelação de Touro. Era o dia 28 de agosto de 1758 e aquele seria o objeto
número um de seu catálogo.
Por fim Messier localizou o verdadeiro cometa, mas já estava entusiasmado com a idéia
de catalogar outros objetos nebulosos, para que ele e outros observadores não se
confundissem de novo em futuras observações.
Messier descobriu 21 cometas ao longo de toda sua vida, 13 dos quais nunca haviam
sido observados antes. Mas nem só de cometas era a fama de Messier. Ele foi um
ardente observador de ocultações, trânsitos e eclipses. Seus cadernos eram repletos de
anotações sobre manchas solares e observações meteorológicas também.
Catálogo Messier
CONTUDO, O QUE TORNOU MESSIER de fato conhecido para a Astronomia até os
dias atuais foi seu catálogo de objetos difusos, publicado em sua versão final no ano de
1784 e contendo 103 objetos.
Nos anos seguintes outros objetos foram descobertos por Messier, mas acabaram não
sendo incluídos em seu catálogo. Razão pela qual, um século mais tarde, alguns
astrônomos decidiram eles próprios inserir tais objetos na lista de Messier, chegando
assim aos 110 objetos conhecidos atualmente.
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De aglomerados estelares a galáxias: os 110 objetos do catálogo de Messier.
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estrelas de uma galáxia. No centro da nebulosa ainda jaz a velha estrela que se desfez,
agora uma esfera de altíssima densidade, girando em torno de si mesma 30 vezes por
segundo: um pulsar.
Com seus 110 objetos, entre nebulosas, galáxias e aglomerados estelares, o catálogo de
Messier é uma fonte inesgotável de novas descobertas, tanto para astrônomos
profissionais quanto para jovens amadores, que ainda gastam suas noites no puro prazer
de redescobrir as jóias celestes classificadas por Messier no século XVIII.
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Percival Lowell
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Schiaparelli as chamou de canali, mas o termo foi traduzido para o inglês channel, que
significa canal artificial. E aquela era uma época de grandes marcos na engenharia
mundial, como o canal de Suez (1869), o de Corinto (1893) e o do Panamá (1914).
Mapa de Marte compilado por Giovanni Schiaparelli entre 1877 e 1886. A maioria
dos nomes do relevo (Mare australe, por exemplo) ainda estão em uso hoje.
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perturbado por nuvens nem pelas luzes das cidades, excelente para observações
astronômicas.
Ele estava disposto a concentrar recursos e esforços para Sua VISÃO era quase tão
entender melhor o misterioso Planeta Vermelho – mas MÍSTICA quanto o próprio
estava também fascinado pela “habilidade dos engenheiros Gênesis
marcianos".
Obsessão
POR 15 ANOS, SUAS ANOTAÇÕES foram repletas de áreas escuras e brilhantes,
sugestões de calotas polares e um planeta inteiramente enfeitado por canais. Dezenas
deles, cruzando Marte em todas as direções, uma rede complexa e sofisticada que
buscava trazer água dos pólos para irrigar as regiões equatoriais.
Lowell acreditou que os marcianos teriam construído tudo aquilo, num esforço
desesperado de uma raça mais antiga e mais sábia que nós, ainda assim a mercê de
graves alterações sazonais em seu mundo – que pedia socorro.
Lowell observou que Marte era seco e árido, assim mesmo muito parecido com a Terra.
Os marcianos eram bons e esperançosos. A visão de Lowell ganhou aceitação popular,
quase tão mística quanto o próprio Gênesis. Até hoje queremos ver vida em Marte.
Desse modo, os canais marcianos foram uma "realidade" por muitos anos, até que o
aperfeiçoamento dos instrumentos óticos e o envio de sondas espaciais ao Planeta
Vermelho mostrou que eles simplesmente nunca existiram.
Os canais de Marte, do modo como via Lowell, são resultado de uma disfunção óptica,
sob condições de visibilidade difíceis – aliadas ao profundo desejo de ver alguma coisa.
Foi a interpretação errônea de dados observacionais que havia criado os canais e os seus
construtores.
Lowell faleceu em 1916, mas deixou grandes contribuições para o nosso conhecimento
da natureza e da evolução dos planetas. Foi também decisivo na descoberta de Plutão,
que recebeu este nome em sua lembrança: as duas primeiras letras desse planeta são
também as iniciais de Percival Lowell. E seu símbolo é P, um monograma planetário.
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Edmond Halley
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Halley não faria por menos. Em 1671 foi escolhido Captain (melhor aluno) de sua
escola. Distinção que indicava que além de ótimo estudante era também popular entre
os colegas.
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Mais tarde, em 1684, Halley teve Somente um GÊNIO COMO HALLEY poderia se
um encontro com Isaac Newton aprofundar nas COMPLEXIDADES do UNIVERSO sem
que foi um divisor de águas tanto pagar o preço da alienação
para ele, quanto para Newton e
para a própria ciência. Basta dizer
que desse encontro Newton viveria uma espécie de transe que o levou a trabalhar
incessantemente pelos anos seguintes na investigação da gravidade e dos movimentos
planetários.
Halley, por outro lado, voltaria a Londres para desempenhar um papel transformador na
Real Sociedade e acabou ele próprio custeando a publicação da mais famosa obra de
Newton, os Principia.
Por essa época os interesses de Halley se tornariam mais ecléticos do que nunca. Ele
tentou determinar o tamanho do átomo, fez observações importantes sobre o
magnetismo, a propagação do calor, a luz, a
aerodinâmica, entre muitos outros.
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Christian Huygens
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
E como Huygens afirmou quando os viu pela primeira vez, os anéis de Saturno
realmente não são sólidos, mas sim formados por uma infinidade de fragmentos
brilhantes girando em volta do planeta.
SEU NOME, e o de Cassini, estão numa das Quanto a Titã, tem um diâmetro
MISSÕES ESPACIAIS mais bem sucedidas de superior a 5.000 km (maior que nossa
TODOS OS TEMPOS Lua) e uma densa atmosfera (50% mais
densa que a terrestre), com prováveis
lagos de metano na superfície – o que,
naturalmente, Huygens não fazia idéia naquela época.
Huygens também se interessou pela medição do tempo. Foi ele quem inventou o
pêndulo como regulador de relógios, em 1657. Seu interesse por óptica levou-o também
a especializar-se no polimento e na montagem de associação de lentes. E na Mecânica,
enunciou o princípio da força centrífuga e a lei do pêndulo.
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Detalhe dos anéis de Saturno obtido durante a missão Cassini-Huygens.
Estrutura é formada por uma miríade de pedaços de rocha e gelo.
Polêmica
MAS SEM DÚVIDA uma das grandes polêmicas na vida desse brilhante cientista foi a
que envolveu a forma como a luz interage com a matéria. Isaac Newton (1642-1727)
acreditava que a luz era composta por partículas, e assim, como uma bola de bilhar,
recuava após se chocar com um objeto. Huygens nunca concordou com isso e descreveu
a teoria ondulatória da luz.
Quem estava com a razão? De certo modo, os dois. Hoje, a teoria quântica da luz admite
essa dualidade. A luz é, ao mesmo tempo, onda e partícula. A mesma luz que emergiu
das distantes estrelas imensas na nebulosa de Órion – mais uma das descobertas de
Huygens através dos telescópios que ele mesmo fazia.
Mais de três séculos depois, um dos mais bem sucedidos projetos espaciais de todos os
tempos levou seu nome e o de outro grande apaixonado pelo Universo. A missão
Cassini-Huygens foi uma realização conjunta das agências espaciais dos Estados
Unidos e Europa (Nasa e ESA).
Cassini é a nave-mãe. Dela escapuliu uma pequena sonda que mergulhou na atmosfera
da lua Titã em janeiro de 2005 – o primeiro pouso (automático) em uma lua além da
nossa. Já a sonda Huygens tem esse nome em homenagem ao importante astrônomo,
falecido em 1695 na mesma cidade em que nasceu.
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Edwin Hubble
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Aos 24 anos mudou-se para Chicago e foi trabalhar no Observatório de Yerkes, que
possuía um telescópio refrator (luneta) de um metro de diâmetro, o maior já construído.
Sua persistência e dedicação o fizeram ser convidado, mais tarde, para um cargo no
Observatório de Monte Wilson, perto de Los Angeles, na Califórnia. Ali Hubble
terminou seu doutorado em Astronomia.
Em 1917, com a Primeira Guerra Mundial, Hubble alistou-se no Exército e graças a sua
excelente forma física e igual pontaria, serviu junto as tropas aliadas na França, no posto
de major, mas sem nunca ter ído ao campo de batalha.
Ao voltar para o Monte Wilson, Hubble dedicou-se a HUBBLE jamais definiu uma teoria
observação das galáxias, propondo um sistema de sobre a EXPANSÃO DO UNIVERSO
classificação que as subdivide em quatro grupos
principais, segundo sua forma. Foi ele quem
confirmou, incontestavelmente, que a Via Láctea é apenas uma entre bilhões de outras
galáxias, que são como verdadeiros “universos-ilha” – centenas de bilhões de estrelas
unidas gravitacionalmente.
Lei de Hubble
HUBBLE ESTUDOU A LUZ emitida pelas galáxias distantes, observando que o
comprimento de onda em alguns casos era maior que aquele obtido em laboratório. Esse
fenômeno, uma conseqüência do chamado Efeito Doppler, ocorre quando a fonte e o
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observador se movem. Quando se afastam um do outro, o comprimento de onda visto
pelo observador aumenta, diminuindo quando fonte e observador se aproximam.
Hubble deduziu que as galáxias se afastam umas das outras (desvio para o vermelho) e
que a velocidade de distanciamento é tanto maior quanto maior a distância entre elas.
Ele usou métodos precisos para determinar uma relação entre o deslocamento do
comprimento de onda e a distância de uma galáxia. Essa relação que entrou para a
história da ciência como a Lei de Hubble.
À sua revelia, a Lei de Hubble foi usada por aqueles que defendiam a expansão do
Universo (Hubble jamais definiu uma teoria sobre isso). Hoje sabemos que o Efeito
Doppler é apenas uma aproximação – é o próprio espaço quem cresce, aumentando o
comprimento de onda e arrastando as galáxias. Muitos dos estudos quantitativos sobre a
origem do Universo nasceram das idéias de Hubble aliadas as equações de Einstein.
Edwin Hubble faleceu no ano de 1953.
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Hiparco
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Hoje em dia esse conceito foi substituído por “magnitude”, Hiparco (sec. II a.C.)
uma escala logarítmica obtida através de instrumentos muito
sensíveis, e que permite expressar valores com algumas
casas decimais de precisão. Nada que diminua o valor do trabalho de Hiparco,
considerado por muito estudiosos o maior astrônomo da era pré-cristã, o Pai da
Astronomia – e também da Trigonometria.
Grandes feitos
ASSIM COMO A MAIORIA DOS MATEMÁTICOS de sua época, Hiparco foi
influenciado pela matemática dos Babilônios. Por isso também acreditava que a melhor
base numérica para realizar contagens era a base 60. Os babilônios não haviam
escolhido essa base por acaso. O número 60 pode ser facilmente decomposto em um
produto de fatores, o que facilita em muito os cálculos, especialmente as divisões.
Foi por isso que ao dividir a circunferência, Hiparco escolheu um múltiplo do número
60. Para Hiparco, cada uma das 360 partes iguais em que dividiu a circunferência foi
chamada “arco de 1 grau”. E cada “arco de 1 grau” foi dividido em mais 60 partes
iguais chamadas “arco de 1 minuto”. Finalmente, cada “arco de 1 minuto” foi dividido
em outras 60 partes iguais os “arcos de 1
segundo”. Até hoje fazemos assim.
Para Hiparco a TERRA não GIRAVA
Naturalmente, na época em que viveu
Hiparco não havia telescópios. Seu
observatório era apenas um local de onde podia passar horas estudando o céu a olho nu,
embora usasse instrumentos tecnicamente muito bem feitos (mas não ópticos) que ele
mesmo construía, e que o fez se destacar também pelo método e rigor de suas
observações.
Hiparco deduziu o valor correto para a razão entre o tamanho da sombra que a Terra
projeta no espaço e o diâmetro da Lua. Ele também calculou que a Lua está distante
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entre 62 e 74 vezes o raio da Terra (o resultado real fica entre 57 e 64), e determinou a
duração do ano (e a duração das estações) com uma excelente margem de erro.
Infelizmente, porém, Hiparco não deixou muitos escritos e as citações ao grande
astrônomo aparecem principalmente em Ptolomeu, na sua obra Almagesto.
Terra imóvel
A HIPARCO ATRIBUI-SE A DESCOBERTA da “precessão dos equinócios”, seu
maior feito científico. Equinócios (da primavera e do outono) são como são chamados
os dois únicos dias do ano nos quais o dia e a noite têm a mesma duração.
Hiparco descobriu que o Sol não está sempre na mesma posição do zodíaco quando
ocorrem os equinócios. Em outras palavras, os pontos em que a trajetória aparente do
Sol cruza o equador celeste mudam (na verdade se antecipam, ou precedem – daí o
termo) com o tempo.
Mas Hiparco não interpretou esse fenômeno como sendo causado pela precessão do
eixo da Terra. Para Hiparco, a Terra não girava, e portanto não possuía pólos ou eixo de
rotação. Era a esfera das estrelas que girava em torno de nós. Ela possuía um eixo (e
pólos e equador).
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Sol, mas nunca do eixo da Terra). Além disso, naquela época, nada permitia concluir
que esses eixos executavam um movimento semelhante ao de um pião.
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Giovanni Cassini
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Divisão de Cassini
ENTRE SUAS MUITAS FAÇANHAS científicas, Cassini elaborou um grande mapa da
superfície da Lua em 1680, onde as montanhas aparecem de uma maneira quase
tridimensional, bem parecido com as fotografias modernas. Esse trabalho cartógrafo de
notável valor estético manteve-se com um dos melhores já compilados por mais de cem
anos.
Cassini também mediu a distância de Marte por triangulação. Esse planeta apresenta
uma pronunciada excentricidade orbital, de modo que sua distância ao Sol varia muito
(entre 206 e 249 milhões de quilômetros). O que também ocasiona uma sensível
variação da distância de Marte à Terra (entre 57 e quase 100 milhões de quilômetros).
A duração da rotação de Marte também foi determinada com precisão por Cassini, em
1666. Mas foi observando Júpiter um ano antes que Cassini descobriu uma enorme
mancha oval na região tropical sul do maior planeta do Sistema Solar. Era a Grande
Mancha Vermelha, um redemoinho ciclônico capaz de engolfar com facilidade o nosso
próprio planeta, e que até hoje não parou de girar na densa atmosfera do gigante gasoso.
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minutos. Um dia tão pequeno naturalmente implica numa elevada velocidade de
rotação. Tanto que Júpiter se achata, sendo mais abaulado no equador que nos pólos.
Cassini também determinou o achatamento polar do planeta como sendo 1/15 do seu
diâmetro.
Observando Saturno em 1675, Cassini fez a descoberta que o tornaria mais conhecido.
Os anéis do planeta não pareciam uma superfície contínua, ao contrário, achava-se
dividido em duas partes por uma estreita falha. Cassini estava absolutamente certo, e é
por isso que o maior espaço vazio observado nos anéis de Saturno é chamado até hoje
de “divisão de Cassini”.
Homenagens
CASSINI AINDA DESCOBRIU os quatro maiores satélites de Saturno depois de Titã:
Jápeto (1671), Rea (1672), Tétis e Dione (1684). E percebeu que um dos hemisférios de
Jápeto é cinco vezes mais brilhante que o outro (imagina-se que um material escuro
esteja sempre “chovendo” sobre o hemisfério mais escuro, já que essa lua mantém
sempre sua face mais luminosa voltada para Saturno).
Ele também elaborou efemérides melhoradas das principais luas de Júpiter e descobriu
atrasos nas ocultações periódicas entre elas e o planeta gigante. Seu colaborador, Ole
Roemer, usou os resultados de Cassini para
determinar a velocidade da luz.
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Johannes Kepler
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Kepler foi estudar na universidade de Tübingen em 1589, deixando para trás uma vida
de clérigo, mas não as superstições. Para a maioria das pessoas, ricas ou pobres,
impotentes diante das doenças ou da fome, as estrelas pareciam uma verdade eterna. A
astrologia prosperaria na Europa ainda por muitos anos – e o próprio Kelper manteria
por toda sua vida uma atitude ambígua.
Seguiu para a Áustria, onde foi nomeado professor de matemática em uma escola
secundária, compilando tanto almanaques astronômicos quanto horóscopos. Costumava
dizer: "Deus provê a cada animal seu meio de sustentação. Para o astrônomo, Ele
proveu a astrologia". Depois de Kepler astronomia e astrologia se separariam
definitivamente.
A perfeição da geometria
NAQUELA ÉPOCA SE CONHECIAM APENAS seis planetas (Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter e Saturno), e Kepler se indagava qual a razão desse número. Por
que não quatro, três ou vinte? Ele então imaginou que eram seis porque suas órbitas em
volta do Sol (circulares, como no modelo proposto por Copérnico) estavam
circunscritas em esferas que envolviam os 5 sólidos perfeitos de Pitágoras e Platão.
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Existem apenas cinco sólidos regulares, figuras
tridimensionais cujas faces são polígonos que se
encaixam perfeitamente, sem qualquer falha. Para
Kepler, a órbita de Saturno, o mais distante dos
planetas até então conhecidos, estava inscrita em
um cubo.
Mas nem mesmo assim a suposição de que as órbitas dos planetas estavam circunscritas
nos 5 sólidos pitagóricos se manteve (a descoberta posterior dos planetas Urano, Netuno
e Plutão também o desaprovaria, pois afinal não havia mais sólidos regulares para eles).
No modelo de Kepler não havia espaço para a lua terrestre, nem para as quatro luas de
Júpiter descobertas por Galileu. Mas Kepler não ficou triste. Ao contrário, se perguntou
quantas luas teriam cada planeta? Será que havia duas em volta de Marte? Seis em volta
de Saturno e talvez uma em Mercúrio ou Vênus?
A dura verdade
TYCHO HAVIA FEITO OBSERVAÇÕES INTRIGANTES do movimento orbital de
Marte. No céu, Marte vagarosamente executa um notável vai-e-vem contra o fundo das
constelações. Uma órbita circular não se encaixava de jeito nenhum, embora desde o
século VI a.C. filósofos como Platão e Pitágoras haviam assumido que os planetas, no
seu ambiente puro, longe da corrupção terrena, só poderiam se mover seguindo a mais
perfeita das formas: o círculo.
Mas se a Terra era um lugar imperfeito, porque não seriam imperfeitos também os
outros planetas – juntamente com suas órbitas? Foi pensando dessa forma que Kepler
acabou aceitando o inevitável: o círculo se esticará em uma estranha oval. A
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regularidade e a perfeição de uma órbita circular eram afinal tão raras no Universo
quanto a perfeição na índole humana.
Kepler foi mais longe. Percebeu que numa órbita elíptica um planeta aumenta a sua
velocidade quando se aproxima do Sol, diminuindo quando se afasta, algo que também
está de acordo com as observações práticas e se tornaria a Primeira Lei do Movimento
Planetário – ou a Primeira Lei de Kepler: os planetas se movem em torno do Sol em
órbitas elípticas, com o Sol num dos focos da elipse.
Kepler descobriu que para um mesmo intervalo de tempo as áreas desses arcos são
idênticas, não importando a excentricidade da órbita. Essa é a Segunda Lei, os planetas
percorrem áreas iguais em tempos iguais.
Alguns anos depois Kepler conseguira formular sua Terceira Lei, aquela que relaciona o
movimento dos planetas uns com os outros. E a que mais se aproxima de sua intenção
original de compreender a “harmonia dos mundos”. Aliás, foi esse o título do livro onde
Kepler descreveu suas leis.
Os planetas cujas órbitas estão mais próximas do Sol se movem mais rapidamente do
que aquelas cujas órbitas são maiores e mais afastadas. Assim o ano de Mercúrio é mais
curto que o ano de Vênus, que é menor que o da Terra, etc.
Esta é a Terceira Lei do Movimento Planetário, que Kepler enunciou mais ou menos
dessa forma: o quadrado dos períodos orbitais dos planetas (o tempo que eles levam
para completar uma volta em torno do Sol) é proporcional ao cubo de suas distâncias
médias até o Sol.
O espírito sonhador de Kepler finalmente havia encontrado um alento. Mas ele não
descansou. Kepler também percebeu a incompatibilidade entre um hipotético Universo
infinito – repleto de estrelas brilhantes – com a escuridão do céu noturno.
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Um paradoxo que só seria resolvido anos mais tarde, por Heinrich Olbers (1758-1840).
Kepler também observou a extraordinária explosão de uma supernova, a última ocorrida
em nossa galáxia, e ainda escreveu livros de ficção científica.
Johannes Kepler acreditava que um dia “naves celestiais” navegariam adaptadas aos
“ventos dos céus” e explorariam corajosamente a vastidão do Universo. Ele acreditava
que “em um sonho devemos ter a liberdade de imaginar pelo menos uma vez algo que
nunca existiu no mundo da percepção sensitiva”.
Sua família foi perseguida por bruxaria e Kepler faleceu em 1628, durante a Guerra dos
Trinta Anos. Sua vida e trabalho assinalam o nascimento da astronomia moderna.
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Tycho Brahe
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Supernova!
UMA NOITE, EM 17 DE AGOSTO DE 1563, descobriu que as efemérides de sua
época estavam erradas em vários dias na previsão de uma aproximação aparente entre
Júpiter e Saturno. Assim, decidiu ele mesmo compilar tabelas mais acuradas a partir de
observações sistemáticas e mais precisas das posições dos planetas por um longo
período de tempo.
A nova estrela que Tycho viu estava na constelação de Cassiopéia e era mais brilhante
que o planeta Vênus. Na verdade ela pôde ser observada em plena luz do dia, por longos
18 meses. Na época desconhecia-se a natureza do fenômeno, e para Tycho a pergunta
era se a nova estrela estava na alta atmosfera da Terra, mais perto que a Lua, ou se ainda
mais longe, e assim contradizendo o dogma do grego Aristóteles, largamente aceito
pelos cristãos, de que a esfera celeste era imutável.
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Castelo do Céu
SEMPRE OBCECADO PELA
PRECISÃO em suas observações,
nessa altura da vida Tycho já estava
construindo muitos de seus próprios
instrumentos, entre eles um sextante
com braços de quase dois metros cada,
muito mais preciso do que qualquer
outro já construído.
Tycho media o tempo utilizando diversos tipos de relógios, como clepsidras, (baseadas
no escorrimento da água), ampulhetas de areia, velas graduadas e semelhantes. Um
observador e um marcador de tempo trabalhavam juntos. Contando sempre com
assistentes, ele conseguiu reduzir a imprecisão das medidas de 10 minutos de arco
(desde o tempo de Ptolomeu) para apenas um minuto de arco.
Para Tycho todos os planetas, MENOS Tycho foi o primeiro astrônomo a calibrar e checar
A TERRA, giravam em torno do Sol a precisão de seus instrumentos periodicamente,
corrigindo as observações por refração
atmosférica. Suas observações eram diárias, e não
somente quando os astros estavam em configurações mais atraentes. Com isso
descobriu anomalias orbitais dos planetas até então desconhecidas.
O amigo Kepler
EM 1588 O REI FREDERICO II FALECEU. Tycho foi desatencioso com o novo rei,
Christian IV, e com os nobres da corte. Isso lhe custou uma drástica redução em seus
rendimento até que, em 1597, Tycho deixou a Dinamarca com todos seus equipamentos,
mudando-se para Praga. Ali, no ano de 1599, o Imperador Rudolph II o nomeou
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matemático imperial e em 1600 Tycho contratou o alemão Johannes Kepler (1571-
1630) para ajudá-lo.
Para Tycho todos os planetas, menos a Terra, giravam em torno do Sol – e o Sol e a Lua
giravam em torno da Terra. Com tal sistema, o astrônomo dinamarquês imaginou ser
possível formular um modelo melhor que o de Nicolau Copérnico (1473-1543). Mas ele
morreria antes de tentar comprovar sua teoria.
Eram eles: Tycho Brahe, Johannes Kepler e Galileu Galilei. O papel do astrônomo
dinamarquês Tycho Brahe foi de fundamental importância, embora o sistema por ele
elaborado, uma espécie de híbrido entre os sistemas ptolomaico e copernicano, estivesse
destinado ao fracasso.
Assim mesmo, as medições que Tycho Brahe deixou eram tantas e tão precisas que
Kepler usou-as para formular as Leis do Movimento Planetário. Kepler conseguiu
interpretar corretamente o movimento orbital de Marte, e daí conseguiu deduzir que
todos os planetas (inclusive a Terra) giravam em torno do Sol e que suas órbitas não
eram circulares, mas elípticas.
Tycho faleceu no dia 24 de outubro de 1601. Seus restos mortais estão na Igreja Tyn,
em Praga.
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Nicolau Copérnico
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Nascia assim o sistema heliocêntrico, uma idéia fantástica para a época. No tempo de
Copérnico, papas, imperadores e o povo em geral tinham como certo que a Terra estava
absolutamente parada no centro do Universo, e ao nosso redor desfilavam todos os
corpos celestes. Também não eram poucos os que acreditavam que a Terra era chata. E
desafiar tais crenças poderia ser considerado heresia.
Sobre as esferas
De revolutionibus orbium coelestium foi publicada somente 30 anos após ser escrita, no
ano da morte do próprio Copérnico, que nunca tomou conhecimento da grande
controvérsia que havia ajudado a criar. Conta a história que ele faleceu uma hora depois
de por as mãos no primeiro exemplar
de seu livro, em 24 de maio de 1543.
O ORGULHO humano sofreu um DURO GOLPE com
O sistema de Copérnico, embora o sistema de Copérnico
revolucionário para a época, também
sofria sérias imperfeições. Uma delas
era supor as órbitas dos planetas rigorosamente circulares. Sem dúvida, seu grande
mérito foi a defesa e desenvolvimento do heliocêntrismo durante boa parte da vida.
Entre os ferozes opositores estavam tanto os doutores da Igreja Católica quanto
ardorosos reformadores protestantes, como Lutero e Calvino.
32
O orgulho humano sofreu um duro golpe com o sistema
de Copérnico, e mesmo anos após sua morte, durante o
processo de condenação a Galileu em 1616, a Igreja
colocou a obra de Copérnico na lista dos escritos
proibidos, condição a qual permaneceu até o ano de 1835,
ainda que cento e cinqüenta anos antes já tivesse sido
reconhecida como verdadeira.
Alicerce do pensamento
NA VERDADE NOSSO PLANETA SE MOVE em torno
de uma estrela anã que está na periferia da galáxia – uma Capa de De revolutionibus...
entre bilhões de outras ilhas de estrelas do cosmos. A
Terra surgiu há 4,6 bilhões de anos e nossa espécie começou a evoluir há menos de 2
milhões de anos, tendo sido sendo precedida de muitas outras. A grande sabedoria está
em conceber nosso íntimo parentesco com todos os outros seres deste mundo e na
humildade de aceitar que Universo vai continuar depois de nós.
33
Galileu Galilei
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Cientista experimental
NAQUELA MESMA ÉPOCA, uma aula de geometria na universidade fez com que seu
interesse migrasse para a Física. Galileu abandona a universidade em 1585 sem se
tornar médico e começa a estudar matemática. De suas meditações sobre lâmpadas
suspensas e oscilantes surgiram as leis do pêndulo – e destas, mais tarde, a invenção do
relógio de pêndulo, pelo holandês Christiaan Huygens (1629-1695).
34
Ocupando a cátedra de matemática no “Studio de Pádua”,
Galileu realizou várias experiências sobre o problema de
queda dos corpos. Para demonstrar que Aristóteles estava
errado quando afirmou que “a velocidade de um corpo em
queda é razão direta de seu peso”, realizou experiências
com bolas de ferro rolando sobre um plano inclinado.
A condenação
APÓS TRÊS MESES de exaustivas sessões de interrogatório, Galileu foi acusado pelo
Tribunal do Santo Ofício e, em 22 de junho de 1633, obrigado a renegar sua certeza de
que a Terra não estava imóvel no espaço, utilizando a frase “abjuro, maldigo e detesto
os citados erros e heresias”. Galileu teve sua obra proibida e foi condenado à prisão
domiciliar perpétua.
Assim mesmo considera-se que o Não foi preso nem torturado. Seu PIOR INIMIGO
tratamento dispensado a Galileu foi foi seu próprio TEMPERAMENTO
notadamente brando considerando os
padrões da Inquisição. Galileu já estava
velho e não ficou preso um único dia, nem foi torturado. Seu processo não se compara
ao de outro italiano, o jovem Giordano Bruno (1548-1600), primeiro filósofo a afirmar
que deveria haver vida em outros lugares do Universo – brutalmente torturado e
queimado vivo em praça pública.
Pai da Física
GALILEU FALECEU COM QUASE 78 ANOS, em 6 de janeiro de 1642. Sua
importância vai muito além do histórico confronto com a Inquisição. Em torno dele
criaram-se muitas lendas e equívocos.
Amigo pessoal do Papa que o condenou, seu pior inimigo, na verdade, foi seu próprio
35
temperamento. Galileu muitas vezes se mostrava alegre e comunicativo. Nunca se
casou, mas teve quatro filhos. Porém, quando discutia suas idéias era sarcástico, cínico e
orgulhoso. Desgastou-se em demasia apenas atacando supostos rivais.
Hoje, muitos o admiram por coisas que jamais fez, como inventar o telescópio, o
termômetro ou o relógio de pêndulo. Também nunca atirou pesos do alto da torre de
Pisa para demonstrar que corpos de massas diferentes caem com a mesma velocidade.
36
Carl Sagan
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Boas recordações
MAS A ESCOLA SUPERIOR FOI A REALIZAÇÃO dos sonhos de Sagan. Lá ele
encontrou professores que não apenas compreendiam ciência, mas eram realmente
capazes de explicá-la. Sagan estudou na Universidade de Chicago, num departamento
de Física que girava em torno de Eurico Fermi. Ali ele conviveu com químicos como
Harold Urey, matemáticos como Chandrasekhar, foi estagiário de biologia de H. J.
Muller e aprendeu astronomia planetária com Gerard Kuiper.
Na universidade Sagan preencheu muitas das lacunas de sua formação básica, e com
pouco mais de 20 anos já trabalhava numa teoria sobre as misteriosas emissões de rádio
de Vênus. Em 1960 recebeu um convite da agência espacial norte-americana (Nasa)
para participar do primeiro programa sobre vida fora da Terra.
37
um modelo da atmosfera de Vênus, responsável pela altíssima pressão e temperatura
desse planeta (efeito estufa). Uma hipótese que acabou confirmada por missões
espaciais posteriores.
Homem do Cosmos
SUA VIDA ESTEVE PROFUNDAMENTE LIGADA à exploração espacial norte-
americana. Desempenhando um papel de liderança desde o início, deu instruções aos
astronautas das naves Apollo antes da viagem à Lua e conduziu experiências das
missões planetárias Mariner, Viking, Voyager e Galileu. Com seu carisma e
extraordinária habilidade de falar em público, construiu uma próspera carreira científica
e literária, tornando-se um ícone da ciência espacial.
Embora a preocupação com a divulgação científica não tenha tido início com Carl
Sagan (nomes com George Gamow o precederam), ele retornou ao tema com veemência
ao destacar que as descobertas científicas só têm valor se forem compartilhadas,
clamando os cientistas a saírem de seus laboratórios para cumprirem seu papel social e
político (infelizmente muitos ainda não o escutam).
Hoje esta sociedade, que conta mais de 80 mil membros espalhados pelo mundo,
trabalha em sua primeira missão espacial, um veículo capaz de mover-se em órbita da
Terra usando a pressão da luz do Sol – como um barco à vela no mar. Tão romântico – e
viável – quanto as aspirações de Sagan.
38
Homenagens
DEVIDO A SUAS EXCEPCIONAIS CONTRIBUIÇÕES, Sagan recebeu várias
homenagens, como medalhas da Nasa pelos trabalhos científicos e serviços prestados à
comunidade, o prêmio John F. Kennedy da Sociedade Americana de Astronáutica, a
medalha Konstantin Tsiolokovsky da Federação Soviética de Cosmonáutica e até o
prêmio Pulitzer de literatura.
Infelizmente Sagan não chegou a ver o filme ou a expedição do robô em Marte. Ele
faleceu na madrugada de 20 de dezembro de 1996, após lutar por quase dois anos contra
uma enfermidade chamada mielodisplasia, que lhe custou agonizantes seções de
quimioterapia e vários transplantes de medula.
Se estivesse vivo, Sagan teria feito 70 anos em 2004. Sua memória traz a admiração,
emoção e alegria que é aprender ciência. Poucos cientistas se equiparam a ele. Sua
capacidade de cativar nossa imaginação e explicar temas “difíceis” é um ato grandioso.
A verdade é que o mundo precisa de muitos mais como Carl Sagan.
39
A ciência não costuma fazer parte das conversas no cotidiano das pessoas; não
como a política, os esportes ou as religiões. Os cientistas são considerados seres
humanos mais inteligentes, não raras vezes estranhos, obstinados em descobrir e
inventar coisas.
Como será que eles enxergam a natureza? Como elaboram as leis e tratados que
estudamos na escola? Como conseguem chegar às descobertas?
Fazer ciência não é privilégio daqueles que frequentaram as aulas de pós-graduação nas
universidades. A simples observação da natureza é o primeiro passo para compreendê-
la.
40
A estranha órbita de Mercúrio
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Em 1860 o matemático francês Urbain Le Verrier sugeriu que o problema poderia ser
resolvido se fosse considerada a existência de um planeta movendo-se entre Mercúrio e
o Sol. Indiretamente ele se referia a uma carta que havia recebido no ano anterior de um
talentoso astrônomo amador chamado Lescarbault, que relatava ter visto um corpo
celeste realizando um trânsito solar.
Somente os planetas Mercúrio e Vênus realizam trânsitos, porque suas órbitas são
internas à órbita da Terra. Esses trânsitos são eventos raros e bastante aguardados,
exigindo também cuidados especiais na sua observação.
Houve também estranhos relatos de trânsitos. Às vezes eram vários pequenos corpos
que de uma só vez desfilavam na frente do Sol, fazendo Le Verrier pensar que somadas
todas aquelas massas estaria o valor esperado para solucionar o problema da órbita de
Mercúrio.
41
Mercúrio sem a necessidade de um planeta intra-mercuriano.
Seu nome era Albert Einstein e suas idéias ficaram conhecidas como a Teoria Geral da
Relatividade. Mas ainda restava uma pergunta: o que viram, afinal, Lescarbault e outros
talentosos pesquisadores? Nunca houve motivos para duvidar da confiabilidade de suas
observações.
Presume-se que eles tenham visto asteróides. Naquela época ainda não se sabia da
existência de asteróides que passam pelo interior da órbita da Terra, e é possível que se
tenha observado o trânsito desses corpos.
Hoje se sabe que até mesmo cometas em curso de colisão com o Sol podem causar um
mal-entendido, como aconteceu no início da década de 1970, quando Mercúrio voltou a
despertar atenção no meio científico. Mas essa é uma outra história...
42
Uma lua para Mercúrio
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Tudo começou em 31 de março de 1974, dois dias depois que a nave Mariner 10
sobrevoou o planeta Mercúrio. Foi quando seus instrumentos captaram uma emissão de
radiação ultravioleta (UV) onde simplesmente "não era certo estar lá". No dia seguinte
ela se foi. Mas antes que se pensasse em falha nos instrumentos ela reapareceu vinda de
outra direção.
Alguns cientistas pensaram que a fonte poderia ser uma estrela. O Sol e as outras
estrelas emitem UV em abundância; é este tipo de radiação que mesmo filtrada pela
nossa atmosfera causa queimaduras na pele de banhistas desprevenidos.
Mas era sabido que a radiação UV não pode penetrar muito no meio interestelar e além
disso a fonte parecia ter mudado de lugar, o que sugeria que estava próxima. Um
pequeno astro, escuro e muito próximo de Mercúrio poderia estar refletindo a radiação
UV do Sol para a Mariner. Teria Mercúrio uma lua?
Mal entendido
CALCULOU-SE QUE O MISTERIOSO OBJETO movia-se a cerca de 4 km/s, uma
velocidade razoável para um satélite. Deveria a suposta lua ser anunciada ao público?
Era tarde demais, a imprensa já sabia e alguns jornais da época publicaram empolgantes
histórias sobre a misteriosa lua invisível de Mercúrio. Mas a ciência é excitante
43
justamente por ser real. Os cientistas não devem se deixar levar pelo desejo, tampouco
são vendedores de histórias. Eles tinham de ser mais cautelosos.
Jamais se localizou a suposta lua de Mercúrio. Mas o fim desta história marcou o início
de um novo capítulo para a Astronomia. Pois numa coisa os cientistas de fato se
enganaram: a radiação UV não era absorvida pelo meio interestelar como eles
imaginavam e os modernos instrumentos da Mariner provaram isso.
Na direção de onde provinha aquelas emissões, porém muito além do Sistema Solar,
estavam poderosas fontes de UV. O mal entendido estava, afinal, resolvido.
44
Neith, a misteriosa lua de Vênus
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Durante o ano de 1761 o objeto foi visto num total de 18 vezes, por cinco diferentes
astrônomos. Em junho desse ano ocorreu um trânsito de Vênus, isto é, a passagem de
Vênus diante do disco solar... e ele estava em companhia de sua lua!
Nos anos seguintes as observações continuaram. Afinal, não era difícil ver a lua de
Vênus. Porém, em 1766, o diretor do Observatório de Viena publicou um artigo onde
declarava que todas as observações do suposto satélite não passavam de uma ilusão de
ótica – a imagem de Vênus era tão brilhante que refletia no olho do observador,
voltando ao telescópio e criando uma imagem secundária em menor escala.
Destino misterioso
EM 1884 O DIRETOR DO ROYAL
OBSERVATÓRIO de Bruxelas, M. Hozeau, sugeriu
uma explicação diferente.
45
observação anterior de Neith era analisada em detalhes.
Mas não havia nenhuma estrela na posição apontada por Barnard e ele era um excelente
observador. Até hoje ninguém sabe o que ele viu. Poderia ser um asteróide não
catalogado ou uma estrela nova de vida curta, que ninguém mais observou. Neith nunca
mais foi vista.
46
A Terra e suas luas
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Existe algo na Astronomia que não ousaríamos duvidar: nosso planeta tem uma
lua. Errado! A Terra tem duas luas! Pelo menos foi o que anunciou Frederic Petit,
diretor do observatório de Toulouse, na França, em 1846.
Ela teria sido vista por três observadores em dois lugares distintos, na madrugada de 21
de março daquele ano. Petit calculou que a órbita do nosso segundo satélite natural era
uma elipse bastante alongada e que o mesmo a percorria em pouco menos que 3 horas,
com um perigeu, o ponto de maior aproximação com a Terra, a 11,4 km (!?) da
superfície.
Afinal, nossa atmosfera se estende por muitas A lua de Petit ficava numa órbita tão
dezenas de quilômetros e, hoje em dia, os baixa que poderia se chocar com um
aviões comerciais trafegam tranqüilamente até avião.
mais alto que o perigeu da lua de Petit.
47
Uma lua para a Lua
EM 1898 FOI ANUNCIADA A DESCOBERTA de nada
menos que um sistema inteiro de novas luas! Em 1969,
durante a chegada dos primeiros homens à Lua, houve
rumores de que os astronautas teriam finalmente visto o
tão misterioso satélite, agora do lado oculto da Lua.
Nada disso implica que a idéia de um outro satélite natural Montagem fotografica da
seja absurda. A Terra pode ter uma nova lua por um curto fictícia lua por trás da Lua.
período de tempo.
Meteoróides passando muito perto do nosso planeta, cruzando as camadas mais altas da
atmosfera, podem perder velocidade e se tornar satélites efêmeros da Terra. São
efêmeros porque após cada perigeu perderão mais e mais velocidade até colidirem como
meteoritos.
Para compreender melhor, imagine uma estrada circular com três pistas. A Terra é um
grande caminhão viajando com velocidade constante na pista central e o asteróide é um
carro movendo-se um pouco mais lentamente na pista externa.
Pouco antes do caminhão ultrapassar o carro este aumenta a velocidade e desvia para a
pista interna. O carro então se afasta, mas, sendo uma estrada circular, ele acaba sendo
alcançado pelo caminhão.
Pouco antes de ser ultrapassado ele de novo desvia para a pista externa e todo o ciclo se
repete. O asteróide não ficará neste movimento para sempre, porém hoje ele é, sem
dúvida, um inusitado parceiro de dança da Terra.
Não é um movimento fácil de entender e uma simples figura não seria muito
esclarecedora, por isso disponibilizamos a animação ao lado. Nela estão os movimentos
relativos de Cruithne (ponto amarelo) e do sistema Terra-Lua (representado pela Terra,
em verde).
Após umas poucas órbitas, linhas conectam Cruithne à Terra, construindo a aparente
trajetória do astro do nosso ponto de vista. Repare como a órbita desse asteróide
interage com a nossa. Mas não há risco de colisão: a maior aproximação de Cruithne
fica a cerca de 40 vezes a distância da Lua.
48
A escuridão e a chuva de estrelas
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
As pessoas relataram uma “Grande Escuridão”. O Sol sumiu quase de repente e o meio-
dia transformou-se em meia-noite. Tudo ficou escuro e tenebroso. Naquele dia não
houve eclipse.
Passados pouco mais de cinqüenta anos, outro fenômeno nos céus dos Estados Unidos
deixou muitas gente boquiaberta. Era madrugada de 13 de novembro de 1833. Durante
horas, literalmente milhares de “estrelas cadentes” caíram a cada minuto.
Clima ruim
EM MAIO DE 1780 O SOL NÃO
SUMIU em todos os lugares, somente na
Nova Inglaterra. Foi um fenômeno local e
na verdade não envolveu diretamente o
Sol. Até hoje essa região costuma ser
palco de fenômenos climáticos
inesperados, e foi exatamente isso o que
aconteceu.
49
de chances de um dia com céu limpo mudar repentinamente, podendo ocorrer desde
neve até um tornado (embora a Nova Inglaterra não seja uma região de ocorrência típica
dos tornados).
É que em maio começam os primeiros dias quentes após o rigoroso inverno dessa
região. O solo começa a aquecer rapidamente – bem mais depressa que as regiões
costeiras, ainda sujeitas aos ventos gelados do norte, que acabam trazendo brisas frias
para o continente. O choque térmico costuma provocar densas neblinas – ou coisa muito
pior.
Meteoros
JÁ COM RELAÇÃO À CHUVA DE ESTRELAS cadentes de 1833, mais uma vez
temos a ocorrência de um fenômeno natural, só que desta vez bem mais raro. Na
Astronomia ficou conhecido como “A Grande Chuva de Meteoros Leônidas de 1833”.
50
Por que meteoros? Naturalmente o termo “estrelas cadentes” está equivocado. As
estrelas são astros distantes e não correm risco de cair sobre nós. A Terra gira em torno
de uma delas, o Sol, que é mais de um milhão de vezes maior que o nosso planeta. Se
alguém tivesse de cair decididamente não seria o Sol.
Meteoros é o termo correto. Eles são pequenos pedaços de rocha, a maioria menor que
uma ervilha, e que se tornam incandescentes ao penetrar velozmente na atmosfera. As
fontes de meteoros são os asteróides e, principalmente, as sucessivas passagens recentes
de cometas cujas caudas cruzam a órbita da Terra.
Porém, uma mesma chuva de meteoros não tem a mesma intensidade todos os anos, ou
é vista da mesma forma de todos os cantos da Terra. Em novembro de 1833 a Leônidas
foi particularmente espetacular – e provocou medo em muita gente. Hoje, astrônomos e
entusiastas esperam ansiosos novembro chegar para ver se o Leão vai rugir de novo.
51
Os segredos de Marte
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Melhor que isso: existe água lá. Hoje toda ela se concentra nas regiões polares do
planeta, abaixo de uma camada de gelo de gás carbônico. Mas num passado distante, é
bem provável que Marte tenha tido oceanos de água líquida e então, talvez, alguma
espécie de vida tenha se desenvolvido.
52
A transformação da Face
PORÉM, NEM MESMO AS SONDAS ESPACIAIS que
pousaram em Marte foram capazes de torná-lo um lugar
comum. Quando em 1976 a nave Viking entrou em órbita ao
redor de Marte foi obtida uma curiosa imagem, numa região do
planeta chamada Cydonia, que reacendeu as esperanças de quem
acreditava em vida inteligente no planeta vermelho.
Mas nem todos ficaram satisfeitos. A foto da Surveyor foi obtida sobre um céu de
inverno e talvez alguma névoa pudesse ter atrapalhado outra vez, deixando algum
vestígio alienígena encoberto.
Então eles fizeram de novo – e melhor. Não foi tão simples, porque a sonda não
sobrevoa a região da Face com freqüência. Mas o esforço valeu a pena. A nova imagem
tem resolução de 1,56 m por pixel e revela a verdadeira natureza da Face: uma formação
geológica chamada mesa, também existente na Terra.
Os dados de uma altimetria a laser são ainda mais eficientes. Mapas de elevação em 3D
mostram a formação por qualquer ângulo: e nada de olhos, nariz ou boca.
53
Perspectiva em 3D da "Face de Marte" produzida pela Nasa
em 8 de abril de 2001 por altimetria a laser.
54
O fantástico planeta X
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
Memórias de um planeta
VÁRIOS ASTRÔNOMOS E MATEMÁTICOS publicaram suas próprias idéias sobre
onde encontrar e como seria a órbita de um planeta trans-netuniano (além de Netuno).
Os dois trabalhos mais cuidadosos apareceram no início do século XX, em “A procura
de um planeta além de Netuno“, Pickering, 1909, e “Memórias de um planeta trans-
netuniano“, Percival Lowell, 1915.
Um “novo” cinturão
AS ESTIMATIVAS PARA O PLANETA X apontavam para valores em torno de 50
55
vezes a massa terrestre. Com uma massa de apenas 1/455 vezes a da Terra, Plutão
definitivamente não era o hipotético astro.
Buscas cada vez mais minuciosas se sucederam, até que se acreditou que não haveria
astro algum com massa e brilho semelhantes ao do planeta Netuno, exceto se numa
órbita polar e situado próximo ao pólo celeste sul, onde poderia ter escapado da
detecção.
A busca continua
BEM ANTES DISSO, EM 1987, Daniel P. Whitmire e John J. Matese sugeriram a
presença de um planeta 80 vezes mais distante do Sol que a Terra. Sua órbita estaria
inclinada 45º sobre o plano da eclíptica, e seu período orbital chegaria aos 700 anos
(Plutão leva 248 anos para completar uma volta em torno do Sol, Éris demora 557). A
idéia acabou se revelando uma alternativa à hipótese Nêmesis, a estrela assassina.
Alguns pesquisadores ainda acreditam na existência de um astro maior que Éris, talvez
do tamanho de Mercúrio ou até mesmo de Marte. Modelos computacionais sugerem que
ele poderia explicar características incomuns do Cinturão de Kuiper. A busca pelo
planeta X não terminou.
56
Nêmesis, a estrela da morte
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Embora não seja possível determinar quantas estrelas duplas existem na nossa
galáxia, os astrônomos arriscam um limite inferior. Cerca de três em cada quatro
estrelas da Via-láctea possuem uma companheira orbital. O nosso Sol é uma das poucas
isoladas. Uma afirmação que só permanece válida dentro dos limites dos instrumentos
que possuímos.
As sementes do caos
CADA VEZ QUE ESTIVESSE MAIS PRÓXIMA do Sol, a força gravitacional da
estrela anã já seria o bastante para perturbar severamente as órbitas dos pequenos corpos
de gelo e rocha que, aos bilhões, gravitam muito além de Plutão formando um
gigantesco ninho de cometas conhecido como nuvem de Oort.
O desequilíbrio na nuvem de cometas faria com que milhares deles fossem atraídos em
direção ao centro do Sistema Solar, onde alguns fatalmente encontrariam pelo caminho
pequenos e frágeis mundos, como a Terra.
Mas onde estariam as marcas de tais impactos? Não é fácil encontrá-las na Terra. O
movimento das placas tectônicas já destruíram um número sem fim de crateras. Os
períodos glaciares aplanaram tantas outras. Os ventos e as chuvas vão desgastando a
beira das crateras, arrastando o solo das encostas para o centro.
57
Assim mesmo ainda existem cerca de 100 crateras, embora a idade de todas elas não
possa ser determinada com precisão. Se a Terra preservasse suas crateras, certamente
seria tão esburacada quanto a Lua ou Mercúrio. E como a Lua não está sujeita aos
processos erosivos que ocorrem aqui, nosso satélite é a melhor evidência de impactos
violentos periódicos. E tais evidências, de fato, existem.
Nêmesis
A HIPOTÉTICA COMPANHEIRA DO SOL foi sugerida pela primeira vez em 1985
por Whitmire e Matese, que a batizaram de Nêmesis, a deusa da vingança. Seria até
mesmo possível que esta "estrela da morte" já estivesse presente em algum catálogo
estelar, sem que ninguém tivesse notado algo incomum.
Esse evento teria aberto caminho para que nossos antepassados mamíferos tomassem
conta do planeta e nossa própria espécie pudesse evoluir. Um ou mais cometas teria
atingido a Terra, argumentam, envolvendo-a numa nuvem de poeira durante meses.
Ainda em apoio à hipótese Nêmesis, os dados enviados pelo satélite IRAS (Infra-Red
Astronomical Satellite), que permaneceu 10 meses em órbita no ano de 1983, revelaram
um número altíssimo de objetos celestes até então desconhecido, muitos dos quais
mudaram de posição nesse curto período de tempo, indicando que estavam
relativamente próximos.
Muller acredita que a órbita de Nêmesis varia entre 1 e 3 anos-luz em torno do Sol (a
estrela conhecida mais próxima é Proxima Centauri a 4,25 anos-luz). Assim mesmo a
órbita de Nêmesis não seria usual, afirma Muller.
58
Como poderia ser a órbita de Nêmesis?
Clique na imagem para descobrir.
Também existem astrônomos que pensam que a órbita sugerida para Nêmesis seria
demasiado instável para permitir que a estrela regressasse tantas vezes. Eles crêem que a
estrela da morte, se algum dia chegou a existir, deve ter desaparecido no espaço
profundo há muito tempo ou foi despedaçada pelo Sol.
Há geólogos que afirmam que o surgimento regular de vulcões poderia imergir a Terra
em meses de escuridão, levando a extinção de muitas espécies. A respeito de Nêmesis,
um paleontólogo, Dewey McLean, chegou a declarar que "a ciência enlouquecera de
vez".
59
O preto sagrado
JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
O espaço é negro. Preto como breu. Esta constatação fica especialmente evidente
para os astronautas, pessoas que contemplaram as estrelas acima da atmosfera da Terra.
Porém aqui mesmo na superfície, numa noite límpida, sem luar e longe da cidade, onde
distinguimos com facilidade as cores das estrelas e as manchas mais sutis, assim mesmo
percebemos a vastidão do espaço escuro.
Mas não deveria ser assim. Afinal, se considerarmos que as estrelas se distribuem
uniformemente por um espaço infinito, à medida que um observador em qualquer lugar
do Universo olha para mais longe vê um número cada vez maior de estrelas. Qualquer
que seja sua linha de visada, seu olhar sempre interceptará uma estrela, não importa a
direção em que olhemos o espaço.
Campo de girassóis
Então o céu não deveria ser Como o brilho das estrelas cai com o quadrado da
negro. Em média o firmamento
distância, enquanto seu número aumenta na mesma
deveria ser tão brilhante quanto
a superfície de uma estrela proporção, o céu deveria ser tão brilhante quanto a
média, pois estaria inteiramente superfície de uma estrela média, pois estaria cheio
preenchido por elas. delas. Na foto, um campo de girassóis em West
Newbury, Massachusetts (EUA), fotografado por
Naturalmente não é isso que Frank Vetere.
acontece. Então, onde está o
erro do nosso raciocínio? Por
mais tola que pareça, essa questão atordoou a mente de sábios cientistas durante muitos
e muitos anos, sem que ninguém fosse capaz de solucioná-la com efeito.
Primeiro o alemão Johannes Kepler (1571-1630), depois o inglês Isaac Newton (1642-
60
1727). A questão foi retomada por Edmund Halley (1656-1742), famoso pela
descoberta do cometa que leva o seu nome, e depois pelo alemão Heinrich W. M.
Olbers (1758-1840), quando então passou a ser conhecida como o “Paradoxo de
Olbers”.
Paradoxo de Olbers
Terceira: o Universo não existiu por todo o sempre. Se o Universo tiver um início, e
portanto uma idade, então a luz das estrelas mais distantes ainda não teve tempo de
chegar até nós (pois sabemos que a velocidade da luz é finita). O Universo que
enxergamos é limitado em espaço, precisamente por ser finito no tempo!
Esta é a solução atualmente aceita para o Paradoxo de Olbers. A escuridão da noite não
surge apenas porque o Sol se pôs. Esse acontecimento cotidiano revela que houve um
tempo em que nenhuma estrela iluminava o cosmos. O preto sagrado acima de nossas
cabeças é uma evidência de que o Universo teve um começo.
61