Você está na página 1de 49

Ilhas de estrelas

JOSÉ ROBERTO V.
COSTA Astronomia no
Zênite

Talvez pela grandeza e pelos seus muitos mistérios, freqüentemente comparamos


o mar com o céu estrelado. No primeiro já navegamos por todos os lados e em muitas
profundidades, embora ainda haja muito para aprender. Mas é o mar de estrelas da noite
o supremo mistério.

Estamos aprendendo a arte e técnica de sua navegação, que chamamos Astronáutica, e


ainda que consideremos tudo o que fizemos, nem sequer ensaiamos nosso primeiro
mergulho nesse oceano cósmico.

Ao comparar o firmamento com o mar, o Sol (e seus planetas) são apenas um grãozinho
de areia numa imensa ilha que chamamos Via Láctea – a nossa galáxia. A Via Láctea é
uma densa coleção de estrelas agrupadas principalmente ao longo de uma imensa
espiral. Vista da Terra, a galáxia parece um cinturão envolvendo o céu, ou uma espinha
dorsal que sustenta a noite.

Galáxias são como gigantescas ilhas de estrelas. Centenas de bilhões delas, mantidas
juntas graças a força gravitacional entre cada estrela, cada nebulosa de gás e poeira. E
existem bilhões de ilhas de estrelas como a Via Láctea; muitas se aglomerando em
arquipélagos celestiais.

Outra bela galáxia das proximidades é Andrômeda. Via Láctea e Andrômeda são duas
das maiores ilhas de estrelas num grande arquipélago que chamamos Grupo Local, que

1
contem de 35 a 50 galáxias – ainda não sabemos o número exato. Galáxias também se
adensam em superaglomerados, verdadeiros continentes de estrelas.

Estrutura do Grupo Local de galáxias (1kpc = 1000 parsecs ou 3260 anos-luz).

Porém, muito mais que os ¾ de mares que recobrem a Terra, o predomínio do mar
celestial é absoluto. Só que ao contrário dos oceanos de água salgada, cheios de vida, o
espaço em si é um grande vazio, um meio e também um obstáculo para chegarmos onde
realmente interessa – às estrelas e seus mundos.

Gravidade
Os planetas giram ao redor de estrelas, as estrelas se agrupam em galáxias e as galáxias
em aglomerados – tudo por causa da força da gravidade. A gravidade depende da massa
dos corpos que estão interagindo (quanto mais massa, maior a força) e da distância entre
eles (quanto mais longe, menor a força).

Foi Isaac Newton quem descobriu que não é a maça que cai da árvore, é a maça e a
Terra que se atraem. É claro que sendo o planeta muito mais massivo que a fruta, o
deslocamento mais significativo ficará por conta da maça. Mas no caso da Terra e da
Lua o puxão mútuo é considerável.

Para evitar que todo o universo se transforme numa massa compacta – com todos
caindo sobre todos – existe o movimento orbital. Enquanto a Terra se move a 30
quilômetros por segundo em volta do Sol, por exemplo, não há perigo de colisão.

Mas se o movimento de translação diminuir muito, Terra e Lua serão aos poucos
atraídos pelo astro-rei, numa lenta espiral da morte. E se, ao contrário, a velocidade
aumentar, nos afastaremos do Sol até cair nas invisíveis garras gravitacionais de um
planeta mais massivo, ou de outra estrela.

2
Classificação de Edwin Hubble dos diversos tipos de galáxias.
Canibalismo
Galáxia é simplesmente o nome grego para Via Láctea. O termo vem de galakt, que
significa leite. Via Láctea é “caminho de leite”. Parece estranho; mas se você tiver a
oportunidade de olhar o céu noturno num local afastado das luzes da cidade, vai ter a
impressão que uma parte do céu realmente contém uma estrada esbranquiçada.

Desde os primeiros estudos, as galáxias vem sendo classificadas de acordo com sua
forma. As mais famosas são as espirais. A Via Láctea é espiral. A princípio foi difícil
percebermos que estávamos dentro de uma galáxia, e mais difícil ainda – mas não
impossível – identificarmos sua forma.

A
A VIA LÁCTEA, HOJE. Como
distância
imaginamos a nossa galáxia.
média
Gravura em alta resolução mostra a
entre as
posição do Sol e sua órbita. Clique
galáxias
na imagem para ampliar.
em um
aglomerado é da ordem de seu próprio diâmetro.
Assim, tão próximas, o movimento orbital não é
suficiente para mantê-las separadas e por isso as
colisões são freqüentes.

Duas galáxias que interagem podem atravessar


uma a outra sem haver nenhuma colisão de
estrelas. É como o encontro de dois cardumes
gigantes.

A forma original de cada galáxia, no entanto,

3
pode se desfazer completamente. E se uma delas for muito maior que a outra, a menor
praticamente desaparece. É o chamado canibalismo galáctico.

Agora mesmo a Via Láctea está canibalizando duas pequenas galáxias próximas,
mostrando como o oceano cósmico também pode ser revolto. Porém, como a nossa
civilização ainda nem saiu da beira da praia, nós nem percebemos direito. Mas navegar
é preciso!

4
As colisões de galáxias
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA

Astronomia no Zênite

Um dos fenômenos mais formidáveis do Universo são as colisões


entre galáxias. Elas envolvem uma quantidade extraordinária de matéria
e uma eternidade, na escala humana, para que se concluam.

Existem muitas colisões de galáxias observáveis atualmente. Não


podemos assistir a toda uma colisão, mas conhecemos muito bem o
mecanismo que a dirige (a gravidade) e observamos ao telescópio
inúmeras delas em andamento.

É como ver um único quadro de um filme longa-metragem. De sorte


que observamos colisões em vários estágios, o que nos permite reunir
os quadros usando computadores, que calculam com rapidez e precisão
as interações gravitacionais entre as estrelas.

Podemos fazer o filme inteiro rodar, comprimindo bilhões de anos em


segundos. É como capturar um instante da eternidade. Mas afinal o que
são as galáxias e o que acontece quando elas colidem?

Uma galáxia é um aglomerado de gás, poeira e centenas de bilhões de


estrelas que se mantêm unidas através da força gravitacional. No
entanto as estrelas não se amontoam; pelo contrário, ficam afastadas
entre si, em média 3 ou 4 anos-luz, ocupando toda a galáxia um espaço
de centenas de milhares de anos-luz.

De sorte que observamos Somos incapazes de conceber tal


colisões em VÁRIOS distância. Nós, que vivemos num
ESTÁGIOS. Podemos fazer o mundo com apenas 40.000 km de
filme inteiro rodar, circunferência e dificilmente
comprimindo BILHÕES DE precisamos compreender, na prática, o
ANOS em segundos que são mais que algumas dezenas ou
centenas de quilômetros.

As imensas nuvens de gás das galáxias são compostas sobretudo


hidrogênio e hélio e a poeira é na verdade uma infinidade de partículas
sólidas, algumas menores que um grão de sal, outras maiores que uma
casa.

O gás pode ser como uma "mortalha" das estrelas que já morreram ou
como a "placenta" que envolve aquelas que estão por nascer. Sem
mencionar que muitas estrelas devem possuir planetas ao seu redor.

5
Como tudo no Universo, as galáxias também se movimentam. Mas é de se esperar que
estruturas tão gigantescas movam-se relativamente devagar. De fato, para dar uma volta
completa em torno de si mesma, nossa galáxia, a Via Láctea, leva 250 milhões de anos,
embora viajando a respeitáveis 250 km/s.

A partir de um certo padrão rotativo as galáxias se apresentam sob as mais diferentes


formas. Os astrônomos criaram uma classificação especial para a morfologia das
galáxias.

Existem galáxias em forma de espiral, como a nossa, galáxias lenticulares, como a bela
Sombrero, e ainda galáxias elípticas e irregulares. Uma galáxia produz uma imagem
extensa quando fotografada ou observada através de um telescópio. Isso as distingue
muito bem das estrelas, que produzem imagens pontuais.

Um encontro ou mesmo a captura de uma galáxia por outra é um evento nada


improvável. E disso resulta, muitas vezes, profundas alterações no conjunto da galáxia.
Embora dificilmente suas estrelas se choquem.

É que a distância que as separa é muito grande em relação a seus tamanhos, de modo
que uma galáxia inteira pode passar por dentro de outra sem que haja um único choque.

Os astrônomos agora encontram evidências de que as colisões entre galáxias podem


dominar seus processos de evolução. Galáxias podem colidir, fundindo-se uma a outra,
ou simplesmente interagir, quando nesse caso apenas trocam matéria.

Colisão de duas galáxias espirais, NGC 2207 e IC


2163 ©AURA/STScI.

O primeiro caso é o mais violento. Ocorre quando duas galáxias se encontram, mas não
têm velocidade suficiente para continuar em movimento e, ao invés disso, "caem" uma
sobre a outra várias vezes, formando por fim uma única galáxia em lugar de duas.

E se uma delas for muito grande pode restar pouco modificada após a colisão, ao
contrário da outra, praticamente absorvida pela maior. Isto é chamado “canibalismo
galáctico”.

6
Recentemente, o telescópio espacial Hubble enxergou
mais de mil "fogos de artifício" acompanhando uma
"Os que descem ao mar em distante colisão de galáxias.
navios, mercando nas
grandes águas, esses vêem Cada um deles era na verdade uma miríade de novas
as grandes obras do estrelas, trazida à vida enquanto nuvens de gás se
Senhor, e suas maravilhas comprimiam violentamente durante o encontro das
no abismo." galáxias Antena (assim chamadas por causa do par de
longos filamentos de estrelas que lembram as antenas de
Salmos, 107 (Cerca de 150 um inseto).
a.C.)
As idades desses aglomerados forneceram uma
estimativa preciosa do tempo decorrido da colisão. Excelente oportunidade para
entender, passo a passo, essa complexa seqüência de eventos.

Formação de estrelas durante colisão


das galáxias Antena.

7
Via Láctea versus Andrômeda
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA

Astronomia no Zênite

A Via Láctea está em rota de colisão com Andrômeda (M31), uma galáxia duas
vezes maior. Elas se aproximam uma da outra a cerca de 480.000 km/h. Mas ainda não
sabemos com certeza se haverá uma colisão frontal ou apenas uma interação.

Uma colisão fundirá ambas numa imensa galáxia elíptica. De qualquer forma, isso
levará não menos que três bilhões de anos para acontecer – tempo que pode coincidir
com a morte do Sol.

SAI DA FRENTE. Como tudo o mais no


Universo, a nossa galáxia também se move... e
pode até “bater”.

Recentemente foram descobertas novas evidências de que Andrômeda não é tão grande
por acaso. Seu tamanho teria sido conquistado às custas da massa de galáxias vizinhas,
de menor porte, ao longo dos últimos bilhões de anos.

Estudando a borda da galáxia – o chamado halo galáctico – uma equipe internacional de


astrônomos flagrou M31 na hora do almoço, literalmente. Eles observaram um
gigantesco feixe de estrelas numa região árida da borda galáctica, cuja origem
provavelmente se encontra nas galáxias anãs M32 ou NGC205. Isso indica que
Andrômeda continua a assimilar companheiras menores até hoje.

Fome de viver
ANDRÔMEDA É VISÍVEL A OLHO NU, longe das luzes da cidade e numa noite sem
luar, como uma pálida mancha de luz nas noites de primavera. Através do estudo de
outras colisões de galáxias e usando simulações em computador, os astrônomos
montaram um cenário, quadro a quadro, do que eventualmente poderá acontecer com a
Via Láctea no caso de uma interação.

8
À medida que as duas galáxias se aproximarem uma da outra, Andrômeda irá crescer no
firmamento terrestre, até aparecer como uma enorme espada de
luz.

É improvável que a humanidade assista ao nascer desse dia,


mas quando Andrômeda estiver perto o bastante da Via Láctea,
as nuvens de gás de ambas vão interagir violentamente e
centenas de brilhantes aglomerados de estrelas irão surgir no
céu.

Será um formidável espetáculo pirotécnico por todo o


firmamento. A quantidade de estrelas massivas irá crescer
drasticamente. Estrelas gigantes azuis vão pipocar por todo o
firmamento enquanto outras explodirão como supernovas.

Andrômeda levará talvez 100 milhões de anos para se


contorcer em forma de U, quando finalmente adentrar em
nossa galáxia e se chocar com o núcleo da Via Láctea.

Então a matéria de ambas será misturada numa única galáxia


elíptica. Finalmente, quando as estrelas acharem seu lugar na
nova casa, após um processo dinâmico chamado relaxação
violenta, qualquer alusão do que foram a Via Láctea ou
Andrômeda terá desaparecido.

E quando novas formas de vida apontarem no horizonte de


galáxias vizinhas, talvez olhem na direção do núcleo de uma
imensa galáxia elíptica, tentando, como nós um dia, compreender sua evolução.

Mas eles não encontrarão qualquer vestígio de que ali existiram duas majestosas
galáxias espirais onde viveu uma civilização há muito esquecida. Assim mesmo tudo o
que fizemos terá valido a pena, se ao contemplar o céu, pelo breve instante de nossa
existência, tivermos aprendido a lição da humildade.

9
Buracos negros
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA

Astronomia no Zênite

As estrelas não duram para sempre. Embora não sejam seres vivos, cada uma tem
um ciclo que vai do seu nascimento, envolta numa nuvem de gás como um recém-
nascido ainda molhado pela placenta da mãe; passa pela maturidade, que na Astronomia
recebe o nome de “seqüência principal”, e por fim chega à morte, a extinção de seu
brilho.

Cada estrela tem um ciclo parecido, mas a duração e o modo como morrem pode variar
bastante (assim como os seres vivos!). Diz-se que uma entre cada cem estrelas que
chegam ao seu último momento de existência faz de seu “canto de cisne” um evento
formidável. Elas explodem violentamente difundindo de uma só vez energia equivalente
a um bilhão de sóis e se fazem notar entre as estrelas de toda a galáxia. São as
supernovas.

Após a explosão das supernovas de grande massa, pensa-se


que o núcleo da estrela original seria capaz de se contrair,
sob ação da força de gravidade, até se transformar num
buraco negro.

No interior de um buraco negro a concentração de matéria


é tão grande que nada pode escapar. Nem mesmo a luz (daí Espaçonave hipotética se
porque é chamado “negro”) que é um tipo de radiação, aproxima de um buraco
formada por partículas chamadas fótons. negro.
©Nasa/HEASARC.
Os buracos negros são uma das mais importantes
descobertas científicas de todo o século XX. Em seu interior as leis que regem o
Universo parecem desmoronar-se, junto com nossos conceitos sobre tempo e espaço. O
inexplicável, o desconhecido reside nas entranhas desse monstro, capaz de alimentar-se
de outras estrelas e, para alguns, acabar por engolir todo o Universo.

Como nascem as estrelas


QUANDO O SOL EXTINGUIR SUA
LUZ, daqui a cerca de cinco bilhões de
anos, o destino da Terra e de todo o
sistema solar interior será bastante cruel.

Nossa estrela mãe não tem massa


suficiente para terminar seus dias
explodindo como uma supernova, mas
seu desequilíbrio final vai transformá-la
numa estrela gigantesca, que engolirá os
planetas mais próximos, calcinando-os.
10
Mas pelo menos eles não serão derretidos por uma supernova. Não haverá um buraco
negro no lugar do Sol. Buracos negros são o último estágio na evolução de uma estrela
com muita massa, em média 10 vezes mais que o Sol.

As estrelas surgem de imensas nuvens compostas de pequenas partículas de matéria –


comumente chamadas simplesmente de poeira – e de gás hidrogênio, que existe em
abundância no Universo.

Muitas vezes essas nebulosas permanecem em equilíbrio, tranqüilas como as nuvens em


nosso céu. Mas é preciso pouco para lhes tirar deste estado, fazendo com que a própria
atração gravitacional produza uma contração incessante em certos pontos, ou nódulos da
nuvem de gás e poeira.

A nebulosa também começa a girar e à medida que aumentam a temperatura e a pressão


em seu interior forma-se um ou mais corpos, tão quentes e massivos, que em dado
momento passam a acontecer reações termonucleres em seu interior, produzindo muita
luz e energia. Assim nasce uma estrela.

Surge um buraco negro


DEPOIS DE PERMANECER UM LONGO TEMPO BRILHANDO FORTE e
convertendo o seu hidrogênio em hélio, as estrelas entram em colapso. É aí que seus
destinos dependem de quão grandes elas são. As muito massivas, como já vimos,
explodem. No lugar das supernovas o núcleo original da estrela, que serviu de “apoio”
para a explosão, se contraí. Às vezes surge em seu lugar uma pequena estrela que gira
como um farol: é o pulsar.

Buraco negro distorce o espaço ao


redor, agindo como uma lente
gravitacional. Concepção artística.

Outras vezes o núcleo não pára mais de se contrair e nasce um buraco negro. Mesmo
sendo invisível, sua presença é palpável. A matéria adicionada em um disco ao redor de
um buraco negro emite raios X – e foi assim que sua existência foi confirmada. Uma
fonte denominada Cygnus X-1, na constelação de Cisne, foi provavelmente o primeiro
buraco negro descoberto pelos astrônomos, em 1971.

Hoje, há fortes suspeitas que o centro da Via Láctea – a galáxia onde vivemos – abrigue
um super buraco negro, milhões de vezes mais massivo que o Sol. Ou então vários de
menor massa.

11
Planetas extra-solares
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA

Astronomia no Zênite

O Sistema Solar existe. Isto é um fato. Por causa de sua existência, nada mais
natural que nos perguntemos se há ou não outros planetas girando em torno de estrelas
que não o Sol.

Estima-se que existam 50 bilhões de galáxias em todo o Universo. As galáxias são


predominantemente agrupamentos de estrelas. As maiores contêm algumas centenas –
ou até milhares – de bilhões delas (nossa galáxia, a Via Láctea, tem cerca de 100 a 150
bilhões de estrelas).

Estrela anã-marrom circundada por um anel de


formação estelar. Animação produzida pela
Nasa/JPL-Caltech.

Baseado no tamanho do Universo e nas leis da Probabilidade, as chances de existirem


outros sistemas planetários são excelentes.

é o número de planetas extra-solares conhecidos


em torno de estrelas próximas, segundo o
221 California and Carnegie Extrasolar Planet
Search.

12
A idéia de planetas em órbita de outras estrelas
não é nova. Os gregos já haviam cogitado essa
hipótese, mas somente a partir do final do século
20 pudemos averiguá-la com rigor.

Mas ainda faltavam observações diretas e


"comprovadas" através de fotografias. Isso
aconteceu em 2005 através do Very Large
Telescope (VLT) do Observatório Europeu
Austral (European Southern Observatory, ESO)
no Chile. O Telescópio Espacial Hubble e o
japonês Subaru também contribuíram.

Foto em infravermelho resolve o O planeta observado tem no máximo o dobro do


objeto 2M 1207 e revela a primeira tamanho de Júpiter, o maior planeta do Sistema
imagem direta de um planeta extra- Solar, e sua estrela-mãe, GQ Lupi, é uma anã-
solar. Os astrônomos inferiram que marrom.
o planeta tem 5 vezes mais massa
que Júpiter, enquanto sua estrela é Ele foi localizado bem longe de sua estrela,
25 mais massiva que o maior cerca de 100 vezes mais que a distância Terra-
planeta do Sistema Solar – o que faz Sol (ou três vezes mais que Netuno), um fator
dela uma anã-marrom. que acabou ajudando a separar a luz dos dois
objetos.

Se uma estrela tem apenas um único companheiro, ambos se movem numa órbita quase
circular em torno do centro de massa do sistema. Ainda que um deles seja muito menor
que o outro, as leis da Física garantem que ambos continuam se movendo em volta do
centro de massa, embora este fique bem perto do corpo mais massivo.

Todos os planetas do Sistema Solar provocam um efeito similar no Sol, fazendo-o


apresentar uma pequena oscilação que pode ser detectada por um observador fora do
Sistema Solar, ainda que nenhum planeta reflita luz o bastante para ser visto
diretamente.

É uma situação semelhante a de um atleta que dá voltas em torno de si mesmo antes de


arremessar um peso. A pessoa oscila enquanto gira, devido ao peso do objeto. E se ao
mesmo tempo ela se desloca de um ponto A para um ponto B, sua trajetória não será
uma linha reta, sendo mais parecida com uma onda.

Métodos de detecção
EXISTEM DIVERSOS MÉTODOS PARA DESCOBRIR PLANETAS EXTRA-
SOLARES. Métodos diretos ou indiretos. De longe, a maioria dos planetas já
descobertos são frutos das medidas de Velocidade Radial, que consiste em medir as
sutis variações na posição de uma estrela enquanto sofre oscilações provocadas pelo
puxão gravitacional de um ou mais planetas ao seu redor.

A detecção é realizada através do Efeito Doppler, uma mudança de freqüência que


ocorre quando uma fonte se afasta ou se aproxima do observador. Isso explica porque
ouvimos um som mais agudo quando a sirene de um carro de bombeiros se aproxima e
um som mais grave quando se afasta.

13
As ondas sonoras são comprimidas na direção
do movimento e relaxadas na direção oposta.
Esse efeito também ocorre com a luz, mesmo
sendo esta uma radiação eletromagnética e não
uma perturbação mecânica.

Admiráveis novos mundos


O PRIMEIRO PLANETA EXTRA-SOLAR
foi encontrado em órbita de uma estrela da
constelação de Pégasus, em 1995, através do
método da Velocidade Radial.

Esse primeiro novo mundo está a 45 anos-luz Ilustração de um planeta extra-solar


da Terra e tem cerca da metade do tamanho de encontrado em torno da estrela HD
Júpiter. Mundos rochosos, como a Terra, 149026 feita pelo pesquisador
também já foram descobertos. Gregory Laughlin. Ele mesmo
descreve: "A noite nesse mundo deve
O que está em órbita da estrela HD 149026 ser tão quente que o lado escuro
(veja quadro ao lado) é um pedaço de rocha brilha, exibindo as camadas de
colossal, com cerca de 65 a 70 vezes a massa nuvens. O lado iluminado, em
da Terra e tão perto de sua estrela que leva comparação, é extremamente
menos que três dias para completar uma ofuscante."
translação.

Outro mundo bizarro é o achado em volta da estrela anã-vermelha Gliese 876. Com sete
vezes a massa terrestre, tudo indica que não possui atmosfera (ou ela é muito fina),
como um Mercúrio gigante.

Atualmente o número de planetas extra-solares devidamente comprovados está em 221.


A maioria tem órbitas tão estranhas e são tão diferentes dos planetas do Sistema Solar
que alguns pesquisadores crêem que nosso sistema planetário é uma exceção a regra.

Ou não. E então será apenas questão de tempo – e aperfeiçoamento dos métodos de


detecção – para que um mundo com características físicas e orbitais bem similares ao
nosso seja encontrado. Haverá vida nele será a próxima pergunta que faremos.

14
Calendário cósmico
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Imagine que toda a história do Universo pudesse ser comprimida em um único ano.
Tudo. Desde o Big-Bang, o evento que criou a matéria, o espaço e o tempo, até o último
instante, este que você vive enquanto percorre essas palavras.

Foi exatamente isto que o astrônomo Carl Sagan imaginou logo no primeiro capítulo de
seu livro "Os dragões do Éden" (1977). Até hoje esta é uma das formas mais didáticas
de expressar a cronologia do Universo.

O ano é a principal unidade de medida de


tempo utilizada pelos humanos. Estudamos os
feitos históricos de nossa espécie nos
referindo a eles. Comemoramos com euforia
cada começo de um novo ano, felicitamos as
pessoas pelos seus aniversários.

Toda a história registrada, contudo, precisa de


unidades maiores, como a década, o século e
o milênio. Porém, mesmo os milênios os TREZE BILHÕES de anos em doze
quais possuímos registros históricos são meses:
precedidos por períodos de tempos é o Calendário Cósmico de Carl Sagan
excepcionalmente maiores, sobre os quais
pouco sabemos.

Milhões de anos se passaram na Terra antes da espécie humana aparecer. Bilhões de


anos desde o primeiro raio de Sol; desde que a primeira estrela do Universo começou a
brilhar. Assim mesmo somos capazes de localizar no tempo alguns acontecimentos
desse passado remoto.

A datação radioativa e a análise de camadas estratificadas das rochas permitem obter


dados sobre a vida, as alterações geológicas e até mesmo mudanças climáticas do
passado. A astrofísica fornece diversas informações confiáveis a respeito dos estágios
evolutivos das estrelas, suas idades, a formação da galáxia e, inclusive, uma boa
estimativa do tempo transcorrido desde o Big Bang, o evento mais remoto do qual
temos algum registro.

Do Big Bang ao último segundo


NO CALENDÁRIO CÓSMICO, O BIG BANG ACONTECE PRECISAMENTE À
ZERO HORA do dia primeiro de janeiro, e cada bilhão de anos no Universo
corresponde a cerca de 24 dias. Um único segundo representa quase quinhentas voltas
em torno do Sol.

15
Neste calendário estão assinalados os principais eventos atualmente disponíveis da
história do cosmos, como a época da formação da nossa galáxia, do Sistema Solar, do
surgimento dos primeiros organismos vivos na Terra e o despertar do ser humano.

É claro que existem imperfeições. Pode-se descobrir, por exemplo, que as plantas
colonizaram a Terra antes do que os cientistas calcularam (e portanto num dia diferente
do nosso calendário).

Além disso, devido à extrema compressão do tempo a que nos submetemos nessa
escala, todos os eventos de nossa história escrita ficam comprimidos literalmente nos
últimos instantes do dia 31 de dezembro e é quase impossível registrá-los integralmente.

Mas isso não importa. O Calendário Cósmico nos lembra que além de muito pequenos
perante o Universo, ocupamos também um instante de tempo insignificante em sua
existência. Acima de tudo, que o nosso destino – e o de toda a vida na Terra –
dependerá a partir de agora da sensibilidade humana e de nosso valioso conhecimento
científico.

16
Calendário cósmico
Datas mais importantes

Mês Dia Hora Evento


01 00:00 Big Bang dá origem a matéria, o espaço e o tempo

01 Origem da Via Láctea, a galáxia em que vivemos

09 Origem do Sistema Solar

14 Início da formação da Terra

25 Surgimento da vida na Terra

17
01 Aparecimento do sexo (primeiros microorganismos
sexuados)

12
Primeiras plantas fotossintéticas
15
Primeiras células com núcleo (eucariotas)

01 Atmosfera da Terra começa a se tornar rica em oxigênio

18 Primeiros plânctons oceânicos e primeiros trilobitas


19 Primeiros peixes e vertebrados
20 Plantas vasculares se tornam numerosas em terra firme
21 Primeiros insetos
22 Primeiros anfíbios e insetos alados
23 Primeiras árvores e primeiros répteis
24 Período Permiano. Surgem os dinossauros
25 Período Triássico. Primeiros mamíferos
26 Período Jurássico. Primeiras aves
27 Extinção dos dinossauros. Nascem as primeiras plantas
28 com flores
29 Aparecem os primeiros primatas
30 O cérebro dos primatas evoluí. Primeiros hominídeos
Primeiros peixes e vertebrados.
31 22:30:00 Surgem os primeiros seres humanos

23:46:00 O Homem descobre como produzir o fogo

23:59:51 Invenção do alfabeto

23:59:56 Nascimento de Cristo

23:59:59 Renascimento na Europa, viagens de descobrimento

Agora Amplo desenvolvimento da ciência e tecnologia. O ser


humano
adquire armas de autodestruição. Primeiros passos da
exploração
planetária e da busca por vida extraterrestre

18
Medindo a Terra e a Lua
Como medir distâncias no espaço

JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Você já se perguntou como é possível medir o tamanho da Terra ou da Lua? Ou


como se pode ter certeza da distância que estamos do Sol, se nenhum ser humano a
percorreu até hoje? Muitos devem imaginar que para tanto sejam necessários
complicados cálculos matemáticos ou ainda os sofisticados instrumentos das naves
espaciais. Outros talvez simplesmente duvidem de que tais façanhas sejam verdadeiras.

Astronomia no Zênite vai lhe mostrar agora que estas medidas foram feitas pela
primeira vez, e muito antes da conquista espacial. Também vamos compreender que
além de confiáveis, essas medidas são fruto de contas maravilhosamente simples e
elegantes. Senão vejamos...

19
Como medir distâncias no espaço
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Eratóstenes e a circunferência da Terra


ERATÓSTENES VIVEU NO EGITO ENTRE OS ANOS 276 E 194 ANTES DE
CRISTO. Ele era bibliotecário-chefe da famosa Biblioteca de Alexandria, e foi lá que
encontrou, num velho papiro, indicações de que ao meio-dia de cada 21 de junho na
cidade de Siena, 800 km ao sul de Alexandria, uma vareta fincada verticalmente no solo
não produzia sombra.

Cultura inútil, diriam alguns. Não para um homem observador como Eratóstenes. Ele
percebeu que o mesmo fenômeno não ocorria no mesmo dia e horário em Alexandria e
pensou:

Se o mundo é plano como uma mesa, então as sombras das varetas têm
de ser iguais. Se isto não acontece é porque a Terra deve ser curva!

Mais do que isso. Quanto mais curva fosse a superfície da Terra, maior seria a diferença
no comprimento das sombras. O Sol deveria estar tão longe que seus raios de luz
chegam à Terra paralelos.

Varetas fincadas verticalmente no chão em lugares diferentes lançariam sombras de


comprimentos distintos. Eratóstenes decidiu fazer um experimento. Ele mediu o
comprimento da sombra em Alexandria ao meio-dia de 21 de junho, quando a vareta em
Siena não produzia sombra. Assim obteve o ângulo A, conforme a figura abaixo.

20
Eratóstenes mediu A=7° (aproximadamente). Se as varetas estão na vertical, dá para
imaginar que se fossem longas o bastante iriam se encontrar no centro da Terra. Preste
atenção na figura acima. O ângulo B terá o mesmo valor que A, pois o desenho de
Eratóstenes se reduz a uma geometria muito simples: se duas retas paralelas
interceptam uma reta transversal, então os ângulos correspondentes são iguais.

As retas paralelas são os raios de luz do Sol e a reta transversal é a que


passa pelo centro da Terra e pela vareta em Alexandria. O ângulo B
(também igual a 7°), é a uma fração conhecida da circunferência da
Terra e corresponde à distância entre Siena e Alexandria!

Eratóstenes sabia que essa distância valia cerca de 800 km e então


pensou: 7° 1/50 da circunferência (360°) e isso corresponde a cerca
de 800 km.

Oitocentos quilômetros vezes cinqüenta são quarenta mil quilômetros,


de modo que deve ser este o valor da circunferência da Terra.

O mundo não é chato


VALOR ENCONTRADO ATUALMENTE: cerca de 40.072 km ao longo da linha do
equador. Um erro muito pequeno para uma medida tão simples, e feita há tanto tempo!
Com a circunferência, podemos calcular o diâmetro e o raio ou ainda o volume e a área
da superfície, através de fórmulas simples.

Repare que o conhecimento utilizado por Eratóstenes (retas paralelas cortadas por uma
transversal) é formalmente adquirido hoje nas aulas de geometria do ensino
fundamental.

Fica a sugestão para a realização dessa experiência fantástica entre escolas de lugares
distantes. Com as facilidades de comunicação de hoje fica ainda mais fácil sentir o
prazer de usar um raciocínio tão simples e elegante para obter uma medida tão preciosa

21
Como medir distâncias no espaço
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Hiparco e a distância da Lua


PARA MEDIR A DISTÂNCIA DA TERRA À LUA, Hiparco (190-120 a.C.) não
precisou nem mesmo do diâmetro da Terra. Ele imaginou uma geometria com a qual,
durante um eclipse lunar, isto é, quando a Terra fica exatamente entre o Sol e a Lua,
seria possível calcular a distância da Terra à Lua.

Hiparco foi um dos maiores astrônomos gregos e entre suas muitas contribuições estão
os fundamentos da trigonometria. Aliás, sua construção geométrica baseia-se justamente
na medida de ângulos.

Acompanhe o diagrama abaixo. Hiparco imaginou dois triângulos retângulos, cujas


hipotenusas ligariam o centro da Terra às bordas do disco solar e lunar, por ocasião de
um eclipse da Lua.

Sol, Terra e Lua não estão em escala

Podemos notar que a duração de um eclipse lunar é equivalente a duas vezes o ângulo d.
Vamos escrever nossa primeira equação: 2 × d = T1. O período orbital da Lua, ou
seja, o tempo que ela gasta para completar uma volta (360°) em torno da Terra já era
conhecido.

Vamos representá-lo como T2 e escrever a segunda equação: 360 = T2. Como podemos
medir o tempo T1, a única variável é d, obtida com as duas equações numa regra de três
simples e direta.

O ângulo c é chamado semi-diâmetro do Sol, ou seja, a metade do ângulo pelo qual


vemos o disco solar. O ângulo a é tão pequeno que pode ser desprezado, ele representa a
metade do ângulo pelo qual um observador no Sol veria a Terra.

Dos estudos de trigonometria básica extraímos a propriedade pela qual a + b = c + d.


Como a é muito pequeno basta-nos escrever b = c + d.

22
A engenhosa geometria que Hiparco utilizou para medir a distância
Terra-Lua é trivial para qualquer bom aluno do Ensino Médio.

Mas o que Hiparco queria mesmo era X, você concorda? Note que o seno de b será R ÷
X. Se ele calculasse b obteria o seu seno, consultando as velhas tábuas trigonométricas.

Sobraria R, o raio da Terra. Hiparco também poderia expressar o resultado como uma
função de R, isto é, quantos raios da Terra existem até a Lua – o que já seria um
excelente resultado.

O resultado de Hiparco foi um valor de X entre 62 e 74 vezes R. O valor real fica entre
57 e 64, mas seu erro é justificável face à precisão requerida nas medidas angulares.
Acima de tudo, que método elegante, que conclusão arrebatadora!

23
Como medir distâncias no espaço
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

O método da paralaxe
EXISTEM DIVERSAS MANEIRAS DE SE OBTER UMA MESMA MEDIDA. No
caso da distância da Terra à Lua, por exemplo, podemos usar o método da paralaxe. O
termo paralaxe designa um ângulo entre dois segmentos de reta que partem de um
determinado astro e se dirigem um para o centro da Terra e o outro para o observador.

Este método baseia-se na comparação de observações da Lua feitas por dois


observadores em pontos extremos da Terra, quando então se obtém uma diferença
angular, usada para calcular a distância Terra - Lua, conhecido o raio da Terra.
Acompanhe a figura e o texto a seguir.

O método da paralaxe aplicado à medida Terra -Lua.

Estando cada observador sobre um mesmo meridiano da Terra, ao fotografarem a Lua,


cada um deles verá o satélite contra um fundo de estrelas ligeiramente diferente.
Comparando suas fotos com um bom atlas celeste eles medirão o ângulo 2p (veja a
figura), e naturalmente, terão p.

Recordando que o seno de um ângulo é igual ao cateto oposto a esse ângulo, dividido
pela hipotenusa do triângulo retângulo, é fácil ver que o seno de p (um valor conhecido)
será igual ao raio da Terra (também conhecido) dividido pela distância do centro da
Terra até a Lua (a incógnita). Basta rearranjar a equação e subtrair o raio terrestre do
resultado para obtermos a distância (aproximada) até a Lua.

Faça você mesmo!


O MÉTODO ANTERIOR É SIMPLES E VIÁVEL, embora o resultado obtido seja
sempre um valor aproximado. A seguir propomos a obtenção de um outro método,
imaginado por você mesmo, tendo como referência o anterior. Apanhe o velho e bom
lápis, uma folha de papel e mãos à obra!

• Você conhece o raio da Terra, R, e está no sul da África, medindo o ângulo A


que a Lua faz com a vertical do lugar. Um amigo seu faz o mesmo, medindo A'
na Europa, sendo que ambos estão sobre um mesmo meridiano terrestre. Apenas
24
com essas informações, construa uma geometria capaz de obter a distância da
Terra à Lua.

Este problema não é original. Ele foi solucionado no século XVIII pela dupla Lalande
(em Berlim) e Lacaille (no Cabo da Boa Esperança), mas permite algumas variações
bastante criativas. Pense um pouco.

25
Como medir distâncias no espaço
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Aristarco de Samos e a distância Terra-Sol


ARISTARCO DE SAMOS (310-230 a.C.) ACREDITAVA QUE A TERRA SE
MOVIA EM TORNO DO SOL e estudava um modo de medir a distância do Sol e o
tamanho da Lua.

Na mesma época de Eratóstenes, ele usou uma geometria elegante e de extrema


simplicidade para medir a distância Terra-Sol, já conhecendo a distância da Terra à Lua.
O que nos leva a imaginar o quanto da sabedoria antiga se perdeu ao longo da história.

Repare como é simples. Aristarco sabia que quando a Lua exibia um quarto iluminada
(crescente ou minguante) era possível desenhar o triângulo retângulo da figura abaixo.

A distância B corresponde a que existe entre a Terra e a Lua, o ângulo A à separação


angular entre a Lua e o Sol, visto por um observador na Terra. Então, para calcular a
distância C basta lembrar que ela é B dividida pelo cosseno do ângulo A, pois o cosseno
de um ângulo é a medida do cateto adjacente a esse ângulo, no caso B, dividido pela
hipotenusa do triângulo retângulo, C.

Trigonometria elementar para calcular a distância da Terra ao Sol.


cos A = B ÷ C logo C = B ÷ cos A.

É claro que tamanha simplificação traz limitações ao resultado. Porém, o maior desafio
aqui é saber o instante exato da Lua em quarto crescente ou minguante, para que o
ângulo A reflita um resultado pelo menos aproximado.

Além disso, como precisamos de valores trigonométricos, boas tábuas tinham de ter
sido elaboradas antes. Vale lembrar que, naquela época, a constante pi (3,14159...) era
calculada como 22 ÷ 7.

Qual o tamanho da lua?


TODAS AS VEZES QUE VEMOS um objeto sob um ângulo de 1 grau é porque ele

26
está, necessariamente, afastado de nós 57 vezes o seu tamanho. Como sabemos disso? É
fácil. Basta recordar o conceito de tangente e verificar que a tangente de 1° (um grau)
vale aproximadamente 0,01745.

Podemos continuar o raciocínio e verificar que se observarmos um astro sob um ângulo


de 30 minutos de arco (meio grau), ele estará afastado cerca de 115 vezes o seu
diâmetro.

Acontece que vemos a Lua Cheia sob um ângulo médio de 31 minutos de arco, o que
nos diz que ela esta distante de nós cerca de 115 vezes o seu diâmetro. Se você já
conhece a distância da Terra à Lua, agora também já pode saber o seu diâmetro. Daí
também não será difícil calcular o volume, a área da superfície...

Conclusões
PODEMOS LAMENTAR QUE AS AULAS de geometria da maioria de nós nunca
tenham ido tão longe. Podemos imaginar o estado de êxtase ao qual Eratóstenes,
Hiparco, Aristarco e tantos outros se depararam ao vislumbrar métodos tão simples,
descobertas tão soberbas.

Não tem a menor importância se os resultados divergiram dos que hoje obtemos quando
disparamos um raio laser contra a Lua, e o fazemos refletir de volta, com intuitos
semelhantes. Não importa que agora já dispomos de algoritmos que permitem medidas
muito mais ousadas. O importante é ressaltar o quanto a imaginação vale mais que o
conhecimento.

27
Hora universal
No início, até mesmo os relógios mecânicos eram acertados pelo tempo fornecido
pelos relógios de Sol. A hora comum, no entanto, aquela usada em nosso cotindiano,
não se baseia inteiramente no Sol. A velocidade da Terra em seu movimento de
translação não é constante, e por isso a duração dos dias solares é desigual.

Foi preciso imaginar um “Sol fictício”, que produzia dias iguais durante todo o ano.
Esse corpo, também chamado Sol médio, percorre sobre o equador celeste espaços
iguais em tempos iguais. Apenas por praticidade, começamos a contar o dia solar médio
quando o Sol médio atinge a chamada culminação inferior. Em outras palavras, quando
é meia-noite.

Progresso e hora certa


MAS, AFINAL, A DIFERENÇA ENTRE O TEMPO SOLAR VERDADEIRO e aquele
produzido pelo Sol médio não passa de 17 minutos. Uma defasagem que foi
imperceptível para o dia-a-dia da humanidade durante muitos séculos. Até que, nas
primeiras décadas do século XIX, surgiram as estradas de ferro.

Antes os viajantes nem se davam conta que ao chegar a um destino longínquo a hora do
lugar era diferente. A precisão dos horários de partida e chegada se confundia com as
irregularidades dos mecanismos dos relógios da época, mais a lentidão dos meios de
transporte movidos a tração animal.

As ferrovias mudaram tudo. Agora era possível se locomover com


relativa rapidez por quase toda a Europa e ir de costa a costa dos
Estados Unidos. Para resolver – parcialmente – o problema dos
horários surgiram as horas nacionais.

Porém, cada país tinha a sua – e isso não ajudava muito. Era
preciso uma padronização. E foi a Inglaterra o primeiro país a
adotá-la (embora Estados Unidos e Canadá disputem até hoje essa
primazia). Não foi nada fácil. Política, religião e orgulho nacional puseram de lado
argumentos científicos, numa disputa que envolveu até mesmo o Brasil.

Uma conferência internacional em 1884 tratou de escolher um meridiano de partida que


servisse a todas as nações do mundo. Conta-se que o Imperador Pedro II orientou o
diretor do Observatório do Rio de Janeiro, representante do Brasil, a votar em favor do
meridiano zero que passava por Paris. No final, Greenwich, na Inglaterra, foi escolhido
quase por unanimidade. O Brasil se absteve do voto.

Meridiano zero
A HORA MÉDIA DE GREENWICH (Greenwich Mean Time ou GMT) foi utilizado
como padrão mundial de tempo até 1986, quando surgiu o Tempo Universal
Coordenado (Coordinated Universal Time ou UTC), que é baseado em padrões
atômicos em vez da rotação da Terra.

O UTC é o padrão internacional de tempo usado atualmente e mantido pelo Bureau

28
Internacional de Pesos e Medidas. Mas zero hora UTC ainda corresponde,
aproximadamente, à meia-noite no meridiano de Greenwich, Inglaterra.

24 fusos
OS FUSOS HORÁRIOS SÃO AS FAIXAS DE 15° DE LARGURA correspondentes a
um intervalo de tempo de uma hora que partem do meridiano que passa por Greenwich.
Os fusos orientais são precedidos do sinal + para indicar que as horas se adiantam para
Leste, ocorrendo o oposto para os fusos ocidentais (a Oeste de Greenwich).

Representação dos 24 fusos horários.


MAPA DOS FUSOS HORÁRIOS - ATUALIZADO!

Uma lei sancionada em 2008 alterou o número de fusos horários brasileiros de quatro
para três. Com a mudança, todo o estado do Pará ficou com a mesma hora do Distrito
Federal, assim como todos os municípios do Amazonas e do Acre passaram a ficar
somente uma hora atrás do fuso de Brasília. Os fusos brasileiros agora são UTC – 2
(ilhas oceânicas), UTC – 3 (Brasília) e UTC – 4.

Durante o horário de verão adiciona-se uma hora, de modo que cada localidade passa a
ter uma nova correção em relação ao UTC, conforme a tabela abaixo. Em Portugal, a
hora certa é sempre igual ao próprio UTC, exceto nos períodos em que o horário de
verão está em vigor.

29
O horário de verão
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós
A adoção do horário de verão brasileiro Quando é o próximo?
costuma levantar as mesmas questões todos os
anos. A economia de energia realmente justifica os O horário de verão 2008/2009 no
transtornos causados à população? Afinal, por que Brasil começou à zero hora de 19
são adotados? E quem foi o autor dessa idéia? de outubro de 2008 (domingo) e
terminou às 24h de 14 de fevereiro
Histórico de 2009 (sábado). Durante esse
ESTABELECIDOS NO BRASIL POR DECRETO período os relógios foram
desde 1931 (por Getúlio Vargas), ainda que de adiantados em uma hora nas
forma descontínua, suas origens na verdade regiões Sul, Sudeste e no estado de
remontam à Inglaterra do ano de 1907. Goiás.

Foi lá que um construtor londrino, membro da As datas de início e término do


Sociedade Astronômica Real, chamado William horário de verão não são
Willett (1856-1915) deu início a uma campanha determinadas por critérios
para diminuir o consumo de luz artificial ao astronômicos.
mesmo tempo que estimulava o lazer dos
britânicos.

Num panfleto de 1907 intitulado "Waste of Daylight" (Desperdício de Luz Diurna)


Willett propôs avançar os relógios em 20 minutos nos domingos do mês de abril e
retardá-los a mesma quantidade nos domingos de setembro.

As polêmicas surgiram ali mesmo. Especialmente entre os fazendeiros, que têm que
acordar com o Sol não importa que horas marquem os relógios. Willett não viveu o
suficiente para ver sua idéia colocada em prática. O primeiro pais a adotar o horário de
verão acabou sendo a Alemanha, em 1916, seguido pela Inglaterra.

Era a Primeira Guerra Mundial. A economia de energia


foi considerada um importante esforço de guerra,
"Os deuses instilaram diminuindo o consumo de carvão, principal fonte de
ansiedade no primeiro energia da época. A medida foi seguida por outros países
homem que descobriu como europeus.
distinguir as horas."
Os Estados Unidos o adotaram em 1918 junto com seu
Titus Maccius Plautus sistema de fusos horários. Foi difícil, mas os americanos
(254-184 d.C.) Dramaturgo acabaram se acostumando. Hoje eles sabem as datas de
italiano começo e término com anos de antecedência.

Como funciona
O PRINCÍPIO DO HORÁRIO DE VERÃO continua o mesmo: adaptar nossas
atividades diárias à luz do Sol. Nos meses de verão o Sol nasce antes que boa parte da
população tenha iniciado seu ciclo de trabalho. Assim, se os relógios forem adiantados

30
durante esse período, a luz do dia será melhor aproveitada e as pessoas passarão a
consumir energia em melhor acordo com a luz solar.

Hoje, aproximadamente 30 países utilizam o horário de verão em pelo menos parte de


seu território. E muito embora o nome faça referência a uma estação do ano, as datas de
início e fim do horário de verão não são definidas por critérios astronômicos.

Boa parte das porções continentais do planeta está no hemisfério norte. Ali o inverno
costuma ser rigoroso e o Sol se põe bem cedo, levantando-se timidamente durante o dia.
No verão ocorre o contrário: é comum ainda haver claridade por volta das 20 ou até 22
horas. É por isso que nesses lugares o horário de verão faz muita diferença.

O HORÁRIO DE VERÃO é um recurso adotado tanto por paises do hemisfério Norte


(de março a outubro) quanto do Hemisfério Sul (outubro a março). No Brasil, os
relógios são adiantados em 1 hora, mas
isso pode variar de acordo com o país.

E o Brasil?
O Brasil é o ÚNICO PAÍS EQUATORIAL
NOS PAÍSES EQUATORIAIS
que adota o horário de verão
(cortados pela linha do equador) e nos
tropicais (situados entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio), a incidência
da luz solar é mais uniforme durante todo o ano e dessa forma não há muita vantagem
na adoção do horário de verão.

No caso do Brasil – atualmente o único país equatorial do mundo que adota o horário de
verão – a economia de energia elétrica não é considerada o fator predominante. Segundo
o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a motivação de se estabelecer esse
dispositivo no Brasil é pela segurança do sistema.

Durante os meses do verão ocorre um aumento na demanda de energia, o que é


particularmente percebido por volta das 18h, quando as pessoas retornam para seus lares
e ligam luzes, chuveiros, condicionadores de ar, fornos, etc. Esse também é o horário
em que a iluminação pública é acionada. O aumento brusco da demanda pode ter
impacto negativo na estabilidade do sistema elétrico.

Ao se adotar o horário de verão brasileiro ocorre um deslocamento na entrada da


iluminação pública (devido à iluminação natural, ainda presente), que passa a não mais

31
coincidir com a chegada das pessoas em casa após o trabalho. Por causa de fatores como
este o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, o que melhora a segurança do
sistema, segundo o ONS.

UMA LEI SANCIONADA EM 2008 alterou o número de fusos horários brasileiros de


quatro para três. Com a mudança, todo o estado do Pará ficou com a mesma hora do
Distrito Federal, assim como todos os municípios do Amazonas e do Acre passaram a
ficar somente uma hora atrás do fuso de Brasília.
Acima, a imagem alterna entre os fusos brasileiros com e sem horário de verão na nova
Lei.
Fonte: Divisão Serviço da Hora - DSHO

Economia só no Sul
Verifica-se uma economia de energia nos Estados da região Sul (até 5% de redução da
demanda integrada durante o consumo de pico), porque essas localidades estão
inteiramente ao sul do Trópico de Capricórnio.

Porém, nos Estados da região Nordeste e, principalmente, da região Norte, a variação de


luz solar anual é insignificante – o que não justifica a adoção do horário de verão nem
mesmo para melhorar a segurança do sistema.

Enquanto está em vigor (nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil) o único
impacto no Norte e Nordeste do país é na programação das emissoras de televisão, que

32
seguem o horário em vigor no Rio de Janeiro e São Paulo.

Isso sem mencionar o fato de que, como as estações são opostas em cada hemisfério da
Terra, nos quase 10% de terras brasileiras ao norte do equador, em vez de verão,
rigorosamente falando, temos inverno (embora as temperaturas nesses locais
permaneçam altas entre dezembro e março).

Dia de 25 horas
SEMPRE QUE COMEÇA UM HORÁRIO
DE VERÃO, isto é, quando se subtrai uma
hora do dia, adiantando os relógios em uma
hora, causamos um desconforto físico (por
afetar o relógio biológico) e psicológico (por
causar a sensação de perda de tempo).

Quando ele termina, ao contrário, temos essa


hora que nos foi tomada de volta e a ilusão
de um dia com 25 horas. É uma ilusão
porque na verdade estamos apenas nos O horário de verão foi criado na
reajustando à natureza. Inglaterra,
mas foi adotado primeiro na Alemanha.
Com o fim do horário de verão os fenômenos celestes (nascer o pôr-do-sol, por
exemplo) voltam a coincidir com o horário “normal” – que se não serve para
economizar ou garantir mais segurança ao sistema elétrico, pelo menos é aquele com o
qual estamos acostumados há milhares de anos.

33
Unidades astronômicas
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA

Astronomia no Zênite

O Universo é enorme. Não foi à toa que a expressão "astronômico" entrou para o
nosso cotidiano como sinônimo de números grandes, muito grandes. E não é mesmo
fácil assimilar as distâncias envolvidas em boa parte dos textos sobre Astronomia.

Um número significativo de pessoas jamais se afastou mais de 40 quilômetros do lugar


em que nasceram. Dentre todos os seres humanos que existem ou já existiram, apenas
doze pessoas pisaram na Lua, que fica a cerca de 400.000 km da porta da sua casa. E
pouco mais de 400 estiveram longe o bastante para ver o planeta do espaço.

Muito longe de casa


AO LANÇAR SONDAS EXPLORATÓRIAS para outros planetas, o quilômetro deixa
de ser prático como unidade de medida do percurso. Por convenção, escolheu-se a
distância média da Terra ao Sol, cerca de 150 milhões de quilômetros, como unidade
mais usual dentro no Sistema Solar. Por isso mesmo ela é chamada de Unidade
Astronômica (abrevia-se U.A.).

A nave espacial mais rápida – e que até hoje foi mais longe – é a Voyager 1. Ela partiu
em 1977 com destino a Júpiter e Saturno. Hoje ela está a mais de 12 bilhões de
quilômetros da Terra e continua se afastando a 17.000 quilômetros por hora.

Concepção artística mostra a Voyager 1 nos confins do Sistema Solar

Mesmo assim, levará 76.000 anos para que a Voyager 1 percorra a distância que se
encontra a estrela mais próxima do Sol, chamada Proxima Centauri, situada a 4,3 anos-
luz (o equivalente a 271.931 U.A). E agora que estamos falando de estrelas, a Unidade
Astronômica (U.A.) também deixa de ser prática. Precisamos de uma medida maior. É a
vez do ano-luz.

O ano-luz (abreviatura: al) é a unidade de distância (não de tempo!) mais usada pelos
astrônomos. Ela equivale ao percurso de um raio de luz que viaja pelo espaço durante
um ano. Sabemos que a velocidade da luz é de 300.000 quilômetros por segundo. Para

34
saber quantos quilômetros há num ano-luz temos que multiplicar esse valor pelo
número de segundos que tem um ano.

Tempo & Espaço


1 minuto 60 segundos
1 hora 60 minutos ou 60 × 60 segundos = 3.600 segundos
1 dia 24 horas ou 3600 × 24 = 86.400 segundos
1 ano 365 dias ou 86.400 × 365 = 31.536.000 segundos
Logo, 1 ano-luz = 300.000 quilômetros por segundo × 31.536.000
segundos = 9.460.800.000.000 quilômetros (ou 9 trilhões, quatrocentos e
sessenta bilhões e oitocentos milhões de quilômetros)

Da mesma forma como fizemos para calcular o ano-luz, podemos descobrir ou


submúltiplos dessa unidade, o minuto-luz e a hora-luz, por exemplo. O Sol está a 8
minutos-luz da Terra. A Terra está distante pouco mais de 5 horas-luz de Plutão, o
último planeta do Sistema Solar.

Repare no que isso significa. Se o Sol se apagar nesse instante, ainda teremos oito
minutos de luz até que tomemos conhecimento da terrível notícia. Da mesma forma, se
você partir agora numa nave espacial rumo a Plutão, vai demorar cerca de cinco horas,
viajando à velocidade da luz, para chegar ao seu destino.

Mas se o seu objetivo for alcançar Proxima Centauri a viagem demorará mais de quatro
anos. Se decidir atravessar a Via Láctea, nossa galáxia, de ponta a ponta, nem todos os
seus descendentes juntos adiantarão muita coisa: será preciso esperar 100 mil anos para
cumprir o trajeto. E a Via Láctea é apenas uma entre bilhões de outras galáxias. O
Universo é mesmo de tirar o fôlego.

Além do ano-luz
PODEMOS IR AINDA MAIS LONGE nas unidades
usadas pela Astronomia. Imagine que você afinal
conseguiu viajar pelo espaço e está tão longe de casa que
mal consegue ver o Sol. Na verdade você veria um
objeto gigantesco, com 1 U.A. de diâmetro, sob um
ângulo de visada de apenas um segundo de arco. A que
distância você está?

A 1 parsec (abrevia-se pc). O parsec (nome formado


pelas três primeiras letras dos vocábulos paralaxis
secundus) equivale a 3,26 al ou 206.265 U.A. (as
abreviaturas de unidades nunca vão para o plural).

Está achando pouco? Não se preocupe. Assim como o seu microcomputador


provavelmente precisa de alguns megabytes (milhões de bytes) a mais de memória,
também existe o megaparsec (Mpc) para satisfazer a necessidade dos astrônomos

35
expressarem seus números gigantes. Algumas galáxias que vemos em belas fotografias
do telescópio espacial estão a vários Mpc de distância.

Máquina do tempo
NO ENTANTO, TALVEZ A INFORMAÇÃO MAIS EXTRAORDINÁRIA que
aprendemos com as unidades de distância astronômicas seja o fato de que olhar para o
céu é como fazer uma viagem no tempo.

Se eu vejo uma estrela que está a precisamente mil anos-luz de distância, significa que a
luz partiu desse astro há exatos mil anos. A estrela pode até não existir mais – mas eu a
vejo agora como ela era no passado.

A galáxia de Andrômeda, localizada na constelação de mesmo nome, é o objeto mais


distante de todo o Universo que podemos ver a olho nu. Ela está a dois milhões de anos-
luz da Terra. Quando percebemos aquela mancha esbranquiçada contra o fundo escuro
do céu, estamos vendo Andrômeda como ela era na época em que os primeiros
hominídeos começaram a caminhar pela Terra.

Interessar-se pelo firmamento é uma viagem de descobrimento. Uma viagem no tempo


e no espaço, na companhia dos maiores números que você já ousou imaginar.

36
As 88 maravilhas do céu
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Ao contemplar uma noite estrelada nossos olhos vagueiam diante de abismos


imensos, profundidades colossais que simplesmente ignoramos. Para nossos olhos, as
estrelas são pequenas luzes de brilhos diferentes ou, como pensavam os antigos hebreus,
orifícios de tamanhos variados por onde se vislumbra uma luz celestial.

Longe de ser uma concepção tola, ela advém da observação visual – mas felizmente não
dispomos apenas dos olhos para investigar a natureza.

Nossos olhos foram projetados para fornecer uma visão


tridimensional do mundo que nos rodeia. Mas não somos
capazes de perceber a profundidade além de uma certa
distância.

No firmamento, essa falta de percepção chega ao seu


extremo e isso gera a falsa impressão de que a Lua, uma
estrela ou uma nebulosa estão eqüidistantes de nós. Para oa
gregos, eles estavam todos numa imensa esfera que
circundava a Terra: a esfera celeste (gravura à direita). O Equador terrestre se
projeta na esfera, dando
Junte os pontos origem ao Equador
APESAR DE INCORRETO (e difícil de perceber na Celeste.
prática!), o conceito da esfera celeste revelou-se um
excelente sistema de referência centrado na Terra, no observador humano.

Outra ação involuntária do ser humano é associar os grupos de estrelas mais brilhantes a
figuras conhecidas, como num jogo de juntar os pontos. Esses desenhos imaginários são
as constelações. Constelação, do latim constellatio, significa reunião de estrelas, um
agrupamento arbitrário de estrelas que representa a silhueta de entes mitológicos,
animais ou objetos.

37
A constelação da Baleia é uma das mais fáceis de
reconhecer no firmamento.

Criar constelações é um processo muito particular. Para os chineses, por exemplo,


existem mais de duzentas delas, pois é costume local utilizar poucas estrelas para
compor um desenho. A maioria dos nomes das constelações ocidentais é de origem
grega e a elas estão associadas belíssimas histórias daquela rica mitologia.

Hoje, imersos nas luzes artificiais das cidades e longe do poder criativo dos povos
antigos, é difícil imaginar que Orion, por exemplo, seja a figura de um caçador. É
sempre mais fácil associar figuras mais familiares, é o caso do Sagitário, que lembra
mais um bule que um ser metade homem, metade cavalo.

O conceito moderno
PARA MINIMIZAR OS INEVITÁVEIS REARRANJOS ESTELARES e facilitar o
estudo do céu, os astrônomos concordaram em fixar o número das constelações em 88,
porém modificando o seu conceito.

Para a Astronomia moderna, constelação é simplesmente uma área da esfera celeste.


Assim, tudo o que observamos no céu, seja a olho nu ou com poderosos telescópios,
está sempre “dentro” de uma determinada constelação.

38
As constelações
Lista completa

Nome em Estrela mais


Nome latino Abrev Área Região
português brilhante
Ara Altar Ara Alpha Arae 237 Austral
Andromeda Andrômeda And Alpheratz 722 Boreal
Aquarius Aquário Aqr Sadal Melik 980 Zodiacal
Circumpolar
Apus Ave do Paraíso Aps Alpha Apodis 206
Sul
Aquila Águia Aql Altair 652 Equatorial
Libra Balança Lib Zubenelgenubi 538 Zodiacal
Cetus Baleia Cet Menkar 1231 Equatorial
Bootes Boieiro Boo Arcturus 907 Equatorial
Buril (do
Caelum Cae Alpha Caeli 125 Austral
Escultor)
Pyxis Bússola Pyx Alpha Pyxids 221 Austral
Cabeleira de
Coma Berenices Com Diadema 386 Equatorial
Berenice
Alpha Circumpolar
Chamaeleon Camaleão Cha 132
Chamaeleontis Sul
Capricornus Capricórnio Cap Algedi (Al Giedi) 414 Zodiacal
Caranguejo (ou
Cancer Cnc Acubens 506 Zodiacal
Câncer)
Carena (ou
Carina Car Canopus 494 Austral
Quilha)
Carneiro (ou
Aries Ari Hamal 441 Zodiacal
Áries)
Cassiopea Cassiopéia Cas Schedar 598 Boreal
Equuleus Cavalo Menor Equ Kitalpha 72 Equatorial
Canis Venatici Cães de Caça CVn Cor Caroli 465 Boreal
Canis Maior Cão Maior Cma Sirius 380 Equatorial
Canis Minor Cão Menor Cmi Procyon 183 Equatorial
Circumpolar
Cepheus Cefeu Cep Alderamin 588
Norte
Centaurus Centauro Cen Toliman 1060 Austral
Cygnus Cisne Cyg Deneb 804 Boreal
Auriga Cocheiro Aur Capella 657 Boreal
Circinus Compasso Cir Alpha Circini 93 Austral
Corona Alpha Coronae
Coroa Austral CrA 128 Austral
Australis Austra

39
Nome em Estrela mais
Nome latino Abrev Área Região
português brilhante
Corona Borealis Coroa Boreal CrB Alphecca, Gemma 179 Boreal
Corvus Corvo Crv Alchiba 184 Equatorial
Crux Cruzeiro do Sul Cru Acrux 68 Austral
Delphinus Delfim Del Sualocin 189 Equatorial
Dorado Dourado Dor Alpha Doradus 179 Austral
Circumpolar
Draco Dragão Dra Thuban 1083
Norte
Eridanus Eridano Eri Achernar 1138 Equatorial
Scorpius Escorpião Sco Antares 897 Zodiacal
Escudo (de
Scutum Sct Alpha Scuti 109 Equatorial
Sobieske)
Sculptor Escultor Scl Alpha Sculptoris 475 Austral
Esquadro (ou
Norma Nor Gamma2 Normae 165 Austral
Régua)
Phoenix Fênix Phe Ankaa 469 Austral
Sagitta Flecha Sge Alpha Sagittae 80 Equatorial
Fornax Forno (Químico) For Alpha Fornacis 398 Austral
Gemini Gêmeos Gem Castor 514 Zodiacal
Alpha Circumpolar
Camelopardus Girafa Cam 757
Camelopardus Norte
Grus Grou Gru Al Nair 366 Austral
Hercules Hércules Her Rasalgethi 1225 Boreal
Hydra Hidra Hya Alphard 1303 Equatorial
Circumpolar
Hydrus Hidra Macho Hyi Alpha Hydri 243
Sul
Indus Índio Ind Alpha Indi 294 Austral
Lacerta Lagarto Lac Alpha Lacertae 201 Boreal
Leo Leão Leo Regulus 947 Zodiacal
Leo Minor Leão Menor Lmi 46 Lmi 232 Boreal
Lepus Lebre Lep Arneb 290 Equatorial
Lynx Lince Lyn Alpha Lyncis 545 Boreal
Lyra Lira Lyr Vega 286 Boreal
Lupus Lobo Lup Alpha Lupi 334 Austral
Máquina
Antlia Ant Alpha Antiliae 239 Austral
Pneumática
Circumpolar
Mensa Mesa (Monte) Men Alpha Mensae 153
Sul
Microscopium Microscópio Mic Alpha Microscopii 210 Austral
Musca Mosca Mus Alpha Muscae 138 Austral
Octans Oitante Oct nu Octantis 291 Circumpolar

40
Nome em Estrela mais
Nome latino Abrev Área Região
português brilhante
Sul
Orion Órion Ori Betelgeuse 594 Equatorial
Pavo Pavão Pav Peacock 378 Austral
Piscis Austrinus Peixe Austral PsA Fomalhaut 245 Austral
Volans Peixe Voador Vol Alpha Volantis 141 Austral
Pisces Peixes Psc Alrescha 889 Zodiacal
Perseus Perseu Per Mirfak 615 Boreal
Pegasus Pégaso Peg Markab 1121 Equatorial
Pictor Pintor Pic Alpha Pictoris 247 Austral
Columba Pomba (de Noé) Col Phaet 270 Austral
Popa (do navio
Puppis Pup Naos 673 Austral
Argus)
Vulpecula Raposa Vul Alpha Vulpeculae 268 Equatorial
Horologium Relógio Hor Alpha Horologii 249 Austral
Reticulum Retículo Ret Alpha Reticuli 114 Austral
Sagittarius Sagitário Sgr Rukbat 867 Zodiacal
Serpentário
Ophiuchus Oph Ras Alhague 948 Equatorial
(Ofiúco)
Serpente (Cabeça
Serpens Ser |Unukalhai 636 Equatorial
e Cauda)
Sextans Sextante Sex Alpha Sextantis 314 Equatorial
Crater Taça Crt Alkes 282 Equatorial
Telescopium Telescópio Tel Alpha Telescopii 252 Austral
Taurus Touro Tau Aldebaran 797 Zodiacal
Triangulum Triângulo Tri Rasalmothallah 132 Boreal
Triangulum
Triângulo Austral TrA Atria 110 Austral
Australe
Tucana Tucano Tuc Alpha Tucanae 295 Austral
Monoceros Unicórnio Mon Alpha Monocerotis 482 Equatorial
Ursa Maior Ursa Maior Uma Dubhe 1280 Boreal
Circumpolar
Ursa Minor Ursa Menor Umi Polaris 256
Norte
Vela Vela Vel Suhail al Muhlif 500 Austral
Virgo Virgem Vir Spica 1294 Zodiacal
TOTAL 88 constelações

41
O círculo dos animais
JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

Praticamente todos os povos da Terra deram nomes e inventaram histórias sobre as


estrelas. Às vezes essas lendas falavam sobre grupos de estrelas que recordavam algo
familiar. Pessoas de diferentes lugares, que viveram em diferentes épocas, muitas vezes
escolhiam um mesmo grupo de estrelas para contar uma história, sua própria história.

Assim surgiram as constelações. Mais que um mero depositório de lendas, as figuras no


céu ajudavam os povos antigos em suas atividades agrícolas e náuticas. As constelações
mais antigas que se tem notícia foram criadas pelos babilônicos, povos que habitavam a
Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates (hoje Iraque).

Havia dois sistemas, o zodiacal, relacionado à agricultura, e o equatorial, ligado à


navegação. Para determinar o início das estações (e a melhor época do ano para o
plantio e a colheita) eram utilizadas as constelações do sistema zodiacal.

Zodíaco
A PALAVRA ZODÍACO VEM DO GREGO zodion, animal, e kyklos, círculo. Nos
primeiros zodíacos havia apenas dez constelações: Touro, Gêmeos, Leão, Virgem,
Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, Peixes e Áries. Depois foram introduzidos
Câncer e Balança, fazendo o zodíaco ter um número de partes igual ao numero de meses
do ano.

Os nomes das constelações eram associados à mitologia de cada civilização. Era um


modo eficiente de transmitir as descrições do céu de geração em geração – mas também
uma série de superstições usadas para explicar tudo àquilo que não se conseguia
entender racionalmente.

42
Foi assim que surgiu a idolatria dos astros. A Para onde foi a era de Aquário?
Lua, dona da noite, o Sol, senhor do dia, e até
algumas estrelas que teimavam em surgir no
céu no tempo das secas ou enchentes
passaram a ser apontadas como causadores
destas.

E se os astros mudavam o tempo também


mudavam a vida do Homem. Assim a A precessão dos equinócios é um dos
astrologia, que inicialmente visava prever o três movimentos básicos da Terra (os
início das estações para fins agrícolas, outros dois são a rotação e a
ganhou status de poder divinatório. translação). Esse movimento é
equivalente ao bamboleio de um pião.
Um método que procura associar a posição de Enquanto gira em torno de seu próprio
certos astros com o destino e a conduta moral eixo a cada 24 horas nosso planeta faz
dos seres humanos. Despida de seu caráter mesmo, só que demora 26 mil ano para
metafísico, mais tarde ela daria origem a completar uma volta. A precessão dos
ciência Astronomia. equinócios antecipa (precede) o início
da primavera (equinócio) e muda a
Signos data da entrada do Sol em cada signo.
DO NOSSO PONTO DE VISTA, fixo na Quando os babilônios observavam o
Terra, o Sol transita por um certo grupo de céu o equinócio da primavera
constelações ao longo de um ano (na verdade (chamado ponto vernal) estava na
é a Terra quem muda sua posição em relação constelação de Touro. Mas a partir do
ao Sol). ano 2150 a.C ele foi para Áries. Hoje
está em Peixes, e ali permanecerá até
Essa trajetória aparente do Sol é uma quase o ano 2600, quando então entrará
circunferência que chamamos eclíptica. A em Aquário.
eclíptica atravessa não doze, mas treze
constelações. Portanto, existem treze signos.

Originalmente, um signo é a constelação ocupada pelo Sol numa certa época do ano. Se
você nasceu quando o Sol estava em Câncer, o signo correspondente é Câncer. Mas o
céu astrológico não corresponde ao céu real. Cada signo ocupa exatos 30 graus ao longo
da eclíptica (pois 30 vezes 12 é 360, uma volta completa).

Porém, as constelações não têm o mesmo tamanho. Por isso os períodos em que o Sol
permanece em cada uma não são iguais. Pelo contrário, variam bastante conforme
mostra o quadro abaixo. O céu astrológico também ignora a precessão dos equinócios –
veja o quadro Para onde foi a Era de Aquário?

43
Constelação Entrada Saída Total de dias
Sagitário 18 de dezembro 18 de janeiro 32
1 Capricórnio 19 de janeiro 15 de fevereiro 28
2
Aquário 16 de fevereiro 11 de março 24
3
4 Peixes 12 de março 18 de abril 38
5 Áries 19 de abril 13 de maio 25
6 Touro 14 de maio 19 de junho 37
7 Gêmeos 20 de junho 20 de julho 31
8 Câncer 21 de julho 9 de agosto 20
9
Leão 10 de agosto 15 de setembro 37
10
11 Virgem 16 de setembro 30 de outubro 45
12 Libra 31 de outubro 22 de novembro 23
13 Escorpião 23 de novembro 29 de novembro 7
Ofiúco 30 de novembro 17 de dezembro 18
Atenção: as datas podem variar ligeiramente de um ano para outro.

Dentro da FAIXA ZODIACAL, podemos ver O zodíaco na verdade representa


não doze ou treze, mas VINTE E QUATRO uma faixa que se estende por oito
constelações diferentes. graus acima e abaixo da eclíptica.
A eclíptica, conforme já
mencionado, é a trajetória aparente que o Sol faz no céu durante um ano, contra o fundo
de estrelas distantes.

O zodíaco é uma faixa centrada na eclíptica onde a maior parte dos planetas do Sistema
Solar podem ser observados ao longo de um ano. Todo o céu está dividido em 88
constelações. E dentro da faixa zodiacal podemos ver não doze ou treze, mas nada
menos que vinte e quatro constelações diferentes.

44
História das constelações ocidentais
1ª parte

JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

As constelações mais antigas surgiram entre os povos da Mesopotâmia, há quatro


mil anos. Tudo indica que eram utilizadas como orientação nas atividades agrícolas e
náuticas.

Pertence a Claudio Ptolomeu (127-145 d.C.) um dos mais importantes catálogos


estelares, o Almagesto, uma fabulosa obra composta por 13 volumes e onde estão
relacionadas 1022 estrelas de 48 constelações, sendo 12 zodiacais, 21 ao Norte e 15 ao
Sul, inclusive as quatro estrelas principais do Cruzeiro do Sul, na época pertencentes à
constelação do Centauro.

As 48 constelações relacionadas por Ptolomeu no Almagesto


Andrômeda Aquário Águia Altar Navio Carneiro
Cocheiro Boieiro Caranguejo Cão Maior Cão Menor Capricórnio
Cassiopéia Centauro Cefeu Baleia Coroa Austral Coroa Boreal
Corvo Taça Cisne Delfin Dragão Cavalo Menor
Erídano Gêmeos Hércules Hidra Fêmea Leão Lebre
Balança Lobo Lira Ofiúco Órion Pégasus
Perseu Peixes Peixe Austral Flecha Sagitário Escorpião
Serpente Touro Triângulo Ursa Maior Ursa Menor Virgem

Parte do catálogo de Ptolomeu foi baseado no de Hiparco, elaborado


quatro séculos antes de Cristo. Foi Hiparco quem introduziu o
conceito de grandeza, associado ao brilho (e não às dimensões) das
estrelas.

Ele chamou as estrelas mais luminosas de "primeira grandeza",


assim prosseguindo até as menos brilhantes, no limite da
visibilidade humana, chamadas por Hiparco de estrelas de "sexta
grandeza". O Almagesto, de
Ptolomeu.
Magnitudes e novas constelações
Ptolomeu adotava o mesmo sistema, usando o termo magnitude em vez de grandeza.
Bem mais terde, no século XIX, descobriu-se que os sentidos humanos respondem aos
estímulos de modo não linear.

No caso do brilho das estrelas, isto significa que para se ter a mesma sensação
provocada pelo brilho de uma estrela de primeira grandeza seriam necessárias 2,5
estrelas de segunda grandeza ou 2,5 × 2,5 = 2,5² estrelas de terceira grandeza ou ainda
2,5³ estrelas de quarta e assim por diante. Esta é a semente do conceito moderno de
magnitude.

45
A época das Grandes Navegações deu início a um conhecimento mais amplo das partes
do céu ao Sul, onde viviam os povos que criaram as constelações mais antigas.

O astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) catalogou Cabeleira de Berenice,


uma constelação citada por Eratóstenes, no século III a.C. Um ano depois, o astrônomo
holandês Johannes Bayer (1572-1625) relacionou 60 constelações, incluindo as
circumpolares Sul, em sua obra Uranometria.

Bayer ainda estabeleceu que as estrelas de cada constelação seriam designadas por letras
do alfabeto grego: Alfa ( ) para a mais brilhante, Beta ( ) para a segunda mais
brilhante e assim por diante. Nem sempre esse conceito se aplica.

As 12 constelações acrescentadas por Bayer em Uranometria


Ave-do-Paraíso Camaleão Dourado Grou Mosca Triângulo Austral
Hidra Macho Pavão Fênix Índio Tucano Peixe Voador

A contribuição de Tycho Brahe


Cabeleira de Berenice

Mais tarde, em 1690, o astrônomo amador Johannes Höwelcke (1611-1687), conhecido


pelo nome latino Hevelius, nomeou mais nove constelações na obra Sete Cartas
Celestes.

Em 1697 o arquiteto do rei Luís XV, Augustin Royer, desmembrou a Crux Australis da
constelação do Centauro e a partir daí surgiu nas cartas celestes, oficialmente, a
constelação do Cruzeiro do Sul. Bartschius, em 1624, nomeou a constelação da Pomba.

As 9 constelações relacionadas por Hevelius em Sete Cartas Celestes


Girafa Cães de Caça Lagarto
Leão Menor Lince Unicórnio
Escudo Sextante Raposa

As 2 constelações acrescentadas por Royer e Bartschius

Antes de Lacaille, Argos era a


maior constelação do firmamento.
Cruzeiro do Sul Pomba

46
As constelações modernas
Quem mais influiu na criação de novas constelações foi, sem dúvida, o abade francês
Nicolas-Louis Lacaille (1713-1762).

Em 1751 ele viajou até o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, onde permaneceu
por alguns anos para estudar o firmamento austral.

Como resultado, introduziu 14 novas constelações, homenageando as ciências e


algumas obras do gênio humano.

Lacaille também dividiu Argos, o navio, em quatro constelações menores, pois seu
tamanho a tornava pouco útil como referência.

Fixavam-se assim, as 88 constelações conhecidas pela cultura ocidental.

As 14 constelações descritas por Lacaille em Memórias e Céu Estrelado


Máquina Pneumática Buril Compasso Forno Relógio
Mesa Microscópio Esquadro Oitante Pintor
Bússola Retículo Escultor Telescópio

A divisão da constelação de Argus*


Quilha Popa Vela

* excluindo Bússola

47
História das constelações ocidentais
Final

JOSÉ ROBERTO V.
COSTA
O Universo é tudo para nós

O modo como “juntamos os pontos” e enxergamos uma imagem familiar no céu


varia muito para cada civilização, para cada cultura. Assim, é natural que hoje não
consigamos compreender certos desenhos representados nas constelações. Grande parte
delas remonta a mais de quatro mil; legadas pelos gregos em sua rica mitologia.

Na constelação do Touro, por exemplo, há um aglomerado estelar que recebeu uma


denominação especial: para os gregos eram as Plêiades, ou Atlântidas, as sete filhas de
Atlas e Plêione, transformadas em pombas por Júpiter, que as colocou no céu.

Para algumas tribos indígenas no Brasil eram simplesmente um enxame de abelhas – e


para outras uma bela índia de nome Ceiui.

Outro asterismo muito significativo fica na constelação da Ursa Maior. The Big dipper
(a Grande Concha), era conhecida como La Casserole (a caçarola) pelos franceses, mas
na Inglaterra Medieval era um arado de madeira e para os habitantes do Norte da
Europa, uma carruagem medieval (veja a figura ao lado).

As constelações que ninguém queria


O PROCESSO QUE RESULTOU NAS CONSTELAÇÕES ATUAIS levou séculos e
muitas propostas nunca foram aceitas ou simplemente cairam no desuso. Certa vez, o
astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742) tentou bajular seu soberano, o rei Jorge
II, nomeando uma constelação como o Roble de Jorge.

Felizmente não deu certo. Mais tarde, outro conterrâneo de Halley, William Herschel,
tentou fazer o mesmo ao descobrir o sétimo planeta. Para Herschel, Urano também
deveria se chamar Jorge.

No século XVII Augustin Royer chamou a constelação do Lagarto de Cetro e Mão da


Justiça. Sua idéia ficou apenas em alguns registros da época. Em 1787 o alemão Johann
Bode decidiu que o Lagarto deveria se chamar Glória de Frederico, em homenagem a
Frederico II da Prússia. Mas entre Andrômeda e Cisne brilha até hoje a constelação do
Lagarto.

48
Constelações do futuro
AS CONSTELAÇÕES SÃO MERAMENTE UM
EFEITO ILUSÓRIO. Na verdade as estrelas estão a
diferentes distâncias e teriam sua "forma"
completamente modificada se vistas por um observador
longe da Terra.

Outro aspecto relevante, é que as estrelas não estão


fixas em suas posições. Cada estrela possui um
movimento próprio, inclusive o Sol. O efeito
combinado só é visível com o passar do tempo. Muito O Cruzeiro do Sul hoje e no
tempo. futuro distante. Use o botão
abaixo para alternar entre as
Abaixo à esquerda, as distâncias reais das estrelas do imagens.
Cruzeiro do Sul com respeito ao Sol. À direita, o
aspecto atual dessa constelação e como ela será daqui a
dez mil anos.

A estrela alfa (Acrux) está a 370 anos-luz do


Sol; beta (Mimosa) a 490; delta (Magalhães) a
570; gama (Gacrux) a 220 e epsilon
(Intrometida) a 60 anos-luz do Sol.

49

Você também pode gostar