Você está na página 1de 58

JOSÉ ROBERTO V.

COSTA
O Universo é tudo para nós

Há dez anos, quando esta seção foi criada, nosso conhecimento sobre o Sistema
Solar não era não é o mesmo de agora. E quanta coisa mudou! Mesmo assim, desde o
início o título foi “O Novo Sistema Solar”. Por que?

Na década em que Plutão foi descoberto (1930), pensava-se que Saturno era o único
planeta com anéis. Somente em 1977 os anéis de Urano seriam descobertos, seguidos
pelos de Júpiter (1979), e os de Netuno (1989). Nessa época também não se conhecia o
Cinturão de Kuiper, ou outro anel de asteróides além da órbita de Netuno. E os
astrônomos sequer suspeitavam que o número total de satélites passaria de cem. O
Sistema Solar vem se modificando lentamente desde sua formação – mas a visão que
temos dele se enriquece no ritmo das descobertas, cada vez mais freqüentes.

Nossos conhecimentos se aprimoram muito mais rapidamente que o sistema de ensino é


capaz de absorver. É errado, mas ainda se diz que os planetas se movem em órbitas
circulares, igualmente distribuídas sobre um plano imaginário, com o Sol no centro.

Vivemos num intrincado conjunto de corpos celestes que muitas vezes desafiam nossas
tentativas de classificação. Nós os chamamos de planetas (sejam rochosos, gasosos ou
anões), satélites, cometas, asteróides... Todos estão em movimento, percorrendo órbitas
mais ou menos elípticas, nas mais diversas inclinações umas com relação às outras.

Nosso aprendizado também se move. Esta seção é um pequeno painel sobre este saber
acumulado. Não esquecendo de mencionar os caminhos, não raras vezes tortuosos, mas
que vem nos ajudando a perceber este sempre Novo Sistema Solar.

1
O fascínio dos eclipses
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

O Universo é tudo para nós

Eclipse significa o desaparecimento aparente e temporário de um corpo celeste


pela interposição de outro. A palavra vem do grego ekleipsis, que significa desmaio.

O astro interceptado escurece, como se sofresse um desmaio, daí o designativo de


origem grega, que se costuma reservar para os casos do Sol e da Lua, embora também
ocorram eclipses entre outros astros, como os satélites de Júpiter ou mesmo entre
estrelas distantes.

Mistério revelador
Para muitas pessoas os eclipses evocam mistério, mas para a ciência eles servem
justamente para desvendá-los. Os eclipses da Lua forneceram a primeira evidência da
forma da Terra e também foram utilizados no estudo da alta atmosfera terrestre.

O tamanho e a distância da Lua também foram revelados com admirável precisão, ainda
antes de Cristo, através de cálculos simples a partir da observação de eclipses lunares.

Mas a principal contribuição científica dos eclipses solares sem dúvida está nos estudos
da atmosfera solar, que se torna visível durante os poucos minutos da escuridão diurna
propiciada por um eclipse total.

Disponível em www.zenite.nu?eclipse
Acesso em 3/abr/2009

2
Os Eclipses Lunares
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

ILUMINADA PELO SOL, A TERRA SEMPRE PROJETA UMA IMENSA SOMBRA


NO ESPAÇO, na direção oposta aos raios solares. Ela se estende em forma de cone por
mais de um milhão de quilômetros e se divide em duas regiões: a penumbra e a umbra,
ou sombra propriamente dita, sendo que o cone de penumbra envolve o cone de sombra.
Como a Lua gira em torno da Terra, vez por outra ela pode adentrar no cone de sombra
ou penumbra. São os eclipses da Lua.

Para que aconteça um eclipse lunar é necessário que a Terra esteja exatamente entre a
Lua e o Sol. Se o nosso satélite girasse no mesmo plano da órbita terrestre haveria
eclipse todos os dias de Lua Cheia. Como isso não acontece, é preciso que a Lua Cheia
coincida com a passagem pelos nodos, que são as interseções do plano da órbita da
Terra com o plano da órbita lunar.

3
Como a Terra é cerca de 49 vezes maior que a Lua, sua sombra
pode envolver todo o nosso satélite, quando então dizemos que o
eclipse é total. Se a Lua atravessa somente o cone de penumbra da
Terra ocorre um eclipse penumbral. Uma imersão parcial no cone
de sombra configura um eclipse lunar parcial.

Mesmo totalmente imersa na sombra gerada pela Terra, a Lua não


desaparece por completo. A atmosfera terrestre desvia os raios
solares para o eixo do seu cone de sombra.

A Lua então se tinge de um belo vermelho-alaranjado e todas as


populações da Terra que tiverem a Lua Cheia acima de seus
horizontes assistirão ao fenômeno. Um observador na Lua veria o
Sol totalmente encoberto pelo nosso planeta.

A Lua leva cerca de 1 hora para transitar da penumbra à sombra,


enquanto outra hora é necessária para que o eclipse seja total. A
fase de obscurecimento completo dura cerca de 1 hora e 30
minutos. Duas horas mais tarde o eclipse termina.

Portanto um eclipse lunar demora cerca de 5 horas e 30 minutos, tempo mais do que
suficiente para observações detalhadas.

Eclipse lunar total.

A cada ano ocorrem no máximo sete eclipses, sendo que no mínimo dois são lunares.
Após 18 anos e 11 dias eles voltam a ocorrem numa mesma seqüência. É o período de
Saros, que já era conhecido na antiga civilização dos caldeus. Em cada Saros ocorrem
70 eclipses, sendo 29 lunares.

Disponível em www.zenite.nu?eclipselunar
Acesso em 3/abr/2009

4
Os Eclipses Solares
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

DA MESMA FORMA QUE COM O BRAÇO ESTENDIDO À FRENTE DO CORPO


podemos encobrir o Sol no horizonte apenas com o dedo polegar, a Lua, em seu
movimento em torno da Terra, pode nos ocultar o astro-rei por alguns minutos. São os
chamados eclipses do Sol.

Cuidado: nunca olhe diretamente para o Sol.

Para que ocorra um eclipse solar é necessário que a Lua esteja exatamente entre a Terra
e o Sol. Se o nosso satélite girasse no mesmo plano da órbita terrestre haveria eclipses
todos os dias de Lua Nova. Como isso não acontece, é preciso que a Lua Nova coincida
com a passagem pelos nodos, que são as interseções do plano da órbita da Terra com o
plano da órbita lunar.

A Terra e a Lua em escala

Como a Lua é cerca de 49 vezes menor que a Terra, sua sombra é incapaz de envolver
todo o nosso planeta. Durante um eclipse solar uma região oval de escuridão com cerca
de 160 km de largura por 600 km de comprimento toca a superfície terrestre e, à medida
que a Terra gira e avança pelo espaço, a sombra varre o planeta com uma velocidade de
aproximadamente 1.800 km/h.

Apenas as populações situadas no interior da faixa percorrida pela sombra têm a


oportunidade de assistir a um dos mais belos e impressionantes fenômenos celestes. O
5
escurecimento total é de tal ordem que se pode avistar as estrelas mais brilhantes.
Todavia, não demora mais que 7 minutos e meio. Próximo à faixa de sombra, na região
conhecida como penumbra, o fenômeno é parcial.

Durante um eclipse do Sol também pode ocorrer que a Lua se encontre tão afastada da
Terra que não consiga encobrir todo o disco solar, deixando escapar um anel de luz
visível. Daí porque esse tipo de eclipse do Sol recebe o nome de anular.

A cada ano ocorrem pelo menos dois eclipses, sendo nesse caso os dois solares. Após
18 anos e 11 dias eles voltam a ocorrem numa mesma seqüência. É o período de Saros,
que já era conhecido na antiga civilização dos Caldeus. Em cada Saros ocorrem 70
eclipses, sendo 41 solares. Para que um eclipse total do Sol volte a ocorrer num mesmo
lugar são necessários 360 anos, aproximadamente.

Disponível em www.zenite.nu?eclipsesolar
Acesso em 3/abr/2009

6
Descobrindo o Sistema Solar
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Quem foi descoberto primeiro, a Terra ou Marte? A pergunta, em princípio tola,


na verdade tem fundamento. Não há como saber quem foi o autor da façanha, mas o fato
é que bem antes de alguém descobrir que a Terra era um planeta, tivemos a certeza de
que Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno eram! Descobrir planetas no céu até que
foi fácil. Mas daí para nossos antepassados deduzirem que também habitavamos um
deles foi outra história.

Na Antiguidade, ao observar o céu, certas pessoas


notaram que alguns astros faziam um trajeto muito
estranho. Se você já passou uma noite ao ar livre
deve ter percebido que um grupo qualquer de
estrelas "move-se" em bloco pelo céu, do leste para
o oeste, mantendo as mesmas distâncias aparentes
entre si.

Mas existe uma classe de astros que subjuga essa


ordem celeste. Ao observá-los em relação às
estrelas próximas veremos, ao longo dos dias, que
ora estarão adiante delas, ora ficarão para trás.

Depois retomarão o caminho e seguirão adiante, mas sem estar sempre com um grupo
específico de estrelas. Esse movimento em ziguezague deu-lhes o apelido de errantes.
Ou planetas, em latim.

Problema deles
ERAM CINCO OS PLANETAS. Havia um que "corria" próximo ao Sol,
ziguezagueando veloz em seu caminho, às vezes pouco antes do nascer, outras vezes
pouco depois que o astro-rei se escondia no horizonte. Deram-lhe o nome de Hermes, o
mensageiro dos deuses. Nós usamos até hoje o nome latino: Mercúrio.

Também havia um outro que vagava por perto, tão belo e cintilante que lhe deram um
significado feminino: era Afrodite. Ou Vênus, a deusa da beleza.

Outro errante costumava brilhar em vermelho cor de sangue no meio da noite. Para os
antigos era Ares, um planeta ferido de morte - ou Marte, o deus da guerra.

Eram todos nomes de deuses da mitologia greco-romana. Mas não


deuses quaisquer, eram os manda-chuvas do Olimpo.

O poderoso Zeus, senhor supremo, também estava lá. Para os


antigos era o planeta mais brilhante depois de Vênus, com uma
coloração branco-alaranjada, sereno, como um deus deve ser.
Era Júpiter.

Por fim, havia aquele que os gregos chamavam de Cronos, o senhor

7
do tempo, pai de Júpiter e o mais jovem entre os Titãs. Para nós ficou Saturno, o senhor
dos anéis.

Todos errantes no céu, senhores de seus próprios caminhos. Mas a Terra, que os gregos
chamavam Gaia, não era um planeta: não vagávamos sem rumo pelo céu, estávamos
bem presos ao chão e tudo parecia girar à nossa volta. Errantes eram os outros.

Tem mais um ali


MAS AFINAL, NADA HAVIA DE ERRADO com o movimento dos planetas. Como a
Terra, eles simplesmente giravam em torno do Sol. Ao contrário das estrelas, que de tão
distantes parecem fixas no firmamento. O efeito conjunto do movimento da Terra e de
um planeta provoca a ilusão de que ele está regredindo no céu.

Na verdade, as estrelas também se movem, mas como estão muito longe custamos a
perceber, do mesmo modo que quando viajamos de carro percebemos muito mais
facilmente o deslocamento aparente dos postes ao longo da estrada que das nuvens no
horizonte.

Astros indecisos: na medida em que a Terra alcança


Marte, este exibe um movimento retrógrado contra o
fundo de estrelas distantes. Este movimento em forma
de laço deu origem ao nome planeta, ou errante em
grego.

O tempo passou. Inventaram o telescópio e


A Terra NÃO ERA UM PLANETA: não
esqueceram-se dos deuses gregos. Um belo
dia um astrônomo inglês descobriu um novo vagávamos sem rumo pelo céu. ERRANTES
planeta. Ninguém podia vê-lo a olho nu mas eram os outros..
ele tinha o mesmo movimento errático dos
demais.

O pior é que lhe deram o nome de Jorge, em homenagem ao rei Jorge III da Inglaterra.
Sorte que o bom senso prevaleceu e a comunidade científica rejeitou o nome e o
chamou de Urano, céu em grego. Sessenta e cinco anos mais tarde, em 1846, foi a vez
de Netuno - na mitologia grega, Poseidon, o deus dos mares.

Plutão só foi descoberto no século XX (em 1930) e desde então ainda não completou
uma volta em torno do Sol. Para Hades, também uma divindade do Olimpo, ainda não
se passou nem um ano desde que o encontraram.

8
Asteróides em dose dupla
AS DESCOBERTAS NÃO PARARAM POR AÍ. Em 1951 o
astrônomo de origem holandesa Gerard Kuiper (1905-1973) propôs a
existência de um segundo cinturão de asteróides além da órbita de
Plutão.

Muitos desses corpos seriam compostos por materiais voláteis, que


evaporariam caso chegassem perto do Sol, formando longas caudas de gás e poeira.
Hoje essa região é conhecida como Cinturão de Kuiper.

Em 1992 foram descobertos Smiley e Karla, dois pequenos corpos na região proposta
por Kuiper. Hoje se conhecem mais de 600 objetos no cinturão de Kuiper, entre eles
Quaoar, com 1.250 km, quase a metade do tamanho de Plutão e um volume superior à
soma de todos os asteróides conhecidos.

O Sistema Solar atual é formado pelo Sol, os nove planetas conhecidos, um anel de
asteróides entre Marte e Júpiter e outro chamado Cinturão de Kuiper, localizado depois
da órbita de Netuno. Sem falar nos cometas.

O novo Sistema Solar (gravura fora de escala).

E quanto à Terra? Bem, afinal alguém descobriu que fazíamos parte da família do Sol.
Isso foi por volta do ano 500 antes de Cristo. Hoje, é irresistível brincar com a idéia de
que enquanto o Brasil fazia 500 anos, a Terra, cujo dia também se comemora em 22 de
abril, "completava 2.500 anos". Feliz aniversário!

Disponível em www.zenite.nu?sistemasolar
Acesso em 3/abr/2009

9
Zoológico espacial
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Estrelas, planetas rochosos e gasosos, planetas anões, satélites, cometas e


asteróides... Quais as diferenças entre todos eles? Chegou a hora de tirar todas as suas
dúvidas e saber quem é quem neste verdadeiro zoológico espacial. Então, sem mais
demora, vamos logo a classificação desses “bichos”!

O Sol é uma estrela – uma estrela anã. Existem estrelas de volumes,


massas e cores variadas. Mas há algo em comum a todas elas. As estrelas
são constituídas, em sua maior parte, de hidrogênio e o hélio. Esses gases
estão na forma de plasma, o quarto estado da matéria. Toda estrela é um
corpo celeste feito de plasma que se mantém coeso devido a força
gravitacional de sua enorme massa.

Mais uma coisa: em qualquer estrela ocorrem reações termonucleares.


Reações no núcleo do átomo, convertendo hidrogênio em hélio (e hélio
em outros elementos) com enorme liberação de energia. Estrelas geram
radiação eletromagnética (luz visível, radiação e calor) em quantidades
extraordinárias.

Estrelas não são habitáveis, mas somente graças a elas a vida pode surgir
em algum planeta ao redor.

Alguns exemplos de estrelas

Nome Constelação Tipo Cor Distância

Betelgeuse Órion supergigante vermelha 430 anos-luz

Acrux Cruzeiro do Sul subgigante azul 320 anos-luz

Arcturus Boieiro gigante laranja 37 anos-luz

Sol — anã* amarela 8 minutos-luz

Kapteyn Pintor subanã vermelha 13 anos-luz

* seqüência principal

10
Planetas não emitem luz e radiação como as estrelas. Mas além disso,
para que um corpo celeste ser chamado de planeta ele deve: 1) estar em
órbita ao redor do Sol, 2) ter uma forma arredondada e 3) ser um objeto
de dimensão predominante entre os demais que estiverem em órbitas
vizinhas.

O resultado prático dessa definição é que o Sistema Solar fica com oito
planetas: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno.

Plutão, que foi descoberto em 1930, possui características físicas e


orbitais que só recentemente foram melhor compreendidas pelos
astrônomos. Por isso ele passa a integrar uma nova classe de objetos, a
dos planetas anões. Pela definição, o Sistema Solar tem três planetas
anões: Plutão, Ceres e Éris. Esses astros não se encaixam no item 3 da
definição de planeta, apresentada acima.

No Sistema Solar, podemos classificar os planetas em três grupos distintos. São eles:

Do latim Tellus, sinônimo de Terra. São planetas rochosos do mesmo


Planetas telúricos tipo que o nosso e que estão mais próximos do Sol. Além da Terra,
Mercúrio, Vênus e Marte são telúricos.

Também chamados Jovianos, em alusão a Júpiter, o maior planeta do


Gigantes gasosos Sistema Solar. São planetas enormes, mas que não são compostos
sobretudo por matéria sólida, e sim gás.

É muito semelhante a um planeta comum, pois possui forma


arredondada e está em órbita do Sol. Porém, sua órbita não está
Planetas anões
“limpa”. Ceres, por exemplo, fica no cinturão de asteróides e sua
vizinhança orbital está repleta desses pequenos corpos irregulares.

Planetas extrasolares
A DEFINIÇÃO DE PLANETA, porém, foi pensada para o Sistema Solar. Para os
planetas fora do domínio do Sol – os chamados extrasolares ou exoplanetas – as
peculiaridades de cada sistema devem ser levadas em conta. Em comum a todos os
planetas está o fato desses astros não produzirem energia por meio de reações
termonucleares (como fazem as estrelas).

Contexto e localização definem quem é planeta. Mas no reino das outras estrelas os

11
astrônomos já identificaram tipos planetários curiosos, como a Superterra – nada mais
que um planeta rochoso maior que o nosso, ou o Júpiter quente – um gigante gasoso
cuja órbita situa-se muito próxima de sua estrela-mãe, o que torna sua atmosfera
turbulenta e aquecida.

Os satélites naturais (também chamados luas) são corpos celestes que


circulam em torno de um planeta. Satélites não estão em órbita de uma
estrela, mas podem ser arredondados ou não. As luas de Marte, por
exemplo, são irregulares.

A Lua é um satélite da Terra. O centro de gravidade do sistema Terra-Lua


fica abaixo da superfície terrestre (embora distante do centro da Terra).
No caso dos satélites de Júpiter, o centro de gravidade fica bem mais
perto do centro desse planeta.

Se as massas de dois astros forem tais que o centro de gravidade fique a


meio caminho entre eles, com num haltere, teremos um sistema
planetário duplo – e nenhum satélite.

Os satélites são sempre menos massivos (e menores) que os planetas em


torno dos quais orbitam. Porém, isoladamente, um satélite pode ser
maior que um planeta. É o caso, por exemplo, de uma das luas de
Saturno, Titã – maior que o planeta Mercúrio.

Alguns satélites do Sistema Solar

Nome do Planeta a que Diâmetro Período


satélite pertence aproximado orbital

Ganimedes Júpiter 5.260 km 7 dias

Titã Saturno 5.150 km 16 dias

Tritão Netuno 2.710 km 6 dias

Miranda Urano 2.400 km 1,4 dias

Deimos Marte 23 km 1,3 dias

Leda Júpiter 10 km 241 dias

Para efeito de comparação, a Lua tem 3.476 km de diâmetro e leva 27 dias para
completar uma volta em torno da Terra (revolução).

12
Asteróides são corpos rochosos que estão em órbita do Sol, mas são
pequenos e têm formas irregulares. Às vezes são chamados de
planetóides. Os asteróides são feitos do material remanescente da
formação do Sistema Solar.

Os que estão situados logo após a órbita de Marte, no chamado Cinturão


Principal, são provavelmente restos de matéria que nunca conseguiu se
agregar para formar um planeta, devido a influência gravitacional de
Júpiter.

Asteróide vem do grego aster, estrela, e oide, sufixo que indica


semelhança. Isso se deveu as primeiras observações desses objetos, no
século XIX. Na prática não existe tal similaridade.

Estima-se que existam mais de 400 mil asteróides com diâmetro superior
a 1 km. Foram catalogados pouco mais de 3 mil. Há um segundo cinturão
de Asteróides depois da órbita de Netuno, chamado Cinturão de Kuiper,
mas esses objetos devem ter algumas características distintas daqueles
do Cinturão Principal.

Alguns asteróides conhecidos

Nome Dimensões (em km) Revolução*

Palas 570 x 525 x 482 4,61 anos

Kleopatra 217 x 94 4,67 anos

Matilde 66 x 48 x 46 4,31 anos

Eros 33 x 13 x 13 1,76 anos

Toutatis 4,6 x 2,4 x 1,9 3,98 anos

Gaspra 19 x 12 x 11 3,29 anos

* Tempo gasto para completar uma volta em torno do Sol.

13
Cometas são ainda menores que asteróides e também são lembranças
da época da formação do Sistema Solar. Verdadeiros fósseis espaciais, os
cometas, no entanto, se desgastam a cada passagem, ao exibir suas
caudas que nada mais são que material de seu próprio núcleo, uma “bola
de gelo suja” de dióxido de carbono, metano, amônia, água e alguns
minerais.

Nunca confunda cometas com meteoros, que são as populares “estrelas


cadentes”. Embora também venham do espaço, meteoros são um
fenômeno atmosférico. Eles riscam um céu com velocidade, todas as
noites, sendo visíveis no máximo por alguns segundos.

Cometas são corpos celestes que giram em torno do Sol como os


planetas e asteróides, exibindo uma ou mais caudas quando se
aproximam do astro-rei. Cometas são visíveis no céu por semanas ou
meses. Eles não “passam voando”.

Cometas famosos e suas passagens pela Terra

Nome Última passagem* Período orbital

Halley 09/fev/1986 76,1 anos

Encke 19/abr/2007 3,3 anos

Hale-Bopp 31/mar/1997 4.000 anos

Borrelly 14/set/2001 6,86 anos

* Data do periélio, ou seja, sua menor distância ao Sol.

14
Do pó aos planetas
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

Era uma vez, há muito, muito tempo, na região periférica da Via-láctea, a nossa
galáxia, uma imensa nuvem de gás e poeira interestelar. Era um tipo de nuvem comum
naquela região - os braços espiralados da galáxia – rica em elementos pesados,
remanescentes da morte de estrelas velhas.

Certa vez a nuvem começou a se contrair e a girar, sob efeito da


atração gravitacional entre suas próprias partículas. Assim,
conforme aumentava a concentração de material e a velocidade
de rotação, a nuvem foi pouco a pouco assumindo a forma de
um imenso disco achatado.

A temperatura também aumentou, pois as moléculas gasosas


colidiam cada vez mais umas com as outras. Era um processo
mais evidente nas regiões centrais da grande nuvem, onde a
pressão comprimia um número cada vez maior de partículas.

Calor e luz
POR FIM, NO CENTRO DO DISCO de matéria formou-se um
corpo tão quente e massivo que, a partir de um certo momento,
começaram a ocorrer reações termonucleares em seu interior,
dando início a uma abundante produção de energia, espalhando
muita luz e calor no espaço ao redor. Assim nasceu o Sol.

Ao redor dele, a poeira e os gases residuais da nuvem ainda


giravam velozmente e não podiam cair para o centro. Então
agregavam-se, formando um enxame de pequenos glóbulos de
matéria quente.

Mas eram todos pequenos demais para se transformar em outros sóis e, ao contrário,
permaneceram ligados gravitacionalmente a ele, descrevendo órbitas diversas enquanto
apenas resfriavam.

Naquela época, houve um longo processo de


colisões e interações recíprocas entre os corpos
residuais da nuvem. Ninguém escapou ileso. A
maioria foi totalmente fragmentada ou acabou
sendo engolida pelo jovem Sol. Restaram os
atuais planetas, e em volta de alguns deles o processo ainda se repetiu em menor escala,
formando os seus satélites.

A vida na periferia
ESTA É, EM LINHAS GERAIS, A HISTÓRIA do nosso Sistema Solar, originado a
partir de uma nebulosa. Não é uma história nova. Ela foi formulada há mais de três

15
séculos e, apesar dos enormes avanços da Astrofísica, é admitida hoje, com uma ou
outra pequena variação, por todos os pesquisadores da Astronomia Planetária.

É sobretudo uma história que não termina aqui. O Sol - hoje uma estrela de meia idade -
vai continuar seguindo seu ciclo vital, até que as reações termonucleares de seu interior
não mais consigam manter o equilíbrio.

Quando isso acontecer, novas e dramáticas alterações tanto na Terra quanto em todo o
sistema planetário irão ocorrer. Será a morte do Sol. Mais uma outra história na bucólica
vida que levámos aqui, na periferia da galáxia.

Disponível em www.zenite.nu?origemdosol
Acesso em 3/abr/2009

16
Enquanto o Sol respira
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

O Sol é uma estrela anã. A afirmação é empírica, isto é, vem da experiência de


observação de milhares de outras estrelas no Universo, a maioria delas maiores que o
Sol. Mas, para nós, não há nada de pequeno no astro-rei do Sistema Solar. Para
preencher o mesmo volume que o Sol ocupa no espaço seriam necessárias mais de 1
milhão e quatrocentas Terras.

Para equilibrá-lo numa balança imaginária precisaríamos de mais de 330 mil vezes o
"peso" (massa) da Terra. Um metro quadrado da superfície do Sol emite mais de 62 mil
kW de energia, com continuidade e há bilhões de anos.

Equilíbrio delicado
APESAR DE BASTANTE QUENTE (cerca de 6.000°C na camada superficial,
chamada fotosfera) não há fogo no Sol, pois o fogo é resultado de uma oxidação
acelerada. Isto acontece quando o oxigênio do ar se combina com o carbono e o
hidrogênio de uma substância.

Estrelas, como o Sol, são constituídas basicamente por hidrogênio, o elemento químico
mais abundante no Universo. Uma concentração descomunal desse gás gera pressões e
temperatura elevadíssimas, quase meio bilhão de vezes a pressão ao nível do mar e mais
que dez milhões de graus centígrados no centro da estrela, o que desencadeia reações de
fusão nuclear, a origem de sua energia.

Diagrama mostrando as principais regiões do Sol.

Usina de força
A PRESSÃO DO GÁS FORÇA A EXPANSÃO do Sol, como quando assopramos uma
bexiga para enchê-la. Mas a força gravitacional, conseqüência da enorme matéria

17
gasosa, age em sentido contrário e tenta colapsar a estrela sobre si mesma.

Sua forma estável deve-se ao equilíbrio entre essas duas forças. Ali, os prótons e
elétrons dos átomos de hidrogênio ficam livres, num estado da matéria chamado
plasma.

O estado de plasma oferece pouca resistência à eletricidade e o movimento contínuo ao


qual está sujeito cria fluxos de elétrons que nada mais são do que correntes elétricas.
Assim, toda a estrela se comporta como um poderoso dínamo e as correntes elétricas
geram poderosos campos magnéticos.

Contudo, a emissão total de energia do Sol não é uniforme. Pelo contrário, sofre tantas
variações que até parece que o Sol respira calmamente, enquanto sua atividade se
mantém num nível mínimo. Ou fica "resfriado", quando se registra um grande número
de fenômenos que acabam influenciando até mesmo o meio interplanetário e o nosso
próprio mundo.

No centro e na periferia
O SOL É O CENTRO DO SISTEMA SOLAR, uma estrela
em torno da qual giram oito planetas (Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), além dos
planetas anões, os asteróides do cinturão principal e do
cinturão de Kuiper e os cometas.

O conhecimento da posição real que o Sol ocupa no âmbito


do nosso sistema planetário foi proposto por Nicolau
Copérnico (1473-1543). Mas o helicocentrismo não era uma
idéia nova.
Nicolau Copérnico
Na Grécia antiga os pitagóricos defendiam idéias
semelhantes. E mais perto de Copérnico, o sábio italiano Leonardo da Vinci também
tinha se ocupado do problema, chegando igualmente a conclusões heliocêntricas.

Em seu âmbito, o Sol ocupa uma posição periférica, a 33 mil anos-luz do centro da
nossa galáxia, a Via Láctea, girando em torno do centro galáctico a cerca de 250 km/s.

Uma volta completa demanda cerca de duzentos milhões de anos. Os astrônomos


chamam isto de ano cósmico. A distância média da Terra ao Sol é de 150 milhões e
quilômetros e este valor também recebe uma denominação especial: é a Unidade
Astronômica (UA).

18
Na medida certa
O SOL NÃO É UM CORPO SÓLIDO. Um corajoso
explorador hipotético simplesmente afundaria – e muito
depressa, pois a força de gravidade no Sol é 28 vezes
maior que a terrestre.

Em sua superfície um astronauta de 70 kg pesaria quase


duas toneladas. Sua cor amarela característica reflete
sua idade: estrelas jovens são azuis e estrelas velhas são
vermelhas.

Entre esses extremos encontramos estrelas brancas, Uma estrela emite energia em
amarelas, alaranjadas e violetas, entre outros nuances. O
todos os comprimentos de
Sol é uma estrela de meia-idade: tem cinco bilhões de
anos de brilho e ainda lhe restam outros cinco bilhões. onda, mas não com a mesma
intensidade.
Devemos nossa existência a essa bela estrela anã
chamada Sol. Se fosse muito maior, consumiria seu hidrogênio mais rápido (algumas
estrelas completam todo o seu ciclo em apenas 10 milhões de anos, o que é muito pouco
para a vida se desenvolver num planeta). Se fosse muito menor, não teria calor
suficiente e talvez nem mesmo fosse uma estrela.

A luz que brilha muito se consome rápido. O Sol brilha na medida certa para estarmos
aqui, e nós estamos na distância adequada dele. Mais perto a água seria sempre vapor,
mais longe estaria sempre no estado sólido. Enquanto o Sol respira, nos podemos viver.
E ele também determinará o amanhecer do último dia perfeito sobre a Terra.

Disponível em www.zenite.nu?sistemasolar
Acesso em 3/abr/2009

19
A família do Sol
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

No reino do faz de conta, o Sistema Solar é igualzinho aquele mostrado em velhos


livros de Geografia. Todos os planetas girando em torno do Sol igualmente espaçados
um do outro e num mesmo plano, com uma gigantesca arena.

A mesma coisa se vê com os satélites, cada qual em relação ao seu planeta. Os


asteróides, restritos a uma faixa comportada entre Marte e Júpiter, formam uma barreira
densa e perigosa para qualquer um que tente ultrapassá-la.

A realidade, contudo, é sensivelmente diferente. Os planos orbitais de cada planeta,


inclusive o nosso, estão inclinados e não num mesmo plano. Como os planetas têm
diferentes massas, algumas órbitas também ficam mais próximas que outras.

É possível atravessar o cinturão de asteróides sem nem mesmo ver um deles. Há


satélites que giram no sentido oposto ao demais – e planetas cujos pólos são mais
quentes que o equador. Existe um outro cinturão de asteróides depois de Netuno.

Sem falar em Plutão, Ceres e o recém descoberto Éris, que agora integram uma nova
categoria, a dos planetas anões do Sistema Solar. Bem-vindo à verdadeira harmonia dos
mundos. Conheça aqui, em detalhes, o novo Sistema Solar.

20
Um estranho mundo chamado Mercúrio

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Em certas épocas do ano o planeta Mercúrio pode ser visto baixo no horizonte
leste, pouco antes do Sol nascer. Em outras ocasiões estará do lado oeste,
permanecendo por pouco tempo depois que o Sol já se pôs. Na
Antiguidade, os gregos acreditavam que se tratava de dois astros distintos
e deram ao primeiro o nome de Apolo, o deus da luz, da razão e da
inspiração. O que surgia no final da tarde foi chamado Hermes, o
mensageiro do Olimpo, deus da comunicação e patrono dos comerciantes.

Em latim, Hermes é denominado Mercúrio e este é o nome que


permaneceu para designar o primeiro planeta do Sistema Solar, o mais
próximo do Sol. Ao longo da história, ele foi observado sucessivamente por egípcios e
árabes, por Copérnico e Galileu, entre muitos outros, mas desde que passamos a enviar
naves espaciais para investigar o espaço, há menos de 50 anos, Mercúrio foi visitado
uma única vez por uma sonda americana chamada Mariner 10.

Composição e atmosfera
OS DADOS OBTIDOS PELA MARINER 10 permitiram
determinar a composição geológica do planeta. Mercúrio
possui um manto de silicatos ao redor de um núcleo fundido,
ocupando cerca de 3/4 de seu próprio diâmetro.

A densidade muito elevada, mais de cinco vezes a da água, e a


presença de um campo magnético, só são satisfatoriamente
explicadas supondo que ferro e níquel ocupem 65% da massa
de Mercúrio. Ele seria o planeta mais denso de todo o Sistema 1-Núcleo de ferro e
Solar. níquel; 2-Manto rochoso
e
Apesar disso, sua pouca gravidade não foi capaz de reter uma 3-córtex.
atmosfera primordial, que se dispersou pelo espaço também
por causa dos fortes ventos solares. Contudo, em 1973, a
Mariner 10 detectou um pequeno invólucro muito rarefeito de gases, constituído
principalmente por oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio e potássio.

Curiosidades sobre Mercúrio

21
Apesar de ser o planeta mais próximo do Sol,
Mercúrio não é tão quente quanto Vênus, que possui um
formidável efeito estufa. Sem atmosfera, Mercúrio
possui, no entanto, a maior variação de temperatura de Mercúrio é o nome latino de
todo o Sistema Solar, entre 430ºC no Periélio, na face Hermes, o mensageiro dos
iluminada, e -170ºC durante a noite (face escura). deuses. O planeta recebeu
esse nome por ser o que se
Mercúrio leva quase 88 dias terrestres para completar desloca mais rápido em volta
uma volta em torno do Sol. Para ter um ano tão curto é
do Sol. Sua descoberta
preciso viajar rápido (não é à-toa que é chamado o
mensageiro dos deuses). No entanto, o planeta leva remonta a pré-história.
menos de 60 dias terrestres para completar uma volta em Mercúrio é um dos cinco
torno de si mesmo. Faça as contas: isto significa que dois planetas visíveis a olho nu.
anos em Mercúrio têm apenas três dias!

Em relação à maioria dos outros planetas, a órbita de Mercúrio é uma elipse bem
pronunciada. Assim, quando o planeta se aproxima do Sol, sua velocidade de translação
é quase igual à rotação, produzindo um curioso efeito: visto de Mercúrio, o Sol pode
nascer e se pôr duas vezes num único dia.

O plano da órbita de Mercúrio é inclinado 7º em relação ao plano da órbita terrestre


(ou plano da eclíptica). Quando fica entre o Sol e a Terra, geralmente Mercúrio se dirige
para o Sul ou para o Norte, mas em 14 ocasiões por século, ele passa na frente do Sol,
num fenômeno conhecido como trânsito solar.

Poderíamos pensar que Mercúrio é o planeta mais quente do Sistema Solar, afinal é o
mais próximo do Sol. Mas é a presença de uma atmosfera que mantém a temperatura
mais ou menos uniforme e, como quase não tem atmosfera, os contrastes de temperatura
em Mercúrio são elevados, podendo variar de 430ºC a -180ºC. Deve haver gelo no
interior de algumas crateras polares.

A maior estrutura na superfície é uma imensa cratera com 1.300 km de diâmetro,


chamada bacia Caloris. Foi proveniente de um impacto tão violento que expulsou parte
do manto de Mercúrio, criando picos de 2 km de altura e espalhando escarpas e fraturas
até na face oposta do planeta.

Disponível em www.zenite.nu?mercurio
Acesso em 3/abr/2009

22
Vênus, a bela e a fera

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

Vênus é uma das doze divindades do Olimpo, na mitologia greco-


romana. É representada por uma bela jovem cujos longos cabelos caem sobre
seu corpo, escondendo as partes íntimas. Vênus é também o nome do planeta
mais próximo da Terra e o segundo a partir do Sol.

Mas o planeta é um lugar infernal onde um ser humano não sobreviveria nem
por um segundo. Sua densa atmosfera se estende por todo o planeta e esconde
os detalhes de sua geografia dos telescópios óticos. Vênus e a Terra são
igualmente opostos e irmãos.

Para começar, Terra e Vênus têm quase o mesmo tamanho e são planetas rochosos. Não
fosse a pressão atmosférica (cerca de 90 vezes maior que a terrestre) e as temperaturas
extremas (capazes de fundir o chumbo) até que seria possível caminhar normalmente
em Vênus, pois a gravidade desse planeta também é quase idêntica a terrestre. Mas a
atmosfera venusiana não tem a mesma transparência que a da
Terra.

Composição e atmosfera
POR SEREM MUITO SEMELHANTES EM MASSA E
VOLUME, provavelmente o interior de Vênus é como o da
Terra, com um núcleo fundido de proporções parecidas,
formado por ferro e níquel na ordem de 33%, recoberto por um
manto de silicatos sobre o qual flutua a crosta.

A morfologia dos terrenos venusianos é bastante variada, e as


rochas são semelhantes as rochas basálticas terrestres, embora 1-Núcleo de metal;
as altas temperaturas do solo favoreçam alterações químicas 2-Manto e 3-córtex.
nas mesmas.

O dióxido de carbono anidrido (CO2) é o gás predominante em Vênus, representando


até 96,5% da atmosfera, o restante compõe-se de nitrogênio, monóxido de carbono,
argônio e traços rarefeitos de vapor de água, oxigênio e
dióxido de enxofre.

23
Acima das nuvens mais altas ainda há uma fina camada
constituída por gotas de ácido sulfúrico. Esses
componentes atmosféricos, por serem bastante pesados,
respondem pela alta pressão na superfície. Caminhar em Vênus é o nome latino de
Vênus é como estar nas condições de um mergulhador Afrodite, a deusa do amor e
operando a 1.000 m de profundidade. da beleza. O planeta recebeu
esse nome por causa de seu
O invólucro de gases irrespirável de Vênus produz um
efeito estufa: a radiação solar que chega ao solo, e bilho fulgurante, como uma
deveria ser refletida por ele, fica retida nas camadas deusa. Sua descoberta
atmosféricas, retornando à superfície sem dispersar-se e remonta a pré-história. Vênus
produzindo um tremendo aquecimento. é um dos cinco planetas
visíveis a olho nu.
O hipotético mergulhador-astronauta não poderia ter em
sua roupa qualquer elemento feito de chumbo, pois este
se fundiria imediatamente. Sondas terrestres como a soviética Venera e a americana
Pioneer Vênus passaram por essa experiência abrasadora, e nenhuma conseguiu
sobreviver por mais de uma hora após tocar o solo venusiano.

Superfície de Vênus em falsas cores, foto da Venera 13.


O objeto na base da foto é parte da sonda soviética, que neste momento
suportava 460°C e uma pressão 90 vezes maior que ao nível do mar.

Curiosidades sobre Vênus


Vênus realiza uma volta em torno de seu próprio eixo num período maior que o
necessário para completar uma volta em torno do Sol. Pense bem acerca dessa
afirmação: isso significa que um dia em Vênus é maior que um ano.

A rotação de Vênus se dá no sentido oposto à maioria dos outos planetas. Assim, em


Vênus o Sol surge do Oeste e se põe no Leste.

Porém, a velocidade de rotação é muito lenta. Do nascer ao pôr-do-sol são quase 116
dias terrestres. Por outro lado, enquanto a nossa atmosfera leva cerca de 24 horas para
dar a volta no planeta, acompanhando a rotação, em Vênus bastam 4 dias terrestres,
contra os 243 de sua rotação completa. É a super-rotação da atmosfera, provocando
ventos de altíssima velocidade.

Vênus reflete 2/3 da luz que recebe do Sol, um esplendor que lhe valeu o apelido de
estrela-d'Alva. Povos antigos imaginavam tratar-se de dois astros: Lúcifer, a estrela da
manhã, e Vésper, a estrela da tarde. Em latim, Lúcifer significa "o que leva a luz" e

24
apenas na tradução cristã ele é associado ao mal. Mas afinal Lúcifer talvez fosse um
nome mais apropriado para o planeta Vênus, um mundo mais próximo de uma visão do
inferno que da personificação do amor.

A densa atmosfera de Vênus contribui para uma luminosidade escassa na superfície


(como um dia nublado na Terra). Mas a densidade não é homogênea e produz refrações
múltiplas, originando várias imagens de um mesmo objeto: do solo de Vênus é possível
ver dois ou três sóis.

A superfície de Vênus foi inteiramente mapeada por radar, revelando duas regiões
que poderiam ser chamadas de continentes, pois estão acima do nível médio do terreno.
Numa região chamada Terra de Ishtar (que significa Vênus para Assírios e
Babilônios) ficam os Montes Maxwell, com 11.000 m, e na Terra de Afrodite, maior
que o continente africano, há imensos canyons com até 280 km de largura.

É provável que tenham existido oceanos em Vênus num passado remoto. A fúria de
um Sol ainda jovem fez evaporar esses mares e expôs as rochas então submersas,
liberando dióxido de carbono e dando início a um contínuo processo de aquecimento.
Toda a água da superfície acabou desaparecendo.

Disponível em www.zenite.nu?venus
Acesso em 3/abr/2009

25
Sistema Terra-Lua

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Sob certo ponto de vista, não é incorreto afirmar que o terceiro planeta a partir do
Sol é duplo, isto é, são dois planetas girando em torno de um centro comum de
gravidade. Mas ao mesmo tempo podemos dizer que a Lua é um satélite da Terra!

O aparente paradoxo está na definição desses termos. Sempre que dois (ou mais) corpos
celestes compartilham uma mesma órbita em torno do Sol chamamos o maior de planeta
e o(s) outro(s) de satélite(s). Ainda que um deles seja só 1% maior que seu
companheiro, teremos um planeta e um satélite.

O termo “planeta duplo”, contudo, ainda não foi bem definido, mas também tem a ver
com a massa dos objetos. Normalmente um satélite tem milhares, às vezes milhões de
vezes menos massa que seu planeta. No sistema Terra-Lua a correlação de massa é 1/81
(isto é, a Lua tem 81 vezes menos massa que a Terra).

A relação de massa entre Terra e Lua só perde para o sistema Plutão-Caronte, com 1/8
(os astrônomos geralmente concordam que Plutão e Caronte formam um sistema duplo).
Porém, no nosso caso, o centro de gravidade do sistema fica no interior da Terra, ainda
que não no centro do planeta (veja explicação a seguir), de forma que nem todos os
astrônomos concordam com a classificação “planeta duplo” para Terra e Lua.

É possível que a descoberta futura de planetas extra-solares com luas e parecidos com a
Terra forcem a uma definição mais formal desse termo.

Baricentro
Satélites proporcionalmente massivos forçam o planeta a girar em torno de um ponto
denominado baricentro, que no caso do sistema Terra-Lua está localizado exatamente ao
longo da linha que conecta o centro de massa da Terra com o centro de massa da Lua. A
distância média entre esses centros é a distância Terra-Lua, ou seja, 384.405
quilômetros.

A distância do centro da Terra ao baricentro é de 4.641 km. Perceba que a Lua não gira
em volta do centro de massa da Terra (ou mesmo de um ponto próximo). Ambos, Terra
e Lua, giram em torno do baricentro, situado a 1.737 quilômetros abaixo da superfície
terrestre (veja a gravura acima).

Se viajássemos numa nave espacial até uma certa distância veríamos Terra e Lua
dançando como um par de bailarinos no espaço. Se fossemos ainda mais longe, de
modo que toda a órbita terrestre pudesse ser contemplada, perceberíamos que a Terra
não segue rigorosamente seu traçado orbital. Quem faz isso é o sistema Terra-Lua.

26
Mundos irmãos
HÁ MUITAS OUTRAS COISAS CURIOSAS a respeito do sistema planetário do qual
fazemos parte. A distância da Lua a Terra é de aproximadamente 60 raios terrestres,
maior que a grande maioria dos satélites
próximos.
Se a LUA estivesse IMÓVEL iria CAIR NA DIREÇÃO
Conhecidas as massas e distâncias, é DO SOL e não da Terra
fácil calcular as atrações gravitacionais
que o Sol e os planetas exercem.
Fazendo isso você descobrirá, para seu espanto, que no caso da Lua a atração do Sol é
2,2 vezes maior que a exercida pela Terra. Isto significa que se a Lua estivesse imóvel,
iria cair na direção do Sol e não da Terra!

A rotação da Lua em volta da Terra se dá num período de


aproximadamente 27 dias. Seu percurso não é circular. A Lua ora fica Se hoje ela gira em
volta da Terra é
mais perto, ora mais longe de nós, e algumas vezes está adiantada,
porque já girava no
outras vezes atrasada. No final acaba sempre mostrando a mesma face passado – a Lua
para a Terra, mas com uma pequena oscilação que nos permite ver um não é um corpo
pouco mais que a metade, ou 59% da superfície lunar. É a chamada celeste capturado.
"libração óptica da Lua". Em termos de
composição,
origem e evolução,
ela é semelhante a qualquer planeta terrestre.

Disponível em www.zenite.nu?terra
Acesso em 3/abr/2009

27
Marte, a próxima parada

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

A área da superfície de Marte tem a mesma extensão que a de todos os


continentes da Terra. Explorar esse planeta é como explorar o mundo todo. E já faz
algum tempo que sondas automáticas estão sendo enviadas para investigar e mapear
esse planeta, nosso vizinho na direção oposta ao Sol.

Certamente levará muitos anos até que se faça um reconhecimento completo. Este
trabalho, audacioso e ao mesmo tempo fascinante, pode marcar a história do século 21,
assim como a aviação e a astronáutica fizeram durante todo este século.

Marte é frio, quarenta graus a menos que a temperatura média da Terra. É árido, o
panorama marciano é uma extensão pedregosa, às vezes vitrificada, uma crosta de sais
minerais que sobrou após a evaporação da água que havia no solo.

Sua atmosfera é tão escassa em oxigênio quanto rica em anidrido carbônico, letal se
respirado por um ser humano. Mesmo assim, talvez um dia nossos descendentes vivam
em Marte, quase como nós, que herdamos o "novo mundo" dos exploradores do
passado.

Composição e atmosfera
A CROSTA DE MARTE REPRESENTA QUASE 1% DE
SEU RAIO, contra apenas 0,5% da terrestre, mas não está
dividida em placas como na Terra. Marte deve ter se resfriado
com um conseqüente aumento da espessura da crosta, que
evoluiu de uma única placa.

As rochas marcianas são mais ricas em ferro e magnésio que as


terrestres, mas pobres em potássio e alumínio. Sua típica
coloração avermelhada se origina de óxidos de ferro, como a 1-Núcleo de ferro;
hematita, presentes em sua superfície. 2-Manto de silicatos
e 3-córtex.
Marte tem uma fina camada atmosférica composta
principalmente por dióxido de carbono, e também alguns traços
de nitrogênio, argônio, oxigênio e vapor de água. A baixa densidade permite que a
superfície de Marte seja continuamente bombardeada por radiações solares, que não são
absorvidas.

O céu de Marte também tende para o vermelho por causa da poeira em suspensão. Nele
ainda se observam nuvens, formadas por água e dióxido de carbono – lembrando as
cirros terrestres. No entanto, sob as condições normais de temperatura e pressão locais
não chove em Marte. A água líquida é muito instável e se congela instantâneamente.

28
Curiosidades sobre Marte
Os povos antigos viam somente um único astro capaz
de rivalizar com o brilho avermelhado de Marte. Era uma
estrela brilhante da constelação do Escorpião, que ficou Marte é o nome latino de
conhecida como Antares, ou anti-ares. Ares, o deus da guerra da
mitologia grega. Sua cor de
Apesar do clima atual, Marte já foi temperado, e sangue inspirou os povos
existem muitas evidências da ação erosiva da água, que antigos. Marte é conhecido
no passado deveria preencher os atuais leitos secos de desde a pré-história e é um
rios, formando também lagos e talvez pequenos mares.
dos cinco planetas visíveis a
olho nu.
A estrutura mais espetacular em todo o planeta é, sem
dúvida, o Monte Olimpo, a montanha mais alta de todo
o Sistema Solar, erguendo-se 27 km acima das planícies à sua volta. Trata-se de um
vulcão extinto com uma base quase circular de 600 km de diâmetro.

Marte possui dois pequenos satélites, Fobos e Deimos, cujos nomes significam,
respectivamente, medo e terror. Segundo a mitologia, as criaturas que acompanhavam
Marte em suas batalhas. Eles foram descobertos em 1877 e têm formas irregulares,
percorrendo órbitas quase circulares ao redor de Marte, mostrando sempre a mesma face
para o planeta, como a Lua.

Fobos e Deimos têm origem desconhecida. As notáveis diferenças de composição


em relação a Marte tornam improvável uma formação contemporânea. E a hipótese de
que seriam asteróides capturados também esbarra em sérias dificuldades.

Não é nada fácil chegar em Marte. Das quase quarenta missões já enviadas ao
planeta, pouco mais de um terço atingiu plenamente seu objetivo. A primeira foi a
Mariner 9, em 1971, e a mais recente está neste momento explorando a superfície
marciana: a sonda Phoenix.

Por outro lado, nunca foram enviadas tantas sondas de exploração para um só lugar
do Sistema Solar quanto para Marte. E não basta alcançá-lo. Queremos pousar e
investigar a superfície. O aumento da complexidade leva a um inevitável maior risco
de insucesso.

Disponível em www.zenite.nu?marte
Acesso em 3/abr/2009

29
Júpiter, quase uma estrela

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

O planeta Júpiter é o maior entre todos do Sistema Solar. E ele ganha disparado.
Se fosse oco, dentro dele caberiam todos os outros planetas ou mais de 1.300 mundos
iguais ao nosso. Se fosse chato como um disco, seriam necessários quase doze
diâmetros da Terra para cobri-lo de ponta a ponta.

Júpiter é um globo multicolorido de gás, 85% hidrogênio, o elemento químico mais


abundante e mais simples do Universo, com apenas um elétron e um próton. O
hidrogênio é também principal constituinte de uma estrela. E por pouco Júpiter não se
transformou numa delas.

Estrela Diet
AS ESTRELAS PRODUZEM ENERGIA através de
uma reação chamada fusão nuclear. Dois núcleos de
hidrogênio colidem, em altíssima velocidade, e se Júpiter é o nome latino de
fundem num núcleo de hélio, liberando enormes Zeus, o senhor do Olimpo,
quantidades de energia. deus dos deuses da mitologia
grega. Com seu brilho forte e
Para isso acontecer é preciso haver uma colossal massa
esbranquiçado podia ser visto
desse gás, confinada de modo a atingir pressões e
em certas épocas do ano
temperaturas extremas, que desencadeiam a reação
nuclear. durante toda a noite. Júpiter
é um dos cinco planetas que
Júpiter apenas não acumulou massa suficiente para se podemos ver a olho nu.
tornar uma estrela (na verdade, estima-se que seria
necessário pelo menos dez vezes mais massa). Mesmo
assim, 25.000 km abaixo do seu topo gasoso a pressão atinge a respeitável marca de 3
milhões de vezes a pressão na Terra ao nível do mar.

A hipótese de Júpiter ser “uma estrela que não deu certo” não é de todo um exagero. Na
parte infravermelha do espectro, isto é, considerando freqüências abaixo da luz
vermelha, Júpiter de fato se comporta como um sol.

É claro que a temperatura no topo das nuvens do planeta está abaixo de zero, mas é nas
profundezas de sua atmosfera, onde a pressão é altíssima, que as coisas ficam realmente
quentes.

Caso tivesse se tornado uma estrela de verdade viveríamos num sistema solar binário e
as noites poderiam ser raras. Deve haver muitos mundos assim no Universo, pois
estrelas duplas não são incomuns.

30
Relação Relação Relação
hidrogênio/hélio hidrogênio/carbono hidrogênio/nitrogênio

Júpiter 7 3.000 13.000

Sol 9 2.880 12.000

Composição e atmosfera
O MODELO DA ESTRUTURA DE JÚPITER baseia-se
em medidas de densidade e propõe três camadas. Um
núcleo compacto de rocha e gelo que corresponde a 4% da
massa total, recoberto por uma camada de hidrogênio
metálico, até uma distância de 0,7 do raio.

Uma transição entre essa camada e outra, formada por 1-Núcleo rochoso;
uma mistura líquida de hélio e hidrogênio molecular, é
2-Hidrogênio líquido e hélio,
sobreposta pela atmosfera de Júpiter, composta por
hidrogênio e hélio gasosos. 3-Hidrogênio metálico e hélio
e 4-Atmosfera.
Também já foi detectado metano, amoníaco e um pouco
de vapor d'água, além de etileno, acetileno e metano deuterado.

Curiosidades sobre Júpiter


Júpiter possui uma fonte interna de calor (não nuclear). Provavelmente procedente
do colapso da matéria durante sua formação. No interior do planeta a temperatura
alcança os 30.000°C, fluindo continuamente para o exterior.

Em apenas 9 h e 50 min Júpiter completa uma volta em torno de si mesmo e intensas


correntes elétricas são geradas na camada de hidrogênio metálico. A eletricidade produz
um poderoso campo magnético, 14 vezes mais intenso que o terrestre e que se estende
para além de Saturno, mas é invertido em relação ao nosso. Lá, a agulha de uma bússola
trava rapidamente sem oscilações, e onde indicar o Norte, não tenha dúvida, é o Sul.

Contudo, Júpiter possui uma rotação diferenciada, e os ventos ora vêm do leste, ora
do oeste, entre outras direções alternativas, devido aos redemoinhos alimentados pelo
gradiente térmico entre o equador e os pólos.

A ausência de atrito com uma superfície sólida permite que furacões como a Grande
Mancha Vermelha, durem mais de três séculos. Ela é um redemoinho de alta pressão
onde cabem duas Terras, elevando-se acima das nuvens ao redor. Porém, os ventos de
direções contrárias que circulam acima e abaixo dificultam explicações satisfatórias
para sua estabilidade.

Em 1979 as duas sondas Voyager descobriram um halo de poeira muito fino, que vai
de 100 a 122 mil km do centro de Júpiter e um sistema de três anéis. O anel principal
tem cerca de 6 mil km de espessura e se estende de 122 a 129 mil km do centro do
planeta, englobando a órbita de duas luas, Adrastéa e Metis, (que são as fontes de
partículas do anel). Dados recentes da sonda Galileo revelaram que um segundo anel

31
muito tênue trata-se, a rigor, de um anel interno e outro externo, e ambos se estendem
de 129.200 a 224.900 km do centro do planeta.

Ao contrário dos anéis de Saturno, formados por blocos massivos e brilhantes de


rocha e gelo, os anéis de Júpiter são constituídos por uma poeira tão fina que seriam
invisíveis para alguém que estivesse em seu interior.

Disponível em www.zenite.nu?jupiter
Acesso em 3/abr/2009

32
Saturno, o senhor dos anéis

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

Pergunte a qualquer um: qual o planeta mais bonito do Sistema


Solar? Talvez alguns digam que é a Terra, esse pequeno mundo azul
maltratado por uma espécie que vive aqui há menos de dois milhões de
anos. Mas a maioria, principalmente os que já tiveram a oportunidade
de ver imagens reais dos planetas, dirá que é Saturno.

Em parte pelo seu tamanho, quase tão grande quanto Júpiter; em parte
pelo magnífico conjunto de anéis brilhantes, quase um símbolo da Astronomia
planetária.

Composição e atmosfera
SATURNO POSSUI UMA COMPOSIÇÃO média
parecida com a do Sol. Uma diferença é que o modelo
atualmente aceito para sua estrutura interna apresenta um
núcleo rochoso composto por óxidos de ferro e magnésio,
silício e sulfureto de ferro, entre outros (totalizando até
25% da massa).
1-Núcleo rochoso;
Cerca de 50% de seu raio é ocupado por hidrogênio
2-Hidrogênio líquido,
metálico líquido, que só existe sob pressões milhões de
3-Hidrogênio metálico vezes superior à pressão ao nível do mar. Acima desta
e 4-Atmosfera. camada, um invólucro de hidrogênio molecular e hélio
estende-se até os limites visíveis da atmosfera de Saturno.

Em Saturno, os ventos que sopram na direção leste são muito mais rápidos que o mais
poderoso furacão da Terra, movendo-se com até 70% da velocidade do som. Em nosso
planeta, a proximidade com o Sol é a fonte de calor necessária à circulação dos ventos.

No caso de Saturno, há uma fonte interna de calor, o que também explica porque emite
o dobro da radiação infravermelha que recebe do Sol. Provavelmente conseqüência da
compressão do hélio nas regiões centrais da atmosfera.

33
Curiosidades sobre Saturno
Os anéis de Saturno são formados por uma miríade
de cristais de gelo e rocha, pequenos como grãos de arroz
ou grandes como uma casa. Toda a estrutura tem cerca de Na mitologia grega, Saturno é
275 mil quilômetros de largura, mas não ultrapassa 1 km Cronos, deus do tempo. A
de espessura. escolha deveu-se ao fato dos
povos antigos já terem
O brilho dos anéis é devido ao reflexo da luz nos percebido que a trajetória de
cristais de gelo. Sua estabilidade é garantida, em parte,
Saturno no céu levava mais
pelos satélites pastores, que desempenham complexas
relações de equilíbrio. Mimas, por exemplo, é tempo que a dos outros
responsável pela falta de matéria na divisão de Cassini, e quatro planetas visíveis a
Pan, pela divisão de Encke. olho nu, incluindo Júpiter,
filho de Saturno.
A origem dos anéis não está plenamente esclarecida:
caso tenham sido formados junto ao planeta não são um
sistema estável e o material precisará ser reposto periodicamente, ou desaparecerão um
dia.

No volume ocupado por Saturno cabem 760 Terras com folga. Porém sua massa é
apenas 95 vezes maior que a terrestre, o que resulta numa densidade menor que a da
água. Resultado: se fosse possível colocar o planeta numa enorme piscina ele flutuaria!

A baixa densidade também pode ser confirmada por outra característica notável de
Saturno: ele é o planeta mais achatado de todo o Sistema Solar. O diâmetro polar é
10% menor que o equatorial. O mesmo fenômeno ocorre em Júpiter, mas a diferença é
de 6%.

Enquanto se passa um ano em Saturno, na Terra você envelheceu quase 30 anos. O


planeta fica, em média, 9,5 vezes mais longe do Sol do que a Terra, por isso recebe
quase 100 vezes menos luz e calor que a Terra.

Durante alguns anos acreditou-se que Titã seria a maior lua de Saturno e também de
todo o Sistema Solar. Essa hipótese foi baseada em medidas feitas por telescópios na
Terra, considerando a densa atmosfera de Titã. Coube à Voyager 1 devolver o título de
maior satélite para Ganimedes, de Júpiter.

Disponível em www.zenite.nu?saturno
Acesso em 3/abr/2009

34
Urano, um reino por um planeta
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Em 1781 o famoso astrônomo britânico William Herschel descobriu o planeta


Jorge. Jorge?! Que planeta é esse? É que Herschel havia dedicado sua descoberta ao
então soberano da Inglaterra, o rei Jorge III. É claro que, por motivos políticos, muitos
países protestaram contra essa decisão. Mesmo assim, durante muito tempo chamou-se
o novo astro de Georgium Sidus ou, simplesmente, a "Estrela de Jorge".

Quase setenta anos mais tarde, por volta de 1850, a comunidade científica finalmente
aceitou o óbvio: o sétimo planeta – depois de Júpiter e de Saturno – seria chamado
Urano. Assim, o Sistema Solar refletiria a ordem cronológica sugerida pela mitologia
greco-romana. Pois Urano, a personificação dos céus, é pai de
Saturno e avô de Júpiter.

Composição e atmosfera
É BASTANTE PROVÁVEL QUE O NÚCLEO de Urano consista
num amálgama de silício, ferro e outros elementos pesados, mas
com propriedades físicas diferentes das rochas comuns.

Acima do núcleo, um manto gelado de água, metano e amoníaco,


sobre o qual se estende a camada mais externa, uma atmosfera
rarefeita composta de gás hidrogênio e metano, muito
provavelmente acompanhados de hélio, com temperaturas entre -
150°C e -200°C.

Na gravura à direita, 1 indica o núcleo rochoso; 2 o manto gelado e


3 a atmosfera.

Curiosidades sobre Urano


Herschel também descobriu dois satélites de Urano e
outras duas luas foram encontradas pelo astrônomo
inglês William Lassel. O filho de Herschel propôs os Passada a polêmica sobre dar
nomes Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon, os primeiros a esse planeta o nome de
satélites naturais cujos nomes não se originam da uma pessoa, Urano foi assim
mitologia greco-romana. São, na verdade, personagens chamado para continuar a
da literatura inglesa. tradição da mitologia grega.
Júpiter é filho de Saturno,
A presença de hidrogênio e metano na atmosfera é
que é filho de Urano, céu em
responsável pelos tons esverdeados e azulados de Urano,
latim.
que apresenta uma aparência uniforme, com umas poucas
nuvens esbranquiçadas.

35
Por causa da grande inclinação do eixo de rotação, quase paralelo ao plano de sua
órbita, os pólos de Urano se aquecem mais que as regiões equatoriais.

O eixo do campo magnético de Urano também possui a maior inclinação de todo o


Sistema Solar, 55° em relação ao eixo de rotação. A origem desse campo é a mesma dos
demais planetas: uma massa fluida, condutora, em contínuo movimento devido ao
movimento de rotação.

Em 1977 descobriu-se quase por acaso um sistema de anéis em volta de Urano,


depois confirmado pela sonda Voyager 2. Não tão belos e brilhantes quantos os de
Saturno, mas em seu interior foram encontrados nada menos que 18 satélites, chamados
pastores, que governam as órbitas dos anéis mais finos.

Disponível em www.zenite.nu?urano
Acesso em 3/abr/2009

36
Netuno, o último dos gigantes

JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

No caderno de anotações de Galileu consta a curiosa observação de uma


estrela que ele chamou de Fixa. Isso foi em 28 de dezembro de 1612. Alguns dias
mais tarde Galileu voltaria a observá-la, e dessa vez teria como referência uma outra
estrela, que chamou de a.

Analisando suas notas, hoje guardadas na biblioteca de Florença, percebemos que


Galileu reparou algo essencial: Fixa estava se aproximado de a. Mas infelizmente, nos
dias que se seguiram o tempo não permitiu a continuidade das observações e Galileu
perdeu as estrelas de vista.

Foi assim que, por um triz, Galileu não descobriu que


Fixa era, na verdade, o planeta Netuno. O último dos
planetas gigantes do Sistema Solar ainda teve de esperar
até 23 de setembro de 1846, quando foi descoberto por Netuno é o nome latino de
Johann Gottfried Galle, no Observatório de Berlim. Poseidon, o deus dos mares
na mitologia grega. Sua
Frequentemente os créditos dessa descoberta vão para o denominação segue a
inglês John Couch Adams e o francês Urbain Le Verrier,
tradição de dar nomes de
que não o observaram, mas previram a sua existência
divindades do Olimpo aos
matematicamente.
planetas do Sistema Solar.
Composição e atmosfera
O NÚCLEO DE NETUNO é bastante
semelhante ao de Urano, consistindo
num amálgama de silício, ferro e outros
elementos pesados, mas com
propriedades físicas diferentes das
rochas comuns.

Acima do núcleo há um manto gelado


de água, metano e amoníaco sobre o 1-Núcleo rochoso de silicatos; 2-Manto de água,
qual se estende uma camada mais metano e amoníaco gelado; 3-Atmosfera.
externa, a atmosfera propriamente dita.

Essa atmosfera contém proporções variadas de microscópicos cristais de gelo, cuja


composição ainda não foi esclarecida. A luminosidade do planeta varia ligeiramente
com o ciclo de atividade solar, sendo que os períodos de máximo coincidem com uma
redução do brilho.

A belíssima cor azulada característica de Netuno deve-se ao metano, que absorve a

37
radiação vermelha. Em sua atmosfera notam-se, ainda, nuvens cirros prateadas que se
estendem por milhares de quilômetros.

Curiosidades sobre Netuno


Netuno é o nome latino de Poseidon, deus dos mares da mitologia grega.
Sua cor azulada, como as águas de uma praia tropical, ajuda a recordar o seu
nome, evitando confundir com o vizinho Urano, mais esverdeado.

Uma poderosa fonte interna de calor – que emite quase o triplo da energia
recebida pelo Sol – garante os movimentos convectivos da atmosfera de
Netuno, responsáveis pelos ventos mais velozes de todo o Sistema Solar, por volta de
2.000 km/h.

Em Netuno existe um ciclone maior que a Terra chamado Grande Mancha Escura.
Ele leva 10 dias para completar uma rotação em torno do planeta, no sentido anti-
horário. No centro desse gigantesco furacão uma grande massa de nuvens brancas lhe dá
a aparência de um olho gigante.

Disponível em www.zenite.nu?netuno
Acesso em 3/abr/2009

38
Os planetas anões
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

O Sistema Solar é um conjunto com vários tipos de objetos. Há os cometas, um


núcleo de gelo sujo de onde se estendem belas caudas (mas que não devemos confundir
com os meteoros ou “estrelas cadentes”), os asteróides, rochas irregulares feito batatas,
e os planetas que são redondos como as suas luas. Todos eles – exceto as luas – giram
em volta do Sol, que é uma estrela.

Geralmente os asteróides são maiores que os Precisa ser redondo?


cometas enquanto os planetas são sempre maiores
que suas luas. Mas definir com precisão cada uma
O termo correto é esférico, embora
dessas classes de objetos raramente é uma tarefa
simples. Não basta conhecer bem a natureza de na prática nenhum corpo celeste seja
cada um, suas características próprias, como uma esfera perfeita. Depois de
tamanho, forma e composição. Contexto e adquirir uma certa quantidade de
localização são igualmente importantes. massa, a gravidade faz o resto do
serviço e o objeto torna-se
Ganimedes, uma das mais de 60 luas de Júpiter, é aproximadamente esférico.
redonda, rochosa e maior que o planeta Mercúrio.
Mas gira em torno de Júpiter e por isso é um Ceres é assim, diferentemente da
satélite e não um planeta. Nenhuma dúvida quanto
maior parte dos asteróides, que são
a isso.
menores e portanto não acumularam
Planeta X massa suficiente para que a
MAS O CASO DE CERES FOI DIFERENTE. gravidade lhes dê esfericidade.
Descoberto em 1801, ele parecia mesmo o planeta
que faltava naquele espaço aparentemente vazio Muitos satélites (mas nem todos!)
entre as órbitas de Marte e Júpiter. também são esféricos. Na verdade
não é necessário o critério da
Porém, novos achados puseram em dúvida essa
esfericidade para distinguir um
classificação. Pallas em 1802, Juno em 1804,
Vesta em 1807... Quase todos os anos eram planeta de outro tipo de objeto.
descobertos novos objetos em órbitas similares a
de Ceres.

Por fim, a comunidade científica decidiu acatar a sugestão do astrônomo inglês William
Herschel e Ceres entrou para uma categoria recém criada de objetos – os asteróides. A
essa altura, meio século havia se passado desde que Ceres fora descoberto e aclamado
como mais um planeta do Sistema Solar.

39
EM VÁRIOS FORMATOS. os asteróides são exemplares de uma população distinta.
Se ainda fossem considerados planetas, as crianças teriam sérias dificuldades
na escola: decorar os "nomes" de mais de 130 mil "planetinhas".

No ano de 1850 contávamos 8 planetas no Sistema Solar. E teríamos de esperar 80


longos anos até que o norte-americano Clyde Tombaugh descobrisse Plutão (1930). Sua
descoberta foi recebida pelos pesquisadores como o tão procurado “Planeta X”, um
astro causador de estranhas perturbações na órbita de Netuno.

Anomalias
LOGO SE PERCEBEU QUE ELE ERA PEQUENO DEMAIS para ter tamanha
responsabilidade. Milhares de vezes menor. Plutão, o menor planeta do Sistema Solar –
menor até mesmo que a nossa Lua – não tinha massa suficiente nem para provocar
cócegas em Netuno.

Mas naquela época não havia como saber muito sobre ele. Quase quarenta vezes mais
longe do Sol que a Terra, Plutão leva penosos 248 anos para completar um único ano,
uma só volta em torno do Sol. Com uma curiosidade: ele passa internamente à órbita de
Netuno, perdendo o trono de planeta mais distante do Sol de tempos em tempos.

E afinal as tais anomalias da órbita de Netuno não passavam de observações mal


interpretadas. Ao contrário de Plutão, com sua órbita excêntrica e bastante inclinada
com relação ao plano da órbita terrestre – algo típico dos asteróides. Durante décadas
Plutão foi um “planeta irregular”.

Xena ameaça Plutão


A SITUAÇÃO COMEÇOU A MUDAR quando os astrônomos reconheceram Plutão
como membro de uma nova população de objetos descoberta além da órbita de Netuno,
o Cinturão de Kuiper (veja esta gravura). Seus integrantes são comumente chamados de
KBOs (do inglês, Kuiper Belt objects) ou ainda TNOs (trans-Neptunian objects).
Alguns objetos dessa região se tornariam conhecidos do público. Como Sedna,
descoberto em 2003 por Michael Brown, astrônomo do Instituto de Tecnologia da
Califórnia. Pouco menor que Plutão, ele chegou a ser aclamado como o décimo planeta
do Sistema Solar, mas quem levou mesmo essa fama foi outra descoberta de Brown,
feita dois anos depois.

Mas em 2005 essa descoberta sequer tinha um nome, e a imprensa teve que se contentar
com o código do novo corpo celeste: 2003 UB313. Até que Brown o apelidou de
“Xena”, ao confessar que era fã do seriado da TV (à direita). Xena Também tinha um
satélite, rapidamente chamado Gabriele, a companheira de aventuras de Xena.

Mas na vida real um fato incomodava bastante os astrônomos: Xena é maior que Plutão.
Até então, simplesmente não havia uma definição formal de planeta, sendo aceito na

40
categoria todo astro que gira em torno do Sol e possui no mínimo massa igual à de
Plutão (o que invariavelmente lhe confere uma forma arredondada).

Deusa da discórdia
ASSIM, SE XENA NÃO FOSSE UM PLANETA, Plutão também não seria. Por outro
lado, transformar o objeto descoberto por Brown no décimo planeta do Sistema Solar
poderia ser a repetição de um erro histórico. Novas descobertas aumentariam esse
número indefinidamente.

Era o começo de uma história que já havia sido contada antes. O status de um “planeta
consagrado” estava sendo questionado outra vez. O precedente não foi somente Ceres.
Por mais incrível que pareça, no passado a Lua e o Sol já haviam sido classificados
como planetas!

Também foi escolhido o nome oficial de 2003 UB313. Apesar do apelido ser até
simpático, a decisão não poderia ter sido melhor. De agora em diante, Xena será Éris, a
deusa da mitologia que personifica a discórdia.

Afinal, foi sua descoberta que lançou polêmica entre os astrônomos sobre a definição de
planeta, causando, indiretamente, a re-classificação de Plutão. Seu satélite também
passa a ser chamado Disnomia – “desordem” em grego – a filha da deusa Éris.

O sistema Éris-Disnomia é semelhante ao sistema Terra-Lua. Apesar das dimensões


mais reduzidas, o satélite de Éris está dez vezes mais próximo do planeta que a Lua da
Terra. Estima-se que Disnomia seja oito vezes menor e sessenta vezes menos brilhante
que Éris e leve 14 dias para completar uma volta em torno dele

Os planetas e o Sol estão em duas escalas


sobrepostas de tamanho e distância.

Os três anões Rigorosamente falando, PLUTÃO continua


O RESTO DA HISTÓRIA É NOTÍCIA. sendo um PLANETA
Reunidos em Praga em 24 de agosto de
2006, astrônomos decidiram pela criação de
uma nova categoria de objetos: os planetas anões. Nele se enquadram, de uma só vez,
Éris, Plutão e também Ceres – que de planeta em 1801, havia passado a asteróide em
1852, e então mudou novamente de categoria.

Muita gente não gostou, embora, rigorosamente falando, Plutão continue sendo um
planeta. Talvez fosse mais apropriado criar uma categoria que não fizesse referência a
palavra “planeta” – mas foi apenas criado um subconjunto de “planetas”: os anões.

41
É importante recordar que há tempos estamos classificando os planetas em rochosos
(também chamados terrestres ou telúricos, que são Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e
gasosos (jovianos ou gigantes, que são Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Agora
também temos os planetas anões.

Mas é conveniente ressaltar que a nova classificação não deve durar muito (embora seja
improvável que Plutão volte a ser considerado um planeta “regular”). Há muita
discussão dentro da própria comunidade astronômica.

Não poderia ser diferente. Os cientistas precisam de definições cuidadosas, que refletem
nosso entendimento da natureza. Se uma nova descoberta torna um velho conceito
obsoleto, é preciso revisá-lo – e estamos vivendo um momento em que nossa visão do
Sistema Solar está passando por uma revisão revigorante.

SETE ANÕES Os chamados planetas anões são menores que muitas luas do Sistema Solar, mas
ainda mantêm o status de planeta porque giram em volta de uma estrela.

Teoria dos conjuntos


FIM DA HISTÓRIA? SÓ SE O MUNDO TIVESSE ACABADO ONTEM. A
Astronomia é uma ciência – e nenhuma ciência está terminada. As definições continuam
evoluindo com o tempo. Todo esse debate fornece aos educadores um excelente
exemplo de como funciona o método científico.

A ciência é uma ferramenta para o entendimento da natureza e não um conjunto de


declarações sobre como a natureza deve ser.

E por falar em conjuntos, para o seu conhecimento, nesse intrincado conjunto de objetos
que chamamos de Sistema Solar, conhecemos até agora 1 estrela, 8 planetas – de
Mercúrio a Netuno, 3 planetas anões (Plutão, Ceres e Éris), mais de 150 satélites e
milhares de asteróides (localizados principalmente entre Marte e Júpiter e depois de
Netuno). É claro, tem os cometas também. É que eles não deram tanta dor de cabeça até
agora. A não ser para os dinossauros...

42
Disponível em www.zenite.nu?planetasanoes
Acesso em 3/abr/2009

43
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

No final do século XIX já havia suspeitas de que haveria um planeta depois de


Netuno e muitos pesquisadores estavam dispostos a encontrá-lo. Entre eles o astrônomo
americano Percival Lowell (1855-1916) que construiu seu próprio observatório
astronômico. Mas foi um de seus auxiliares, o jovem Clyde William Tombaugh (1906-
1997), que em março de 1930 descobriu Plutão.

Seu único satélite, Caronte, foi descoberto somente em 1978. Até hoje, boa parte dos
dados disponíveis sobre ambos são estimativas baseadas em observações. Sabe-se, por
exemplo, que Plutão é menos denso que todos os planetas rochosos do Sistema Solar,
embora mais denso que os gigantes gasosos.

Plutão gira em volta do Sol percorrendo uma órbita tão elíptica que por cerca de 20 a
cada 248 anos de seu período orbital ele passa internamente à órbita de Netuno. A
última vez que isso aconteceu foi de 1979 a janeiro de 1999.

Sua massa equivale a menos de 2% da massa da Lua. Plutão é menor e menos massivo
que os quatro principais satélites de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e Calisto), que Titã
(lua de Saturno) e também Tritão (de Urano). Mesmo assim ele era o maior e mais
massivo objeto do Cinturão de Kuiper até a decoberta de Éris, em 2005, e continua
sendo maior que qualquer asteróide do Cinturão Principal.

Composição e atmosfera
SEGUNDO O MODELO PROPOSTO, baseado nos valores
medidos de densidade, raio e período de rotação e ainda levando
em conta as substâncias presentes àquela distância do Sol, Plutão
tem um núcleo rochoso de silicatos, sobre o qual existiria um
manto de gelo e material orgânico e uma superfície recoberta de
água, metano, nitrogênio e óxido de carbono congelados.

O principal elemento na atmosfera de Plutão pode ser o 1-Núcleo rochoso;


nitrogênio. A pressão atmosférica, assim como outros aspectos 2-Manto gelado e
físicos desse planeta, lembram os valores encontrados para Tritão, 3-córtex.
a maior lua de Netuno.

Notáveis variações de brilho (albedo) foram detectadas pelo Telescópio Espacial


Hubble, que em junho de 2005 encontrou mais duas luas em órbitas quase circulares em
torno de Plutão. No ano seguinte os novos satélites foram denominados Nix e Hidra.

44
Curiosidades sobre Plutão
Na época da descoberta de Plutão foram sugeridos
vários nomes, como Cronos ou Minerva. Mas quem
sugeriu Plutão foi uma garotinha inglesa de onze anos Plutão é o nome latino de
chamada Venetia Phair, que se interessava tanto por Hades, o senhor dos infernos
mitologia quanto por astronomia. na mitologia grega, local para
onde permaneciam as almas
Plutão foi considerado um planeta do Sistema Solar dos mortais. Para a mitologia
de 1930 a 2006, quando a União Astronômica era uma ilha muito fria no
Internacional decidiu incluí-lo numa nova categoria de
Ocidente, onde a noite
objetos, os planetas anões, da qual também fazem parte
imperava eternamente.
Ceres (maior asteróide do cinturão principal) e Éris.
Mas há quem acredite que
Visto de Plutão, o Sol é apenas a estrela mais não foi mero acaso as duas
brilhante entre todas as outras do céu. Acredita-se que primeiras letras coincidirem
um dia ensolarado nesse mundo é o mesmo que uma com as iniciais de Percival
noite pálida de luar na Terra. Lowell, que falecera anos
antes da descoberta.
Estima-se que a temperatura na superfície de Plutão
atinja os inconcebíveis 230°C negativos. Frio o bastante
para que sua própria atmosfera congele, reaparecendo somente quando o planeta atinge
o periélio, o ponto de maior aproximação com o Sol, que ocorre aos 4,42 bilhões de
quilômetros do astro-rei.

Caronte é a maior lua de Plutão, com 1/8 da sua massa (a maioria dos satélites são
milhares ou milhões de vezes menos massivos). Quando Plutão considerado planeta,
essa era a maior correlação de massa do Sistema Solar. Agora esse número pertence ao
sistema Terra-Lua, com 1/81.

Estudos indicam Nix e Hidra se originaram do formidável impacto que criou


Caronte, há bilhões de anos. Isso sugere que outros objetos do Cinturão de Kuiper
também poderiam abrigar satélites múltiplos – e o próprio Plutão teria anéis de matéria
fragmentada. Nada mais que escombros lançados da superfície das minúsculas luas.

Plutão e suas três luas são membros do Cinturão de Kuiper, um grupo de objetos
situados entre 5 e 8 bilhões de quilômetros do Sol. A maioria deles são pequenos
asteróides. Éris e Plutão são planetas anões.

Se as medidas estiverem corretas, o período de rotação de Caronte coincide com a


rotação de Plutão: um caso único no Sistema Solar. Caronte seria um satélite
geoestacionário de Plutão.

45
Alguns dados sobre as luas de Plutão

Distância* Excentricidade
Nome Diâmetro Massa Albedo Período orbital
de Plutão orbital

Caronte 19.600 km 1.200 km 1,62 × 1021 kg 0,24 16 6,4 dias

Nix 48.600 km 48 - 165 km 1,0 × 1017 kg 0,002 0,04 - 0,35 24,8 dias

Hidra 64.700 km 48 - 165 km 1,0 × 1017 kg 0,005 0,04 - 0,35 38,2 dias

* Valor médio. Os diâmetros e os albedos de Nix e Hidra são presumidos.

Disponível em www.zenite.nu?plutao
Acesso em 3/abr/2009

46
Segredos do distante Plutão
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Em 1978, o americano James Christy do US


Naval Observatory descobriu que Plutão também
tinha um satélite natural, mais tarde chamado
Caronte, o barqueiro da Mitologia grega que conduzia
as almas dos mortos na travessia do rio que as
separavam do reino de Plutão. Plutão e Caronte, fotografados
pelo Telescópio Espacial Hubble.
Até a descoberta de Caronte acreditava-se que Plutão
era muito maior, comparável com a Terra. Era isso
que se esperava de um astro que poderia casuar perturbações na órbita de Netuno. Com
a descoberta de Caronte e observações mais apuradas, as estimativas foram
dramaticamente alteradas – para baixo.

Quase num piscar de olhos, Plutão deixou de ser um gigante rochoso, transformando-se
num mundo minúsculo – o menor planeta do Sistema Solar – menor até mesmo que
muitos satélites, incluindo a Lua. Mais algum tempo e Plutão deixaria até mesmo de ser
considerado um planeta.

Plutão, Caronte e o Brasil em escala.

Um astro diferente
POR MUITO TEMPO PAIRAVAM DÚVIDAS sobre a verdadeira natureza de Plutão.
Observações revelaram que o planeta sofre grandes variações de albedo, a grandeza que
indica a quantidade de luz refletida por um astro iluminado.

Além disto, Plutão tem uma órbita altamente excêntrica e bastante inclinada com
relação ao plano da órbita terrestre, ou eclíptica. Nenhum outro planeta tem aspectos
orbitais semelhantes. Suas características eram típicas de asteróides, e isso levou alguns
cientistas a começar a pensar que Plutão não era um planeta.

47
O pequeno e distante Plutão compartilha com o gigante Netuno a fronteira do sistema
solar a distância média de 6 bilhões de quilômetros do Sol. É preciso esperar longos 248
anos para Plutão completar uma volta em torno do Sol. Plutão tem uma rotação
retrógrada, girando em torno de seu próprio eixo no sentido oposto ao da maioria dos
planetas do sistema solar.

Durante algum tempo, o astro pode ficar mais perto do Sol do que Netuno, devido ao
formato de sua órbita. Mas o período orbital de Plutão é exatamente 1,5 vezes mais
longo que o de Netuno, e isso os impede de colidirem um com o outro.

DE PERFIL. A órbita de Plutão é inclinada 17 graus em relação a eclíptica.

Em junho de 2005 o Telescópio Espacial Hubble ajudou a encontrar mais duas luas em
volta de Plutão. Chamadas Nix e Hidra, elas são minúsculas, com diâmetros estimados
entre 48 e 165 quilômetros, e percorrem órbitas bem mais afastadas de Plutão que a lua
Caronte.

Ainda pouco se sabe a respeito da atmosfera de Plutão. O material que a compõe existe
na forma de gás apenas quando o astro está próximo de seu periélio, o ponto de maior
aproximação com o Sol. É provável que nessa ocasião parte de sua atmosfera chegue a
escapar para o espaço, inclusive interagindo
com Caronte.

Durante a maior parte do ano plutoniano,


entretanto, sua atmosfera permanece
congelada na formidável temperatura de
233°C negativos. Mais uma vez isto revela
uma característica incomum aos planetas,
fazendo Plutão parecer mais com um grande
cometa longe do Sol.

Mais dúvidas surgiram com a descoberta de


pequenos asteróides nas proximidades de
Plutão, formando o agora conhecido Cinturão
de Kuiper, que se estende de 6 a 24 horas-luz
do Sol (1 hora luz é a distância que a luz
percorre em 1 hora: cerca de um bilhão de
quilômetros).

Seria Plutão simplesmente o maior asteróide desse grupo? Estariam confundindo Plutão

48
com um planeta, do mesmo modo que, durante anos, pensou-se que Ceres era um
planeta?

Planeta anão
APESAR DOS COMETAS TEREM ATMOSFERA TEMPORÁRIA, eles são astros
muito pequenos, com poucos quilômetros. Sua principal característica, sem dúvida, são
as longas caudas que se formam quando estão mais perto do Sol. Os asteróides
compartilham com Plutão a semelhança de uma órbita excêntrica e inclinada, mas
geralmente são corpos muito menores, com formas irregulares e sem atmosfera.

Mesmo assim, o termo “planeta” não estava definido apropriadamente. E se fosse


descoberto um astro no Cinturão de Kuiper com massa e diâmetro apenas ligeiramente
superiores a Plutão? E se fossem descobertos vários objetos assim? Quantos planetas
existiriam? O que é, exatamente, um planeta?

As respostas não tardaram muito a surgir. Em 2005, o


astrônomo Michael Brown, do Instituto de Tecnologia
da Califórnia, desobriu Sedna, um astro tão longínquo
que faria Plutão parecer nosso vizinho. Sedna chegou
a ser aclamado como o décimo planeta do Sistema
Solar, mas ele era um pouco menor que Plutão e a
discussão não prosperou.

Só que no mesmo ano, o mesmo Michael Brown


descobriu Éris e sua lua Disnomia. Éris é o primeiro
(até agora único) objeto do Cinturão de Kuiper cujas
dimensões ultrapassam Plutão. Poderia-se optar por
classificar Éris como um novo planeta, mas havia uma Concepção artística do planeta
solução melhor. anão Éris e sua lua Disnomia.

No dia 24 de agosto de 2006, numa conferência internacional da União Astronômica


Internacional, foi criada uma definição mais formal de planeta, e uma sub-categoria
deles, os planetas anões, nova classe de objetos cujos primeiros integrantes seriam Éris,
Plutão e Ceres. A rigor, o Sistema Solar agora tem 11 planetas conhecidos, sendo 3
deles planetas anões.

49
QUAL A DIFERENÇA entre planetas, planetas anões, satélites e asteróides? Descubra aqui.

Visão aprimorada
HÁ DUZENTOS ANOS, O CINTURÃO DE ASTERÓIDES (hoje Cinturão Principal)
era uma grande novidade. Não se fazia idéia da existência de uma outra região de
pequenos corpos (o Cinturão de Kuiper). Inúmeras outras descobertas importantes
também contribuíram para uma visão muito mais aprimorada do nosso sistema
planetário. Por isso, é natural que ele tenha ficado mais
complexo.

Mas houve quem não gostasse da re-classificação de Plutão


(inclusive no meio científico). Junto ao público em geral, foi
como se os astrônomos tivessem retirado o corpo celeste do
Sistema Solar – e só porque ele era pequeno. Sem falar na
astrologia, que havia incorporado Plutão nos horóscopos
depois de 1930, e não será surpresa alguma se no futuro
alguns signos forem regidos pelos planetas anões.

O fato é que no distante e gélido Plutão não crescem rosas,


como no fictício asteróide B612, do livro “O Pequeno
Príncipe” de Saint-Exupéry. Plutão ainda não foi visitado por
nenhuma sonda espacial e permanece longe de nossos olhos, desafiando nossa
inteligência e credulidade. Talvez apenas para lembrar que “visão é a arte de enxergar
as coisas invisíveis”.

Disponível em www.zenite.nu?plutao
Acesso em 3/abr/2009

50
O Cinturão de Kuiper
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

Na visão tradicional, o Sistema Solar é formado pelo Sol, os planetas e um


cinturão de asteróides, composto por objetos menores, a grande maioria com formas
irregulares, e todos situados entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Esse modelo ignora a presença dos cometas e dos asteróides cujas trajetórias passam por
entre as órbitas de vários planetas – mas até que seria aceitável, não tivéssemos hoje
uma visão um tanto mais sofisticada, onde o “velho” cinturão de asteróides há muito
deixou de ser o único.

BARREIRA NATURAL Os asteróides também são comumente vistos como uma


região
densamente povoada, quase impenetrável. Não é verdade. Ali, um cubo com 100
milhões
de quilômetros de lado contém, em média, um único corpo com mais de 100 km de
diâmetro.

Oort e Kuiper
EM 1950 O ASTRÔNOMO ALEMÃO JAN
OORT formulou a hipótese de que os cometas
seriam originários de uma vasta região que
circunda o Sol, uma espécie de nuvem em
forma de concha, cerca de cinqüenta mil vezes
mais afastada que a Terra.

Um ano mais tarde o astrônomo de origem


holandesa Gerard Kuiper sugeriu que alguns
desses objetos, tipicamente asteróides,
deveriam se concentrar numa faixa contínua
localizada nos limites do Sistema Solar.

Essa hipótese foi reforçada pela constatação


de que existem populações separadas de Jan Hendrik Oort (1900-1992)
cometas (chamadas "famílias de Júpiter") com

51
indivíduos bastante distintos daqueles provenientes da nuvem de Oort.

Eles se movem em volta do Sol em cerca de 20 anos ou menos, contra os milhares ou


mesmo milhões de anos de um cometa de Oort, e além disso percorrem suas trajetórias
no mesmo sentido e quase no mesmo plano orbital dos planetas.

Gerard Peter Kuiper (1905-1973)

Finalmente, simulações em computador no início dos anos 80 previram a formação


natural do cinturão de asteróides proposto por Kuiper. De acordo com este cenário, os
planetas teriam se formado ao redor do Sol a partir da aglomeração de diversos
elementos primordiais (os chamados protoplanetas), sendo que os resíduos não
aproveitados neste processo foram gradualmente varridos da vizinhança da estrela.

Porém, além da órbita de Netuno, o último planeta gigante, ainda deveria haver uma
espécie de depósito desses entulhos planetários.

Uma nova visão


A CONSTATAÇÃO VEIO EM 1992, com a descoberta de um objeto chamado
1992QB1, com 240 km de diâmetro e à distância prevista por Kuiper. Logo foram
encontrados diversos outros asteróides com dimensões similares, confirmando que o
cinturão de Kuiper era real.

Dois satélites de Netuno, Nereida e Tritão, e Febe, uma lua de Saturno, por suas
características orbitais incomuns são hoje considerados objetos do cinturão de Kuiper,
capturados pela força gravitacional dos planetas a que agora pertencem.

Hoje existem mais de 600 objetos conhecidos no cinturão de Kuiper, todos descobertos
após 1992. Entre eles está Plutão, que agora pertence a categoria dos planetas anões,
Éris (que é maior que Plutão) e também Varuna (com 900 km de diâmetro) e Quaoar
(com 1.250 km). Já Sedna, descoberto em 2003, tem praticamente toda sua órbita fora
dessa região, indo até o limite inferior da nuvem de Oort.

52
CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DE QUAOAR, um dos maiores objetos
encontados no Sistema Solar desde 1930, ano da descoberta de Plutão.

53
A Terra sem a Lua
Primeira parte
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

O Universo é tudo para nós

A teoria sobre a formação da Lua mais aceita atualmente


defende que o nosso satélite natural teria se originado a partir de
um formidável impacto que a Terra sofreu há bilhões de anos.

Por mais fantástica que pareça, essa hipótese consegue explicar


tanto a semelhança entre as rochas lunares e terrestres quanto
alguns aspectos do movimento orbital de ambos.

A colisão deve ter ocorrido no estágio final de formação do


nosso planeta, com um dos muitos "concorrentes" da Terra,
fragmentos de rocha incandescente que coletavam matéria para
se agregar em corpos maiores.

Nosso planeta pode ter perdido parte do núcleo durante o


impacto, formando uma nuvem de poeira quente ao redor. A alta
temperatura desse material (que formaria a Lua) explicaria a
ausência de compostos voláteis nas rochas lunares.

A Lua primitiva era igualmente bela e assustadora. Sua distância


inicial seria inferior a 50.000 km (hoje a distância média Terra-
Lua é de aproximadamente 384.000 km), tornando a Lua Cheia 15 vezes maior.

Até hoje, Terra e Lua formam um sistema planetário duplo. A rigor, são como dois
planetas girando em torno de um centro comum de gravidade, situado apenas algumas
centenas de quilômetros abaixo da superfície da Terra.

Um mundo do faz de conta


OS CIENTISTAS AINDA SE PERGUNTAM quais seriam as
implicações caso a Lua nunca tivesse existido. Segundo uma parte da
matemática popularmente conhecida como "Teoria do Caos", pequenas
variações nas condições iniciais de um fenômeno podem resultar em
enormes diferenças no final.

Podemos imaginar que há bilhões de anos a recém formada Terra tivesse um destino
diferente, não sendo atingida por nenhum corpo muito massivo. Então, se a Lua nunca
se formou, qual seria a massa final da Terra? E os movimentos orbitais? Será que o
nosso planeta teria uma composição química muito diferente da encontrada hoje?

Estamos no limiar entre a ciência e a ficção. Não há como comprovar tais hipóteses,
mas podemos fazer com que nossos propósitos estejam sempre dentro das implicações
astronômicas e geológicas conhecidas. Fazendo isto, o que mais poderemos descobrir
sobre o passado – e presente – do nosso mundo, supondo um planeta Terra... sem a
Lua?

54
Sombra e dias curtos
SEM A LUA NÃO HAVERIA ECLIPSES, embora isso não pareça ter implicações
muito sérias; e além disso saberíamos do que se tratam, pois eclipses também ocorrem
entre os satélites de Júpiter, por exemplo.

Porém, sem a Lua as noites teriam uma iluminação uniforme, já que exceto pelas luzes
das cidades é a luz do luar que faz a noite clara. Isso já traria algumas implicações na
evolução das espécies.

Basta lembrar que o nosso medo natural do escuro vem do fato


de não conseguirmos enxergar bem com pouca luz, ao contrário
de certos animais predadores, que sem o luar teriam vantagem
em suas caçadas noturnas.

Sem a Lua, o ciclo das marés também seria diferente. Ainda existiria a alternância entre
marés alta e baixa (as marés também são provocadas pela ação gravitacional do Sol), só
que em menor intensidade – 70% menor.

Com menores forças de maré, também seria menor a faixa de areia que é
periodicamente coberta pela água do mar, durante a maré alta, e depois exposta
ao Sol durante a maré baixa. Acontece que essa faixa de areia é habitada por
uma grande diversidade de seres, importantes não somente para a vida
marinha, mas também para diversas espécies de aves migratórias, que deles se
alimentam.

Diariamente ocorrem duas marés altas (ou preamares)


e duas marés baixas na Terra. Este ciclo é um efeito
conjunto da força gravitacional do Sol e da Lua.

Sem a Lua, os dias na Terra seriam mais curtos – estima-se algo em torno de 18 horas –
pois as forças de maré reduzem a rotação do planeta, alongando o dia.

É fácil de entender: tais forças agem igualmente nas partes sólidas e fluídas do planeta,
mas sua ação nos líquidos é mais evidente. Assim, ao "puxar" os oceanos friccionando-
os contra a crosta sólida, duas vezes por dia e por bilhões de anos, pouco a pouco
diminuiu a velocidade de rotação da Terra – aumentando a duração do dia.

55
A Terra sem a Lua
Final
JOSÉ ROBERTO V. COSTA

Astronomia no Zênite

Antártica tropical
DIAS MAIS CURTOS CERTAMENTE RESULTARIAM EM ENORMES
MUDANÇAS no processo de evolução da vida na Terra. Outros ciclos de luz e
escuridão provocariam novos hábitos na fauna e flora.

Além disso, com um período de rotação mais rápido, a atmosfera terrestre se moveria
mais velozmente. Furacões poderiam durar meses e os ventos seriam muito mais
rigorosos.

Graças a Lua o eixo de rotação da Terra permanece estável em cerca de 23 graus e meio
de inclinação. Isso é responsável pela existência das estações do ano. Presume-se que
sem a Lua, a inclinação do eixo terrestre poderia atingir os 85º.

Todo o clima da Terra seria dramaticamente alterado. Na Antártica, onde hoje faz muito
frio, seria quente como nos trópicos, e as regiões equatoriais do planeta estariam
cobertas de gelo. A Lua é um regulador climático.

Bagunça útil: a Lua gira numa órbita inclinada 5° em relação ao plano da órbita
terrestre. Ela própria está inclinada 1,5° com respeito a sua órbita, enquanto a
Terra gira com 23,5° de inclinação.

Lua, protetora da vida


A LUA TAMBÉM TEM SIDO UM EFICIENTE ESCUDO
contra impactos de meteoritos. Se a Lua não existisse, a
própria Terra seria a única fonte de atração gravitacional para
os objetos que causaram aquelas cicatrizes lunares.

As crateras da Lua, principalmente as do lado oculto, dão


uma boa idéia do que já podemos ter escapado. Quando um
grande meteorito choca-se com a Terra parte de nossa
atmosfera é perdida no espaço e centenas de quilômetros Sem a Lua seríamos mais
cúbicos de poeira são arremessados no ar. vulneráveis?

Evidências de impactos no passado mostram que esse

56
material fica em suspensão por anos, impedindo a luz solar de chegar à superfície – é o
inverno global.

Assumindo que a Lua nunca existiu, então aquele violento impacto com a Terra
primitiva também nunca aconteceu. Dependendo do ângulo com que o meteorito
gigante atingiu a Terra, a rotação do nosso planeta certamente seria diferente.

Provavelmente teríamos uma órbita menos elíptica que a atual. Fazendo as contas da
massa acrescentada à Terra com o impacto, menos a massa da Terra cedida à Lua, é
possível que nosso planeta fosse até 10% menor. Nossa atmosfera poderia ser tão densa
quanto a do planeta Vênus...

Ainda poderíamos falar nos efeitos psicológicos (?) atribuídos a


Lua, como o crescimento da lavoura ou de nossos cabelos, o
ciclo menstrual da mulher e as histórias populares, como a do
lobisomem.

Se a Lua não existisse – ela que inspira românticos, poetas e


O que seria dos contadores de histórias – ainda seríamos a mesma civilização?
lobisomens sem a Lua? Ainda seríamos a mesma cultura?

Carpe Diem (Aproveite o Dia)


SEM A LUA, TODA A VIDA NA TERRA
poderia ser não apenas diferente, mas
simplesmente nunca ter surgido.

Mesmo sem poder comprovar esses resultados,


um dia a Terra ficará sem a Lua. Com o passar
de eras, as forças de maré vão reduzir ainda
mais a rotação da Terra, tornando os dias mais
longos – e como para cada ação existe uma
reação, a Lua se afasta de nós 3,8 cm a cada
ano. Terra vista da Lua. Fotomontagem a partir
de imagens das missões Apolo.
Não antes de terem se passado quinhentos
milhões de anos, a Lua não será mais capaz de
produzir eclipses do Sol. Em um ou dois bilhões de anos ela estaria tão longe que
poderia se desprender da atração terrestre. Talvez se torne um planeta em separado,
talvez colida com o Sol.

Alguns pesquisadores já calcularam que a ausência da Lua daria ao nosso planeta uma
precessão caótica, isto é, o eixo de rotação da Terra poderia passar a oscilar loucamente.

A maioria discorda. Para eles a Lua não vai se afastar para sempre. O processo pára
quando a rotação da Terra, da Lua e o período orbital da Lua atingiram todos um valor
em torno de 55 dias. Nesse ponto a Lua estará 60% vezes mais distante da Terra que
hoje. Mas isso só aconteceria em uns 15 bilhões de anos – e o Sol morre antes, em cerca
de 5 bilhões de anos no futuro.

57
Resta-nos a certeza de que vivemos no momento adequado para a Terra abrigar vida em
abundância e ser iluminada pelo luar. Por isso, cuide bem do seu planeta e aproveite o
dia... e as noites também!

Disponível em www.zenite.nu?terrasemlua
Acesso em 3/abr/2009

58

Você também pode gostar