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VIBRATOSCÓPIO
Copyright © 2021, by Ivaldir De Sagitário & Arca Digital - Editora.
Título: Vibratoscópio.
E-mail: arcadigitaleditora@gmail.com
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Muhatu é como sou chamada; tenho cada vez mais
de 819.936.000 de segundos existenciais e vivo apeando
em solos de Braina, nação de Urántia, continente capital
de Circa, planeta onde moramos. Ergui meus anos de
vida sob responsabilidade dos meus pais, conhecidos
como aliens muito importantes para a evolução do nosso
planeta face à luta pela sobrevivência no cosmos. Com o
passar dos milénios, planetas vão se tornando extintos
pela baixa produção de energia intelectual e, em
detrimento da evolução gerida pelo governo do meu pai, o
Relattus apresenta o nosso planeta bastante invicto, pois
há uma dimensão de diferença entre a nossa produção e
as produções dos demais planetas, fazendo com que
sejam os exércitos de Circa a demolirem os planetas
condenados em seus respectivos milénios. "Faz tempos
que isso não muda". Rezam os anciãos.
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0,5% desse risco. Sendo assim, os nossos pequenos já
superam os QIs de adultos de muitos outros planetas.
Aqui, as crianças fazem operações matemáticas sem
máquinas de calcular, são treinadas a acertar
mentalmente os números que sucedem a vírgula, sabem
quantos passos dão ao sair e ao voltar para a casa e
sabem medir temperaturas exactas sem olhar para um
termómetro; até 5 anos, elas já devem saber criar
tecnologias de definição primária e já devem possuir a
óptica microscópica, de modo a verem quantas matérias
menores existem na superfície de uma matéria maior; aos
10 anos, já devem conhecer a anatomia do nosso corpo e
identificar cientificamente, sem ter que ficar só pela
cabeça, pelo tronco e pelos membros; já sabem como
ocorrem muitos fenómenos e, aos 15 anos, os nossos
rapazes aliens são encaminhados para organizações
científicas e militares, de modo que sejamos entidades
intocáveis em próprios territórios e em territórios alheios,
bem como possuirmos ciências e sistemas de alta
definição.
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outono. O primeiro inverno é climático; nossos continentes
são frios e nublados. É até irónico eu dizer que as cidades
são frias porque frio é algo que, de tanto sermos, já não
sentimos. Isso remete ao segundo inverno, que é
orgânico. Nossos grandes olhos são pretos, neutros, sem
expressão e, em seus reflexos, podemos ver só as
urbanizações tecnológicas e a estrutura insatisfeita do
planeta nos outonos. As ruas são seguras, cinzas de dia,
luminosas de noite e, apesar de existirem crianças, não
há caos; muito pelo contrário, há extremo silêncio e
ordem, mas sempre ouvi da minha mãe que, para o par
de ouvidos de quem tem filhos, há mais caos no silêncio
do que no barulho. Nunca entendi essa oposição, visto
que somos a forma de vida concreta mais evoluída no
cosmos.
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O Relattus é uma entidade superior aos governos
que representam os planetas. Ele é a energia consciente
que se encarrega de controlar as nossas produções de
energia e de anunciar, em intervalo milenar, qual o
planeta a ser aniquilado, seja de que galáxia for. Segundo
os materiais usado nas academias, ele dita a sentença de
cada planeta com base na lei de Lectus e este
mencionado é juntamente uma lei e um critério vivo usado
para medir as energias cognitivas que cada planeta,
através das suas formas viventes, emite às colmeias do
universo. Daí, essa lei é uma temperatura muito abaixo de
0º para planetas de cognição baixa.
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segura. Fui pega novamente por sensações estranhas,
mas essas eram mais pesadas do que eléctricas.
Braina… Urántia… Circa… Cosmos…Relattus… Lectus…
tudo passou a soar mais escuro, mais agressivo, mais
misterioso e, por pouco, abria mão de querer servir às
organizações, mas o telescópio ao lado tinha uma
conexão irresistível com a minha curiosidade. Então, não
tive outra escolha, senão aproximar-me e tocar por mais
instantes.
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adaptar as minhas mãos à ligeira vibração do telescópio e
voltei a olhar, quando fui surpreendida pela vista mais rara
que já tive na vida...
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Segui dias e noites olhando para o planeta recém-
descoberto e, além da bonita roupagem que tinha, voltei a
sentir o meu corpo estranho. Era como se,
definitivamente, estivesse a nascer um novo sentido em
mim. Foi quando lembrei-me dos materiais dados pelo
meu pai que folhei as páginas até ver a sua imagem e a
sua descrição, pelo que conheci o seu nome e se chama
Terra. Conhecendo, só havia uma razão para uma coisa
tão bonita ter um nome pesado e isso pode ser a causa
da vibração que senti no meu telescópio no experimento
passado. Aprendemos por anos que o "z" é a maior fonte
de vibração no cosmos, mas acabara de descobrir que a
maior fonte se chama "r". Começava a achar tudo
estranho e a rezar em voz terna que os esclarecidos
mentem aos cegos. Era tudo prematuro para mim, pelo
que abanei a cabeça em velocidade e concentrei-me na
minha apreciação pelo planeta novo.
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luzeiros vindos dela. Nas manhãs, ela parece uma rainha
no cio, saciando os raios de sol dentro dela. Foi mais que
suficiente para me extasiar na percepção relâmpago de
que podemos não ser absolutamente evoluídos. Talvez
tenhamos sido só injectados com uma dose de alienação
mais discreta que a dos demais. "Pensar fora da caixa"…
isso nos recomendam, mas porquê não recomendam
descobrirmos quantas caixas devemos perfurar? E se, ao
sairmos de uma caixa, nos deparamos com uma segunda
mais espaçosa e, no entanto, mais ilusória? E se
verdades forem só mentiras levadas a sério? E se a forma
menos vergonhosa de pregar o caminho errado for fazê-lo
parecer o caminho certo? E se o que pensamos ser a lei
da existência for somente a vontade de alguém que
prevaleceu por autoridade e influência? Quem criou o
conceito de desvantagem e com que urgência as coisas
tinham que ser assim? Não havia nenhum outro jeito do
qual as coisas podiam ser?! Se um colo quente é o que
temos para dar, por que razão devemos criar homens
para serem frios? Como pode a lei saber que a punição
dói e, ainda assim, permitir que inocentes nasçam e vivam
caminhando cegamente para a dor? Onde estamos, afinal
de contas?!
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Hoje, bem além dos 473.040.000 segundos,
concretamente com 819.936.000, possuo a competência
para trabalhar em prol da nossa pátria alienígena, do
continente e do planeta, mas a lei continua resistente e,
aos olhos das autoridades, não posso entrar para o
sistema. O facto é que se aproxima o fecho do actual
milénio e, como planeta representante do cosmos, o
Relattus vai anunciar o próximo a ser varrido da
existência. Sempre temos os planetas desenvolvidos
como os predilectos, mas, independentemente disso, é
um horror ver um planeta ser aniquilado, por menos
importante que seja. São diversos "eu" a terem seus
direitos de existir violados, são projectos futuros a serem
interrompidos e um momento de paz a se tornar
infernizado. Sempre dói e é uma desvalorização total
morrer sabendo que é o universo a abrir mão de nós, e
que só os outros continuarão vivos por estarem a
merecer. Isso é como ver o seu pai entre você e o seu
irmão a decidir que não será a sua vida a ter continuação.
É uma forma dolorosa e fria de se degradar. É a dor, o fim
de um processo, a desilusão, a sensação de se tornar
moído, com a consciência de inútil, de desprezível, e a
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percepção de últimos instantes que estamos a ser
varridos do universo feito lixos.
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segundo ancião, fazendo com que outros abanassem as
cabeças, a concordar. — Vossa excelência, permita-nos,
por favor, saber se, de facto, a Terra é o planeta em
despedida.
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— Talvez nem mesmo eles saibam disso, mas o
forte do universo não é o intelecto, e sim o sentir, o
energizar, o discernir e o eternizar. Eles podem estar
modestos quanto a essa importância, mas são eles que
revitalizam o universo porque, de milésimo a milésimo,
são completos. Nós temos a água, o ar e o solo, mas,
além desses 3 elementos, eles têm o fogo. A lei de Lectus
nunca será capaz de nos ensinar isso! O universo precisa
de fogo, de intensidade, de calor, e é uma ofensa contra o
cosmos aniquilar o único planeta vivo baptizado pelo sol.
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electricidade dos meus lábios e a relevância dos meus
seios. Lá, os meninos gostam das meninas e, quando há
reciprocidade, trocam cartas perfumadas e bonitas. É por
não termos esse princípio que os nossos homens nos
subestimam.
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— Enquanto varremos planetas e seres de energia
intelectual baixa, os humanos pegam em matérias
descartáveis e, pela reciclagem, transformam em arte. Em
um minuto, vivem anos-luz de arrepios em uma troca de
abraços e, para o universo, isso nunca será insignificante.
Humanos fazem poesia; estão longe do sobrenatural, mas
fazem da natureza um real pote de magia. Eles gostam
das cores, gostam do mar, pisam na areia e valorizam o
ar. Andam fixos sobre o chão, mas exploram a
imaginação como se não existisse força gravitacional.
Com músicas, eles podem viajar para anos passados,
materializar lembranças e ir para dimensões de sentir que
nem com as naves conseguimos ir.
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precisar de fé, mas eles têm o prazer de devorar pelos
poros o sabor de cada realização que podem fazer.
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em laboratórios e servir ao exército. A verdade é que já
não precisamos de mais milénios perdidos no labirinto
quando podemos andar em milhas de sentidos por cima
dele.
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para dentro da lógica e, quando do colapso se fez
silêncio, revelou-se uma flor do chão nevado e uma
criança espantou-se, vindo depois um sorriso descuidado
da sua mãe. Quem é o sorriso descuidado perto de uma
felicidade adornada? Certamente... um comprovativo.
Pareceu que estrelas desceram para os nossos olhos e,
como manifestação de felicidade, nos pusemos a chorar.
Muhatu é fertilidade,
É o começo da infinitude,
É a infinitude das idades.
Muhatu é ela...
A magia que rola entre o escuro
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E o acender de uma vela.
Muhatu é existir
Muhatu é viver
Muhatu é o universo inteiro...
...batendo no peito de uma mulher."
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Levo Relattus e Lectus para a minha assombração porque
é para o brilho da sinergia que a mãe existência nos fez
como irmãos. Meu nome é Sensus e vou saborear a
vossa morte para que vocês possam saborear o meu
nascimento. Vocês já têm tudo o que precisam de
inteligência, mas precisam crescer e serem cada vez mais
plenos em convivência.
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deitadas e estrelas correntes começam a percorrer
múltiplas pelo céu. Os anciãos se erguem e virámos todos
para a mesma direcção, apreciando o concerto das
estrelas fazendo da noite um gigantesco circo.
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— …anização por meio tempo para participar da
missão de ir para a Terra? — Nesse ponto, eu paralisei
por segundos e saltei partindo para um abraço.
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Nome: Ivaldir Siofeni Rodrigues Barbosa.
Pseudónimo: Ivaldir De Sagitário.
Aniversário: 01 de Dezembro.
Ocupação: Escritor.
Nacionalidade: Angolana.