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EXISTE UM EVANGELHO NAS ESTRELAS?

Tradução e Adaptação Tiago Robledo M.˙. M.˙.

Há pouco mais de um século, dois livros eram publicados expando a teoria de que a história de Deus e
da redenção é revelada nas constelações encontradas no céu. Um era O Evangelho nas Estrelas, de Joseph A.
Seiss, publicado em 1882, e o outro foi A Testemunha das Estrelas de E. W. Bullinger, publicado em 1893.
Ambos foram republicados e estão disponíveis pela Kregel Publicações. Sua tese básica é que o próprio Deus
revelou os padrões das estrelas e seu significado para os patriarcas, talvez desde Seth, ou desde os primeiros
patriarcas, que desenvolveriam as constelações a fim de preservar e transmitir o que eles sabiam do plano de
salvação.
Isso é, tal acontecido seria anterior mesmo à outorga da Lei e, portanto, também anteriores a qualquer
revelação escrita de Deus (embora muitos criacionistas acreditem que o próprio Moisés tenha edita as Tábuas
de Gênesis que foram escritas na realidade pelos patriarcas). Obviamente desde épocas remotas, crentes em
Yahweh transmitiram conhecimentos através das tradições orais, e assim, o que melhor do que as estrelas para
auxiliar nessas lições?
Existem muitos paralelos interessantes entre o plano de salvação e as mitologias encontradas nas
constelações. Exemplos seriam a virgem, o carneiro, o touro, várias criaturas semelhantes a serpentes e vários
homens fortes, alguns com naturezas duais. Também pode ser conjecturado que certos nomes de estrelas se
encaixam no plano redentor de Deus.
Argumenta-se que o propósito original das constelações foi mudado e adicionado na mitologia de
diversos povos. Esses livros seriam uma tentativa de restabelecer seu propósito original.

ARGUIDO DO SILÊNCIO

Superficialmente, essas duas obras parecem plausíveis, até mesmo eruditas, mas seriam alinhados aos
textos bíblicos e factualmente corretos? Parece que uma “doutrina” tão importante (na descrição usada por
Seiss) seria obviamente ensinada nas Escrituras, mas em nenhum lugar somos instruídos sobre o significado
da vários padrões de estrelas que vemos. Falhando em ensinar qualquer coisa sobre as estrelas, pelo menos
seria de se esperar que qualquer corrente pensamento do tipo, na época pelo menos fosse mencionada na
Bíblia.
Por exemplo, o profeta Isaías ao predizer o nascimento virginal (Isaías 7:14), ou Mateus ao notar o
cumprimento (Mateus 1:23), teria tido oportunidade para traçar um paralelo com o sinal no céu, mas nenhum
dos dois o fez. Ou em dar as instruções de um sacrifício adequado, não deveria ter Moisés mencionado a
analogia encontrada no céu? Ou as discussões do Novo Testamento sobre a natureza dual de Jesus, teria sido
uma boa oportunidade para comparar com elementos celestiais correspondente. Em nenhum desses casos é
feita qualquer menção do Evangelho sobre o céu, enquanto outros costumes ou as crenças da época foram
registradas (embora não necessariamente corroborem essa hipótese).
Apenas como exemplo de crenças extrabíblicas registrada, se tem a alegada agitação angelical no
tanque onde Jesus curou o homem coxo desde o nascimento (a exemplo de João 5:4). Se as constelações são
uma revelação dada por Deus, por que o Senhor escolheu não reconhecer isso em sua Palavra? Enquanto
trechos de citações de Josefo e outras fontes seculares são também contempladas, não há evidências históricas
claras de que qualquer parte deste Evangelho nas estrelas sobreviveu desde a antiguidade.
Tanto Seiss quanto Bullinger dão crédito às notas de Frances Rolleston publicadas em 1862 como
“Mazzaroth: Ou, as Constelações” como inspiração inicial, mas aparentemente muito do que foi escrito veio
da mente do próprio Seiss, sendo necessário um exame das passagens bíblicas que Seiss e Bullinger usaram
para sugerir a validade desta doutrina. Se tem dito frequentemente, e é uma boa regra de exegese, que se
alguém vê um novo significado em uma passagem bíblica que ninguém mais tem visto antes, provavelmente
há um bom motivo: o significado não está lá. Se deve ter isso em mente quando se examinar esses textos.
ARGUMENTOS ESCRITURAIS

A primeira Escritura citada é Gênesis 1:14, que nos diz que o propósito das estrelas era para “haver
separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos”. Seiss
aponta que os significados das estações, dias e anos são belamente explícitos, mas questiona o que se entende
por sinais (ou signos)? Ele responde à pergunta de que elas (as estrelas) devem ser sinais do plano de salvação
de Deus que está por vir. Mas nenhum outro comentarista apoia essa visão.
Além disso, o assunto de Gênesis 1:14 são as luzes maiores e menores (o Sol e Lua); as estrelas são
mencionadas em um contexto separado. O Sol e a Lua são usados para sinais/signos nas Escrituras. O
apóstolo Pedro citou o profeta Joel no Pentecostes que nos últimos dias “O Sol se converterá em trevas, e a
Lua em sangue” (Atos 2:20, Joel 2:31). Portanto, pode não haver nada em Gênesis 1:14 que exige mais do que
esse tipo de interpretação. Também é afirmado que o Salmo 19 nos diz “Os céus declaram a glória de Deus e
o firmamento anuncia a obra das suas mãos”, e visto que Romanos 1:20 nos diz “tanto o seu eterno poder,
como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles (os
homens) fiquem inescusáveis”, isso significaria que o Evangelho é revelado nos céus. Mas observe que essas
duas passagens proscrevem com muito cuidado o que a criação revela.
Romanos nos diz que há duas coisas: Seu Deus (Sua existência, Sua divindade) e Seu poder eterno
(presumivelmente apenas um Deus muito poderoso poderia criar tudo o que vemos). O Salmo 19
simplesmente declara que os céus, em sua beleza maravilhosa, declaram a glória de Deus em Seus atos
criativos. Sair dessas passagens com algo mais do que o que está explicitamente declarado é aparelhar-se
delas. Seiss e Bullinger afirmam que se pode deduzir atributos adicionais de Deus, como sua santidade e
amor, olhando para as estrelas.
Hugh Ross, em seu livro “A Digital de Deus” (em tradução livre), tem uma conduta semelhante ao
listar cinco atributos adicionais de Deus (para um total de sete) além de Sua existência e poder que se pode ver
no Universo usando Romanos 1:20 como base. Nenhum lugar nas Escrituras é dito explicitamente que se pode
discernir o Evangelho estudando o céu; explicitamente, se informa de que o Evangelho só pode ser conhecido
pela Palavra e pela pregação (Romanos 10:14).
Um exemplo da Palavra e da pregação trabalhando juntas é a interação de Filipe com o eunuco etíope
em Atos 8. Além disso, esta doutrina coloca as constelações em pé de igualdade com as Escrituras no que diz
respeito à revelação. Elevar qualquer coisa com a Bíblia deve fazer os estudiosos cautelosos. Como o
Evangelho nas estrelas é diferente da teoria da dupla revelação, de que Deus revelou Sua natureza divina no
mundo natural?
Hugh Ross eleva o papel da criação quando afirma que a natureza é como um sexagésimo sétimo livro
da Bíblia que revela ainda mais sobre os atributos de Deus; Qual seria a diferença entre o Evangelho nas
estrelas e essa ideia alegada, mas não comprovada, do livro sexagésimo sétimo? Há também o problema de
certas coisas terem significado antes de seu tempo. Apesar da predição de Isaías, o nascimento virginal não foi
totalmente compreendido até a redação dos Evangelhos.
De maneira semelhante, apesar da predição de Jesus sobre sua morte e ressurreição, seus seguidores
não entenderam até depois de tudo ter acontecido. Antes da crucificação e ressurreição, qual era o significado
da cruz? Nenhum..., mas Seiss e Bullinger atribuem um significado muito preditivo ao Crux, o Cruzeiro do
Sul. Então, que papel ele desempenhou? Não poderia ter feito parte de um Evangelho do Velho Testamento,
porque a crucificação foi uma invenção muito mais recente, amplamente usada pelos romanos e, portanto, não
teria significado nada para os patriarcas. E que tipo de predição teria sido, dado que nenhuma alusão do Novo
Testamento é feita a ela? Os Evangelhos, particularmente os de Mateus, claramente observam o cumprimento
das predições do Antigo Testamento, mas uma cruz no céu nunca é mencionada.

DIFICULDADES COM FONTES SECULARES

Além dos problemas bíblicos, há dificuldades com fontes seculares. Muito do que sabemos sobre a
astronomia antiga vem do Almagesto, um livro do século II AEC escrito por Cláudio Ptolomeu. De acordo
com Ptolomeu, havia 48 constelações, 12 ao longo do zodíaco com 36 outras. Seiss e Bullinger preservam
esse número, mas excluindo três e substituindo-as por três outras. Os excluídos são Corona Australis (a Coroa
do Sul), Equuleus (o Cavalo Pequeno) e Triangulum (o Triângulo). As substituições são o Nó (ligando as
partes de Peixes), Coma Berenices (o Cabelo de Berenice) e o Crux (o Cruzeiro do Sul mencionado
anteriormente).
Os dois últimos são agora reconhecidos como constelações, mas são de origem mais recente. O Crux é
algumas vezes atribuído a Augustin Royerin 1679, mas Jakob Bartsch o listou separadamente em 1624, e
Emerie Mollineux ilustrou o Crux em um globo estelar já em 1592. Por outro lado, Johann Bayer traçou Crux
apenas como parte de Centaurus em sua obra Uranometria de 1603. A adição do Crux pode ter sido parte de
uma tentativa de suprimir referências mitológicas dos céus que remonta pelo menos à época de Beda.
Coma Berenices foi sugerido por Tycho Brahea alguns anos antes da Bayer, o que provavelmente foi
sugerido pelo aparecimento nebuloso de um aglomerado de estrelas localizado ali. Seiss e Bullinger afirmam
que Coma Berenices foi originalmente retratada como uma mulher amamentando um menino, mas se for
verdade, foi apenas como uma porção de Virgem.
Também se afirma que Crux era uma constelação antiga que já foi visível de latitudes temperadas do
Norte, mas devido para um efeito chamado precessão deixou de ser visível. Afirma-se ainda que, à medida
que os navegadores navegavam para o sul, há 500 anos, ele foi redescoberto. Ptolomeu supostamente excluiu
Crux de catálogos de estrelas mais antigas porque ele não podia vê-la. Essa “história” é provavelmente
sugerida pelo fato de que a Crux começou a aparecer nos mapas estelares há 500 anos, mas o fato de não se
saber quem a originou, necessariamente significa que ela deva ser de origem antiga?
Essa afirmação é seriamente prejudicada quando se percebe que quase tudo o que sabemos da
astronomia antiga veio de Ptolomeu, pois as cópias de manuscritos anteriores não sobreviveram. Seiss e
Bullinger pode ter substituído evidência por conjectura através da exclusão de Ptolomeu, porque não há
absolutamente nenhuma evidência de que os ancestrais nomearam esta constelação. Essa crítica foi feita
contra a tese de Seiss mesmo antes de ser publicada.
Essa e outras críticas preocuparam Seiss o suficiente para que inserisse um suplemento em seu livro
onde as tratava. Ele apelou a Ptolomeu para justificar seu caso: “O próprio Ptolomeu também confessa que
nas tabelas e gráficos apresentados por ele foram tomadas liberdades para mudar as figuras e os lugares das
estrelas nelas”. Portanto, se o Cruzeiro do Sul pertence às antigas 48 constelações ou não, não pode ser
determinado a partir de sua ausência das tabelas ptolomaicas, pois isso não pode argumentar nada a favor ou
contra a afirmação de que pertence a elas, exceto por outras aparições”.
Esta é uma admissão notável. Seiss não pode provar que Ptolomeu excluiu o Cruzeiro do Sul, então
todo o seu argumento é uma conjectura baseada na vaga declaração de Ptolomeu. As referências citadas por
Seiss depois disso são irrelevantes por serem igualmente vagas e posteriores a Ptolomeu por muitos séculos.
Este episódio ilustra que todo o fundamento do Evangelho nas Estrelas – pode estar baseado em
conjectura e plausibilidade. Pode ser verdade, mas nenhuma evidência positiva de sua existência é fornecida.
O que dizer da alegação de que Ptolomeu e Hiparco não puderam ver a Crux? É verdade que essa parte do céu
foi uma vez visível das latitudes em que os antigos observavam, e que a precessão fez com que essa parte do
céu se perdesse hoje nessas mesmas latitudes.
Em contraposição com declarações claras de Seiss, as estrelas do Cruzeiro do Sul teriam sido visíveis
(embora baixas no céu) para Hiparco e Ptolomeu. Por exemplo, cálculos mostram que na época de Hiparco
(140 AEC) e de sua localização na ilha de Rodes, a estrela mais meridional do Cruzeiro do Sul, a Crucis,
atingiu uma altitude de cerca de 3° acima do horizonte, ou seja, um objeto que seria facilmente avistado na
maioria das noites de inverno.
Quando Ptolomeu observou em Alexandria por volta de 140 DC, a Crucis teria alcançado cerca de 9°
acima do horizonte. As outras estrelas do Cruzeiro do Sul teriam sido ainda mais altas, tornando este grupo de
estrelas bastante visível sem muita dificuldade. Em épocas anteriores, essas estrelas deveriam estar mais altas
no céu e, portanto, eram mais óbvias, mas dificilmente seriam apenas uma vaga lembrança na época de
Ptolomeu. Portanto, a alegação de Seiss e Bullinger de que Ptolomeu excluiu o Cruzeiro do Sul porque não
podia vê-lo simplesmente não é sustentável. Autoridades seculares em constelações afirmam que os antigos
viram as estrelas da Cruzeiro do Sul, mas sempre consideraram o que é chamado de Crux hoje, como parte da
constelação de Centaurus. Não está claro onde Seiss e Bullinger conseguiram essa história controversa.

NOMES DE ESTRELAS E SIGNIFICADO

Outros problemas surgem quando se examina os nomes de estrelas e os significados atribuídos por
Seiss e Bullinger. A fonte padrão para esse tipo de coisa são os Nomes de Estrelas de Richard Hinckley Allen;
Seu “Conhecimento e Significado” (em tradução livre), publicado em 1899 e disponível em brochura de
Doversince 1963 (na qual propósito, Allen menciona as obras de Seiss e de Rolleston em termos não muito
lisonjeiros.).
Por exemplo, Zuben el Chamali e Zuben el Genubi significam “Garra Norte” e “Garra Sul”
respectivamente, porque algumas culturas consideraram essas estrelas em Libra como as garras de Escorpião,
o Escorpião, que é uma constelação próxima. Bullinger tem esses dois nomes que significam “O preço que
Cobre” e “A Compra” ou “O Preço que é Baixo”. A estrela Deneb marca a cauda de Cygnus, o Cisne. Seu
nome significa “cauda”, o que pode ser verificado com qualquer pessoa que conheça árabe, mas Bullinger
traduz seu significado como “O Juiz”.
Um exemplo mais controverso são as duas estrelas mais brilhantes na constelação de Delphinus,
Svalocin e Rotanev, que Rolleston representou como Scalooin e Rotaneb. Estes nomes de duas estrelas não
são antigos, ao contrário disso, começaram a aparecer nos mapas estelares em 1814. Muitos anos atrás, foi
descoberto que esses nomes de duas estrelas são “Nicolaus Venator” grafado ao contrário. Venator, um russo,
era assistente do grande astrônomo italiano Giuseppe Piazzi, e é frequentemente referido pelo equivalente
latino, Niccolo Cacciatore. Esses nomes de duas estrelas parecem ter surgido na Itália durante suas vidas,
embora não se saiba quem os colocou lá.
Rolleston de alguma forma conseguiu encontrar significados para esses nomes em árabe, siríaco e
caldeu. Esses são apenas alguns exemplos, mas existem muitos outros. Infelizmente, nem Rolleston, Seiss ou
Bullinger fornecem referências claras para seus estudos de palavras. É possível que eles simplesmente tenham
procurado palavras hebraicas ou caldeicas que tivessem sons semelhantes.

SECUNDÁRIO E ESCUSÁVEL

O caso é que os livros de Seiss e Bullinger parecem tão eruditos que muitos podem considerar seu
trabalho definitivo. Simplificando, não se sabe quem inventou as constelações ou que propósito ou propósitos
elas cumpriram. Foi sugerido que elas eram os primeiros auxílios à navegação ou marcavam as localizações
dos equinócios e solstícios que mais tarde foram embelezados com significados mitológicos.
Se Seiss e Bullinger podem ver suas crenças religiosas inscritas nos céus, por que não poderiam outras
culturas? Numerosos estudos têm mostrado que as constelações são muito antigas, datando do início da
civilização. Sincethis data logo após a Criação alegórica do mundo, muitos deles poderiam ter se originado
com ou na época dos primeiros patriarcas, mas isso dificilmente define os patriarcas como a fonte.
A ensinamento do Evangelho nas Estrelas é baseada sobretudo em conjecturas. Pode ser verdade, pelo
menos em alguns elementos, mas não há evidências de que nada disso seja absoluto. Diante disso, é muito
importante que não se eleve acima da especulação e da doutrina. O conceito do Evangelho nas estrelas, na
verdade, pode se fragilizar. A conjectura de que antes da Bíblia, foi dada aos patriarcas a maneira que
precisavam para transmitir o conhecimento espiritual e que as constelações eram o veículo para fazer isso
como método de revelação e preservação, está sujeito a incompreensão (muitas distorções da mensagem
original são reconhecidas por seus proponentes), torna-o imensamente secundário à Palavra revelada.
Se essa linha de raciocínio estiver correta, então, quando a Bíblia foi revelada ao homem, o Evangelho
das Estrelas deixou de servir a um propósito - foi suplantado por algo melhor. Nesta era tardia, por que
desejaríamos voltar a um veículo tão imperfeito? Este alegado Evangelho das Estrelas tem algum significado
para nós hoje?

CONCLUSÕES
O Evangelho das Estrelas é um ensino de som tão positivo que tem muito apelo. Mas vários
argumentos se apresentam contra a sua aceitação. Primeiro, é baseado inteiramente em conjecturas e
apresentado como uma viabilidade, mas sem nenhuma evidência real. Em segundo lugar, contém numerosos
erros factuais que levantam sérios problemas de credibilidade. Terceiro, é extrabíblico porque apresenta uma
doutrina que não é ensinada nas Escrituras, embora existam muitas passagens na Bíblia que fornecem amplas
oportunidades. Quarto, por sua própria premissa, o Evangelho das Estrelas pode não ter relevância para
aqueles que possuem a Bíblia, a revelação atual de Deus.
Mas há uma objeção final muito séria ao Evangelho das Estrelas: ele vai além de ser extrabíblico para
ser não-bíblico. O Novo Testamento se refere ao Evangelho como um “mistério” (I Coríntios 2: 7, Efésios
6:19, 3: 8-12, Colossenses 4: 3). No Novo Testamento, um mistério é algo que antes era desconhecido, mas
agora nos foi revelado. Romanos 16:25, 26 afirma que esse mistério esteve oculto por muito tempo e foi
revelado por meio de escritos proféticos (ou seja, imediatamente pelo Velho Testamento, e não
sequencialmente nas Estrelas). I Coríntios 2: 8 prossegue para dizer que se os príncipes deste mundo
soubessem deste mistério, “eles não teriam crucificado o Senhor da Glória”. I Pedro 1: 10-12 sugere que
embora os profetas “procurassem diligentemente”, eles falharam em compreender totalmente o Evangelho
antes do tempo.
Genesis ensina que os patriarcas sabiam que Deus exigia um sacrifício de sangue, mas aparentemente
não tinham ideia de qual seria o plano de redenção de Deus. Se eles tivessem conhecido o plano completo
como Bullinger e Seiss sugeriram, então esse conhecimento estaria disponível para os lugares deste mundo, e
não teria havido a crucificação de Jesus.
Portanto, o Evangelho das Estrelas está em desacordo direto com o ensino claro de I Coríntios 2: 8.
Em sua segunda epístola, Pedro (1: 16-21) nos adverte sobre fábulas engenhosamente inventadas. Sua
mensagem aqui se baseou em dois fundamentos sólidos: (1) o relato de uma testemunha ocular de sua
experiência legítima na transfiguração e (2) mais importante, o testemunho das Escrituras. O Evangelho das
Estrelas não parece se encaixar em nenhum fundamento sólido, invés disso, poderia ser uma fábula.

Danny R. Faulkner

RECONHECIMENTO

Agradecimentos a serem tecidos ao Rev. Tom Chesko de El Cajon, Califórnia, por seu incentivo na
elaboração deste artigo, sua revisão do primeiro rascunho e por suas sugestões úteis que fortaleceram muito o
texto.

REFERÊNCIA

1. Seiss, J. A., 1882. The Gospel in the Stars, Kregel Publications, GrandRapids, Michigan, p. 170.

Danny R. Faulkner possui um B.S. (matemática), M.S. (física), M.A. e Ph.D. (astronomia, Indiana
University). Ele é professor associado da University of South Carolina, Lancaster, onde leciona física e
astronomia. Ele publicou cerca de duas dúzias de artigos em várias revistas de astronomia e astrofísica.

COMENTÁRIO - CARL WIELAND

Dr. Faulkner traz alguns pontos muito importantes sobre essa questão do Evangelho das Estrelas,
particularmente sobre o perigo de procurar uma revelação “extra”. No entanto, há a preocupação sobre a
possibilidade de “jogar fora o bebê junto com a água do banho” antes que ela seja mais completamente
explorada. Portanto, para iniciar uma discussão mais aprofundada, é necessário se adotar uma posição
antagônica (porém amigável) para alguns dos seus argumentos.
Ele pergunta se, “as constelações são uma revelação dada por Deus, por que o Senhor escolheu não
reconhecer isso em sua Palavra?”. No entanto essa preposição ignora o que se pode entender como a sugestão
mais interessante: porque muitas das estrelas parecem ter nomes na antiguidade que tantas vezes toam ter uma
conexão com o Evangelho. Ou seja, que as estrelas foram nomeadas por Deus (Salmo 147: 4 diz “ele as
chama a todas pelos seus nomes” - ver também Isaías 40:26) para fornecer um esboço básico da mensagem do
Evangelho, que se destinava a ser substituído pela completa e suficiente a palavra de Deus escrita no devido
tempo.
Os nomes das estrelas teriam servido como um mnemônico para a transmissão oral, talvez devido à
disponibilidade restrita de quaisquer registros escritos. Nessa visão, o propósito da investigação forense em
nossos dias sobre as tentadoras evidências fragmentadas restantes não seria buscar revelação adicional para
adicionar ou complementar a Bíblia, mas para poder ter outra arma no arsenal da apologética cristã. O
conceito de tal protoevangelho pode não ser tão radical quanto parece. Se deve lembrar de que muitas pessoas
teriam vivido e morrido desde a época da queda até quando o cânone do Velho Testamento estava completo.
Esse mnemônico pode ter servido para reduzir a probabilidade de que qualquer transmissão oral
secundária corrompesse a mensagem básica. O fato de que tal sugestão primordial sobre a vinda do Salvador
seria muito carente de detalhes, e não seria totalmente compreendida por seus destinatários, não impediria
algumas pessoas de serem capazes de obter a ideia básica que Deus queria que tivessem. Se tal não fosse
permitido como uma possibilidade, nós nos perguntaríamos por que Deus deu o protoevangelho (em Gênesis
3:15, sobre a semente vinda da mulher), uma vez que, isso também teria sido um tanto críptico do ponto de
vista de alguém que viveu antes do primeiro advento do Redentor.
Danny Faulkner escreve que o Salmo 19 “simplesmente declara que os céus, em sua beleza
maravilhosa, declaram a glória de Deus em Seus atos criativos”. É claro que ninguém desejaria ler as
Escrituras mais do que o pretendido. No entanto, a ideia de que a beleza das estrelas está sendo mencionada
no Salmo é em si uma inferência (embora óbvia de se traçar) - a passagem em nenhum lugar menciona sua
beleza. Na verdade, os versos 2-4a parecem apoiar (embora não exijam) a noção de que as estrelas têm uma
mensagem real que é mais do que uma descrição poética de sua beleza.
Fortes defensores do conceito de “Evangelho das Estrelas” também podem querer fazer a pergunta; se
o Salmo 19 realmente não tem nada a ver com o Zodíaco / Mazzaroth (que é a lista de constelações através
das quais o Sol faz seu circuito anual), por que os versos 4b-6 se referem a este mesmo fato, isto é, o Sol
fazendo um circuito através do “Tabernáculo” das Estrelas? Isso pareceria uma coincidência notável, pelo
menos.
Sempre que questionado sobre a questão do “'Evangelho nas Estrelas”, se deve considerar
consistentemente que era necessário haver uma verificação independente sobre a confiabilidade dos nomes
das estrelas citados por Bullinger e outros. Na verdade, se procura alguém disposto a aplicar seu tempo
voltando às fontes seculares originais em cada caso.
O artigo de Faulkner não afirma ter verificado em qualquer lugar todos os nomes de estrelas
relevantes. No entanto, ele deu uma contribuição muito importante, mostrando alguns dos graves erros
factuais envolvidos. Embora isso deva soar alto os sinos de alerta, até que alguém tenha verificado
cuidadosamente muito mais das afirmações feitas por Bullinger et al., pode ser imprudente rejeitar todas elas.
É possível que, tendo ficado entusiasmados com os muitos elos óbvios que existiam, eles tenham ficado
excessivamente entusiasmados em encontrar nomes e elos que simplesmente não existiam.
Se o conceito estiver totalmente errado, se deves descartá-lo, não importa o que possa ter parecido um
dia. No entanto, seria muito lamentável se a comunidade criacionista / apologética cristã fizesse isso
prematuramente. Se deve ter esperança de que as contribuições de outros tornem mais fácil decidir de uma
forma ou de outra.

Carl Wieland

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