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Os aglomerados globulares possuem os menores teores metálicos sendo, portanto, os componentes mais
antigos. Sua idade não determina necessariamente a idade da galáxia como um todo, mas fornece um limite
máximo que a galáxia pode ter. Este limite geralmente é descrito como sendo aproximadamente 13,2
bilhões de anos.[8]
Em geral, sugere-se que estrelas da população II, velhas e pobres em elementos pesados, foram as primeiras
a se formar, sendo que este período de formação se estendeu por somente um bilhão de anos. O disco,
conforme o gás extragaláctico incorporava-se, passava a ser povoado por novas e grandes estrelas do tipo I,
cuja formação durou pelos doze bilhões de anos subsequentes e se estende até os dias atuais.[9] O auge da
atividade de formação estelar possivelmente ocorreu entre onze e sete bilhões de anos atrás, período no qual
cerca de noventa por centro das estrelas atuais teriam surgido.[10]
A análise da abundância de elementos mais pesados como oxigênio e magnésio no disco mostra que sua
distribuição varia gradualmente conforme a distância ao centro galáctico, sendo mais abundantes em sua
parte mais interna. Isto sugere que o disco teria se formado de dentro para fora, uma vez que a maior
abundância de elementos pesados significa que mais gerações de estrelas existiram e que, portanto, a região
é mais antiga.[11][12]
Estrutura
A Via Láctea é uma galáxia espiral barrada, formada por quatro
estruturas principais. A região central caracteriza-se por um bojo
alongado formado sobretudo por estrelas antigas e onde encontra-se
um buraco negro supermassivo. Ela se estende por quase 2 milhões
de anos-luz, mais de 15 vezes mais que o disco espiral luminoso.
Ao seu redor está o disco galáctico cujo diâmetro chega a
precisamente 1,9 milhão de anos-luz, mais ou menos 0,4 milhão de
anos-luz.[13] Neste disco encontram-se estrelas jovens, nebulosas e Concepção artística da galáxia, onde
regiões de formação estelar, que se organizam de forma a criar os se destacam o disco, o bojo central
quatro braços espirais principais da galáxia. Por fim, ao redor destas e o halo de aglomerados globulares.
estruturas está o halo galáctico, cujos componentes mais
proeminentes são os aglomerados globulares de estrelas antigas que
orbitam o centro galáctico. Ao redor da galáxia existe ainda um halo de gases circundantes, além da matéria
escura, que, embora indetectável diretamente, afeta sua dinâmica de rotação.[14][15] A magnitude absoluta
integrada da Via Láctea é de -20,6, que seria o brilho visível se toda a luz da galáxia fosse concentrada em
um ponto a 32,6 anos-luz do observador.[16]
Componentes
A galáxia contém pelo menos 100 bilhões de estrelas e pode chegar a 400 bilhões, de acordo com
estimativas. Poucas são supergigantes, como Rígel e Betelgeuse, enquanto estrelas como o Sol são mais
comuns. Contudo, o tipo mais abundante na galáxia são as anãs vermelhas.[17][18] A massa da galáxia pode
ser deduzida a partir da velocidade de rotação ao redor de seu centro ou através de estimativas
observacionais. Ainda há muita incerteza no cálculo da massa da Via Láctea, mas sabe-se que toda a
matéria visível compreende uma massa da ordem de 1011 massas solares (M☉ ), da qual mais de noventa
por cento corresponde às estrelas e o restante são gases e poeira que, em conjunto, compõem o meio
interestelar.[19] No total, quase três quartos da massa da galáxia são formados de hidrogênio e um quarto de
hélio, enquanto uma pequena fração (cerca de 2%) é formada por "metais".[nota 2][20] Contudo, o halo de
matéria escura que cerca a galáxia compreende a maior parte de sua massa, cuja totalidade é da ordem de
1012 M☉ .[21][22]
As estrelas estão distribuídas em duas categorias principais que levam em conta a proporção de elementos
mais pesados do que o hélio. A população I inclui aquelas em que é relativamente alta a presença de metais,
com proporção de 0,2 a 1 vezes a porcentagem existente no Sol. Neste grupo encontram-se as estrelas mais
jovens. A população II, por sua vez, é formada por estrelas cuja atmosfera é pobre em metais, embora no
núcleo dessas estrelas ainda ocorra a síntese de elementos químicos. Teoricamente considera-se também a
população III, que seria a primeira geração de estrelas da galáxia, formadas somente por hidrogênio e hélio,
e que não mais existem. A divisão entre estas categorias não é evidente, uma vez que a taxa metálica nas
estrelas varia continuamente.[23][24]
Cerca de uma em cada dez estrelas da galáxia são anãs brancas, embora poucas tenham sido detectadas nas
vizinhanças do Sol devido à sua baixa luminosidade e tamanho reduzido.[28] A Via Láctea abriga, segundo
estimativas, mais de um bilhão de estrelas de nêutrons, remanescentes do fim de estrelas massivas.[29] A
galáxia possui ainda milhões de buracos negros originados no fim da vida de estrelas supermassivas,
possuindo massas de algumas dezenas de massas solares. Entretanto, somente algumas dezenas foram
identificados até o momento. Muitos deles vagam pela galáxia e só podem ser identificados quando
interagem com outras estrelas ou poeira interestelar. Existe no centro galáctico somente um buraco negro
supermassivo, com milhões de vezes a massa do Sol.[30][31]
Centro galáctico
O núcleo da Via Láctea se encontra a cerca de 26 mil anos-luz do Sistema Solar, na direção da constelação
de Sagitário. Esta região é caracterizada por um bojo central alongado, que possui cerca de 27 mil anos luz
de uma extremidade a outra. O centro galáctico, a região mais densamente povoada da galáxia, contém
cerca de dez bilhões de estrelas que são principalmente velhas e pobres em metais, embora existam também
muitas estrelas jovens e ricas em elementos pesados. Alguns desses componentes formam aglomerados
globulares que orbitam ao redor do centro e um deles situa-se no próprio centro, onde a concentração estelar
é tão intensa a ponto de encontros estelares serem relativamente comuns.[32][33][34][35] Observações de
estrelas gigantes nas regiões internas da Via Láctea levantam a possibilidade do bojo central ser formado, na
verdade, por duas regiões em barra sobrepostas, criando uma espécie de "X" no centro da galáxia, sendo
uma barra mais robusta que a outra. Este tipo de estrutura já foi observado em outras galáxias espirais, como
na NGC 4469 e NGC 4710.[36][37][38]
O exato centro da galáxia abriga o buraco negro denominado
Sagitário A*. O movimento de nuvens de gases e de estrelas ao seu
redor permitiu calcular a sua massa como sendo quatro milhões de
vezes superior à massa do Sol, concentrada somente em uma
pequena região, o que evidencia se tratar, na verdade, de um
buraco negro supermassivo. Estudos indicam que as nuvens
moleculares ao redor deste objeto estão sendo atraídas e, a medida
Fotografia composta que mostra
que se aproximam do intenso campo gravitacional do buraco
cerca de meio grau do céu
negro, passam a formar um disco de acreção e emitem grande (aproximadamente o diâmetro da lua
quantidade de radiação. Embora não possa ser observado cheia) na região do centro galáctico,
diretamente, observações radioastronômicas levantam ainda mais em infravermelho e raios-X. A região
evidências de sua existência. A presença de buracos negros em brilhante à direita é Sagittarius A.
núcleos de galáxias semelhantes à Via Láctea é bastante
comum.[34][39][40][41] O centro galáctico é possivelmente a origem
de estrelas hipervelozes, cuja velocidade excede quinhentos
quilômetros por segundo, fazendo com que percam sua ligação
gravitacional com a galáxia. Tamanha velocidade surge da
interação entre uma estrela e um buraco negro, cujo resultado é o
ganho de velocidade da primeira.[42]
Cerca de 80% das estrelas na região central da Via Láctea se formaram nos primeiros anos de nossa galáxia,
entre oito e 13,5 bilhões de anos atrás. Este período inicial de formação de estrelas foi seguido por cerca de
seis bilhões de anos, durante os quais nasceram muito poucas estrelas. Isso foi encerrado por uma intensa
explosão de formação estelar há cerca de um bilhão de anos atrás, quando, em menos de 100 milhões de
anos, estrelas com massa combinada possivelmente chegaram a dezenas de milhões de sóis formados nessa
região central. Durante esta explosão de atividade foram formadas estrelas a taxas de mais de 100 massas
solares por ano. Atualmente, toda a Via Láctea está formando estrelas a uma taxa de cerca de uma ou duas
massas solares por ano.[45]
Disco galáctico
O disco galáctico da Via Láctea concentra a maior parte do gás, poeira e estrelas que formam estruturas em
forma de espirais. Estes gases, primariamente hidrogênio e hélio, e poeira formam nuvens moleculares
opacas que obstruem, inclusive, nossa visão do centro galáctico. O disco é uma parte proeminente da
galáxia, pois contém grande quantidade de estrelas jovens e recém-formadas, que geralmente nascem em
grupos a partir de uma mesma nuvem molecular e, por isso, associam-se em aglomerados abertos.[46] A Via
Láctea possui um campo magnético que pode ser aferido utilizando-se uma série de técnicas, dentre elas o
polarização da luz das estrelas e o Efeito Zeeman, provocado pela mudança dos níveis de energia de um
átomo sob um campo magnético. No disco, o campo magnético é de 4 x 10−6 gauss, que segue
principalmente a orientação dos braços espirais.[47]
Nesta região predominam as estrelas da população I, que são, de
forma geral, as mais novas e possuem teor metálico importante.[48]
A população estelar do disco pode ser dividida em três grupos, o
primeiro deles caracterizado por estrelas novas que compõem os
braços espirais, o segundo compõe o disco fino, uma região com
espessura de aproximadamente mil anos-luz onde estão estrelas não
tão jovens espalhadas para fora dos braços espirais por conta da
rotação diferencial da galáxia e, por fim, o disco grosso, com três
mil anos luz de espessura formado por estrelas antigas e dispersas Nebulosa de Órion, o berçário de
devido a interações com grandes nuvens moleculares que as fizeram formação estelar mais próximo de
se afastar do plano galáctico.[nota 3][49] Outra possibilidade é que as nós, a cerca de 1 500 anos-luz em
estrelas do disco grosso tenham se formado em outras galáxias direção à constelação homônima,
satélites que, posteriormente, foram incorporadas à Via Láctea.[50] pode ser vista a olho nu. Seu brilho
É importante notar que não existe uma borda definida para o disco, provém das estrelas recém-nascidas
uma vez que a densidade de estrelas varia gradualmente conforme em seu interior.
se afasta do plano galáctico ou do centro galáctico. Nota-se,
contudo, que além de um raio de quarenta mil anos-luz, a densidade
estelar cai radicalmente.[51]
Mais da metade do gás molecular da Via Láctea se concentra em nuvens similares à Nebulosa de Órion.
Esse tipo de nuvem é o berço de formação de um grande número de estrelas de diversos tamanhos,
inclusive supergigantes. Estas, por sua vez, possuem um curto período de existência e terminam como
titânicas explosões de supernova, cujo material é disperso no meio interestelar e carrega consigo eventuais
vestígios de uma antiga nebulosa. O que resta são aglomerados abertos das estrelas de menor massa, como
as Plêiades e o Presépio, que possuem tipicamente menos de mil estrelas de vida longa, cuja interação
gravitacional com outros componentes da galáxia acabam por desfaze-los posteriormente.[52]
Estrutura espiral
O fato de a galáxia possuir rotação diferencial levantou a questão de como os braços espirais podem
perdurar por tanto tempo já que, se cada parte se move a uma velocidade diferente, logo deveriam se
desfazer. A solução veio a partir do modelo de onda de densidade, que descreve os braços espirais como
sendo ondas de alta densidade que se movem ao longo do disco galáctico delineando o formato espiral.
Conforme esta onda passa por uma região, nuvens moleculares se aglomeram e dão origem a estrelas
massivas, ocasionando a proeminência visual do braço espiral. Esta onda se move, posteriormente, para
adiante, fazendo surgir novas estruturas que continuarão a delinear o formato desta onda, enquanto
estruturas antigas são deixadas para trás. Como as nuvens moleculares e estrelas massivas apresentam vida
curta, logo perdem seu brilho e se desfazem. Portanto, as ondas se movem com velocidade angular
constante ao redor do centro galáctico e, dessa forma, não se dissipam.[63]
O Sol situa-se nas proximidades da borda interna do Braço de Órion, uma estrutura menor localizada entre
os braços de Perseu e de Sagitário, numa zona onde a densidade estelar é de somente 0,11 estrelas por
parsec cúbico, a maioria delas com pequena massa e associadas a sistemas binários ou múltiplos, sendo que
num raio de treze anos-luz foram encontrados somente vinte e cinco sistemas estelares. O mais próximo
deles é o sistema Alpha Centauri, cujo componente mais próximo é a anã vermelha Proxima Centauri,
localizada a pouco mais de quatro anos-luz de distância. Sirius, a estrela mais brilhante do céu (depois do
Sol) está a 8,6 anos-luz da Terra.[64][65]
O Sol atualmente está cruzando uma região do espaço dominada por matéria interestelar denominada
Nuvem Interestelar Local. Esta nuvem faz parte de uma estrutura ainda maior, a Bolha Local, em cuja borda
está o Sistema Solar, a qual se estende por cerca de 390 anos-luz, e tem origem na associação Scorpius
Centaurus. Neste local existe uma intensa atividade de formação estelar, onde surgem estrelas massivas e
jovens com classes espectrais O e B. Estas estrelas possuem um período de vida curto, e quando explodem
sob a forma de supernovas, originam fortes ventos de gases que varrem as regiões por onde passam, criando
bolhas de gases em meio ao espaço interestelar.[66]
A Nebulosa de Gum é o mais próximo remanescente de supernova,
com sua parte mais próxima localizada a 450 anos-luz. Dentro desta
região estão os fragmentos da Supernova de Vela. A Nebulosa de
Órion, a cerca de 1 500 anos-luz, é a mais próxima dentre as
grandes regiões de formação estelar. Grandes nuvens moleculares
escuras localizam-se a mais de 1 500 anos-luz do Sol, sendo
responsáveis pelo obscurecimento em partes do plano galáctico
observados a partir da Terra nas constelações de Cisne e Águia.
Estas nuvens organizam-se em linha de forma paralela à
associações estelares que estão logo atrás, conforme tipicamente
Mapa do Braço de Órion nas
observado em galáxias espirais.[67] As Híades, a 150 anos-luz, e as
proximidades do Sol, mostrando
Plêiades, a 410 anos-luz, são os dois aglomerados abertos mais
algumas de suas características. O próximos do Sistema Solar.[68][69] No Braço de Órion existe uma
centro galáctico está voltado para a banda denominada Cinturão de Gould, ao longo da qual existem
parte inferior. Em vermelho as importantes locais de formação estelar da qual, inclusive, a nebulosa
nuvens moleculares, em amarelo as de Órion e a associação Scorpius Centaurus fazem parte.[70][71]
associações OB e em cinza as
nebulosas escuras.
Halo
Evidências levantadas a partir de dados obtidos pelo Observatório de raios-X Chandra sugerem que a
galáxia está envolvida em uma espécie de halo gasoso que se estende por centenas de milhares de anos-luz
do seu centro, cuja massa é comparável a massa de todas as estrelas da galáxia. Sua temperatura é
extremamente alta, chegando a mais de um milhão de kelvins. Esta nuvem difusa de matéria pode ser a
solução para o problema dos bárions na galáxia, cuja quantidade atual é somente a metade da proporção
observada nos primórdios do Universo, com base em observações de galáxias distantes.[76]
Circundando a galáxia, constatou-se a presença de um halo que se estende para muito além do disco,
composto de matéria escura, cuja natureza é desconhecida. Embora esse tipo de matéria não interaja com a
luz, sua presença é detectável por meio de sua influência gravitacional sobre a translação dos objetos ao
redor do centro galáctico. De fato a matéria escura compreende cerca de noventa por cento da massa total
da galáxia, enquanto toda a matéria visível corresponde à porcentagem restante.[77][78] A presença desta
matéria escura pode ser decisiva na estabilidade das ondas de densidade e, consequentemente, na
manutenção dos braços espirais da galáxia por longos períodos.[79]
Rotação
Deformação galáctica
As deformações das galáxias de disco são um fenômeno comum (tão comum quanto a estrutura em
espiral).[85] A medição da distribuição estelar e cinemática da nossa galáxia demonstra uma deformação
galáctica na Via Láctea.[86] A órbita de uma partícula livre inclinada para o disco galáctico precede a uma
taxa que depende do raio galactocêntrico; estruturas deformadas tendem a fazer o mesmo, enrolando a
dobradura em uma espiral apertada.[87] A medição da taxa de precessão da dobra da Via Láctea usando 12
milhões de estrelas gigantes descobriu que ela está precessando a 10,86 ± 0,03 (estatística) ± 3,20
(sistemática) km s-1 kpc-1 na direção da rotação galáctica, cerca de um terço a velocidade de rotação
angular na posição do Sol na Galáxia.[88]
A dobradura completaria uma rotação em torno do centro da Via Láctea entre 600 a 700 milhões de anos. O
sol está a uma distância de 26 mil anos-luz do centro galáctico, onde a amplitude da deformação é mínima.
As medições dos cientistas do projeto de Gaia foram dedicadas principalmente às partes externas do disco
galáctico, a 52 mil anos-luz do centro galáctico e além.[86]
Proximidades
Algumas galáxias de menor porte orbitam a Via Láctea, sendo,
portanto galáxias satélite. A mais próxima delas é a Galáxia Anã do
Cão Maior, situada a cerca de 42 mil anos-luz do centro galáctico,
seguida pela Galáxia Anã Elíptica de Sagitário. A Grande Nuvem
de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães são as maiores
dentre as galáxias satélite da Via Láctea. Ambas são visíveis a olho
nu no hemisfério sul celeste como manchas brilhantes, sendo que a
Grande Nuvem de Magalhães é a galáxia mais brilhante vista da
A Grande e a Pequena Nuvem de
Terra depois da própria Via Láctea. Ambas são estruturas
Magalhães são facilmente visíveis a
irregulares e apresentam regiões de intensa formação estelar. Uma
olho nu.
corrente de gases existe ligando as nuvens de Magalhães entre si e
também com a Via Láctea, sendo sugerido que teria origem na
interação gravitacional entre as galáxias.[89][90][91][92]
As nuvens de Magalhães possivelmente são as responsáveis por criar uma deformação observada no disco
galáctico. Embora sua massa seja insignificante comparada com toda a Via Láctea, a interação com a
matéria escura circundante faz com que os efeitos gravitacionais das galáxias satélite sejam amplificados a
ponto de influenciar a forma do disco galáctico enquanto descrevem sua órbita ao redor do centro da
galáxia.[93]
Movimento
Aparência
A partir da posição do Sistema Solar,a Via Láctea forma uma faixa
brilhante que se estende por 360° ao redor da esfera celeste. De fato
a maior parte das estrelas não pode ser definida visualmente, de
forma que suas luzes são combinadas em uma luminosidade difusa,
cuja distribuição é extremamente irregular. O plano galáctico é
inclinado cerca de 60° em relação à eclíptica, fazendo com que a
galáxia cruze tanto constelações do hemisfério celeste norte quanto Posição do Sistema Solar em
do sul e que, portanto, possa ser vista de qualquer lugar do relação ao plano galáctico. Somente
mundo.[104][105][106] O polo galáctico norte localiza-se na as órbitas dos gigantes gasosos
constelação de Coma Berenices, enquanto o polo galáctico sul estão representadas.
encontra-se na constelação de Escultor.[107]
O centro da galáxia localiza-se na constelação de Sagitário, onde estão presentes as regiões visualmente
mais brilhantes, como a Nuvem Estelar de Sagitário e partes do bulbo central, além de muitos aglomerados
globulares e a Nebulosa da Lagoa visíveis a olho nu.[108] Esta região apresenta, contudo, uma proeminente
faixa escura distribuída de forma irregular. A partir desta região em
direção às constelações de Águia e Cisne a banda obscurecida
continua evidente, dividindo a faixa da galáxia em duas. Seguindo
sua trajetória até a constelação de Cassiopeia, a galáxia se mostra
como uma faixa simples e menos proeminente, cuja largura varia
irregularmente. Esta faixa continua pelas constelações de Gêmeos,
Órion, Monoceros e Cão Maior igualmente pobre em brilho,
embora alguns aglomerados abertos, como M41 e M47 sejam
visíveis a olho nu. Contudo, a partir das constelações de Vela, Via Láctea vista no deserto do
Carina (onde situa-se a Nebulosa de Eta Carinae[109]), Cruzeiro do Atacama, no Chile.
Sul, Centauro, Norma e Escorpião até o retorno a Sagitário, a
galáxia volta a exibir um brilho intenso. A faixa brilhante contínua,
mas irregular, é recortada por regiões obscurecidas por nuvens moleculares, como a Nebulosa do Saco de
Carvão.[110][111]
Por ser um objeto difuso e com baixa luminosidade superficial, a observação da Via Láctea é fortemente
afetada pela poluição luminosa. Em áreas extremamente escuras, onde hão haja nenhum tipo de poluição
luminosa (onde a magnitude limite chega a +6,0 aproximadamente), as estruturas da galáxia são facilmente
perceptíveis, sendo seu brilho tão intenso a ponto de projetar sombra. Em áreas rurais, mesmo com o leve
brilho ocasionado pelas luzes urbanas, a Via Láctea se mostra proeminente no céu. Em áreas suburbanas
(onde a magnitude limite é de +4,5), a iluminação noturna faz com que a Via Láctea se torne pouco
estruturada e fortemente obscurecida, mesmo quando em direção ao zênite. No centro das cidades é
praticamente impossível observar a galáxia.[112][113]
Mosaico da Via Láctea em luz visível, onde se notam as regiões mais brilhantes e a faixa de poeira.
Visões culturais
A faixa brilhante e sinuosa da Via Láctea instiga a curiosidade humana desde a antiguidade. Pelo fato de se
estender por todo o céu, a galáxia foi tida como análoga a rios, como no caso de lendas antigos egípcias, em
que era comparada ao Rio Nilo, contudo corria nas áreas habitadas pelos espíritos. Na língua chinesa e na
língua japonesa, a galáxia recebe a denominação de "Rio Prateado" (em chinês: 银河系 , Yínhéxì; em
japonês: 銀河系 , Gingakei) ou "Rio Celestial" (em chinês: 天河 , Tiānhé; em japonês: 天の川銀河 ,
Amanogawa Ginga), enquanto que, para os hindus, a Via Láctea representa o "curso do Ganges celestial".
Há referências em outras culturas da Via Láctea como sendo um rio que conduziria à imortalidade.[114][115]
Segundo a mitologia grega, Héracles, filho de Zeus, foi levado para se alimentar no seio de Hera, sua
esposa, e dessa forma obteria a imortalidade. Entretanto, ao saber que Héracles era, na verdade, filho de
Zeus com uma concubina mortal, imediatamente empurrou o menino, e seu leite derramou por todo o céu,
formando uma faixa esbranquiçada. Possivelmente, o nome da galáxia surgiu a partir desta lenda, com base
no surgimento da expressão do grego helenístico galaxias kuklos
(γαλαξίας κύκλος ou "ciclo leitoso") que, traduzido para o latim,
veio a se tornar "Via Láctea". Desta mesma expressão surgiu a
palavra "galáxia", cuja raiz significa simplesmente "leite".[116]
Os turcos conheciam a galáxia como Hadjiler Juli ou a "estrada dos peregrinos". Na Idade Média na
Europa, recebia a denominação de "estrada de Roma", em alusão à sede da Igreja Católica, através da qual
se conseguiria o acesso ao paraíso.[115] Na Península Ibérica, a Via Láctea é conhecida também como
Caminho ou Estrada de Santiago. São Tiago, um dos apóstolos de Jesus, foi para o norte da atual Espanha
para evangelizar. Muito depois de sua morte, começaram peregrinações para o local onde hoje fica a cidade
de Santiago de Compostela, a partir de relatos de milagres e aparições. Os peregrinos, à noite, utilizavam a
Via Láctea como guia para chegarem à cidade, razão pela qual a galáxia também recebe estas
denominações.[118][119]
Mais recentemente, a partir do advento da ficção científica, a galáxia passou a ser o local de viagens
interestelares, em que geralmente humanos são capazes de chegar a outros planetas e conhecer outras
formas de vida extraterrestre. Isaac Asimov em sua trilogia Fundação criou um extenso Império Galáctico
que se estende por incontáveis planetas.[120] Na série Star Trek, a galáxia é povoada por raças alienígenas
que possuem domínios em diversas regiões da galáxia.[121]
História da observação
A investigação científica sobre a natureza da Via Láctea data desde a antiguidade. Em seu livro
Meteorologica, Aristóteles argumenta que a faixa brilhante era originada de exalações ferozes de estrelas
grandes, numerosas e próximas entre si, que acontecia nas partes mais altas da atmosfera.[122][123] Muitos
outros astrônomos, por sua vez, imaginavam a Via Láctea como sendo o resultado do brilho de muitas
estrelas distantes e próximas entre si, de forma que sua luz aparecia de forma difusa. Avempace, por
exemplo, afirma que as estrelas que quase se tocam, formam uma "imagem contínua", o que seria o
resultado da refração da atmosfera.[122]
Galileu Galilei, ao apontar seu telescópio para a Via Láctea no ano de 1609, observou sua verdadeira
natureza e escreveu em seu livro Sidereus Nuncius que "a galáxia de fato não é nada além de um
amontoado de estrelas que formam aglomerados. Para qualquer direção que se aponte o telescópio, uma
vasta quantidade de estrelas imediatamente se mostra, muitas delas bastante brilhantes, enquanto o número
de estrelas pequenas é incalculável."[124]
No ano de 1917, Harlow Shapley conseguiu medir a distância de dezenas de aglomerados globulares,
utilizado algumas estrelas variáveis presentes em cada um dos aglomerados, e percebeu que estes pareciam
se concentrar em uma certa região na constelação de Sagitário, concluindo que lá deveria estar o centro da
galáxia. Na mesma época, houve um grande debate entre Sharpley e Heber Curtis sobre o tamanho da
galáxia e do Universo. Sharpley havia deduzido o diâmetro da Via Láctea como sendo mais de trezentos
mil anos-luz, sendo que a Nebulosa de Andrômeda e as Nuvens de Magalhães faziam parte deste grande
sistema estelar. Curtis, por outro lado, argumentava que Andrômeda e outras estruturas espirais estariam
muito mais distantes e separadas da Via Láctea, formando "universos-ilha".[126]
Somente na década de 1930 percebeu-se a presença da poeira interestelar, responsável por obstruir nossa
visão de várias regiões da galáxia. Desta forma, justificou-se os erros cometidos anteriormente na
determinação do tamanho da galáxia e de sua estrutura. Durante a Segunda Guerra Mundial, o astrônomo
Walter Baade notou que os componentes estelares da galáxia não se diferenciavam somente pela sua
localização, mas também pela diferença de idades e sua ligação com a composição química. Então, dividiu
as estrelas da galáxia em dois grupos, o primeiro (população I) formado por estrelas mais jovens e ricas em
metais que formam o disco e o segundo (população II) composto por estrelas antigas e pobres em metais,
localizadas principalmente no núcleo e no halo.[24]
William Wilson Morgan, em um estudo publicado em 1951, mediu
a posição de muitas estrelas de classes espectrais O e B, associadas
a nebulosas, e percebeu sua distribuição peculiar, revelando os
braços espirais da Via Láctea. Técnicas de radioastronomia criadas
no fim da década permitiram encontrar as distâncias das nuvens
moleculares, que igualmente evidenciaram a estrutura espiral da
galáxia.[130]
Ver também
Astronomia Exobiologia
Astrometria Equação de Drake
Cosmologia Lista de sistemas planetários confirmados
Lista de estrelas próximas
Notas
1. Ao longo do texto faz-se referência a bilhões (português do Brasil) e a milhares de milhão
(português europeu); note-se que ambas as designações se referem à mesma quantidade.
2. Em astrofísica, todos os elementos químicos mais pesados que o hélio são denominados
coletivamente "metais".
3. Ambos os discos estão sobrepostos, mas o disco fino é mais denso e concentra-se somente
na região do plano galáctico, enquanto que os componentes do disco grosso estão mais
afastados.
Referências
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«The Milky Way Project» (http://www.milkywayproject.org/) (em inglês). Usuários anônimos
podem ajudar a identificar estruturas da galáxia a partir de imagens do telescópio Spitzer
«Atlas of the Universe» (http://www.atlasoftheuniverse.com/) (em inglês). Mapas em várias
escalas, desde as vizinhanças do Sol até os superaglomerados de galáxias
«3D Galaxy MaP» (http://www.3dgalaxymap.com/Galaxy/) (em inglês). Mapa tridimensional
da Via Láctea
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