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em Engenharia
Material Teórico
O engenheiro e a pesquisa científica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Marcio Nunes

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
O engenheiro e a pesquisa científica

• Contextualização
• Introdução
• O computador
• Mais um caso de sucesso

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Abordar a pesquisa na engenharia e como ela pode influenciar
a conduta do engenheiro. A engenharia é uma ciência e como
toda ciência necessita ser alimentada constantemente de novas
informações e novas descobertas. A evolução é constante, pois
uma descoberta pode desencadear a descoberta de novas outras. A
pesquisa científica, portanto, está presente no desenvolvimento de
novas ideias, processos e produtos. Sem ela, a engenharia ficaria
estagnada no tempo.
· De uma forma geral, o engenheiro participa de uma maneira ou de
outra desse processo de avanço tecnológico e científico, ao aplicar
novos conceitos que vão surgindo. Não há a necessidade de o
engenheiro se tornar um cientista e ir trabalhar em um centro de
pesquisa. Não é esse o objetivo desta matéria. A lição que deve ser
absorvida refere-se apenas e tão somente ao desenvolvimento da
capacidade de olhar para o futuro com olhos de engenharia. Ou
seja, ao se informar de uma nova ideia, um novo material ou um
novo processo, o engenheiro deve fazer exercícios mentais de como
aquilo poderia ser implementado. Esse é o objetivo deste tópico.

ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema:
“O Engenheiro e a Pesquisa Científica”.
Então, procure ler com atenção o conteúdo disponibilizado e o material
complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para
registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao
professor-tutor.
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais
interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as
atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a Videoaula. Cada material
disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado; por favor, estude
todos com atenção.
UNIDADE O engenheiro e a pesquisa científica

Contextualização
Como você se imagina sendo um(a) engenheiro(a) formado(a) e trabalhando no
mercado de trabalho nacional? Será que você terá a ideia de que terá uma mesa em
um escritório e que ficará diante de um computador respondendo e-mails durante
todo o tempo? É possível que isso lhe possa acontecer, mas depende de você. Se
quiser se tornar um(a) profissional dedicado(a) e assim agradar a chefia, terá toda a
oportunidade do mundo. Porém, é melhor pensar direito... A economia nacional
costuma oscilar fortemente e isso poderá lhe custar o emprego. Tornar-se apenas
mais uma peça nesse jogo nem sempre é a melhor opção. Mas se você procurar
olhar para o futuro, poderá ser mais bem sucedido(a).

A engenharia não é uma profissão limitada. Ao contrário, ela permite alcançar


coisas inimagináveis. Ela é tão versátil que, caso não se tenha a solução para um
determinado problema com base no conhecimento existente, essa solução poderá
ser buscada por meio da pesquisa científica.

E nos dias atuais essa pesquisa poderá começar a partir de nosso computador,
buscando na internet.

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Introdução
Nas unidades anteriores, falamos sobre o que é a engenharia e o que ela pretende.
Você teve uma boa noção do que é ser engenheiro e mergulhou no passado para
notar como a engenharia evoluiu até nossos dias. Também vimos como o engenheiro
aborda os problemas à sua volta por meio da observação. E finalmente analisamos as
dificuldades encontradas na execução de um grande projeto.

Neste tópico, vamos abordar a interação entre o trabalho do engenheiro e a


pesquisa científica. Trata-se de fazer uma análise de como o engenheiro poderá
estar presente no desenvolvimento técnico e científico de uma nação.

Mesmo se tratando de um país com poucos recursos financeiros, o Brasil


necessita de pesquisadores científicos com formação em engenharia, pois há
problemas tecnológicos que somente a pesquisa poderá resolver. Como exemplo,
podemos citar a pesquisa meteorológica, uma área de conhecimento em que o
engenheiro poderá se desenvolver criando programas computacionais de simulação
meteorológica, cuja finalidade é a previsão do tempo, por exemplo. Esse campo
científico permite muita pesquisa e criatividade.

Evidentemente, não é somente na área meteorológica que se encontra a


pesquisa. Praticamente todos os setores da engenharia necessitam de pesquisa. Na
engenharia mecânica e de materiais, por exemplo, os novos plásticos de engenharia,
desenvolvidos recentemente, estão presentes até em aviões, como é o caso já citado
do Boing 787, cuja estrutura foi totalmente construída com esse material.

O computador
Um caso de imenso sucesso da pesquisa científica e que culminou em um dos
mais importantes elementos da nossa vida cotidiana foi o advento do computador.
Hoje não conseguimos conceber a ideia de um mundo sem essa terrível máquina
automática. Vale a pena voltarmos no tempo e verificar como essa máquina surgiu.
A computação é um dos campos científicos mais promissores para a pesquisa,
pois permite que pesquisadores possam desenvolver ideias de forma bastante
econômica, até mesmo de dentro de suas próprias casas. Vale e pena acompanhar
a evolução da computação descrita aqui.

Uma vez um repórter perguntou ao renomado pintor espanhol Pablo Picasso,


em meados dos anos 60, qual seria o futuro do computador. Ele respondeu:
“Computadores são inúteis. Eles não têm futuro, pois se tratam de máquinas de
calcular imensas e desajeitadas”. Esse era o conceito que o computador passava
à sociedade na época. Evidentemente, ele se baseou naquilo que conhecia. A
pesquisa científica mudou tudo, transformando aquilo que era realmente grande e
desajeitado em algo extremamente útil e pequeno.

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UNIDADE O engenheiro e a pesquisa científica

Hoje sabemos que o computador deixou de ser apenas uma máquina de calcular. Mas,
quando houve essa ruptura? Podemos dizer que a mudança de um simples elemento
calculador para a multimídia ocorreu recentemente, no início da década de 1980. Até
então, computadores eram máquinas eletrônicas que apenas faziam cálculos.

A grande revolução começou em 1947, quando três cientistas da empresa norte-


americana Bell Telephone descobriram o transistor, que foi apresentado ao mundo
em dezembro de 1948. Os três receberam o prêmio Nobel de 1956 por isso. Foi
uma descoberta casual, pois eles estavam pesquisando uma ideia que surgiu em
1925, mas que acabou redundando em uma das maiores invenções até então.

A invenção do transistor causou uma revolução em praticamente todos os


setores da vida cotidiana do ser humano. Trata-se de um elemento de pequeno
porte que possuía a capacidade de amplificar um sinal eletrônico, assim como
também de chaveá-lo. Sua primeira utilização foi substituir as válvulas termiônicas
utilizadas em todos os aparelhos eletrônicos até então. Com isso, houve duas
modificações importantes: redução no consumo de energia e redução do tamanho
desses aparelhos. Além disso, os aparelhos ficavam mais frios (pois as válvulas
geravam muito calor) e mais baratos (são fabricados com um material abundante –
silício – que é encontrado na areia). Na esteira desse desenvolvimento, surgiram os
circuitos integrados do início dos anos 1960, que constituíam na adição de circuitos
eletrônicos inteiros em uma única pastilha.

Figura 1 – O primeiro transistor, inventado em 1947


Fonte: Wikimedia Commons

Antes do transistor chegar aos computadores, estes últimos eram originalmente


mecânicos, constituídos de alavancas e engrenagens, ou eletromecânicos,
construídos com relês. Eram máquinas destinadas unicamente a realizar cálculos.
Um dos desenvolvimentos mais notáveis desse tipo de computador foi a Máquina
das Diferenças, idealizada pelo matemático inglês Charles Babbage. Ele participou
da fundação da Royal Astronomical Society em 1820, e foi nessa época que
adquiriu o interesse em máquinas de calcular, que se tornou uma paixão até o fim
de sua vida. Em 1821, Babbage inventou uma pequena máquina para compilar
tabelas matemáticas e chamou-a de Máquina das Diferenças. Ao completá-la, em
1832, concebeu a ideia de uma máquina melhor e que poderia realizar não apenas
uma tarefa matemática, mas qualquer tipo de cálculo. Assim nasceu a Máquina
Analítica ou Máquina das Diferenças no. 2, em 1856, que possuía algumas das
características dos computadores atuais.

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Figura 2 – A primeira máquina de calcular de Babbage
Fonte: Wikimedia Commons

Na época, não havia engrenagens que oferecessem as tolerâncias dimensionais


exigidas por Babbage; suas invenções excederam o nível da tecnologia disponível.
E, embora o trabalho de Babbage tenha sido formalmente reconhecido por
instituições científicas respeitadas, o governo britânico suspendeu o financiamento
para o seu projeto em 1832. Embora Babbage tenha dedicado a maior parte de
seu tempo e de seus recursos na construção de sua máquina analítica, após tê-la
concebido em 1856, ele nunca conseguiu concluí-la. Aliás, todos os seus projetos
foram construídos por outras pessoas. A máquina das diferenças foi construída
por um engenheiro sueco, George Scheutz, em 1854. Com essa máquina foram
produzidas tabelas matemáticas, astronômicas e financeiras com uma precisão
sem precedentes, as quais foram utilizadas pelos governos britânico e americano.
Embora o trabalho de Babbage tenha continuado por seu filho, Henry Prevost
Babbage, após a sua morte em 1871, a Máquina Analítica nunca foi concluída
com êxito. Apenas em 1985 o Museu da Ciência em Londres iniciou a construção
da Máquina Analítica de Babbage a partir de seus desenhos originais, que entrou
em funcionamento em 1991. Essa máquina possui 4000 partes e pesa mais de
três toneladas. A impressora acoplada a ela foi completada nove anos depois, em
2000. Ela também possui 4000 peças e pesa 2,5 toneladas.

Quando Charles Babbage idealizou as máquinas das diferenças, ainda era


utilizado o sistema numérico decimal. O sistema binário utilizado atualmente nos
computadores foi introduzido no início dos anos 1900 e implementado algumas
décadas depois. Nessa época, as engrenagens existentes nas máquinas de calcular
foram substituídas por relês; assim, atribuía-se o dígito binário “0” para o relé
desenergizado e “1” para quando estivesse acionado. O primeiro computador
construído com relês de que se tem notícia foi idealizado pelo engenheiro alemão
Konrad Zuse, em 1941. Possuía 2.100 relês e utilizava aritmética de ponto
flutuante, uma novidade no campo dos cálculos até então.

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A computação dos anos 1900 era muito limitada. Porém, um salto na


computação foi dado no início da Segunda Guerra mundial. A causadora disso
foi a máquina de cifrar (ou codificar) mensagens chamada Enigma. Ela havia
sido concebida para codificar mensagens que seriam transmitidas por telegrafia
ou impressas. Quando foi criada, nos anos 1920, destinava-se a proteger
informações comerciais. Posteriormente, ela foi adotada e aperfeiçoada pelo
governo alemão na década de 1930 para codificar mensagens militares. Durante
a Segunda Guerra sua importância tornou-se altamente relevante para ambos os
lados; os submarinos alemães a utilizavam para se comunicarem entre si e com
suas bases, pois suas missões eram afundar os navios mercantes ou militares que
estivessem fornecendo ajuda aos aliados. Foram afundados inúmeros navios, a
ponto de influenciar o destino da guerra. Logo, quebrar o código da Enigma era
prioridade zero para os aliados.

A máquina Enigma era simples e eficiente. Possuía inicialmente três rotores


mecânicos, que eram ajustados entre si para formarem as combinações. Possuía
teclas e lâmpadas, ambas associadas às 26 letras do alfabeto. Ao se pressionar uma
determinada tecla, a corrente elétrica passava pelos rotores de codificação antes de
acender a lâmpada; cada vez que se apertava a mesma tecla, uma lâmpada diferente
acendia. Essa máquina possibilitava trilhões de trilhões de codificações diferentes.
Seu uso durante a Segunda Guerra causou inúmeras perdas aos aliados; foram
realizados esforços pesados pelos britânicos e norte-americanos para decodificar
as mensagens alemãs e assim estabelecer estratégias de defesa. Foi então que um
matemático britânico, Alan Turing, construiu em 1940, com recursos do governo
britânico, uma máquina que acabou decodificando a Enigma. Chamada Bombe, a
máquina de Turing utilizava relês e tambores que simulavam a máquina Enigma. A
ideia era testar uma determinada quantidade de combinações de letras e verificar
se o texto decodificado era coerente. A máquina parava de funcionar quando um
texto coerente era obtido. Com o auxílio de uma máquina Enigma que os britânicos
possuíam, as mensagens alemãs foram decodificadas. As máquinas Bombe
conseguiram decifrar uma mensagem em meia hora. Foram construídas cerca de
300 delas. Logo em seguida, os britânicos construíram o primeiro computador
eletrônico de que se tem notícia, o Colossus. Projetado pelo engenheiro britânico
Tommy Flowers, essa máquina era a evolução eletrônica da Bombe e foi projetada
para quebrar a codificação da máquina Lorenz, utilizada pelo alto comando alemão,
que possuía até doze rotores de codificação. Foram construídas dez unidades, cada
uma possuindo 2.500 válvulas termiônicas. Os tambores mecânicos utilizados na
Bombe foram substituídos por fitas de papel perfurado, que corriam com maior
velocidade. Uma série de polias transportavam rolos contínuos dessa fita perfurada
contendo as possíveis soluções para uma determinada mensagem. A Colossus
reduziu o tempo para quebrar mensagens de semanas para horas. A maioria dos
historiadores acredita que o uso das máquinas Colossus encurtou significativamente
a guerra, fornecendo evidências das intenções inimigas. Vários sucessos em batalhas
da Segunda Guerra foram atribuídos à Colossus. A existência dessa máquina veio
a público somente na década de 1970.

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Figura 3 – A máquina de codificar mensagens Enigma
Fonte: Wikimedia Commons

As pesquisas científicas não pararam aí. Durante a Segunda Guerra, os norte-


americanos desenvolveram o primeiro computador comercial, o ENIAC, que entrou
em produção seriada somente em 1946. Igualmente idealizado para os propósitos da
guerra, acabou não sendo útil durante o conflito, que havia terminado no ano em que
ficou pronto. ENIAC significa Electrical Numerical Integrator and Calculator. Possuía
18.000 válvulas, pesava mais de 30 toneladas e era 1.000 vezes mais rápido do que
qualquer computador de relês conhecido até então. O calor gerado pelas válvulas era
tanto, que tinha que ser resfriado intensamente para se manter funcionando.

O interesse pela computação no final da década de 1940 e início da de 1950 estava


nas universidades. Gerações de vários modelos de computadores surgiram nessa época
nas universidades norte-americanas e britânicas. E, apesar do computador eletrônico
se mostrar mais rápido, ainda se construíam computadores eletromecânicos operados
com relês. Porém, essa realidade mudou quando surgiu o transistor.

Figura 4 – O ENIAC, o primeiro computador eletrônico comercial


Fonte: Wikimedia Commons

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A partir do lançamento comercial do transistor, em meados da década de


1950, a indústria começou timidamente a produzir computadores de grande porte
transistorizados. Nessa época, os programas eram gravados em fitas perfuradas
ou em fitas magnéticas. O primeiro computador transistorizado foi construído na
Universidade de Manchester, na Inglaterra, em 1953. Era apenas um protótipo,
possuía 92 transistores e 500 diodos. Nessa altura, a aritmética decimal já havia
sido abolida na construção de computadores. Nos Estados Unidos, o MIT –
Massachussets Institute of Technology construiu o TX-0 (“Transistor eXperimental
- 0”) em 1956, que foi o primeiro computador programável de propósito geral
construído com transistores. Para fácil substituição, os projetistas colocaram
cada circuito transistorizado dentro de uma “garrafa”, semelhante a uma válvula
termiônica. A IBM produziu sua primeira série de main frames (computadores de
grande porte) transistorizados somente em 1961.

A partir dos anos 1960, a indústria de computadores evoluiu rapidamente.


Porém, apenas eram fabricados computadores de grande porte, que somente eram
adquiridos por empresas de grande porte, por serem caros. Sua utilização comercial
era baseada principalmente no gerenciamento de informações administrativas das
empresas, tais como folha de pagamento, controle de estoque, gerenciamento
financeiro, etc. Esses computadores produziam pilhas e pilhas de papéis impressos
contendo as informações requeridas.

Em meados da década de 1960, as empresas produziram computadores menores,


chamados de minicomputadores, que tinham capacidade mais limitada que os main
frames mas eram mais baratos e podiam ser adquiridos por empresas menores.
Eram também destinados à área comercial dessas empresas. Na época, as principais
universidades britânicas e norte-americanas desenvolviam seus próprios computadores
e os utilizavam não somente para pesquisa, mas também para uso comercial. Nota-
se que era uma época em que o interesse e o conhecimento científico no campo da
computação digital estavam se expandindo rapidamente nesses centros de pesquisa,
mas a indústria caminhava a passos lentos. Nessa época, tanto as linguagens de
programação como o próprio hardware dos computadores foram desenvolvidos nas
universidades. Grandes corporações, como a IBM – International Business Machines e
a DEC – Digital Equipment Corporation, possuíam seus próprios centros de pesquisa
e desenvolvimento. Porém, atuavam de forma mais lenta que as universidades. Mas
essa realidade foi mudando no decorrer do tempo e na década de 1970 finalmente a
indústria superou a universidade, com o advento do circuito integrado. Os progressos
eram rápidos e evidentes nessa época.

O computador de bordo utilizado nas naves Apollo foi um exemplo de como as


universidades estavam desenvolvidas no conhecimento computacional. Projetado
por cientistas e engenheiros do Laboratório de Instrumentação do MIT, o Apollo
Guidance Computer (AGC) foi o resultado de anos de trabalho para reduzir o
tamanho do computador que seria utilizado no espaço pelos astronautas. No
início de seu desenvolvimento, era do tamanho de sete refrigeradores domésticos
colocados lado a lado e foi reduzido a uma unidade compacta pesando apenas

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36 kg e ocupando um volume de menos de 30 litros. O primeiro voo do AGC foi
realizado na nave Apollo 7. Um ano mais tarde, esse minúsculo computador guiou
a Apollo 11 para o pouso na superfície lunar. A comunicação entre os astronautas
e o computador era feita por meio de cartões perfurados e por meio de um teclado
numérico, gerando códigos de dois dígitos no visor numérico. O AGC foi um dos
primeiros a utilizar circuitos integrados, e sua memória de 2 kBytes era constituída de
pequenos núcleos magnéticos só de leitura. Os astronautas conseguiram introduzir
mais de 10.000 comandos no AGC em cada viagem entre a Terra e a Lua

Figura 5 – O computador AGC utilizado nas naves Apollo da NASA


Fonte: Wikimedia Commons

O System/360 da IBM foi um grande evento na história da computação. Lançado


em 1964, foi anunciado que se destinava a clientes científicos e de negócios e
todos os modelos podiam executar o mesmo software, em grande parte, sem
modificação. Sua capacidade de processamento era quase 50 vezes maior que a da
maioria dos computadores comerciais existentes e, na época do lançamento, a IBM
tinha acabado de fazer a transição de transistores discretos para os recém-lançados
circuitos integrados, e a sua principal fonte de receitas começara a se mover de
equipamentos de cartão perfurado a sistemas eletrônicos. Foi uma revolução na
computação, na época. O IBM 360 tornara-se o padrão da computação comercial.

Os cálculos de engenharia até essa época eram realizados pela grande maioria
dos engenheiros por intermédio de réguas de cálculo, como, por exemplo, aquela
mostrada na figura 6 a seguir. As primeiras réguas eram feitas de madeira, bambu
ou alumínio e as últimas eram feitas de material plástico. Dotadas de escalas
independentes, podiam realizar vários cálculos incluindo o uso de logaritmos,
funções trigonométricas, potenciação, função inversa, etc. Até meados da
década de 1970, elas reinaram absolutas nos cálculos de engenharia por serem
precisas e de baixo custo, fáceis de transportar e não dependiam de energia para
funcionarem. Elas foram substituídas pelas calculadoras eletrônicas, em meados da
década de 1970. O uso dessas réguas era relativamente simples, mas exigia um
melhor conhecimento das funções matemáticas. Por exemplo, para se calcular a
cotangente de um ângulo, nas calculadoras eletrônicas basta apertar uma tecla;
na régua, era preciso calcular a tangente desse mesmo ângulo e convertê-la
matematicamente para a cotangente, utilizando lápis e papel. Além disso, por
serem analógicas, as réguas de cálculo permitiam que o operador tivesse noção da
grandeza do cálculo que estava realizando, pois o posicionamento da vírgula era
determinado pela contagem das casas decimais dos números envolvidos. O uso da
régua exigia, portanto, mais raciocínio que o uso das calculadoras.

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UNIDADE O engenheiro e a pesquisa científica

Figura 6 – Régua de cálculo utilizada pelos engenheiros


Fonte: Wikimedia Commons

Em meados da década de 1960, os circuitos integrados já estavam no mercado.


Eles foram os responsáveis pela miniaturização de todos os aparelhos eletrônicos.
No início, apenas poucos transistores cabiam dentro de um circuito integrado;
com o passar do tempo, a integração cresceu exponencialmente. Com o advento
desses circuitos integrados, a computação saiu da área dos cálculos e ingressou em
praticamente todos os setores da atividade humana: telefonia, cinema, medicina,
eletrodomésticos, automóveis, etc.

A microcomputação tornou o computador popular e acessível. Um dos primeiros


microcomputadores de que se tem notícia foi o Kenbak-1, feito para estudantes e
lançado em 1971, cuja entrada de dados era feita por meio de chaves liga-desliga
e a saída por intermédio de luzes. Possuía circuitos integrados e sua memória era
de apenas 256 kBytes. Foram produzidas apenas 40 unidades.

Figura 7 – O microcomputador WANG 2200


Fonte: Wikimedia Commons

Algumas pequenas companhias lançaram computadores comerciais de pequeno


porte. Uma dela foi a norte-americana Wang, fabricante bem sucedida de
calculadoras eletrônicas e fundada em 1956, que lançou em 1973 o Wang 2200,
um microcomputador avançado que utilizava um tubo de raios catódicos (tubo de
imagem), armazenamento de dados e programas em fita cassete e a linguagem de
programação BASIC. A chegada do PC acabou com o sucesso da Wang, que faliu
em 1992.

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O Personal Computer, ou simplesmente PC, surgiu no final dos anos 70. O
primeiro PC bem sucedido foi o APPLE II, criado em uma garagem por Steve
Wozniak e posteriormente industrializado por Steve Jobs. Era vendido completo,
contendo a placa mãe, a fonte de alimentação, teclado, manual, joystick e uma
fita cassete contendo o jogo Breakout. Não havia monitor; em vez disso era um
aparelho de televisão. Encontrou uma popularidade muito além da comunidade
estudantil, a qual se tornou a principal comunidade de usuários da Apple até então.
Quando conectado a um aparelho de televisão em cores, o Apple II produzida
brilhantes gráficos coloridos para a época. Milhões de Apple II foram vendidos
entre 1977 e 1993, tornando-se uma das linhas de computadores pessoais de vida
mais longa. A Apple forneceu gratuitamente milhares de Apple II para escolas,
oferecendo aos estudantes o seu primeiro acesso a computadores pessoais.

Várias marcas de PC eram disponíveis no mercado quando a IBM lançou o seu


próprio PC, em 1978. O microcomputador da IBM não era superior aos então
existentes, mas a marca IBM e um marketing agressivo acabaram prevalecendo. O
primeiro IBM PC, formalmente conhecido como o IBM Modelo 5150, baseava-se
no microprocessador Intel 8088 e usava sistema operacional MS-DOS da Microsoft.
O PC IBM revolucionou a computação empresarial, tornando-se o primeiro PC a
ser adotado pela indústria. O IBM PC foi amplamente copiado (“clonado”) e levou
à criação de um vasto “ecossistema” de software, periféricos e outras commodities
para uso com a plataforma. Permitir sua cópia foi uma estratégia utilizada da
IBM para difundir a microcomputação, pois seu maior negócio na época eram
os serviços prestados a utilizadores de main frames e a microinformática não era
uma das metas estratégicas da empresa. Além disso, a microcomputação era
desconhecida da maioria das pessoas e o uso da marca IBM caiu bem, por ser uma
marca conhecida. Na esteira do lançamento do PC, as outras marcas e plataformas
de PCs desapareceram do mercado, exceto a APPLE.

A computação é uma ciência que ainda não parou em seu desenvolvimento. A


cada dia, novos aparelhos surgem no mercado, cada um com suas características
próprias. Tudo sendo fruto de pesquisas e aprimoramento.

Mais um caso de sucesso


A pesquisa científica não tem limites. O conhecimento aumenta a cada dia que
passa, fruto da investigação e da curiosidade do ser humano. No episódio que você
vai ler agora notará como a pesquisa pode resolver problemas imediatos, sem
muito custo.

Este caso se passou com o autor deste texto. No ano de 1995, um grupo de
técnicos e engenheiros veio até o instituto onde o autor trabalhava, com o intuito
de resolverem um problema. Tratava-se de um caso de medição de vazão de água
em um conduto que alimentava as turbinas de uma pequena usina hidrelétrica,
localizada no interior do Estado do Mato Grosso. Eles precisam medir a vazão de

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água no conduto forçado que abastecia as turbinas e assim poderem calcular o


rendimento atual do conjunto. Eles sabiam medir a pressão, a rotação da máquina
e a potência elétrica, mas não sabiam medir a vazão. Para efetuar esse serviço, eles
haviam contratado uma empresa especializada em medições de parâmetros físicos,
cujo negócio principal era a venda de instrumentos. Essa empresa havia utilizado
um medidor de vazão ultrassônico, tipo “clamp on”, ou seja, era instalado no lado
externo do duto, sem ter que furá-lo. O diâmetro da tubulação era de 3,0 metros.
Quando as medições foram concluídas e os resultados fornecidos, as contas foram
feitas e chegaram a um rendimento da turbina maior que 100 %. Ou seja, havia
algo errado, pois não existe rendimento maior que esse limite. Depois de muita
discussão, a empresa que mediu a vazão desistiu e então aquelas pessoas estavam
ali para buscarem uma solução para o seu problema. O autor deste texto também
não tinha uma solução imediata, pois o único instrumento existente que poderia ser
utilizado (o tubo de Pitot Cole, bastante conhecido e utilizado para essa finalidade)
não suportaria as altas velocidades da água naquele conduto. Trata-se de uma
medição intrusiva. Surgiu então a ideia de “inventar” um novo tipo de medidor
para essa finalidade: um tubo de Pitot tipo S, que deslizaria no interior de um duto
e assim poderia suportar o arrasto hidrodinâmico. Essa ideia surgiu no calor da
discussão naquela mesma reunião.
Esse medidor não existia. Teria que ser idealizado, projetado, construído e testado.
Essa foi a solução proposta àqueles técnicos e engenheiros. Porém, eles aceitaram o
desafio e acabaram contratando o serviço. Caso não desse certo, seria um fracasso
para todos. No instituto onde trabalhava, o engenheiro que propôs a solução trabalhava
com medição de vazão de fluidos e dispunha de um laboratório de pesquisas.
Mas o autor deste texto sabia que poderia ser bem sucedido. Tinha à sua disposição
um laboratório onde poderia desenvolver e testar a nova invenção. Porém, não havia
tempo para isso. O cliente tinha um prazo curto para realizar aquelas medições e elas
teriam que ser feitas tão logo quanto possível. A solução encontrada foi projetar o
medidor, entregar o projeto ao cliente para sua construção, realizar o serviço e testá-
lo posteriormente. E assim foi feito, com a anuência do cliente.

Figura 8 – Seção transversal da adutora com o medidor instalado


Fonte: Acervo do autor

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Como nunca havia visto nada parecido, o autor deste texto passou a imaginar
como poderia ser construída a nova invenção. O fluxo de água deveria cruzar
o duto de aço de 75 mm de diâmetro transversalmente e também passar pelo
interior de um conjunto de 11 janelas abertas nesse duto. O esquema do medidor
desenvolvido pode ser visto na Figura 8. No interior dessas janelas deslizaria o
tubo de Pitot S para efetuar as leituras de pressão diferencial. A maior dificuldade
encontrada foi imaginar como o fluxo passaria por essas janelas de forma a
perturbar o menos possível o escoamento para que as leituras com o Pitot fossem
confiáveis. A ideia foi para o papel e tornou-se um projeto dimensional, que foi
enviado aos engenheiros. Com o projeto em mãos, o cliente construiu quatro dutos
janelados e dois tubos de Pitot S em apenas duas semanas. Seriam feitas medições
em duas unidades de geração de energia da pequena hidrelétrica, em dois condutos
de diâmetro de 3,0 metros cada. As medições seriam realizadas em dois eixos, um
vertical e outro horizontal. Daí a necessidade de quatro dutos. Quanto aos tubos de
Pitot, eles seriam retirados de um conduto e inseridos no outro no intervalo entre
as medições. Para inserir os tubos de Pitot nos tubos janelados, era preciso parar
as turbinas e esvaziar os condutos, mas essa era uma manobra que o pessoal da
usina fazia corriqueiramente.

Os tubos de Pitot S possuem seu coeficiente de descarga (que pode ser entendido
como sendo uma espécie de “rendimento” do instrumento) em torno de 0,82
quando operam livremente. Porém, nesse caso, devido ao fato de estar no interior
de um duto, esse coeficiente foi significativamente alterado e teria que ser levantado
no laboratório.

Figura 9 – O conjunto de medição de vazão construído


Fonte: Acervo do autor

Na foto da figura 9, é possível notar o duto de 75 mm de diâmetro de parede grossa


dotado de janelas, por onde a água passaria e onde estaria o sensor de medição. A
foto da figura 10 mostra o detalhe do tubo de Pitot tipo “S” que deslizava dentro do
duto. Assim, as medições seriam realizadas e o fluxo forte da água não destruiria o
sensor. Essa ideia nunca havia sido testada antes. Foi um desafio.

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Assim que os quatro conjuntos foram instalados nas tubulações, foi marcado o
dia das medições. O ensaio de medição de vazão de água teria que ser feito fora
do período de pico de fornecimento de energia; assim, os ensaios foram realizados
durante a madrugada. Quando a água começou a fluir pelos condutos, todos
prenderam a respiração, pois esperavam que pudesse ocorrer o rompimento do
sensor. Felizmente, isso não aconteceu. As medições então puderam ser iniciadas.

Figura 10 – O tubo de Pitot S posicionado em uma das janelas do duto


Fonte: Acervo do autor

O pessoal da usina ali presente desejava conhecer o mais breve possível os


valores das vazões medidas. Porém, não seria possível atendê-los antes de retornar
ao laboratório e levantar o coeficiente de descarga do conjunto duto-Pitot. Ao
retornar, o conjunto foi instalado em um carro que deslizava sobre um longo tanque
com água com velocidade conhecida. Em vez de termos o Pitot estacionário e
a água correndo contra ele, nessa instalação tinha-se a água parada e o Pitot
correndo dentro dela. O efeito seria o mesmo. Assim procedendo, a curva do
coeficiente de descarga do conjunto foi levantada e finalmente os valores de vazão
foram fornecidos ao cliente. Os resultados finais de rendimento do conjunto turbina-
gerador foram considerados plenamente satisfatórios pelo cliente.

Nesse episódio, foi possível observar que a engenharia é capaz de oferecer soluções
para problemas desconhecidos e que não estão nos livros, mas que podem ser
solucionados pela aplicação sistemática do conhecimento adquirido. Foi e tem sido
assim desde o início da era científica. A pesquisa faz parte do papel do engenheiro,
queira ou não queira. Ela acrescenta mais confiança em seu trabalho cotidiano e abre
caminho para a divulgação pública de suas soluções. Isso é gratificante tanto para o
pesquisador como para a sociedade. Vale a pena estudar engenharia.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Impressora da máquina de Babbage
http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/710950.stm

Vídeos
Máquina de Babbage em operação
https://www.youtube.com/watch?v=jiRgdaknJCg
Operação da máquina Enigma
https://www.youtube.com/watch?v=VMJeDLv2suw
Demonstração máquina Enigma
https://www.youtube.com/watch?v=VMJeDLv2suw
Máquina Lorenz
https://www.youtube.com/watch?v=KRaDnKzTXdw
Régua de cálculo
https://www.youtube.com/watch?v=ydde25EN4Qk

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UNIDADE O engenheiro e a pesquisa científica

Referências
CHARLES BABBAGE INSTITUTE. Who was Charles Babbage? Disponível em:
<http://www.cbi.umn.edu/about/babbage.html>. Acesso em: 31 jul. 2016.

COMPUTER HISTORY. Timeline of computer history. Disponível em: <http://www.


computerhistory.org/timeline/1968/#169ebbe2ad45559efbc6eb357204a28c>.
Acesso em: 31 jul. 2016.

VANDENBURG, W. H., and KHAN, N. (1994) - How Well is Engineering Education


Incorporating Societal Issues. Journal of Engineering Education 83: 357-61.

WIKIPEDIA. Enigma (máquina). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/


Enigma_(m%C3%A1quina)>. Acesso em: 31 jul. 2016.

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