Você está na página 1de 53

Universidade Cruzeiro do Sul EAD

Nathalia Fruchi

São Paulo
2021
1
Introdução a Antropologia..................................................................................................................................3
Metodologia Cientifica..............................................................................................................................................9
Diversidade Cultural ...............................................................................................................................................13
Autores Clássicos da Antropologia...........................................................................................................22
Autores Clássicos da Antropologia II.......................................................................................................34
Religião Religiosidade e Magia........................................................................................................................46

2
A Antropologia foi fundada como ciência com o olhar sempre voltado para
entender as diferenças partilhadas entre os seres humanos. Nesse sentido, o que
será trabalhado nesta disciplina é apresentar as suas especificidades e contribuições
para a reflexão sobre a alteridade.
Para tanto, será objeto de análise o surgimento dessa disciplina dentro do
conjunto das chamadas Ciências Sociais, assim como as principais questões que
nortearam e ainda orientam muitas pesquisas desenvolvidas na atualidade. Nessa
esteira, serão trabalhadas as principais ideias, teorias antropológicas e suas
contribuições, assim como dos vários pesquisadores que nos possibilitaram contar
com um aprofundamento do conhecimento sobre nós, os seres humanos

: Me. Pedro H Galdino.

Bom, agora e aqui é meu primeiro relatório, então eu vou escrever como se
eu estivesse “dando aula para mim mesma”, e umas visão meio; “ué você então
entendeu isso”, e pode ter vicio de linguagem, com o tempo eu melhoro.
Essa aula também me trouxe a lembrança de quando o Lucas na sua aula
(provavelmente no 8°ano-2016), estava explicando eurocentrismo e ele deu o
exemplo de um antropólogo alemão foi estudar a civilização os esquimós/Inuites, e
ele se entregou tanto na prática de. Observador participante, que quando ele
terminou o seu trabalho e voltou para a Alemanha para publicá-lo, ele não conseguiu
mais viver na sociedade europeia, pois tinha se entregado de corpo e alma/criado
costumes e aderido à cultura inuiteanas em sua vida, que ele voltou para o Canadá
em menos de 2 anos e viveu sua velhice entre a sociedade que o mesmo estudou.

3
A Antropologia como o mundo conhece hoje em dia só foi definida raças a 2
antropólogos que veremos a decorrer desse texto, o Bronislaw Kasper Malinowski
(1884-1942), e Claude Lévi-Strauss Antes de começaremos falando das principais
mudanças que ambos trouxeram para a chamada “Antropologia Moderna”
falaremos do que era a antropologia (ou o que tentava ser) antes deles. Ela era
baseada em uma visão retrógada de evolucionismo e mais pra frente
conheceremos como, evolucionismo social, eurocentrista e etnocêntrica.

• Explicação do professor; O humano universal: o sentido da evolução da


espécie humana vai dos povos primitivos até a civilização europeia.
• Explicação simplificada; Refere-se às teorias antropológicas e econômicas de
desenvolvimento social segundo as quais acredita-se que as sociedades têm
início em um estado primitivo e gradualmente tornam-se mais civilizadas com
o passar do tempo
Tá agora no que isso resultou? Lembra daquela história de povo ariano, ou que
“preto não presta”, então! Tal pensamento alimentou o elitismo, e o ódio e
preconceito da civilização europeia perante o resto do mundo, assim dando
sustento para barbaridades como o nazismo/colonização acontecerem.. Assim o
pensamento Antropológico Imparcial e justo perante outros sociedades só foi
alcançado no começo do século XX.

4
Começaremos falando de Malinowski, ele é o criador do “Pensamento
Funcionalista”, o precursor do Pensamentos que viriam em seguida, tal pensamento
é embasado na coleta de material Etnográfico e o pesquisador deveria passar a
participar diretamente do cotidiano social do grupo observado. Tratava-se da
observação etnográfica, durante a qual a coleta de dados se realizaria pelo
pesquisador, que passava a vivenciar as práticas do grupo observado e partilhar dos
significados a elas atribuídos, permitindo correlacioná-los e compreendê-los em
profundidade.
Ou seja, ele começou um método de estudo que tinha como objetivo a análise
e documentação dos povos sem que ela seja julgada ou comparada a outras
civilizações. Como o mesmo disse; "Toda a estrutura de uma sociedade encontra-
se incorporada na mais evasiva de todas as matérias: o ser "humanos". - Bronislaw
Kasper Malinowski.

Já Claude Lévi-Strauss, pegando a base do pensamento de Malinowski, “teoria


estruturalista francesa”, a qual pressupunha que “estruturas universais” estariam por
trás de todas as ações humanas, dando forma às culturas em suas mais variadas
manifestações: linguagem, mitos, religiões etc. É importante destacar a obra
Antropologia Estrutural, publicada em 1958 em que o autor reforça a importância
da história e da etnologia ao método estrutural aplicado na antropologia.
Ele também é responsável por uma “revolução intelectual considerável”,
possibilitando ao antropólogo estudar o “pensamento selvagem” e não o
“pensamento do selvagem”. Não se trata de uma mudança insignificante, mas sim
da subversão completa do enfoque das pesquisas antropológicas realizadas até ali.
Ou seja, Strauss deixou de fazer a distinção do funcionamento mental entre os
povos primitivos e os povos europeus para afirmar que o “pensamento selvagem”
poderia ser encontrado em cada um de nós.

5
Lembra lá e cima que citei o evolucionismo, ou darwinismo social? Então, o Lévi
na obra de 1958, criticou de maneira bem direta., o autor reforça a crítica à
abordagem evolucionista por se tratar da repercussão direta do evolucionismo
biológico (Darwin). Strauss lembra também que essa afirmativa se aplica ao século
XIX, contudo lembra que o evolucionismo ‘sociológico’ antecede a corrente biológica
(LÉVI-STRAUSS, 2012, p. 20).
Para Lévi-Strauss, a maior parte dos antropólogos estava preocupada a oposição
entre essência e aparência. Suas pesquisas na busca a psicologia, a lógica e a filosofia
das sociedades estudadas. A mera descrição das práticas rituais de uma determinada
coletividade, a aparência, não lhe interessava. Para simplificar, antigamente os
Antropólogos estudavam o “porque daquela sociedade ser assim,” criticando a falta
de “avanços” das mesmas, e fechavam o olho para o verdadeiro questionamento
que é “como a sociedade está assim?
E em relação ao. seu método estruturalista permitia compreender que
sociedades tribais revelavam sistemas lógicos notáveis, de qualidades mentais
racionais tão sofisticadas quanto as de sociedades até então tidas como superiores
Para finalizar trago a fala do próprio Lévi-Strauss.; “Para quem não nasceu nela, não
foi educado e instruído nela, um resíduo em que se encontra a essência mais íntima
da cultura permanecerá para sempre inacessível, mesmo se dominamos a língua e
todos os meios exteriores de abordá-la.”.

Ok, chegamos ao fim do resumo, e agora fica o questionamento, qual a


diferença de um pensamento para o outro? Bom a explicação do professor de
cada um é;
• Funcionalismo; Diversidade do fenómeno humano cada sociedade tem
interesses próprios que guiam sua transformação no tempo.

6
• Estruturalismo; Universal humano revisitado: os humanos compartilham a
mesma estrutura de pensamento, mas a doméstica de acordo com
pressupostos de uma cultura.
Como Malinowski veio primeiro, ele foi o precursor da antropologia moderna
e o olhar funcionalista, ele acarretou o pensamento e um método para
datilografar as sociedades então estudadas de maneira imparcial e dando o olhar
que não existe sociedades “mais ou menos “evoluídas”, mas sim interesses sociais
e culturais diferentes, assim acarretando desenvolvimento em setores distintos,
e isso não torna uma sociedade mais evoluída que a outra.
Já o Lévi-Strauss, pegou o pensamento de Malinowski, e o refinou mais ainda,
fazendo uma crítica mais assertiva para os “antropólogos” e defensores do
Darwinismo social, e dando continuidade ao pensamento de que nenhuma
sociedade é melhor que ninguém e devemos olhar para o outro com
imparcialidade. A meu ver o Lévi- Strauss apenas “melhorou/terminou” o
pensamento de Malinowski., criando assim a “teoria funcionalista.”.

Ao começo da aula o Professor traz o questionamento que se entendemos


o conteúdo dado, conseguiremos respondê-la, sendo ele; “Como a antropologia
social transformou sua compreensão do que são os universais humanos e suas
peculiaridades locais?”, para isso precisamos primeiro entender o vocabulário
utilizado pela questão:
• Universal; Sociedade
• Peculiaridades Locais; Cultura
E a resposta a questão é: O desenvolvimento da Antropologia Social implicou-se
na construção do conceito do pensamento etnocentrista. Isso implica em fazer
o Antropólogo a olhar para as culturas e avaliar elas pelos seus próprios critérios
9 e muitas vezes preconceitos), ele tem que avaliar elas a partir dos critérios que
elas ofereciam para ele como sendo importantes para o seu desenvolvimento.

7
Me. Pedro H Galdino 2

Foi uma aula mais técnica, e ao mesmo tempo, me lembrou de muitas


memorias boas da minha época do Fatima., pois o Allan principalmente, ao explicar
a matéria de história de maneira explicativa.

A Antropologia Humana estuda à dimensão cultural do Homem, desde a


cultura material (objetos concretos, tridimensionais) até a imaterial (rituais, festas,
danças etc.). Já a Antropologia Social as estruturas que conformam os fenômenos
sociais (família, hierarquias sociais, tipos de matrimônio, religiosidade etc. O as
etapas e o rigor devem ser cumpridas: observação e classificação dos
fenômenos, coleta empírica de dados, análise dos dados coletados,
estabelecimento de correlações entre fenômenos distintos e, por fim,
generalizações.
A pesquisa antropológica, por constituir-se como científica, não apenas utiliza
um método e um conjunto de técnicas, mas, concomitantemente, pode valer-se
de mais de uma abordagem metodológica e de técnicas distintas para o estudo
do mesmo fenômeno.
O método é o caminho que usamos para chegar a nossa conclusão, sabendo
disso, no campo social, mais nas ciências socieis, não existe uma verdade absoluta,
podemos ter um olhar diferente sobre o mesmo assunto =Múltiplas conclusões.
Indiferente da ciência que estamos falando sendo elas biológicas ou exatas,
precisamos de um método científico, obvio que os métodos científicos usando

8
em respectivas áreas serão diferentes, pois os objetos de estudos delas serão
diferentes. Os métodos em ciências sociais são:
• Método Histórico • Método Etnográfico
• Método Genealógico • Método Estrutural
• Método Estatístico • Método Funcionalista

Faz-se uso do método histórico quando determinado fenômeno cultural só


pode ser explicado se investigadas as suas raízes no passado. ao método histórico
se válida na necessidade de se compreender algo no presente recuando ao
passado, no qual se possam identificar as origens do fenômeno, bem como mapear,
no processo histórico, o desenvolvimento desse mesmo fenômeno, identificando
transformações, permanências e rupturas que expliquem a configuração de
determinado objeto no presente. Trata-se de uma pesquisa de caráter histórico,
reveladora do presente cultural dos homens e das sociedades.
Citaremos exemplo, interessa ao antropólogo compreender por que, na
superstição popular, costuma-se pedir a “São Longuinho” quando alguém perde
algo e deseja reencontrá-lo, trata-se do centurião que teria perfurado, com uma
lança, o pulmão de Jesus Cristo durante a crucificação. Sua lança teria sido perdida
por séculos e encontrada por um monge de nome Pedro Bartolomeu apenas
durante a Primeira Cruzada.
. É evidente que, normalmente, aquele que recorre a “São Longuinho”, não
conhece as raízes desse tipo de superstição, mas, nas mentalidades, esse é um
importante indicador acerca da transmissão que se deu, por séculos, de algo
relacionado a um evento pretérito e que veio recebendo, no devir histórico, distintas
significações.
Outro exemplo, foi dado no 1°do meu ensino Médio, em uma aula do professor
Allan Nicolav, quando ele citou a “curiosidade”, de um dos motivos do brasileiro ser
tão fofoqueiro, ele relatou que em sua viagem para o estado de MG, fez um tour
9
histórico, e sua guia falou que dentro do quarto de casal, que normalmente ficava
para o lado da rua, existia um quarto parte para o casal da época colonial. Poder
falar sobre as finanças familiares sem que o povo da rua que estava pensando
pudesse ouvir. Ouvindo esse relato, é logico que surge a curiosidade de querer
saber o porquê tinha essa necessidade de privacidade, a explicação é: naquele
período, já se existia sonegação de imposto, sendo 1/5 do que foi coletado (daí
vem o dito popular brasileiro de falar “um-quinto dos infernos”).
O casal ia para o quarto, falar o rendimento mensal e negociar o quanto ele
iria sonegar. Como o crime de sonegação contra a coroa estava crescendo, uma
medida do governo, para acabar com o crime foi a delação/dedurar o
amiguinho/vizinho e ter suas dívidas perdoadas, com isso o povo tupiniquim enraizou
se a cultura do fofoqueiro em sua cultura.

Permite a reconstrução de todas as teias de parentesco que conectam o


indivíduo a uma identidade partilhada no âmbito da família, das redes de matrimônio,
das normas de sucessão e de hereditariedade, dos direitos e deveres de um sobre
o outro na instituição familiar, das morais acerca da sexualidade etc.
A origem de determinado grupamento pode, também, vir à luz por meio da
pesquisa genealógica, que permite, dentre outras coisas, identificar antepassados e
chegar a núcleos formadores simples de sociedades complexas. São necessários
dados que possam levar à construção da árvore (ou árvores) genealógica que se
deseja erigir, valendo tanto de informações orais quanto documentais acerca de
matrimônios, descendências, nascimentos, mortes etc.
É importante chamar a atenção para o fato de que sistemas de parentesco,
que constituem a base do método genealógico, não estão pautados exclusivamente
na consanguinidade, em sociedades monogâmicas e patriarcais, como as do
Ocidente complexo, mas podem assumir as mais distintas formas, sendo
imprescindível ao antropólogo relativizar essas práticas para chegar ao profundo da
sua compreensão.
10
É utilizado para quantificar e demonstrar estatisticamente, por meio de
gráficos, dados que possam se referir tanto à dimensão biológica da Antropologia
quanto à social e à cultural. Quando se compara, o índice de aumento de estatura
em determinado grupo humano ao longo do tempo, utiliza-se o método estatístico
na Antropologia Biológica ou Física indica o índice de crescimento demográfico de
determinado grupamento humano, já se passa para o campo da Antropologia Social;
quando se utiliza a estatística para demonstrar a perda de fiéis de determinada
religião, entra-se no campo da Antropologia Cultural. O que demonstra o quanto os
métodos podem variar e se mesclam.
O trabalho consiste em coletar dados, os quais são posteriormente
transportados para uma linguagem quantitativa e demonstrados estatisticamente
por meio de quadros, gráficos e tabelas, dando uma compreensão visual a
determinada sentença. Permitindo ao antropólogo comparar dados estatísticos e
estabelecer relações causais. Um exemplo desse método é compreender os grupos
indígenas e seus processos migratórios ou aumento e diminuição populacional.

Consiste no registro sobre os modos de vida de determinada sociedade, trata-


se de um método eminentemente voltado ao estudo das manifestações culturais,
por meio da descrição de suas dinâmicas, para posterior análise, o método.
etnológico, tem a finalidade de se delinear processos de transformação, de trocas
e de assimilações.

O método estrutural foi usado no início da antropologia pensando analisar as


diversas estruturas contidas dentro das comunidades. Compreender essas
estruturas foi, durante muito tempo, o mote da disciplina antropológica e trouxe a
curiosidade sobre o funcionamento das sociedades fora do continente europeu.

11
Foi, ainda, devido ao método estrutural, cuja meta era perceber parte do
exótico do excêntrico, que muitos pesquisadores preferiram adentrar as
comunidades nos continentes africanos e asiáticos. Essa análise trouxe novos
campos de interesse e esses cientistas precisaram se despir das suas noções
ocidentais para compreender as estruturas dos outros grupos étnicos em questão

Foca os aspectos funcionais de sistemas culturais, ou seja, tanto se preocupa


com o modo como funcionam, efetivamente, determinadas práticas, quanto foca
seus esforços compreensivos sobre a função que essas práticas acabam cumprindo
no contexto do grupo.

Ao começo da aula o Professor traz o questionamento que se entendemos


o conteúdo dado, conseguiremos respondê-la, sendo ele; “conhecer alguma
sociedade, a nossa ou outras, é uma tarefa complicada. Como a antropologia aborda
essa questão metodologicamente?”
A resposta para a questão é” A antropologia social encontrou formas de
adequar a sua capacidade de produzir dados, ou seja, através da observação
participante conseguiu entender certas práticas sociais, e o que essas pessoas
entende como; cultura/troca/parentesco. E com isso criar um método que tenha
algum tipo de respeito perante a diversidade cultural.”

12
M. Pedro Galdino

Se eu tivesse que avaliar as aulas como se avalia os hotéis, essa aula entraria
na estrela 2, nota 0, assim eu amo política e um debate, por isso estou fazendo
ciência política. Sei lá, a aula foi confusa, e eu entendo que o tema de até onde os
direitos humanos podem ir ou não é complicado, mas pensar nisso e principalmente
no olhar antropológico, fez meu cérebro fritar.

A Antropologia passa por dilemas éticos decorrentes de uma defesa


incondicional do relativismo cultural (relativismo moral) e as dificuldades de se pôr
em prática um programa universal de Direitos Humanos em consonância com as
diferentes tradições culturais. Para entendermos os obstáculos, precisamos primeiro
entender o conceito de diversidade cultural, e suas diretrizes atuais e históricas.
Estima-se que a espécie humana esteja dividida em cerca de seis mil povos,
cada um com idiomas, práticas religiosas, modos de interação com o ambiente
natural, relações de parentesco, organizações políticas e estruturas sociais próprias.
Cada uma dessas Sociedades – vivas e, portanto, dinâmicas – pode, ainda, se dividir
em agremiações menores, definidas por seu estilo de vida, sua orientação sexual,
sua ideologia etc. Dentro de tantas pessoas e comunidades, e com ao longo tempo
de história, é obvio que elas iriam apresentar traços culturais distintos, damos o
nome de diversidade.
Em linguagem antropológica, existe uma distinção muito clara entre “diferença”
e “desigualdade”.
13
• Diferença; Tem sentido negativo, relacionado à imposição de desvantagens e
injustiças. Isso quer dizer que situações de “igualdade” e “diferença” podem e
devem coexistir.
• Diversidade; Refere à riqueza de práticas culturais e saberes das Sociedades
humanas, ou seja, à “diversidade”, e carrega, portanto, um valor positivo, que
tem como oposto a ideia de homogeneização, padronização, mesmice.
• Ideologia; As ideias parecem muitas vezes resultar de um esforço intelectual,
uma simples elaboração teórica objetiva e neutra.
• Diversidade cultural; refere a um universo muito mais abrangente das
diferenças observáveis. Admitindo-se que a espécie humana é biologicamente,
as distinções entre os povos se revelam sempre construções sociais
Agora que entendemos a diferença entre os temos que abordaremos,
podemos falar do tal dilema do primeiro parágrafo, sendo ela a luta em defesa da
diversidade ganhou um marco histórico em novembro de 2001., momento
particularmente delicado, já que os Estados Unidos haviam acabado de sofrer os
ataques terroristas ao World Trade Center.
A UNESCO emitiu sua Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural,
documento que estabeleceu diretrizes internacionais, nele lemos que a diversidade
é um “patrimônio comum da Humanidade”, “tão vital para a espécie humana
quanto a biodiversidade é para a natureza. e, a Declaração tem o seu sentido
prático vital: ela lançou diretrizes com as quais todos os países signatários da ONU
passaram a estar comprometidos, o que garante que governos possam ser
objetivamente pressionados a preservar as várias práticas culturais, além de ter
facilitado a atuação de entidades não governamentais que agem em prol dessa
causa.
Essa ideia é um do problema central da Antropologia contemporânea: como
efetivar os Direitos Humanos, universais por definição, sem agredir as práticas e
as particulares das diferentes culturas, muitas vezes frontalmente contrárias às
noções humanistas típicas do Ocidente? Para respondermos pelo menos metade
14
dessa questão, precisaremos entender as fases da antropologia, dês da época de
colonização, ou seja, 500 anos atras, até hoje. Sendo elas;
• Universalismo • Relativismo

Para entendermos o Universalismo, precisaremos voltar a Idade Moderna, que


ocorre no século XV para o XVI (como sei que você vai pesquisar, o século XV=15
que é do ano 1401-1500, já o XVI=16 do ano 1501-1600). Nesse período, a Europa
passou por uma série de transformações que modificaram permanentemente as
estruturas políticas, sociais e culturais do Ocidente. O Renascimento, a descoberta
do “Novo Mundo” (América) e de seus habitantes, o pensamento humanista, o
resgate da cultura clássica greco-romana, a Reforma e a Contrarreforma. Todos
esses processos históricos ajudaram a moldar um conjunto de valores e de modelos
de pensamento.
Um bom exemplo de como algumas noções criadas naquele período ainda
estão vivas no plano das mentalidades é a moderna concepção de “fazer Ciência”.
Até as décadas finais da Idade Média, um empreendimento intelectual adequado era
aquele que seguia um método de investigação puramente dedutivo e especulativo.
Foi só com Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650) e, um pouco
mais tarde, Isaac Newton (1643-1727) defendessem o valor do conhecimento
empírico para que a experimentação laboratorial e a comprovação prática de
modelos teóricos se tornassem etapas obrigatórias de praticamente todo trabalho
científico. Essa concepção de Ciência nos acompanha até hoje, especialmente, em
seu sentido mais coloquial, e como vimos na unidade 2, a própria antropologia é
tributária desse movimento.
Agora que temos exemplos para entender, conseguiremos similar que esse
conjunto de transformações culturais que ocorreu e percorreu até o ocidente,
trazendo a nova concepção de “homem” e “humanidade”, e por fim a noção de
“universalidade”.

15
: A universalidade dos direitos fundamentais é a ideia de que todo homem
nasce igual, independentemente de sua posição social ou descendência, a aplicação
do conceito de evolução, as diferentes culturas entre mais primitivas (comumente
associadas a etnias africanas e nativas americanas) e mais civilizadas (a Europa).
Esse “homem universal”, eurocêntrico, aparece nos textos do Iluminismo –
filho legítimo dessas revoluções culturais da Idade Moderna e na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, documento que marca o triunfo da Revolução
Francesa de 1789.
Também não é um acaso que justamente no século XVIII a expressão
“natureza humana” tenha se tornado corriqueira no vocabulário científico e filosófico
ocidental, pensadores como David Hume (1711- 1776), o alemão Immanuel Kant (1724-
1804), e o francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) utilizaram de tal expressão em
seus trabalhos.
[Com isso, o que se queria dizer era tanto que o homem é dotado de
características e modos de pensamento universais, independentemente de sua
bagagem cultural – isto é, que ele é dotado de uma essência, uma “natureza” –
quanto que as leis que regem o funcionamento das Sociedades poderiam ser
reveladas pela razão

Jean-Jacques Rousseau, Immanuel


Kant e David Hume: filósofos que,
durante o período moderno, usaram
e desenvolveram a ideia de “natureza
humana”. A Antropologia ganha o
status de Disciplina acadêmica
justamente no século XIX, pois esteve16
comprometida desde os seus
primórdios com esse tipo de
justamente no século XIX, pois esteve comprometida desde os seus primórdios
com esse tipo de abordagem universalista e, em maior ou menor grau, evolucionista.
Daí que as primeiras expedições propriamente científicas à África e à Ásia (Alvos
do colonialismo europeu na década de 1860), tenham sido animadas por ideias
profundamente eurocêntricas – como por exemplo, “civilização” e, acima de tudo,
por conceitos e juízos de valor tipicamente ocidentais, muito pouco sobre a forma
como as próprias sociedades estudadas enxergavam suas culturas. Com essa
perspectiva universalista do século XIX começou a perder força.

A corrente de pensamento do Relativismo cultural, surgiu no início do século


XX, Seu princípio básico é a ideia de que cada cultura constitui um todo singular de
traços comportamentais, simbolismos, linguagens etc. dotados de um valor
unicamente posicional, Isso quer dizer que qualquer prática cultural só adquire
sentido pleno quando encaixada em seu contexto original. Esse molde que custou
também ao Estruturalismo, corrente que influenciou o trabalho de Claude Lévi-
Strauss.
Na Unidade 2, vimos o funcionalismo e estruturalismo e como tais movimentos
penaram para se livrar de seu conteúdo evolucionista. Autores como Malinowski
ainda estavam presos aos pensamentos universalistas, aquele que procura “leis
gerais” aplicáveis a todas as culturas. Para de fato entendermos o relativismo,
citaremos o universalismo, pensamento que antecedeu o universalismo;
A Antropologia universalista se concentra em demonstrar que as diferenças
entre as culturas são aparentes, pois escondem modos de funcionamento muito
parecidos em essência, característicos de tudo aquilo que é humano. Por exemplo:
cada povo tem sua religião, mas é comum a toda Sociedade humana criar formas
de se relacionar com o transcendental e o sagrado, cada povo sepulta seus mortos
de uma maneira, mas é comum a todo grupo humano criar rituais funerários, e
assim por diante.

17
Já a hipótese relativista insiste na impossibilidade das comparações e analogias
entre diferentes culturas. Usando o exemplo acima, um relativista afirmaria que,
embora todo povo tenha, de fato, uma religião, somente um indivíduo inserido numa
certa cultura poderá entender plenamente os significados de seus ritos sagrados,
inapreensíveis para o olhar externo. Ou seja, para cada Sociedade, a morte e seus
rituais ocorrem de maneira diversa O relativismo cultural ganhou força no início do
século passado, decorrente aos problemas incitados da época.
E com a crescente profissionalização da área, a principal
preocupação dos estudiosos passou a ser, por um lado,
encontrar conceitos amplos o suficiente para abarcar todas
as culturas conhecidas e, por outro, compreender e nomear
práticas de diferentes povos de maneira adequada, precisa
com categorias que fossem mais do que meras
“aproximações”. Figura 1-Fotografia de Franz Boas

O principal nome dessa linhagem teórica é o antropólogo alemão Franz Boas


(1858-1942), hoje considerado um dos “pais” da moderna Antropologia. Foi pioneiro
em defender que o pesquisador não pode ignorar a coerência interna de uma
cultura, mudando para sempre o campo que hoje chamamos de Antropologia
Cultural.
Em seus escritos, o Relativismo não é somente uma postura filosófica, mas
também uma questão prática, de Metodologia do Trabalho Científico. Boas
acreditava que o estudioso munido desse princípio teria finalmente a ferramenta
necessária para compreender corretamente os universos simbólicos de outros
povos, buscando uma outra alternativa ao Eurocentrismo e ao Etnocentrismo.
A experiencia de Boas em trabalhos de campo, como o realizado a respeito
do povo inuit (indígenas esquimós), que habita a Ilha de Baffin, extremo norte do
Canadá. O antropólogo passou meses vivendo da mesma forma que os nativos para
tentar reter o máximo possível das suas práticas e, assim, entender as soluções
encontradas por eles para se adaptarem ao clima hostil do Ártico.

18
Ele foi um dos principais responsáveis pela definição da ideia de
“Etnocentrismo” e, em segundo lugar, porque forjou um conceito inovador de
cultura, baseado na relação entre indivíduo e sociedade. Ele retirou de cena a crença
nos determinantes biológicos da cultura, algo extremamente ousado num tempo
em que o Darwinismo social era plenamente aceito como explicação científica para
o “atraso” de certas Sociedades.
O autor também afirma e em seu trabalho que a singularidade de cada cultura
se deve ao fato de que elas surgem e se desenvolvem em momentos únicos e
específicos, e diz que o trabalho do antropólogo é investigar o passado de uma
prática cultural para encontrar suas raízes e causas.

Com o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), revelando os crimes


do nazismo, o tema dos Direitos Humanos passou a ter importância inédita para o
jogo político internacional. Isso levaria a recém-criada Organização das Nações Unidas
a assinar, em 1948, sua Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O texto até hoje serve de referência para definir quais são os direitos
fundamentais do homem e quais as diretrizes básicas para defendê-los, além de tê-
los alçado à condição de patrimônio mundial.

Figura 2-Pessoas Presas em campos de extermínio Figura 3-Imagem do Genocida Hitler e os corpos de pessoas
vítimas do holocausto

Seis décadas depois da Declaração, a garantia dos Direitos Humanos já se


tornou valor inquestionável, mas sua aplicação prática suscita alguns problemas,

19
geralmente, relacionados a uma questão que ronda o tema desde que ele ganhou
seus primeiros teóricos e defensores, ainda na Idade Moderna: como falar em
direitos universais abstratos, atemporais e aplicáveis a qualquer ser humano se eles
sempre existirão em uma realidade concreta, historicamente determinada e
marcada pelas diferenças entre as várias culturas? E como conciliar a ideia
universalista de Direitos Humanos com o respeito à diversidade?
O “Relativismo Moral”, é a crença de que cada cultura tem seu sistema próprio
de valores e que ele não pode, portanto, ser avaliado nos termos de uma moralidade
alheia – geralmente ocidental. Uma defesa radical do relativismo moral gera questões
problemáticas do ponto de vista dos Direitos Humanos, como, por exemplo: várias
sociedades consideram aceitável o uso de castigos físicos violentos como punição
para crimes, a mutilação genital, o assassinato de crianças com algum tipo de má-
formação física etc. De um ponto de vista estritamente relativista, todas essas ações
são moralmente toleráveis, pois se dão em um contexto cultural que as considera
normais.
É preciso tomar cuidado para não confundir o Relativismo Moral com o
Relativismo Cultural. Esse último refere-se a uma postura teórico-metodológica que
ele cometa o erro de observar o mundo a partir de seu próprio repertório cultural,
como se uma lente distorcesse suas conclusões a respeito de determinado povo,
o Relativismo Moral extremo e somente a faceta mais chamativa dos problemas
éticos gerados pela incorporação da diversidade cultural ao conjunto dos Direitos
Humanos.
No contexto atual, a nossa Sociedade, alguns dos Direitos Fundamentais podem
entrar em rota de colisão com costumes e estruturas de pensamento
profundamente arraigadas. Pensemos no exemplo da garantia de igualdade às
mulheres. Poderíamos dizer que uma comunidade muçulmana guiada pela sharia
(Lei Islâmica, inspirada nos ensinamentos do Alcorão) é contrária a esse que é um
dos Direitos Humanos reconhecidos pela ONU.

20
Figura 5-Mulher Mulçumana sendo castigada Figura 4- Charge que critica a sharia

Agora lembra lá no começo do resumo, quando foi questionado “como


efetivar os Direitos Humanos, universais por definição, sem agredir as práticas e as
particulares das diferentes culturas, muitas vezes frontalmente contrárias às noções
humanistas típicas do Ocidente?”, e que ao longo do texto essa pergunta seria
respondia parcialmente, pois então, promessa é dívida e o resto da resposta está
aqui;
Nos dias atuais, a maior parte das soluções encontradas pelas Ciências Humanas
para o conflito entre diversidade e Direitos Humanos gira em torno da ideia de que
as culturas não são sistemas fechados, autossuficientes e alheios ao mundo que a
cerca.

A presença dos europeus nesses locais fez com que a tradição cultural do
Velho Mundo entrasse em contato direto com a dos povos nativos, promovendo,
entre elas, o diálogo, a troca de saberes, experiências e costumes.
Assim, surgiram vários casos de Sociedades que, embora mantenham traços
da sua cultura originária, incorporaram elementos do legado ocidental trazido pelos
colonizadores. Para sintetizar e resolver o tema da questão, junto com o parágrafo
acima citado, trago a frase do pensador Willian Miranda; “O saber não ocupa espaço,
e sim o vazio de nada saber” e do pensador Valter Bittencourt Jr; “O conhecimento
quebra barreiras do preconceito e abre porta para o abraço”

21
Ao começo da aula o Professor traz o questionamento que se entendemos
o conteúdo dado, conseguiremos respondê-la, sendo ele; “Como relativizar práticas
culturais que diferem tanto das nossas? Qual o limite dessa relativização?”
A resposta para a questão que o professor propôs, e existe várias, é; “as
ações afirmativas se definem como políticas públicas (e privadas) voltadas à
concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos
efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de
compleição física.”

22
Me. Pedro H Galdino. 4

Aula puramente técnica para indicar os livros que baseiam a antropologia.

• Marcel Mauss • Alfred Reginald Radcliffe-Brown


• Edward Evan Evans-Pritchard • Bronislaw Kasper Malinowski
Como o título do tema da aula é autoexplicativo, falaremos de alguns autores
dentre eles;

Marcel Mauss nasceu em Epinal, França, em 1872, no seio


de uma família judaica. Era sobrinho de Émile Durkheim (1858-
1917), que o influenciou significativamente em suas escolhas
acadêmicas futuras. Quando jovem, decide estudar Filosofia,
especializando-se no estudo das religiões “primitivas”, na
Universidade de Bordeaux. Concluído o Curso, Mauss vai para
Paris trabalhar com Durkheim em sua revista, Anné Socio Figura 6-fotografia de Marcel
logique. Mauss

Na “Cidade Luz”, Mauss é nomeado professor de História das Religiões, assunto


no qual centrou suas pesquisas e estudos na École Pratique de Hautes Éstudes,
ganhando, pouco tempo depois, notoriedade profissional. Mauss também foi redator
do jornal Humanité, fundado por Jean Léon Jauré1, amigo com quem dividia ideias
socialistas (COSTILHA, 2011). O jornal já foi propriedade do Partido Socialista francês.
Ele é publicado até hoje, porém sem vínculos partidários.
23
É no período entre guerras que Marcel Mauss escreve suas
principais obras, como, por exemplo, “Ensaio sobre a Dádiva” -
1925. O estudo estabelecido na obra torna-se conhecido por seu
caráter etnográfico, antropológico e sociológico, em que o papel
das trocas (objetos) entre os grupos figura como base para
suas relações sociais na composição do que chamamos de
Economia social (doador-receptor, lógica do dom e contra dom
Figura 7 Capa do livro Ensaios
sobre a Dadiva
etc.).
Seu empenho profissional e estudos levam Mauss a se casar
tardiamente, aos 62 anos. O fim de sua vida é dedicado quase que integralmente à
sua família, até sua morte em Paris, de causas desconhecidas, em fevereiro de 1950.
Quando falamos de seu legado, Mauss seguiu os passos de Durkheim, no que tange
aos conceitos sobre Sociologia e . Porém, ele se distanciava de seu tio
em alguns pontos e propunha uma reformulação nas teorias durkheimianas
• Fato Social: Para Durkheim, social é todo o fato que é geral, que se repete
para a maioria dos indivíduos. E abrangendo todos os setores da sociedade.
Partindo das três características dos fatos sociais: coerção (fatos psicológicos
ou orgânicos que são impostos aos indivíduos), exterioridade (fatos sociais que
independem da vontade do indivíduo para existir) e generalidade (os fatos sociais
não estão isolados dentro de um contexto histórico), Mauss propõe uma
reformulação desses conceitos.
Essa reformulação de conceitos gera questões que o direcionam na construção
de suas teorias: a questão da metodologia para a Sociologia e de sua relação com
as demais Ciências, o problema de organização social e o problema de coesão
social, entre outros.
Mauss não enxerga o fato social como “coisa” -teoria sugerida por Durkheim, em
que o fenômeno é algo externo ao pesquisador, e passível de observação objetiva
–, ele propunha um olhar mais abrangente, em que todos os aspectos do contexto
e da realidade (psicológico, físico e social) do objeto de estudo seriam avaliados e
estudados, sendo seus resultados compartilhados entre esses diferentes aspectos
24
que compunham o fato social. Este, segundo Laplantine, é a concepção da
(LAPLANTINE, 2003, p. 90).
Diferentemente de Durkheim, que propôs a Teoria da Consciência Coletiva, em
que os fatos sociais não possuem relação com as atitudes e pensamentos dos
indivíduos de uma determinada sociedade,

.
Para compreender uma Sociedade do ponto de vista do conceito de fenômeno
social total, é necessário estudá-lo individualmente, mas também dentro de seu
contexto real.
É importante frisar que Mauss procura analisar, de forma integrada, os aspectos
sociais com os aspectos fisiológicos e psicológicos. O intuito é ampliar os estudos de
forma a contemplar todas as dimensões reais do objeto de estudo. Laplantine
esclarece em seu livro:
Com um foco voltado
“[.. ]ora, o que caracteriza o modo de conhecimento
para o indivíduo e sua
próprio das ciências do homem é que o observador-
relação com a Sociedade em
sujeito, para compreender seu objeto, esforça- -se
que está inserido, Mauss
para viver nele mesmo a experiência deste, o que
só é possível porque esse objeto é, tanto quanto propunha mais autonomia
ele, sujeito. (LAPLANTINE, 2003, p. 91)” para a Antropologia e um
olhar mais abrangente a tudo
que cerca o objeto de estudo, tornando-se um dos fundadores da autonomia social
Ao mesmo tempo em que tenta elevar o status da Antropologia, ele também
exige uma pluridisciplinaridade no estudo do objeto de pesquisa. Mauss trabalha,
incansavelmente, para transformar a Antropologia em uma Ciência autônoma.
Segundo ele, “o lugar da Sociologia está na Antropologia e não no inverso”
(LAPLANTINE, 2003, p. 90). Analisando os conceitos estabelecidos por Mauss, ele
não desconecta suas novas ideias das Teorias de função e consenso social,

25
estabelecidas por Durkheim, não obstante defenda uma nova morfologia social – a
comparação de sociedades como um dos objetivos da Sociologia.
As sociedades, devido às diversas variáveis, são incomparáveis (para Mauss),
sendo fundamental um estudo empírico local.
• Função social: É o conceito que procura justificar a existência de um
determinado comportamento por sua contribuição na manutenção do todo
no qual se insere. Ex; Função social do ventilador é fazer vento
• Consenso social: O estado em que se encontra uma sociedade
caracterizada por uma forte coesão entre seus membros, fazendo
prevalecer os interesses da coletividade acima dos interesses e das
expectativas individuais (COSTA, 2010, p. 42). Ex; é Consenso social que
todos joguem
O foco dos estudos de Mauss passou a ser o simbolismo “não só no plano das
transações, como comunicação, onde era eficiente, mas a complexidade da
eficiência destes símbolos” (COSTILHA, 2011). O símbolo, à medida que recebe um
segundo significado ou representa um costume, transforma-se em um caminho
para se alcançar a “coerência interna de uma sociedade, ou para a natureza
sistemática e holística de uma atividade” (COSTILHA, 2011).

Essa é a grande contribuição de seu trabalho para a Antropologia e a


Sociologia, colocando-o entre os maiores pensadores das Ciências Humanas.
Conforme abordamos, Mauss produziu vários artigos e publicou algumas obras de
significativa importância, tanto para a Antropologia como para a sociologia., sendo
eles;

26
• Esboço de uma teoria geral da • Sobre a História das religiões
magia (1904) (1909, com Henri Hubert)
• Relações reais e práticas entre • Ensaio sobre a dádiva: forma e
psicologia e a sociologia (1924) razão da troca nas sociedades
arcaicas (1925).

Edward nasceu em Crowborough, Inglaterra, em 1902.


Estudou História no Exeter College e continuou seus estudos
na London School of Economics, onde conheceu Malinowski
e Seligman, que o influenciaram a seguir o caminho da
etnografia. Evans-Pritchard direciona seus estudos etnográficos
para a África, onde conhece o povo Ananda, no Sudão egípcio.
Na década de 1930, muda o foco de seus trabalhos – que até então tinha um
viés social, inspirado em Malinowski, adquirindo um caráter mais cultural, inspirado
pelos estudos de Radcliffe-Brown. Nesse período, conhece os Nuer, etnia resi dente
ao sul do Sudão.
Nos anos 1940, Evans-Pritchar escreve suas principais
obras, Os Nuer e o African Political System. A importância
das obras e sua relevância para a compreensão de sistemas
políticos para a apreensão do conceito de Estado-nação, a
organização e o controle social são indiscutíveis, justamente
pelas observações realizadas em populações coloniais
consideradas primitivas e menos complexas que as
europeias (STEIL; TONIOL, 2014).
Figura 8-Evans em sua expedição ao
lado do povo Anzande
Com a notoriedade adquirida em seus trabalhos, foi
convidado a lecionar nos Estados Unidos nas Universidades de Chicago e Stanford.
27
Voltou para a Inglaterra na década de 1970, aposentando-se e, em seguida, pelo
reconhecimento de sua obra, condecorado Sir Evans-Pritchard, em 1971. Faleceu em
Oxford, em setembro de 1973. Para a Antropologia, o grande trabalho de Evans-
Pritchard foi sua contribuição para as práticas e os métodos de observação e de
pesquisas de campo.
Evans-Pritchard entende que o método etnográfico é composto por três fases.
Em primeiro lugar, o antropólogo procura compreender os principais aspectos
culturais da Sociedade observada e “traduzi-la para sua própria cultura”. Logo após
essa compreensão, é importante decodificar as estruturas sociais e culturais.
Segundo Evans-Pritchard, , é uma estrutura
abstrata que deriva da análise do comportamento dos membros da Sociedade
pesquisada. Relacionando essas estruturas abstratas entre si, podem-se conhecer as
essências culturais que formam essa sociedade; assim como propôs Malinowski
(EVANS-PRITCHARD, 1962, p. 23, apud: STEIL; TONIOL, 2014).

Ao final dessas reflexões, a terceira fase é a comparação “implícita ou explícita


das estruturas sociais de diferentes sociedades” (STEIL; TONIOL, 2014).
Além das contribuições para o método etnográfico, Evans-Pritchard avança na
questão do entendimento do “outro”. Ele tem a preocupação de demonstrar que
“primitivo” não é um conceito aceito quando se trata de civilizações diferentes das
europeias.

28
Em seus trabalhos, principalmente African Political System, Evans-Pritchard
evidencia a complexidade das Sociedades africanas e a dificuldade de traduzir
diferentes formas de lidar com a cultura e o social para o ponto de vista europeu
(STEIL; TONIOL, 2014).
Assim como em Radcliffe-Brown, marca-se o início de combate a estereótipos
e a Preconceitos, responsáveis por abismos sociais e culturais entre as sociedades.
Essa é a grande contribuição de seu trabalho para a Antropologia e a Sociologia,
colocando-o entre os maiores pensadores das Ciências Humanas. Conforme
abordamos, Evans produziu vários artigos e publicou algumas obras de significativa
importância, tanto para a Antropologia como para a sociologia., sendo eles;
• 1937 - Witchcraft, Oracles and Magic Among the Azande. Oxford University
Press. 1976:
• 1940 - The Nuer: A Description of the Modes of Livelihood and Political
Institutions of a Nilotic People. Oxford: Clarendon Press.
• 1940 - "The Nuer of the Southern Sudan". en African Political Systems. Meyer
Fortes y E.E. Evans-Prtitchard, eds., Londres: Oxford University Press.,
• 1987 - "Kinship and the Local Community among the Nuer". in African Systems
of Kinship and Marriage. A.R. Radcliffe-Brown y Daryll Forde, Eds. Londres: KPI
Ltd.
• 1990 - Ensayos de Antropología Social. Siglo XXI. Madrid.

Radcliffe-Brown nasceu em janeiro de 1881, em Birmingham, em uma família da


classe operária. Iniciou seus estudos em Ciências Médicas na Universidade de
Birmingham, porém, mais tarde, ganhou uma bolsa para estudar no Trinity College,
onde estudou Economia e Psicologia Experimental.
Aconselhado por professores, migrou para a área da etnografia (que,
posteriormente, se tornaria a Antropologia) na Universidade de Cambridge. Após

29
sua formação, seus trabalhos e sua dedicação à adaptação dos conceitos de
Durkheim às novas propostas de pesquisas sociais o levaram para a docência
Não se limitou à sala de aula, atuando também em
campo. Sua primeira pesquisa de campo foi nas Ilhas
Andamam, no Golfo de Bengala, próximo à Mianmar.
Radcliffe lecionou e promoveu pesquisas em diversas
Universidades importantes, inclusive na Universidade de São
Paulo, como professor visitante. Seu legado para a
Antropologia britânica é imensurável. Radcliffe-Brown
morre em Londres, em outubro de 1955.
Em seus estudos, Radcliffe baseia parte de suas ideias em Durkheim, de quem
adaptou os métodos de estudo de civilizações primitivas, também acreditava que
essas civilizações possuíam Instituições sociais integradas com a finalidade de
satisfazer as necessidades dos membros do grupo no qual elas se inseriam.
Contudo, Radcliffe-Brown tinha como objeto de estudo as Estruturas sociais e
não as Instituições. Assim, dentro de um novo viés que se descortinava para a
Antropologia – o funcionalismo – Radcliffe-Brown criava um funcionalismo-estrutural.

Seguindo métodos análogos aos de Durkheim, a comparação de civilizações


inicia um combate, modesto evidentemente, a preconceitos e a estereótipos com
os quais o senso comum europeu analisava as culturas diferentes das deles e que,
por intermédio dos antropólogos, estavam chegando ao velho continente.
De acordo com Costa: [.. ] foram eles, Radcliffe e Malinowski, que
desenvolveram um método científico eficiente-e ao mesmo tempo responsável-de
30
estudo das diferentes culturas, respeitando suas especificidades (grifos nossos)
(COSTA, 2010, p. 196).
Radcliffe-Browm considera a cultura um sistema adaptativo, utilizado pelas
Sociedades. Em seus trabalhos, ele ressalta a importância das funções e das
estruturas sociais no processo de adaptação e equilíbrio da sociedade (MARCONI;
PRESOTTO, 2014, p. 257). É importante frisar que;
A principal Teoria de Sociedade, desenvolvida por Radcliffe-Brown, baseia-se
na compreensão do significado que uma instituição ou estrutura possui dentro de
uma sociedade, que pode estar ligado ou não à sua função social. Esse significado,
para Radcliffe, é a razão da manutenção da estrutura e da integração social, sendo
crucial para a sobrevivência dos grupos sociais (MARCONI; PRESOTTO, 2014, p.
258).
Marconi e Presotto ressaltam, nesse sentido: sua abordagem pode ser
considerada estrutura-funcional, isto é, uma instituição social tem a função de
contribuir para a manutenção e continuidade da estrutura da sociedade (MARCONI;
PRESOTTO, 2014, p. 258). Analisando esses postulados de Radcliffe-Brown,
chegamos à conclusão de que o principal foco de seus estudos foi o aspecto social
de uma civilização, e não o aspecto cultural.
As ideias de Radcliffe ajudaram a construir o Funcionalismo em Antropologia,
que valoriza a pesquisa no campo, aproximando o observador das Sociedades,
sendo possível identificar valores, normas, regras, dentro de um sistema lógico em
relação à cultura e aos sistemas que eles desenvolvem.
Ele também influenciou e escreveu sobre o método citado na aula 2, o
, através de seus estudos sobre parentalidade. Além de ter
ajudado no método, ele também trouxe muito em discussão em seus textos a ideia
de estrutura social e papel social.
Essa é a grande contribuição de seu trabalho para a Antropologia e a
Sociologia, colocando-o entre os maiores pensadores das Ciências Humanas.
Conforme abordamos, Redcliff produziu vários artigos e publicou algumas obras de

31
significativa importância, tanto para a Antropologia como para a sociologia., sendo
eles;
• Sistemas políticos africanos de • Estrutura e função na
parentesco e casamento (1950) sociedade primitiva (1952).

Malinowski nasceu em abril de 1884, na cidade de Cracóvia, Polônia. A


Antropologia entra em sua vida por meio de um livro. O ramo dourado, de James
Frazer2, obra que o influenciou até os estudos universitários
Vale notar que Frazer tinha o pensamento
evolucionista, e um tempo depois, Malinowski iria criticar
diretamente essa linha de pensamento, o que é irônico, pois
seu primeiro interesse na área depois de se formar com
excelência em física seria essa linha de pensamento.
Doutorou-se em Filosofia, Física e Matemática, em 1908,
recebendo a maior honraria do Império Austro-húngaro à época. A partir de 1913,
Malinowski começa a escrever e a se aventurar, profundamente, na Antropologia
como Ciência empírica. No ano seguinte, por meio de seu amigo Seligman,
consegue um financiamento para realizar sua primeira expedição etnográfica para
o Oceano Pacífico. Ele passou alguns meses na Ilha de Tulon entre os Mailu, etnia
local (KUPER, 1996). Entre 1914 e 1918, desenvolveu seu grande estudo de campo
entre os habitantes das Ilhas Trobriand, próximas à Nova Guiné. É bom frisar que
ele fez um trabalho longo para a época pois ele como polonês e inimigo da
Inglaterra, pais que o patrocinava nas expedições, fez com que ele não conseguisse
voltar para o continente europeu.
Na década seguinte, quando a guerra acabou, fixa residência em Londres, onde
leciona na London School of Economics (LSE), sendo, posteriormente, reconhecido
como professor de Antropologia Social pela Universidade de Londres e, em 1924,

32
torna-se reitor da LSE, permanecendo no cargo até 1938, quando vai para os
Estados Unidos. Em território americano, leciona na famosa Universidade de Yale e
também realiza algumas pesquisas de campo no México.
Bronislaw Kasper Malinowski morre aos 58 anos, em maio de 1942, na cidade
americana de Connecticut.
Malinowski tem como tema central de seus estudos a cultura. Partindo desse
ponto, estabelece alguns conceitos sobre a natureza humana.
Segundo Malinowski, os homens, sendo animais, trabalham a cultura de forma
que ela supra suas necessidades básicas. Assim, também desenvolve a TEORIA das
necessidades humanas, que considera primordiais: necessidades biológicas,
instrumentais (organização econômica, educacional etc.) e integrativas (magia,
religião, arte etc.) (MARCONI; PRESOTTO, 2014, p. 257).

Para adaptar seus novos conceitos aos conceitos de funcionalismo e de função


social, Malinowski desenvolve o conceito metodológico de observação participante,
que revolucionou os estudos antropológicos ao substituir uma investigação
laboratorial, ou seja, (dentro de um Laboratório ou Escritório) afastada de seu objeto
de pesquisa, por uma investigação local, em que esteja inserido, como partícipe, no
contexto social de seu objeto, conceito também sugerido por Marcel Mauss.
De acordo com o próprio Malinowski – após primeiramente observar os
detalhes da rotina diária, numa segunda etapa, selecionam-se as principais
características e elementos para a compreensão daquela sociedade e, por fim,
sintetiza-se o panorama das grandes instituições sociais do grupo pesquisado – o
conceito essencial do funcionalismo é, justamente, a organização da sociedade em

33
grupos cuja compreensão estabelece um código desenvolvendo valores, normas e
uma infraestrutura material e física (COSTA, 2010, p. 196).
Malinowski foi o primeiro antropólogo a organizar e sintetizar uma visão
integrada e totalizante do modo de vida não europeu, acompanhando a rotina dos
nativos da Ilha de Trobriand (COSTA, 2010, p. 195) e, nesse sentido, rompendo com
a tradição evolucionista cujos ditames estabeleciam o Eurocentrismo como ponto
cardeal de referência, perspectiva e análise nos estudos sobre os outros.
O conceito dele de observar o diferente e não o primitivo (como acreditavam
os antropólogos vitorianos) era um conceito novo e revolucionário para a
Antropologia. Assim, não é absurdo creditar a Malinowski a fundação da
Antropologia Moderna.
Porém, ao conceber o funcionalismo, Malinowski não o faz de forma a
contemplar os problemas inerentes que outras Sociedades, maiores e mais
complexas do que os nativos Trobrianos, poderiam ter. Suas principais obras foram:
• Argonautas do Pacífico Ocidental • Crime e costume na sociedade
(1922) selvagem (1926)

• A vida sexual dos selvagens (1929). • Sexo e repressão na sociedade


selvagem (1927)

34
Me. Pedro H Galdino. 5

Aula puramente técnica para indicar os livros que baseiam a antropologia.

Como o título do tema da aula é autoexplicativo, falaremos de alguns autores


dentre eles;
• Edward Burnett Tylor • Margaret Mead
• Franz Uri Boas • Lévi-Strauss:
• Clifford Geertz

Edward Tylor (1832-1917) foi um antropólogo britânico considerado


representante do Evolucionismo social, cuja teoria se inspira nos postulados de
Darwin. A sociedade evoluiria, gradualmente, de um estado primitivo para um estado
mais avançado e complexo.
Tylor formula um conceito de cultura como conjunto
composto de conhecimentos diversos adquiridos pelo homem
em Sociedade. Desse modo, o homem evoluiria de acordo com
a Sociedade e vice-versa. Assim ele explicava por que algumas
Sociedades eram mais avançadas e outras mais primitivas.
Consequentemente, os homens, nessas Sociedades,
também seriam mais ou menos desenvolvidos, vez que eram produtos, mas
também produtores, da sociedade em que estavam inseridos.

35
A cultura para Tylor era uma união dos conceitos germânico Kultur (aspectos
espirituais de uma comunidade) e francês Civilization (realizações materiais de um
povo).
Para ele, o vocábulo inglês Culture era definido como algo que “tomado em
seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871, p. 25).
Ele fórmula também que alguns elementos aparecem em culturas tanto do
ocidente e tanto do oriente, e elas vem com nomenclaturas diferentes, mas de
maneira mais abrangente é a mesma coisa, sendo elas a ideia de morte, sonho e
parentesco.
Suas obras são constituídas por;
• Primitive Culture: • Philosophy and Religion, Art and
Researches Into the Custom (2 vol.),1871, Sir Edward
Development of Burnett Tylor
Mythology
• 1861- Anahuac; or Mexico • 1881, Anthropology, an
and the Mexicans Ancient Introduction to the Study of
and Modern Man and Civilization
• Primitive Culture: • 1865, Researches into the Early
Research Into the History of Mankind and the
Development of Man and Development of Civilization
Civilization

Nascido numa família judaica, em julho de 1858, Franz Uri Boas


(1858-1942) herdou de seus pais princípios políticos e valores
morais que o acompanhariam no campo da pesquisa antropológica.
Inicialmente, concluiu o Doutorado em Física, em 1881. Alguns anos
mais tarde, ele emigrou para os Estados Unidos e lá se formou
em Antropologia.
36
(Ou seja, se formou em uma área e se especializou em outra, enfim o indeciso.)
Na década posterior, passou a trabalhar na Área da Etnologia e criou o primeiro
Curso de Doutorado em Antropologia das Américas na Universidade Columbia. Boas
faleceu na cidade de Nova Iorque, aos 84 anos, em 1942.
Devido ao caminho particular (processo histórico peculiar) percorrido por cada
Sociedade, a comparação de culturas não fazia parte de seus métodos, entendendo
que cada uma existia independentemente de características biológicas e físicas.

, Boas trouxe o método indutivo


para a pesquisa de campo – estudo dos detalhes para, por meio do acúmulo de
dados, elaborar explicações mais gerais (COSTA, 2010, p. 198).
Essas diferentes variáveis e caminhos particulares de cada Sociedade
conduzem Franz Boas ao Relativismo Cultural, ou seja, a olhar para a Sociedade
pesquisada sem nenhum tipo de pré-conceito. O intuito aqui é não carregar para a
análise nenhum julgamento de valor ou princípios do próprio antropólogo, para
distorcer os resultados das pesquisas.

Para conseguir colocar essas análises em prática, Boas trouxe o método


indutivo para a pesquisa de campo – estudo dos detalhes para, por meio do acúmulo
de dados, elaborar explicações mais gerais (COSTA, 2010, p. 198).
Para Boas, todo objeto é digno de ser investigado – para tentarmos
compreender a cultura – afinal são esses símbolos (objetos) que carregam o
significado específico que uma Sociedade lhes atribui, tendo em vista suas tradições,
valores e costumes.
37
. Dando uma ênfase que na aula, o professor
disse que o Boas por cinta da sua trajetória acadêmica tentava mesclar o natural e
o cultural.
Ele tentou sintetizar tal teoria no seu trabalho de campo estudando os inutuis,
onde a pare biológica dos inutis conseguiam identificar 18 tons de branco no gelo, e
como essa peculiaridade biológica adquirida os transformava na cultura que em si
eles são.
Ele acreditava que a tradução de um determinado objeto de estudo pudesse
retirar dele algum elemento fundamental para a sua compreensão ou, até, mudar
o sentido de seu significado original. Laplantine faz questão de ressaltar que “Boas
permanece sendo o mestre incontestado da Antropologia americana na primeira
metade do século XX” (LAPLANTINE, 2003, p. 79)
Franz Boas produziu muitos textos, os mais relevantes de sua carreira:
• The mind of primative man (1911) • Primative art (1927)
• General Anthropology (1938) • Race, language and culture (1940).
Boas também é autor da frase quase que anedótica; “Os olhos que enxergam,
é os olhos da cultura”, nessa frase, conseguimos identificar a teoria de mesclagem
entre o natural e o cultural, sendo que os olhos que enxergam a parte natural e a
lente, seria o cultural, com isso a submersão da experiencia etnográfica na sociedade
em questão. Boas também o fundador da escola culturalista, que abrange a
antropologia atual norte americana.

Margaret Mead nasceu na Philadelphia, em 1901. Graduou-se na Barnard College,


onde conheceu Franz Boas, que a influenciou a se doutorar em
Antropologia, na Columbia University. Pouco tempo depois, tornou-
se curadora do American Museum of Natural History, quando
publicou seu best-seller Coming of Age in Samoa. Mead é

38
considerada uma antropologista cultural, pois se dedicou ao estudo de diversas
culturas.
Assim como etnólogos contemporâneos a ela, como Malinowski, Radcliffe-
Brown e Boas, entre outros, ela realizou mais de 24 expedições de pesquisa de
campo em Samoa e Nova Guiné, para conhecer suas civilizações. Como resultado
dessas pesquisas, Mead publicou várias obras importantes para a Antropologia,
como Masculino e feminino (1949) e Growth and Culture (1951).
A notoriedade de Mead veio pelo tratamento que dava às questões delicadas
à Antropologia, como sexo, gênero e cultura. Casou-se três vezes e teve uma filha
com seu último marido, o antropólogo Gregory Bateson. Mead morreu em
novembro de 1978, na cidade de Nova Iorque.
Margaret Mead direcionou seus estudos etnológicos para a cultura, tornando-
se um ícone para a chamada Antropologia Cultural, modalidade de Antropologia se
preocupa com aspectos “distintivos das condutas dos seres humanos pertencendo
a uma mesma cultura” (LAPLANTINE, 2003, p. 121).
A ideia de Mead era estudar o social, porém sob a ótica
do comportamento adolescente e da cultura. O objetivo era
verificar qual o nível de características similares as dos
adolescentes americanos e dos nativos da Samoa
(LAPLANTINE, 2003, p. 127): “Os rituais amorosos são
profundamente diferentes, não apenas de uma civilização
para a outra, mas dentro de uma mesma civilização”. Dessa
forma, Laplantine define as questões trabalhadas por Mead
Figura 9- Margaret Mead em sua
expedição na Nova Guine em suas pesquisas no Pacífico (Ibidem, p. 125).
Laplantine exemplifica essas diferenças relatadas por Mead com a questão do
significado do beijo para americanos e inglesas. Americanos viam no beijo apenas
uma forma de romance passageiro, ao ponto que as inglesas entendiam como algo
mais profundo: a última barreira antes do ato sexual. Com isso, durante a Segunda
Guerra, surgiram conflitos nos relacionamentos amorosos devido à falta de
compreensão de um comportamento (LAPLANTINE, 2003, p. 128).
39
Mead utilizava o mesmo método de observação participante de Malinowski e
Radcliffe Brown, expondo diversas formas contrastadas da personalidade nos povos
das Sociedades consideradas tradicionais, e também utilizava o conceito de
relativismo cultural (expressão criada por Herskovitz) para explicar tradições e
costumes, perfeitamente aceitáveis e compreensíveis em uma Sociedade e
recusados por outras.

Mead expõe a compreensão de gênero para três tribos da Nova Guiné:


Arapesh, Mundugumor e Tchambuli e ilustra bem as teorias e conceitos abordados
Na pesquisa, ela relata que o povo Arapesh é muito pacífico, tanto os homens
quanto as mulheres. Para Mead, essa descoberta já coloca a ideia em discussão
sobre a naturalidade do homem como guerreiro.
O segundo grupo, o Mundugumor, é o oposto do primeiro. Tanto homens
quanto mulheres possuem comportamento violento e temperamento bélico muito
aflorado. Em relação aos Tchambuli, o terceiro grupo, Mead identifica mais alguns
paradigmas inversos aos pregados como corretos pelas Sociedades ocidentais.
Para os Tchambuli, as mulheres possuíam atividades tipicamente masculinas,
governavam as comunidades, impunham as regras e sua obediência e trabalhavam
para sustentar a coletividade, e os homens ocupavam-se de atividades culturais,
destinavam- -se ao seu embelezamento e à arrumação grande parte do dia. A
literatura deixada por ela são;
• Masculino e feminino (1949),
• Growth and Culture (1951)
• Sexo e temperamento em três Sociedades (1935).

40
Claude Lévi-Strauss foi um Antropólogo e Filósofo Francês,
Fundador do Estruturalismo. Nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1908,
mas seu percurso acadêmico foi trilhado em Paris.
Logo que concluiu o Ensino Secundário, filiou-se à SFIO
(Seção Francesa da Internacional Trabalhadora), tornando-se,
pouco tempo depois, o coordenador de estudos socialistas. Cursou
Direito e, posteriormente, Filosofia, doutorando-se em 1948.

Entre 1934 e 1937, leciona Sociologia na Universidade de São Paulo, como


membro da missão universitária francesa no Brasil. No Brasil, segundo o próprio
Lévi-Strauss, ele se encontra com a Antropologia ao excursionar pelo território
nacional, deparando-se com índios de diversas etnias.
Ao retornar à França, assume a administração do Centro Nacional de Pesquisas
Científicas (Instituição de pesquisa francesa em diversas Áreas do conhecimento,
fundada em 1939), produzindo muito material de estudo. Assim, já em 1950, adquire
notoriedade acadêmica, sendo convidado a trabalhar e a lecionar em diversas
Instituições renomadas francesas. Aposentado, Claude Lévi-Strauss morre em Paris,
em outubro de 2009.
Claude Lévi-Strauss é considerado o fundador da corrente estruturalista, cuja
proposta busca compreender uma realidade social como sistema de partes
interligadas e interdependentes que caracterizam diferentes configurações sociais.
Devido aos diversos cenários observados pelos antropólogos em campo, o
Estruturalismo era uma alternativa eficiente de explicação dos fenômenos sociais,

41
por meio de análises qualitativas e quantitativas. Lévi-Strauss propôs pesquisar
Sociedades distintas – com características particulares na construção de sua cultura,
elementos e instituições – para solucionar o problema das necessidades universais.
Pensando em resolver o problema da fome (necessidade universal), cada Sociedade
formula sistemas estruturais distintos e particulares.
O Estruturalismo poderia facilitar o estudo da SOCIEDADE pelo antropólogo.
Contudo, ele introduziu na Antropologia os conceitos de diacronia e de sincronia de
Saussure, para melhor analisar um objeto e compreender a cultura daquela
determinada civilização.
Ele defende a visão sincrônica (estudo descritivo da Linguística), em contraste
à visão diacrônica da chamada Linguística histórica (abordagem do século XIX ao
estudo das Línguas). Ao optar pela proposta sincrônica, Saussure procurou
entender a estrutura da Linguagem como sistema de funcionamento em
determinado ponto (referencial) do tempo. Assim, o estudo de determinada
civilização se dava respeitando
esses ditames.
O objeto, podendo ser
um elemento social, uma instituição, imaterial ou material, deveria estar relacionado
ao meio onde estava inserido, parado no tempo (análise sincrônica). Em
contrapartida, quando relacionava o objeto ao seu contexto histórico, dentro de
uma linha temporal, Lévi-Strauss realizava a análise diacrônica.
Tanto Lévi-Strauss quanto outros estruturalistas não propuseram teorias ou
conceitos que explicassem fenômenos de transformação de Sociedades ou
estruturas mais simples em direção às Sociedades ou estruturas mais complexas.
É importante frisar que, Lévi-Strauss se concentra nos aspectos da vida sexual
do homem para explicar as regras por meio das quais nossa cultura era definida, ou
seja, o incesto (ou qualquer relação com pessoas da mesma família) era condenado
apenas pela nossa Sociedade, sendo normal para as outras comunidades tradicionais.

42
Lévi-Strauss escreveu várias obras de importância para as Ciências Sociais.,
algumas delas são;

• Tristes trópicos (1955) • Antropologia estrutural (1958)


• O suplício do Papai Noel (1952) • O homem nu (1971)
• De perto de longe (1988) • A história de lince (1991)
• Saudades do Brasil (1994) • Olhar, escutar, ler (1993)
• Pensamento selvagem (1962).

É também Mitológicas – Obra composta de quatro partes:


• O cru e o cozido (1964) • Do mel às cinzas (1967)
• A origem dos modos à mesa (1968) • O homem nu (1971)

Clifford Geertz nasceu em 1926, na cidade de São Francisco, foi um Filósofo,


Professor e Antropólogo Americano– Estados Unidos. Aos 17 anos, alistou-se na
Marinha americana e lutou na Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1943 e
1945.
Quando retornou do combate, adquiriu uma Bolsa de Estudos
na Antiech College of Ohio, onde inicialmente estudou Inglês – com
o intuito de ser escritor. Após o final do Curso, passou a estudar
Filosofia, formando-se em 1950. A Antropologia aparece na carreira
de Geertz nos estudos de pós-graduação na Universidade de
Harvard, onde concluiu o Doutorado, em 1956, em Relações Sociais.
Como antropólogo, realizou inúmeras pesquisas de campo na Indonésia e em
Marrocos, o que lhe proporcionou a elaboração de vários Artigos científicos. É
nesse período que Geertz pensa em uma nova metodologia de pesquisa para
melhorar a análise social e cultural pela Antropologia.
43
Para ele, as antigas técnicas de pesquisa não respondiam satisfatoriamente a
todas as questões culturais e sociais. E por causa disso cria um método meio
pendular descrever para depois analisar, e por isso ele é considerado o fundador
do pensamento interpretacionismo.
Em 1970, começou a trabalhar na Universidade de Princeton, no Instituto para
estudos avançados, até a sua morte, em 2006. Clifford Geertz morreu em outubro,
na cidade americana da Philadelphia. Por seus trabalhos e pesquisas na Antropologia,
Geertz recebeu o título de Doutor Honoris Causa de quinze faculdades e
universidades, entre elas, de Harvard, University of Chicago e Cambridge.
Se analisarmos os conceitos de cultura apresentados pelos diversos
antropólogos e suas teorias, perceberemos que, no século XX, esses conceitos
fundamentam-se em características simbólicas e abstratas. Atualmente,
pesquisadores vão além dessas características, analisando a relação entre o que
pode ser observado e o que só pode ser compreendido por meio de interpretação
linguística (COSTA, 2010, p. 207).

Assim, para compreender outra cultura, o antropólogo analisa os significados


que o social atribui às instituições, elementos e sujeitos da vida social. Esses símbolos,
como portadores dos significados (sociais e também individuais) são os principais
objetos de pesquisa da análise cultural antropológica (COSTA, 2010, p. 207).
Contudo, Geertz alerta para o fato de que esses significados podem ser
“evasivos e flutuantes”, pois esses sentidos ou sentimentos são as principais
orientações da ação do homem. Dessa forma, o antropólogo também deve
direcionar seu trabalho de campo para analisar esses sentidos e sentimentos:
“Como metodologia de pesquisa, essa antropologia interpretativa se sustenta
na hermenêutica e propõe a construção de modelos explicativos criados a partir

44
de formulações intersubjetivas, surgidas da colaboração entre o cientista
pesquisador e os grupos analisados”
• Hermenêutica: teoria ou ciência voltada à interpretação dos signos e de
seu valor simbólico.
• Intersubjetiva: que ocorre entre, que envolve consciências individuais para
dois ou mais sujeitos.
Geertz acreditava que o pesquisador deveria conhecer seus próprios valores
e padrões culturais antes de iniciar uma pesquisa social e cultural de outra civilização.
O objetivo era ter clareza do que o pesquisador é, em termos culturais, para não
interferir no objeto de estudo e em suas análises. A orientação de suas pesquisas
era a análise do discurso, do conteúdo do texto e da, como categorizou Costa,
narratividade. O intuito era construir modelos interpretativos da cultura:
“Com muito sucesso, o impacto entre seus contemporâneos, a teoria de Geertz
veio se somar às mudanças que a história e o desenvolvimento das demais
ciências traziam ao estudo da vida social e da cultura humana”
Para Geertz, a Antropologia era uma Ciência interpretativa que tinha como
foco o significado dos diversos signos que compõem uma cultura, desligando-se das
correntes antropológicas físicas e biológicas e focando as “especificidades e os
aspectos históricos do objeto de pesquisa – o homem”
Suas principais obras são;
• O desenvolvimento da economia javanesa (1956)
• Sociedades antigas e novos estados, a questão da modernidade na Ásia
e na África (1963)
• A interpretação das culturas (1973)
• Mito, símbolo e cultura (1974)
• Saber local, novos ensaios na Antropologia Interpretativa (1983)
• Obras e vidas: o antropólogo como autor (1988).
45
Edison Alencar

SauadesDoProfessorPedro- memes a parte, essa aula pelo PDF e pela


diádica do professor foi horrível, ele conseguiu transforar uma aula legal em chata
e repetitiva, ainda bem que eu fiz meu próprio resumo.

Como introdução, falaremos da religião como objeto de estudo da


antropologia, antes disso precisamos nos situar que o tema religião é sempre algo
delicado de lidar, não é à toa que ouvimos que “religião não se discute”, justamente
porque esbarramos em questões de ordem subjetiva e, portanto, de identidade.
No entanto, ao tratar esse tema como problema antropológico podemos
entender qual é o papel da religião no cotidiano dos seres humanos. Assim, partimos
em busca do entendimento dos códigos partilhados pelas pessoas em torno das
religiões. Com isso podemos dizer que a Antropologia é distinta da ideia de crítica
aos sistemas religiosos, e volta à compreensão desses sistemas, de seus conjuntos
de crenças, dos seus rituais e das ações dos indivíduos motivadas por esses
elementos.

Figura 10-Grafite em muro promovendo o respeito e a diversidade

46
Assim, a Antropologia define religião como um conjunto de práticas e
convicções que direcionam as maneiras de ver e ler o mundo de uma dada cultura
ou grupo social. O olhar antropológico abordara a religião como código que pode
vir a ser analisado e pesquisado o que interessa aos antropológicos.
É importante essa introdução de respeito para em seguida nos localizar no
contexto atual de discussão sobre teologia, pois tema religião é sempre algo
delicado de lidar, justamente porque esbarramos em questões de ordem subjetiva
e, portanto, de identidade, como falado no primeiro parágrafo.
Tal delicadeza na maioria das vezes não é contemplada pela maioria das
pessoas pois; toda religião possui a sua verdade e, no mais das vezes, elas não
coincidem entre si; a ponto de a verdade de uma ser a mentira para outra.
Sabendo disso, podemos afirmar nenhuma religião é dona da verdade, senão
daquela que lhe é própria. É bom falar eu as verdades da religião têm a
nomenclatura de “dogmas”, e ela deve ser compreendido em relação como cada
princípio de rituais constitui a composição fundamental da existência de uma religião.
. Às vezes, o caráter de verdade de uma afirmação se baseia na tradição dos
antepassados ou na palavra de um profeta ou de um livro sagrado crido como
palavra de um deus.
O sectarismo/intolerância de religiosos em
não admitir o direito de outras fés religiosas
conceberem verdades distintas das suas acaba
sendo a matriz geradora do que chamamos de
conflitos religiosos.
A consequência dessa matriz é levar a uma
Figura 11-Charge promovendo a paz pela diversidade cultural
pessoa a não admitir a verdade do outro,
normalmente distinta a sua. Levando a pessoa a tentar inibir o direito de existir de
outras crenças, e consequentemente dando frutos a uma percepção negativo
(nojo/superioridade) sobre esses credos distinto que ele enxerga como sua verdade.
E com efeito final, tudo que diverge dessa verdade é inferior e deve, portanto,
desaparecer, bem como seus portadores e difusores.
47
Qualquer mensagem que soe diferente de suas referências sobre a verdade
passadas por sua religião dominante o leva a não pesquisar outras religiões, por não
achar necessário pois apenas por soar diferente da sua, já acredita saber o
suficiente, assim a negativando. A esse fenômeno chamamos de preconceito (um
conceito prévio ao conhecimento sobre aquilo sobre o qual se emite um juízo de
valor)
(Falando de maneira bem resumida, sabe aquelas pessoas alienadas que não
conseguem respeitar as diversidades alheias, e fica chata atentando empurrar a
religião dela como verdade e não é isso, ela tenta sempre anular e desmistificar ou
até mesmo caçoar da sua religião com intuito de inferiorizar a sua religião).
O preconceito religioso, comumente, é acompanhado pelo fanatismo, o que
configura um dos maiores males da humanidade. Um exemplo são as caças as
bruxas ou o atual estado islâmico;

Figura 13-Imagem que retrata as caça às bruxas Figura 12- Imagem que mostra integrantes do estado
na Idade Média Islâmico fazendo uma pessoa de refém

A religião pode ser entendida tanto como uma instituição (a Igreja Católica, a
Igreja Protestante, o Budismo, o Islamismo), quanto como um fenômeno presente
na cultura de toda a humanidade, desde os mais remotos tempos com os primeiros
grupamentos humanos até os dias de hoje.
No campo das Ciências Humanas, da Filosofia e da Teologia, alguns estudiosos
definem a religião como a manifestação de um conjunto de crenças em seres
espirituais, ou seja, cuja existência não seria objetiva, mas subjetiva; não concreta,
mas abstrata; não visível, mas invisível.

48
As religiões por meio de textos sagrados ou pela oralidade, difundem normas
religiosas cujo objetivo é prescrever valores morais que definiriam a boa conduta
religiosa, frente ao objetivo da salvação. Essas normas também tendem a impor
uma moral sobre as vontades, prescrevendo a condenação no pós-morte como a
pior das penas pela desobediência desses preceitos normativos.
A adoração dos súditos não se explica tão somente por conta de sua crença
ou fé, também esta atrelada na pior certeza do homem; a aproximação da morte,
e posteriormente o destino dos pós-morte. Tal pensamento existe em várias
religiões.
Tais certezas e incertezas são sanadas com o que definimos como
religiosidade. O sentimento religioso, ou seja, a religiosidade, está presente em nossa
vida desde que tomamos consciência sobre nossa própria existência, o que inclui a
consciência sobre sua finitude e sobre o maior de seus abismos desconhecidos: o
que ocorre depois da morte, se é que algo ocorreria.
De maneira mais rala essas certezas e incertezas nos acompanham, em maior
ou menor grau, por toda a vida até nossa morte e, não tendo sido elucidadas por
nenhuma outra forma de conhecimento (o que inclui as ciências). Segue sendo, a
religião, a instituição que acalenta seus fiéis, dando-lhes camadas de certezas sobre
as quais a condição humana pode seguir sua caminhada, no percurso de sua
existência.

Basicamente, a religião é constituída por dois elementos: a eo


. A crença (fé) consiste em um sentimento de respeito, submissão, confiança
e até mesmo medo em relação ao sobrenatural. É o desejo humano de aceitar
qualquer fenômeno, mesmo que não haja para ele comprovação
científica.
A crença pode ser também objeto de interesses alheios,
primordialmente políticos e econômicos – serviria tanto para
promover candidaturas políticas quanto para vender santinhos,
49
camisetas etc. Mas aqui nos referimos àqueles que tiram proveito da “boa fé” das
pessoas, ou de sua crença religiosa.
Já o ritual trata-se da manifestação do sentimento por um ou mais indivíduos,
por meio da ação. O ritual religioso se refere, ao sentimento religioso (isso porque
nem todo ritual é, necessariamente religioso, basta que seja um conjunto de ações
cujo significado seja imaterial).
Dessa maneira, podemos definir ritual como se tratando de um sistema de
práticas aceitas tradicionalmente, modos de ser e estar no mundo, ou normas, que
podem ser verificados em determinadas cerimônias.
É um tipo de ação padronizada ou, se quisermos, ritualizada, e que
se volta para um ou vários deuses, seres espirituais ou forças
sobrenaturais, com uma finalidade qualquer. No mais das vezes, o
ritual tem a finalidade de comunicar algo aos deuses, como pedidos
ou agradecimentos a graças alcançadas, e assumem as mais
Figura 14- A entrega da
ostea é um ato ritualístico diversas formas: festividades, danças, música, transes, orações etc.
na igreja católica
Também tem a função de conectar o indivíduo ao Sagrado,
fazendo com que transcenda sua dimensão meramente material, a fim de atender
aos seus desejos da alma, “alimentando-a” por meio do ritual naquilo que chamamos
então de “transcendência”.
Numa única cerimônia religiosa podem existir vários rituais inter-relacionados.
Temos várias festividades religiosas brasileiras que se enquadram nessas categorias
ritualísticas, como a Umbanda, religião genuinamente brasileira, que exige em suas
reuniões aberturas e encerramentos, através de preces/danças e movimentos
sincronizados.
Também temos a peregrinação à Meca pelos muçulmanos ou o autoflagelo
cometido por adeptos de várias religiões ocidentais e orientais – com o uso de
brasas, chicotes, facas etc.

50
Tanto a religiosidade quanto a magia são duas maneiras propriamente humanas
de se conectar com o “sagrado”, elas forneceram formas ao Homem para o
estabelecimento desse contato com o mundo sobrenatural, com o objetivo de
resolver questões humanas materiais ou espirituais, e fornecem o poder de acionar
as divindades e fazê-las agir, interferindo no mundo humano.
Essa necessidade de se relacionar com entidades sobrenaturais a busca pelo
sagrado que julgavam ter o poder de interferir no mundo dos vivos, vem de os
mais remotos tempos.
Contudo, magia e religião não são termos
sinônimos. A magia é paralela à religião, ela faz uso das
tradições religiosas existentes em uma determinada
sociedade, com o objetivo de obter melhores resultados
que a própria religião oficial. Seria uma espécie de
Figura 15 – A Feitiçaria e a Magia são
“atalho” para se chegar aos deuses, segundo a consideradas artes ou ciências que se
aprendem
interpretação das religiões oficiais, e muitas de suas
práticas foram tidas pelas religiões dominantes como proibidas, motivo pelo qual
chegaram a ser, em muitas sociedades, banidas.
Há pesquisadores que apontam que a magia teria decaído nas sociedades em
decorrência a ascensão da ciência e religião. Feitiçaria, magia popular e bruxaria,
como práticas mágicas de interferência espiritual na realidade, teriam sido
substituídas por uma fé maior na ciência e na técnica, motivo pelo qual sociedades
que se modernizaram abandonaram práticas mágicas em seu cotidiano. Contudo,
mesmo que se leve em consideração essas ideias, é difícil retirar a magia do
horizonte religioso, dado que é através de ações mágicas que muitos rituais
religiosos ganham eficácia simbólica.

51
Ao começo do texto demos um panorama técnico do que é intolerância, e
ao decorrer do texto explicamos religião e religiosidade. Agora para finalizar o tema
da aula faremos um questionamento do problema atual, que a antropologia enfrenta;
“por que as religiões estão tão ligadas a fenômenos de intolerância? Porque
desvelam visões distintas de mundo e suas interpretações, ou melhor, são
operacionalizadas nesse sentido.”
A religião, como instituição, não deve ser confundida com religiosidade. Isso
porque todos nós possuímos religiosidade, ainda que não tenhamos nenhuma
religião. É o caso daqueles que acreditam (têm fé) em um deus, ou em deuses,
sem praticar ou se identificar com alguma religião.
A religiosidade constitui nossa dimensão imaterial de
existência, onde residem nossas necessidades subjetivas
como: amar, ser amado, perseguir uma ideia de justiça, de
verdade. Qualquer coisa que foge desse contexto, e
empurra as pessoas a um discurso de ódio
consequentemente nos afasta do amor e do respeito ao
próximo, é um falso relato de fé, e não deve ser acatado.
Essa dimensão é chamada de “Sagrado”, conforme entende a Teologia e a
Antropologia Cultural. Nas mais variadas religiões, recebe os mais distintos nomes:
Deus, Alá, Buda, Kishna etc. O que é necessário saber, em termos antropológicos,
é que constitui o estado de transcendência em que, por meio do ritual (dado em
livros sagrados ou outras formas de indicações expressas em praticamente todas
as religiões), o indivíduo transcende a sua dimensão meramente material e se
conecta a algo maior, que lhe alimenta a alma e lhe devolve à matéria transformado,
em condição de equilíbrio e paz.
Sabendo de tudo isso, poderíamos afirmar que a religião poderia ser
instrumento de uma sociedade pacífica, tolerante, e não estaríamos discutindo as
relações entre religiões e condutas de intolerância. Dissemos “poderíamos” porque
52
não se leva equilíbrio a alguém fomentando o ódio, a intolerância ou reafirmando
exatamente os valores da matéria em detrimento dos valores do espírito.
Não se transcende a matéria quando o valor ritual é o do dinheiro e o objetivo
deixa de ser a completude dos desejos da alma para a garantia de satisfação plena
dos desejos da matéria. Viveríamos em desequilíbrio, portanto, não em estado de
paz, sequer conosco. Como aceitar o outro, se não aceitamos nem a nós mesmos,
quando incorporamos valores excessivamente materiais e privilegiamos apenas o
“ter”, relegando nosso verdadeiro “ser”?

53

Você também pode gostar