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Introdução

Prezado estudante,
Nesta aula, continuaremos o nosso estudo sobre as teorias antropológicas. Hoje,
estudaremos o Funcionalismo e o Estruturalismo.
Verificaremos que, enquanto o Funcionalismo defendia um estreito paralelismo entre
as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação) por
que, em ambos os casos, a harmonia dependeria da interdependência funcional das partes, para
o Estruturalismo toda a sociedade/cultura se estrutura por meio de um sistema que, no
entanto, pode sofrer transformações (de acordo com as experiências de cada grupo humano,
conforme o tempo e o espaço em que estão inseridos).

Objetivos

Nesta aula, nós iremos:


 Continuar o estudo das principais teorias antropológicas: Funcionalismo e
Estruturalismo

Funcionalismo

Paralelamente aos movimentos evolucionista e difusionista, nascia na Inglaterra, por


volta da década de 30/40 (séc. XX) o Funcionalismo, que enfatizava o trabalho de campo.
Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura seria preciso apreendê-la na sua
totalidade. Para elaborar esta produção intelectual, surge a ideia da constituição de
Antropologia enquanto etnografia.
O Funcionalismo, como teoria antropológica, defende que as sociedades humanas e
suas respectivas culturas existem como todos orgânicos, constituídos de partes
interdependentes.
“[...] As partes de uma cultura não podem ser plenamente compreendidas
separadamente do todo, e o todo deve ser compreendido em termos de suas partes;
suas realidades, umas com as outras e com o sistema sociocultural em conjunto.”
(WHITE, 1978).

Os principais representantes funcionalistas são Bronisław Kasper Malinowski e


Radcliffe-Brown, que tiveram seu apogeu na década de 40. Malinowski (1884-1942) foi um
dos antropólogos que defendeu o método da observação participante, enfatizando também a
importância do contato direto com o grupo. Além disso, ficou famoso por introduzir a ideia de
que o antropólogo deve carregar consigo, além do diário de campo, também um diário
pessoal. No primeiro, o pesquisador deve atentar para a coleta objetiva de dados, deixando
suas considerações pessoais e subjetivas, para o segundo.
Algumas das principais contribuições conceituais dessa corrente:

- Predomínio de uma visão sincrônica de cultura, havendo uma busca pela


lógica do sistema.
- Abandona-se definitivamente o antigo projeto de se pensar a sociedade em
sentido “macro”, combatendo-se o paradigma etnocêntrico de uma cultura
humana una e universal.
- Há uma preocupação com a produção de uma rigorosa etnografia,
entendida esta como uma descrição/narrativa pura, um verdadeiro acervo
etnográfico de todas as culturas e sociedades do mundo.
- Este rigor não descarta, contudo, a mediação subjetiva, entendida não
como obstáculo, mas como condição mesma do saber antropológico.

O antropólogo funcionalista deve entender a sociedade e a cultura formando uma


totalidade. Nota-se, portanto, que a análise deve ser “sistêmica”, já que as partes não se
explicam sozinhas. Por exemplo, não há como entender a religião sem explanar sobre a
economia, as doenças, etc.

Estruturalismo

A Antropologia Estrutural nasce na década de 40 do séc. XX e seu grande teórico é o


belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Ele centraliza o debate na ideia de que existem regras
estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de
oposição para organizar o sentido. Lévi-Strauss se alinhou aos antropólogos sociais que
procuravam, por meio de comparações, descobrir verdades fundamentais do comportamento
humano em escala universal. Para essa corrente, as culturas definem-se como sistemas de
signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto.
Lévi-Strauss esteve no Brasil nos anos 1930, atuando como professor visitante na
Universidade de São Paulo (USP) e, simultaneamente, pesquisando indígenas no Mato Grosso
e na Amazônia, o que lhe rendeu a obra chamada “Tristes Trópicos”.
Em “As estruturas elementares de parentesco” (publicado pela primeira vez em 1949),
o autor analisa os aborígenes australianos e, em particular, seus sistemas de matrimônio e
parentesco. Nesta obra, busca demonstrar como as alianças são mais importantes para a
estrutura social do que os próprios laços de sangue.
Para a teoria estruturalista, portanto, toda a sociedade/cultura se estrutura por meio de
um sistema que, no entanto, pode sofrer transformações. Segundo as experiências de cada
grupo humano, estes blocos que constituem a essência de uma cultura vão se apresentando
conforme o tempo e o espaço em que estão inseridos. O que podemos destacar como
importante neste processo de identificação é que há componentes básicos e comuns entre as
culturas, os quais são essenciais no processo de categorização de suas estruturas. São eles:
conhecimentos, crenças, valores, normas e símbolos. São estes elementos que marcam o
que representa a cultura de um grupo e, de certo modo, determinam como este grupo deve
operar dentro de seu universo cultural, gerando aquilo que chamamos padrões culturais,
traços culturais ou expressões.
As expressões que caracterizam uma cultura estão diretamente ligadas ao modo como
um dado grupo sobrevive ou sobreviveu frente à natureza e, particularmente falando,
expressam a personalidade de um povo ou grupo ou clã.
Frente às inúmeras manifestações humanas, podemos perceber o modo como cada
povo lida com o seu cotidiano: Por meio de rituais (de vida, de passagem e de morte), pelo
modo como exteriorizam suas emoções (amor, ódio, medo, saudade, sofrimento, dor, revolta
etc), pela maneira peculiar como estabelecem seus padrões familiares, suas heranças, suas
construções, danças e artes de modo geral.
Tais manifestações, dentre tantas outras, são construídas frente às necessidades e
condições particulares de cada povo, levando em consideração o espaço geográfico em que
vivem ou viveram, a época e até mesmo o contato que eventualmente tiveram com outros
povos com culturas tecnologicamente mais avançadas.
A meta geral do estruturalismo antropológico é desvendar os princípios universais da
mentalidade humana e propor um método de análise rigorosa do trabalho etnográfico,
pensando a sociedade em partes que formam um todo estrutural (pensar o Homem como
totalidade). Uma questão fundamental que se deve ter como ponto de partida é determinar
onde precisamente acaba a natureza e onde começa a cultura (LÉVI-STRAUSS, 1976, p.
42). Lévi-Strauss acaba concluindo que:

a regra é o elemento fundamental na caracterização da cultura

LOGO:
a ausência de regras é o que define o limite entre natureza e cultura

ENTÃO:

Encontrando a regra presente em todas as culturas, chegar-se-ia àquilo


que define o início do processo de formação cultural.

Qual seria essa formidável regra? Lévi-Strauss (1976, p. 49) concluirá que se trata do
“tabu do incesto”, a qual apresenta simultaneamente dois caracteres:
[...] constitui uma regra, mas uma regra que, sendo única entre todas as regras
sociais, possui ao mesmo tempo caráter de universalidade”. (...) A característica
universal da proibição do incesto envolve algo reconhecidamente natural (o ato
sexual), mas também algo reconhecidamente social (a regra).

Segundo Lévi-Strauss, o homem não mantém relações indiscriminadas, mas as pensa


previamente para distingui-las. Desde este momento, transformou-se em um ser cultural. A
partir daí, pode-se detectar a existência de estruturas que determinam regras de vestuário,
alimentação, parentesco, condutas morais e políticas. Tais estruturas são recorrentes em
distintos povos, mas em geral não são visíveis.

Sendo a estrutura, uma construção teórica capaz de dar sentido aos dados empíricos e
entender seus significados, Lévi-Strauss conclui que é ela o elemento comum em todos os
sistemas, em diferentes culturas. Seguindo esta linha de raciocínio, ele entende ser possível
mapear a estrutura fundamental da própria condição humana. A estrutura dos mitos, por
exemplo, seria idêntica em qualquer lugar, já que a estrutura mental da Humanidade é a
mesma. Se algo não é respondido por essa estrutura, significa que o trabalho não foi bem-
feito, que ocorreu um erro de análise. Os fenômenos da linguagem e da cultura resultam do
"jogo de leis gerais” que são realidades de ordens distintas, mas do mesmo tipo.
Há, portanto, mecanismos universais mentais. Tais mecanismos determinam:
- o modo como se vive;
- a forma como se apreende a realidade;
- a maneira como o grupo irá organizar os modos mais significativos dessa
percepção.

Os Sistemas, assim:

- influem no modo de organização das relações de parentesco, das


instituições ou dos grupos;
- sofrem variações de combinações (binárias) de uma cultura para
outra;
- partem de elementos materiais comuns (invariantes) idênticos;
- são em número limitado devido à unidade psíquica do Homem.

Podemos notar que a abordagem estruturalista de Lévi-Strauss é não-histórica e se


desenvolve em torno de três temas fundamentais: a teoria das estruturas elementares do
parentesco, os processos mentais do conhecimento humano e a estrutura dos mitos.

Reflita:
Para entender as teorias e práticas antropológicas, indicamos a leitura do texto:
“Ritos Corporais entre os Nacirema”, de Horace Miner In: A.K. Rooney e P.L. de Vore
(orgs) YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology (Cambridge,
Erlich), 1976.

Disponível em : < http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/2011/07/leia-no-link-


antropologia-famoso-mas.html > Acesso em: 5 de outubro de 2015.
Conclusão

Na aula de hoje, devemos, principalmente, guardar e assimilar a diferença entre


FUNCIONALISMO e ESTRUTURALISMO.
No Funcionalismo (defendido por Malinoviski e Brown), as sociedades não-europeias
passam a ser estudadas naquilo que lhes era próprio e específico (alteridade). No entanto,
devemos entender que, nos processos de aculturação e transculturação, o choque cultural é
grande e não levou em conta as desigualdades existentes. Lembre-se que, para o
funcionalismo, as sociedades humanas e suas respectivas culturas existem como todos
orgânicos, constituídos de partes interdependentes.
Já para o Estruturalismo (de Claude Lévi-Strauss), o Homem não mantém relações
indiscriminadas, mas as pensa previamente para distingui-las, transformando-se em um ser
cultural. Neste sentido, para Lévi-Strauss, podemos detectar a existência de estruturas que
determinam regras de vestuário, alimentação, parentesco, condutas morais e políticas em cada
povo ou sociedade.
Crítica do Estruturalismo ao Evolucionismo: Cada sociedade deve ser analisada em sua
especificidade e não como um estágio de um processo único do desenvolvimento humano.

Referências Bibliográficas

BARROS, R.W.A. Antropologia: uma reflexão sobre o homem. 1. ed. Bauru: EDUSC, 2011.

LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares de parentesco. Petrópolis: Vozes, 1976.

MINER, H. Ritos Corporais entre os Nacirema. In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You
and the others - Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich) 1976. Disponível
em: <http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/2011/07/leia-no-link-antropologia-famoso-
mas.html> Acesso em: 5 de outubro de 2015.

WHITE, H. Trópicos do Discurso – Ensaios Sobre a Crítica da Cultura. São Paulo:


EdUSP, 1994.

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