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Fonética e

fonologia
Fonética e fonologia

Claudia Dourado de Salces


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Salces, Claudia Dourado de


S159f Fonética e fonologia / Claudia Dourado de Salces.
– Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
152 p.

ISBN 978-85-8482-573-8

1. Língua portuguesa - Fonética. I. Título.


CDD 469.15

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Tema 1 | Linguagem, língua e linguística 7


Tema 2 | O signo linguístico 19

Tema 3 | Linguagem humana e comunicação animal 31


Tema 4 | Funções da linguagem 43
Tema 5 | Introdução à fonética 59
Tema 6 | O sistema consonantal da língua portuguesa 71

Tema 7 | O sistema vocálico da língua portuguesa 83

Tema 8 | Ditongos crescentes e decrescentes 95


Tema 9 | Princípios e procedimentos da fonêmica e processos
fonológicos 107
Tema 10 | Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 127
Convite à leitura

Nessa aula você estudará:

• A diferença entre linguagem e língua.

• O que é a Linguística e qual seu objeto de estudo.

• Os pressupostos da Linguística, isto é, seus pontos de apoio.


Tema 1

Linguagem, língua e linguística

POR DENTRO DO TEMA

Toda comunidade ou grupo humano constituído, por mais isolado ou primitivo


que possa parecer, apresenta a capacidade inerentemente humana de se comunicar.
Isso porque todos nascemos com um aparato biológico inato em nosso cérebro que
permite nos comunicarmos por meio de uma língua. A essa capacidade, dá-se o nome
de linguagem. Ela é, portanto, um traço genético. Sua realização passa necessariamente
pelo aprendizado que apenas a vida em sociedade pode proporcionar. Há vários casos
registrados de crianças selvagens, cuja capacidade de linguagem não se desenvolveu,
porque teriam supostamente sido criadas por animais como lobos ou cachorros
selvagens.

A língua, por sua vez, não deve se confundir com a linguagem. Ela é um sistema
de signos, criado e reconhecido por uma comunidade, que dela faz uso não só para
transmitir informações, mas também para expressar emoções, influenciar o outro,
falar sobre fatos, situações reais ou imaginárias.

Já a Linguística dedica-se ao científico da linguagem humana, isto é, de sua


manifestação através das diferentes línguas, para conhecer seus princípios de
funcionamento, suas semelhanças e diferenças. Ao observar a língua em uso, o
linguista procura descrever e explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais e
lexicais que estão sendo usados. Essa ciência da linguagem tem alguns pressupostos
ou pontos de apoio descritos a seguir:

1. Prioridade da língua falada.

A gramática tradicional relega a língua falada a um padrão inferior ao da escrita. O


linguista, por sua vez, é contra essa ideia, sustentando que a falada vem primeiro e a
escrita é essencialmente um processo de representar a fala em outro meio.

A fala é anterior à escrita e mais difundida. Não há grupo humano conhecido


que exista ou tenha existido, sem a capacidade da fala. Apesar de a língua escrita
não ser uma transposição da fala, todos os sistemas de escrita são manifestamente
baseados nas unidades da língua falada: sons, sílabas e palavras. Os sistemas gráficos
apresentam limitações, pois nenhum deles representa todas as variações significativas
T1

de entonação e de acento que aparecem nos enunciados.

2. A linguística é uma ciência descritiva e não prescritiva

A gramática tradicional, além de valorizar a língua escrita, postulava que uma forma
específica dela, a literária, seria mais pura e mais correta e, portanto, deveria ser mais
valorizada e considerada como padrão.

Para o linguista, não existe padrão absoluto de “pureza” e de “correção”. Cada forma
da língua diferenciada social e regionalmente, tem seu próprio padrão de pureza e
correção. O dever primordial do linguista é, portanto, descrever o modo como as
pessoas falam (e escrevem) realmente sua língua e não como elas deveriam falar e
escrever.

3. O linguista se interessa por todas as línguas

Para o linguista, todas as línguas estudadas até agora, não importando quão
“atrasado” ou “inculto” seja o povo que as fala, provaram nas pesquisas serem um
sistema de comunicação complexo e altamente desenvolvido. Ele se interessa por
todas as línguas, pois todos os exemplos documentados e passíveis de observação
servem como dados a serem sistematizados e explicados pela teoria geral da estrutura
da linguagem humana.

Não existe correlação entre as diferentes etapas de desenvolvimento cultural


através das quais as sociedades evoluíram e o tipo de língua falada nessas etapas.
Todas as línguas são sistemas eficientes e viáveis de comunicação que satisfazem às
necessidades da comunidade em que operam.

4. Prioridade da descrição sincrônica

Basicamente, há dois tipos de estudos da língua: o diacrônico e o sincrônico.


O primeiro refere-se à descrição de uma determinada língua através do tempo, isto
é, com base em sua evolução histórica. O segundo refere-se à descrição de um
determinado estado de uma língua, num determinado momento no tempo.

Por oposição à Linguística comparativa do século XIX, a Linguística Moderna


crê que considerações de ordem histórica são irrelevantes no estudo de “estados”
de língua específicos. A transformação na língua não é uma função apenas do
tempo; há muitos outros fatores diferentes que podem determinar mudanças. A
comunidade linguística é sempre formada por muitos outros grupos diferentes, e
o falar dos membros desses grupos refletirá, de várias maneiras – na pronúncia,
na gramática e no vocabulário – diferenças de idade, lugar de origem ou
residência, interesses profissionais, educação recebida etc. Cada membro da
comunidade linguística pertence, sem dúvida, simultaneamente a muitos desses
grupos, linguisticamente relevantes. Além das diferenças linguísticas derivadas dos
vários grupos sociais existentes dentro da comunidade, há também importantes

8 Linguagem, língua e linguística


T1

diferenças de estilo, relativas às várias funções da língua e às diferentes situações


sociais em que ela é usada, como fazemos, por exemplo, ao distinguirmos o estilo
formal do coloquial.

5. A língua como estrutura

O ponto mais característico da Linguística Moderna é o Estruturalismo,


modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século
XX, especialmente nas áreas das humanidades, que consiste em construir modelos
explicativos de realidade, chamados estruturas. Metodologicamente, analisa
sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos
que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas
e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários. Partindo da
Linguística e da Psicologia do princípio do século XX, alcançou o seu apogeu na
época da Antropologia Estrutural, ao redor dos anos de 1960.

A Linguística Moderna, seguindo a tendência estruturalista, considera a língua


como um sistema de relações, ou seja, como uma série de sistemas inter-
relacionados, cujos elementos – os fonemas, os morfemas, as palavras etc. – não
são válidos fora das relações de equivalência e de oposição existente entre eles. No
sistema linguístico, um elemento só tem sentido completo quando correlacionado
a outros que fazem parte desse mesmo sistema.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

Leia no Guia do Estudante, do Grupo Abril, a descrição sobre o curso de Linguística,


seu mercado de trabalho, o que faz o profissional e as melhores escolas.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/comunicacao-


informacao/linguistica-686492.shtml>. Acesso em: 2 jan. 2014.

Leia o artigo “O papel da teoria saussuriana na fundação da Linguística Moderna


como ciência”, de Roberta de Oliveira Guedes, doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Disponível em: <http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/saussure/guedes.pdf>.


Acesso em: 2 jan. 2014.

Linguagem, língua e linguística 9


T1

O texto explica alguns conceitos saussurianos, relativos à língua e ao signo


linguístico, por exemplo.

Vídeos

“Princípios Gerais da Linguística”.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ndv6mSyXbZ4>. Acesso em:


2 jan. 2014.

O vídeo do curso de Pedagogia da Unesp traz, como interlocutora, Maria Cristina


Altman, professora titular do Departamento de Linguística da Universidade de São
Paulo. Ela discorre sobre o que é a Linguística e qual seu objeto de estudo, além de
nos apresentar Ferdinand de Saussure, considerado o pai da ciência da linguagem.

“Cientistas do Brasil – José Luiz Fiorin”.

Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=GstVIK-zn9g>. Acesso em: 2


jan. 2014.

No vídeo, o linguista e professor da Universidade de São Paulo fala sobre a


importância do estudo da língua e da linguagem e discute as principais pesquisas
da área, sobretudo no Brasil.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1:

O que você entende por linguagem, língua e linguística?

Questão 2:

É correto afirmar, em relação à Linguística, que:

10 Linguagem, língua e linguística


T1

a) A língua escrita, por ser menos propensa a mudanças, deve ser considerada
padrão.

b) A língua falada deve procurar igualar-se ao máximo à língua escrita.

c) A língua falada é inferior à língua escrita.

d) Todos os sistemas de escrita baseiam-se nas unidades da língua falada, portanto


deve-se dar prioridade ao estudo da língua falada.

Questão 3:

A Linguística, enquanto ciência, pode ser considerada:

a) Normativa.

b) Prescritiva.

c) Intuitiva.

d) Descritiva.

Questão 4:

As línguas existentes se transformam sob vários aspectos. Todas as línguas vivas


são por natureza sistemas de comunicação eficientes e viáveis que servem a
diferentes e variadas necessidades sociais das comunidades que as usam. Como
essas necessidades mudam, as línguas tenderão a mudar para satisfazer às novas
condições. Tendo isso em vista, seria incorreto afirmar, em relação ao linguista:

a) Ele se interessa por todas as línguas

b) Ele considera todas as línguas passíveis de serem estudadas, por apresentarem


um sistema de comunicação complexo e altamente desenvolvido

c) As línguas indígenas e as línguas dos povos tribais como os da África, por


exemplo, devem ser consideradas como pobres e primitivas.

d) Ele defende que não se deve considerar nenhuma língua intrinsicamente mais
rica do que a outra.

Questão 5:

Observe os exemplos abaixo:

1) Tu tá avexado, pois antonce come cru.

2) É só ponhá um poco de leite na massa que fica mió.

Linguagem, língua e linguística 11


T1

3) de menina a comer com goiabada gosta queijo.

Do ponto de vista da linguística, seria correto afirmar que:

a) Todas as formas estão corretas do ponto de vista linguístico, isto é, apresentam-


se como variedades possíveis da língua portuguesa.

b) As formas 1 e 2 refletem o modo particular de expressão de determinada classe


social ou região, e a forma 3 não segue a estrutura gramatical da língua portuguesa.

c) As formas 1 e 2 não apresentam nenhuma lógica do ponto de vista do


funcionamento da língua portuguesa, são desvios da norma culta e devem ser
recriminados pelos professores.

d) A forma 3 é um bom exemplo de estrutura sintática da língua portuguesa.

Questão 6:

Observe os exemplos I e II e depois indique “F” ou “V” nas afirmações seguintes:

1. Meus fio tá tudo desempregado. Eles num guenta mais essa situação.

2. Meus filhos estão desempregados. Eles não aguentam mais essa situação.

a) ( ) I e II são exemplos de variações permitidas pela estrutura da Língua Portuguesa.

b) ( ) O texto II está escrito conforme a norma culta da Língua Portuguesa.

c) ( ) I é exemplo de como as pessoas sem instrução falam tudo errado.

d) ( ) II é considerado pelos linguistas como um texto agramatical, pois desrespeita


a estrutura da língua portuguesa.

Questão 7:

Leia com atenção o poema seguinte e responda o que se pede:

Ai! Se sêsse!

Se um dia nós se gostasse;

Se um dia nós se queresse;

Se nós dos se impariásse,

Se juntinho nós dois vivesse!

Se juntinho nós dois morasse

Se juntinho nós dois drumisse;

12 Linguagem, língua e linguística


T1

Se juntinho nós dois morresse!

Se pro céu nós assubisse?

Mas porém, se acontecesse

qui São Pêdo não abrisse

as portas do céu e fosse,

te dizê quarqué toulíce?

E se eu me arriminasse

e tu cum eu insistisse,

prá qui eu me arrezorvesse

e a minha faca puxasse,

e o buxo do céu furasse?…

Tarvez qui nós dois ficasse

tarvez qui nós dois caísse

e o céu furado arriasse

e as virge tôdas fugisse!!!

(Zé da Luz)

O poema anterior reflete o modo de falar de uma região do Nordeste, a cidade de


Itabaiana, terra natal do poeta Zé da Luz, no estado da Paraíba. Considerando o
ponto de vista da ciência linguística, que descreve estados de uma língua, sem fazer
juízos de valor, cite uma característica que você pode observar nessa variedade
linguística em relação a um som consonantal, cuja mudança sofrida acaba sendo
transferida para a língua escrita.

Questão 8:

Se o poema “Ai se sêsse”, de Zé da Luz, tivesse sua escrita “corrigida” de acordo


com a norma culta, ele teria o mesmo efeito de sentido, a mesma força poética?
Justifique sua resposta.

Questão 9:

Leia o texto1 a seguir a respeito das mudanças na forma de tratamento “você”:

Segundo a lexicóloga e dicionarista brasileira Biderman (1972) a forma você que

Linguagem, língua e linguística 13


T1

hoje não tem, em Portugal, o uso tão generalizado quanto tem no Brasil, resultou
da evolução de vossa mercê, que deve ter sido importada da Espanha, através das
relações intensas existentes entre a sociedade portuguesa e a espanhola, quando
Portugal se encontrava sob o domínio da Espanha (final do século XVI e primeira
metade do século XVII).

1 Adaptado de GONÇALVES, Clézio R. De vossa mercê a cê: caminhos, percursos


e trilhas Cadernos do CNLF, v. XIV, n. 4, t. 3.

Essa forma, defende a pesquisadora, tem a sua origem na forma vuestra merced,
surgida na Espanha, para ocupar a lacuna deixada pelo tratamento vós no século
XVI, e é durante tal período que essa forma sofre modificações fonéticas, resultando
na forma espanhola usted. Esse processo de evolução foi, segundo Biderman,
documentado por Pla Cárceres (1923). Biderman diz também que, das variantes
espanholas vassuncê, voaced, vueced, vuaced, voazé, vuazé, vuezé, a primeira
delas – vassuncê –, que tem característica rural na Espanha, é também encontrada
na fala rural de Portugal e do Brasil. E, citando Basto (1931), a autora menciona,
como formas dialetais usadas ao lado do item você, tanto em Portugal quanto no
Brasil: vossemecê, vosmecê, vosmincê, vassuncê, vancê, mecê, ocê, cê.

Que tipo de estudo da língua é exemplificado na pesquisa relatada anteriormente


a respeito da evolução da palavra que teria dado origem ao pronome “você”?
Justifique sua resposta.

Questão 10:

Uma tribo de caçadores-coletores do sul do Amazonas, conhecida como pirahã,


não tem palavras para cores. Usam apenas oito consoantes e três vogais. Sua língua
não tem tempos verbais, e seus integrantes só sabem contar até três.

Pode-se afirmar que esse povo apresenta uma língua pobre e/ou primitiva?

1
Adaptado de GONÇALVES, Clézio R. De vossa mercê a cê: caminhos, percursos e trilhas Cadernos do
CNLF, v. XIV, n. 4, t. 3.

14 Linguagem, língua e linguística


T1

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu a diferenciar entre linguagem e língua, além de


saber que há uma ciência para estudar os fenômenos relativos ao funcionamento
de todas as línguas existentes. Conheceu também algumas características
importantes dessa ciência: a prioridade da língua falada, a função de descrever
e não prescrever, o interesse por todas as línguas, a prioridade da descrição
sincrônica e a visão da língua como estrutura e/ou sistema.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu Desafio Profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Linguagem, língua e linguística 15


T1

16 Linguagem, língua e linguística


T1

REFERÊNCIAS

FIORIN, José L. et al. Linguística? Que é isso? São Paulo: Contexto, 2013.

GONÇALVES, Clézio R. De vossa mercê a cê: caminhos, percursos e trilhas.


Cadernos do CNLF, v. XIV, n.4, t. 3.

LYONS, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

GLOSSÁRIO

Diacrônico: diz-se do estudo da língua ao longo do tempo, considerando-se sua


evolução histórica.

Linguagem: capacidade inata localizada no cérebro que nos permite constituir ou


aprender uma língua.

Língua: sistema organizado de signos linguísticos convencionais, criados pela


comunidade, para fins de comunicação entre seus membros.

Linguística: estudo científico da linguagem humana, com vistas a descrever seu


funcionamento.

Sincrônico: diz-se do estudo da língua em um determinado momento do tempo,


comparando-o com outros existentes nesse mesmo momento.

Linguagem, língua e linguística 17


Tema 2

O signo linguístico

POR DENTRO DO TEMA

Em fevereiro de 2013, comemorou-se o centenário da morte do fundador da


Linguística Moderna, o suíço Ferdinand de Saussure. A obra inaugural dessa ciência
que estreava foi publicada, não por seu criador, mas postumamente, em 1916,
pela iniciativa de dois de seus antigos alunos e admiradores, Charles Bally e Albert
Sechehaye. Eles recolheram e compilaram textos manuscritos e anotações de aulas
daqueles que assistiram aos três cursos ministrados pelo mestre, entre 1907 e 1911,
criando, então, o Curso de Linguística Geral.

Mesmo que não tenha sido o próprio Saussure quem a escreveu, a obra tem uma
importância histórica fundamental, pois deu a ele o reconhecimento de fundador da
ciência linguística moderna, além de influenciar toda uma geração de estudiosos de
diversas áreas do conhecimento – antropologia, psicologia, estudos literários, ciências
sociais, entre outras – que viu nas suas noções a base para o movimento estruturalista.
Além disso, ela guarda o essencial de seu pensamento.

Aprendemos com Saussure que a língua não deve ser encarada como uma
forma de rotular a realidade, independentemente da língua. A atividade linguística
é simbólica e, portanto, uma língua articula conceitos e ajuda na organização
do mundo. O inglês, o italiano, o português e todas as demais línguas existentes
categorizam a realidade de forma diferente, daí a distinção entre elas. Em português,
você diz que come carne de porco e também se refere com a mesma palavra ao
animal que vê sendo criado em um sítio. Já em inglês, ao porco que se come em
uma refeição, dá-se o nome de “pork”, e ao que está no campo, “pig”.

O mestre, então, ensina que “o signo linguístico não une uma coisa e uma
palavra, mas um conceito e uma imagem acústica” (SAUSSURE, 1991, p. 80), tal
como ilustrado na Figura 2.1:
T2

Figura 2.1 Língua e Signo Linguístico.

Para que a língua cumpra sua função social no processo de comunicação, é


necessário que as palavras tenham um significado, ou seja, que cada palavra represente
um conceito. Ambos são indissociáveis, como a cara e a coroa em uma moeda. A
combinação entre a palavra escrita ou falada e o conceito (relação entre conceito e
uma imagem acústica), Saussure chamou de signo linguístico.

A palavra “signo” significa símbolo, portanto, serve para representar algo, e


não é a própria realidade em si. Tem um caráter convencional, já que cada povo
ou comunidade entra numa espécie de consenso quanto aos signos ou palavras
que representam os inúmeros aspectos e dimensões de sua realidade. Essas
considerações nos ajudam a entender uma das características do signo linguístico
proposta por Saussure: a arbitrariedade. O que isso significa? Significa dizer que
o nome que uma coisa ou objeto tem não apresenta nada em comum com o
aspecto ou a aparência dessa mesma coisa ou desse mesmo objeto na realidade.
Ou seja, o lápis não tem esse nome porque a sequência “l-á-p-i-s” guarda alguma
semelhança com o objeto em si. Não há nada no significante que lembre o
significado.

A segunda característica do signo linguístico, segundo Saussure, é a linearidade,


que diz respeito ao fato de, ao falarmos, um som vir após o outro, em uma cadeia
linear, desenvolvendo-se no tempo. A palavra “lápis” só é reconhecida como tal se
os sons que a compõem forem ditos nesta ordem: l-á-p-i-s.

Os signos podem ser naturais – conhecidos como índices – ou artificiais –criados


pelo homem. Os primeiros relacionam-se ao reconhecimento de fenômenos
naturais: quando, por exemplo, você vê fumaça, sabe que há fogo; quando vê
um raio, espera o som do trovão; quando percebe o céu encoberto, sabe que vai
chover, etc. Nesses casos, a fumaça, o raio e a nuvem escura funcionam como
signos naturais ou índices, os quais são reconhecidos da mesma maneira, mesmo
quando se trata de culturas diferentes.

Já os artificiais são criados para fins de comunicação, representando um

20 O signo linguístico
T2

objeto, uma pessoa, um lugar, uma propriedade, um evento, uma ideia, etc. Eles
são sempre convencionais porque nascem de um acordo consciente, concluído
num determinado momento ou resultante de todo um processo histórico. Eles se
subdividem em não verbais, como os vistos nas figuras seguintes:

E os verbais, como os mostrados a seguir:

É com Saussure que aprendemos também a distinção entre língua e fala. Sobre
a língua, ele diz que não se pode confundi-la com a linguagem, pois (a língua) “é,
ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem, e um conjunto
de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, para permitir o exercício
dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE, 1991, p. 17). A língua é, portanto, um
instrumento criado pela comunidade para o exercício da comunicação.

A fala, para ele, é um fenômeno fisiológico e físico, pois se manifesta por meio
de um aparelho fonador, cujos sons são reconhecidos como signos pertencentes
a esta ou aquela língua. Ou seja, a fala é um instrumento da língua; é a forma como
a estrutura e a organização da língua podem ser expressas e apreendidas. A fala
tem um caráter individual, enquanto a língua, um caráter social; pode diferenciar-
se dentro de uma mesma comunidade linguística, sem causar mudanças na língua.
Para referir-se à mulher, por exemplo, algumas pessoas, dependendo da região
onde vivem, dizem “muié”, enquanto outras dizem “mulé”. Essas mudanças não
afetam a língua, mas são demonstrações dos tipos de variações permitidos dentro
de um mesmo sistema linguístico.

É a língua, e não a fala, o objeto de estudo da Linguística saussuriana, visto que


aquela permanece a mesma, enquanto a fala pode apresentar variações por ser
de domínio individual. Saussure, no entanto, insiste sempre na interdependência
desses dois constituintes da linguagem: ”[...] esses dois objetos estão estreitamente

O signo linguístico 21
T2

ligados e se implicam mutuamente: a língua é necessária para que a fala seja


inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta (a fala) é necessária para que a
língua se estabeleça” (SAUSSURE, 1991, p. 16).

Apesar de conhecer e admitir a existência de fatores externos à língua, uma


vez que a concebia como um fato social decorrente de um acordo ou sistema de
convenções estabelecido por uma comunidade, Saussure deixou os fatores sociais
de fora de seus estudos. Interessava-lhe observar os fenômenos subjacentes
à estrutura linguística e, por isso, propôs o estudo imanente da língua, cujo
funcionamento fosse explicado de forma interna à própria língua, sem apelo a
fatores sociais, históricos, etários, contextuais, etc. A tarefa de relacionar a língua
a fatores extralinguísticos coube à Sociolinguística, ciência que estuda a relação
entre a língua e a sociedade. Nessa abordagem, a língua é estudada com base na
fala, principalmente, a partir do uso efetivo em situações de comunicação, para
que o sociolinguista possa explicar e descrever os fatores relativos à estrutura de
uma língua e sua relação com os aspectos sociais e culturais que atuam sobre a
produção linguística.

ACOMPANHE NA WEB

Ciência Linguística: da origem saussuriana ao percurso sociolinguístico

Leia o artigo Ciência Linguística: da origem saussuriana ao percurso sociolinguístico,


de Solyany Soares Salgado, pois ele lhe dará uma visão panorâmica dos estudos
linguísticos, desde o início da Linguística Moderna, com Ferdinand de Saussure, até
os estudos contemporâneos, como a Sociolinguística.

Link para acesso: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/


article/view/7110>. Acesso em: 01 out. 2014.

O fantástico mundo da linguagem

Leia o texto bastante didático de Aldo Bizzocchi, intitulado O fantástico mundo da


linguagem. Você poderá ver, com mais detalhes, a origem e o desenvolvimento dos
estudos linguísticos desde a Antiguidade até o nascimento da Linguística Moderna e
como ela se relaciona ao Estruturalismo. Também terá a oportunidade de ler sobre
as aplicações da Linguística, visto que esta não é uma ciência meramente teórica.

Link para acesso: <http://www.aldobizzocchi.com.br/artigo5.asp>. Acesso em: 01


out. 2014.

22 O signo linguístico
T2

Nós e a gente no português falado culto no Brasil

Leia o artigo Nós e a gente no português falado culto no Brasil, de Célia Regina
dos Santos Lopes, na revista Delta. Neste trabalho, a autora analisa a variação de
“nós” e “a gente” na posição de sujeito, com base nos princípios da Sociolinguística
Quantitativa Laboviana. O estudo focaliza falantes cultos das três principais regiões
geográficas do Brasil: Rio de Janeiro (Sudeste), Porto Alegre (Sul) e Salvador
(Nordeste).

Link para acesso: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-


44501998000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 01 out. 2014.

Língua, que bicho é esse?

Leia a entrevista Língua, que bicho é esse?, do linguista Sírio Possenti, pesquisador
da Unicamp. Nela, o professor discute questões que envolvem o uso da fala e da
escrita e o preconceito linguístico presente na mídia, preconceito este decorrente
do fato de os profissionais da área desconhecerem o funcionamento da língua.

Link para acesso: <http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/lingua-que-


bicho-e-esse>. Acesso em: 01 out. 2014.

Ferdinand de Saussure: breve vida e obra

Assista ao vídeo Ferdinand de Saussure: breve vida e obra. O vídeo mostra, de


maneira objetiva e lúdica, os principais conceitos desenvolvidos pelo linguista
suíço, a base da ciência linguística inaugurada por ele.

Link: <http://www.youtube.com/watch?v=WiURWRFcQsc>. Acesso em: 01 out.


2014.

Tempo: 9:03

A Nova Gramática do português brasileiro

Assista à entrevista do linguista Ataliba T. de Castilho no Programa do Jô. Nela, o


professor fala sobre seu livro A Nova Gramática do português brasileiro, que não se
assume como mais uma gramática da língua portuguesa, mas como a gramática
do português falado por quase 200 milhões de indivíduos no Brasil.

Link: <http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-jo/v/linguista-ataliba-
castilho-lanca-livro/1568806/>. Acesso em: 01 out. 2014.

Tempo: 22:23

A guerra do fogo

Assista ao filme A guerra do fogo que retrata o suposto período da pré-história

O signo linguístico 23
T2

em que diferentes grupos de hominídeos coexistiam. Alguns apresentavam


comunicação primitiva, com gestos e grunhidos, e o mais evoluído deles já
tinha linguagem articulada e domínio de técnicas de construção de habitações,
expressões artísticas (pinturas corporais), desenvolvimento de ferramentas e o
domínio do fogo. Você pode também ler uma resenha bastante esclarecedora
sobre este filme, escrita por Rodrigo Cunha, no site da Revista ComCiência.

Link: <http://www.comciencia.br/resenhas/guerradofogo.htm>. Acesso em: 01


out. 2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Você aprendeu neste tema que o linguista suíço Ferdinand de Saussure é


considerado o “pai da Linguística Moderna”. Releia o início desta aula e responda
como foi produzida a obra inaugural da Linguística Moderna, intitulada Curso de
Linguística Geral.

Questão 2

Na obra clássica de Ruth Rocha Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias, o


personagem principal, Marcelo, um garoto criativo e bastante curioso, começa a
questionar o nome das coisas.

“Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:

— Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?

— Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.

— E por que é que não escolheram martelo?

— Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...

— Por que é que não escolheram marmelo?

— Porque marmelo é nome de fruta, menino!

24 O signo linguístico
T2

— E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?” (Rocha, p. 6)

Marcelo pensa que os nomes das coisas deveriam refletir como essas mesmas
coisas são, isto é, deveriam parecer com aquilo que representam. Isso porque ele
desconhece uma das características principais do signo linguístico, que é:

a) A linearidade.

b) A naturalidade.

c) A arbitrariedade.

d) A artificialidade.

Questão 3

Na mesma obra de Ruth Rocha, nosso personagem questionador continua:

“Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas


bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a
mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas
deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo.
Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada.
E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também,
agora, eu só vou falar assim.” (Rocha, p. 10)

Como você explicaria ao Marcelo que, na língua, não é possível decidir sozinho
mudar o nome das coisas?

Questão 4

Imagine um homem do sertão nordestino conversando com um homem do


pampa gaúcho:

Gaúcho: “Tás atucanado, bagual?”

Nordestino: “Não, tô aperreado, bichinho.”

Esses personagens representam as varie¬dades linguísticas de duas diferentes


regi¬ões do Brasil – o Sul e o Nordeste – respec¬tivamente. Considerando que o
que ambos estão falando apresenta um mesmo con-teúdo, explique a diferença
entre as duas falas quanto à estrutura sintática e lexical apresentada em cada uma
delas.

Questão 5

A palavra “cabeça” pode apresentar dois sentidos, dependendo do contexto em que

O signo linguístico 25
T2

é utilizada: parte superior do corpo ou o líder do grupo, por exemplo. O mesmo


ocorre com várias outras palavras da língua portuguesa como “manga”, “linha” e
“ponto”. Como você explica esse fato, considerando os conceitos de significado
e significante?

26 O signo linguístico
T2

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu como foi produzida a obra inaugural da Linguística
Moderna, O Curso de Linguística Geral (1916), do linguista Ferdinand de Saussure.
Aprendeu também sobre o signo linguístico e suas características – a arbitrariedade
e a linearidade – e sobre como diferenciar um signo artificial de um signo natural.
Também observou que as diferenças entre as línguas são decorrentes das diferentes
maneiras que cada povo tem de categorizar a realidade que o cerca. Estudou
ainda as diferenças entre a língua e a fala e como esta pode refletir características
individuais ou de grupos, caracterizando uma variedade linguística.

O signo linguístico 27
T2

28 O signo linguístico
T2

REFERÊNCIAS

BIZZOCCHI, Aldo. O fantástico mundo da linguagem. Disponível em: <http://www.


aldobizzocchi.com.br/artigo5.asp>. Acesso em: 01 out. 2014.

CASTILHO, Ataliba de. Programa do Jô. São Paulo: TV Globo, 7 jun. 2013. Entrevista
a Jô Soares. Disponível em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-
jo/v/linguista-ataliba-castilho-lanca-livro/1568806/>. Acesso em: 01 out. 2014.
Tempo: 22:23.

CUNHA, Rodrigo. Resenha do filme A guerra do fogo. Disponível em: <http://www.


comciencia.br/resenhas/guerradofogo.htm>. Acesso em: 01 out. 2014.

FERDINAND DE SAUSSURE: BREVE VIDA E OBRA. São Paulo: TV Cultura. Disponível


em: <http://www.youtube.com/watch?v=WiURWRFcQsc>. Acesso em: 01 out.
2014.

GUERRA do Fogo, A (La Guerre du feu). Direção: Jean-Jacques Annaud. Roteiro de


Gérard Brach & J.H. Hosny. Interpretação de Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron
Perlman, Nameer El Kadi. França/Canadá, 1981. 1 DVD (100 min).

LOPES, Célia Regina dos Santos. Nós e a gente no português falado culto no Brasil.
DELTA, São Paulo, v. 14, n. 2, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000200006&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 01 out. 2014.

POSSENTI, Sírio. Língua, que bicho é esse? São Paulo: 2011. Entrevistadora: Lívia
Perozim. Carta Capital, São Paulo, 3 jun. 2011. Disponível em: <http://www.
cartacapital.com.br/carta-fundamental/lingua-que-bicho-e-esse>. Acesso em: 01
out. 2014.

ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. São Paulo: Salamandra,
1976.

SALGADO, Solyany Soares. Ciência Linguística: da origem saussuriana ao percurso


sociolinguístico. Revista Espaço Acadêmico, v. 9, n. 100, set. 2009. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/7110>.
Acesso em: 01 out. 2014.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 16.ed. São Paulo: Cultrix,
1991.

O signo linguístico 29
T2

GLOSSÁRIO

Arbitrariedade: característica do signo linguístico que mostra que ele não é


motivado, isto é, que não há relação necessária entre o som e o sentido, não há
nada no significante que lembre o significado.

Estruturalismo: modalidade de pensar e um método de análise praticado


nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades, que
consiste em construir modelos explicativos da realidade, chamados “estruturas”.
Metodologicamente, analisa sistemas em grande escala examinando as relações
e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros,
variando das línguas humanas e práticas culturais aos contos folclóricos e textos
literários.

Índices: diz-se dos signos naturais, que, como o próprio adjetivo indica, são
relativos a fenômenos que ocorrem na natureza e que não têm relação com a
cultura, isto é, com uma convenção. A fumaça, a nuvem escura e a febre são
exemplos de índices ou signos naturais.

Linearidade: característica do signo linguístico que remete ao fato de os sons e as


letras que o compõem serem lineares, ou seja, se desenvolverem de acordo com
uma organização, conforme o passar do tempo.

Signo linguístico: combinação entre a palavra escrita ou falada e o conceito


(relação entre conceito e uma imagem acústica). É resultado de uma convenção
social, uma vez que os signos representam aspectos da realidade.

Sociolinguística: estudo científico da língua em sua relação com os fatores


externos a ela, tais como o contexto histórico e social, a faixa etária, a profissão de
seus falantes, o gênero.

Variações: em Linguística, são as possíveis variações que uma língua pode


apresentar em todos os níveis – fonológico, morfológico, sintático e semântico –
em função de fatores externos a ela, tais como o tempo, a idade, a classe social, a
profissão, o gênero, a profissão e a região em que se vive.

30 O signo linguístico
Tema 3

Linguagem humana e
comunicação animal

POR DENTRO DO TEMA

Você já deve ter assistido a documentários no Discovery Channel ou National


Geographic e visto várias espécies de animais – desde insetos a grandes mamíferos,
como elefantes e baleias – se comunicarem. Será que essa comunicação pode ser
considerada uma língua como a que nós, seres humanos, utilizamos?

Karl von Frisch, professor alemão de zoologia da Universidade de Munique, estudou


as abelhas por 30 anos e descreveu o processo de comunicação desses insetos.
Publicou, em 1959, um estudo mostrando que elas tinham um modo de se comunicar,
sobretudo quando descobriam uma fonte de alimento. Ele observou que as abelhas
dispunham de dois códigos para indicar às outras abelhas a distância e a direção do
alimento: uma dança circular e uma dança em forma de oito. A primeira indica que o
alimento encontra-se a uma distância máxima de 100 metros. O pesquisador observou
que quanto menor era a distância, mais rápido as abelhas dançavam e quanto maior
a distância, o ritmo diminuía. Já a dança do oito, chamada de “dança do ventre”, é
realizada quando a fonte de alimento está a mais de 100 metros e, por isso, indica a
direção, por meio do ângulo que o local da descoberta forma com o sol. Veja a Figura
3.1 da dança das abelhas:

Figura 3.1 Comunicação das abelhas.


T3

Assim, você pode se perguntar: se a abelha é capaz de compreender uma


mensagem com muitos dados, “memorizar” local e distância e produzir conteúdos
significativos por meio de símbolos convencionais – tipos de dança – isso significa que
ela se comunica por meio de uma língua? Pode-se chamar o modo de comunicação
das abelhas e o de outros animais de língua ou sistema linguístico? Não.

Apesar das semelhanças com a linguagem humana – tais como produção e


compreensão de uma mensagem, capacidade de simbolizar, utilização por uma
“comunidade” –, esse modo de comunicação não é uma língua. O linguista francês
Emile Benveniste submeteu o sistema de comunicação das abelhas a um estudo
crítico, em seu célebre texto Comunicação animal e linguagem humana (2005) e
concluiu que:

1. A mensagem da abelha é unilateral, isto é, não é dialógica, pois não provoca


uma resposta, apenas um comportamento.

2. A transmissão da mensagem às outras abelhas da colmeia só ocorre se a


abelha tiver tido a experiência de ter chegado à fonte de alimento.

3. O conteúdo da mensagem é fixo, não varia, isto é, comunica sempre ou a


distância ou a direção do alimento.

4. A mensagem das abelhas não se deixa analisar em unidades menores,


como ocorre na língua portuguesa, por exemplo, em que decompomos
uma palavra nos sons que as constituem.

Benveniste concluiu, então, que a comunicação entre as abelhas não é uma


linguagem, mas um código de sinais.

Propriedades Diferenciadoras das Línguas Naturais

Você sabe quais são as características que fazem do nosso sistema de


comunicação uma língua ou um sistema linguístico? Veja a seguir:

1. Intencionalidade clara e definida: há sempre um propósito no que dizemos,


cada ato de comunicação é orientado para um fim específico. Ao contrário das
abelhas e de outros animais, não nos comunicamos com um objetivo único.
Nossa intenção pode ser convencer, ameaçar, desafiar, elogiar, expressar emoção,
dentre tantas outras. Escolhemos as formas linguísticas e até mesmo a entonação
adequada para chegar aos nossos objetivos.

2. Produtividade/criatividade: os seres humanos podem comunicar uns aos


outros um número infinito de mensagens sobre um número indeterminado de
temas. O emissor e o receptor de uma mensagem podem codificar e decodificar
mensagens inteiramente novas, nunca produzidas ou ouvidas anteriormente. Os
animais só podem produzir um número reduzido de tipos de mensagens sobre um

32 Linguagem humana e comunicação animal


T3

número limitado de temas, que têm a ver, principalmente, com a preservação da


espécie (reprodução, proteção, alimentação).

3. Independência de estímulo: a língua humana recria e classifica a realidade


ou a experiência construindo representações sobre as quais o homem opera,
tornando-se um substituto da experiência. Os homens trocam mensagens entre
si, independentemente de terem tido ou não experiência pessoal daquilo que é
veiculado no diálogo.

Na linguagem animal, além de não haver troca de mensagens, não há


possibilidade de reação adequada a novas situações. O que ocorre é a transmissão
unilateral de uma mensagem, diretamente ligada à experiência própria (caso das
abelhas).

4. Multiplicidade de funções: a língua humana tem múltiplas funções sociais


e cognitivas. Além de veículo de comunicação, é usada também para transmitir
emoções, influenciar o comportamento dos outros, criar efeito artístico/estético,
manter o bom relacionamento social, falar da própria língua, etc. No caso das
abelhas e de outros animais, adquire-se sempre uma função relacionada à
manutenção da espécie, conforme observado no item 2.

5. Decomponibilidade das mensagens: a língua humana utiliza um número


determinado de unidades mínimas, chamados de fonemas (sons de uma
língua) e morfemas (unidades mínimas com significado), que permitem variadas
combinações para compor o sistema de comunicação de uma comunidade.
Podemos decompor os enunciados, isto é, analisá-los em dois planos: o da forma
(material) e o do conteúdo (conceito). Esse fato é conhecido como o fenômeno
da dupla articulação da linguagem. O código utilizado por animais não se deixa
analisar em unidades menores, é um todo indecomponível.

Dupla Articulação da Linguagem

Essa importante característica de toda língua existente foi descrita por André
Martinet (1978) e mostra o quanto a linguagem humana é criativa, uma vez que,
de um número finito de símbolos – os sons -, consegue criar uma infinitude de
enunciados.

Na primeira articulação, combinam-se as unidades dotadas de sentido –


chamados de morfemas – em infinitas possibilidades. Na palavra “meninos”, por
exemplo, encontramos três unidades mínimas dotadas de sentido: “menin”, cujo
sentido aponta para “criança” (em oposição a adulto); – a, morfema que indica o
gênero masculino; –s, morfema que indica plural.

Ao subdividirmos os morfemas em unidades ainda menores, chegamos à


segunda articulação, formada pelos fonemas, unidades desprovidas de sentido.

Linguagem humana e comunicação animal 33


T3

São limitados em número e formadores do sistema. Servem para fazerem distinção


entre uma palavra e outra, pois se mudarmos um som, muda-se o sentido, como
você pode perceber nos pares de palavras abaixo:

lata/bata casa/capa careta/caneta

Atenção mais uma vez para a diferença entre FONEMA e MORFEMA:

Um fonema é uma unidade mínima de SOM. Um morfema é uma unidade


mínima de SIGNIFICADO.

Por exemplo: na palavra meninos, temos 7 letras, 7 fonemas e 3 morfemas


(como visto anteriormente):

m/e/n/i/n/o/s

Já na palavra táxi, temos 4 letras, mas 5 fonemas:

t / a / k / s / i, e, dependendo do sotaque, até 6: t/a/k/i/s/i

Princípio da Economia

O fato de as línguas humanas serem organizadas em forma de enunciados que


resultam da união de elementos menores, devido ao fenômeno da dupla articulação,
deixa a língua mais “econômica”. Isso porque a existência dos morfemas evita que
seja necessário criar uma palavra nova para expressar determinado sentido. Existem
línguas como o chinês, por exemplo, que, para cada noção – gênero, número,
grau – utiliza-se uma palavra diferente. Já em português, como já vimos, existem
“partículas” ou “elementos mínimos com significado” que expressam essas noções
juntando-se a uma palavra existente. Esse fato resulta no princípio da economia,
em que se emprega menos esforço para a transmissão de mais informação. É a
velha máxima: “menos é mais”.

Para esclarecer como funciona na prática esse princípio, pense nos pares “cavalo
e égua”, “homem e mulher”, “ovelha e carneiro”, em que temos dois vocábulos
distintos para indicar o masculino e o feminino. Caso toda a língua portuguesa
funcionasse assim, seria muito difícil memorizarmos todos os pares desse tipo. É
muito mais prático e mais “econômico”, acrescentar o morfema o a um radical,
quando se quer indicar seu masculino, e o morfema a, para o feminino, como em:

menin-o ou menin-a

34 Linguagem humana e comunicação animal


T3

ACOMPANHE NA WEB

Linguagem Humana e “Linguagem” Animal

Leia o artigo Linguagem humana e “linguagem” animal, de Fernanda Mussalim.


Nele, a autora aborda o clássico estudo realizado por Émile Benveniste, em que
o linguista compara a suposta linguagem das abelhas à linguagem humana. Além
disso, ela apresenta como a Linguística define critérios de diferenciação entre uma
e outra.

Disponível em: <http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/23955.pdf>. Acesso em:


27 set. 2014.

A Psi Biológica

Leia o artigo A Psi biológica, de Daniel Hamer Roizman, no portal Ciência & Vida,
em que ele discute, dentre outros temas, o experimento de Karl von Frisch sobre
as abelhas e a crítica de Benveniste a esse respeito.

Disponível em: <http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/42/


artigo144065-3.asp>. Acesso em: 28 set. 2014.

10 Fatos Bizarros sobre a Linguagem Animal

Assista também ao vídeo sobre os 10 fatos bizarros sobre a linguagem animal e


surpreenda-se com as inusitadas maneiras de se comunicar que algumas espécies
desenvolveram.

Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=MNEK8zQySus>. Acesso em:


10 set. 2014.

Tempo: 2:06

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Linguagem humana e comunicação animal 35


T3

Questão 1

Agora que você já sabe que, apesar de os animais da mesma espécie serem
capazes de se comunicar uns com os outros, esse modo de comunicação não
pode ser considerado uma língua, tal como a criada pelos humanos, escreva sobre
duas semelhanças entre a linguagem humana e a comunicação animal e duas
características exclusivas de toda língua existente.

Questão 2

“Quando um elefante bate os pés, as vibrações criadas podem percorrer 32


quilômetros pelo solo. Eles também recebem mensagens pela sola dos pés.
Pesquisas sobre elefantes indianos e africanos identificaram uma mensagem de
alerta, uma mensagem de cumprimento e uma mensagem que diz ‘vamos lá’. Os
sons têm volume de 80 a 90 decibéis, mais altos do que qualquer grito humano.”
(Fonte: <http://ciencia.hsw.uol.com.br/animais-que-ouvem-de-longe.htm>.
Acesso em: 29 set. 2014).

O texto anterior exemplifica um modo de comunicação de um dos maiores


mamíferos – o elefante. Explique, com base no que você estudou sobre o código
utilizado pelas abelhas, por que não se pode afirmar que os elefantes possuem
uma língua.

Questão 3

Em relação aos pares de palavras a seguir, é correto afirmar que:

cola/rola pato/mato gostar/gastar

a) São exemplos da segunda articulação, pois apresentam mudança de significado


com alteração do morfema.

b) São exemplos da segunda articulação, pois apresentam mudança de significado


com a alteração do fonema.

c) São exemplos da primeira articulação, pois apresentam mudança de significado


com a alteração do fonema.

d) São exemplos da primeira articulação, pois apresentam mudança de significado


com a alteração do morfema.

Questão 4

A característica da língua humana, chamada de produtividade, tem relação com:

a) A possibilidade de decompormos os enunciados em unidades menores.

b) O fato de apresentar uma multiplicidade de funções, que vai além do simples

36 Linguagem humana e comunicação animal


T3

ato de informar.

c) O fato de toda mensagem ter uma intenção, um objetivo.

d) O fato de podermos produzir e entender mensagens nunca antes produzidas


ou ouvidas.

Questão 5

Uma língua de sinais, como a Libras – Língua Brasileira de Sinais – se utiliza de gestos,
sinais e expressões faciais e corporais, em vez de sons na comunicação. As línguas
de sinais são de aquisição visual e produção espacial e motora. Considerando
que ela é um sistema eficiente de comunicação, que características da linguagem
humana podem ser identificadas na Libras?

Linguagem humana e comunicação animal 37


T3

38 Linguagem humana e comunicação animal


T3

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu que, apesar de muitas espécies de animais serem
capazes de se comunicar para fins, principalmente, de preservação da espécie, isso
não significa que eles dominem uma linguagem como os humanos. Apesar de as
abelhas, por exemplo, serem capazes de transmitirem e entenderem uma mensagem
sobre a fonte de alimento, você aprendeu por que esse modo de comunicação
não configura um sistema linguístico. A linguagem das abelhas e de outros animais
geralmente apresenta conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação,
transmissão unilateral e enunciado que não se deixa decompor em partes menores.
Essas características se contrapõem às da linguagem humana, exclusivas de um
sistema linguístico complexo, que são: multiplicidade de funções, produtividade,
independência de estímulo, intencionalidade e dupla articulação.

Linguagem humana e comunicação animal 39


T3

40 Linguagem humana e comunicação animal


T3

REFERÊNCIAS

BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral I. 5.ed. Campinas: Pontes,


2005. MARTINET, A. Elementos de Linguística Geral. 8.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1978.

MUSSALIM, Fernanda. Linguística I. Disponível em: <http://www2.videolivraria.


com.br/pdfs/23955.pdf. Acesso em: 20 jul.2016.>. Acesso em: 27 set. 2014.

ROIZMAN, Daniel Hamer. A Psi biológica. In: Revista Psique, portal Ciência &
Vida. Disponível em: <http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/42/
artigo144065-3.asp>. Acesso em: 28 set. 2014.

RANKING PORTUGUÊS. Dez fatos bizarros sobre a linguagem animal. Disponível


em: <http://www.youtube.com/watch?v=MNEK8zQySus>. Acesso em: 10 set.
2014.

GLOSSÁRIO

Cognitivas: refere-se à cognição, ao processo de aquisição de conhecimento,


que envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a
memória, o raciocínio, etc., que fazem parte do desenvolvimento intelectual.

Dupla articulação da linguagem: característica da linguagem humana que diz


respeito ao fato de os enunciados ou frases se subdividirem em unidades menores:
morfemas e fonemas.

Princípio da economia: fenômeno linguístico que resulta do fato de podermos,


em uma língua, formar infinitos enunciados a partir de um número limitado de
elementos – os fonemas e os morfemas – sem ter que, necessariamente, formar
uma nova palavra para cada realidade/fato/objeto/situação.

Linguagem humana e comunicação animal 41


Tema 4

Funções da linguagem

POR DENTRO DO TEMA

Você já parou para pensar no porquê e no para quê falamos com as outras pessoas?
É apenas para transmitir informações? Para comunicar o que você pensa ou sabe
sobre alguma coisa? Quando você fala ou escreve para outra(s) pessoa(s), faz muito
mais do que isso. Você transmite suas impressões ou opinião sobre as coisas, ou então
tenta convencer o outro a ter este ou aquele comportamento. Dizemos coisas para
fazer contato com alguém ou utilizamos a linguagem de forma criativa e inovadora,
realizando um trabalho seja com os sons, com a forma ou o sentido das palavras por
exemplo. Isso prova que a linguagem ultrapassa o simples esquema de comunicar um
conteúdo informativo para outra pessoa. A linguagem, na verdade, apresenta várias
funções.

Esse fato foi descrito e explicado por Roman Jakobson, linguista russo que, em
1969, propôs uma ampliação dos modelos da Teoria da Informação, com o objetivo
de cuidar para que a comunicação do emissor para um receptor acontecesse
sem problemas ou ruídos. Essa abordagem deixava de lado qualquer elemento
extralinguístico como contexto sócio-histórico e cultural, ao contrário do que propôs
Jakobson, que passou a considerar como fundamentais para o estabelecimento da
comunicação:

a) Um contexto de produção da mensagem que o destinatário consiga perceber


e interpretar.

b) Um código que seja conhecido pelo remetente e pelo destinatário (incluindo os


subcódigos – variedades linguísticas ou qualquer outro código como língua de sinais
etc.).

c) Um contato ou canal físico por meio do qual a mensagem é transmitida,


e uma conexão psicológica entre remetente e destinatário que permita a troca de
informações (já que a comunicação é uma atividade cooperativa).

d) Intencionalidade do emissor e a receptividade do destinatário, que tem a ver


com aceitar a mensagem como coerente.

Jakobson propôs o seguinte esquema de comunicação:


T4

Figura 4.1 – Esquema de Comunicação

Quadro 4.1 – Funções da Linguagem

São seis as funções que serão descritas a seguir.

1. Função Emotiva

Veja o trecho da música Amor I love you de Marisa Monte:

Deixa eu dizer que te amo

Deixa eu pensar em você

Isso me acalma

Me acolhe a alma

Isso me ajuda a viver

Hoje falei com as paredes

Coisas do meu coração

44 Funções da linguagem
T4

Passei no tempo, caminhei nas horas

Mais do que passo a paixão.

O emissor, isto é, o eu que “fala” na música, expressa o que está sentindo em


relação ao receptor da mensagem. O fato de dizer que ama o destinatário da
mensagem faz bem ao emissor, e este expressa as sensações que isso lhe causa.
Essa é a função expressiva, pois o destaque é dado ao emissor, as suas experiências,
sentimentos, emoções, atitudes e impressões sobre o mundo e sobre si mesmo.
Suas principais características são:

• Verbos e pronomes em primeira pessoa.

• Presença comum de ponto de exclamação e interjeições.

• Expressão de estados de alma do emissor (subjetividade e pessoalidade).

• Presença predominante em textos líricos, autobiografias, depoimentos,


memórias.

2. Função Conativa ou Apelativa

Figura 4.2 – Propaganda de Doação de Órgãos

Fonte: <http://www.portaldapropaganda.com/comunicacao/2008/04/0047>. Acesso em: 1 out. 2014.

Na propaganda da campanha de doação de órgãos (Figura 4.2), o foco está no


destinatário da mensagem, ao qual se pretende convencer a tomar uma atitude, a
adotar determinado comportamento desejado por um emissor definido. “Faça o
mesmo com seus órgãos” e “Doe órgãos. Salve vidas” falam diretamente com o
receptor da mensagem. As principais características dessa função são:

• Verbos no imperativo, indicando ordem, pedido ou sugestão.

Funções da linguagem 45
T4

• Verbos e pronomes em segunda pessoa (você, seu, sua etc.).

• Tentativa de convencer o receptor a ter um determinado comportamento.

• Presença predominante em textos de publicidade e propaganda.

3. Função Referencial

Figura 4.3 – Portinari

Portinari: valorização do Brasil e da arte

Filho de imigrantes italianos, Cândido Portinari


nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa
fazenda de café nas proximidades de Brodósqui,
em São Paulo. Com a vocação artística
florescendo logo na infância, Portinari teve uma
educação deficiente, não completando sequer
o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma
trupe de pintores e escultores italianos que
atuava na restauração de igrejas passa pela
região de Brodósqui e recruta Portinari como
ajudante. Seria o primeiro grande indício do
talento do pintor brasileiro. (Fonte: <http://
www.terra.com.br/diversao/portinari/biografia.
htm>. Acesso em: 1 out. 2015.

A função referencial ou denotativa está presente em vários tipos de texto.


Ocorre quando o destaque é dado ao referente, ou seja, a algo do qual se fala, ao
tema, ao assunto, que pode ser um acontecimento, uma pessoa, um sentimento.
Não é o “eu” quem fala, não é para o “tu” que se fala, mas é “dele” ou “dela”, “disso”
ou “daquilo” que se fala; um terceiro elemento que não é nem o eu nem o você
(ou tu), mas o referente, situado fora da situação imediata de comunicação.

As principais características desse tipo de texto são:

• Escrito em 3ª pessoa.

• Objetividade: linguagem direta, precisa, denotativa.

• Clareza nas ideias.

• Finalidade: traduzir a realidade, tal como ela é.

46 Funções da linguagem
T4

• Presença predominante em textos informativos, jornalísticos, textos


didáticos, científicos; mapas, gráficos, legendas, recursos representativos,
enciclopédias, guias turísticos, revistas etc.

4. Função Metalinguística

Figura 4.4 – Tirinha (Função Metalinguística)

Figura 4.5 – Aviso (Função Metalinguística)

Na tirinha (Figura 4.4), os personagens, mediante a própria tira, que funciona


como o código por meio do qual a mensagem é construída, falam desse mesmo
código: “Mais um quadro e termina a tira”. O mesmo ocorre no segundo exemplo
(Figura 4.5), em que o aviso remete a ele mesmo: “Não remova este aviso”.
Nesta função, como você acabou de perceber, o destaque é dado ao código. O
dicionário, ao definir “palavras” fazendo uso de “palavras” também é um exemplo
de função metalinguística. Também ocorre metalinguagem quando o poeta, num
texto qualquer, reflete sobre a criação poética; quando um cineasta cria um filme
tematizando o próprio cinema; quando um programa de televisão enfoca o papel
da televisão no grupo social.

5. Função Fática

“- Alô, alô, marciano. Aqui quem fala é da Terra.” (Elis Regina)

- Pois não. (Atendente de uma loja)

- Obrigado por sua ligação. Você será atendido em alguns instantes. (Gravação

Funções da linguagem 47
T4

de telemarketing)

- Oi, tudo bem?

- Tudo joia, e você?

- Tudo bem!

Figura 4.6 – Tirinha (Função Fática)

Fonte: <http://lizpublicity.blogspot.com.br/2011/04/funcoes-da-linguagem.html>. Acesso em: 1 out. 2015.

Você percebeu o que há de comum nos exemplos anteriores? São utilizadas


expressões para começar uma conversa, ou seja, abrir o canal de comunicação,
elemento posto em destaque nessa função. O interesse do emissor ao emitir
a mensagem é testar o canal, podendo ter como objetivo prolongar ou não o
contato com o receptor, testar a eficiência do canal, ou ainda fechá-lo, como faz
um professor ao concluir uma aula, por exemplo, ao dizer “por hoje é só, pessoal”
ou “até a próxima semana”. As chamadas dos canais de TV entre sua programação
e os comerciais também têm a função de chamar o telespectador de volta,
apresentando uma vinheta cujo som é facilmente reconhecido, como o famoso
“plim-plim” da Rede Globo.

6. Função Poética
Figura 4.7 – Andorinha Matreira

Fonte: Andorinha matreira, de Gilberto de Almeida. Disponível em: <http://poemassempressa.blogspot.com.br/2012/04/


andorinha-matreira.html>. Acesso em: 1 out. 2014.)

48 Funções da linguagem
T4

Figura 4.8 - Publicidade

Fonte: <http://desenblogue.com/>. Acesso em: 1 out. 2014.

Você percebeu como a linguagem é trabalhada nos exemplos anteriores? É


feito um trabalho criativo quanto à forma da língua, o significante. No primeiro
exemplo, além de o poema sobre a andorinha estar escrito no formato desse
pássaro, ele também apresenta duas cores, como é típico da espécie. No nível
do conteúdo, o poeta Gilberto de Almeida faz o leitor visualizar o voo de uma
andorinha, e no nível fonológico, no trabalho com os sons da língua, ele marca o
ritmo do bater de asas, utilizando principalmente a repetição dos sons vocálicos “e”
e “a”, recurso este conhecido como assonância.

No segundo exemplo, o emissor da mensagem aproveita-se da semelhança


entre as palavras “casar” e “Quasar” e faz um trocadilho, “Quer Quasar comigo”,
fazendo um uso inesperado da palavra, à semelhança da surpresa que representa
para a namorada um pedido de casamento.

Nos dois casos, vimos como a própria mensagem é posta em destaque, pelo modo
como foi organizada ou estruturada, revelando recursos imaginativos criados pelo
emissor. É uma função afetiva, sugestiva, conotativa – de vários sentidos, e, portanto,
metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações com outras, sua forma.

Não se deixe enganar pelo nome desta função – poética – pois ela é encontrada
também em textos literários, provérbios, slogans, ditos populares, propagandas,
músicas. Logo, não se trata de uma função exclusivamente encontrada em poesias.

As funções da linguagem podem ser encontradas em todos os gêneros textuais.


Em uma entrevista, por exemplo, podem aparecer as funções referencial, emotiva
e apelativa; em uma música, podem aparecer a referencial, a emotiva, a apelativa
e a poética. Alguns gêneros propiciam o aparecimento de uma ou outra, mas não
há exclusividade. O depoimento ou diário pessoal será marcado pela emotiva; um
texto em um livro didático de história, por exemplo, terá a função referencial como
o foco.

Funções da linguagem 49
T4

ACOMPANHE NA WEB

Exercícios com Gabarito de Português - Funções de Linguagem

Teste seus conhecimentos sobre as funções da linguagem resolvendo os exercícios


sobre o tema. Você pode ainda conferir seus erros e acertos, consultando o
gabarito.

Disponível em: <http://projetomedicina.com.br/site/attachments/article/619/


exercicios_portugues_redacao_funcoes_de_linguagem.pdf>. Acesso em: 11 set.
2014.

A teoria da comunicação de Jakobson: suas marcas no ensino de Língua


Portuguesa

Leia o artigo “A teoria da comunicação de Jakobson: suas marcas no ensino


de Língua Portuguesa”, de Paula Gaida Winch e Silvana Schwab Nascimento. As
autoras pesquisaram como a Teoria da Comunicação, de Roman Jakobson, está
presente nas atividades de cunho oral do livro didático de Português Projeto Radix,
do 7º ano.

Disponível em: <http://www.estudosdalinguagem.org/index.php/


estudosdalinguagem/article/view/215>. Acesso em: 5 out. 2014.

Funções da Linguagem – primeira parte

Assista ao vídeo “Palavra puxa palavra: as funções da linguagem (1ª parte)”, que
servirá para você revisar todas as funções da linguagem e seus exemplos.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=tXUA3-m7fbo>. Acesso em:


5 out. 2014.

Tempo 6:51

Funções da Linguagem – segunda parte

Assista à segunda parte do vídeo “Palavra puxa palavra: as funções da linguagem


(2ª parte)”, que fornece mais exemplos da função poética.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Y65xesFa1bk>. Acesso em: 5


out. 2014.

Tempo 2:22

50 Funções da linguagem
T4

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Como você acabou de estudar, a linguagem não se presta somente a transmitir


informações de uma pessoa a outra. Que outras funções você identifica na
linguagem que você usa em seu dia a dia? Para que você se comunica?

Questão 2

Leia com atenção o trecho da música de Marisa Monte, Amar alguém, a seguir:

Amar alguém só pode fazer bem

Não há como fazer mal a ninguém

Mesmo quando existe um outro alguém

Mesmo quando isso não convém

Amar alguém e outro alguém também

É coisa que acontece sem razão

Embora soma, causa e divisão

Amar alguém só pode fazer bem.

O tema da música é a defesa do fato de se amar alguém, mostrando que isso “só
pode fazer bem”. Não há ênfase nem no emissor, nem no receptor. Além disso, há
evidências de um trabalho com os sons vocálicos – repetição do “e” e dos nasais
“m” (bem, também, alguém, convém). Essas são características, respectivamente
das funções:

a) Metalinguística e referencial.

Funções da linguagem 51
T4

b) Poética e apelativa.

c) Referencial e poética.

d) Emotiva e fática.

Questão 3

Leia um trecho adaptado da entrevista do cantor brasileiro Seu Jorge no Programa


Roda Viva, da TV Cultura (Disponível em: <http://www.rodaviva.fapesp.br/
materia/280/entrevistados/seu_jorge_2005.htm>. Acesso em: 5 out. 2014.)

Paulo Markun: Seu Jorge, a gente passou rapidinho na


biografia, você disse que tinha a maior honra de ter tido a
educação da sua família, tinha família, tinha tudo, como é que
você foi para a rua?
Seu Jorge: Tem um fenômeno no Brasil chamado “chacina”
nas favelas do Rio de Janeiro e a minha família sofreu esse
atentado também, eu perdi um irmão com 16 anos, no dia 26
de abril de 1990, eu tinha recém-saído do exército brasileiro,
deixado o serviço militar. Nesse fatídico dia, eu tinha saído
para trabalhar, minha mãe saiu para trabalhar, o menor foi
para a escola – voltava às cinco da tarde – e encontrou o de
16 anos morto no chão. É muito comum, para quem não sabe,
não entende chacina, escuta falar, não sabe o que é [...]. E eu
tive uma situação dessa na minha vida e perdemos a nossa
casa, porque foi invadida, se apoderaram da casa. Não tinha
mais sentido, ninguém queria também mais ficar ali, porque
doía muito passar [por ali], foi a trinta e poucos metros da
minha casa o acontecido [...]. Depois do ocorrido, eu peguei o
irmão mais novo e fui para a casa de um parente, que morava
no Méier e dali, como eu era o filho mais velho, eu levei um
papo com meu tio, meu tio e meu pai falou: Agora tem a sua
mãe nessa situação, está na casa da irmã dela, seus irmãos
aqui, a despesa aumentou, as coisas estão difíceis, como
é que vai ser?” Aí eu tinha um conhecido, o Gabriel, e falei:
“Estou fazendo um negócio aí, eu estou na percussão com
um rapaz”. Ele disse: “Rapaz, você tá maluco! Neste país você
vai ser músico? Que é isso rapaz, você tá doido? Você tem
que estudar, arrumar um emprego público, a sua mãe tá nessa
situação, você tá sem emprego, você tem 20 anos, filho mais
velho, que é isso? Ainda dá para descolar uma vaga”. Aí eu falei:
“não, eu vou dar um tempo”. Aí eu descolei uma vaga numa
casa para rapazes, fiquei uns 8 meses, não tinha dinheiro para
pagar e fui parar na rua.

52 Funções da linguagem
T4

Qual a função da linguagem predominante na entrevista e quais características


você identifica relacionadas a essa função?

Questão 4

Leia atentamente o texto seguinte:

Os cães têm uma audição tão boa que conseguem ouvir


ultrassons (frequências acima de 20 mil Hz). Os comandos
de voz podem ser detectados a 8 metros de distância, na
surpreendente velocidade de 6 centésimos de segundo! Nem
mesmo os menores barulhos podem escapar de seu ouvido
aguçado: cães treinados podem achar cupins pelo som
emitido por eles. (O guia dos curiosos. Disponível em: <http://
guiadoscuriosos.com.br/categorias/2042/1/curiosidades-
caninas.html>. Acesso em: 5 out. 2013).

Predomina no texto a função da linguagem

a) Referencial, porque o texto trata de informações pontuais a respeito da habilidade


de escutar dos cachorros.

b) Conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor para que


ele adquira um cão.

d) Poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem, ao


deixar o leitor impressionado com as características dos cachorros.

e) Fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação no


início e no fim do texto.

Questão 5

No elevador, ascensorista e funcionária do prédio conversam:

- Tudo bem com você?

- Tudo. E você?

- Tudo bem!

- Ah... Até mais tarde.

- Até mais.

Ao analisar a conversa acima, você pode perceber que não se apresenta um

Funções da linguagem 53
T4

conteúdo significativo, como em outros tipos de conversa que temos com amigos
ou familiares. Esse fato é característico de uma das funções da linguagem. Diga
qual é essa função e explique que características, na conversa, levaram você a essa
conclusão.

54 Funções da linguagem
T4

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu que não utilizamos a língua apenas para transmitir
informações, mas também para várias outras finalidades, como expressar
sentimentos e emoções, influenciar outras pessoas, expor de forma objetiva
algum fato sobre pessoas, lugares ou situações, abrir, manter ou fechar o canal
de comunicação, colocar em evidência a própria linguagem que está sendo
utilizada, trabalhando-a de forma criativa. Essas funções da linguagem aparecem
diferentemente a depender do gênero textual. Algumas estão presentes em gêneros
autobiográficos, como depoimentos e diários, ou ainda em músicas e poemas,
como a função emotiva. A apelativa, por exemplo, faz-se presente, principalmente,
em gêneros publicitários e a referencial, em gêneros informativos, como jornais,
revistas, enciclopédias, livros didáticos, etc.

Funções da linguagem 55
T4

56 Funções da linguagem
T4

REFERÊNCIAS

FIORIN, José L. (org.). Introdução à Linguística. Vol 1. 2ª ed. São Paulo: Contexto,
2003.

MARTELOTTA, Mário E. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.PALAVRA


puxa palavra: as funções da linguagem (1ª parte). Disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=tXUA3-m7fbo>. Acesso em: 5 out. 2014.

PALAVRA puxa palavra: as funções da linguagem (2ª parte). Disponível em: <http://
www.youtube.com/watch?v=Y65xesFa1bk>. Acesso em: 5 out. 2014.

PROJETO Medicina. Disponível em <http://projetomedicina.com.br/site/


attachments/article/619/exercicios_portugues_redacao_funcoes_de_linguagem.
pdf>. Acesso em: 11 set. 2014.

WINCH, Paula Gaida e NASCIMENTO, Silvana Schwab. “A teoria da comunicação


de Jakobson: suas marcas no ensino de Língua Portuguesa”. In: Estudos da
Língua(gem), v. 10, n. 2 p. 219-236, dezembro de 2012. Disponível em: <http://
www.estudosdalinguagem.org/index.php/estudosdalinguagem/article/view/215>.
Acesso em 20 jul.2016.

GLOSSÁRIO

Gênero textual: forma padrão e relativamente estável de organização de um


texto (oral ou escrito), que cumpre uma função sociocomunicativa específica,
sendo responsável por organizar todas as situações que envolvem comunicação,
com conteúdo temático, estilo, forma composicional e suporte textual próprios.
Em resumo, diz respeito a todos os textos com os quais nos comunicamos em
sociedade, seja na fala ou na escrita.

Teoria da Informação: também conhecida como Teoria Matemática da


Comunicação. Surgida entre os anos 1940 e 1950, tem como base a quantidade de
informação existente em um processo comunicacional. Os pesquisadores dessa
área buscavam eliminar os eventuais problemas de transmissão da mensagem
em canais físicos, por meio da seleção, escolha e discriminação de signos para
conseguir veicular mensagens de forma econômica e precisa. Pretendiam aumentar
o rendimento informativo das mensagens, seja pelo recurso da redundância, seja
pela escolha de um código mais eficiente.

Funções da linguagem 57
Tema 5

Introdução à fonética

POR DENTRO DO TEMA

Quando se pensa em estudo dos sons de uma língua, duas palavras vêm à mente:
fonética e fonologia. Muitos as utilizam como sinônimas, mas isso é um erro, pois
designam estudos e metodologias diferentes. Tanto uma como outra investigam
como os seres humanos produzem e ouvem os sons da fala.

Conforme observam Callou e Leite (2001), à fonética cabe estudar os sons como
entidades físico-articulatórias isoladas, independentes de seu contexto, já a fonologia
preocupa-se com a função desses sons como elementos de um dado sistema
linguístico. A fonética propõe-se a descrever os sons, analisando-os de acordo com suas
particularidades articulatórias e acústicas. A fonologia estuda os sons cujas mudanças
implicam diferenças no significado de uma palavra, por exemplo, percebendo como a
posição em relação a outros sons interfere na escolha deste ou daquele. E ainda como
esses sons se combinam, se relacionam na formação de morfemas, palavras e frases.

A fonética e a fonologia, então, se distinguem, principalmente, pelo fato de a


primeira considerar os sons de uma língua independentemente das relações que
tenham com outros sons presentes em uma cadeia linguística como um morfema ou
palavra, por exemplo. A segunda considera o modo como os sons estão organizados
e distribuídos em uma palavra ou morfema de modo a produzir diferença de sentido
entre esses elementos.

Nas palavras “sábia”, “sabia” e “sabiá”, você percebe a diferença de sentido em


função da tonicidade da vogal e do contexto de aparecimento na palavra (final
de sílaba, final de palavra). Isso é o trabalho da fonologia. Já à fonética caberia
observar que são sons possíveis de descrição na língua portuguesa, os quais seriam
transcritos desta forma: [‘sabi∂], [sa’bi∂], [sabi’a].

A unidade mínima de estudo da fonética é o som da fala, conhecido também


como fone. A unidade da fonologia é o fonema, o qual começará a ser estudado
na Aula 9.

É preciso lembrar que, na escrita ortográfica, as letras nem sempre correspondem


aos sons ou fones. Na fonética, consideram-se os sons produzidos pela fala; as
T5

letras têm a ver com a convenção escrita de uma língua. Assim, palavras como
cassado e caçado, grafadas com consoantes e número de letras diferentes (a
primeira com 7 letras e a segunda com 6), apresentam o mesmo som ao serem
pronunciadas, sendo foneticamente representadas da mesma maneira: [ka’sadu],
com seis sons.

Em resumo, como você iniciará seus estudos sobre a fonética e não sobre a
fonologia, é preciso que sua definição esteja bem clara: “fonética é a ciência que
apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da
fala” (SILVA, p. 23).

O Aparelho Fonador

Você já parou para pensar como é capaz de produzir os sons emitidos ao falar?
Para produzi-los, o corpo humano não dispõe de nenhum órgão específico, mas
utiliza um conjunto de órgãos, chamado aparelho fonador. Segundo estudiosos,
somos capazes de produzir cerca de 120 sons diferentes. No entanto, ao crescer
em contato com uma determinada língua, a qual será sua língua materna, você só
vai adquirir os que fizerem parte do sistema linguístico ao qual foi exposto. No caso
do português brasileiro, temos cerca de 30 sons consonantais e 10 vogais, sem
contar as nasais. Com o tempo, na idade adulta, você adquire a chamada “surdez
fonológica”, reconhecendo apenas os sons pertencentes ao idioma materno.

Você já deve ter se perguntado: como o Figura 5.1 - Papagaio


papagaio consegue falar? Ele tem um aparelho
fonador como os humanos? O que o diferencia
de outros pássaros que, apesar de conseguirem
cantar e emitir uma multiplicidade de sons,
não são capazes de reproduzir a fala humana?

Segundo reportagem de Yuri Vasconcelos,


na revista Mundo Estranho (Disponível em:
<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/
por-que-os-papagaios-falam>. Acesso em:
10 nov. 2014), em seu habitat natural, o
papagaio usa o canto para trocar informações.
No entanto, quando em cativeiro, para
compensar a falta de comunicação, reproduz
sons domésticos e as palavras repetidas pelas
pessoas. O ornitólogo Jacques Veillard, da
Unicamp, explica que essa ave tem facilidade
para imitar nossa voz porque o som que
emite apresenta características comuns à fala Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/
serafina/1254174-papagaio-que-ouve-muito-
humana. fala-muito-ensinam-especialistas.shtml>. Acesso
em: 10 nov. 2014.

60 Introdução à fonética
T5

O papagaio teria uma capacidade mental acima da média de outras espécies


de aves, por isso ele decodifica e memoriza novos sons. Ele teria ainda núcleos
cerebrais dedicados aos sons mais complexos.

Outra característica dessa ave seria o controle da siringe, órgão equivalente


às cordas vocais humanas e presente em todos os pássaros. Isso lhe permitiria ir
além de melodiosos assobios comuns aos pássaros, emitindo sons articulados e
reconhecíveis. Além disso, a voz natural dos papagaios apresenta ainda um timbre
rico em harmônicos e modulações suaves, características comuns à fala humana.

Veja a seguir a Figura 5.2, em que aparecem todos os elementos responsáveis


pelo fato de você ser capaz de produzir sons.

Figura 5.2 – Aparelho fonador

É por meio do aparelho fonador que, além de falarmos, também mastigamos,


engolimos, respiramos e cheiramos. Fazem parte do aparelho fonador os sistemas
respiratório, fonatório e articulatório, conforme descritos no Quadro 5.1, a seguir:

Como Funciona o Aparelho Fonador

O ar sai dos pulmões, penetra na traqueia e chega à laringe, onde se modifica


ao passar pelas chamadas pregas vocais (ou cordas vocais). Quando as pregas
vocais estão aproximadas, vibram à passagem do ar, produzindo sons chamados

Introdução à fonética 61
T5

de sonoros ou vozeados. Quando as pregas vocais estão relaxadas, o ar escapa


sem essas vibrações, chamamos esses sons de surdos ou desvozeados. A Figura
5.3 a seguir mostra, respectivamente, um som surdo (pregas abertas) e outro
sonoro (pregas fechadas):

Figura 5.3 – Sons Surdo e Sonoro

Fonte: <http://portal.virtual.ufpb.br/wordpress/wp-content/uploads/2009/07/Fonetica_e_Fonologia.pdf>. Acesso em: 6 out.


2014.

O espaço que você vê na Figura 5.3, quando as pregas vocais estão abertas,
chama-se glote. Ao sair da laringe, o ar passa pela faringe, podendo sair pela boca
ou pelo nariz. Os sons que saem pela boca chamamos de “orais” e aqueles que
saem pelo nariz chamamos de “nasais”, conforme pode ser visto na Figura 5.4 a
seguir:

Figura 5.4 – Cavidade Oral e Cavidade Nasal

Fonte: <http://portal.virtual.ufpb.br/wordpress/wp-content/uploads/2009/07/Fonetica_e_Fonologia.pdf>. Acesso em: 06 out.


2014.

O som oral ocorre quando, após passar pela glote, a corrente de ar encontra o
véu palatino levantado, obstruindo a passagem de ar para a cavidade nasal. Se, no
entanto, o véu palatino estiver abaixado, o ar passa livremente para a cavidade nasal,
produzindo o tipo de som correspondente. Faça um teste: coloque suavemente

62 Introdução à fonética
T5

uma das mãos sobre o nariz e repita, alternadamente, as vogais “a” e “ã”. Se o
fizer diante de um espelho, com a boca bem aberta, poderá ver a úvula (chamada
popularmente de “campainha”, localizada ao final do céu da boca) levantar-se – na
produção do “a” oral – e abaixar-se na produção do “ã” nasal.

Os sons que passam pela cavidade bucal podem ser produzidos de várias
maneiras. A posição da língua e a posição dos lábios interferem na produção dos
sons. Sendo um órgão de grande mobilidade, a língua pode tocar o palato e os
dentes de diversas formas para modificar o som que vem da faringe.

Na cavidade vocal – boca – temos o conjunto de articuladores, partes que


compõem o sistema articulatório e modificam o modo como o ar sai. Tais
articuladores, como mostra a Figura 5.5, podem ser classificados como ativos
e passivos (Quadro 5.2). Os ativos são assim denominados por se moverem na
realização dos sons. Já os passivos, não se movimentam.

Quadro 5.2 – Articuladores

Ativos Lábio inferior, língua, palato mole


Passivos Lábio superior, dentes superiores, alvéolos, palato duro e úvula

Veja na figura a seguir todos os chamados articuladores:

Figura 5.5 – Articuladores Ativos e Passivos

Fonte: <http://portal.virtual.ufpb.br/wordpress/wp-content/uploads/2009/07/Fonetica_e_Fonologia.pdf>. Acesso em: 6 out.


2014.

No próximo tema, você estudará como são produzidos os sons consonantais,


quais os articuladores envolvidos em sua produção e como são transcritos esses
sons.

Introdução à fonética 63
T5

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Fonética e Fonologia do Português Brasileiro

O livro Fonética e Fonologia do Português Brasileiro, elaborado por Izabel Christine


Seara, Vanessa Gonzaga Nunes e Cristiane Lazzarotto-Volcão, trata-se de manual
que traz todos os temas relacionados aos estudos fonéticos e fonológicos vistos
na disciplina de Fonética e Fonologia, sendo um proveitoso auxiliar do Livro-Texto.

Disponível em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_


Fonologia.pdf>. Acesso em: 11 out. 2014.

Diferença entre fonética e fonologia

Com a leitura do artigo de Adilson Luiz Pereira de Oliveira, você poderá aprofundar
os conhecimentos sobre as diferenças entre a fonética e a fonologia.

Disponível em: <http://eadfiloloficoclassicoalpo.blogspot.com.br/2012/01/


diferenca-entre-fonetica-e-fonologia.html>. Acesso em: 11 out. 2014.

Aparelho fonador – Fonética e Fonologia

Acesse o site Fonética & Fonologia: sonoridade em artes, saúde e tecnologia. Nele,
você poderá estudar o aparelho fonador de forma dinâmica. É só passar o mouse
sobre as partes da figura e você verá a descrição de cada sistema.

Disponível em: <http://www.fonologia.org/aparelho_fonador.php>. Acesso em: 5


out. 2014.

Fonação

Assista ao vídeo “Fonação”, que mostra em detalhes o funcionamento das cordas


ou pregas vocais.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ob8wMDeipWU>. Acesso


em: 11 out. 2014.

Tempo: 08:25

Filme Minha voz, minha vida

Assista ao vídeo, baseado na pesquisa Panorama Epidemiológico sobre a voz do


professor do Brasil, realizada pelo Sindicato dos Professores de São Paulo e pelo
Centro de Estudos da Voz.

64 Introdução à fonética
T5

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=d9e4oHqtIXY>. Acesso em


11 set. 2014.

Tempo: 25:27

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Releia o início desta aula e retome as características da fonética e da fonologia.


Enumere as diferenças existentes entre elas.

Questão 2

Você estudou neste tema como podemos reconhecer um som surdo e um som
sonoro. Julgue as afirmações seguintes com “V” (verdadeiras) ou “F” (falsas):

a) ( ) Um som é considerado surdo ou desvozeado quando a glote está aberta, ou


seja, quando ocorre o afastamento das cordas vocais.

b) ( ) Um som é considerado sonoro ou vozeado quando a glote está fechada, ou


seja, quando há a aproximação das cordas vocais.

c) ( ) Um som é considerado surdo ou desvozeado quando a glote está fechada,


ou seja, quando há a aproximação das cordas vocais

d) ( ) Um som é considerado sonoro ou vozeado, quando a glote está aberta, ou


seja, quando ocorre o afastamento das cordas vocais.

Questão 3

Analise a semelhança e a diferença dos pares de palavras a seguir em relação ao


número de letras e sons, de forma semelhante ao que foi feito na primeira parte
desta aula com as palavras cassado e caçado.

“acento” e “assento”

Introdução à fonética 65
T5

“careta” e “carreta”

“cheque” e “xeque”

Questão 4

Assinale a alternativa que apresenta corretamente o número de sons das palavras


apresentadas:

a) Rainha (6 fones), excesso (4 sons), objeto (5 sons).

b) Rainha (5 fones), excesso (5 sons), objeto (6 sons).

c) Rainha (4 fones), excesso (7 sons), objeto (4 sons).

d) Rainha (5 fones), excesso (4 sons), objeto (5 sons).

Questão 5

Existem alguns pares de palavras que causam alguma dúvida no momento de


serem grafadas. É o caso de palavras como sessão, seção e cessão. Explique, do
ponto de vista fonético, o motivo dessa dificuldade.

66 Introdução à fonética
T5

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu que a fonética nos fornece instrumentos para
descrever e classificar todos os sons produzidos pelas línguas existentes. Nossa
capacidade de falar envolve não só nossa boca, mas outros sistemas que, juntos,
formam o sistema fonador, os quais são: sistema respiratório, sistema fonatório e
sistema articulatório. Aprendeu ainda como o som pode se comportar, dependendo
dos articuladores que agem sobre ele. Além disso, estudou a diferença entre as
vogais e consoantes e entre os sons orais e nasais. Na próxima aula, você aprenderá
mais sobre o sistema consonantal da língua portuguesa.

Introdução à fonética 67
T5

68 Introdução à fonética
T5

REFERÊNCIAS

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 8 ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

FONÉTICA & Fonologia: sonoridade em artes, saúde e tecnologia. Disponível em:


<http://www.fonologia.org/aparelho_fonador.php>. Acesso em: 5 out. 2014.

FONAÇÃO. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ob8wMDeipWU>.


Acesso em: 11 out. 2014.

MINHA voz, minha vida. Direção: Victor Nascimento. Brasil, 2011. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=d9e4oHqtIXY>. Acesso em 11 set. 2014.

OLIVEIRA, Adilson L. P. de. Diferença entre fonética e fonologia. Disponível em:


<http://eadfiloloficoclassicoalpo.blogspot.com.br/2012/01/diferenca-entre-
fonetica-e-fonologia.html>. Acesso em: 11 out. 2014.

SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e Fonologia do Português Brasileiro. Disponível em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/
files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.pdf>. Acesso em: 11 out. 2014.

SILVA, Thaïs Cristófaro; YEHIA, Hani Camille. Projeto Sonoridade em Artes, Saúde
e Tecnologia. Portal Fonética & Fonologia, Belo Horizonte, Faculdade de Letras,
2009. Disponível em: <http://fonologia.org>. ISBN 978-85-7758-135-1. Acesso em:
5 out. 2014.

VASCONCELOS, Yuri. “Por que os papagaios falam”. In: Mundo Estranho. Disponível
em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/por-que-os-papagaios-falam>.
Acesso em: 11 nov. 2014.

GLOSSÁRIO

Articuladores ativos: são os elementos que fazem parte do aparelho fonador, em


especial, do trato vocal, que se movimentam na produção dos sons.

Articuladores passivos: são os elementos que fazem parte do aparelho fonador,


em especial, do trato vocal, e que não se movimentam na produção dos sons.

Consoante: som cuja produção ocorre uma obstrução total ou parcial do trato
vocal.

Introdução à fonética 69
T5

Som nasal: som produzido na cavidade oral, com o véu palatino abaixado,
permitindo a passagem de ar para a cavidade nasal.

Som oral: som produzido na cavidade oral, com o véu palatino levantado,
impedindo a passagem de ar para a cavidade nasal.

Surdez fonológica: incapacidade de um indivíduo perceber, numa língua


estrangeira, os sons que não correspondem ao sistema fonológico de sua língua
materna.

Transcrição fonética: modo de representar, por meio de símbolos específicos,


encontrados no Alfabeto Fonético Internacional, os sons emitidos por qualquer
pessoa que fale qualquer língua existente. A transcrição fonética é feita entre
colchetes: “[ ]”.

Vogal: som cuja produção não ocorre obstrução e o ar passa pela cavidade oral
ou nasal livremente.

70 Introdução à fonética
Tema 6

O sistema consonantal da
língua portuguesa

POR DENTRO DO TEMA

Os sons básicos que compõem qualquer língua, também chamados de fones,


subdividem-se basicamente em três grupos: consoantes, vogais e semivogais. Os
primeiros são produzidos com a ocorrência de algum tipo de interferência – total
ou parcial – de algum articulador do trato vocal. Já as vogais são sons produzidos
livremente, pois não sofrem qualquer interferência ao passarem pela cavidade oral.

Na classificação dos sons consonantais, utilizam-se dois conceitos: ponto e modo


de articulação. Quando dois articuladores entram em contato, temos um ponto de
articulação. Na produção da consoante “l” em “lápis”, por exemplo, a ponta ou ápice
da língua se move até os alvéolos. Essa consoante, então, é classificada como alveolar,
quanto ao ponto ou lugar de articulação.

O modo de articulação designa os diferentes graus de fechamento da cavidade


oral e as maneiras pelas quais o ar nela modificado escoa pela boca. Ainda
considerando-se a produção da consoante “l”, quanto ao modo de articulação,
chama-se lateral, pois quando a língua toca o alvéolo, ocorre uma obstrução na
linha central do trato vocal, fazendo com que o ar seja expelido lateralmente em
ambos os lados da língua. Assim, a consoante “l” é classificada como lateral alveolar.

Quanto ao modo de articulação (adaptado de Silva [2012, p. 33-34]), temos:

a) Oclusiva ou plosiva: o fluxo de ar encontra uma interrupção total, seja pelo


fechamento dos lábios, seja pela pressão da língua sob a arcada dentária ou sob o
palato duro etc. Exemplos: pote, bola, toca, dedo, copa, gota.

b) Fricativa: há um estreitamento da passagem do ar, que resulta em um ruído


semelhante ao de uma fricção. Exemplos: foca, vela, sola, capa, faz, zelo, tacha,
jogo, rato, morro.

c) Africada: na realização dessas consoantes, o som é obstruído completamente,


e, quando se dá a soltura dessa obstrução, ocorre uma fricção decorrente da
T6

passagem central da corrente de ar, como ocorre nas fricativas. Exemplos: tia, dia,
chá, já. As consoantes t e d são africadas, quando seguidas da vogal i em alguns
dialetos, como o carioca e o paulista. Em outras regiões como o Sul e Nordeste do
Brasil, os sons consonantais “t” e “d”, seguidos da vogal i são oclusivos.

d) Nasal: som em que os articuladores produzem uma obstrução completa,


pelo abaixamento do véu palatino, fazendo com que o ar parte saia pelas fossas
nasais. Exemplos: mala, neve, ganha.

e) Lateral: a língua, ao tocar os alvéolos, obstrui a passagem do ar nas vias


superiores, mas permite que o ar passe através das paredes laterais da boca.
Exemplos: leite, bolha.

f) Vibrante: caracteriza-se pelo movimento vibratório e rápido da língua,


provocando, assim, breves interrupções na corrente de ar. Exemplos: rato, arreio.
Esse som é típico de algumas regiões do Sul, em falantes descendentes de italianos,
e ocorre também no espanhol ou castelhano.

g) Tepe: ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza por apenas uma batida


da ponta da língua nos alvéolos. Exemplos: encontros consonantais em palavras
como “prato”, “fraco”, e em outras como caro, arara.

h) Retroflexa: caracteriza-se pelo levantamento e encurvamento da ponta


da língua em direção ao palato duro. É o “erre” encontrado comumente no falar
de algumas comunidades de São Paulo, do Paraná e também de Minas Gerais, e
no chamado “dialeto caipira”. Exemplos: verde, porta. Também é encontrado na
variedade norte-americana do inglês, em palavras como world, person, understand.

Quanto ao ponto ou lugar de articulação (adaptado de Silva [2012, p. 32]),


temos:

a) Bilabial: o som é produzido pela junção do lábio superior com o inferior.


Exemplos: mato, pato.

b) Labiodental: o som é produzido pela aproximação do lábio inferior e a arcada


dentária superior. Exemplos: faca, vaca.

c) Dental/alveolar: os sons são produzidos pelo toque da ponta ou da lâmina da


língua na parte de trás dos dentes superiores (dentais) ou nos alvéolos (alveolares).
Exemplos: tatu, dedo, leite, navio, saúde, zelo.

d) Palato-alveolar/alveopalatal: são os sons produzidos com a lâmina da


língua contra a parte anterior do palato duro, logo depois dos alvéolos. Exemplos:
tia, dia, chá, já. As consoantes t e d são alveopalatais, quando seguidas da vogal i
em alguns dialetos, como o carioca e o paulista. Em outras regiões como o Sul e
Nordeste do Brasil, os sons de t e d são dentais ou alveolares.

72 O sistema consonantal da língua portuguesa


T6

e) Palatal: os sons que são produzidos com a lâmina da língua tocando o palato
duro. Exemplos: rainha, entulho.

f) Velar: os sons são produzidos pelo estreitamento da cavidade bucal, pela


aproximação do dorso da língua (parte posterior) com o véu palatino (ou palato
mole). Exemplos: comida, gota e algumas pronúncias do r, como na palavra roupa,
no dialeto carioca, por exemplo.

g) Glotal: os sons são produzidos pelos músculos ligamentais da glote. Esse


som pode ser percebido na pronúncia do r em início de palavra (ou de sílaba), no
dialeto de Belo Horizonte, por exemplo. É o mesmo som da pronúncia do “h” do
inglês, nas palavras heart, heaven. Exemplos: rota, arruda.

Tendo conhecimento sobre o modo e o ponto de articulação, podemos


descrever e classificar os sons consonantais, devendo-se utilizar o seguinte padrão:

Modo de articulação + lugar de articulação + grau de vozeamento

Veja como se faz na Tabela 6.1 a seguir:

Tabela 6.1 – Classificação dos Fonemas Consonantais do Português Brasileiro com


Exemplos e Transcrições

O sistema consonantal da língua portuguesa 73


T6

Fonte: Seara, Nunes, Lazzarotto-Volcão, 2011, p. 58-59.

O Alfabeto Fonético International (IPA – International Phonetic Alphabet)

Na Tabela 6.1 anterior, em que aparece a classificação completa dos sons


consonantais, você reparou nos símbolos à esquerda entre parênteses? Reparou
também que cada palavra está sendo representada (à direita) por meio de símbolos
diferentes dos da escrita ortográfica? Isso ocorre porque os sons e palavras estão
sendo representados foneticamente.

Para que pudessem ser transcritos todas as possíveis realizações dos sons
das línguas humanas, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (IPA). Esse
instrumento possibilita a transcrição e a leitura de qualquer som em qualquer
língua por uma pessoa treinada. É uma convenção para se escrever os sons das
línguas, independentemente da ortografia que cada uma utiliza para sua escrita
no cotidiano. Se você aprende o som que cada símbolo representa, é capaz de
transcrever foneticamente qualquer palavra que ouça em uma língua estrangeira,
mesmo que nunca a tenha aprendido.

Ele é muito importante para os linguistas que estudam línguas ágrafas, isto é,
sem sistema de escrita para representá-las. Por meio da escrita fonética, o linguista,
em contato com uma comunidade ágrafa, é capaz de, após um estudo longo e
detalhado estudo, ouvindo falantes de diferentes faixas etárias dessa língua, em
diferentes contextos, deduzir quais são os fonemas que fazem parte dessa língua,
para então propor um sistema de escrita adequado para representá-la.

74 O sistema consonantal da língua portuguesa


T6

Veja a seguir, na Tabela 6.2, os símbolos utilizados para a transcrição fonética


dos sons consonantais, presentes em qualquer língua:

Tabela 6.2 – Alfabeto Fonético Internacional

Fonte: <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/images/pulmonic.gif>. Acesso em: 1 nov. 2014.

Nos segmentos com pares de símbolos, o da esquerda é surdo ou desvozeado,


e o da direita é sonoro ou vozeado. Faça o teste para descobrir se uma consoante
é surda ou sonora. Coloque a mão direita no pescoço ou “pomo de Adão”, parte
mais protuberante nos homens. Pronuncie qualquer um dos pares: “p” e “b”; “t” e
“d”, tomando o cuidado de não acrescentar nenhuma vogal na pronúncia. Você
perceberá uma vibração ao dizer “b” e “d” e nenhuma ao produzir “p” e “t”. Isso
porque as duas primeiras são sonoras e as duas últimas surdas.

ACOMPANHE NA WEB

O ensino de fonética e fonologia no curso de Letras/Português: uma experiência


com alunos da universidade estadual do Piauí

A autora do artigo discute como se dá o ensino da disciplina fonética e fonologia da


língua portuguesa na graduação, especificamente, no curso de Letras – Português,
e faz um levantamento de quais seriam os agravantes que dificultam o processo
de ensino-aprendizagem dessa matéria tão importante para os futuros professores
de língua materna.

Link para acesso: <http://www.ileel2.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/


uploads/2014/07/volume_2_artigo_186.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2014.

O sistema consonantal da língua portuguesa 75


T6

A fonética como importante componente comunicativo para o ensino de língua


estrangeira

O artigo de Marcela Ortiz Pagoto de Souza discute o papel da pronúncia nos


métodos e abordagens de ensino de línguas ao longo dos anos e salienta a
importância de ser ensinada em sala de aula para que haja um aprendizado
satisfatório da língua estrangeira, no que diz respeito à comunicação oral.
Link para acesso: <http://www.biblionline.ufpb.br/ojs/index.php/prolingua/article/
viewFile/13414/7614>. Acesso em: 01 nov. 2014.
Convenções e Transcrição Fonética - A Pronúncia do Português Europeu
Acesse o site do Instituto Camões e aprenda sobre a pronúncia do português
europeu. Ao clicar sobre os sons consonantais e vocálicos, você escuta a palavra
em que esses sons ocorrem.
Link para acesso: <http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.
html>. Acesso em: 01 nov. 2014.
The International Phonetic Association
O site oficial do The International Phonetic Association, conhecido como IPA
(Associação Fonética Internacional, em português), é um site em inglês que
apresenta, dentre outras informações, o alfabeto fonético internacional, arquivos
de sons, download de fontes para computador para transcrição fonética etc.
Link para acesso: <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/ipachart.html>. Acesso em: 01
nov. 2014.
Interactive Phonetic chart for English Pronunciation
Assista ao vídeo “Interactive Phonetic chart for English Pronunciation”. Ao clicar nos
símbolos correspondentes, você poderá ouvir os sons da língua inglesa.
Link: <http://www.youtube.com/watch?v=0HeujZ45OZE>. Acesso em: 01 nov.
2014.
Tempo: 3:07
Sotaques - Português, Inglês, Francês, Espanhol e Árabe
Divirta-se com o vídeo de Gabriel Amaral, em que ele tenta reproduzir os sotaques
das diferentes regiões do Brasil e de outras partes do mundo.
Link: <http://www.youtube.com/watch?v=vOSYvhQkFaQ>. Acesso em: 01 nov.
2014.
Tempo: 1:57

76 O sistema consonantal da língua portuguesa


T6

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Você já aprendeu como são produzidos os sons consonantais e os sons vocálicos


em língua portuguesa. Neste tema, viu como os diferentes articuladores do trato
oral atuam na produção deste ou daquele som. Então, explique qual a diferença
básica entre o som consonantal e o som vocal?

Questão 2

Classifique as consoantes destacadas nas palavras seguintes, de acordo com o


modo de articulação:

a) Cotia:

b) Maré:

c) Alado:

d) Salto:

Questão 3

Cada língua apresenta uma escrita própria, de acordo com as convenções


estabelecidas pela comunidade que a fala. O sistema de escrita da língua
portuguesa, por exemplo, é o alfabético, pois cada letra (ou conjunto de letras)
representa um som consonantal ou vocálico. E como você já aprendeu, nem
sempre há correspondência entre som e letra. Levando essas informações em
consideração, qual a importância da criação de um alfabeto fonético?

Questão 4

Classifique as consoantes destacadas nas palavras seguintes, de acordo com o


ponto ou lugar de articulação:

a) Lobo:

b) Formiga:

O sistema consonantal da língua portuguesa 77


T6

c) Ginásio:

d) Galho:

Questão 5

Com base na tabela fonética estudada nesta aula, composta pela classificação de
todas as consoantes e com exemplos de palavras escritas foneticamente, escreva
a palavra ortográfica correspondente à transcrição fonética apresentada a seguir:

a) [‘patu]:

b) [gos’tozu]:

c) [mule’kada]:

d) [‘t∫ia]:

78 O sistema consonantal da língua portuguesa


T6

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu que existem símbolos criados com a finalidade de
transcrever qualquer som de qualquer língua, conhecido como Alfabeto Fonético
Internacional. Estudou também que a língua portuguesa tem símbolos para
representá-la e que seus sons podem ser descritos ou classificados em termos de
modo e ponto de articulação. Nossa língua tem sons nasais e orais e os articuladores
presentes no trato oral podem ou não interferir na produção dos sons.

O sistema consonantal da língua portuguesa 79


T6

80 O sistema consonantal da língua portuguesa


T6

REFERÊNCIAS

CALLOU, Dinah e LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 8ª ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

CARVALHO, Lucirene da Silva. O ensino de fonética e fonologia no curso de Letras/


Português: uma experiência com alunos da universidade estadual do Piauí. In: Anais
do SIELP, volume 2, nº 1, Uberlândia: EDUFU, 2012. Disponível em: <http://www.
ileel2.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_186.
pdf>. Acesso em: 1 nov. 2014.

ENGLISH Language Club. Interactive Phonetic chart for English Pronunciation.


Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0HeujZ45OZE>. Acesso em:
1 nov. 2014.

INSTITUTO Camões. A pronúncia do português europeu. Disponível em: <http://


cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html>. Acesso em: 1 nov.
2014.

INTERNATIONAL Phonetic Association (The), (Associação Fonética Internacional).


Disponível em: <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/ipachart.html>. Acesso em: 1
nov. 2014.

SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e fonologia do português brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível
em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.
pdf>. Acesso em: 1 nov. 2014.

SOTAQUES: português, inglês, francês, espanhol e árabe. Disponível em: <http://


www.youtube.com/watch?v=vOSYvhQkFaQ>. Acesso em: 1 nov. 2014.

SOUZA, Marcela Ortiz Pagoto. A fonética como importante componente


comunicativo para o ensino de língua estrangeira. In: Revista Prolíngua, volume 2,
nº 1, Jan./Jun. de 2009. Disponível em: <http://www.biblionline.ufpb.br/ojs/index.
php/prolingua/article/viewFile/13414/7614>. Acesso em: 1 nov. 2014.

O sistema consonantal da língua portuguesa 81


T6

GLOSSÁRIO

Alfabeto Fonético Internacional: sistema de escrita desenvolvido por foneticistas,


que apresenta uma notação padrão para a representação fonética de todas as
línguas do mundo. A maior parte de suas letras originou-se do alfabeto romano e
algumas do grego.

Articuladores ativos: são os elementos que fazem parte do aparelho fonador, em


especial, do trato vocal, que se movimentam na produção dos sons.

Articuladores passivos: são os elementos que fazem parte do aparelho fonador,


em especial, do trato vocal, que não se movimentam na produção dos sons.

Modo de articulação: diz respeito aos diferentes graus de fechamento da


cavidade orofaríngea, quando o ar passa por ela, sendo modificado pela ação dos
articuladores.

Ponto ou lugar de articulação: diz respeito ao ponto de encontro entre o


articulador passivo e o articulador ativo na produção de um som consonantal,
isto é, aos diferentes lugares na cavidade orofaríngea em que os dois articuladores
entram em contato.

Transcrição fonética: modo de representar, por meio de símbolos específicos,


encontrados no Alfabeto Fonético Internacional, os sons emitidos por qualquer
pessoa, que fale qualquer língua existente. A transcrição fonética é feita entre
colchetes: [ ].

82 O sistema consonantal da língua portuguesa


Tema 7

O sistema vocálico da língua


portuguesa

POR DENTRO DO TEMA

Desde a infância, aprendemos que em nossa língua existem cinco vogais. No


entanto, a língua oral vai além do número de letras utilizado para representá-las.
Contamos com sete fonemas vocálicos, cujo comportamento depende de sua
posição em relação ao acento tônico da palavra. Ao contrário das consoantes, que
podem ser vozeadas ou desvozeadas, as vogais são sempre vozeadas.

Ao estudar as consoantes, você aprendeu a classificá-las tanto no que se refere


ao modo de articulação – como a corrente de ar passa pelo trato vocal na produção
de um som – quanto no que concerne ao ponto ou lugar de articulação, que diz
respeito aos articuladores que entram em ação na produção deste ou daquele som
consonantal e à sonoridade (vozeada ou desvozeada).

Os sons vocálicos, em termos de classificação fonética, têm parâmetros de análise


bastante distintos dos parâmetros das consoantes. O que conta para a sua descrição é
a altura, o avanço/recuo da língua e o arredondamento ou não dos lábios.

Na produção das vogais, o ar passa livremente pela cavidade oral. Os únicos


articuladores que interferem na produção desses sons, modificando-os, são a
língua e os lábios, além do véu palatino, na produção dos segmentos vocálicos
nasais. Veja a seguir a produção das vogais orais e nasais (Figura 7.1):

Figura 7.1 Produção de vogal oral e nasal

Fonte: Seara; Nunes; Lazzarotto-Volcão (2011, p. 26).


T7

A corrente de ar passa só pela boca (orais) ou simultaneamente pela boca e fossas


nasais (nasais). Na transcrição de vogais nasais, basta acrescentar um til (~) ao símbolo
vocálico, como nas palavras: [ho’mã] “romã”, [‘õdSI] ou [õde] “onde”.

Além das vogais nasais, que ocorrem com o abaixamento do véu palatino, há
também as vogais que são nasalizadas em função dos contextos vizinhos. É o que
ocorre em palavras como “cama” e “cone”, nas quais o abaixamento do véu palatino
para a articulação da consoante nasal ocorre antes da completa articulação da vogal
que antecede esse segmento nasal. Assim, as vogais “a” e “o” são percebidas como
nasalizadas. “Cama” e “cone” são transcritas, respectivamente, como: [‘kãma] e [‘kõne].

Veja a seguir o Quadro 7.1, que exemplifica os parâmetros mencionados:

Quadro 7.1 Parâmetros de análise das vogais

Intervenção das Orais – pá, pelo, vivo, mó, sul


cavidades bucal e nasal Nasais – rã, tem, fim, som, fundo
Anteriores ou palatais – rir, pé, vê
Zona de articulação Médias ou centrais – átomo, ânsia
Posteriores ou velares – lomba, avô, dominó
Abertas – pá, pé, mó
Timbre Médias – ano, fêmea, ânsia, dedo
Fechadas – vi, burro, rio, rústico
Tônicas – armário, pé, mito
Intensidade
Átonas – casa, meter, povo
Fonte: elaborado pela autora.

Na palavra “armário”, já exemplificada, a segunda vogal “a” é tônica. Quando nessa


condição, ela é classificada como baixa e central. Já na palavra “casa”, o “a” no final
da palavra é átono, pronunciado com menos intensidade. É classificado, então, como
vogal média-alta central não arredondada. Na palavra “povo”, o primeiro “o” é tônico,
classificado como vogal média-alta, posterior, arredondada. Já o segundo “o” é átono,
classificado como vogal alta, posterior, não arredondada. Veja a seguir o Quadro 7.2,
ilustrativo de todas as vogais existentes, e não só as do português brasileiro:

84 O sistema vocálico da língua portuguesa


T7

Quadro 7.2 Quadro universal das vogais

Fonte: Disponível em: <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/vowels.html>. Acesso em: out. 2014. Adaptado por Seara; Nunes;
Lazzarotto-Volcão (2011, p. 35).

Vamos estudar um pouco o Quadro 7.2. No português brasileiro, com relação à


altura da língua (eixo vertical), existem quatro níveis de vogais:

Altas: aquelas em que o dorso da língua se eleva ao máximo, estreitando o trato,


mas sem produzir fricção (produção de [i] e [u]).

Média-altas: aquelas em que o dorso da língua encontra-se em uma posição


intermediária entre a posição mais alta e a mais baixa, localizando-se, no entanto, mais
próximo da posição mais alta (produção de [e] e [o]).

Média-baixas: aquelas em que o dorso da língua encontra-se em uma posição


intermediária entre a apresentada nas vogais altas e aquela mostrada para as vogais
baixas. A língua localiza-se, no entanto, em uma posição mais próxima à das vogais
baixas (produção de [ε] e [ ]).

Baixas: aquelas em que a língua se encontra na posição mais baixa no trato oral
(produção de [a] e [ ]). A abertura da boca na produção das vogais baixas é bem
mais ampla do que a apresentada para as vogais altas e médias.

Quanto à posição horizontal da língua, as vogais podem ser:

Anteriores: produzidas com a língua na direção frontal da boca. A língua se


dirige para a parte anterior do trato vocal, mais especificamente em direção aos
alvéolos, mas sem qualquer tipo de bloqueio. São as vogais [ε], [e], [i].

Centrais: produzidas com a língua em repouso, em posição mais centralizada.


Vogal [a].

Posteriores: produzidas com a língua recuando na direção posterior da boca.


O dorso da língua se movimenta para a parte posterior do trato oral na direção do

O sistema vocálico da língua portuguesa 85


T7

palato mole, sem bloqueio à passagem do ar. São as vogais [o], [ ], [u].

Quanto à posição dos lábios, elas podem ser:

• Arredondadas: os lábios inferior e superior formam um círculo.

• Não arredondadas: os lábios inferior e superior ficam em paralelo,


estreitando-se.

Veja agora o quadro fonético das vogais tônicas do português brasileiro (Quadro
7.3):

Quadro 7.3 Quadro fonético das vogais tônicas (português brasileiro)

Não arredondadas Arredondadas


Anterior Central Posterior
Alta i u
Média-alta e o
Média-baixa ɛ ɔ
Baixa a
Fonte: elaborado pela autora.

Para entender melhor esta classificação, vejamos o caso da vogal “a”. Na


produção do “a” tônico, a língua fica em posição abaixada, como em descanso, e
não há arredondamento, só uma grande abertura dos lábios. Por isso, ela é central.
Já na produção do “i” tônico, levantamos suavemente a parte anterior, isto é, a
frente da língua, em direção ao céu da boca, sem arredondamento. Por isso ela é
alta, anterior, não arredondada.

Pronuncie o “i” e o “u” alternadamente. Você reparou que no primeiro som a


ponta da língua se eleva e se projeta para frente? Já na emissão do segundo som,
a língua recua e sua parte mais posterior, mais interna, se eleva? Isso ocorre porque
o “u” é uma vogal alta, posterior, arredondada.

No Quadro 7.3, as vogais, cujos símbolos fonéticos são [a], [e], [ε], [i], [o], [ ],
[u], correspondem às vogais tônicas a, e, é, i, o, ó, u, respectivamente. Os demais
símbolos correspondem às vogais átonas, que, nas palavras, ocorrem em sílabas
anteriores ou posteriores à sílaba tônica1.

Várias palavras da língua portuguesa têm o seu sentido alterado com a simples

1
Acesse o site Fonética & Fonologia (Disponível em: <http://www.fonologia.org/fonetica_vogais.php>.
Acesso em: out. 2014), escute os sons vocálicos e veja os símbolos correspondentes a cada um dos
sons que você estudou nos quadros apresentados.

86 O sistema vocálico da língua portuguesa


T7

mudança da vogal. Ainda que a pronúncia delas possa coincidir, você deve tomar
o cuidado de manter a diferença na escrita, sob pena de causar um mal entendido
por escrever algo cujo sentido não era o pretendido. Veja alguns exemplos com
as vogais “e” e “i”:

ACOMPANHE NA WEB

O Método das Vogais Cardeais e as Vogais do Português Brasileiro

Leia o artigo “O método das vogais cardeais e as vogais do português brasileiro”,


de Cristófaro-Silva, em que a autora defende a análise do sistema vocálico do
português brasileiro pelo método das vogais cardeais, por considerar ser este o
recurso mais adequado para descrever os segmentos vocálicos das línguas naturais.

Disponível em : <http://www.projetoaspa.org/cristofaro/publicacao/pdf/originais/
artigos/vogais_cardeais> Acesso em: 13 set. 2014.

Uma Investigação dos Efeitos do Ensino Explícito da Pronúncia na Aula de Inglês


como Língua Estrangeira

Leia o artigo “Uma investigação dos efeitos do ensino explícito da pronúncia na aula
de inglês como língua estrangeira”, de Ronaldo Mangueira Lima Júnior. O estudo
investigou os efeitos e a durabilidade do ensino explícito da pronúncia em aulas de
inglês como língua estrangeira. Os resultados indicaram, entre outras conclusões,
que há efeitos positivos na instrução explícita da pronúncia e que esses efeitos são
duráveis.

Disponível em : <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982010000300013&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 13 set. 2014.

Fonética & Fonologia: Sonoridade em Artes, Saúde e Tecnologia

Acesse o site “Fonética & Fonologia: sonoridade em artes, saúde e tecnologia”,


de autoria de Thaïs Cristófaro-Silva e Hani Camille Yehia. Nele você encontrará
informações e exercícios sobre fonética articulatória, fonética acústica, fonologia
da língua portuguesa e de outros idiomas. O site oferece uma ótima maneira de
estudar os sons, sua pronúncia e escrita fonética.

Disponível em : <http://www.fonologia.org/fonetica_vogais.php> Acesso em: 13


set. 2014.

O sistema vocálico da língua portuguesa 87


T7

Summer Institute of Linguistics

Acesse o site “Summer Institute of Linguistics”, da instituição de pesquisa que se


dedica ao estudo de línguas, principalmente ágrafas, com vistas à construção de
gramáticas, à tradução, ao treinamento e ao desenvolvimento de materiais de
ensino, atendendo a comunidades linguísticas em todo o mundo.

Disponível em : <http://www.sil.org/> Acesso em: 13 set. 2014.

Torcida das Vogais

Dê muita risada e aprenda mais sobre as vogais com a Torcida das Vogais, uma
entrevista muito engraçada com três humoristas do grupo Barbixas no Programa
do Jô Soares.

Disponível em : <http://www.youtube.com/watch?v=bpni4sMYQoM> Acesso em:


13 set. 2014.

Tempo: 3:11.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Agora que você já estudou as consoantes e as vogais da língua portuguesa, suas


características e classificação, explique com mais detalhes quais são as diferenças
entre elas.

Questão 2

Escreva o símbolo fonético correspondente à descrição do segmento vocálico:


Descrição Símbolo fonético
Vogal alta anterior não arredondada oral
Vogal média-alta posterior arredondada oral
Vogal baixa central não arredondada oral
Vogal média-baixa posterior arredondada oral
Vogal média-alta anterior não arredondada oral

88 O sistema vocálico da língua portuguesa


T7

Questão 3

Explique, com suas próprias palavras, o critério de classificação da altura da língua


na produção de sons vocálicos.

Questão 4

Das alternativas a seguir, apenas uma contém palavras em que todas as vogais são
anteriores. Assinale-a:

a) Feliz, civil, chiclete.

b) Código, viver, colega.

c) Ler, colega, agora.

d) Gostar, chiclete, civil.

Questão 5

Explique, com suas próprias palavras, o critério de classificação da direção da


língua na produção de sons vocálicos.

O sistema vocálico da língua portuguesa 89


T7

90 O sistema vocálico da língua portuguesa


T7

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu as diferenças existentes entre os sons consonantais


e os sons vocálicos e, em especial, os parâmetros de classificação destes últimos,
que, ao contrário dos primeiros, não apresentam obstáculos para a passagem do
ar no trato vocal. Além disso, você viu que a língua e os lábios funcionam como
articuladores do ar que passa pela cavidade oral. Assim como as consoantes, há
vogais produzidas também de forma nasalizada, quando acompanhadas de um
som consonantal nasal como o “m” e o “n”. Além disso, as vogais podem ser tônicas
ou átonas, abertas ou fechadas, mas não podem ser desvozeadas, pois sempre são
sonoras, produzidas com a vibração das pregas vocais.

O sistema vocálico da língua portuguesa 91


T7

92 O sistema vocálico da língua portuguesa


T7

REFERÊNCIAS

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 8. ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. O método das vogais cardeais e as vogais do português


brasileiro. In: Revista de Estudos da Linguagem, Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, v. 8, n. 2, jul./dez. 1999. Disponível em: <http://www.
projetoaspa.org/cristofaro/publicacao/pdf/originais/artigos/vogais_cardeais>.
Acesso em: 26 out. 2014.

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs; YEHIA, Hani Camille. Fonética & Fonologia: Sonoridade


em Artes, Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: UFMG; Faculdade de Letras, 2008.
Disponível em: <http:fonologia.org>. Acesso em: 13 set. 2014.

LIMA JUNIOR, Ronaldo Mangueira. Uma investigação dos efeitos do ensino explícito
da pronúncia na aula de inglês como língua estrangeira. In: Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 10, n. 3, 2010. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982010000300013&ln
g=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 set. 2014.

SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e fonologia do português brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível
em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.
pdf>. Acesso em: 11 out. 2014.

SIL. Summer Institute of Linguistics. 2014. Disponível em: <http://www.sil.org/>.


Acesso em: 26 out. 2014.

VÍDEO. Os Barbixas - Torcida das vogais. YouTube. 2010. Disponível em: <http://
www.youtube.com/watch?v=bpni4sMYQoM>. Acesso em: 11 out. 2014.

GLOSSÁRIO

Transcrição fonética: modo de representar, por meio de símbolos específicos


encontrados no Alfabeto Fonético Internacional, os sons emitidos por qualquer
pessoa que fale qualquer língua existente. A transcrição fonética é feita entre
colchetes “[ ]” e a sílaba tônica é marcada com o apóstrofo (‘).

Vogal átona: vogal pronunciada com menor intensidade, realizada de maneira fraca.

O sistema vocálico da língua portuguesa 93


T7

Vogal tônica: vogal pronunciada com maior intensidade, realizada de maneira


plena.

94 O sistema vocálico da língua portuguesa


Tema 8

Ditongos crescentes e
decrescentes

POR DENTRO DO TEMA

Conforme você já estudou, o sistema vocálico da língua portuguesa conta com


sete sons tônicos, representados pelos símbolos [a], [e], [E], [i], [o], [ ], [u]. No entanto,
em uma palavra com mais de uma sílaba, por exemplo, ocorrem outras vogais, não
tônicas, em sílabas anteriores ou posteriores àquela em que a vogal tônica apareceu.
São as vogais átonas. Veja a seguir o quadro universal das vogais (Quadro 8.1) e
identifique os sons vocálicos tônicos presentes na língua portuguesa, que você já
estudou:

Quadro 8.1 Quadro universal das vogais

Fonte: Disponível em: <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/vowels.html>. Acesso em: out. 2014. Adaptado por Seara; Nunes;
Lazzarotto-Volcão (2011, p. 35)

Além destes, destacamos aqueles que podem aparecer em posição pretônica,


conforme Quadro 8.2 a seguir:
T8

Quadro 8.2 Vogais em posição pretônica

Anterior Central Posterior


Altas i u
Médias e o
Baixas a
Fonte: elaborado pela autora.

Nas palavras “cobalto”, “veloz” e “picada”, a vogal “o” (da sílaba “co”), a vogal “e” e
a vogal “i” estão em posição pretônica, isto é, aparecem em sílaba anterior à sílaba
tônica. Na transcrição fonética, ficariam: [ko’bawtU], [ve’l s] e [pi’cad«].

Devido à diversidade de pronúncias no português brasileiro, em alguns dialetos


da região nordeste do Brasil, por exemplo, podem ocorrer, em posição pretônica,
os segmentos [ε] e [ ], como nas palavras:

verdade: [vεh’dadI].

colado: [kç’ladU].

Pode haver, ainda, a elevação das vogais médias como “o” e “e”, que de média-
altas passam a altas, em palavras como “tomate” e “destino”, cuja transcrição,
respectivamente, seria: [tu’matSI] e [dis’tSinU].

Na transcrição dessas palavras, você reparou na vogal da última sílaba? Elas


são diferentes de todas as que você estudou até agora, não é? São as chamadas
postônicas, pois aparecem em sílaba posterior à sílaba tônica. Elas perdem
muito de sua força articulatória, que é “roubada” pela vogal tônica que apareceu
anteriormente, e são pronunciadas de forma bem fraca e menos tensa. Silva (2012,
p. 72) chama de segmento frouxo ou lax esse tipo de som mais fraco que ocorre no
contexto de postonicidade. Os segmentos fortes e tensos, como o som vocálico
da sílaba tônica, são chamados de tensos pela autora.

Veja essa distinção nos pares de palavras “saci” e “safari”, por exemplo. Na
primeira, a vogal “i” é tensa, sendo assim transcrita: [sa’si]. Na segunda, a vogal “i”
é frouxa, ou lax, sendo assim transcrita: [sa’faI]. Veja agora o Quadro 8.3 com as
vogais em posição postônica:

Quadro 8.3 Vogais em posição postônica

Anterior Central Posterior


Altas I 
Média-baixa 

Fonte: elaborado pela autora.

96 Ditongos crescentes e decrescentes


T8

Geralmente, na região sudeste do Brasil, palavras cuja escrita termine com a vogal
átona “o” ou “e” tendem, na fala, a ser pronunciadas com “o” e “i” frouxos. Veja como fica
a transcrição das palavras “estudo” e “verdade”, respectivamente: [es’tudU], [veR’dadZI]. A
vogal “a” em posição átona final ocorre, por exemplo, na palavra “menina”: [me’nin´].

Os Ditongos

Quando em uma palavra há a ocorrência de duas vogais em uma mesma sílaba,


como pode ser visto nas palavras estou, andei e raiva, dá-se o nome de ditongo.
Existem duas possibilidades de sequência desse fenômeno vocálico:

1. vogal + semivogal: roupa, andei.

Neste caso, as vogais [o] e [e] são tônicas. Seus respectivos pares [] e [I] são
átonos ou segmentos frouxos, portanto, são semivogais. Ditongos com essa
estrutura são chamados de decrescentes, pois vão do mais forte para o mais fraco.

2. semivogal + vogal: dia, quase.

Neste caso, ocorre o contrário do visto na primeira possibilidade. As semivogais


[I] e [U] ocorrem primeiro, seguidas do respectivo par tônico [a]. Ditongos com essa
estrutura são chamados de crescentes, pois vão do mais fraco para o mais forte.

As semivogais [I] e [U] podem ser transcritas também com os símbolos [j] e [w],
respectivamente, conforme se vê no Quadro 8.4:

Quadro 8.4 Ditongos crescentes e decrescentes

Fonte: Seara; Nunes; Lazzarotto-Volcão (2011, p. 43)

Você se lembra de como indicamos as vogais nasais? Basta colocar um til sobre
elas no momento da transcrição fonética, tal como aparece no Quadro 8.4. Veja
alguns exemplos:

Ditongos crescentes e decrescentes 97


T8

canto: [‘kãtU].

pensei: [‘pẽ`seR].

ainda: [a’˜id´].

Os Hiatos

Quando uma vogal constitui sozinha uma sílaba, temos um hiato. Essa vogal será,
portanto, sempre tônica. É o que ocorre em palavras como “saúva”, “saída” e “juízo”.
Pode ocorrer, também, com a vogal tônica seguida de uma consoante na mesma
sílaba, como em “faísca” e “saístes”. Em ambos os casos, serão transcritas como vogais
tônicas, como se vê a seguir:

saúva: [sa`uv´]

juízo: [Zu’izU].

faísca: [fa’isk´].

Monotongação

Outro fenômeno relacionado aos segmentos vocálicos é conhecido como


monotongação, processo pelo qual o ditongo passa a ser produzido como uma única
vogal. É o que acontece, por exemplo, na pronúncia das palavras “ouro”, “beijo” e
“cárie”, em que desaparecem as vogais “u”, “i” e “e”, respectivamente, podendo ser
assim transcritas: [‘oRU], [‘beZU], [‘kaRi]. Você percebeu que houve o apagamento da
semivogal?

De modo geral, “monotongam-se os ditongos [aI], [eI] e [o], os dois primeiros


quando diante de [], [Z] e [R], como em ‘peixe’ [‘peSI], ‘queijo’ [‘keZU] e ‘freira’ [‘fReR´ ]. Já
o ditongo [o] monotonga-se em qualquer ambiente” (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-
VOLCÃO, 2011, p. 43).

Em algumas regiões do Brasil, há dialetos nos quais ocorre o contrário da


monotongação: um segmento vocálico transforma-se em ditongo. É o caso, por
exemplo, de palavras como “nós”, “vocês”, “arroz” e “mas”. Quando a vogal é seguida
da consoante fricativa alveolar [s], esse fenômeno tende a ocorrer. A transcrição dessas
palavras, então, seria:

nós: [‘nçIs].

vocês: [vo’seIs].

arroz: [a’hoIs].

mas: [‘maIs].

98 Ditongos crescentes e decrescentes


T8

Você percebeu a semivogal [I]? Ela ocorre em todos os casos do tipo, antes do
fone [s].

Para concluir esta aula, veja a seguir o Quadro 8.5, que sintetiza os estudos
realizados até agora sobre os sons vocálicos do português brasileiro:

Quadro 8.5 Resumo dos sons vocálicos do português brasileiro

Fonte: Seara; Nunes; Lazzarotto-Volcão (2011, p. 46)

ACOMPANHE NA WEB

Fonética e Fonologia: Sonoridade em Artes, Saúde e Tecnologia

Acesse o site “Fonética e Fonologia: sonoridade em artes, saúde e tecnologia” e, na


aba Fonética Articulatória – Sons do Português – Vogais, escute os sons vocálicos
tensos e frouxos do português brasileiro estudados nesta aula.

Disponível em : <http://www.fonologia.org/fonetica_vogais.php>. Acesso em: 13 set.


2014.

Um Estudo Experimental sobre a Percepção do Contraste entre as Vogais Médias


Posteriores do Português Brasileiro

Leia o artigo “Um estudo experimental sobre a percepção do contraste entre as vogais
médias posteriores do português brasileiro”, de Daniel Márcio Rodrigues Silva e Rui
Rothe-Neves, em que os autores apresentam sua pesquisa sobre a percepção de
falantes brasileiros a respeito dos pares de vogais “o” e “u” e entre “o” e “ó”, no sentido
de causarem diferença de sentido ou não.

Ditongos crescentes e decrescentes 99


T8

Disponível em : <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44502009000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 set. 2014.

As Vogais Médias Pretônicas na Variedade do Noroeste Paulista: uma Análise


Sociolinguística

Leia o artigo “As vogais médias pretônicas na variedade do noroeste paulista: uma análise
sociolinguística”, de Márcia Cristina do Carmo e Luciani Ester Tenani, que estudam o
comportamento variável das vogais médias pretônicas na variedade do português do
noroeste paulista, considerando variáveis linguísticas e sociais na investigação.

Disponível em : <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
57942013000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 set. 2014.

Encontros Vocálicos

Assista ao vídeo “Encontros Vocálicos”, do Prof. Fábio Alves, que dá uma aula sobre
ditongos, hiatos e tritongos.

Disponível em : <http://gramaticaemvideo.com.br/?page_id=881>. Acesso em: 13


set. 2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Agora que você já sabe tudo sobre as vogais, suas características, classificação e
funcionamento quanto aos sons, responda: Qual é a diferença entre vogais tônicas
e átonas? Quais são as outras formas de chamá-las?

Questão 2

Leia a conversa a seguir entre uma mãe e seu filhinho na hora de dormir. Os
personagens falam o chamado “dialeto caipira”:

- Mãe, conta otra história pra eu drumi?

100 Ditongos crescentes e decrescentes


T8

- Mais otra? Tá bão, fio. Vô conta argo muito mió do qui uma história: um carnerinho,
dois carnerinho, treis...

- ZZZZZZZZZZ...

No processo de aprendizagem da língua escrita, muitos alunos transferem para


essa modalidade particularidades da língua falada, uma vez que, tal como são
produzidos, os sons tendem a ser transcritos em desacordo com as convenções
ortográficas. É o que ocorre no texto apresentado. Transcreva a seguir todas as
palavras cuja escrita seja uma imitação da fala.

Questão 3

Considere a conversa apresentada anteriormente (Questão 2) para responder a


esta questão:

a) Na fala da mãe, há dois casos de monotongação e um caso do fenômeno


contrário, a ditongação. Quais são essas palavras?

b) Transcreva essas palavras foneticamente.

Questão 4

Nas palavras “país” e “pais” encontramos, respectivamente:

a) Ditongo e hiato.

b) Ditongo e ditongo.

c) Hiato e ditongo.

d) Hiato e Hiato.

Questão 5

Assinale a alternativa cujas palavras contenham apenas ditongos crescentes:

a) Estacionamento, área.

b) Saída, paulista.

c) Europa, saia.

d) Água, estou.

Ditongos crescentes e decrescentes 101


T8

102 Ditongos crescentes e decrescentes


T8

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu a diferenciar os sons tônicos dos sons átonos, além de
ter aprendido o nome desses tipos de segmentos – tensos e frouxos, respectivamente.
Compreendeu que o encontro de duas vogais em uma mesma sílaba pode ser chamado
de ditongo crescente ou decrescente. Você viu ainda que os ditongos, de acordo com
a pronúncia de determinada região, podem se transformar em monotongos e vice-
versa. Já os hiatos apresentam duas vogais com tonicidade tensa, ao contrário dos
ditongos, em que uma vogal é tensa e a outra é frouxa.

Ditongos crescentes e decrescentes 103


T8

104 Ditongos crescentes e decrescentes


T8

REFERÊNCIAS

ALVES, Fábio. Aula 3: encontros vocálicos. Gramática em Vídeo. 2013-2014.


Disponível em: <http://gramaticaemvideo.com.br/?page_id=881>. Acesso em: 13
set. 2014.

CARMO, Márcia Cristina do; TENANI, Luciani Ester. As vogais médias pretônicas
na variedade do noroeste paulista: uma análise sociolinguística. In: Alfa, São José
do Rio Preto, São Paulo, v. 57, n. 2, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-57942013000200012&lng=en&nrm=i
so>. Acesso em: 13 set. 2014.

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs; YEHIA, Hani Camille. Fonética & Fonologia: Sonoridade


em Artes, Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: UFMG; Faculdade de Letras, 2008.
Disponível em: <http:fonologia.org>. Acesso em: 13 set. 2014.

SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e Fonologia do Português Brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível
em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.
pdf>. Acesso em: 11 out. 2014.

SILVA, Daniel Márcio Rodrigues; ROTHE-NEVES, Rui. Um estudo experimental


sobre a percepção do contraste entre as vogais médias posteriores do português
brasileiro. In: DELTA, São Paulo, v. 25, n. 2, 2009. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502009000200005&lng=e
n&nrm=iso>. Acesso em: 13 set. 2014.

GLOSSÁRIO

Transcrição fonética: modo de representar, por meio de símbolos específicos


encontrados no Alfabeto Fonético Internacional, os sons emitidos por qualquer
pessoa que fale qualquer língua existente. A transcrição fonética é feita entre
colchetes [ ] e a sílaba tônica é marcada com o apóstrofo (‘).

Vogal tensa: vogal pronunciada com maior intensidade, realizada de maneira


plena, também chamada de tônica.

Vogal frouxa: vogal pronunciada com menor intensidade, realizada de maneira


fraca, também chamada de átona.

Ditongos crescentes e decrescentes 105


T8

Ditongo crescente: encontro entre duas vogais na mesma sílaba, em que a


primeira é tônica e a segunda é átona.

Ditongo decrescente: encontro entre duas vogais na mesma sílaba, em que a


primeira é átona e a segunda é tônica.

Hiato: ocorrência de dois segmentos vocálicos, em que ambos são tônicos e


ocorrem em sílabas separadas.

Monotongo: processo pelo qual o ditongo passa a ser produzido como uma única
vogal, devido ao apagamento da semivogal.

106 Ditongos crescentes e decrescentes


Tema 9

Princípios e procedimentos
da fonêmica e processos
fonológicos

POR DENTRO DO TEMA

É comum fazer confusão entre fonética e fonologia e usar os dois termos como
se fossem sinônimos. Porém, são dois objetos de estudo bastante distintos. Vamos
relembrar um pouco.

A Fonética estuda os sons do ponto de vista fisiológico, descrevendo-os e


classificando-os. Por exemplo, ao descrevermos a realização de um som como o [p],
dizemos que na sua articulação não houve vibração das cordas vocais por ser este
um som surdo ou não vozeado, em que o fluxo de ar passou pela cavidade oral,
e não pela nasal, caracterizando-o como oral, e houve obstrução pelos dois lábios
e, por isso, ele é oclusivo e bilabial. Esse é o tipo de descrição a que se dedica a
fonética articulatória, que você tem estudado até então. Nesta parte de seus estudos
em Fonética e Fonologia, você aprenderá mais sobre a Fonêmica ou Fonologia.

Segundo Callou e Leite (2010), o conceito de fonema, tal como conhecido


hoje, foi formulado na década de 1930, no Círculo Linguístico de Praga, quando o
fonema passou a ter uma conceituação funcional abstrata, como unidade mínima
distintiva do sistema de som. O pai da Linguística Moderna, Ferdinand de Saussure,
implicitamente, já contemplava essa distinção ao estabelecer a dicotomia entre
língua e fala. Nesta perspectiva, o fonema é, então, uma unidade da língua,
enquanto o som ou fone é uma unidade da fala. A Fonologia está ligada, portanto,
aos sistemas e padrões que os sons possuem.

De acordo com Oliveira (2009), mesmo que as línguas do mundo compartilhem


certas propriedades básicas, é improvável haver duas que tenham o mesmo padrão
sonoro, isto é, nunca encontraremos duas línguas que tenham o mesmo inventário
de sons, a mesma ordem e que sofram os mesmos processos.

A Fonêmica ou Fonologia é o estudo sistemático dos sons que efetivamente


compõem a língua, sem se ater às suas variações. Procura encontrar as
T9

regularidades sonoras para daí abstrair o sistema de sons – a fonologia – de uma


língua, composto por aqueles elementos mínimos sonoros que fazem distinção de
sentido entre uma palavra e outra.

Você também já estudou a transcrição fonética, que “traduz” por meio de


símbolos os sons produzidos em determinada língua, independentemente de sua
função. A transcrição fonética mostra como esta ou aquela palavra é produzida
e por meio de quais sons. No estudo da fonologia ou fonêmica, o objetivo é
encontrar as unidades de sons que fazem parte do sistema linguístico da língua
em questão, isto é, a unidade significativa, que tem seu valor dado pela oposição
em relação a outra unidade, e desta em relação a outras.

Cagliari (2002, p. 24) define de forma clara e concisa o fonema: “os sons que têm
a função de formar morfemas e que, substituídos por outros ou eliminados, mudam
o significado das palavras são chamados de fonemas”. Para encontrar os fonemas
de determinada língua usa-se o teste de comutação, ou seja, de substituição de
um som pelo outro. Por meio desse teste podemos fazer um levantamento de
todos os sons de uma língua que têm a função de fonema (distintiva).

Como exemplo, vamos pensar um pouco nas palavras “tia” e “dia”. Você não tem
dificuldade em afirmar que são duas palavras distintas, com sentidos diferentes. A
diferença entre elas está nos fones iniciais: [d] e [t]. Ou seja, existe uma oposição
entre eles, uma vez que, quando um ocorre, o outro deixa de ocorrer, além de a
escolha deste ou daquele acarretar mudança de significado. Logo, pode-se afirmar
que /t/ e /d/ são dois fonemas da língua portuguesa.

No entanto, ao considerarmos as pronúncias possíveis para as duas palavras


“tia” e “dia”, teremos, foneticamente: [‘ti∂] e [‘di∂] ou [‘t∫i∂] e [‘dZi∂]. Pense um pouco:
pode-se dizer que [t] e [t∫] são fones ou fonemas da língua portuguesa? E o que
dizer de [d] e [dZ]? Como a opção pelo uso de [t∫] e [dZ] não altera o sentido da
palavra, isso significa que esses sons são variações de /t/ e /d/, estes sim, fonemas
do sistema linguístico da língua portuguesa. Os sons [t∫] e [dZ] são chamados de
alofones.

As Premissas da Fonêmica (SILVA, 2012, p. 119-125)

Em fonêmica, há alguns princípios ou premissas básicas que ajudam a


compreender o funcionamento do sistema de sons de uma língua. Essas premissas
aplicam-se a todas as línguas existentes.

A primeira delas é: “os sons tendem a ser modificados pelo ambiente em que
se encontram”. Isso quer dizer que, na produção de uma palavra, os sons que a
compõem podem sofrer algum tipo de mudança a depender dos outros sons ali
presentes, que a antecedem ou que a sucedem, o que é chamado de contexto
ou ambiente. Os ambientes mais propícios a alterações de segmentos são os

108 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

sons vizinhos (anteriores ou posteriores), as fronteiras de sílabas, os morfemas,


as palavras, as sentenças e a posição do som em relação ao acento. Veja, por
exemplo, as palavras “casca” e “vesga” a seguir, transcritas foneticamente:

[‘kask´] e [‘vezg´].

Em ambas as palavras, temos graficamente a letra “s” que, na transcrição


fonética, aparece de forma distinta em um e outro caso. Mas, por que isso
acontece? No primeiro caso, temos a ocorrência da fricativa alveolar desvozeada
[s]; no segundo, da fricativa alveolar vozeada [z]. O ambiente de ocorrência é que
modifica a qualidade do som, ou seja, em “casca” temos [k], uma oclusiva velar
desvozeada, sucedendo o [s], enquanto em “vesga” temos como ambiente uma
oclusiva velar vozeada. Essa consoante “contamina” a que lhe antecede, que de
desvozeada passa a ser vozeada. Esse é o fenômeno da assimilação, que ocorre
quando “uma propriedade articulatória própria de um segmento é compartilhada
por outro segmento adjacente” (SILVA, 2012, p. 120). Como não ocorre mudança
de significado, a transcrição fonêmica ou fonológica dessas palavras é: [‘kaska] e
[‘vesga].

Existe um modo de formalizar os contextos que acompanham os sons presentes


em uma palavra. A lacuna indica o local em que se encontra o segmento cujo
contexto deseja-se descrever. Veja o Quadro 9.1:
Quadro 9.1 Contexto dos sons vocálicos.

Fonte: elaborado pela autora.

A segunda premissa é: “os sons sonoros tendem a ser foneticamente simétricos”.


Isto significa que, a cada elemento sonoro da língua, há um correspondente sem o
traço peculiar ao primeiro, de forma a “equilibrar” tal sistema linguístico. Por exemplo,
em português temos sete fonemas vocálicos, entre os quais três são anteriores e
não arredondados [i, e, ε] e três são posteriores e arredondados [u, o, ç].

Esse fenômeno faz com que, por exemplo, exista a possibilidade de


pronunciarmos a palavra “cobrir” como [ko’bRi”] ou [‘ku’bRi”]. No segundo caso,
ocorre simetria entre as vogais [u] e [i], em correspondência no sistema vocálico,
já que ambas são altas.

A terceira premissa – “os sons tendem a flutuar” – ilustra a própria natureza


da linguagem. Silva (2012, p. 123) usa a língua indígena krenak, do Estado de

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 109


T9

Minas Gerais, para ilustrar esse princípio. Nessa língua, o parâmetro vozeamento
e desvozeamento não é significativo para produzir mudança de significado, no
caso de segmentos oclusivos. Desta forma, tanto faz produzir [‘tçn] ou [‘dçn], que
significa igualmente “feio”. Já no caso da língua portuguesa, o traço vozeado e
desvozeado causa mudança de sentido da palavra, como em [‘tçpa] e [‘dçpa]. Isso
significa que o vozeamento é fonemicamente relevante em português, mas não
na língua krenak. Enquanto na língua portuguesa temos dois símbolos para ambos
os sons, já que se trata de dois fonemas, o krenak utiliza apenas uma representação
ou símbolo fonêmico, pois se trata de um fonema apenas.

A quarta e última premissa (SILVA, 2012, p. 124) diz: “sequências características


de sons exercem pressão estrutural na interpretação fonêmica de segmentos
suspeitos ou sequências de segmentos suspeitos”. Na prática, isso quer dizer
que diante de uma língua que desconhecemos, podemos ficar em dúvida ao
classificarmos determinados segmentos. O [i] e o [u] não silábicos, isto é, que
não formam sílabas sozinhos, podem ser identificados como consoantes [j] e
[w] ou como vogais. O que definirá como deverão ser interpretados depende da
observação da maneira como esses segmentos ocorrem, incluindo a sequência de
outros segmentos e os ambientes específicos.

Assim, Pike (apud SCHAEFFER; MEIRELES, 2011) declara que em cada língua há
dois grupos principais de sons que possuem nitidamente diferentes distribuições.
As vogais constituem o grupo que é frequentemente silábico e formado por
semivogais e as consoantes formam o outro grupo, que quase sempre funciona
como não silábico e que é, em grande parte, constituído de semivogais.

Identificação de Fonemas

Quando um linguista se põe a estudar uma língua, ele faz primeiramente um


levantamento dos sons para descobrir quais, de fato, são fonemas. Além disso,
ele observa quais deles estão em “oposição fonológica”, isto é, quais sons causam
distinção de significado entre duas palavras.

Normalmente, os sons que são foneticamente semelhantes (aqueles que


compartilham maior número de características fonéticas) são mais facilmente
encontrados como variantes ou variações de um fonema; já aqueles foneticamente
muito diferentes têm alta probabilidade de ocorrerem como fonemas.

Fonemas como /s/ e /b/, por exemplo, por não possuírem nenhuma similaridade,
devem ser considerados fonemas distintos. Enquanto um é fricativo, o outro é
oclusivo; enquanto um é alveolar, o outro é bilabial; enquanto um é surdo, o outro
é sonoro. Assim, são distintos em modo, ponto e vozeamento.

Os seguintes casos são considerados sons foneticamente semelhantes (SILVA,


2002, p. 128) e, por isso, pares de sons suspeitos de apresentarem o status de um

110 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

fonema:

1. Som vozeado e seu correspondente não vozeado, como pode ser visto em:
cota e gota.

2. Sons oclusivos e sons fricativos e africados com o mesmo ponto de


articulação, como em: tapo e sapo.

3. Sons fricativos com ponto de articulação muito próximo, por exemplo: foca
e soca.

4. As nasais entre si, como em: lenha e lema, ou entre mata e nata.

5. As laterais entre si, como entre: cala e calha.

6. As vibrantes entre si, como entre: caro (tepe ou vibrante simples) e carro
(vibrante múltipla).

7. Sons laterais, vibrantes e o tepe, conforme se pode ver em: terra e tela, entre
torra e tora, ou ainda, entre tala e tara.

8. Sons com propriedades articulatórias muito próximas.

9. Sons vocálicos que se diferenciam por uma propriedade articulatória, como:


[e] e [ε], que se distinguem apenas em altura (o primeiro é alto e o segundo é
baixo), como em café e cadê.

Um par de fonemas foneticamente semelhantes constitui um par suspeito.


Para estudarmos esse par, lança-se mão do par mínimo e do par análogo, os quais
serão explicados a seguir.

Par Mínimo

Para determinar o sistema fonológico de uma língua, distinguir um fonema do


outro ou definir o número de fonemas que ela tem, lança-se mão do chamado
“par mínimo”. Mas o que é isso?

Vejamos as palavras “pato” e “bato”. Na cadeia de sons que compõem essas


palavras, em um ponto delas – no caso, o início – há mudança de som: temos o
“p” e o “b” ocorrendo em ambiente idêntico. Quando isso acontece, temos um par
mínimo, uma vez que a opção por um ou outro som determina a mudança no
significado da palavra. Podemos afirmar, então, que /p/ e /b/ são dois fonemas.

Veja no Quadro 9.2 a seguir a análise completa, com os pares mínimos, a


determinação do ambiente em que os sons suspeitos ocorrem e a constatação de
que se trata de sons diferentes, que produzem significados distintos, provando que
são fonemas da língua portuguesa.

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 111


T9

Quadro 9.2 Identificação de fonemas.

pato [‘patU] pala [‘pal´] torra [‘tçx´] lenha [‘lẽˉ´ ]


Pares mínimos
bato [‘batU] palha [‘pa¥´ ] tora [‘tçR´ ] lema [‘lẽm´]
Ambientes comuns ___ atU pa __ ´ tç __ ´ lẽ __ 
p l x 
Sons diferentes
b   m

Fonte: Seara, Nunes e Lazzarotto-Volcão (2011)

Assim, diz-se que os pares /p/ e /b/; /l/ e /¥/; /x/ e /R/; /N/ e /m/ estão em
oposição ou contraste em ambiente idêntico.

Par Análogo

Quando não é possível encontrar pares mínimos para a comparação dos sons,
recorremos ao par análogo, cujas palavras são semelhantes quanto à distribuição
dos sons nelas presentes, porém, diferenciam-se entre si não em apenas um ponto,
como no caso do par mínimo, mas em dois pontos da cadeia sonora da palavra,
como nos pares: sumir e zunir; sambar e zombar.

Os sons suspeitos encontram-se no início da palavra e, além desta diferenciação,


há outra diferença: a presença de “m” e “n”, no caso do primeiro par, e a presença
de “a” e “o”, no segundo par. Logo, como você pôde observar, a diferença ocorre
em mais de um ponto.

De qualquer maneira, pode-se perceber que os sons suspeitos [s] e [z] ocorrem
em ambientes análogos, isto é, muito semelhantes, porém, não idênticos, o que
é suficiente para considerá-los fonemas da língua, já que não há nenhum som no
ambiente que possa influenciar na ocorrência de [s] ou [z].

Processos Fonológicos

Como toda língua é dinâmica e sujeita a variações, ao se combinarem elementos


para formar palavras ou frases, uma série de mudanças pode ocorrer, seja no nível
fonético/fonológico, seja no nível morfológico e sintático. Essas alterações podem
ocorrer tanto em uma palavra, em razão do ambiente que cada fonema encontra
dentro dela, quanto pela influência de outras palavras no contexto da frase.

As mudanças pelas quais passam as palavras podem ser de acréscimo,


eliminação ou inserção de segmentos. Esse fenômeno de alteração de fones ou
de fonemas recebe o nome de processo fonológico segmental. Esses processos
podem ser percebidos tanto do ponto de vista sincrônico (num estágio da língua)
quanto do ponto de vista diacrônico (estágios sucessivos da língua).

112 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

No português brasileiro, os processos fonológicos segmentais podem ser


divididos em quatro grupos (SILVA, 2011):

1. Processos de apagamento.

2. Processos de adição.

3. Processos de transposição.

4. Processos de substituição (processos que acrescentam traços ou mudam os


já existentes).

1. Processos Fonológicos de Apagamento

O apagamento é a supressão de uma consoante, vogal, glide (ditongo), ou até


mesmo de uma sílaba inteira. Há diversos tipos de apagamento:

a) Aférese: apagamento do segmento inicial de uma palavra. Exemplos:

(i) arrancar – “rancar”.

(ii) está – “tá”.

(iii) telefone – “fone”.

b) Síncope: apagamento de segmento medial. Exemplos:

(i) para – “pra”.

(ii) maior – “mor”.

(iii) ditongos perdem a vogal átona (monotongação), como ocorre em:

ouro – [‘oRU].

queijo – [‘keZU].

Há uma tendência em ocorrer síncope em palavras proparoxítonas, as quais, na


fala coloquial, transformam-se em paroxítonas. Exemplos:

(i) chácara – “chácra”.

(ii) xícara – “xicra”.

(iii) abóbora – “abobra”.

(iv) fósforo – “fosfro”.

c) Apócope: apagamento de segmento final de uma palavra. Exemplos:

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 113


T9

(i) muito – “mui”.

(ii) freire – “frei”.

(iii) celular – “cel”.

(iii) formas infinitivas na fala, como “olhá”, em vez de “olhar”; “comê”, em vez de
comer.

Em alguns dialetos, apaga-se a consoante “d” de verbos no gerúndio, como nas


palavras:

correndo: “correno”.

indo: “ino”.

andando: “andano”.

2. Processos Fonológicos de Adição

Os processos fonológicos de adição podem ocorrer por acréscimos de


consoantes, de vogais e de glides.

a) Prótese: adição de segmento inicial. Exemplos:

(i) lembrar – “alembrar”.

(ii) levantar – “alevantar”.

b) Epêntese: adição de segmento medial. Exemplos:

(i) encontros consonantais, como em:

digno: [‘digInU].

objeto: [obI’ZεtU].

pneu: [pe’neU].

(ii) ditongação (acréscimo de vogal átona), como em:

três: [‘tReIs].

rapaz: [ha’paIs].

arroz: [a’hoIs].

(iii) verbos terminados em “ear” (passear, barbear, homenagear, manusear etc.)


recebem “i” em algumas formas do presente: Eu passeio/Tu passeias/Ele passeia.

114 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

3. Processos Fonológicos de Transposição

Na fala, pode ocorrer de um segmento sonoro trocar de posição dentro de


uma mesma palavra. Isso pode acontecer com consoantes, vogais ou elementos
suprassegmentais, como o acento tônico.

a) Transposição de consoantes ou de vogais. Recebe os nomes de: comutação,


permuta, deslocamento, metátese e hipértese. Na fala coloquial, a metátese ocorre
com frequência:

(i) lagarto: “largato”.

(ii) caderneta: “cardeneta”.

(iii) dentro: “drento”.

(iv) rubrica: “rúbrica” (u tônico).

(v) gratuito: “gratuíto” (i tônico).

4. Processos que Acrescentam Traços ou Mudam os já Existentes

Em fonologia, os traços distintivos referem-se a unidades mínimas, contrastivas,


que distinguem entre si os elementos lexicais. Uma diferença mínima entre duas
unidades da língua constitui um traço distintivo. Por exemplo, as consoantes “p” e
“b” se assemelham por serem ambas bilabiais e plosivas, mas se diferem pelo fato
de a primeira ser desvozeada e a segunda ser vozeada (CALLOU; LEITE, 2001, p. 38-
39). Essas características são relativas aos traços distintivos, que diferem um som
do outro dentro de um mesmo sistema linguístico. Há diversos tipos de alterações,
de consoantes e de vogais, que geram mudança de traços. Veja as principais delas:

a) Assimilação: um segmento adquire propriedades do segmento que está


próximo dele.

(i) Arca e carga: [‘aXka] e [‘kaFga]. Nestes exemplos, o som de “r” adquire os traços
das velares [k] e [g] presentes na sílaba seguinte, além de sofrer desvozeamento e
vozeamento, respectivamente.

O mesmo fenômeno ocorre com os fonemas /s/ e /z/, que serão surdos ou
sonoros conforme a consoante que os seguem, como em “casca” [‘kaska] e “rasga”
[‘hazga].

(ii) Diante de uma vogal, a vibrante vira tepe na fronteira entre duas palavras,
como em “mar aberto” [‘maRa’bεhto].

(iii) A harmonização vocálica: influência da altura da vogal tônica sobre a altura


da pretônica, como ocorre em “perigo” [pi’Rigo].

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 115


T9

b) Palatalização: ocorre quando um som oclusivo alveolar torna-se africado


alveolopalatal. Esse fenômeno é bastante comum no Brasil. É o caso, por exemplo,
das palavras “tia” e “dia”, que podem ser pronunciadas como [‘tia] e [‘dia] ou como
[‘tSi´] e [‘dZi´]. O fenômeno ocorre quando as consoantes [t] e [d] são seguidas de
[i] ou [I].

c) Metafonia: diz respeito à alteração no timbre da vogal tônica por influência


de uma vogal átona posterior:

(i) ovo [‘ovo] e ovos [’çvos].

(ii) devo [‘devo] e deves [‘dεves].

d) Yeísmo: diz respeito à troca de fonema consonantal por fone vocálico, como
em:

(i) telha: [‘teya].

(ii) alho: [‘ayo].

Note que nestes casos, como se trata de um som consonantal [¥] que representa
o símbolo alfabético “lh”, na transcrição fonética, apesar de ser pronunciado como
um ditongo, ele é transcrito com um símbolo consonantal como o [y], e não [I],
símbolo do correspondente átono de /i/.

e) Rotacismo: diz respeito à troca do som [l] pelo [r] em encontros consonantais
ou em final de sílaba. Tanto este processo quanto o yeísmo, visto anteriormente,
ocorrem frequentemente no chamado dialeto caipira.

(i) voltar: “vortar”.

(ii) planta: “pranta”.

(iii) soldado: “sordado”.

ACOMPANHE NA WEB

Fonologia - Uma entrevista com Leda Bisol

Leia a entrevista em que a linguista Leda Bisol, professora titular na Pontifícia


Universidade Católica do Rio Grande do Sul, discorre sobre a Fonologia: breve
histórico, principais estudiosos e perspectivas atuais de ensino e pesquisa.

Link: <http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_7_entrevista_leda_bisol.pdf>.

116 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

Fonologia - Uma entrevista com Luiz Carlos Cagliari

Leia a entrevista em que o linguista Luiz Carlos Cagliari discorre sobre a Fonética:
breve histórico, principais estudiosos e perspectivas atuais de ensino e pesquisa.

Link: <http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_7_entrevista_cagliari.pdf>.

Processos fonológicos na aquisição da linguagem pela criança

Leia o artigo “Processos fonológicos na aquisição da linguagem pela criança”, de


Gabriel de Ávila Othero, que apresenta os processos fonológicos mais comuns na
aquisição da língua portuguesa e mostra sua importância nos estudos de aquisição
da linguagem.

Link: <http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_5_processos_fonologicos.pdf>.

A relação entre processos fonológicos na escrita inicial de crianças e consciência


fonológica

Leia o artigo “A relação entre processos fonológicos na escrita inicial de crianças


e consciência fonológica”, de Claudia Camila Lara e Susie Enke Ilha. No artigo,
as autoras investigam a relação entre a consciência fonológica e a incidência de
processos fonológicos na escrita de crianças em fase de alfabetização.

Link: <http://letras.ufpel.edu.br/verbavolant/claudia_susie.pdf>.

Olimpíada Brasileira de Linguística

Visite o site da Olimpíada Brasileira de Linguística, em que você poderá testar seu
conhecimento intuitivo sobre outras línguas do mundo e realizar muitas outras
atividades sobre linguística.

Link: <http://www.obling.org/>.

Nossa Língua 15 – Casos Sujeitos a Investigação (CSI)

Assista ao vídeo “Nossa Língua 15 – Casos Sujeitos a Investigação (CSI)”, que mostra
como a palavra “muito” passou a ser pronunciada de forma nasalizada, apesar de
não ter, em sua grafia, nenhuma letra que represente essa nasalização.

Link: <http://www.youtube.com/watch?v=QCHvOCWn2dc>.

Tempo: 7:32.

Gramática pela prática - Fonologia Aula 7

Assista ao vídeo “Gramática pela prática - Fonologia Aula 7”, em que o professor
Layon Oliveira explica os ditongos orais e nasais e como eles devem ser interpretados

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 117


T9

na estrutura da palavra.

Link: <http://www.youtube.com/watch?v=K0hwe6j7iho>.

Tempo: 3:13.

Consciência fonológica é pré-requisito para escrever?

Assista ao vídeo “Consciência fonológica é pré-requisito para escrever?” da


educadora argentina Emilia Ferreiro, que defende a aplicação da teoria construtivista
à aprendizagem da escrita pela criança.

Link: <http://www.youtube.com/watch?v=B0cyJgzkB6w#t=26>.

Tempo: 8:25.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

Nesta aula, você aprendeu que existem maneiras de saber se determinado som
é uma variação (alofone) ou um fonema da língua, isto é, um som que produz
mudança de sentido. Quais são os dois procedimentos de identificação de fonemas
estudados neste tema? Defina brevemente cada um deles.

Questão 2

Assinale a alternativa cujo par de palavras seja um par mínimo:

a) Cata e fada.

b) Gameta e gaveta.

c) Abano e apanho.

d) Fava e vaca.

118 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

Questão 3

Relacione os processos fonológicos a seus respectivos exemplos:

a) Aférese. ( ) “pobrema” (problema).

b) Síncope. ( ) “adivogado” (advogado).

c) Epêntese. ( ) “cê” (você).

d) Transposição. ( ) “figo” (fígado).

e) Rotacismo. ( ) “estrupo” (estupro).

Questão 4

Leia com atenção o texto a seguir, que faz parte de uma reportagem sobre roubo
de carros em Florianópolis.

Fonte: Disponível em: <http://www.hojemais.com.br/andradina/noticia/fique-por-dentro/praca-cronada>. Acesso em: 04


nov. 2014.

a) Na manchete que acompanha a foto da placa, por que a escrita “Praca cronada”
está entre aspas?

b) O foco da crítica da reportagem ilustra qual processo fonológico?

Questão 5

O grande compositor brasileiro Adoniran Barbosa (1910-1982) retrata em suas


obras o cotidiano das camadas pobres da população urbana e as mudanças
causadas pelo progresso. Para isso, faz uso da maneira de falar dos moradores de
origem italiana de alguns bairros paulistanos, como Barra Funda e Brás. Leia com
atenção um trecho da música Saudosa Maloca (1951), em que esse falar aparece
exemplificado:

Si o senhor não tá lembrado

Dá licença de contá

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 119


T9

Que aqui onde agora está

Esse edifício arto

Era uma casa véia

Um palacete assombradado

Foi aqui seu moço

Que eu, Mato Grosso e o Joca

Construímo nossa maloca

a) Em toda a música há exemplos de vários processos fonológicos que você


estudou neste tema. Com base no trecho apresentado, identifique e transcreva
cada uma deles.

b) Agora que você já identificou as palavras, escreva, em relação a cada uma delas,
o processo fonológico ocorrido em sua produção.

120 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

FINALIZANDO

Neste tema, você relembrou as diferenças entre a fonética e a fonologia. Esta


visa ao estudo sistemático dos sons como unidades distintivas de significado e
aquela volta sua atenção para a produção, propagação e percepção dos sons,
transcrevendo-os em suas particularidades articulatórias. Aprendeu também sobre
as quatro premissas básicas da fonologia, que são princípios universais que se
aplicam a todas as línguas conhecidas. Além disso, viu como se faz a notação ou
formalização de ambientes onde os sons podem ocorrer. Outro tópico estudado
foi como identificar os fonemas de uma língua a partir de procedimentos como
par mínimo e par análogo. Você aprendeu também que na pronúncia de palavras
e frases podem ocorrer alterações, inserções ou desaparecimento de consoantes,
vogais ou sílabas e, até mesmo, mudança no acento ou no timbre de uma vogal.
Os processos fonológicos explicam como acontecem essas mudanças e podem
ser divididos em quatro grupos: processos de apagamento, processos de adição,
processos de transposição e processos de substituição.

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 121


T9

122 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

REFERÊNCIAS

BISOL, Leda. Fonologia: uma entrevista com Leda Bisol. Revista Virtual de Estudos
da Linguagem - ReVEL, v. 4, n. 7, ago. 2006. Disponível em: <http://www.revel.
inf.br/files/entrevistas/revel_7_entrevista_leda_bisol.pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com


especial atenção para o modelo fonêmico. Campinas: Mercado das Letras, 2002.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Fonética: uma entrevista com Luiz Carlos Cagliari. Revista
Virtual de Estudos da Linguagem - ReVEL, v. 4, n. 7, ago. 2006. Disponível em:
<http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_7_entrevista_cagliari.pdf>. Acesso
em: 21 set. 2014.

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 8. ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs; YEHIA, Hani Camille. Fonética & Fonologia: Sonoridade


em Artes, Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: UFMG; Faculdade de Letras, 2008.
Disponível em: <http:fonologia.org>. Acesso em: 13 set. 2014.

LARA, Cláudia Camila; ILHA, Susie Enke. A relação entre processos fonológicos
na escrita inicial de crianças e consciência fonológica. In: Verba Volant, v. 1, n.
1. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária da UFPel, 2010. Disponível em: <http://
letras.ufpel.edu.br/verbavolant/claudia_susie.pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

OLIMPÍADA Brasileira de Linguística. Disponível em: <http://www.obling.org/>.


Acesso em: 21 set. 2014.

OLIVEIRA, Demerval da H. Fonética e Fonologia. Disponível em: <http://portal.


virtual.ufpb.br/wordpress/wp-content/uploads/2009/07/Fonetica_e_Fonologia.
pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

OTHERO, Gabriel de Ávila. Processos fonológicos na aquisição da linguagem pela


criança. In: ReVEL, v. 3, n. 5, 2005. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/files/
artigos/revel_5_processos_fonologicos.pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

SCHAEFFER, S. B.; MEIRELES, A. R. Estrutura silábica da língua de imigração


pomerana: análises preliminares. In: Congresso Nacional de Estudos Linguísticos,
Brasil, set. 2011. Disponível em: <http://www.eventos.ufes.br/index.php/conel/
iconel/paper/view/216>. Acesso em: 21 set. 2014.

SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e Fonologia do Português Brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 123


T9

em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.
pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

SILVA, Fernando M. da. Processos fonológicos segmentais na língua portuguesa.


Littera Online, Depto. de Letras da Universidade Federal do Maranhão, n. 4, 2011.
Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/littera/
article/viewFile/758/475>. Acesso em: 21 set. 2014.

VÍDEO. Gramática pela Prática - Fonologia Aula 7. YouTube. 2011. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=K0hwe6j7iho>. Acesso em: 21 set. 2014.

VÍDEO. Nossa Língua 15 – CSI. YouTube. 2011. Disponível em: <http://www.


youtube.com/watch?v=QCHvOCWn2dc>. Acesso em: 21 set. 2014.

VÍDEO. Nova Escola | Emilia Ferreiro | Consciência fonológica é pré-requisito para


escrever? Nova Escola/YouTube. 2013. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=B0cyJgzkB6w#t=26>. Acesso em: 21 set. 2014.

GLOSSÁRIO

Alofone: unidade que se relaciona às diferentes possibilidades de manifestação


fonética de um fonema.

Fone: unidade sonora atestada na produção da fala, precedendo qualquer análise.


Os fones são segmentos vocálicos e consonantais encontrados na transcrição
fonética.

Fonema: unidade sonora que se distingue funcionalmente das outras unidades da


língua.

Círculo Linguístico de Praga: grupo de estudos formado por filósofos e linguistas


estudiosos da linguagem, idealizado em 1926 pelo linguista Vilém Mathesius, na
cidade de Praga (Tchecoslováquia). Teve como uma de suas principais preocupações
conceituar a fonologia enquanto ciência, diferenciando-a metodologicamente da
fonética. Entre seus principais representantes, destacam-se os linguistas russos
Nikolaj Trubetzkoy e Roman Jakobson. Foi a partir das perspectivas teóricas de
Trubetzkoy que se desenvolveram as noções relacionadas aos aspectos funcionais
empregados na distinção entre fonética e fonologia.

Par suspeito: representa um grupo de dois sons que apresentam características


fonéticas semelhantes e que devem ser caracterizados como fonemas ou como
alofones.

124 Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos


T9

Par mínimo: diz respeito ao par de palavras que têm sentidos diferentes e que
apresentam a mesma forma, exceto em um único ponto.

Par análogo: diz respeito ao par de palavras que têm sentidos diferentes e que
apresentam a mesma forma, exceto em dois pontos.

Premissa: ideia ou fato inicial de que se parte para formar um raciocínio ou um


estudo.

Glide: denominação do ditongo crescente e decrescente em fonologia.

Nasal: vogal que precede uma consoante nasal em outra sílaba pode ou não adquirir
a nasalidade, a qual não estabelece distinção de significado, como acontece com
a primeira vogal “a” que aparece nas palavras “banana” e “camelo”, por exemplo.

Princípios e procedimentos da fonêmica e processos fonológicos 125


Tema 10

Arquifonemas, glides e alofonia


vocálica

POR DENTRO DO TEMA

Fonemas e Alofones

Você já estudou quais sons são considerados suspeitos para determinarmos se o


som é um fonema ou uma variante da língua. Para realizar essa análise, aprendeu a
identificar o par mínimo e o par análogo.

Mas, o que fazer quando não encontramos nenhum desses pares? Isso indica que
os fones encontrados estão em distribuição complementar, mas, o que é isso?

No Brasil, temos duas pronúncias para as palavras “tia” e “dia”. A primeira delas pode
ser assim transcrita: [‘ti´] e [‘di´], em que as consoantes “t” e “d” são pronunciadas como
oclusivas alveolares.

Na outra pronúncia, encontrada no Estado de São Paulo, por exemplo, essas


palavras são assim transcritas: [‘tSi´] e [‘dZi´]. Neste caso, as consoantes “t” e “d” são
pronunciadas como africadas alveolopalatais.

Como o uso de [t] e [tS] e de [d] e [dZ] não altera o sentido da palavra, devemos
desconfiar do contexto em que ambos os fones ocorrem.

Vejamos outras palavras com as consoantes “t” e “d” e suas respectivas


transcrições:

“telha” [‘te¥´ ]; “tapa” [‘tap´]; “tubo” [‘tubU]; “toga” [‘tçg´].

“dado” [‘dadU]; “dedo” [‘dedU]; “duro” [‘duRU].

Em todas elas, tanto a consoante “t” quanto a consoante “d” são pronunciadas
como oclusivas alveolares. Apenas diante da vogal anterior alta não arredondada [i]
é que ocorre a mudança de som. Isso significa que o contexto é que condiciona
a mudança no fone. Dizemos, então, que esses fones estão em distribuição
T10

complementar, uma vez que ocorrem em ambientes exclusivos. Onde um ocorre,


o outro não ocorrerá. Os fones [tS] e [dZ] são, então, alofones dos fonemas /t/ e
/d/, respectivamente.

Veja a seguir o Quadro 10.1 que mostra o comportamento dos fones [tS] e [dZ]:

Quadro 10.1 Comportamento dos fones [tS] e [dZ].

Ambiente [tʃ] [dʒ]


Seguido de [i] e suas X
variantes [ĩ, I]
Nos demais ambientes X
Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 130).

Do Quadro 10.1, depreendemos que o fonema /t/, agora representado entre


barras transversais e não mais entre colchetes, apresenta dois alofones: [t] e [tS]. O
mesmo ocorre com o fonema /d/, cujos alofones são: [d] e [dZ]. Os alofones que
dependem de um contexto para ocorrer são chamados de variantes posicionais.

Podem ocorrer alofones independentes de contexto, com duas ou mais


pronúncias possíveis, sem que o ambiente esteja atuando sobre esses fones. É
o caso, por exemplo, da abertura de vogais na fala nordestina, como [kç’lεg´] e
[vε˙’dadI]. O correspondente no Sudeste seria [ko’lεgε] e [veR’dadZI], com as vogais
“o” e “e” fechadas.

Transcrição Fonológica

Você já aprendeu a fazer a transcrição fonética de consoantes e vogais do


português brasileiro. Agora, você aprenderá a fazer a transcrição fonêmica ou
fonológica. Esta última expressa o som que existe de fato na língua como fonema,
com valor de oposição, e não os alofones, que muitas vezes representam as
variações regionais de pronúncia.

Algumas palavras apresentam coincidência na transcrição fonética e na


fonológica, como “patê” [pa’te] e /pa’te/, por exemplo, mas isso nem sempre
acontece. Veja a palavra “convite”. Foneticamente, a depender da região do Brasil
onde ela for pronunciada, deverá ser assim transcrita: [kõ’vite], [kõ’vitI] e [kõ’vitSI].
Fonologicamente, apresenta apenas a seguinte forma: /koN’vite/.

Veja a seguir o Quadro 10.2, que mostra um comparativo entre ambas as


transcrições:

128 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Quadro 10.2 Comparativo entre transcrição fonética e transcrição fonológica.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 129


T10

Fonte: Seara; Nunes; Lazzarotto-Volcão (2001, p. 90-92).

130 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Arquifonemas e Glides

Você reparou no Quadro 10.2 a ocorrência de um R e de um S maiúsculos


na transcrição fonológica? Eles são assim transcritos porque são arquifonemas.
Vejamos na prática o que é isso.

Os fones [s, z, S, Z], em ambientes como início de palavra, em palavras


como sogra [‘sçgR´ ], zebra [‘zebR´ ], chave [‘avI] e jogo [‘og], ou em ambiente
intervocálico, como osso [‘osU], azedo [a’zedU], acha [‘aS´ ] e hoje [‘oZI], estão
em oposição ou contraste, pois aparecem nos mesmos contextos e produzem
mudança de significado. Portanto, são fonemas da língua.

Agora, veja as seguintes transcrições: [e’to]; [es’to] e [‘veRdZI]; [‘veFdZI]. A


primeira transcrição de cada par é relativa à fala de um carioca e a segunda à de
um paulista. São os sons típicos – de “s” e “r” – que identificam o falar carioca. Se
considerarmos também a pronúncia do chamado “r” caipira, conhecido como “r
puxado”, teríamos: [‘ve”dZI]. A transcrição fonológica dessas palavras, então, é feita
assim: /eS’tou/ e /‘veRde/.

A palavra “rasga”, por exemplo, pode ser transcrita foneticamente como


[‘hazg´] ou [‘Xazg´]. A primeira representa a fala mais comum, o “r” de “rato”, que
pronunciamos de forma “aspirada”; já a segunda representa um “r” mais forte,
típico do carioca, cujo som é produzido como se estivesse limpando a garganta.
Veja que o som do “s” ortográfico é representado pelo fone z, pois este é o som
produzido devido à ocorrência, na sílaba posterior, de uma consoante oclusiva
velar vozeada [g].

Esses exemplos mostram que a variação é livre e não dependente de contexto.


Com isso, ocorre o fenômeno da neutralização fonêmica. Aí é que entra o
arquifonema, um símbolo representativo que traz em si todas as possibilidades de
pronúncia decorrentes de uma neutralização fonêmica. Assim, “um arquifonema
expressa a perda de contraste fonêmico, ou seja, a neutralização de um ou mais
fonemas em um contexto específico” (SILVA, 2002, p. 158).

Arquifonema /S/

Silva (2002, p. 158) sintetiza o comportamento do arquifonema /S/ em


português. Veja:

a) Ocorre como [z] ou [Z] dependendo do dialeto, em limite de sílaba, seguido


por consoante vozeada (exemplos: esbarro, desvio).

b) Ocorre como [s] ou [S] dependendo do dialeto, em limite de sílaba, seguido


por consoante desvozeada, ou quando em posição final de palavra (exemplos:
pasta, asco, mês, luz).

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 131


T10

c) Ocorre como [z] em qualquer dialeto, quando um segmento inicialmente em


posição final de sílaba (como em “luz”) passa a ocupar a posição inicial de sílaba (o
primeiro segmento da segunda sílaba em “luzes”).

Em resumo, temos que o arquifonema /S/ manifesta-se foneticamente como


[s, z, S, Z] em posição final de sílaba. Por isso, na transcrição fonológica, nesse
ambiente, ele será transcrito como foi mostrado.

Arquifonema /R/

Como você constatou, o “r” também sofre variações, a depender da posição na


sílaba. Silva (2002, p. 159) resume suas ocorrências como “r fraco” e “R forte”. Só
ocorre contraste fonêmico do “r” em posição intervocálica, como exemplificado
nas palavras “caro” [‘kaRU] e “carro” [‘kahU], uma vez que o significado muda em uma
e outra ocorrência dos fones [R] e [h]. O “r” de “caro” e “arara” é o fraco; já o “r” de
“carro”, “rua” e “Israel” é o forte, e ocorre em início de sílaba.

Veja no Quadro 10.3 como Silva (2002, p. 160) resume a atuação do “r” fraco e
do arquifonema /R/:

Quadro 10.3 Ocorrências do “r” fraco e do arquifonema /R/.

Ambientes “r fraco” “R forte”


Entre vogais /’kaRo/ /’kaRo/
Seguindo consoante na /’pRato/
mesma sílaba
Início de palavra /’Rato/
Final de palavra /’maR/
Seguindo consoante em /iSRa’εl/
outra sílaba
Final de sílaba /’kaRta/

Fonte: adaptado de Silva (2002, p. 160).

O /l/ Pós-Vocálico

Ao transcrevermos foneticamente o fone [l], temos as seguintes ocorrências:

a) Início de sílaba: louva [‘loUv´], leve [‘lεvI], lisa [‘liz´].

b) Precedido de consoante na mesma sílaba: plágio [‘plaZiU], claro [‘klaRU].

c) Final de sílaba ou palavra: almoço [aw’mosU], jornal [Zo”’naw]. Neste caso,


ocorre a vocalização da consoante, isto é, ela é pronunciada como a vogal átona
“u”.

Na escrita fonológica, então, o fone [l] no contexto descrito em “c)” aparece


como /l/. Assim, tem-se: /al’moso/ e /ZoR’nal/.

132 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Glides

Você se lembra de quando estudou os ditongos e de como são formados? O


ditongo consiste no encontro entre duas vogais na mesma sílaba, sendo uma forte
(tensa) e outra fraca (frouxa). A estrutura do ditongo pode ser assim resumida: V+Sv
→ decrescente (em que V é vogal tônica e Sv é semivogal) e Sv+V → crescente.

Não houve consenso, no entanto, em relação à questão. Alguns estudiosos,


como Mattoso Câmara (SILVA, 2002, p. 170), propuseram que os encontros
vocálicos descritos, que a fonologia chama de glides, fossem interpretados como
segmentos consonantais, e não como vogais. Neste caso, palavras como “pai” e
“seu” teriam a estrutura silábica CVC (em que C é consoante e V é vogal). Logo, a
transcrição fonológica dessas palavras ficaria: /‘pay/ e /‘sew/.

Posteriormente, o próprio Mattoso Câmara reviu sua posição e, em 1970,


propôs que os glides deveriam ser considerados segmentos vocálicos, admitindo
a estrutura silábica CVV e deixando de lado aquilo que em sua abordagem anterior
seriam dois fonemas: /y/ e /w/.

Assim, em fonologia, o glide corresponde a um segmento opcional V e pode


seguir a vogal, como em “gaita”, ou pode preceder a vogal, como em “nacional”.
Teremos, então, como correspondentes dos glides, as vogais átonas “i” e “u”, ou
seja, [I, U]. As palavras “pai” e “seu”, nessa abordagem, devem ser assim transcritas:
/‘paI/ e /’seU/.

O Quadro 10.4, elaborado por Silva (2012), mostra os fonemas do português


brasileiro e seus alofones. Na transcrição fonológica, aparecerá sempre o símbolo
da esquerda; na fonética, o(s) símbolo(s) da direita.
Quadro 10.4 Fonemas e alofones do português brasileiro.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 133


T10

Fonte: Disponível em: <http://www.projetoaspa.org/cristofaro/curso/let016/cadernodeexerciciosrespostas.pdf>. Acesso em:


13 nov. 2014.

Fonemas Vocálicos e Alofonia Vocálica

Para fazermos a análise fonêmica das vogais, precisamos utilizar o mesmo


método que foi utilizado para as consoantes: identificação dos pares suspeitos
de sons foneticamente semelhantes. De acordo com Silva (2012, p. 172), como
pares devemos escolher “as vogais que se distinguem por apenas uma propriedade
articulatória”. Seguindo essa orientação, temos como pares:

Quadro 10.5 Pares: vogais distintas por apenas uma propriedade articulatória.

Propriedade Articulatória Pares


Anterior i/e
Média e/ε
Média o/ç
Posterior o/u
Central a/´
Alta i/I
Alta u/U
Fonte: elaborado pela autora.

Agora, tente encontrar pares mínimos para os pares elencados. Pense nas
palavras [‘pl´] e [‘pel´]. O uso do “e” fechado ou do “e” aberto é indiferente para
o sentido da palavra? Não é, visto que a primeira é relativa ao verbo “pelar” (tirar
a casca de), enquanto a segunda, “pela”, é uma preposição (por+a). Dessa forma,
concluímos que /e/ e /ε/ são fonemas vocálicos.

Pensemos também em outro par de palavras: [‘mç¥ U] e [‘mo¥U]. A primeira


palavra, com “o” aberto, é relativa ao verbo “molhar”; a segunda, de som fechado,

134 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

designa o substantivo “molho” (de tomate, branco etc.). Nesse caso, o uso de /o/
ou /ç/ também produz mudança de sentido, logo, são dois fonemas.

Pode-se pensar também nos pares “lira” e “lera” para os sons foneticamente
semelhantes i/e, e nos pares “morro” e “murro” para os sons o/u. Para a/´, i/I e u/U
não são encontrados pares mínimos.

Como você pronuncia, por exemplo, as palavras “pássaro” e “calibre”,


especialmente as últimas vogais? Dependendo de sua região, poderá pronunciar:

[‘pasaRo] ou [‘pasaRU]; [ka’libRe] ou [ka’libRI].

Ambos os sentidos continuam o mesmo, não é? Isso porque ocorre a variação


livre dos fonemas /o/ e /e/, os quais, quando em posição postônica, tendem a
enfraquecer, ficando frouxos.

Veja o Quadro 10.6 com os fonemas vocálicos do português brasileiro e seus


respectivos alofones, que mostram as variações possíveis, a depender do ambiente
linguístico, dos falantes, ou de ambos.

Quadro 10.6 Fonemas e alofones vocálicos do português brasileiro.

Fonte: Disponível em: <http://www.fonologia.org/quadro_fonemico.php>. Acesso em: 13 nov. 2013.

Em posição postônica, o fonema /a/ tende a ser pronunciado como [´], o


fonema /e/ como [I] e o fonema /o/ como [U], como nas palavras:

Transcrição Fonética → Transcrição Fonêmica:

pasta: [‘past´] → /’pasta/

verde: [‘ve”dZI] → /’veRde/

tudo: [‘tudU] → /’tudo/

Em posição pretônica, não haverá muita variação e a transcrição fonética das


vogais nesse ambiente será, na maioria das vezes, igual à transcrição fonêmica.
Veja:

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 135


T10

colorido: [‘kolo’RidU] → /kolo’Rido/

utilidade: [‘utSili’dadZI] → /utili’dade/

O mesmo ocorre com vogais em posição postônica medial, como nas palavras:

bêbado: [‘bebadU] → /’bebado/

acúmulo: [a’kumulU] → /a’kumulo/

Veja em detalhes a alofonia de cada uma das vogais nos quadros apresentados
a seguir (adaptados de SILVA, 2012, p. 174-179).

Alofonia de /i/

Na transcrição fonêmica da vogal “i”, ela será transcrita como /i/ nos seguintes
ambientes (Quadro 10.7):

Quadro 10.7 Alofonia de /i/.

Ambiente Transcrição fonêmica Palavra


Posição tônica /ka’ki/ caqui
Posição pretônica seguida de consoante oral /buRi’ti/ buriti
Posição postônica final /’kaki/ cáqui
Posição postônica medial /’palido/ pálido
Posição assilábica em ditongo decrescente /’peito/ peito
Posição assilábica em ditongo crescente /’saia/ saia
Posição tônica seguida de consoante nasal /m,n/ /’lima/ lima
Posição tônica seguida de consoante nasal /N/ /’lia/ linha
/fi’nuRa/ finura
Posição pretônica seguida de consoante nasal /m,n/
/pi’nεl/ pinel
Posição pretônica seguida de consoante nasal /N/ /i’Nãme/ inhame

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 174).

Na transcrição fonética, o fonema /i/ pode aparecer como os alofones [i, I, ĩ]


nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /e/

Na transcrição fonêmica da vogal “e”, ela será transcrita como /e/ nos seguintes
ambientes (Quadro 10.8):

136 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Quadro 10.8 Alofonia de /e/.

Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /vo’se/ você
Posição pretônica seguida
/be’be/ bebê
de consoante oral
Posição postônica final /’vive/ vive
Posição postônica medial /’fεRetRo/ féretro

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 175).

Na transcrição fonética, o fonema /e/ pode aparecer como os alofones [e, i, I]


nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /ε/

Quadro 10.9 Alofonia de /ε/.


Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /’pε/ pé
Posição pretônica seguida de
/pe’lε/ Pelé
consoante oral
Posição postônica medial quando /’kçlεRa/ cólera
a vogal tônica é / /’sεlεbRe/ célebre
Posição postônica medial quando /’Savεna/ chávena
a vogal tônica é diferente das
vogais médias ε/ç /ma’mifεRo/ mamífero

Posição pretônica antes de /ε’veNto/ evento


consoante não nasal /dε’baNda/ debanda
Posição tônica seguida de /’tεma/ tema
consoante nasal /m,n/ /’sεna/ cena
Posição tônica seguida de
/’lεNa/ lenha
consoante nasal //
Posição pretônica seguida de /tε’matika/ temática
consoante nasal /m,n/ /tε’naS/ tenaz
Posição pretônica seguida de
/leNa’doR/ lenhador
consoante nasal /N/

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 175-176).

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 137


T10

Na transcrição fonética, o fonema /ε/ pode aparecer como os alofones [ε, e, ẽ,


I] nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /a/

Quadro 10.10 Alofonia de /a/.


Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /’da/ dá
Posição pretônica seguida de consoante oral /pana’ma/ Panamá
Posição postônica final /’seRa/ cera
Posição postônica medial /’silaba/ sílaba
/’ama/ chama
Posição tônica seguida de consoante nasal /m,n/
/’kana/ cana
Posição tônica seguida de consoante nasal /N/ /’baNa/ banha
/iNfla’mada/ inflamada
Posição pretônica seguida de consoante nasal /m,n/
/pa’naka/ panaca
Posição pretônica seguida de consoante nasal /N/ /asa’Nada/ assanhada

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 176-177).

Na transcrição fonética, o fonema /a/ pode aparecer como os alofones [a, ´, ã]


nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /ç/

Quadro 10.11 Alofonia de /ç/.

Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /ci’pç/ cipó
Posição pretônica seguida de
/bç’bç/ bobó
consoante oral
Posição postônica medial /’εpçka/ época
quando a vogal tônica é ε/ç /’kçkçRaS/ cócoras
Posição postônica medial /’paRç ko/ pároco
quando a vogal tônica é diferente
das vogais médias ε/ç /’busçla/ bússola
Posição pretônica antes de
/Ro’zado/ rosado
consoante não nasal

138 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Posição tônica seguida de /’kçma/ coma


consoante nasal /m,n/ /’lçna/ lona
Posição tônica seguida de
/’sçNa/ sonha
consoante nasal /N/
Posição pretônica seguida de /kç’mεdia/ comédia
consoante nasal /m,n/ /sç’nata/ sonata
Posição pretônica seguida de
/sçNa’doR/ sonhador
consoante nasal /N/

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 177-178).

Na transcrição fonética, o fonema /ç/ pode aparecer como os alofones [ç, o, õ,


U] nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /o/

Quadro 10.12 Alofonia de /o/.

Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /a’vo/ avô
Posição pretônica seguida
/afo’gou/ afogou
de consoante oral
Posição postônica final /mo’¥ado/ molhado
Posição postônica medial /’ezodo/ êxodo
Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 178).

Na transcrição fonética, o fonema /o/ pode aparecer como os alofones [o, u, ]


nos diversos contextos expostos.

Alofonia de /u/

Quadro 10.13 Alofonia de /u/.

Transcrição
Ambiente Palavra
fonêmica
Posição tônica /iN’du/ hindu
Posição pretônica seguida de
/vul’gaR/ vulgar
consoante oral
Posição postônica medial /’tumulo/ tumulo

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 139


T10

Posição assilábica em ditongo


/ka’iu/ caiu
decrescente
Posição assilábica em ditongo
/’vakuo/ vácuo
crescente
Posição tônica seguida de /’umo/ humo
consoante nasal /m,n/ /’une/ une
Posição tônica seguida de
/’puNa/ punha
consoante nasal /N/
Posição pretônica seguida de /u’mano/ humano
consoante nasal /m,n/ /u’nanime/ unânime
Posição pretônica seguida de
/u’NaR/ unhar
consoante nasal /N/

Fonte: adaptado de Silva (2012, p. 179).

Na transcrição fonética, o fonema /u/ pode aparecer como os alofones [u, ũ, U]


nos diversos contextos expostos.

Arquifonema /N/

Você acabou de estudar como representar as vogais tônicas e átonas orais em


diferentes contextos. Mas, e as vogais nasais? Como representá-las na transcrição
fonológica?

Alguns estudiosos defendem que existe oposição fonêmica entre essas vogais,
isto é, alegam que a nasalidade delas implica a mudança de sentido, como nas
palavras “Roma” e “romã”, “manha” e “manhã”, por exemplo. Outros, porém, como
o célebre linguista Mattoso Câmara, defendem que as vogais orais, na verdade,
combinam-se com um arquifonema nasal /N/.

Embora foneticamente sejam transcritas como [ã, ẽ, ĩ, õ, ũ], as vogais nasais são
representadas fonemicamente como /aN/, /eN/, /iN/, /oN/, /uN/. Veja a seguir a
transcrição fonética e a fonológica, respectivamente:

andar: [ã’da”] → /aN’daR/

doendo: [do’ẽdU] → /do’eNdo/

indo: [‘ĩdU] → /’iNdo/

pomba: [‘põb´] → /’poNba/

140 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

mundo: [‘mũdU] → /’muNdo/

tom: [‘tõ] → /’toN/

vim: [‘vĩ] → /’viN/

Para as palavras terminadas com vogais nasais não seguidas das consoantes
nasais, a transcrição mantém o til, da seguinte forma:

ímã: /’imã/

manhã: /’maã/

A nasalização, como já vimos, é um fator de diferenciação de sentido de uma


palavra e, por isso, tem valor fonêmico. Se as palavras “indo”, “mundo” e “vim” não
tivessem a consoante nasal, teríamos três palavras com sentidos diferentes: “ido”,
“mudo” e “vi”.

Já a nasalidade é um fenômeno que diz respeito à pronúncia particular e


regional de palavras em que não ocorre obrigatoriamente a nasalização. Ela pode
ocorrer quando a vogal é seguida por uma consoante nasal em sílaba diferente,
como em “time”, “cama” e “senha”.

Silva (2012, p. 93), a esse respeito, ensina:

Denominamos nasalização de vogais os casos em que uma


vogal é obrigatoriamente nasal em qualquer dialeto do
português, como “lã” e “santa”. Denominamos nasalidade
os casos em que a ocorrência das vogais nasais é opcional e
marca variação dialetal, como em “fome” e “cama”.

Como transcrever as nasais presentes em “mão”, “mãe”, “muito” e “corações”?

Foneticamente, teríamos: [‘mãU], [‘mãI], [‘mũItU], [koRa’sõIs].

As vogais que seguem as nasais são átonas e formam com elas um ditongo nasal.
Mas, como representá-lo fonologicamente? Também se pode utilizar, segundo a
abordagem de Mattoso Câmara (1970 apud SILVA 2012, p. 168), o arquifonema /N/
logo após o ditongo. Veja: /’maoN/, /’maeN/, /’muiNto/, /koRa’soeNs/.

Importância do Estudo da Fonética e Fonologia para o Ensino de Língua


Materna e Língua Estrangeira

Para finalizar nossas aulas sobre a organização fonológica da língua portuguesa,


iremos discutir um pouco sobre a importância dos conhecimentos de princípios
básicos da fonética e da fonologia, tanto no ensino quanto em outras áreas.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 141


T10

Em sala de aula, principalmente na fase de alfabetização, os professores de


língua materna precisam entender como ocorre o processo de produção oral e
os elementos envolvidos nessa produção. O conhecimento do aparelho fonador,
de suas características e funções, bem como dos articuladores que influem na
produção deste ou daquele som, ajuda o professor a identificar problemas tanto
de fala quanto de escrita de seus alunos.

No processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, por exemplo,


é fundamental conhecer como funciona seu sistema fonológico, suas variantes e o
modo como seus sons são realizados. Os métodos aprendidos para identificação
de sons foneticamente semelhantes – pares mínimos e pares análogos – são
bastante úteis para as primeiras incursões em uma língua estrangeira.

O conhecimento da Fonética e da Fonologia também é de suma importância


para os profissionais da voz, os fonoaudiólogos. Segundo Silva (2012, p. 21), esse
profissional deve conhecer muito bem os aspectos articulatórios e acústicos
envolvidos na produção da fala e também ser capaz de avaliar a organização
fonológica do sistema da língua em questão. Desta forma, ele estará apto, por
exemplo, a identificar e propor tratamento para casos como gagueira ou troca de
fonemas.

O conhecimento dos processos fonológicos passíveis de ocorrer em um


sistema linguístico pode contribuir para diminuir o preconceito linguístico que
muitas pessoas apresentam em relação às diferentes pronúncias. É preciso levar
essas pessoas à compreensão de que a mudança é um fenômeno natural e que
a variação – tanto fonológica quanto em outros níveis – não deturpa uma língua,
mas mostra suas várias possibilidades no processo de comunicação.

Silva (2012, p. 22) também destaca a utilidade da fonética articulatória


na linguística forense. A fala de um indivíduo apresenta particularidades não
encontradas em nenhuma outra. Há instrumentos que podem conferir esse tipo
de “impressão digital” da fala e ajudar na identificação de pessoas envolvidas em
vários tipos de crimes.

ACOMPANHE NA WEB

Similaridades fonéticas e fonológicas: exemplos de três línguas Tupi

Leia o artigo “Similaridades fonéticas e fonológicas: exemplos de três línguas Tupi”,


de Gessiane Picanço, Fabíola Azevedo Baraúna e Alessandra Janaú de Brito. O
artigo mostra uma importante comparação do inventário fonético-fonológico das

142 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

línguas indígenas brasileiras asurini, wayampi e munduruku.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-


81222013000200004&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 26 set. 2014.

Desenvolvimento dos componentes da consciência fonológica no ensino


fundamental e correlação com nota escolar

Leia o artigo “Desenvolvimento dos componentes da consciência fonológica


no ensino fundamental e correlação com nota escolar”, de Alessandra Gotuzo
Seabra Capovilla, Natália Martins Dias e José Maria Montiel. O artigo versa sobre
a capacidade do aluno de refletir sobre a fonologia de sua língua e como isso se
reflete na aprendizagem da escrita.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-


82712007000100007&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 26 set. 2014.

A nasalidade das vogais em português

Leia o artigo “A nasalidade das vogais em português”, de José Mario Botelho, que
discute a polêmica sobre a interpretação das vogais nasais em língua portuguesa.

Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/


viewFile/4717/3480> Acesso em: 26 set. 2014.

Processos fonológicos segmentais na língua portuguesa

Leia o artigo “Processos fonológicos segmentais na língua portuguesa”, de


Fernando Moreno da Silva, que faz uma revisão da Fonética e da Fonologia com
suas particularidades, inclusive em relação à forma de transcrição em cada uma
dessas abordagens.

Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/littera/


article/viewFile/758/475> Acesso em: 26 set. 2014.

Fonética e Fonologia

Acesse o site “Fonética e Fonologia” e tente resolver alguns exercícios sobre


fonêmica. Você poderá conferir as respostas no próprio site, depois de tentar
resolvê-los.

Disponível em: <http://www.fonologia.org/arquivos/exercicios_fonemica1.pdf>


Acesso em: 26 set. 2014.

Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 4

Veja o vídeo “Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 4”, do professor Layon
Oliveira, em que ele explica as vogais nasais e sua diferença em relação às orais.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 143


T10

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Y1DyrVxftoI> Acesso em: 26


set. 2014.

Tempo: 3:17.

Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 5

Veja o vídeo “Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 5”, do professor Layon
Oliveira, em que ele explica as vogais átonas e como elas compõem as sílabas
com as tônicas.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=xhpke0EjxBM> Acesso em:


26 set. 2014.

Tempo: 03:03.

Nossa Língua 15 – Casos Sujeitos a Investigação (CSI)

Veja o vídeo “Nossa Língua 15 – Casos Sujeitos a Investigação (CSI)”, que mostra
como a palavra “muito” passou a ser pronunciada de forma nasalizada, apesar de
não ter em sua grafia nenhuma letra que represente essa nasalização.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=QCHvOCWn2dc> Acesso


em: 26 set. 2014.

Tempo: 7:23.

Gramática pela prática - Fonologia Aula 7

Veja o vídeo “Gramática pela prática - Fonologia Aula 7”, em que o professor Layon
Oliveira explica os ditongos orais e nasais e como eles devem ser interpretados na
estrutura da palavra.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=K0hwe6j7iho> Acesso em:


26 set. 2014.

Tempo: 03:10.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará
algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os
enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

144 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Questão 1

Explique com suas palavras a importância de estudar fonética e fonologia para


quem pretende se dedicar ao ensino da língua materna e ao ensino de língua
estrangeira.

Questão 2

Assinale a alternativa que apresenta corretamente a transcrição fonética e


fonológica, respectivamente, das palavras “ditado” e “carnaval”:

a) [di’tSado], /dI’tadU/; [karna’val], /kaRna’vaw/.

b) [di’tado], /di’tadZo/; [kaRna’vaw], /karna’vaU/.

c) [dZi’tadU], /di’tado/; [kaRn´’vaw], /kaRna’val/.

d) [dSi’tadu], /dZi’tadU/; [kaRna’val], /ka”n´’vaw/.

Questão 3

Julgue as afirmações a seguir, colocando C (Correta) ou E (Errada):

a) ( ) As consoantes t e d são fonemas do português brasileiro.

b) ( ) No dialeto carioca, a transcrição fonética da palavra “carta” é [‘kaXta].

c) ( ) A transcrição fonológica de “estudar” é /eStu’daR/.

d) ( ) Arquifonema é o mesmo que alofone, pois representa as variações que um


mesmo som pode sofrer.

Questão 4

Dos nossos males

Mario Quintana

A nós bastem nossos próprios ais,

Que a ninguém sua cruz é pequenina.

Por pior que seja a situação da China,

Os nossos calos doem muito mais...

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 145


T10

No poema de Mario Quintana ocorrem todos os sons vocálicos considerados


como fonemas do português brasileiro, com exceção de um.

a) Qual é essa exceção?

b) Excetuando o fonema excluído no item “a”, retire da estrofe um exemplo para


cada um dos fonemas vocálicos restantes em posição tônica.

/a/:

/e/:

/i/:

/o/:

/ç/:

/u/:

Questão 5

Com foco no estudo dos fonemas vocálicos, organize as palavras a seguir em


pares mínimos:

amam – tapo – poda – tumba – para – senta – tapa – amém – tuba – podo sinta
– pera

146 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu outras formas de identificar fonemas do português


brasileiro e seus alofones, que podem ser condicionados pelo contexto – variantes
posicionais – ou não, no caso das variantes livres. Pôde comparar os dois tipos de
transcrições – fonética e fonológica –, aprender em quais contextos os sons de “r”,
“s” e “l” sofrem modificações e como representar essa alofonia. Estudou também
os arquifonemas das variantes do “r”, “s” e “l” e como interpretar os glides, segundo
o linguista Mattoso Câmara. Aprendeu ainda que no português brasileiro há sete
fonemas vocálicos, os quais na fala, a depender do contexto ou ambiente linguístico
(sons próximos, posição na palavra), apresentam variações, representadas pelos
alofones [, I, ]. Além disso, agora você sabe distinguir a diferença entre a nasalização
de uma vogal e a sua nasalidade, dois fenômenos distintos. A primeira tem como
consequência a mudança de sentido na palavra, mas a segunda não implica a
mudança, pois depende da pronúncia, que pode se deixar ou não “contaminar” por
um segmento nasal presente na sílaba seguinte à vogal.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 147


T10

148 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

REFERÊNCIAS

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14. São Gonçalo: UERJ, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/soletras/article/viewFile/4717/3480>. Acesso em 20 jul. 2016.

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 8. ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 14. ed. Petrópolis:
Vozes, 1984.

CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra; DIAS, Natália Martins; MONTIEL, José


Maria. Desenvolvimento dos componentes da consciência fonológica no ensino
fundamental e correlação com nota escolar. Psico-USF (Impr.), Itatiba, v. 12,
n. 1, jun. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-82712007000100007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 set.
2014.

CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs; YEHIA, Hani Camille. Fonética & Fonologia: Sonoridade


em Artes, Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: UFMG; Faculdade de Letras, 2008.
Disponível em: <http:fonologia.org>. Acesso em: 13 set. 2014.

EXERCÍCIOS de Fonologia - Fonêmica. Fonética e Fonologia: Sonoridade em Artes,


Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: UFMG; Faculdade de Letras, 2008. Disponível
em: <http://www.fonologia.org/arquivos/exercicios_fonemica1.pdf>. Acesso em:
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OLIVEIRA, Demerval da H. Fonética e Fonologia. Disponível em: <http://portal.


virtual.ufpb.br/wordpress/wp-content/uploads/2009/07/Fonetica_e_Fonologia.
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OLIVEIRA, Layon. Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 4. YouTube. 2011.


Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Y1DyrVxftoI>. Acesso em: 16
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OLIVEIRA, Layon. Gramática Pela Prática - Fonologia Aula 5. YouTube. 2011.


Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=xhpke0EjxBM>. Acesso em:
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OLIVEIRA, Layon. Gramática pela Prática - Fonologia Aula 7. YouTube. 2011.


Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=K0hwe6j7iho>. Acesso em:
13 nov. 2014.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 149


T10

PICANCO, Gessiane; BARAUNA, Fabíola Azevedo; BRITO, Alessandra Janaú de.


Similaridades fonéticas e fonológicas: exemplos de três línguas Tupi. Boletim do
Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas, Belém , v. 8, n. 2, ago. 2013.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
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SEARA, Izabel C.; NUNES, Vanessa G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Fonética


e fonologia do português brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível
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SILVA, Fernando Moreno da. Processos fonológicos segmentais na língua


portuguesa. Littera Online, n. 04. Departamento de Letras; Universidade Federal
do Maranhão, 2011. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/
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VÍDEO. Nossa Língua 15 – CSI. YouTube. 2011. Disponível em: <http://www.


youtube.com/watch?v=QCHvOCWn2dc>. Acesso em: 13 nov. 2014.

GLOSSÁRIO

Alofone: unidade que se relaciona às diferentes possibilidades de manifestação


fonética de um fonema.

Arquifonema: representação fonológica de alofones que apresentam variação


livre, independentemente de contexto.

Fone: unidade sonora atestada na produção da fala, precedendo qualquer análise.


Os fones são segmentos vocálicos e consonantais encontrados na transcrição
fonética.

Fonema: unidade sonora que se distingue funcionalmente das outras unidades da


língua.

Glide: denominação do ditongo crescente e decrescente em fonologia.

Nasalidade: uma vogal que precede uma consoante nasal em outra sílaba pode
ou não adquirir a nasalidade, a qual não estabelece distinção de significado, como
acontece com a primeira vogal “a” que aparece nas palavras “banana” e “camelo”,
por exemplo.

Nasalização: ocorre quando a vogal é pronunciada de forma nasal com alteração


de significado, como nos pares de palavras “senda” e “seda”, “canto” e “cato”.

150 Arquifonemas, glides e alofonia vocálica


T10

Par mínimo: diz respeito ao par de palavras que têm sentidos diferentes e que
apresentam a mesma forma, exceto em um único ponto.

Par análogo: diz respeito ao par de palavras que têm sentidos diferentes e que
apresentam a mesma forma, exceto em dois pontos.

Variantes posicionais: alofones cuja ocorrência depende do contexto.

Variantes livres: alofones cuja ocorrência independe do contexto, sofrendo


influência da região ou da classe social à qual pertence a comunidade que os
produz.

Arquifonemas, glides e alofonia vocálica 151

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