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Leitura e

produção de
texto
Leitura e Produção de
Texto

Odete Aléssio Pereira


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pereira, Odete Aléssio


P436l Leitura e produção de textos / Odete Aléssio Pereira.
– Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
184 p.

ISBN 978-85-8482-577-6

1. Leitura. 2. Autoria. I. Título.


CDD 808.02

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Tema 1 | Leitura, Texto e Sentido 7

Tema 2 | Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 29

Tema 3 | Texto e Contexto 47

Tema 4 | Texto e Intertextualidade 63

Tema 5 | Gêneros Textuais 85

Tema 6 | Referenciação e Progressão Referencial 109

Tema 7 | Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 120

Tema 8 | Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 137

Tema 9 | Fio Discursivo: A Sequência no Texto 147

Tema 10 | Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 165


Convite à leitura

Conteúdo

• Nessa aula você estudará:

• As abordagens de leitura.

• A interação: autor-texto-leitor.

• A importância da leitura como uma forma de interação social.

• As diversas possibilidades de leitura.

Habilidades

• Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões:

• Como se constrói o processo da leitura?

• Quais as principais abordagens de leitura?

• A leitura implica uma interação entre quem produz o texto e quem o lê?

• A leitura pode ser considerada um instrumento de inserção social?


Tema 1

Leitura, Texto e Sentido

POR DENTRO DO TEMA

Leitura, Texto e Sentido

Ler é interpretar, relacionar textos e produzir sentido, um ato de coprodução


textual, por meio do processo de interação sujeito/linguagem, promovido pela
leitura. Ao considerar a importância da leitura na vida em sociedade, é indispensável
desenvolver o hábito de leitura, bem como o papel da escola na formação de
leitores competentes. O leitor deve entender que ler é buscar conhecimentos para
aplicar em seu dia a dia; além de entender a sua própria cultura ou a de outra
nação.

Não é possível aceitar apenas uma forma de ler esta está aliada ao prazer, à
informação e à função social. A leitura é muito abrangente, requer do leitor
conhecimentos que vão além de uma leitura vazia de textos, de escritos, como
considera Freire, sobre a importância de ler:

[...] processo que envolve uma compreensão crítica do ato de


ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita
ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na
inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura
da palavra, daí que a posterior dessa não pode prescindir da
continuidade daquela. (FREIRE, 2011 p. 11).

A leitura é uma atividade dialógica: leitor e texto comunicam-se, cabendo


àquele o papel de mudar, acrescentar, distorcer, concordar. Assim, percebe-se que
ler implica um ato de informação e formação, o que significa desenvolver posturas
críticas, formar opiniões e perceber a realidade social.
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Na prática são os professores que precisam direcionar as perspectivas de


leitura, pois a escola continua sendo lugar de promoção de um conhecimento
que não distingue e nem exclui. Nesse sentido, para uma melhor compreensão
das concepções e perspectivas de leitura presentes na prática docente destaca-se,
segundo Koch e Elias (2013, p. 9) os seguintes questionamentos: O que é ler? Para
que ler? Como ler? Essas perguntas poderão ser respondidas de diferentes modos,
e poderão revelar determinadas concepções de leitura, a partir da concepção de
sujeito, de língua, de texto e de sentido que se considere.

Na concepção de leitura em que o foco está no autor, a língua é considerada


como expressão do pensamento, conforme Koch e Elias (2013), assim a língua
é entendida como estrutura que estabelece comunicação. O leitor é um sujeito
passivo ao sistema linguístico. Dessa maneira a leitura fica no plano da decodificação
de palavras. A leitura praticada nessa concepção não considera o contexto social e
também não conduz o leitor a desenvolver um processo de compreensão.

Sendo assim, nessa concepção, a leitura é uma atividade que exige do leitor o
foco no texto em sua linearidade, no reconhecimento do sentido das palavras e
estruturas do texto. Segundo as autoras (p. 10 do livro texto) a leitura é entendida
como atividade de captação de ideias do autor sem levar em consideração as
experiências e os conhecimentos do leitor. A ele (leitor) cabe o reconhecimento
das intenções.

A Leitura com a Perspectiva no Texto

Nesta perspectiva considera-se o sistema estrutural da língua como sistema,


código, sendo a função do leitor identificar, reconhecer, decodificar os sentidos
expressos no texto. Nesse caso, o conhecimento do leitor não é considerado.
Conforme Koch e Elias, não há lugar para ele, sua história de sujeito, sua história
de leituras, suas experiências de vida. O importante é o leitor conhecer o código
e decodificá-lo.

Segundo Marcuschi (2008), nessa concepção de leitura é preciso entender as


noções e o funcionamento do texto. Para este autor, a escola considera o texto
como um produto acabado, funcionando como um depósito, no qual se “entra”
para pegar coisas. Entretanto, o texto é um evento ou um ato enunciativo, acha-
se em constante elaboração ao longo de sua história e das diversas recepções
pelos leitores. Assim, nesta abordagem, a língua, de acordo com Marcuschi (2008),
é uma atividade sócio-histórica, cognitiva, sociointerativa, textual-discursiva. O
texto, portanto, é visto em seus aspectos organizacionais.

A aprendizagem tomará rumos diferentes, dependendo da concepção de texto


adotada. Um deles é formar sujeitos, ou leitores ativos, e o outro é trabalhar com
foco no texto, considerando a língua como estrutura, daí as autoras Koch e Elias
(2013) dizerem que o sujeito é assujeitado pelo sistema, caracterizado por uma

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espécie de não consciente. Nesse sentido, a leitura é uma atividade que exige do
leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que “tudo está dito no texto”.
Nessa concepção, o leitor reconhece o sentido das palavras e estruturas do texto.

Leitura com Foco no Autor-Texto-Leitor

O estudo desenvolvido por Koch e Elias (2013) está ancorado na concepção


interacional (dialógica) da língua, cujos sujeitos são vistos como atores, construtores
sociais, sujeitos ativos que, dialogicamente, se constroem e são construídos no e
pelo texto, este considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos
interlocutores. Nessa abordagem, a leitura é vista como uma atividade interativa
bastante complexa de produção de sentidos.

Nessa concepção, a leitura não se prende aos elementos linguísticos,


precisa da mobilização de um amplo conjunto de saberes no interior do evento
comunicativo. As experiências e os conhecimentos do leitor são decisivos, não
existindo passividade do leitor. No processo de compreensão do texto, o leitor
também atribui sentidos, e estes sentidos vêm de conhecimentos diversos, que
não necessariamente são os linguísticos.

De acordo com Koch e Elias (2013), nessa perspectiva de leitura, que considera
a interação autor-texto-leitor e é fundamentada no dialogismo de Bakhtin, difere
de outras concepções, as quais ora privilegiam o foco no autor, ora no texto.
Na concepção com o foco no autor, a leitura é entendida como a atividade de
captação das ideias do autor, deixando de levar em conta as experiências e os
conhecimentos do leitor; já as que têm o foco no texto, a leitura é uma atividade
que exige do leitor o foco na linearidade do texto, naquilo que está dito, posto.

No processo de leitura como uma atividade de produção de sentido, o leitor


enquanto construtor desses sentidos utiliza, para tanto, estratégias que ajudam
nesse processo, de acordo com Solé (1998): seleção, antecipação, inferência e
verificação (estratégias do processo de leitura).

A antecipação é aquilo que o leitor faz antes de ler um texto. Ele já espera, de
certa forma, os sentidos que o texto apresentará. Nessa tentativa de antecipação,
o sujeito leitor lança hipóteses, acreditando que os sentidos do texto serão aqueles
previstos por ele. Já a inferência, por sua vez, é uma estratégia que o leitor utiliza
para descobrir os não ditos no texto que podem ser desvendados com base em
pistas textuais; e por fim, a verificação, que tem como finalidade o controle ou
não da eficácia das demais estratégias. Enfim, todas elas agem mais ou menos ao
mesmo tempo, e o leitor, geralmente, não é consciente sobre o uso delas.

Sendo assim, o tipo de leitura, quanto aos objetivos, está relacionado


diretamente com as práticas discursivas em que os sujeitos estão inseridos: leitura
por informação, leitura acadêmica, por prazer, por deleite, leitura para consulta

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(dicionários, catálogos), leitura por obrigação (manuais, bulas), leitura dos que
caem em mãos (panfletos) ou nos são apresentados aos olhos (outdoors, cartazes,
faixas).

Portanto, ao interpretar um texto, deve-se falar de um sentido, e não do sentido,


pois durante a atividade de leitura ativa-se o lugar social, as vivências, as relações
com o outro, os valores da comunidade e conhecimentos textuais dos sujeitos
que estão no processo de leitura. A leitura e a produção de sentidos são atividades
orientadas por conhecimentos sociocognitivos. Portanto, ao considerar o leitor
e seus conhecimentos, tem-se que levar em conta que eles são diferentes de
um para o outro, o que implica aceitar que haja uma pluralidade de leituras e de
sentidos em relação a um mesmo texto.

A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entrelaçamento”.


Existe, portanto, uma razão etimológica para não se esquecer de que texto resulta
da ação de tecer, de entrelaçar unidades e partes a fim de formar um todo inter-
relacionado. Nesse sentido pode-se falar em textura ou tessitura de um texto,
ou seja, é a rede de relações que garante a coesão e a unidade de sentido. Ao
elaborar um texto, colocam-se experiências históricas, sociais e culturais. O ato de
escrever, como atividade discursiva, tem seu lugar social e, conforme a intenção
do autor, exerce influência direta sobre os grupos sociais que se articulam por
meio da linguagem. Ao escrever, estabelece-se um caráter dialógico elegendo um
destinatário, para que, num processo dinâmico e complexo de inserção na rede
discursiva, efetive-se a interlocução no sistema social.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Acesse o site da revista Nova Escola, na qual há um vasto material sobre


leitura, possibilitando que você se aprofunde mais no assunto estudado. Disponível
em: <http://revistaescola.abril.com.br/leitura/>. Acesso em: 18 nov. 2013.

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• Acesse o link da Revista Ao Pé da Letra e confira o artigo “A leitura no


contexto escolar: Realidade passiva de mudanças?” que relata a experiência de
leitura vivenciada por alunos do Ensino Fundamental, além da implementação de
um projeto de leitura. Disponível em: <http://www.revistaaopedaletra.net/volumes/
Volume%2013.1/Vol-13-1-Glenda-Andrade-e-Silva.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Acesse este site e leia o artigo “Desafio Epistemológico – Linguístico: por


uma definição de texto escrito”. Há nele todo um estudo sobre o texto escrito
e suas implicações. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/
artigo_279.pdf>.

Acesso em: 18 nov. 2013.

• Neste artigo escrito por Patrícia Lopes Romero, da Universidade Estadual


de Maringá (UEM), intitulado “A Leitura dialógica e o trabalho com gêneros textuais”,
você poderá complementar seu aprendizado sobre a leitura dialógica. Disponível
em: <http://www.cielli.com.br/downloads/583.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• Assista ao vídeo “Leitura e Escrita: um diálogo”, no qual há depoimentos


de professores de diversas áreas do ciclo II que participaram do Projeto Leitura
e Escrita, integrante do Programa Território Escola, na região de São Carlos.
Disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=fuZGbVj4njo>. Acesso em: 18
nov. 2013.

• Assista ao vídeo sobre as autoras Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria


Elias, autoras de “Ler e compreender” e “Ler e escrever”, elas participaram do
programa Autores na Escola, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Há a explicação sobre a intenção ao escreverem essas obras diretamente ligadas
ao ato de ler e produzir texto. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=8tvzFlzo7wc>. Acesso em: 18 nov. 2013.

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AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Leia a reportagem seguinte e depois responda ao que se pede.

Em breve, pais decidirão: dar uma pilha de livros ou um tablet aos filhos

Acervo, em formato digital, de obras voltadas a crianças e adolescentes cresce.


Para educadores, leitura no dispositivo não traz prejuízos ao aprendizado.

O escritor italiano Italo Calvino dizia que clássicos são os livros que propagam
valores universais e despertam emoções que, a despeito do tempo decorrido desde
a leitura, jamais são esquecidos. “Constituem uma riqueza para quem os tenha
lido e amado”, escreveu. Cientes dessa riqueza, geração após geração, muitos
pais se preocupam à certa altura da vida em reunir esse tesouro em uma estante,
presenteando os filhos com uma seleção dos melhores livros. A tecnologia vai
adicionar, de maneira crescente, uma questão a essa tarefa: franquear aos filhos
uma coleção de livros ou um tablet ou e-reader, o leitor de livros digitais (e-books),
aos quais clássicos e outras tantas obras podem ser adicionados?

Sim, muitos clássicos já estão disponíveis para tablets e e-readers, muitos mais
estão a caminho e o mesmo vale para obras contemporâneas que servem à
formação e ao deleite de crianças e adolescentes. Em língua portuguesa, já é
possível ler nos dispositivos fábulas narradas pelos irmãos Grimm, A Menina do
Narizinho Arrebitado, de Monteiro Lobato, e as instigantes aventuras de Julio
Verne, como Viagem ao Centro da Terra, entre outros. É apenas uma pequena
parcela do que já se faz em língua inglesa, por exemplo, que conta com milhares
de obras prontas para a leitura. “Estamos próximos da virada digital”, afirma Mauro
Palermo, diretor da Globo Livros, que até o final deste ano vai colocar nos tablets

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todo o seu acervo infanto-juvenil – incluindo os clássicos assinados por Monteiro


Lobato. “É um caminho sem volta”, diz. A ideia de tirar o tradicional livro impresso
das mãos das crianças e trocá-lo por um iPad, da Apple, ou similar pode assustar
os pais. Mas não causa a mesma reação nos estudiosos. Para estes, não existem
restrições para leitura na nova plataforma. “O universo digital exerce fascínio nos
jovens e, com ajuda dos tablets, pode apresentar a leitura para esse público de
forma surpreendente”, afirma Marcos Cezar Freitas, pedagogo da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).

Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação


da Universidade de São Paulo (USP), vai mais longe. Ele acredita que o dispositivo
eletrônico se coloca, com sucesso, como alternativa ao formato secular do livro
impresso em papel. “Trata-se de um novo mundo”, diz. A principal vantagem, na
visão dele, é a praticidade – a capacidade dos tablets e e-readers de “carregar”
centenas e até milhares de obras. Isso, é claro, facilita a vida de todos os usuários,
mas especialmente das crianças e adolescentes, sempre às voltas com pilhas de
obras de leitura obrigatória. “Se é possível carregar diversos livros em um único
aparelho, por que não aproveitar essa facilidade?” Do ponto de vista do ensino,
não há perdas para o aprendizado, defende Soares. “O que importa é o que se lê.
Não onde se lê.”

Não há razões pedagógicas, portanto, para as editoras pouparem esforços na


transposição de suas obras para o formato digital. Elas agora estão de olho nas
razões de mercado – e elas são animadoras. Em 2010, os brasileiros importaram
oficialmente 64.000 iPads, segundo dados da Receita Federal – isso não incluiu
aparelhos que cruzaram a fronteira na bagagem de turistas que voltaram ao país,
nem rivais como o Galaxy Tab, da Samsung, ou e-readers.

A expectativa é que até o fim deste ano sejam vendidos mais 300.000 aparelhos
da Apple por aqui. Somem-se a isso os dispositivos das demais marcas e também
os leitores de e-books. “Nossos investimentos estão crescendo de acordo com
a ampliação do mercado consumidores”, diz Breno Lerner, superintendente da
Editora Melhoramentos. Por ora, a empresa já oferece versões digitais dos livros de
Julio Verne e Ziraldo, além da coleção Sherlock Holmes.

A Abril Educação – grupo que reúne as editoras Ática e Scipione e é controlado


pela família Civita, que também é dona da editora Abril, que publica VEJA – é outra
que vai reforçar o acervo disponível para crianças e jovens. A empresa em breve
colocará nas mãos dos jovens leitores obras de autores cuja leitura tornou-se
quase compulsória no país, caso de Ana Maria Machado e Marcos Rey. “As novas
plataformas, como os tablets, são um desafio do qual não vamos nos furtar”, diz
Ana Teresa Ralston, diretora de tecnologia de educação e formação de professores
da Abril Educação.

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O preço é também um atrativo. Superada a aquisição do próprio dispositivo (a partir


de 1.700 reais, no caso do tablet, e 650 reais, para o leitor de e-book), compra-se
obras de Machado de Assis e Eça de Queirós, por exemplo, por menos de 4 reais
nas lojas virtuais da Apple e da Amazon. A versão impressa sai, no mínimo, pelo
dobro. Na loja virtual Aldiko, para a tecnologia Android, sistema operacional que dá
vida ao Galaxy Tab, há obras gratuitas – ainda em pequeno número em português,
é verdade. Mas essa oferta deve crescer à medida que cresça a demanda – e
vice-versa: a procura maior deve forçar a oferta de mais títulos. “A tendência é de
expansão”, diz Lerner, da Melhoramentos. Para quem ainda se assusta com a ideia
de ver uma criança lendo clássicos próprios para a idade como A Ilha do Tesouro
ou Vinte Mil Léguas Submarinas em um tablet, vale a lição de Ismar de Oliveira
Soares, da USP: o que importa é o conteúdo. (Autora:Nathalia Goulart- data da
publicação 25/2/2011).

Fonte:<http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/uma-questao-que-vai-perseguir-
os-pais-dar-um-montanha-de-livros-ou-um-tablet-a-seus-filhos>. Acesso em 18
nov. de 2013.

A- Na reportagem há varias referências a pessoas relacionadas ao meio editorial.


Por que Mauro Palermo, faz a seguinte afirmativa: “Estamos próximos da virada
digital”?

B- No texto há um posicionamento de estudiosos sobre a leitura digital utilizando


novas plataformas, ou seja, e-books, iPads dentre outros. Qual é a argumentação
utilizada por eles para a aceitação dessa nova era da leitura?

C- Por que Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e


Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o dispositivo eletrônico
parece ser uma alternativa do livro impresso?

Questão 2

Meu pai determinou que eu principiasse a leitura. Principiei. Mastigando as palavras,


gaguejando, gemendo uma cantilena medonha, indiferente à pontuação, saltando
linhas e repisando linhas, alcancei o fim da página, sem ouvir gritos. [...] Explicou-
me que se tratava de uma história, um romance, exigiu atenção e resumiu a parte
já lida. [...] Traduziu-me em linguagem de cozinha diversas expressões literárias.
Animei-me a parolar. [...] Alinhavei o resto do capítulo, diligenciando penetrar o
sentido da prosa confusa, aventurando-me às vezes a inquirir. E uma luzinha quase
imperceptível surgia longe, apagava-se, ressurgia, vacilante nas trevas do meu
espírito. (RAMOS, 1984, p. 21).

Esse trecho de crônica relata uma situação de leitura do início do século XX. A

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atitude do pai com o filho, que ainda não tem familiaridade com a leitura, pode ser
aproximada de um procedimento que hoje se espera do professor em relação a
crianças na mesma situação. Esse procedimento consiste em:

a) Promover leituras em voz alta para verificar se os alunos conhecem o código e


são capazes de ler sem balbucios ou hesitações.

b) Orientar a leitura a fim de promover interação entre o texto e o aluno capaz de


favorecer a construção de sentido.

c) Parafrasear o texto para, com essa operação, permitir que os alunos desfrutem
da obra em sua dimensão estética.

d) Parafrasear o texto para melhor aproveitá-lo e dele extrair informações que


enfatizem a função pragmática da leitura.

e) Conduzir a leitura para desvendar o texto em todos os seus aspectos, a fim de


torná-lo claro e objetivo.

Questão 3

José da Silva precisa sair de sua casa e chegar até o trabalho, conforme mostra
o Quadro 1.1 Ele vai de ônibus e pega três linhas: 1) de sua casa até o terminal de
integração entre a zona norte e a zona central; 2) deste terminal até o outro entre
as zonas central e sul; 3) deste último terminal até onde trabalha. Sabe-se que há
uma correspondência numérica, nominal e cromática das linhas que José toma,
conforme o Quadro 1.2.

Quadro 1.1 Quadro 1.2

• ZONA NORTE (CASA) • Linha 100 Circular zona sul Linha


Amarela
• ZONA CENTRAL
• Linha 101 Circular zona central
• ZONA SUL (TRABALHO) Linha vermelha

• Linha 102 Circular zona norte Linha


Azul

José da Silva deverá, então, tomar a seguinte sequência de linhas de ônibus, para
ir de casa ao trabalho:

a) L. 102 – Circular zona central – L. Vermelha.

b) L. Azul – L. 101 – Circular zona norte.

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c) Circular zona norte – L. Vermelha – L. 100.

d) L. 100 – Circular zona central – L. Azul.

e) Linha Vermelha - L.102 - Linha Amarela.

Questão 4

No Brasil, a condição cidadã, embora dependa da leitura e da escrita, não se basta pela
enunciação do direito, nem pelo domínio desses instrumentos, o que, sem dúvida,
viabiliza melhor participação social. A condição cidadã depende, seguramente, da
ruptura com o ciclo da pobreza, que penaliza um largo contingente populacional.
(Formação de leitores e construção da cidadania, memória e presença do PROLER.
Rio de Janeiro: FBN, 2008).

Ao argumentar que a aquisição das habilidades de leitura não são suficientes para
garantir o exercício da cidadania, o autor:

a) Critica os processos de aquisição da leitura e da escrita.

b) Fala sobre o domínio da leitura e da escrita no Brasil.

c) Incentiva a participação efetiva na vida da comunidade.

d) Faz uma avaliação crítica a respeito da condição cidadã do brasileiro.

e) Denuncia a pobreza e a falta de cultura das pessoas.

Questão 5

Texto I

Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado; é muito mais! Ser brotinho é
sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o
ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível. (CAMPOS,
Paulo Mendes. Ser brotinho. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos (Org.). As cem
melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 91).

Texto II

Ser gagá não é viver apenas nos idos do passado: é muito mais! É saber que
todos os amigos já morreram e os que teimam em viver são entrevados. É sorrir,
interminavelmente, não por necessidade interior, mas porque a boca não fecha

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ou a dentadura é maior que a arcada. (FERNANDES, Millôr. Ser gagá. In: SANTOS,
Joaquim Ferreira dos (Org.). As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2005. p. 225).

Os textos utilizam os mesmos recursos expressivos para definir as fases da vida,


entre eles:

a) Expressões coloquiais com significados semelhantes.

b) Ênfase no aspecto contraditório da vida dos seres humanos.

c) Recursos específicos de textos escritos em linguagem formal.

d) Metalinguagem que explica com humor o sentido de palavras.

e) Expressões formais sem significados interessantes.

Questão 6

Leia o texto seguinte e depois responda à solicitação.

A Importância da Leitura

As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a


leitura de livros de lado, o que resultou em jovens cada vez mais desinteressados
pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres.

A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela
que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o
raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um
livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito
as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.

Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não
as praticamos. Através da leitura rotineira, tais conhecimentos se fixariam de forma
a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam
ser sanadas pelo hábito de ler; e talvez nem as teríamos, pois a leitura torna nosso
conhecimento mais amplo e diversificado.

Durante a leitura descobrimos um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas. O


hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde
pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim ele será um adulto culto,
dinâmico e perspicaz. Saber ler e compreender o que os outros dizem nos difere
dos animais irracionais, pois comer, beber e dormir até eles sabem; é a leitura, no
entanto, que proporciona a capacidade de interpretação.

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Toda escola, particular ou pública, deve fornecer uma educação de qualidade


incentivando a leitura, pois dessa forma a população se torna mais informada e
crítica.

(Autora: Eliene Percilia, data da publicação: 23.9.2013). Disponível em: <http://


www.brasilescola.com/ferias/a-importancia-leitura.htm>. Acesso em: 18 set. de
2013.

Por que segundo o texto a leitura é um fator primordial no desenvolvimento da


aprendizagem do ser humano e deve ser estimulada desde a infância?

Questão 7

Leia um trecho da entrevista concedida por Isabel Solé à Revista Nova Escola e
responda aos questionamentos:

Para Isabel Solé, a leitura exige motivação, objetivos claros e estratégias.

Para a especialista, o professor ajuda a formar leitores competentes ao apresentar,


discutir e exercitar as principais ações para a interpretação.

Pesquisas sobre como o leitor interage com o texto circulam no ambiente das
universidades desde a década de 1970. Coube à espanhola Isabel Solé, professora do
departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação na Universidade de Barcelona,
na Espanha, trazer a discussão para as salas de aula. Publicado originalmente em
1992, seu livro Estratégias de Leitura esmiúça o papel do professor na formação
de leitores competentes. “O ensino das estratégias de leitura ajuda o estudante a
aplicar seu conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto e a
identificar e esclarecer o que não entende”, explica. De sua casa, em Barcelona,
Isabel apontou caminhos para a atuação prática.

Qual a maior contribuição do livro Estratégias de Leitura para a aprendizagem em


sala de aula?

ISABEL SOLÉ Eu diria que o maior mérito foi colocar ao alcance dos professores
de Educação Básica uma forma de pensar e entender a leitura que já era bastante
conhecida no âmbito acadêmico, mas ainda não tinha muito impacto na prática
educativa. Afinal, são os docentes que de fato contribuem para a melhoria da
aprendizagem da leitura.

O que a escola ensina sobre a leitura e o que deveria ensinar?

ISABEL Basicamente, a escola ensina a ler e não propõe tarefas para que os alunos

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pratiquem essa competência. Ainda não se acredita completamente na ideia de


que isso deve ser feito não apenas no início da escolarização, mas num processo
contínuo, para que eles deem conta dos textos imprescindíveis para realizar as
novas exigências que vão surgindo ao longo do tempo. Considera-se que a leitura
é uma habilidade que, uma vez adquirida pelos alunos, pode ser aplicada sem
problemas a múltiplos textos. Muitas pesquisas, porém, mostram que isso não é
verdade.

Hoje em dia, o que significa ler com competência?

ISABEL Quando o objetivo é aprender, isso significa, em primeiro lugar, ler para
poder se guiar num mundo em que há tanta informação que às vezes não sabemos
nem por onde começar. Em segundo lugar, significa não ficar apenas no que
dizem os textos, mas incorporar o que eles trazem para transformar nosso próprio
conhecimento. Pode-se ler de forma superficial, mas também pode-se interrogar
o texto, deixar que ele proponha novas dúvidas, questione ideias prévias e nos leve
a pensar de outro modo.

Ensinar a ler é uma tarefa de todas as disciplinas?

ISABEL Sim. Não apenas para aprender, mas também para pensar. A leitura não é só
um meio de adquirir informação: ela também nos torna mais críticos e capazes de
considerar diferentes perspectivas. Isso necessita de uma intervenção específica.
Se eu, leitora experiente, leio um texto filosófico, provavelmente terei dificuldades,
pois não estou familiarizada com esse material. É preciso planejar estratégias
específicas para ensinar os alunos a lidar com as tarefas de leitura dentro de cada
disciplina. [...]

Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/


isabel-sole-leitura-exige-motivacao-objetivos-claros-estrategias-525401.shtml>.
Acesso em: 18 nov. de 2013.

Explique o motivo de Isabel Solé afirmar que a leitura exige motivação, objetivos
claros e estratégias.

Questão 8

Leia a reportagem seguinte e depois responda ao questionamento:

Livros digitais mudarão nosso cérebro?

Desde o aparecimento da plataforma, especialistas discutem a capacidade dela de


provocar mudanças na leitura, no aprendizado e na mecânica cerebral.

Em 2009, quando a segunda geração do Kindle, o leitor de livros digitais da Amazon,

Leitura, Texto e Sentido 19


T1

chegou aos Estados Unidos, iniciou-se uma discussão sobre a capacidade de a


nova plataforma provocar transformações nos processos de leitura aprendizado
e até mesmo na mecânica cerebral. O jornal americano The New York Times
ouviu especialistas ligados à educação provenientes de diferentes áreas a respeito.
Algumas ideias apresentadas pareceram pertinentes.

Para Alan Liu, pesquisador da Universidade da Califórnia, os e-books transformariam


o ritual da leitura, solitário por excelência, em uma cerimônia coletiva, onde o
principal agente transformador é o ambiente. As silenciosas bibliotecas, na visão
dele, dariam lugar aos animados cafés, onde os jovens passariam a equilibrar a
atenção focal e periférica (na obra que leem e no ambiente ao redor), algo muito
difícil até então.

A distração é o principal obstáculo à leitura digital, apontou Sandra Aamodt, ex-


editora chefe da revista Nature Neuroscience. Ela questionou a eficiência dos
e-readers e destacou: “A leitura em uma tela exige maior esforço por parte do
usuário.” Gloria Mark, também da Universidade da Califórnia, foi menos cética.
Ela defendeu que o hipertexto, presente nos livros digitais, enriquece o processo
de aprendizado. Embora reconheça a vantagem de buscar, simultaneamente,
informações adicionais na rede enquanto se entrega à leitura nos dispositivos
eletrônicos, ela chamou a atenção para a falta de profundidade nesse processo.

“Os jovens, quando conectados, alternam suas atividades a cada três minutos”,
alertou.

Maryanne Wolf, diretora do Centro de Pesquisa em Leitura e Linguagem da


Universidade Tufts, fez uma defesa apaixonada da capacidade de adaptação dos
jovens aos. Ela explicou que o processo de leitura é baseado em uma arquitetura
aberta e que essa característica torna mais flexível a absorção de conteúdo.
Em entrevista a VEJA, no entanto, a especialista ressaltou que nos dispositivos
eletrônicos a leitura é mais veloz e, portanto, superficial. “Nesse caso, o circuito
formado entre as áreas do cérebro envolvidas na leitura não chega àquela região
em que ela seria processada de maneira mais analítica”.

Entre os acadêmicos havia também os otimistas. David Gelernter, professor da


Universidade de Yale, duvidava que a qualidade da leitura estivesse diretamente
vinculada ao suporte em questão. Ele disse que o “meio não é a mensagem” e que
a forma como o conhecimento chega ao ser humano é irrelevante. Na concepção
de Gelernter, o que importa é a excelência do conteúdo e não o seu intermediário.

(Autor – Nathalia Goulart- data da publicação 27.2.2011). Disponível em: <http://


veja.abril.com.br/noticia/educacao/os-livros-digitais-mudarao-nosso-cerebro>.
Acesso em: 18 nov. de 2013.

No texto há várias afirmações de especialistas de diferentes áreas a respeito da

20 Leitura, Texto e Sentido


T1

polêmica sobre os livros digitais, se estes poderão ou não mudar nossa habilidade
cerebral em relação ao processamento da leitura. Explique o que Gloria Mark da
Universidade da Califórnia relatou sobre o assunto.

Questão 9

Leia o texto seguinte e depois responda ao que se pede:

A importância do hábito de ler

Adquirindo o hábito da leitura.

Através dos registros escritos descobrimos e aprendemos culturas, histórias e


hábitos diferentes, compreendemos a realidade, o sentido real das ideias, vivências,
sonhos, etc.

Diante do fato, pode-se considerar a leitura como uma das mais importantes
tarefas que a escola tem que ensinar, mas é importante ressaltar que para isso o
professor deve ter consciência da necessidade, além de praticar com eficiência o
hábito da leitura.

Grande parte das escolas trabalha somente com textos literários e didáticos
e muitas vezes selecionam esses materiais de forma burocrática, ou seja, uma
relação de interesse entre editora, escola e, até mesmo, professor. Convém deixar
claro que esse tipo de atitude não é de forma generalizada, pelo contrário, existem
educadores que realmente desempenham seu papel de maneira responsável,
desenvolvendo estratégias e diferentes formas de realizar uma leitura eficiente.

Segundo estudiosos, existem três objetivos distintos para compreender a


importância do hábito de ler:

– Ler por prazer;

– Ler para estudar;

– Ler para se informar.

Através da leitura realizada com prazer, é possível desenvolver a imaginação,


embrenhando no mundo da imaginação, desenvolvendo a escuta lenta,
enriquecendo o vocabulário, envolvendo linguagens diferenciadas, etc.

A leitura voltada para o estudo é a mais cobrada pelos professores desde o início do
ensino fundamental, apesar de muitos não estarem preparados para desenvolver
em seus alunos tal hábito.

A leitura dinâmica e descontraída é uma das melhores formas de adquirir

Leitura, Texto e Sentido 21


T1

informações. O ideal é que se aprenda a ler textos informativos, artigos científicos,


livros didáticos, paradidáticos, dentre outros.

(Autora: Elen Cristine, data da publicação: junho de 2010.) Disponível em:

<http://ww.mundoeducacao.com/educacao/a-importancia-habito-ler.htm.>.
Acesso em: 18 nov. de 2013.

No texto lido percebe-se que algumas escolas priorizam somente alguns textos
para a prática da leitura. Isso pode ocasionar a desmotivação e o desinteresse
dos alunos no exercício da leitura. Nesse sentido, o papel do professor leitor é
fundamental. Explique qual é a consequência de o professor não desenvolver o
hábito de ler.

Questão 10

Por que meu aluno precisa ler?

Ao longo da história, a leitura vem se firmando como demasiadamente respeitável


no papel político e social. Discutir o método de trabalho da leitura é algo que
nunca entra em desuso, pois se leva em consideração a constante mudança da
sociedade.

A leitura é compreensão; que é produção; que é interação com o meio. E o


homem que é um leitor crítico, é um ser ativo em sociedade, capaz de expressar
pensamentos e incorporar significações no processo social em que vive. Então,
leitura é uma ação cognitiva e política no quotidiano humano. É o processo de
leitura que desvela que o lúdico é um princípio motivador que aproxima o leitor do
real, despertando o prazer que por vezes é reprimido em virtude de leituras forçosas
que fogem do compromisso de relacioná-las com a expressão da liberdade. É
preciso saber ler para obter informações básicas e para procurar informações
específicas.

E é diante desse fato que devemos discutir crise e igualdade da educação da


língua materna no Brasil. O progresso e a educação caminham juntos, então se faz
necessário abarcar o tema em debates que almejam prosperidade. Ora, se existem
crises, quer seja na saúde, no meio ambiente, nos meios de comunicação etc.,
uma das alternativas para a solução se dá por meio da educação, que vem por
meio da leitura.

EDUCAÇÃO E LEITURA

A educação, como a sociedade, é heterogênea. E com as constantes modificações

22 Leitura, Texto e Sentido


T1

sociais o ato de trabalhar a língua materna em sala de aula torna- se cada vez mais
complexo no Brasil, partindo do pressuposto que ela deve ser inclusiva e igual para
todos.

Diariamente cresce o número de “alfabetizados”: mas o número não é proporcional


à qualidade dessa educação.

Basta que se analise a quantidade de desempregados no país pelo baixo nível de


conhecimento científico. E ao professor da língua materna cabe o ônus maior, de
tornar seu aluno apto a uma leitura reflexiva de mundo. Torná-lo sujeito ativo de
seus conhecimentos.

A importância da leitura para o aluno não se encontra apenas dentro dos muros
da escola, mas está fora deste quotidiano escolar, ou seja, a materialização da
leitura crítica é feita além do espaço físico escolar. Na entrevista para o emprego;
no exame de vestibular; no concurso público; na hora de pagar contas; assinar
um contrato; exercer a democracia ou questioná-la etc. É através das relações de
diálogo com o texto que o aluno incorpora um processo dialético, permitindo à
re-elaboração criativa do pensamento. Leitura é a produção de sentidos. Mas ela
deve interessar ao leitor. Cabe à escola proporcionar ao aluno condições de se
tornar um leitor crítico. Pois existe uma relação dialética entre leitura e produção
de textos. No entanto, como analisa João Wanderley Geraldi no livro O texto na
sala de aula, “Na escola não se leem textos, fazem-se exercícios na interpretação e
na análise de textos. E isto nada mais é do que simular leituras.”

Um ato social e político, a leitura e sua materialização fazem parte do cotidiano


humano.

A sociedade exige que, para exercer uma cidadania completa, o usuário da língua
consiga atender a algumas demandas básicas de uso, a exemplo da leitura. É
preciso saber ler para obter informações básicas e para procurar informações
específicas. A leitura é o meio pelo qual os povos interagem e até pela construção
de uma identidade nacional.

LER E COMPREENDER

A leitura compreensiva ocorre pelo princípio da liberdade e da diversidade.


Liberdade de escolha do leitor de modo que esta lhe seja apresentada como
opção, e não por obrigação. É a partir do prazer pela leitura que o leitor despertará
para os demais benefícios que esta lhe proporciona. Despertando o prazer, outros
fatores a ela associados serão desenvolvidos, como a finalidade da leitura, por
exemplo. Em geral, lê-se por curiosidade e prazer. E, só após estes estágios, lê-se
por necessidade.

Leitura, Texto e Sentido 23


T1

Ler e refletir sobre o que se está lendo na sociedade contemporânea tornou-se


mecanismo de sobrevivência, condição irrefutável para conviver com as constantes
mudanças sociais e ter subsídios para acompanhar estas mudanças.

O ato de trabalhar textos não é limitado, mas é um contexto social do ser humano
de interferir na formação de outro texto e desenvolver uma visão capaz de
pensar, refletir, analisar e transformar o seu contexto social de forma intertextual.
Portanto, quando os níveis de compreensão têm seu espaço reconhecido no
processo interacional da leitura e produção como assunto afim fica mais fácil
programar o exercício da reflexão fazendo com que o aluno possa materializar
seus conhecimentos incorporados na escola de forma positiva em sua vida social.

A compreensão da leitura forma-se em um nível contínuo de aprendizado,


que acaba por criar um elo de dependência para que se espere um resultado
satisfatório, ou seja, para que o corpo discente obtenha um padrão de leitura
exigido pela sociedade contemporânea. É preciso saber ler para obter informações
fundamentais e para procurar informações peculiares. Existe uma demanda social
pela proficiência em leitura e escrita, que se acelera na mesma medida dos avanços
tecnológicos modernos. O mercado de trabalho exige pessoas com níveis de
formação sempre mais elevados. Assim, a capacidade de leitura, muito além da
própria alfabetização, tornou-se o instrumento básico da educação.

LEITURA NO ENSINO

Cabe à escola a tarefa de letramento capaz de fazer o aluno assumir o papel principal
no processo do conhecer. Estabelecer mecanismos para leitura é o primeiro
passo. A ação pedagógica deve ser mediadora entre o leitor e os textos, permitindo
ao aluno transformação pessoal, dispondo por meio da leitura a possibilidade de
conhecer a diversidade de gêneros textuais a fim de ter uma melhor inserção na
sociedade.

Em geral, as tentativas de leitura em sala de aula vão direto ao ponto: apresentam-se


textos e propõe-se a leitura, sucedida de interpretação destes, sem as motivações
preliminares que norteariam com mais êxito as atividades de leitura em sala de aula.
Dispondo de pouco tempo, com aulas demarcadas em “minutos”, educadores são
impulsionados a fazerem do processo de leitura, uma aprendizagem mecânica,
com tempo e finalidades delimitados. Gastar esse precioso tempo com leitura é,
na mente retrógada da maioria dos professores, um desperdício.

O que poucos admitem, mas que é evidente, é que, se o professor utilizasse todo o
tempo de suas aulas com leitura, os demais conteúdos que motivam a delimitação
da leitura seriam naturalmente assimilados. É no contato com as palavras, com
os textos, com os livros e leituras em geral, que o indivíduo compreende a

24 Leitura, Texto e Sentido


T1

funcionalidade e a inter-relação das palavras entre si e a lógica gramatical da língua;


aumenta o acervo de palavras do próprio vocabulário a fim de desempenhar melhor
suas expressões orais ou escritas e principalmente: amplia seu conhecimento de
mundo que deve preceder o conhecimento escolar, visto que, educa-se para a
vida e não para as limitações das paredes escolares.

O professor deve ser visto como parceiro do aluno em todo o processo de


aprendizagem. Ele se caracteriza como privilegiado no ato de selecionar textos
para o educando. E deve ser cauteloso fazendo observações e análises, oferecendo
alternativas, colaborando para o incentivo a leitura, ao invés de reprimir. Focando a
importância de se manter uma relação entre leitura e conhecimento da língua, faz
necessário que a escola e o professor como orientadores se tornem participantes
ativos dessa corrente de pensamento.

(Autora: Lilian de Souza Farias, data da publicação: fev. De 2010.) Disponível em:
<http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/
artigo209965-1.asp>. Acesso em: 18 nov. 2013.

O texto apresenta considerações sobre a importância do ensino de leitura nas


salas de aula, visando à formação de leitores proficientes. A autora afirma que
discutir o método de trabalho da leitura é algo que nunca entra em desuso, pois
se leva em consideração a constante mudança da sociedade. Pergunta-se, então:
como a autora organizou o texto para tratar do assunto proposto?

FINALIZANDO

Neste tema, você viu que a leitura é a construção de sentidos decorrentes da


interação entre interlocutores. Além disso, foram abordadas as três concepções
de leitura apresentadas pelas autoras do Livro-Texto que se manifestam no ato
de ler: foco no autor (representação mental do autor), foco no texto (processo
de codificação do emissor e decodificação do receptor) e foco autor-texto-leitor
(interação entre texto-sujeitos).

Assim, enfatiza-se que a bagagem cultural do leitor é fundamental para uma


leitura eficaz e para melhor entendimento do texto, uma vez que ele utiliza seu
conhecimento de mundo e seu conhecimento de texto para construir uma
interpretação sobre o que lê.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Leitura, Texto e Sentido 25


T1

26 Leitura, Texto e Sentido


T1

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GERALDI, João W. (Org.). O Texto na Sala de Aula - Leitura & Produção. Cascavel:
Assoeste, 1984, p. 121-125.

GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo;


Contexto, 2010.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.


São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984.

SOLÉ. Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. São Paulo, Artmed, 1998.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

GLOSSÁRIO

Abordagem interacional ou interacionista: a abordagem interacional ou


interacionista considera a leitura como um processo cognitivo e perceptivo.
A prática leitora condensa tanto as informações presentes no texto como as
informações que o leitor traz consigo, e a construção dos sentidos ocorre através
da interação entre leitor e texto. Solé (1998) considera o modelo interacional como
o mais apropriado para o entendimento do ato de leitura como um processo de
compreensão, do qual participam tanto o texto, sua forma e seu conteúdo, quanto
o leitor, suas expectativas e seus conhecimentos prévios.

Cognitivo: cognitivo é uma expressão que está relacionada com o processo de


aquisição de conhecimento (cognição). A cognição envolve fatores diversos como
o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem
parte do desenvolvimento intelectual.A psicologia cognitiva está ligada ao estudo
dos processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo e
o desenvolvimento intelectual. Segundo Jean Piaget, a atividade intelectual está

Leitura, Texto e Sentido 27


T1

ligada ao funcionamento do próprio organismo, ao desenvolvimento biológico de


cada pessoa.

Interlocução: pressupõe a existência de sujeitos que se comunicam a partir de


situações da realidade social concreta em que se encontram. Originalmente
significa diálogo, mas o significado foi ampliado a toda forma de interação e
comunicação entre os sujeitos.

Leitura Dialógica: a leitura dialógica privilegia a interação. As “leituras de mundo”


podem fluir e o espaço se abre para que a “leitura da palavra” seja um processo
natural. Nessa visão, os textos lidos em aula são os textos produzidos pelos
alunos. Nessa leitura dialógica a produção de sentidos não fica aprisionada a uma
ordenação de fonemas.

Sócio-histórica: os objetivos dessa teoria são caracterizar os aspectos tipicamente


humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características
se formam ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida
do indivíduo. (Vygotsky, 1996, p. 25).

28 Leitura, Texto e Sentido


Tema 2

Leitura, Tipos de
Conhecimento e
Processamento Textual

POR DENTRO DO TEMA

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual

A leitura de um texto não deve ser feita passivamente. O texto é o ambiente


onde há encontro e entendimento entre leitor e autor. O autor tem em mente
algo a dizer, mas espera que o leitor o entenda; para que isso ocorra, este tem que
possuir certos conhecimentos, sem os quais não conseguirá captar as informações
do texto e construir um sentido significativo. Assim, o leitor poderá antecipar fatos,
constatar argumentos, reconhecer informações implícitas e explícitas, perceber
e entender metáforas, notar expressões que têm referências fora do texto, dentre
outros. As linguistas Koch e Elias (2013) estabelecem três grandes sistemas de
conhecimentos necessários para o processo de leitura.

Conhecimento linguístico: esse conhecimento é primordial na compreensão


textual, abrange o conhecimento gramatical, utilizado para organizar as palavras
em um conjunto significativo, e o lexical que é o conhecimento do repertório de
palavras de um idioma.

Os versos de um trecho de A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, na


qual relata a dor e o sofrimento de Hamlet quando descobre as ações de seu tio
para possuir o trono da Dinamarca. O tio matou seu pai e ainda engravidou a mãe.

Nesse trecho aparece a famosa frase de Shakespeare:

“To be or not to be, that’s the question”

“To be or not to be, that is the question;

Whether ’tis nobler in the mind to suffer


T2

The slings and arrows of outrageous fortune,

Or to take arms against a sea of troubles,

And by opposing, end them. To die, to sleep;

No more; and by a sleep to say we end

The heart-ache and the thousand natural shocks

That flesh is heir to — ’tis a consummation

Devoutly to be wish’d.[...]

Tradução foi retirada da Wikipédia. Segundo consta, tradução de SILVA RAMOS,


Péricles Eugênio da”. Hamlet. Editora Abril, 1976.

“Ser ou não ser, eis a questão:

será mais nobre

Em nosso espírito sofrer pedras e setas

Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,

Ou insurgir-nos contra um mar de provocações

E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.

Dizer que rematamos com um sono a angústia

E as mil pelejas naturais-herança do homem:

Morrer para dormir… é uma consumação

Que bem merece e desejamos com fervor.[...]

É difícil construir um significado dos versos de Shakespeare para quem não


conhece o idioma, pois não tem conhecimento linguístico – isto é, lexical, vocabular
– suficiente nem mesmo para identificar as palavras escritas. Quando se consulta
a tradução, o texto começa a fazer sentido, pois há o conhecimento do idioma. É
claro que em alguns textos faz-se necessário acionar outros conhecimentos para
a construção de sentido do texto.

Conhecimento de mundo: como conhecimento de mundo entende-se toda


a experiência de vida do leitor, tudo o que ele já viu, já leu, já ouviu, em sua vida.
Muitas vezes o texto traz referências de coisas ou fatos ocorridos há tempos, ou

30 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

fatos históricos, mitos, crendices, folclore, coisas, enfim, sobre as quais o escritor,
na verdade, pretende dialogar com o leitor, ou trazer esses fatos à lembrança deste.

“LUVAS DE COZINHA, MÃOS DE FERRO”.

Perceba que para entender esse título de uma reportagem internacional,


veiculada na revista Veja (n. 38 de setembro de 2013, p. 84-86) sobre a disputa
das eleições na Alemanha por Angela Merkel, o leitor precisa ativar seus esquemas
mentais e ou conhecimentos prévios, além de inferir sobre as características da
candidata, que possui um jeito de dona de casa pacata, no entanto comanda o
país e controla a economia da Alemanha, país em que atua como 1ª ministra. Daí
a frase “Mãos de ferro” faz todo o sentido.

Conhecimento interacional: engloba-se neste tipo de conhecimento a interação


entre o autor e o leitor. Algumas vezes, o autor dialoga diretamente com o leitor ou
no início do livro, ou mesmo no decorrer do texto. Outras vezes, há um trocadilho
com uma mensagem implícita esperando o riso do leitor. Da parte do escritor há
de haver também preocupação com a objetividade daquilo que pretende informar,
a adequação dos elementos, coesão, coerência, etc. Palavras grifadas, entre aspas,
parênteses, são recursos gráficos que o autor utiliza para chamar a atenção do
leitor. Entende-se, portanto, como conhecimento interacional, que leitor e autor
percorram as pistas do texto juntos. O conhecimento interacional apresenta quatro
facetas: ilocucional, comunicacional, metacomunicativo e superestrutural.

• Ilocucional: permite-nos reconhecer os objetivos ou propósitos


pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional. Um
exemplo desse conhecimento se verifica no texto a seguir, em que o apresentador
interage com o leitor para levá-lo a compreender a importância e o objetivo do
texto, qual seja, “Famílias em movimento”:

Na sua apresentação ao dossiê “Famílias em movimento”, Claudia Fonseca


aponta algumas questões cruciais para a análise da família – famílias – nesse início do
século 21: as janelas teóricas que os artigos representam mostram que a discussão
sobre um tema tão antigo nas ciências sociais tem repercussões contemporâneas
extremamente instigantes. A mobilidade das famílias, nos contextos nacional
e internacional, sugere que tanto a reprodução como o parentesco, velhos
conhecidos das pesquisas sociológicas e antropológicas, retornam, assumindo
outros valores, à cena discursiva e podem render uma discussão estimulante.
(Caderno Pagu)

A ausência de conhecimento ilocucional é, frequentemente, utilizada para fazer


humor. Veja um exemplo em que a criança não compreende (isto é, não apresenta
o conhecimento ilocucional) quando a professora lhe pede para falar mais baixo:

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 31


T2

Na sala de aula, a professora chama:

– Mariazinha, declame a conjugação do presente do indicativo do verbo nadar.

A menina, orgulhosa, pois havia estudado muito bem a conjugação dos verbos,
pôs-se de pé e começou a declamar, em voz bem alta:

– EU NADO, TU NADAS, ELE NADA...

A professora, sobressaltada, exclama:

– Mais baixo, Mariazinha, mais baixo!

E a menina, prosseguindo em voz bem alta:

– NÓS MERGULHAMOS, VÓS MERGULHAIS, ELES MERGULHAM.

• Comunicacional: relaciona-se à quantidade de informação necessária,


numa situação comunicativa concreta, para que o parceiro seja capaz de
reconstruir o objetivo da produção do texto. Verifica-se a seleção da variante
linguística adequada a cada situação de interação, além da adequação do gênero
textual à situação comunicativa. Também conduz à reflexão sobre o que e como
escrever para os interlocutores do texto.

“E Dona Benta começou a ler: Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero
lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo dos da lança em cabido, adarga antiga
e galgo corredor”.

– Ché! – exclamou Emília. – Se o livro inteiro é nessa perfeição de língua, até


logo! Vou brincar de esconder com o Quindim. Lança em cabido, adarga antiga,
galgo corredor... Não entendo essas viscondadas, não....

– Pois eu entendo – disse Pedrinho. – Lança em cabido quer dizer lança


pendurada em cabido; galgo corredor é cachorro magro que corre e adarga antiga
é... é...

- Engasgou! – disse Emília. Eu confesso que não entendo nada. (LOBATO, M. D.


Quixote para crianças).

• Metacomunicativo: é aquele que permite ao locutor assegurar a


compreensão do texto e conseguir a aceitação pelo parceiro dos objetivos
com que é produzido. Para tanto, utiliza-se de vários tipos de ações linguísticas
configuradas no texto por meio da introdução de sinais de articulação ou apoios
textuais, atividades de formulação ou construção textual.

32 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

Pensemos, inicialmente, nos textos acadêmicos, povoados de referências,


citações, notas de rodapé ou de final de capítulo. Temos aqui um hipertexto,
em que as chamadas para as notas ou as referências feitas no corpo do trabalho
funcionam como links. O leitor poderá, por exemplo, ler o texto de maneira
contínua e só consultar as notas após essa leitura; consultar apenas as que mais
lhe interessarem ou mesmo não ler nenhuma. [...]

Pensemos, agora, no gênero reportagem. O corpo da reportagem é,


normalmente, circundado de boxes explicativos, aos quais o texto de fundo
remete. Além dos boxes, há gráficos, tabelas, ilustrações. O sentido não é
construído somente com base no texto central, mas pela combinação de todos
esses recursos: portanto, pode-se perfeitamente falar, nesse caso, da presença de
uma multissemiose.

(KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo:


Cortez, 2005. p. 61-62.)

• Superestrutural ou Conhecimento sobre Gêneros Textuais: permite a


identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida
social.

As decisões do dia não dependerão exclusivamente de sua vontade hoje. Com


a lua em Peixes, outras pessoas estão interferindo e até mesmo determinando o
que você deve fazer neste dia.

(Gênero textual: Horóscopo)

Num belo dia de verão, um cervo chegou até junto a um regato, para beber.
Quando inclinou a cabeça, viu na água a própria imagem e exclamou orgulhoso:

– Oh, como eu sou bonito e que bonitos são meus chifres!

Aproximou-se mais e viu o reflexo das próprias pernas dentro da água:

– Mas como são finas as minhas pernas... – observou com tristeza.

Nesse momento surgiu um leão que saltou sobre o cervo.

O cervo disparou pela campina, com tanta velocidade que o leão não podia
pegá-lo.

Aí, o cervo entrou por dentro da floresta e logo os seus chifres se embaraçaram
nos galhos das árvores. Em poucos instantes o leão saltava sobre o prisioneiro.

– Ai de mim! - gemeu o cervo. – Senti orgulho de meus chifres e desprezei

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 33


T2

minhas pernas... no entanto, estas me salvariam e esses causaram minha perda...

(Gênero textual: Fábula [Esopo])

Um cara engravatado entra na lojinha do Salim, na Rua 25 de Março, e olha


com desprezo para o balcão escuro, as roupas penduradas em ganchos e o chão
de tacos de madeira sem polimento.

O Salim se irrita com o desprezo do sujeito e resmunga:

– Está olhando feio bro lodjínia de Salim burquê? Com este lodjínia, Salim tem
abartamento na Guarujá, tem casa na Búzios, casa na Cambos da Jordão, tem casa
no Riviera da Zão Lorenço, tem abartamento no Beirute, tem filho estuda medicina
no Estados Unidos, tem filha estuda moda na Baris, tudo só com lodjínia!

O sujeito vira e diz:

– O senhor sabe quem eu sou?

Eu sou fiscal do Imposto de Renda!

– Muito brazer! Eu Salim, maior mentiroso do 25 de Março!

(Gênero textual: Piada)

Assim, a compreensão de um texto depende da ativação de diversos


conhecimentos, que vão se organizar em cada leitor de acordo com os “modelos
episódicos”, frames ou “modelos de situação” com que aqueles se habilitam à leitura.
Estes constituem resultados de experiências cotidianas, do dia a dia, determinados
no espaço e no tempo e generalizados na medida em que várias experiências
semelhantes se tornam comuns aos membros de uma mesma cultura ou de certo
grupo social.

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Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

34 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

• Leia o artigo “Estratégias para uma Leitura Significativa”, de Eliane Nunes


Pereira Fujarra. Nele, a autora demonstra que a leitura é uma habilidade que envolve
um processo complexo, sendo muito mais que decodificar as palavras. O ato de ler
consiste em compreender o sentido mais global do texto. Disponível em: <http://
www.webartigos.com/artigos/estrategias-para-uma-leitura-significativa/12280/>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia a tese de mestrado Tiras do Hagar: Caracterização e Sequência


Didática, de Aparecida de Fátima Amaral dos Santos e Célia Francisca da Silva.
Disponível em: <http://site.unitau.br//scripts/prppg/la/6sepla/site/resumos_
expandidos/SANTOS_Aparecida_de_Fatima_Amaral_dos_SILVA_Celia_Francisca_
da_p_54_70.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013. As autoras aproveitam as tiras
cômicas do viking Hagar, o Terrível, para analisar os sistemas de conhecimento e
sua utilização didática.

• Leia o artigo “Leitura de anúncios publicitários no curso de suplência:


uma proposta alternativa”, de Odete Aléssio Pereira. Disponível em:<http://www.
revistadeletras.ufc.br/rl25Art20.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013. Nele a autora
apresenta considerações sobre a leitura e o uso dos conhecimentos prévios no
processamento textual em anúncios publicitários.

Vídeos

Assista ao vídeo:

• “Prof. Newtão – Música do adjetivo”. Disponível em: <http://www.youtube.


com/watch?v=A0k356x-gS8>. Acesso em: 18 de nov. 2013. Contém um exemplo
de como o professor aproveita o conhecimento enciclopédico dos alunos a respeito
de ritmo de músicas para ensinar tópicos gramaticais; neste especificamente trata-
se do adjetivo.

• “Mundo da Leitura”. Nesse vídeo você poderá ver um projeto de leitura.


Há o uso do audiovisual sobre o Mundo da Leitura, projeto da UPF, Universidade
de Passo Fundo. Nele você conhecerá melhor como funciona o projeto de
leitura promovido por esta universidade, além de algumas palavras de especialista
sobre a importância da leitura. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=yms3oUOYrg0>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 35


T2

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Leia o texto a seguir e depois responda ao que se pede.

Por que (não) Ensinar Gramática na Escola

Ao analisar a primeira parte do livro, pode-se entender a ambiguidade proposta no


título, que vai além da ironia ou do duplo sentido, pois que a questão é melindrosa e
delicada. Melindrosa porque mexe com a estrutura de ensino de Língua Portuguesa
no Brasil (que rumo seguir?), delicada porque não basta simplesmente optar pelo
ensino ou não da gramática, mas saber quando ela é imprescindível e discernir
quando fica sobrando no ensino, especialmente no Ensino Fundamental e Médio.

A resenha resulta da análise do livro, mas principalmente do capítulo denominado


Ensinar língua ou ensinar gramática, por estar nele o objeto propriamente dito desta
discussão. Sobre esse assunto, quero prestar um depoimento particular de como
foi minha escolarização até chegar ao curso de Letras, já que minha ignorância
em termos de gramática era completa ao entrar no curso. No vestibular eu fui
razoavelmente bem na prova específica por me deparar somente com questões de
interpretações de texto e literatura. A ignorância era tanta que, na minha primeira aula
de Latim me apercebi de que, para mim, o sujeito de uma frase seria somente um
nome próprio. Imaginam o tamanho da minha dificuldade? Devo dizer que minha
vida escolar foi bastante acidentada. A saber, estudei até os 18 anos, abandonando
a escola no 1º ano do 2º Grau. Depois de outros dezoito anos tive a necessidade
de voltar aos estudos, formando-me no 2º Grau através do ensino à distância do
Estado do Paraná, com provões a cada dois meses, concluindo o 2º Grau em um
ano.

36 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

Minha experiência escolar me faz refletir que o estudo da gramática não é o


principal, e sim ser um leitor assíduo, o que nunca deixei de ser. Minha primeira
leitura de romance foi indicada pelo professor de Português da 6ª série do 1º Grau,
não como trabalho escolar, mas como simples leitura. O romance foi “O Menino
do Engenho”, de José Lins do Rego, cuja personagem central coincidia em idade
com a minha na época da leitura. Desde então, tornei-me um leitor apaixonado
por literatura. Não me oponho a quem gosta de gramática, mas acho que formar
um leitor é muito mais importante para a escola do que ensinar gramática de uma
maneira forçosa. Se eu não fosse um leitor assíduo e o vestibular não privilegiasse o
leitor, não estaria agora aqui fazendo esta resenha, pois se me ensinaram gramática,
eu quase nada retive.

O que desejo ressaltar aqui, então, é o que está dito por Possenti no capítulo
“Ensinar língua ou ensinar gramática?”. O autor começa o capítulo em questão
objetivando que o domínio efetivo e ativo de uma língua dispensa o domínio de uma
metalinguagem técnica. Então, pode-se saber muito de uma língua sem dominá-
la para situações reais tendo conhecimentos metalinguísticos de tal língua e, por
oposição, imaginar que Homero, Ésquilo e Platão nunca estudaram gramática,
pois algo parecido só ocorre dois séculos antes de Cristo, na própria Grécia, com
intuito de se estudar os textos antigos, pois o grego, como toda língua, estava se
transformando. Portanto, para Possenti, é interessante frisar que quem consulta os
escritores são os gramáticos e não o contrário. E que, portanto, não faz sentido
ensinar nomenclaturas a quem não chegou a dominar habilidades de utilização
corrente e não traumática da língua.

Em resumo, abrir mais espaço nas aulas de Português para a literatura, a interpretação
e a produção de textos parece ser mais lógico do que exigir conhecimentos de
gramática de quem não domina gêneros textuais nos quais a língua acontece.

Resenha sobre o livro de POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola.
Campinas, ALB. Mercado de Letras, 1996, 96 p., Coleção Leituras do Brasil. (Autor:
Rui Amaral Dias de Oliveira). Disponível em:

<http://escrevendo.cenpec.org.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=470:por-que-nao-ensinar-gramatica-na-escola&catid=25:indicacao-de-
leitura&Itemid=75>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Há necessidade de conhecimento interacional para a construção do sentido do


texto? Por quê?

Questão 2

Os textos a seguir fazem piada valendo-se de uma ausência de conhecimento

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 37


T2

ilocucional, exceto um deles. Qual é?

a) Dois loucos planejaram fugir do hospício pulando o portão. Chegou a noite, mas,
na hora H, um doido disse:

– Ih, não vai dar pra pular o portão.

– Mas por quê?

– Esqueceram ele aberto.

b) O dentista do hospício atende um interno que havia extraído um dente na véspera:

– E então? O seu dente parou de doer?

– Sei lá! O senhor ficou com ele!

c) No restaurante, o freguês reclama:

– Garçom, tem uma mosca no meu prato!

– É só o desenho do prato, meu senhor.

– Mas está se mexendo!

– Oh!, responde o garçom, espantado. É desenho animado!

d) Dois amigos, Manuel e Joaquim, estão lendo um artigo sobre astronomia e


conversando:

– Manuel, qual você acha mais importante, o Sol ou a Lua?

– A Lua, ora, pois. Ela ilumina tudo quando está escuro. É graças a ela que podemos
enxergar um bocado à noite, principalmente quando está cheia.

– Mas e o Sol?

– O Sol? Ora, pá, o Sol não serve pra nada. Pois não estás a ver que ele só brilha de
dia, quando está tudo claro?

e) O bom de hoje em dia é que vemos muitas famílias felizes por aí, nem que elas
estejam coladas no carro.

Questão 3

Para se fazer uma leitura de forma compreensiva e interpretativa, é preciso que


o leitor se valha de vários conhecimentos. Com base nessa afirmação, analise as
alternativas a seguir e marque a que especifica corretamente tais conhecimentos:

38 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

a) Sintáticos, gramaticais e textuais.

b) Linguísticos, de mundo e sintáticos.

c) Fonológicos, metalinguísticos e textuais.

d) Gramaticais, textuais e de mundo.

e) Linguísticos, de mundo e textuais.

Questão 4

Tendo em vista a concepção de língua como representação do pensamento e


de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, como podemos
entender o texto? Analise as alternativas a seguir e escolha a correta:

a) O texto é entendido como um produto ativo, estruturado e estático.

b) O texto é visto como um produto – lógico – do pensamento (representação


mental) do autor.

c) O texto é fruto da passividade do leitor e reflexo da influência do autor.

d) O texto pode ser entendido como o produto da interação autor e leitor, é


construído pelo leitor no ato de ler.

e) O texto deve ser entendido como fruto da capacidade de interpretar as ideias


explícitas do autor de forma crítica.

Questão 5

De acordo com Fávero (2001, p. 64), “os frames estabelecem que elementos, em
princípio, fazem parte de um todo, mas não estabelecem entre eles uma ordem
ou seqüência (lógica ou temporal)”. A autora exemplifica esse conceito de frames
através das expressões “festa de aniversário” e “natal”. Com relação à festa de
aniversário, podemos dizer que ao mencionarmos essa expressão, o interlocutor
geralmente ativa elementos como: doces, música, decorações, bolo, velas etc.
Assim, todos esses elementos juntos constituem um frame, apesar de não se
estabelecer entre eles uma ordem ou sequência. Ou seja, podemos definir frames
como modelos cognitivos globais que contêm o conhecimento comum sobre um
evento, como Natal, festa de aniversário, carnaval e outros.

Assinale a alternativa correta sobre o assunto:

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 39


T2

a) Para autora, frames não são importantes no processamento de leitura.

b) Toda leitura não envolve interação entre os interlocutores.

c) Frames segundo informações do trecho lido são modelos cognitivos globais que
contêm conhecimento comum sobre um determinado evento.

d) Os conhecimentos de mundo, linguístico e interacional são os frames segundo


a autora.

e) Para o processamento textual, o leitor proficiente não necessita ter conhecimento


de mundo.

Questão 6

Leia o texto a seguir e depois responda ao que se pede:

Quando lemos, produzimos sentidos. O leitor deve ser ativo:


‘é preciso também levar em conta os conhecimentos do leitor,
condição fundamental para o estabelecimento da interação,
com maior ou menor intensidade, durabilidade, qualidade’.
(KOCH; ELIAS, 2013, p. 14).

Com base no excerto acima, explique a seguinte frase: “Todo ponto de vista é a
vista de um ponto”.

Questão 7

Para fazer leitura, o leitor usa estratégias, como seleção, antecipação e inferência.
Leia o texto a seguir para responder à questão proposta.

Afonso era o mais belo cisne do lago Príncipe de Astúrias. Todos os dias, ele
contemplava sua imagem refletida nas águas daquele chiquérrimo e exclusivo
condomínio para aves milionárias. Mas Afonso não se esquecia de sua humildade.

– Pensar que, não faz muito tempo, eu era conhecido como o Patinho Feio...

Um dia, ele sentiu saudades da mãe, dos irmãos e dos amiguinhos da escola. Voou
até a lagoa do Quaquenhá. O pequeno e barrento local de sua infância. A pata
Quitéria conversava com as amigas chocando sua quadragésima ninhada. Afonso
abriu suas largas asas brancas.

40 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

– Mamãe! Mamãe! Você se lembra de mim? (KOCH, 2013, p. 14).

Ao ler o texto, podemos fazer algumas inferências. O que podemos observar no


texto? Há algumas oposições presentes nele, identifique-as.

Questão 8

De acordo com Koch e Elias (2013), para processarmos um texto, recorremos a


três grandes sistemas de conhecimento. Explique no que consiste o conhecimento
linguístico.

Questão 9

Leia o trecho a seguir para responder a questão:

não posso de maneira alguma, nas minhas relações político-


pedagógicas com os grupos populares, desconsiderar seu
saber de experiência feito. Sua explicação do mundo de que
faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo.
E isso tudo vem explicitado ou sugerido ou escondido no que
chamo “leitura do mundo” que precede sempre a “leitura da
palavra”. (FREIRE, 1996, p. 90).

Explique o que significa leitura de mundo para Paulo Freire e qual é a importância
disso para a interpretação de texto.

Questão 10

No diálogo seguinte, qual espécie de conhecimento está sendo utilizada pelo autor
para fazer graça?

Diálogo de Todo Dia

- Alô, quem fala?

- Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.

- Mas eu preciso saber com quem estou falando.

- E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 41


T2

- Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?

- Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.

- Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está
no aparelho.

- Ah, sim. No aparelho não está ninguém.

- Como não está, se você está me respondendo?

- Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.

- Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho?

- Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.

- Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.

- Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.

- Se eu conhecesse não estava perguntando.

- Você é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.

- Nem tinha que perguntar. Pois se fui eu que telefonei.

- Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras
pessoas.

- Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.

- Estou respondendo.

- Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?

- Pela última vez, e em nome da segurança, porque eu sou obrigado a dar esta
informação a um desconhecido?

- Bolas!

- Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem
deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não
mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?

Silêncio.

- Vamos, diga: com quem deseja falar?

- Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Chau.

42 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. 4. ed. Rio de Janeiro: Record,
1998. p. 63)

FINALIZANDO

Neste tema, você descobriu que há três sistemas de conhecimento importantes


para construir o sentido de um texto: o conhecimento linguístico, o conhecimento
enciclopédico ou de mundo e o conhecimento interacional, cada um deles
relacionado a aspectos específicos do amplo repertório de saberes necessários
para uma leitura enriquecedora. Tais conhecimentos são adquiridos ao longo
do tempo, com o auxílio de bons dicionários e das mais variadas leituras, além
das interações culturais de outras espécies, como filmes, noticiários, esportes,
músicas, comidas, perfumes, tudo que inunda os cinco sentidos, bem como da
vivência dentro de contextos sociais, nos quais a pessoa se insere, e da percepção
do modo de viver em outras sociedades e culturas. Nesse sentido, é fundamental,
estar com os sentidos sempre abertos para o mundo e com a percepção cada vez
mais afinada, a fim de ampliar os conhecimentos e, por conseguinte, a capacidade
de leituras aprofundadas.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 43


T2

44 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


T2

REFERÊNCIAS

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2001.

________. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 12. ed. São Paulo: Cortez, 1996.

KOCH, I. G. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2002.

________. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2005, p. 61-62.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2013.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática,
1993.

GLOSSÁRIO

Frames ou modelos episódicos: termo de origem inglesa que significa quadros,


molduras (FÁVERO, 2004, p. 63). Eles correspondem a modelos cognitivos globais,
elementos de conhecimento que “emolduram” a constituição de um texto e que
são ativados por sua leitura, e contêm o conhecimento comum sobre um conceito
primário (geralmente situações estereotipadas). No caso dos textos jurídicos os
frames correspondem às noções de tribunal, contrato, despejo, assistência judiciária
gratuita, etc. Um frame pode ser concebido como um intertexto de conhecimento
geral, isto é, mesmo leigos acerca da linguagem jurídica sabem a que se referem
os seus frames, porque se trata de entidades relacionadas à vida do cidadão.

Informações explícitas: expressas formalmente; claras, desenvolvidas, explicadas:


é o mesmo que ler algo em que se está escrito tudo, não ficando nada subentendido.
Explícito é aquilo que está sendo mostrado. No caso do texto, você vai vê-lo
integralmente, sem que nada fique implícito.

Informações implícitas: a informação implícita é algo que é subentendido,


entendido ou percebido (o que não estava exposto ou bem explicado); admitir

Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual 45


T2

mentalmente; supor. É aquilo “que está envolvido, mas não de modo claro; tácito,
subentendido”.

Processamento textual: dentro da concepção de língua (ou linguagem) como


atividade interindividual, o processamento textual, quer em termos de produção,
quer de compreensão, deve ser visto também como uma atividade tanto de caráter
linguístico, como de caráter sociocognitivo. Ainda dentro dessa concepção, o texto
é considerado um conjunto de pistas, representadas por elementos linguísticos de
diversas ordens, selecionados e dispostos de acordo com as virtualidades que cada
língua põe à disposição dos falantes.

46 Leitura, Tipos de Conhecimento e Processamento Textual


Tema 3

Texto e Contexto

POR DENTRO DO TEMA

Texto e Contexto

Texto é uma unidade básica de organização e transmissão de ideias, informações


e conceitos de uma maneira geral. Ele pode ser denominado também como um
evento comunicativo, que tem uma estrutura e que se deve a um contexto social
e cultural.

A palavra texto é derivada etimologicamente do vocábulo latino textus, que


significa alguma coisa tecida ou algo entrelaçado. Esse entrelaçado define como
texto uma série de anúncios sistemáticos e previstos de coerência dispostos para
que sejam expressos de forma tanto oral como escrita. Dessa forma, muitos autores
definem texto como a unidade linguística máxima, seja ela falada ou escrita.

Conforme Fiorin (2006), o texto não deve ser entendido como um amontoado
de frases com significados autônomos. Os significados das partes de um texto não
podem ser considerados de forma isolada, e, sim, dentro de correlações que vão
se articulando internamente para criar uma trama de sentido. “Todo texto contém
um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla” (FIORIN, 2006,
p. 13). “[...] é nos textos e pelos textos que o aluno vai adquirir a competência de
operar criativamente, com os dados armazenados, um tipo de saber cada vez mais
raro na contemporaneidade e que precisa ser recuperado” (FIORIN, 2002, p. 3).

Para Koch (2002, p. 17), o conceito de texto segundo a concepção interacional


pode ser considerado o “próprio lugar da interação”, e o sentido de um texto é
construído na interação texto-sujeitos ou texto-coenunciadores. O texto não
preexiste a essa interação. A autora conclui que a ciência do texto está, cada
vez mais, intensificando o diálogo com as demais ciências, e não apenas com
as ciências humanas. Através da construção do sentido do texto, desvendam-se
T3

as funções da linguagem; “o uso da linguagem e a produção de textos se fazem


na interação” (MOURA, 2006, p. 15). Então, usar a linguagem é, enfim, interagir a
partir do intercâmbio de textos. Vem daí a necessidade de propiciar aos alunos
condições para o desenvolvimento de competências, habilidades e estratégias
linguístico-textual-discursivas para a produção, compreensão e interpretação de
textos orais e escritos, oportunizando o desenvolvimento do senso crítico, ético e
estético.

Também pode considerar-se como formas textuais uma escultura, um quadro,


um símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de televisão,
pois, tal como o texto escrito, todos esses objetos geram um todo de sentido.

O texto traz consigo, de modo mais ou menos evidente, valores identificados


com certa cultura e formação histórica e social na medida em que o autor é um
ator social que se relaciona com esses valores. O texto por ser um produto de
uma época e de um lugar específico e traz consigo marcas de tempo e espaço.
Por isso, nenhum texto é um objeto inteiramente autônomo, há sempre um
diálogo estabelecido com outros textos e com o contexto. O texto, ainda que
implicitamente, incorpora diferentes perspectivas a respeito de uma mesma
questão. O que se tem é uma inter-relação entre textos que tratam do mesmo
assunto, ou de assuntos semelhantes, com, eventualmente, abordagens diferentes.

Nesse sentido, para se compreender um texto, é necessário saber em qual


momento ele foi produzido e a que situação externa esse texto se refere direta ou
indiretamente. A isso chamamos contexto.

Considerando a definição de texto de Costa Val (1999, p. 3), para quem “texto
é uma ocorrência linguística, falada ou escrita de qualquer extensão, dotado de
unidades sócio-comunicativa semântica e formal”, para que você entenda melhor
o que venha a ser contexto, observe o seguinte enunciado:

1. “Que belo dia!”

Sem considerar o contexto, não se pode explicar o sentido dessa frase. Poderia
imaginar que ela pudesse referir-se a um dia agradável, em que a rotina flui sem
imprevistos, ou poderia ter sido dita por alguém que ganhou na loteria. Não se
sabe a que contexto refere-se, se a um dia de sol após um período chuvoso ou
se a um dia de chuva após meses de sol escaldante. Como não foi apresentada a
situação em que esse enunciado foi proferido, há várias possibilidades de sentido
nessa frase.

Observe agora a seguinte situação: Marcos acordou atrasado para o trabalho,


tomou um ônibus lotado que quebrou durante o trajeto. Ele tomou um táxi para não

48 Texto e Contexto
T3

se atrasar tanto, mas teve de descer a três quarteirões do edifício onde trabalhava,
pois, como chovia muito, uma árvore caída na rua impedia a passagem de veículos.
Chegou ao trabalho atrasado em uma hora e meia. Ofegante e nervoso, ele brada:

2. “Que belo dia!”

Nessa circunstância, essa mesma ocorrência equivale a:

“Que dia horrível!”

Enquanto no primeiro enunciado existe a multiplicidade de sentido, o segundo


não está passível a outras interpretações, visto que o contexto – a situação na qual
o enunciado foi produzido – delimita o sentido da enunciação (a frase em seu uso
concreto da comunicação).

O contexto situacional é formado por informações que estão fora do texto,


sejam elas históricas, geográficas, sociológicas, literárias. Ele é essencial para uma
leitura mais eficaz, aproximando o interlocutor/leitor do sentido que o locutor/
escritor quis deixar claro no texto.

Na construção do sentido do texto deve-se observar vários aspectos


determinantes na compreensão da leitura. O primeiro é o “cotexto”, conhecimento
da língua; o segundo, a “situação mediata”, fatores adjacentes às condições
sociopolítico-culturais e, por último, o “contexto cognitivo dos interlocutores”, os
conhecimentos adquiridos pelo indivíduo e que precisam ser ativados no momento
da leitura.

Assim, no contexto cognitivo, consideram-se os seguintes conhecimentos:


a) linguístico – uso da língua; b) adquirido – o que aprende intelectualmente e
da convivência social; c) comunicativo – observância à situação comunicativa;
d) superestrutural; e) estilístico – diz respeito aos gêneros e tipos textuais; f)
intertextual – identificação de outros textos naquele que é lido. Nesse sentido é de
suma importância que o leitor observe alguns critérios, tais como:

1) O entendimento de contexto pode evitar a ambiguidade de uma afirmação.

2) Quando houver uma lacuna no texto, o contexto poderá elucidar o enunciado.

3) Os fatores que compõem o contexto podem modificar o sentido do


texto, conforme alguns elementos de expressão como gestos, expressão facial,
entonação da voz, entre outros.

4) O contexto justifica por levar em consideração fatores externos à língua, por


exemplo, a prática social e situação comunicativa.

Para se entender e interpretar um texto, é preciso considerar o contexto da


escrita. É interessante fazer a distinção entre contexto de produção e contexto de

Texto e Contexto 49
T3

uso. O primeiro remete às experiências de quem escreve somado às circunstâncias


e intenções de produção. No segundo, o leitor ativa seus conhecimentos e
estabelece as relações com o texto.

Vale ressaltar que, para o bom entendimento de um texto, os contextos


sociocognitivos dos interlocutores devem ser consonantes.

Com todas as considerações feitas percebe-se que a leitura é fundamental na


formação do sujeito social. A relação entre quem produz o texto com quem o lê
deve ser um processo dinâmico, respeitando as vivências pessoais e as experiências
de vida.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “O Texto como objeto de estudo das aulas de Português”


de Maria Aparecida Lino Pauliukonis – UFRJ para complementar seus estudos
sobre texto e contexto. Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/posverna/
docentes/61836-1.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia o e texto intitulado “A importância do contexto” de Ivan Paganotti da


Revista Nova Escola – Edição Especial – Janeiro 2010. Nele você encontrará mais
explicações sobre a importância do contexto, que é a situação onde ocorre o
texto. Esse estudo está voltado ao ensino de língua estrangeira, no que diz respeito
à leitura de texto levando-se em consideração o contexto. Disponível em: <http://
www.solinguainglesa.com.br/conteudo/reportagens14.php>. Acesso em: 18 nov.
2013.

50 Texto e Contexto
T3

• Veja a apresentação “A Escrita de Textos Acadêmicos: Contexto de


Produção e Características Formais” elaborada pela professoras doutoras Anna
Christina Bentes (UNICAMP) e Vívian Cristina Rio Stella (UNICAMP). Nela você
encontrará informações sobre produção de textos acadêmicos e seus contextos
de produção. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/arqs/20130625015752-
Workshop%20FEC%2021%20jun13.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• Assista ao vídeo “Linguagem e Mundo: Atividades Linguísticas Como


Construção de Sentido” para complementar seus estudos sobre texto e contexto.
Programa do Curso de Pedagogia Unesp/Univesp, da disciplina D14 – Educação
infantil: diferentes formas de linguagens expressivas e comunicativas. O programa
traz a reflexão sobre a linguagem como interação do homem com seu contexto,
com o outro e com a cultura, articulando o tema a um entendimento da infância.
Por meio de entrevistas com as professoras Patrícia Corsino (UFRJ) e Cecília
Goulart (UFF) e de situações envolvendo crianças em escolas de Educação
Infantil, o programa analisa a linguagem como forma de expressão, comunicação,
representação e de interação social. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=u1rZl_C4JAo>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Neste vídeo você vai entender melhor os seguintes questionamentos:


compreensão textual como trabalho criativo e compreender textos é uma tarefa
fácil? Quais são as habilidades necessárias para tal? Qual é o papel da escola nesse
trabalho? O programa tenta dar respostas a essas e outras questões. Os entrevistados
são os professores Francisco Savioli (ECA/USP), conhecido como Platão, e Norma
Ferreira (FE/Unicamp). O primeiro é professor de Língua Portuguesa há quarenta
anos e a segunda tem a leitura como tema de pesquisa na universidade. A UNIVESP
TV visitou ainda duas escolas: EMEFEI Antônia Gadmar, em Santa Bárbara d’Oeste,
e EE Paulo Rossi, em São Paulo. Na escola do interior, a professora Sônia Maria
faz a leitura de livros com crianças do primeiro ano do ensino fundamental. Já
na capital, a professora Marili desenvolveu projetos de interpretação de poesia e
notícias de jornais para alunos do 5º ano. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=Ys7ao6-YocE&list=PL129944938FFB0E35>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

Texto e Contexto 51
T3

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Você provavelmente se acostumou a ver a palavra texto. Mas você sabe qual é o
seu conceito? Para entendê-lo melhor, pense nas duas seguintes situações:

1) Você foi visitar um amigo que está hospitalizado e, pelos corredores, você vê
placas com a palavra “Silêncio”.

2) Você está andando por uma rua, a pé, e vê um pedaço de papel, jogado no chão,
onde está escrito “Ouro”.

Responda:

A - Em qual das situações uma única palavra pode constituir um texto? Em seguida
explique a situação que não pode ser considerada texto.

B - Como você faria para que a situação que não é considerada texto viesse a se
tornar um?

Questão 2

Leia a seguir “Circuito fechado” e depois responda o que se pede.

Circuito Fechado

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma,
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água

52 Texto e Contexto
T3

quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça,
meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço,
relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires,
prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa
e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas,
blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis,
telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone,
papéis.

Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro,


fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro,
fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras,
copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de
fósforos.

Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo
de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio,
caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone,
caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e
caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo,
revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras,
cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e
fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. (Ricardo Ramos).

Assinale a alternativa correta:

a) Não se pode considerar esse amontoado de palavras como texto.

b) Considera-se que em “Circuito Fechado” há muitas palavras soltas.

c) Em “Circuito Fechado” tem-se um texto, apesar de haver nele palavras


aparentemente sem relação.

d) Em hipótese alguma o autor deveria usar tantas palavras sem conexão.

e) Para ser considerado texto seria necessário haver muitos verbos e adjetivos.

Questão 3

“Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água
fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras,

Texto e Contexto 53
T3

calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,


chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos.”

Complete adequadamente os espaços seguintes:

Note que no início do texto, há _________ relacionados a hábitos ____________,


como levantar, ir ao -____________, lavar o ____________, escovar
____________, fazer ____________ (para os homens), tomar ___________,
vestir-se e tomar ___________ da manhã.

Texto para responder as questões 4 e 5.

O Problema Ecológico

Se uma nave extraterrestre invadisse o espaço aéreo da Terra, com certeza


seus tripulantes diriam que neste planeta não habita uma civilização inteligente,
tamanho é o grau de destruição dos recursos naturais. Essas são palavras de um
renomado cientista americano. Apesar dos avanços obtidos, a humanidade ainda
não descobriu os valores fundamentais da existência.

O que chamamos orgulhosamente de civilização nada mais é do que uma


agressão às coisas naturais. A grosso modo, a tal civilização significa a devastação
das florestas, a poluição dos rios, o envenenamento das terras e a deterioração da
qualidade do ar. O que chamamos de progresso não passa de uma degradação
deliberada e sistemática que o homem vem promovendo há muito tempo, uma
autêntica guerra contra a natureza. (PRIMO. A. Jornal Madhva - adaptado)

Questão 4

Segundo o texto, o cientista americano está preocupado com:

a) A vida neste planeta.

b) A qualidade do espaço aéreo.

c) O que pensam os extraterrestres.

d) O seu prestígio no mundo.

e) Os seres de outro planeta.

54 Texto e Contexto
T3

Questão 5

Da maneira como o assunto é tratado no texto, é correto afirmar que o meio


ambiente está degradado porque:

a) A destruição é inevitável.

b) A civilização o está destruindo.

c) A humanidade preserva sua existência.

d) As guerras são o principal agente da destruição.

e) Os recursos para mantê-lo não são suficientes.

Questão 6

Depreende-se que a linguagem é vista como meio de interação social entre os


indivíduos de uma comunidade. Partindo desse pressuposto, relate sobre a relação
que se estabelece entre os interlocutores envolvidos.

Questão 7

A compreensão de um texto se dá pela relação texto-leitor: quanto mais este


conhecer sobre o que lê, melhor o compreenderá.

Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre


indivíduos, e indivíduos socialmente determinados: o leitor,
seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com
o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar
na estrutura social, suas relações com o mundo e os outros.
(SOARES, 2000, p. 18).

A partir das afirmações, faça uma reflexão e escreva um texto sobre as suas
conclusões.

Texto e Contexto 55
T3

Questão 8

Numa aula de português, os alunos leram a crônica “Vale por dois” de Fernando
Sabino e discutiram o tema, que corresponde à dificuldade da personagem para
tomar decisões, mesmo nas situações mais simples do dia a dia. Na aula seguinte,
a professora apresentou esta proposta de redação:

“As pessoas não são apenas boas ou más. Às vezes são egoístas, em outros
momentos, amáveis; podem ser indecisas ou extremamente autoritárias, tímidas
ou extrovertidas... Há aqueles que gostam muito de si, outros que se depreciam;
há os que acham que a sua vida vale a pena, outros, porém, ‘que sua vida não
daria nada, nem uma nota de pé de página...’ (Luís F. Veríssimo). Dê asas a sua
imaginação e escreva um texto (em 1ª pessoa), falando de si, do seu jeito de ser e
do que acha da sua vida. Agora é a sua vez! Seja criativo! Não se esqueça do título!”

Especialistas do ensino de língua constatam que, em geral, na escola, a produção


escrita resulta mecanicamente da leitura e da discussão das ideias contidas no
texto utilizado. Esse procedimento, considerado inadequado, pressupõe existir na
capacidade de produzir textos “um saber que a escola deve encorajar, mas que
nasce e se desenvolve fundamentalmente de maneira espontânea, sem que se
possa ensiná-lo sistematicamente” (adaptado de Schneuwly e Dolz [2004]).

É possível reconhecer na proposta da professora a inadequação apontada pelos


críticos? Justifique sua resposta.

Questão 9

Considerando as características da linguagem oral e da linguagem escrita, compare


e analise os textos I e II, levando em conta o modo como se constrói a interlocução
em cada um deles.

Texto I – Carta:

Caro amigo Niltom: O Filme é de Tarzam.

Niltom como vai tudo bom Niltom em primeiro lugar quero ti convidar para nós
assistir um filme no cinema Niltom o filme vai ser muito massa Niltom O artista
do filme Tarzam Niltom eu convidei umas menina e Eu quero que você convide
outras meninas também.

Eu vou ti espera Niltom O filme vai ser às 14:30 horas o nome do Cinema é Cine
Tatiana lá no Coxipó. Niltom não ligue com a dispesa deixe com comigo Niltom
Eu vou ti esperar la na portaria do Cine Niltom não falte tispero la ass: Gelsom. (G.,
4ª série).

56 Texto e Contexto
T3

Texto II – Historia da Minha vida:

Historia da minha vida

Vou começar esta História falando da minha vida.

Minha vida e uma vida muito feliz porque eu tenho minha querida mãe é ela e
muito boa para mim. Quando nós morava no Paraguai era muito difícil, o produto
que nós colhia nós tinha de dar a metade pro comissário e pra vender tinha que
pagar o Permicio senão não tiro nem um grão de cereais só que nós sempre espera
um dia comseguir um pedaço de terra, e com o esforço um pouco de cada um
e com a colaboração e o sacrifício das irmãs nos temos hoje onde morar. Mas só
quando fazia um ano que nos estava aqui aconteceu que o meu irmão morreu e
nos fiquemos muito triste mas agora já tamos nos desacostumando. (S.L., 3ª série).

Questão 10

Leia o trecho da letra da música a seguir, da Banda Legião Urbana, e comente


quais conhecimentos de contexto deve-se ter para entendê-la.

Que País é Esse?

Legião Urbana

Nas favelas, no Senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a Constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

No Amazonas, no Araguaia iá, iá,

Na baixada fluminense

Mato grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz

Na morte o meu descanso,

Texto e Contexto 57
T3

mas o Sangue anda solto

Manchando os papeis e documentos fieis

Ao descanso do patrão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Terceiro mundo, se foi

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as almas

Dos nossos índios num leilão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Fonte: Letra da música Que país é esse. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/


legiao-urbana/46973/>.

FINALIZANDO

Ler um texto é um ato de partilha, de dividir informações por um processo que


envolve a transmissão e a recepção de mensagens, pelo qual um indivíduo pode
afetar outro. Portanto, implica sempre uma participação mútua de informações e
trocas de conhecimentos. A compreensão de um texto implica sua leitura crítica e
a percepção das relações entre texto e contexto. Em resumo, a leitura caracteriza-
se pela partilha de experiências pessoais entre os indivíduos participantes no ato
comunicativo, uma vez que as trocas de experiências e conhecimentos entre o
emissor e o receptor é que fazem a dinâmica do diálogo.

58 Texto e Contexto
T3

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Texto e Contexto 59
T3

60 Texto e Contexto
T3

REFERÊNCIAS

COSTA VAL, Maria das Graças. Redação e Textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.

FIORIN, J.L.; SAVIOLI, Platão F. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 2006.

________. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2002.

KOCH, I. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez Editora, 2002.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo;


Contexto, 2013.

MOURA, M.H. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006

PERRENOUD Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre:


Artmed, 2000.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola.


Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras,
2004.

GLOSSÁRIO

Competências: o conceito de competência está intimamente relacionado à


ideia de laboralidade e aumenta a responsabilidade das instituições de ensino
na organização dos currículos e das metodologias que propiciam a ampliação
de capacidades como resolver problemas novos, comunicar ideias, tomar
decisões. A competência é um conjunto de saberes, e habilidade é um saber-fazer
relacionado à prática do trabalho, mais do que mera ação motora. As habilidades
são essenciais da ação, mas demandam domínio de conhecimentos. O educar
para competências será através da contextualização e da interdisciplinaridade,
com conteúdos pertinentes à realidade do aluno. “Competência em educação
é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos - como saberes,
habilidades e informações – para solucionar com pertinência e eficácia uma série
de situações” (PERRENOUD, 2000).

Contextos: termo derivado do latim contextus, o contexto é o ambiente físico


ou situacional (conjunto de circunstâncias) a partir do qual se considera um fato.

Texto e Contexto 61
T3

Esse ambiente pode ser material (“O ladrão aproveitou o ambiente agreste para se
esconder no meio da vegetação”) ou simbólico (o ambiente histórico, cultural ou
outro). O contexto é constituído por um conjunto de circunstâncias (como o local
e o tempo) que ajudam a compreender a mensagem.

Contextos sociocognitivos: para que uma situação comunicativa seja concretizada


com eficácia, é preciso, pois, considerar o contexto sociocognitivo dos participantes
dessa interação. Quanto mais semelhantes forem os contextos sociocognitivos do
autor e do leitor, mais eficaz será a interação. Dessa forma, utilizar o contexto
sociocognitivo é saber lidar com os recursos expressivos e discursivos utilizados
pelos interlocutores, associando-os com os elementos da situação comunicativa
em busca da correlação entre eles para a produção de sentido. Isso implica
compartilhar o conhecimento linguístico, determinante das especificidades da
língua, como sistema; o enciclopédico ou de mundo, responsável pela ativação
dos saberes assimilados; e o interacional, responsável pela adequação das práticas
cotidianas de interação, cujo foco está no tripé autor-texto-leitor.

Cotexto: é por meio dos cotextos que se estabelecem as relações entre os


elementos do texto e atribuem-se propriedades a esses elementos. Exemplo: “O
celular que encontrei é branco”, “A dona do celular é a moça que é minha vizinha”.
Analisando os dois enunciados:

• Branco é uma qualidade do celular.

• O celular e o narrador relacionam-se através do “encontro”.

• A moça e o celular relacionam-se através da “posse” (ser dona).

• O narrador e a moça relacionam-se através da “vizinhança”.

Habilidades: estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que indica a
capacidade adquirida. Exemplos: identificar variáveis; compreender fenômenos;
relacionar informações; analisar situações-problema; sintetizar; julgar;
correlacionar contexto situacional: interlocutor; cotexto sociocognitivos, enfim
estão relacionadas ao saber-conhecer; saber- fazer; saber-conviver; saber-ser. As
habilidades devem ser desenvolvidas na busca das competências.

62 Texto e Contexto
Tema 4

Texto e Intertextualidade

POR DENTRO DO TEMA

Intertextualidade: Diálogo entre Textos

De um modo geral pode-se definir a intertextualidade como um “diálogo” entre


textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois
implica a identificação e o reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais
ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.

O fenômeno da intertextualidade está ligado ao “conhecimento de mundo”,


que deve ser compartilhado entre os interlocutores. O diálogo pode ocorrer em
diversas áreas do conhecimento, não se restringindo somente a textos literários.

Veja um exemplo de intertextualidade na literatura, entre os poemas de Casimiro


de Abreu “Meus oito anos” e de Oswald de Andrade “Meus oito anos”. Aquele foi
escrito no século XIX e este foi escrito no século XX. Portanto, o texto 2 cita o 1,
estabelecendo com ele uma relação intertextual.

Texto 1 Texto 2

Meus oito anos Oh! Meus oito anos Oh!

Que saudade que tenho Que saudade que tenho

Da aurora da minha vida, Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais Que os anos não trazem mais
T4

Que amor, que sonhos, que flores Naquele quintal de terra

Naquelas tardes fagueiras Da rua São Antônio

À sombra das bananeiras Debaixo da bananeira

Debaixo dos laranjas! Sem nenhum laranjais!

(Casimiro de Abreu) (Oswald Andrade)

Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio


e a fotografia da americana Cindy Sherman (Figura 4.1), na qual quem posa é ela
mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho
fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde.
Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura,
reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste
entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma
recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na
pintura.

Figura 4.1

Fonte: <http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-02.html>.

Na publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril (Figura 4.2),


o ator se veste e posiciona-se como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci,
tendo como slogan a frase “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”.
Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia

64 Texto e Intertextualidade
T4

e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de


Da Vinci). Nesse caso, pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de
não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata
de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc.).

Figura 4.2

Fonte: <http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-02.html>.

Para as autoras do Livro-Texto (KOCH; ELIAS, 2013, p. 87-94), a intertextualidade


envolve conhecimento de mundo e compreende o processo de produção/
recepção de um texto, procedimento no qual a decodificação pode adquirir
múltiplos sentidos.

Conforme as autoras, a intertextualidade pode ser:

a) Intertextualidade explícita: quando a fonte aparece claramente no intertexto.

b) Intertextualidade implícita: quando não há citação expressa da fonte e o


interlocutor deve relacionar os conteúdos intertextuais.

Vale lembrar que a intertextualidade não é uma mistura confusa de informações


ou textos, mas, sim, uma forma de transformação e junção de outros vários, a partir
de um inicial, de modo que o novo texto retome os sentidos dos outros originários.

Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:

• Epígrafe: constitui uma escrita introdutória a outra. Exemplo: “Eu não

Texto e Intertextualidade 65
T4

procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas.” (CONFÚCIO).

• Citação: é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas. Exemplo:


“A intertextualidade é elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/
leitura [...]” (KOCH; ELIAS, 2013, p. 86).

• Paráfrase: é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela


não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.

Texto original:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

Paráfrase:

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos


Minha boca procura a “Canção do Exílio”.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).

• Paródia: é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo


retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior,
visando à ironia, ou à crítica.

Texto original:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias)
Paródia:
Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
(Oswald de Andrade)

66 Texto e Intertextualidade
T4

• Pastiche: uma recorrência a um gênero.

Texto original:
Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
(Fernando Pessoa)

Pastiche:
Ó governo salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por votarmos em ti, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
(Autor desconhecido – Disponível em:
<http://sites.google.com/site/aulasdeportuguesonline/
modulo-2/pastiche>).

• Tradução: a tradução está no campo da intertextualidade porque implica


recriação de um texto.

Texto original:

Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they’re here to stay
Oh, I believe
In yesterday
(John Lennon).

Tradução:
Ontem
Todos os meus problemas pareciam tão distantes
Agora parece que eles estão aqui para ficar
Oh, eu acredito no ontem.

• Referência: referir ou reportar-se a um texto, em que se faz uma nota


informativa de remissão em uma publicação. Exemplo: Segundo Koch (2013, p. 87)

Texto e Intertextualidade 67
T4

há dois tipos de intertextualidade: a explícita e a implícita.

• Alusão: rápida menção a alguém ou algo, referência vaga, de maneira


indireta. Exemplo: Sócrates foi um grande pensador da Grécia antiga.

Assim pode-se concluir que o conceito de intertextualidade conduz à


compreensão do modo pelo qual os textos relacionam-se de tal forma evidenciando
que a intertextualidade não se relaciona unicamente com o enunciado mais ou
menos explícito ou implícito de um texto dentro de outro, uma vez que a relação
intertextual informa o texto no seu conjunto.

Nesse sentido, pode-se também concluir que, como todo texto se produz
no seio de uma cultura, que conta com uma ampla tradição de textos, com
características determinadas quanto à estrutura, à temática, ao estilo, ao registro
etc., esse conhecimento textual compartilhado faz parte do acervo comum da
comunidade linguística e por isso é ativado quando se produz um texto e quando
esse texto é interpretado.

Dessa forma, a intertextualidade pode servir à compreensão de um texto,


tanto como apoio ou como obstáculo, uma vez que, conforme se depreende,
o conhecimento intertextual é, em grande medida, cultural, fazendo parte do
conhecimento do mundo compartilhado por uma comunidade linguística.

Caso as referências intertextuais mudem, outras comunidades terão dificuldades


em compartilhar informações veiculadas.

Contudo, existem temas, ideias, estruturas e valores que são compartilhados


por todas as culturas e, quando estes se refletem em enunciados concretos,
podem servir como base de apoio para a compreensão e o estabelecimento de
um diálogo entre os interlocutores.

Apesar das múltiplas chaves para a compreensão dessas implicações, no


processamento cognitivo de um texto, cabe a recorrência ao conhecimento prévio
de outros, porquanto estes se comunicam entre si, quase de forma independente
dos seus usuários.

Portanto, a intertextualidade seria, assim, essencialmente, a evocação de uma


palavra por outra, de um personagem por outro, a relação de um enunciado a
outros. Por isso o diálogo entre os textos promove a ampliação da visão de mundo,
além de privilegiar o conhecimento do leitor.

68 Texto e Intertextualidade
T4

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais”,


com o qual você poderá complementar seus estudos sobre intertextualidade.
Trata-se de estudo realizado por Odete Aléssio Pereira. Disponível em: <http://sare.
anhanguera.com/index.php/reduc/article/view/785/>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia o artigo “Intertextualidade e Produção de Textos”, no qual se expõe


uma reflexão acerca da intertextualidade e sua pertinência no ensino de produção
textual. Com base na concepção sociocognitiva e interacional da linguagem e
no dialogismo entre os textos, busca-se mostrar como a intertextualidade torna-
se um recurso eficaz na construção do sentido objetivado pelo enunciador,
a ser explorado no ensino da produção textual. Disponível em: <http://www.
revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRANCO.pdf>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• “VideoAula – Português – Intertextualidade” (Parte I e Parte II), que reforçarão


o que foi visto na leitura obrigatória. Há explicação usando vários exemplos para
um melhor entendimento sobre intertextualidade e seus tipos. Disponíveis em:
<http://www.youtube.com/watch?v=QKU26c5IJ38> e <http://www.youtube.
com/watch?v=vtGtTtnoj6A>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• “Intertextualidade”, no qual você encontrará mais exemplos sobre o


assunto do título, o qual ficará bastante claro por meio de mais esta explicação.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TSvX4ZnntZc>. Acesso em:
18 nov. 2013.

Texto e Intertextualidade 69
T4

• Trechos do Programa “Texto, contexto e intertexto” da série Palavra


Puxa Palavra da MultiRio. Educopédia - SME/RJ, no qual você poderá relembrar
conceitos já estudados e entender melhor sobre o intertexto ou a intertextualidade.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=XMyeHYfHzm8>. Acesso em:
18 nov. 2013.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Você já deve ter tido a experiência de ler um texto e defrontar-se com passagens
lidas em outros. Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse
fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

Texto 1

Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra

Disse: Vai Carlos! Ser “gauche na vida”.

(ANDRADE, 1964)

Texto 2

Quando nasci veio um anjo safado

70 Texto e Intertextualidade
T4

O chato dum querubim

E decretou que eu tava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim.

(BUARQUE,1989)

Texto 3

Quando nasci um anjo esbelto

Desses que tocam trombeta, anunciou:

Vai carregar bandeira.

Carga muito pesada pra mulher

Essa espécie ainda envergonhada.

(PRADO, 1986)

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade em relação a Carlos


Drummond de Andrade por:

a) Reiteração de imagens.

b) Oposição de ideias.

c) Falta de criatividade.

d) Negação dos versos.

e) Ausência de recursos.

Questão 2

Leia com atenção a seguinte passagem, retirada do livro Para entender o texto -
leitura e redação, de Platão e Fiorin (2007, p. 19).

Texto e Intertextualidade 71
T4

Com muita frequência um texto retoma passagens de outro.


Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isso
é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e
em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação.
Num texto literário, a citação de outros textos é implícita,
ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra
donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor
compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a
respeito das obras que compõem um determinado universo
cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos,
históricos são necessários, muitas vezes, para a compreensão
global de um texto.
A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre
textos dá-se o nome de intertextualidade.
[...]

Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas:

a) Reafirmar alguns dos sentidos do texto citado.

b) Inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para


“polemizar com ele”.

Com base nisso, observe os três textos a seguir:

Texto 1

Pescador tão entretido

numa pedra ao sol,

esperando o peixe ferido

pelo teu anzol,

há um fio do céu descido

sobre o teu coração:

de longe estás sendo ferido

por outra mão.

(MEIRELES,1972)

72 Texto e Intertextualidade
T4

Texto 2

tô descendo a serra

cego pela serração

salvo pela imagem

pela imaginação

de uma bailarina no asfalto

fazendo curvas sobre patins

tô descendo a serra

cego pela neblina

você nem imagina

como tem curvas esta estrada

ela parece uma serpente morta

às portas do paraíso

o inferno ficou para trás

com as luzes lá em cima

o céu não seria rima

nem seria solução”

(Engenheiros do Hawaii)

Texto 3

As pedras no meio do caminho, agora estão no sapato do concorrente: Toda linha


Jeep com MIL reais de desconto.

Texto e Intertextualidade 73
T4

Relacionando o fragmento extraído de Platão e Fiorin (2007), o seu conhecimento


e os textos apresentados, é possível afirmar que:

a) No Texto 3, não se evidencia intertextualidade, pois ela ocorre somente entre


textos literários.

b) Nos textos 1 e 2, evidencia-se intertextualidade: esses textos remetem,


respectivamente, a “No meio do caminho” e “Confidência de Itabirano”, de
Drummond.

c) No Texto 1, evidencia-se intertextualidade: ele remete a “No meio do caminho”,


de Drummond.

d) Nos textos 2 e 3, evidencia-se intertextualidade: esses textos remetem,


respectivamente, a “Poema de sete faces” e “No meio do caminho”, de Carlos
Drummond de Andrade.

e) No Texto 2, evidencia-se intertextualidade: ele remete a “Confidência de


Itabirano”, de Drummond.

Questão 3:

Leia os fragmentos dos dois poemas a seguir e assinale a alternativa que registra o
tipo de intertextualidade presente entre os dois trechos:

Poema 1 – José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

74 Texto e Intertextualidade
T4

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José

[...]

(Carlos Drummond de Andrade)

Poema 2 – Um Novo José

Calma, José.

A festa não começou,

a luz não acendeu,

a noite não esquentou,

o Malan não amoleceu,

mas se voltar a pergunta:

e agora José? Diga: ora Drummond,

agora Candessus.

[...]

o Malan tem miopia,

mas nem tudo acabou,

nem tudo fugiu,

nem tudo mofou.

Se voltar a pergunta:

E agora José?

Diga: ora, Drummond,

Agora FMI.

(SOUZA, 2007)

a) Epígrafe.

Texto e Intertextualidade 75
T4

b) Tradução.

c) Paráfrase.

d) Paródia.

e) Alusão.

Questão 4

Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a “Canção do Exílio”.

Como era mesmo a “Canção do Exílio”?

Eu tão esquecido de minha terra ...

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

(ANDRADE,1964)

Nesse excerto, a citação e a presença de trechos ___________ constituem um


caso de__________.

As lacunas da frase anterior deverão ser preenchidos, respectivamente, com o que


está em:

a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.

b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.

c) do célebre poema de Gonçalves Dias / intertextualidade.

d) da célebre composição de Villa-Lobos / ironia.

e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

Questão 5

Leia com atenção os dois textos:

76 Texto e Intertextualidade
T4

Para que mentir?

Para que mentir


tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê? Pra que mentir,
Se não há necessidade
De me trair?
Pra que mentir
Se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir, se eu sei
Que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir tanto assim
Se tu sabes que eu sei
Que tu não gostas de mim?
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?
(Vadico e Noel Rosa, 1934)

Dom de Iludir

Não me venha falar na malícia


de toda mulher
Cada um sabe a dor e a delícia
de ser o que é.
Não me olhe como se a polícia
andasse atrás de mim.
Cale a boca, e não cale na boca
notícia ruim.
Você sabe explicar
Você sabe entender, tudo bem.
Você está, você é, você faz.
Você quer, você tem.
Você diz a verdade, a verdade
é seu dom de iludir.

Texto e Intertextualidade 77
T4

Como pode querer que a mulher


vá viver sem mentir.
(Caetano Veloso, 1982)

Ao ser feita a leitura dos dois textos é possível dizer que houve uma intertextualidade
entre os dois? Ela ocorreu de maneira implícita ou explícita?

a) Sim, pois ocorreu um diálogo mesmo sendo escrito por autores diferentes e em
épocas diferentes, já que ambos retratam o mesmo assunto. O diálogo deu-se de
maneira explícita, porque há a indicação dos autores das obras.

b) Sim, pois ocorreu um diálogo mesmo sendo escrito por autores diferentes e em
épocas diferentes, já que ambos retratam o mesmo assunto. O diálogo deu-se de
maneira implícita, porque há a indicação dos autores das obras.

c) Não, pois os autores retratam diferentes temas, não havendo, assim, diálogo
entre as obras.

d) Não, pois os autores retratam diferentes temas, não havendo, assim, diálogo
entre as obras, sem falar que foram escritos em épocas distintas.

e) Talvez, pois os autores não retratam diferentes temas. Há apenas versos, e não
um diálogo.

Questão 6

Tendo em vista que um texto, seja ele expresso por meio de uma linguagem verbal,
seja por meio de uma linguagem não verbal (pintura, escultura, fotografia, entre
outras modalidades), estabelece com outro uma relação de diálogo, explicite seus
conhecimentos acerca do conceito de paráfrase e paródia.

Questão 7

Analise as estrofes seguintes, comparando e expressando seus comentários sobre


a relação dialógica (se é que há) existente entre elas, enfatizando, sobretudo, se se
trata de paráfrase ou de paródia:

78 Texto e Intertextualidade
T4

Texto I

Meus oito anos


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...] (Casimiro de Abreu)

Texto II

Meus oito anos


Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
(Oswald de Andrade)

Questão 8

Pesquise, em revistas ou jornais, anúncios que utilizam a intertextualidade como


um recurso de mensagem. Identifique a presença da intertextualidade e qual a
intenção do emissor ao usar desse recurso textual. Escreva suas conclusões.

Questão 9

Escreva uma pequena descrição sobre os diferentes tipos de intertextos.

Texto e Intertextualidade 79
T4

Questão 10

Analise os excertos poéticos seguintes, tendo em vista as relações intertextuais


entre eles e o texto-matriz, sob a célebre autoria de Gonçalves Dias.
Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
[...]
(Gonçalves Dias)

Canção do Exílio facilitada

lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
(José Paulo Paes)

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas

80 Texto e Intertextualidade
T4

E quase que mais amores


Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
(Oswald de Andrade)

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


Onde cantam gaturamos de Veneza
Os poetas da minha terra
São pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas são mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
E ouvir um sabiá com certidão de idade !
(Murilo Mendes)

FINALIZANDO

Ao chegar ao final deste tema, você aprendeu que um texto pode ser criado a partir
de um ou mais textos. A isso se chama de intertextualidade, que é uma forma de
fazer alusão e referência a ideias contidas em outros materiais. A intertextualidade,
nesse sentido, é uma importante ferramenta de enriquecimento da escrita.

Texto e Intertextualidade 81
T4

Por isso, conclui-se que a compreensão de um texto depende do conhecimento


de mundo adquirido pela experiência, pela educação, pelo estudo, pelas leituras.
Quanto maior o conhecimento do leitor, melhores possibilidades ele terá de
perceber as ligações entre os textos, facilitando, assim a sua compreensão.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

82 Texto e Intertextualidade
T4

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.

BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2002.

________. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2005.

KOCH, I V & ELIAS, V M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo;


Contexto, 2013.

MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. 3. ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972.

PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

PEREIRA, O. A. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais.


Revista de Educação (SARE), v. 12, n. 13, 2009. Disponível em: <http://sare.
anhanguera.com/index.php/reduc/article/view/785>. Acesso em: 14 nov. 2013.

SOUZA, J. Um novo José. In: DIONÍSIO, A. P. (Org.) Gêneros textuais & ensino. Rio
de Janeiro: Lucerna, 2007.

GLOSSÁRIO

Conhecimento de mundo: como conhecimento de mundo entende-se toda a


experiência de vida do leitor, tudo o que ele já viu, já leu, já ouviu, em sua vida.
Muitas vezes o texto traz referências de coisas ou fatos ocorridos há tempos, ou
fatos históricos, mitos, crendices, folclore, coisas enfim, sobre as quais o escritor,
na verdade, pretende dialogar com o leitor, ou, trazer esses fatos à lembrança
deste.

Decodificação: é a ação de transcrição, interpretação ou tradução de um código


(dado ou conjunto de dados em um formato desconhecido) de modo que possa
ser entendido pelo decodificador ou seu utilizador (para um formato conhecido,
ou legível). Decodificar é o mesmo que decifrar o código. Exemplo: Quando
uma criança está construindo a base alfabética, antes de saber ler, ela consegue
decodificar algumas palavras mais corriqueiras, mas isto não implica que a mesma
já leia, ela simplesmente decodifica.

Texto e Intertextualidade 83
T4

Evocação: é o ato de trazer algo à memória, ou seja, lembrar, reativar na memória


algo que foi feito, estudado, aprendido.

Intertextual: é o mesmo que intertexto ou intertextualidade, e só funciona quando


o leitor é capaz de perceber a referência do autor a outras obras ou a fragmentos
identificáveis de diversos textos. Este recurso assume papéis distintos conforme a
contextura na qual é inserido. A pressuposta cultura geral relacionada ao uso deste
mecanismo literário deve, portanto, ser dividida entre autores e leitores.

84 Texto e Intertextualidade
Tema 5

Gêneros Textuais

POR DENTRO DO TEMA

Os gêneros textuais ou discursivos orais ou escritos permeiam qualquer


atividade humana em que há o uso de linguagens. Há várias esferas de produção
da linguagem, por isso a multiplicidade dos gêneros no nosso cotidiano. Ao abrir
um jornal impresso você se depara com inúmeros gêneros textuais, por exemplo,
o editorial, anúncios publicitários, notícias, dentre outros. Em toda situação, nos
mais diversificados lugares, encontram-se gêneros em formatos diferenciados.

Eles são tão diversos quanto permite a esfera da atividade humana em que se
produz a linguagem. Assim, cada esfera elabora seus gêneros, de acordo com
aspectos sociais próprios, finalidades comunicativas e especificidades das situações
de interação em que os enunciados estão sendo produzidos.

Normalmente, nota-se que as expressões gênero textual ou gênero discursivo


têm sido utilizadas como sinônimas ou como antagônicas pelos estudiosos do
assunto. O uso de uma expressão em detrimento da outra depende da perspectiva
em que cada um analisa a produção da linguagem.

O termo gênero discursivo é apresentado pela primeira vez pelo filósofo russo
Mikhail Bakhtin como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1979,
p. 279). Isso significa que eles podem ser transformados, pois não são estáticos,
e sim “relativamente estáveis”. Por isso, em cada novo momento histórico podem
surgir muitos gêneros novos. Nesse sentido, vê-se hoje uma série de outros
gêneros, a exemplo daqueles que circulam no contexto da internet (e-mail, chats,
blogs, hipertextos).

Os gêneros de que os interlocutores sociais fazem uso nas interações verbais


são tão diversos e heterogêneos quanto à diversidade de esferas de circulação
social nas interações verbais e na diversidade da atividade humana.
T5

Nas diversas esferas de circulação, “a utilização da língua se efetua em forma de


enunciados” (BAKHTIN, 1979, p. 279) ou pela heterogeneidade de gêneros que os
constitui. De acordo com as condições e finalidades de cada uma dessas esferas,
pode-se encontrar uma diversidade de gêneros discursivos que se modificam e se
ampliam a cada novo contexto social e histórico de circulação.

Bakhtin (1992) afirma que os gêneros discursivos são constituídos nas diferentes
esferas da comunicação verbal. Também Paredes Silva (1997) comenta que esses
gêneros são formas típicas de enunciados relativamente estáveis em um contexto
social, pois cada ambiente da vida social organiza as produções da linguagem de
uma forma particular ou típica. Como exemplo, podemos citar a receita culinária,
que tem forma e tipo estáveis estipulados pela sociedade há muitos anos.

Os gêneros do discurso, na definição bakhtiniana, distinguem-se em primários


e secundários. Os primários são constituídos por aqueles da vida cotidiana,
como bilhetes, cartas, receitas, instruções, entre outros; já os secundários, por
aqueles que aparecem nas circunstâncias de uma troca cultural mais complexa e
relativamente mais elaborada, como o discurso comercial ou científico, as obras
literárias, os textos publicitários, dentre outros.

Nesse sentido, os PCNs de Língua Portuguesa, com base nos pressupostos


bakhtinianos, confirmam que uma atividade discursiva é feita por meio da
linguagem de maneira que os interlocutores se comuniquem verbalmente a partir
de suas finalidades e intenções e dos conhecimentos que acreditam que possuam
sobre o assunto. Na maioria das vezes, os textos são organizados dentro de um
determinado gênero de intenções comunicativas.

Para os PCNs de Língua Portuguesa, a “noção de gênero refere-se, assim, às


famílias de textos que compartilham características comuns, embora heterogêneas,
como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo,
extensão; grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado”
(BRASIL, 1999, p. 22).

Existem gêneros privilegiados para leitura de textos literários


(conto, novela, romance...), de imprensa (notícia, editorial...), de
divulgação científica (verbete...), publicidade (propaganda...).
Esses gêneros devem ser trabalhados pelos professores de
maneira diversificada, pois um conto não deve ser trabalhado
da mesma maneira que um artigo. Os professores devem
priorizar os gêneros que “aparecem com maior frequência na
realidade social e universo escolar...”. (BRASIL, 1998, p. 26).

86 Gêneros Textuais
T5

Retomando a concepção bakhtiniana, produzir linguagem é o mesmo que


produzir discursos sociais. Fica fundamentada, nessa abordagem, a linguagem em
sua essência e natureza dialógicas e sócio-históricas, enfatizando a diversidade e
a riqueza da produção da linguagem, perpassadas por fatores linguísticos e não
linguísticos. Nesse sentido, a produção dos gêneros discursivos está diretamente
relacionada ao meio social, às condições de produção, aos interlocutores sociais
e às esferas de circulação social dos discursos, sejam estes orais ou escritos.

Vejamos agora um exemplo de um gênero textual ou discursivo: o gênero


notícia, que relata fatos de interesse público de maneira objetiva e clara. As notícias
transmitem informações sobre os fatos que acontecem, que aconteceram ou
que ainda estão para acontecer. Ao escrever uma notícia, o redator procura dar
informações com detalhes, quase sempre respondendo às perguntas: “o quê”;
“quem?”; “quando?”; “onde?”; “como?”; “por quê?”. Esse gênero, em geral, tem a
função principal de mencionar os acontecimentos mais relevantes, de maneira
que possa atrair o interesse do público a que se destina. Numa notícia predomina
a narração por meio de uma linguagem objetiva e impessoal. Entretanto, muitas
vezes, quem escreve uma notícia vai além da simples informação sobre o que
e como aconteceu o fato. Assim, é comum se observar uma escrita composta
por um sentido ideológico e interesse político específico, pois quem escreve
também tem a pretensão de formar uma opinião sobre o que está informando.

Geralmente, a notícia apresenta uma estrutura padrão, composta de duas


partes: o lead e o corpo.

Lead é um relato sucinto dos aspectos essenciais do fato e consiste


normalmente no primeiro parágrafo da notícia. Seu objetivo é dar as informações
básicas ao leitor e motivá-lo a continuar a leitura.

Corpo corresponde aos demais parágrafos da notícia, nos quais é apresentado


o detalhamento do que foi escrito no lead, fornecendo ao leitor novas
informações.

Há também nesse gênero, o título, o olho, sendo um trecho escrito em


destaque, que completa as informações dadas no título da matéria. Assim todas
as partes da notícia, além de atrair a atenção do leitor, estimulam sua curiosidade,
fazendo-o levantar hipóteses, as quais só serão ou não confirmadas depois da
leitura completa da notícia. Para fixar melhor o que foi relatado acima leia, o
gênero textual “notícia” e observe suas partes constitutivas.

Gêneros Textuais 87
T5

Projetos educativos combatem trabalho infantil no campo

por Juliana Sada, do Promenino com Cidade Escola Aprendiz - Enviada especial a Brasília

Educação e pobreza. Essas duas palavras foram repetidas constantemente nesta


tarde na semi-plenária “Trabalho Infantil na Agricultura”, parte da III Conferência
Global sobre Trabalho Infantil. No foco dos participantes, as 98 milhões de crianças
e adolescentes trabalhando no setor agrícola – que engloba atividades como
plantações, colheitas, pesca, extração vegetal e pecuária, números expressivos se
considerarmos que compõem 60% do total.

As estatísticas da Organização Internacional do Trabalho revelam que o


trabalho infantil na agricultura ocorre, em sua maioria, em propriedades familiares
e sem remuneração. Com este panorama de fundo, os debatedores ressaltaram a
importância estratégica da educação na erradicação do trabalho infantil.

O especialista da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e


Agricultura), Bernd Seiffert, trouxe a experiência promovida pela organização na
Tanzânia, o “Junior farmer field and life schools”. “Muitas comunidades agrícolas
acham que o currículo escolar não é adequado e útil para eles, então o programa
traz habilidades relacionadas ao cotidiano deles para dentro da sala de aula”, explica
Seiffert. Além da questão educacional, o programa visa articular a comunidade e
as associações de produtores para facilitar o acesso aos créditos por parte dos
agricultores e melhor colocação no mercado. “O programa empodera crianças
vulneráveis e engaja governo e associações de produtores na prevenção do
trabalho infantil e na promoção do trabalho juvenil”, analisa o especialista da FAO.

A importância da escola também foi ressaltada pela diretora da Nanyoiye


Development Organization, Irene Leshore, do Quênia. A ativista trouxe a iniciativa
realizada em sua comunidade de oferecer educação às crianças envolvidas em
atividades de pastoreio. “No distrito de Samburu, a frequência escolar é muito baixa

88 Gêneros Textuais
T5

porque o cotidiano dos pastores impede a ida à escola, as crianças saem muito
cedo e andam até 20 quilômetros por dia e retornam apenas a noite para casa”,
explica Irene. Diante deste panorama, criaram-se escolas mais flexíveis para que as
crianças passassem a frequentar a escola. “Na minha comunidade, a solução para
a erradicação das piores formas do trabalho infantil passa pela criação de mais
escolas”, definiu Irene.

Além da oferta de educação gratuita, de qualidade e conectada às necessidades


das comunidades, os debatedores destacaram que a erradicação do trabalho
infantil na agricultura também demanda políticas de promoção do trabalho
decente no setor.

A representante da União Internacional de Trabalhadores da Alimentação


(UIFA), Sue Longley, destacou a situação dos agricultores do setor. “A agricultura
é marcada por deficiências nos direitos trabalhistas, muitos trabalhadores da
agricultura não estão cobertos pelos direitos já consolidados nas legislações e
pelas Convenções da OIT. É nesse contexto que temos que considerar o trabalho
infantil na agricultura”, explicou Sue.

Já o ativista indiano Kailash Satyarthi, da Marcha Global contra o Trabalho Infantil,


destacou que a agricultura familiar muitas vezes está numa posição desfavorável
na cadeia produtiva. “Quanto menor o poder de barganha dos agricultores, maior
os problemas no setor rural e maior a chance das crianças entrarem no mercado”,
afirmou Satyarthi.

A representante da UIFA, Sue, destacou a urgência do debate sobre a questão


do trabalho infantil na agricultura: “Nós precisamos de uma estratégia de
aceleração da erradicação especificamente para o setor. Precisamos sair daqui
com comprometimento e planos de ação”.

Fonte:<http://www.promenino.org.br/Default.aspx?TabId=77&ConteudoId=5e
dd472d-d512-4095-95d5-d64679aef486>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Depois da leitura da notícia, você pode notar mais claramente que é por meio
da noção de produção de gêneros textuais ou discursivos que percebe-se o papel
dialógico e social da linguagem. Conhecer e valorizar a diversidade de gêneros
existentes permite ao usuário da língua, identificar seus aspectos principais e
produzir textos orais ou escritos em condições específicas.

Vale lembrar, também, que a utilização da língua ocorre em enunciados (na


oralidade ou na escrita), sendo imensa a diversidade de usos. É nessário portanto,
que se analisem as circunstâncias sociais de uso da linguagem e que se façam as
devidas escolhas. Isto é, em que gênero vou enunciar e graças à dinâmica dialógica
da linguagem, as opções são muitas, pois como afirma Bakhtin (1979, p. 279)

Gêneros Textuais 89
T5

[...] a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são


infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é
inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e
ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e
fica mais complexa.

Gêneros Textuais e Tipos textuais

Em relação aos gêneros textuais, Marcuschi (2005) esclarece que eles são
compreendidos como práticas sócio-históricas e discursivas, apresentando um
poder preditivo e interpretativo das ações humanas. Os gêneros textuais são
usados para textos materializados, concretos, característicos do nosso cotidiano,
apresentando elementos sociocomunicativos definidos pelos conteúdos, pelas
propriedades funcionais, pelo estilo e pela composição. São exemplos: telefonema,
sermão, cartas, romance, novelas, contos, anúncios publicitários, charges, etc.
Os gêneros surgiram no último século, a exemplo do e-mail e de mensagens
eletrônicas, criaram formas comunicativas próprias, caracterizadas por situações
híbridas que diferenciam as relações entre oralidade e escrita, criando integração
entre os vários tipos de semioses, como signos verbais, sons, imagens etc.

Já quanto aos tipos textuais, Marcuschi (2005) afirma que eles são usados
para designar uma espécie definida pela natureza linguística de sua composição
(aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais e relações lógicas), abrangendo as
seguintes categorias: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.

De uma forma simplificada, pode-se afirmar que os gêneros textuais se referem


a uma estrutura textual concreta, já a tipologia refere-se às designações teóricas. A
partir do quadro de Marcuschi (2005), é possível estabelecer as principais diferenças
entre tipologia textual e gênero textual:

Tipos Textuais Gêneros Textuais


• Constructos teóricos • Realizações linguísticas
definidos por propriedades linguísticas concretas definidas por propriedades
intrínsecas. sociocomunicativas.

• Constituem sequências • Constituem textos


linguísticas ou sequências de empiricamente realizados cumprindo
enunciados no interior dos gêneros e funções em situações comunicativas.
não são textos empíricos.

90 Gêneros Textuais
T5

• Sua nomeação abrange • Sua nomeação abrange um


um conjunto limitado de categorias conjunto aberto e praticamente
teóricas determinadas por aspectos ilimitado de designações concretas
lexicais, sintáticos, relações lógicas, determinadas pelo canal, estilo,
tempo verbal. conteúdo, composição e função.

• Designações teóricas dos tipos: • Exemplos de gêneros:


narração, argumentação, descrição, telefonema, sermão, carta comercial,
injunção e exposição. carta pessoal, romance, bilhete, aula
expositiva, reunião de condomínio,
horóscopo, receita culinária, bula de
remédio, lista de compras, cardápio,
instruções de uso, outdoor, inquérito
policial, resenha, edital de concurso,
piada, conversação espontânea,
conferência, carta eletrônica, bate-
papo virtual, aulas virtuais etc.

Nesse sentido, sabe-se que além dos gêneros textuais, podem-se identificar
também os “tipos textuais”, que constituem sequências linguísticas de enunciados,
por meio das quais o autor faz uma “narração”, uma “descrição”, uma “argumentação”,
uma “exposição” ou uma “injunção”. Então uma sequência linguística ou textual é o
conjunto de elementos (palavras) que possibilita que um texto tenha características
narrativas, descritivas, argumentativas e/ou injuntivas. Desse modo, as sequências
podem determinar se o texto será predominantemente do tipo narrativo, descritivo,
argumentativo ou injuntivo.

• Sequência narrativa é construída basicamente de verbos que expressam


ação e encadeiam causas e consequências, revelando a interação de elementos
(personagens, por exemplo) para a realização de fatos.

Observe o exemplo:

Como tratar o inimigo

Um soldado no Iraque recebeu uma carta da sua namorada, que dizia o


seguinte: “Querido John: Não podemos continuar com esta relação.

A distância que nos separa é demasiado longa.

Tenho que admitir que tenho sido infiel já por várias vezes desde que te foste
embora. Acredito que nem tu nem eu merecemos isto!

Gêneros Textuais 91
T5

Portanto, penso que é melhor acabarmos tudo! Por favor, manda de volta a
foto minha que te enviei. Com Amor, Mary”.

O soldado John, muito magoado, pediu a todos os seus colegas que lhe
emprestassem fotos das suas namoradas, irmãs, amigas, primas etc. Juntamente
com a foto de Mary, colocou todas as outras fotos que conseguiu recolher com
seus colegas, em um envelope. Na carta que enviou à Mary estavam 87 fotos
juntamente com uma nota que dizia:

“Querida Mary:

Isso acontece. Peço desculpas, mas não consigo me lembrar quem tu és! Por
favor, procura a tua foto no envelope e me envia, de volta, as restantes! Com
carinho, com muito, muito amor… John”.

MORAL DA HISTÓRIA: Mesmo derrotado… Saiba arrasar o inimigo!

Notamos que um elemento primeiro (a carta) se une a outros elementos


(namorado, ambiente etc.) e gera a consequência (resposta do soldado), o que
possibilita agrupar esse texto dentro do tipo narrativo, pois é predominante a
sequência narrativa.

• Sequência descritiva pode possuir elementos como a sequência narrativa,


tendo como marca de distinção a não interação desses elementos para a realização
de fatos.

Observe o exemplo:

Enquanto a casa pegava fogo, um bebê chorava no quarto dos fundos e dois
garotos brincavam de bola na rua em frente.

Nesse período, percebemos a presença de verbos de ação (pegava, chorava,


brincavam) em uso com os demais elementos de uma narrativa (personagens,
tempo, espaço), porém, cada elemento permanece em seu lugar, não apresentando
uma interação que gere consequências; o que temos é um panorama de uma
situação, lembrando até mesmo uma pintura impressionista.

Note a diferença quando se toma os mesmos elementos, mas constrói-se uma


sequência narrativa:

Enquanto a casa pegava fogo, um bebê chorava no quarto dos fundo, alertando,
assim, os dois meninos que brincavam de bola na rua em frente.

Sem precisar dar continuidade ao enredo, é possível constatar que, a partir do


momento que o choro é percebido pelos dois garotos, uma reação em cadeia

92 Gêneros Textuais
T5

ocorrerá: os meninos, preocupados ao notarem uma casa pegando fogo e


uma criança chorando, procurarão, de alguma maneira, solucionar o problema,
representando assim uma interação entre elementos e possíveis consequências
para os fatos. Eis a distinção entre um panorama de uma situação (sequência
descritiva) e a interação de elementos para a realização de fatos (sequência
narrativa).

• Sequência argumentativa

Para um texto ser caracterizado como argumentativo, é necessária a


predominância da disposição lógica de indícios, suposições, deduções e opiniões
que busquem respaldar uma verdade potencial. Portanto, um conjunto de
sequências argumentativas se faz necessário.

Acompanhe o fragmento de um texto:

”Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não
existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que, se você for parar pra
pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho.
Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a
gente está precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada.”
(adaptação: Luis Fernando Veríssimo).

Por mais que existam sequências descritivas que caracterizem a pessoa certa
no fragmento acima, essas sequências são utilizadas para justificar (respaldar) uma
ideia que o autor do texto julga ser verdadeira: “Pensando bem, em tudo o que
a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.”
Assim, sem perder o valor adjetivo que as expressões dispostas na sequência
descritiva possuem, passam, em conjunto, a valerem como indícios e opiniões
que justificarão com o desenvolvimento textual o juízo de valor do autor.

• Sequência injuntiva

Comum em manuais de aparelhos eletrônicos e em receitas culinárias, a


sequência injuntiva prioriza a presença de verbos no imperativo com o objetivo
de orientar o leitor, por meio de comandos, na realização de tarefas. A sequência
injuntiva também pode ser utilizada para, em um conjunto textual como o poema,
transmitir um pensamento, uma opinião.

Veja:

Gêneros Textuais 93
T5

Poesia concreta
beba coca cola

babe cola

beba coca

babe cola caco

caco

cola

cloaca
Fonte: São Paulo: Abril educação, 1982, p. 43. Literatura Comentada.

Nesse poema de Décio Pignatari, notamos como ele vê o consumo de um


produto da indústria internacional. Sem utilizar-se de sequência argumentativa,
expõe o repúdio que tem pelo produto, grafado com letra minúscula.

Dessa forma, pode-se perceber que as sequências textuais são de fundamental


importância para a produção de textos e que elas podem proporcionar a
caracterização de um espaço, o relato de um acontecimento, a divulgação de uma
opinião e o encaminhamento de uma atividade, mesmo que sejam utilizadas em
contextos diferentes daqueles nos quais podemos encontrá-las e que expressem
ideias para além do seu usual, como é apresentado no exemplo final (sequências
injuntivas que funcionam como divulgadoras de uma opinião implícita).

Assim, o acesso a diferentes gêneros textuais é de suma importância para


criarmos uma “bagagem” textual e, com isso, sabermos escolher cada um deles
em dado contexto. Essa bagagem é que nos propicia a escolha adequada de uma
produção textual em dada situação comunicativa. Segundo Koch (2009), as pessoas
constroem, ao longo da vida, uma competência metagenérica, que relaciona-se
ao conhecimento de gêneros textuais, caracterização e função. A competência
metagenérica nos dá um norte para “quem”, “o quê”, “como escrever/falar”. Por
exemplo, não se podemos apresentar uma tese científica com uma linguagem
informal, ao passo que não tem lógica, em uma mesa de bar com amigos, usarmos
uma linguagem poética.

Então, quando se fala em gêneros textuais e tipos textuais, há que se falar


da teor heterogêneo do texto. por exemplo, a carta pessoal pode conter uma
sequência narrativa, uma argumentação, uma descrição e assim por diante. Esse
modo de análise pode ser desenvolvido com todos os gêneros. Nota-se que há
uma grande heterogeneidade tipológica nos gêneros textuais. Quando se nomeia

94 Gêneros Textuais
T5

um certo texto como narrativo, descritivo ou argumentativo, não se nomeia o


gênero, e sim o predomínio de um tipo de sequência de base. Um gênero pode
não ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero.

Ex.: o artigo de opinião da folha de São Paulo:

Um novo José

Josias de Souza

Calma José.

A festa não começou,

a luz não acendeu,

a noite não esquentou

O Malan não amoleceu, mas se

voltar a pergunta:

e agora José

Diga: ora Drummond,

agora Camdessus.

Continua sem mulher,

continua sem discurso,

continua sem carinho, ainda não

pode beber,

ainda não pode fumar,

cuspir ainda não pode,

a noite é fria,

O dia ainda não veio,

não veio,

não veio ainda a utopia,

o Malan tem miopia,

mas nem tudo acabou,

Gêneros Textuais 95
T5

nem tudo fugiu,

nem tudo mofou.

Se voltar a pergunta:

E agora josé?

Diga: ora Drummond, Agora FMI.

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

O Malan nada faria,

mas já há quem faça.

Ainda só, no escuro,

qual bicho do mato, ainda sem

teogonia,

ainda sem parede nua, pra se encostar,

ainda sem cavalo preto,

que fuja a galope,

você ainda marcha José!

Se voltar a pergunta:

José para onde?

Diga: ora Drummond,

Por que tanta dúvida?

Elementar, elementar,

sigo pra Washington

e, por favor, poeta,

96 Gêneros Textuais
T5

não me chame de José.

Me chame Joseph.

É comum mesclar o conteúdo de um gênero textual e a composição estrutural


de outro, para criar certo efeito comunicacional. Essa forma de empregar os
gêneros textuais é denominada de “hibridização” ou “intertextualidade de gêneros”.

Nesse exemplo dado, há um gênero funcional (artigo de opinião) com o formato


de outro (poema). O texto apresenta uma configuração híbrida: formato de um
poema para o gênero textual artigo de opinião, sua estrutura é de intergêneros.
Note que a intertextualidade intergêneros não deve ser confundida com a
heterogeneidade tipológica do gênero, que diz respeito ao fato de um gênero
realizar várias sequências de tipos textuais (ex.: a carta).

Portanto, no uso da linguagem, para atender a propósitos comunicativos,


exige-se cada vez mais um olhar multidisciplinar. O trabalho com domínios
discursivos, gêneros e tipos textuais e sua implicação intertextual e intergenérica
é uma excelente oportunidade de profissionais de diferentes áreas contribuírem
com pesquisas que situem a língua nos seus mais diversos usos diários. Sabe-se
que há alguns gêneros com grande ocorrência na vida diária e, por isso, devem ser
merecedores de estudos que ofereçam subsídios que possam nortear mudanças
não só em práticas linguísticas, mas especialmente em práticas sociais.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “Gênero textual e tipologia textual: colocações sob dois


enfoques teóricos” de Sílvio Ribeiro da Silva, com o qual você poderá aprofundar
seus conhecimentos sobre gêneros textuais e tipos textuais, encontrando
posicionamentos teóricos de alguns autores da linguística textual. Disponível em:

<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/g00003.htm>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

Gêneros Textuais 97
T5

• Visite o site do Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia, professor de Língua


Portuguesa e Linguística do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal
de Uberlândia. Nele você encontrará vários artigos sobre o assunto estudado. Nesta
indicação, em específico, você tem acesso ao artigo “Aspectos da pesquisa sobre
tipologia textual”, escrito pelo professor Travaglia. Disponível em: <http://www.
ileel.ufu.br/travaglia/artigos/artigo_aspectos_da_pesquisa_sobre_tipologia_textual.
pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia a resenha escrita por Rita Signor sobre “Os gêneros do discurso”. Assim
você terá a visão geral da abordagem bakhtiniana sobre os gêneros discursivos.
Disponível em:

<http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2009/12/RESENHA1.-Os-generos-do-
discurso.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• Neste vídeo a professora Rafaela Motta explica a tipologia textual, como


os textos são compostos, além de falar das sequências que compõem os diversos
textos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=P8oY5dwA2u4>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

• Assista ao vídeo “Gêneros Textuais” do Programa Escrevendo o Futuro, com


o qual você poderá reforçar o estudo sobre este tema, além de ter uma explicação
a mais sobre os gêneros primários e secundários, que são apresentados em tabela.
Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=OQPw-xUK_tk>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Assista ao vídeo “Pedagogia – Unesp/Univesp – Linguagem e dialogismo”.


O programa mostra três concepções de linguagens – linguagem como espelho
do mundo, linguagem como instrumento de comunicação e linguagem como
forma de interação. A partir daí, o espectador é levado a refletir sobre o dialogismo,
conceito criado pelo filósofo russo Mikhail Bakthin. Para ele, a linguagem é um
produto das relações sociais e das condições materiais e históricas de cada tempo.
Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=D3Cu0e_cTz0>. Acesso em: 18 nov. 2013.

98 Gêneros Textuais
T5

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

O Chat e sua linguagem virtual

O significado da palavra chat vem do inglês e quer dizer “conversa”. Essa conversa
acontece em tempo real, e, para isso, é necessário que duas ou mais pessoas
estejam conectadas ao mesmo tempo, o que chamamos de comunicação
síncrona. São muitos os sites que oferecem a opção de bate-papo na internet.

Basta escolher a sala que deseja “entrar”, as quais são divididas por assuntos, como
educação, cinema, esporte, música, sexo, entre outros.

Para entrar, é necessário escolher um nick, uma espécie de apelido que identificará
o participante durante a conversa.

Algumas salas restringem a idade, mas não existe nenhum controle para verificar
se a idade informada é realmente a idade de quem está acessando, facilitando que
crianças e adolescentes acessem salas com conteúdos inadequados para sua faixa
etária.

Segundo o texto, o chat proporciona a ocorrência de diálogos instantâneos com


linguagem específica, uma vez que nesses ambientes interativos faz-se uso de
protocolos diferenciados de interação. O chat, nessa perspectiva, cria uma nova
forma de comunicação porque:

a) Possibilita que ocorra diálogo sem a exposição da identidade real dos indivíduos,
que podem recorrer a apelidos fictícios sem comprometer o fluxo da comunicação
em tempo real.

Gêneros Textuais 99
T5

b) Disponibiliza salas de bate-papo sobre diferentes assuntos com pessoas pré-


selecionadas por meio de um sistema de busca monitorado e atualizado por
autoridades no assunto.

c) Seleciona previamente conteúdos adequados à faixa etária dos usuários que


serão distribuídos nas faixas de idade organizadas pelo site que disponibiliza a
ferramenta.

d) Garante a gravação das conversas, o que possibilita que um diálogo permaneça


aberto, independentemente da disposição de cada participante.

e) Limita a quantidade de participantes conectados nas salas de bate-papo, a fim de


garantir qualidade e eficiência dos diálogos, evitando mal-entendidos.

Questão 2:

O dia em que o peixe saiu de graça

Uma operação do Ibama para combater a pesca ilegal na divisa entre os Estados
do Pará, Maranhão e Tocantins incinerou 10 km de redes usadas por pescadores
durante o período em que os peixes se reproduzem.

Embora tenha um impacto temporário na atividade na região, a medida visa


preservá-la ao longo prazo, evitando o risco de extinção dos animais.

Cerca de 15 toneladas de peixes foram apreendidas e doadas para instituições de


caridade. (Revista Época – 23 mar. 2009 [adaptado]).

A notícia anterior, do ponto de vista de seus elementos constitutivos,

a) Apresenta argumentos contrários à pesca ilegal.

b) Tem um título que resume o conteúdo do texto.

c) Informa sobre uma ação, a finalidade que a motivou e o resultado dessa ação.

d) Dirige-se aos órgãos governamentais dos estados envolvidos na referida


operação do Ibama.

e) Introduz um fato com a finalidade de incentivar movimentos sociais em defesa


do meio ambiente.

100 Gêneros Textuais


T5

Questão 3

Câncer 21/06 a 21/07

O eclipse em seu signo vai desencadear mudanças na sua autoestima e no seu


modo de agir. O corpo indicará onde você falha – se anda engolindo sapos, a
área gástrica se ressentirá. O que ficou guardado virá à tona, pois este novo ciclo
exige uma “desintoxicação”. Seja comedida em suas ações, já que precisará de
energia para se recompor. Há preocupação com a família, e a comunicação entre
os irmãos trava. Lembre-se: palavra preciosa é palavra dita na hora certa. Isso ajuda
também na vida amorosa, que será testada. Melhor conter as expectativas e ter
calma, avaliando as próprias carências de modo maduro. Sentirá vontade de olhar
além das questões materiais – sua confiança virá da intimidade com os assuntos da
alma. (Revista Cláudia, n. 7, ano 48, jul. 2009).

O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, o seu contexto de uso, a sua


função específica, o seu objetivo comunicativo e o seu formato mais comum
relacionam-se aos conhecimentos construídos socioculturalmente. A análise dos
elementos constitutivos desse texto demonstra que sua função é:

a) Vender um produto anunciado.

b) Informar sobre astronomia.

c) Ensinar os cuidados com a saúde.

d) Expor a opinião de leitores em um jornal.

e) Aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho.

Questão 4

MOSTRE QUE SUA MEMÓRIA É MELHOR DO QUE A DE UM COMPUTADOR E


GUARDE ESTA CONDIÇÃO: 12X SEM JUROS. (Revista Época, n. 424, 3 jul. 2006).

Ao circularem socialmente, os textos realizam-se como práticas de linguagem,


assumindo funções específicas, formais e de conteúdo. Considerando o contexto
em que circula o texto publicitário, seu objetivo básico é:

a) Definir regras de comportamento social pautadas no combate ao consumismo


exagerado.

Gêneros Textuais 101


T5

b) Influenciar o comportamento do leitor, por meio de apelos que visam à adesão


ao consumo.

c) Defender a importância do conhecimento de informática pela população de


baixo poder aquisitivo.

d) Facilitar o uso de equipamentos de informática pelas classes sociais


economicamente desfavorecidas.

e) Questionar o fato de o homem ser mais inteligente que a máquina, mesmo a


mais moderna.

Questão 5

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta,


novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21
de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco
José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-
se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é
criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o
matricula na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis.

Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado


constitui-se de:

a) Fatos ficcionais, relacionados com outros de caráter realista, relativos à vida de


um renomado escritor.

b) Representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por


seus trabalhos e vida cotidiana.

c) Explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa,


destacando como tema seus principais feitos.

d) Questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica,


ressaltando sua intimidade familiar em detrimento de seus feitos públicos.

e) Apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem


tipológica da narração, com um estilo marcado por linguagem objetiva.

Questão 6

Analise o texto seguinte e responda a que gênero textual ele pertence. Por quê?

102 Gêneros Textuais


T5

A Doce Vida

Na Roma dos anos 1950, o jornalista de fofocas Marcello (Marcello Mastroianni)


passa os dias entre festas e badalações, mas se sente vazio e sonha em escrever sobre
assuntos sérios. Esta é “A Doce Vida” de Federico Fellini (1920-1993), monumento
da grandeza do cinema italiano dos anos 1960. O diretor começou a carreira dentro
da tradição Neorrealista, mas com este drama inaugurou o estilo “felliniano”, termo
que descreve situações e personagens exagerados e extravagantes. O filme inicia
a longa parceria entre Fellini e Mastroiani e fez história com sua estrutura moderna
e fragmentada, enfatizando imagens fantásticas e barrocas. A cena de Anita Ekberg
na Fontana de Trevi entrou para a história. (FELLINI, Federico. A doce vida. São
Paulo: Moderna, 2011. (Coleção Folha Cine Europeu, 1). (Capa traseira. DVD).

Questão 7

Na imagem seguinte, você está diante de qual gênero textual? Analise e descubra
qual o tipo de sequência linguística é predominante.

Disponível em <http://www.webarcondicionado.com.br/wp-content/uploads/2012/06/2dsplay_midea_estilo.jpg>.
Acesso em: 14 nov. 2013.

Gêneros Textuais 103


T5

Questão 8

Ter clara a diferença entre gênero textual e tipologia textual é importante para
nortear o trabalho do professor de língua na leitura, na compreensão e na produção
de textos. Nesse sentido, faça uma pesquisa conceitual sobre as diferenças entre
gênero textual e tipo textual.

Questão 9

Blitz educativa

12/08/2013

Uma aula diferente fora da sala de aula, mas com um grau significativo por
aprimorar a conscientização de jovens e adultos em relação à mistura perigosa
entre álcool e direção.

Foi assim que alunos e professores da Escola Municipal Gilberto Rezende Rocha
Filho, de Gurupi, realizaram na tarde da última sexta-feira, 9, uma Blitz educativa
com o tema: “Balada consciente”. Aproximadamente 80 crianças participaram
do momento de conscientização e os trabalhos foram acompanhados por
professores e servidores da escola. Na oportunidade os futuros motoristas falaram
aos condutores de veículos sobre a combinação perigosa entre álcool e direção.
Panfletos e cartazes confeccionados pelos próprios alunos foram entregues a
cada motorista parado durante a blitz.

Fonte: <http://www.t1noticias.com.br/curtas/blitz-educativa/51135/#.
UoIYbXA3v-Y>.

O texto apresentado pertence a que gênero textual? É possível responder aos


questionamentos “o quê?”, “quem?”, “quando?”, “onde?”, “como?”, “por quê?”?

Questão 10

O texto seguinte é de um anúncio publicitário de um adoçante que tem o


seguinte slogan: “Mude sua embalagem”. A estratégia que o autor utiliza para o
convencimento do leitor baseia-se no emprego de recursos expressivos, verbais
e não verbais, com vistas ao estudo sobre os gêneros textuais. Comente qual
a provável intenção do autor em usar a parte verbal associada à não verbal na
constituição deste anúncio publicitário.

104 Gêneros Textuais


T5

Disponível em: <http://www.ccsp.com.br/site/imagecache/_img/full/anuarios/26/960x720_2130.jpg>. Acesso em:


15 out. 2013 (adaptado).

FINALIZANDO

Você estudou os gêneros textuais, os tipos textuais, e viu que a competência


metagenérica conduz os indivíduos a desenvolver habilidades de reconhecimento
sobre a estrutura de textos, a qual lhes permite interagir de forma conveniente
nas suas práticas sociais, propiciando também o conhecimento dos gêneros
e dos tipos textuais, cuja classificação, sem teor absoluto, facilita o ensino e o
aprendizado da Língua Portuguesa na escola.

Soube também que a hibridização (ou intertextualidade) de gêneros contribui


para o enriquecimento da aludida competência, tanto quanto os tipos textuais, que
são sequências de enunciados por meio das quais o autor faz uma narração, uma
descrição, uma argumentação, uma exposição ou uma injunção.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Gêneros Textuais 105


T5

106 Gêneros Textuais


T5

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

______Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

______Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio – linguagens, códigos e


suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 1999.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2006.

________. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto,


2009.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: Definição e Funcionalidade. In


DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora
(Orgs.). Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

PAREDES SILVA, V. L. Forma e função nos gêneros de discurso. Alfa, São Paulo, n.
41 (n.ep), p. 79-98, 1997.

GLOSSÁRIO

Aspectos lexicais: são as diferentes formas de expressão de uma língua.O léxico


são os vocábulos. A língua é viva e se apresenta de várias formas no tempo e no
espaço. Exemplo de variações de tempo: o português falado há 100 anos atrás
no Brasil não é o mesmo de hoje, embora sejam a mesma língua. Exemplo de
variações de espaço: o português do Brasil não é o mesmo falado em Portugal
pela entonação e por termos diferentes, mas é a mesma língua que se apresenta
de forma variada. Por essa razão os linguistas afirmam que só se pode dizer que
uma pessoa domina realmente um idioma quando ela lê bem principalmente
os grandes clássicos, pois é na literatura que você se depara com a evolução
linguística, vê o caminho (no tempo e no espaço) que a língua percorreu até
chegar ao que é nos dias atuais. Léxico é o conjunto de palavras pertencentes a
uma determinada língua. Por exemplo, existe um léxico da língua portuguesa que é
o conjunto de todas as palavras que são compreensíveis em nossa língua. Quando

Gêneros Textuais 107


T5

essas palavras são materializadas em um texto, oral ou escrito, são chamadas de


vocabulário. O conjunto de palavras utilizadas por um indivíduo, portanto, constitui
o seu vocabulário.

Intergenérica: são as transgressões sofridas pelos gêneros textuais, caracterizadas


por uma hibridização ou mescla de funções e formas de gêneros diversos num
dado gênero, em que um assume a função ou a forma de outro (por exemplo,
um anúncio publicitário com a forma de uma carta), ao que Marcuschi chama
de “intertextualidade intergêneros”. O autor esclarece ainda que o aspecto que
designará esse gênero híbrido é, basicamente, o seu propósito (função, intenção,
interesse), e não a forma, visto que a noção de gênero textual privilegia a natureza
funcional e interativa, e não o aspecto formal e estrutural, pois o “predomínio da
função supera a forma na determinação do gênero” (MARCUSCHI, 2005, p. 22, 24
e 31).

Semioses: termo encontrado na semiologia ou na semiótica, a produção de


significados, que procura relacionar a linguagem com outros sistemas de signos
de natureza humana ou não: o processo de criação é um processo de semiose
ilimitada. [Termo criado por Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, cientista
e matemático americano.][F.: semio- + -ose.]De acordo com Peirce, os signos se
diferenciam dependendo da relação entre os elementos que compõem um signo
e de sua ação específica (ou semiose). Quando um signo diz respeito ao signo
em si mesmo (primeiro elemento da tríade), pode ser classificado em qualissigno,
sinsigno ou legissigno. Quanto à relação de um signo com o seu objeto dinâmico,
o signo pode ser classificado como ícone, índice e símbolo. Quanto à relação do
signo com o(s) interpretante(s), ele pode ser classificado como rema, dicente e
argumento.

108 Gêneros Textuais


Tema 6

Referenciação e Progressão
Referencial

POR DENTRO DO TEMA

Referenciação e Progressão Referencial

A referenciação é uma atividade discursiva por meio da qual o leitor acessa seu
repertório linguístico e, mediante escolhas significativas, representa os objetos de
seu discurso de modo coerente com o sentido que procura construir. A progressão
referencial, segundo Koch e Marcuschi (1998), fundamenta-se numa complexa
relação entre linguagem, mundo e pensamento. Para Koch (2005, p. 80-81), “Os
objetos de discurso são dinâmicos, ou seja, uma vez introduzidos, podem ser
modificados, desativados, reativados, transformados, recategorizados, construindo-
se ou reconstruindo-se, deste modo, o sentido, no curso da progressão textual.”

Assim, entende-se que conforme os referentes são construídos, ocorre um


processo denominado progressão referencial, constituindo, assim, uma rede
referencial progressiva, um “amarramento” formal e semântico ao longo do
texto (da fala cotidiana, usual, comum). Portanto, para reativar referentes, na fala
cotidiana, é típico o emprego de expressões como “Ah! aquilo que eu falei antes...”,
“como já te disse...”, “como eu ia dizendo...”. Trata-se de um processo dinâmico em
que o referente está sujeito às orientações do discurso, em que o referente adquire
e perde propriedades, modifica-se, evolui. Isto é, a ideia de progressão referencial
implica pensar em construção do referente ao longo da conversa/fala/diálogo,
redefinindo-o a cada reativação. Por isso o referente é entendido como objeto de
discurso.

Todos os casos de progressão referencial estão imbricados em algum tipo de


referenciação, não importando se são os mesmos elementos que recorrem ou
não. A determinação referencial ocorre como um processamento da referência
na relação com os demais elementos do cotexto ou do contexto, geralmente
T6

num intervalo interfrástico, mas não necessariamente como retomada referencial


(correferenciação). Conforme Ingedore Koch e Vanda Elias (2013, p. 125-126), na
construção dos referentes textuais estão envolvidas estratégias de referenciação.
São exemplos de tais estratégias a introdução (ou construção), a retomada (ou
manutenção) e a desfocalização:

• Introdução: um “objeto” até então não mencionado é introduzido no texto,


de modo que a expressão linguística que o representa, é posta em foco, ficando
este “objeto” saliente no modelo textual. (KOCH; ELIAS, 2013, p. 125)

• Retomada (manutenção): um “objeto” já presente no texto é reativado por


meio de uma forma referencial, de modo que o objeto-de-discurso permaneça
em foco. (KOCH; ELIAS, 2013, p. 126)

• Desfocalização: quando um novo objeto de discurso é introduzido,


passando a ocupar a posição focal. O objeto retirado de foco, contudo, permanece
em estado de ativação parcial (stand by), ou seja, continua disponível para utilização
imediata sempre que necessário. (KOCH; ELIAS, 2013, p. 126).

Uma estratégia de progressão referencial muito utilizada são a anáfora e a


catáfora. Marcuschi (2005), em “Anáfora indireta: O Barco textual e suas âncoras”,
esclarece-nos a respeito do termo anáfora: originalmente, o termo “anáfora”, no
discurso clássico, indicava a repetição de uma expressão ou de um sintagma no
início de uma frase ou durante o texto. É muito comum nas trovas populares, nos
cordéis e poemas. Ex.: “Noite – montanha. Noite vazia. Noite indecisa. Confusa
noite. Noite à procura, mesmo sem alvo.” (Carlos Drummond de Andrade). Por sua
vez, a catáfora é o termo ou expressão que faz referência a um termo subsequente,
estabelecendo com ele uma relação não autônoma, portanto, dependente. Para
compreender um termo catafórico é necessário interpretar o termo ao qual faz
referência. Ex.: “A irmã olhou-o e disse: - João, estás com um ar cansado”. O
pronome “o” faz referência ao termo subsequente “João”, de modo que só se
pode compreender a quem o pronome se refere quando se chega ao termo de
referência. Pode-se dizer que a catáfora é um tipo de anáfora, pois estabelece
os mesmos tipos de relação coesiva entres os termos, porém o termo anafórico
se encontra antes do termo referente, acontecendo exatamente o contrário nos
demais tipos de anáforas. Simplificando:

• Anáfora – faz retomada por meio de referência a um termo anterior.

• Catáfora – termo usado para fazer referência a um outro termo posterior.

Atualmente, a anáfora distanciou-se da noção original e o termo é usado para


designar expressões que, no texto, reportam-se a outras expressões, enunciados,
conteúdos ou contextos textuais (retomando-os ou não), contribuindo assim para
a continuidade tópica e referencial (MARCUSCHI, 2005, p. 54-55).

110 Referenciação e Progressão Referencial


T6

Geralmente, a introdução de referentes textuais pode ser feita por dois


processos, a ativação ancorada – que inclui as chamadas anáforas indiretas e
anáforas associativas, bem como as nominalizações ou rotulações – e a ativação
não ancorada.

Como estratégia de progressão referencial, há também a utilização de anáforas


indiretas. Para Marcuschi (2005, p. 53), “[...] [a anáfora indireta] é geralmente
constituída por expressões nominais indefinidas e pronomes interpretados
referencialmente sem que lhes corresponda um antecedente (ou subsequente)
explícito no texto.”

Pode-se notar que na anáfora direta há referência a um termo do texto. Na


anáfora indireta, entretanto, faz-se referência a um termo do texto por meio de
uma âncora e não por meio do termo propriamente dito; por isso se diz que a
anáfora é indireta.

Exemplificando com a fábula de Monteiro Lobato “A raposa e as uvas”:

A raposa e as uvas
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha
de lindos cachos maduros, coisa de fazer vir água à boca. Mas
tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho.
– Estão verdes — murmurou. Uvas verdes, só para cachorro.
E foi-se.
Nisto deu o vento e uma folha caiu.
A raposa ouvindo o barulhinho voltou depressa e pos-se a
farejar…
Moral: Quem desdenha quer comprar.
Fonte: LOBATO, M. Fábulas. 20. ed. São Paulo: Ed. Brasiliense,
1966.

No título do texto “A Raposa e as Uvas” ocorre a ativação de dois referentes


muito importantes para a progressão da fábula: “raposa” e “uva ”. No primeiro
parágrafo, o substantivo “raposa” é recategorizado pela expressão nominal “certa
raposa esfaimada”, por meio da reativação do item lexical “raposa” do título do
texto, da ativação do determinante indefinido “certa” e da operação de atribuição
feita pelo adjetivo “esfaimada”. O pronome indefinido “certa” também é responsável
pela narratividade na fábula, pois “certa” dá ideia de “uma” raposa, possibilitando a
narratividade do texto. Vale lembrar que a fábula é, portanto, um tipo de texto
narrativo. Toda a expressão “certa raposa esfaimada” é responsável, portanto, pela

Referenciação e Progressão Referencial 111


T6

progressão referencial no texto. Em “cachos maduros” ocorre anáfora indireta, pois


se trata de cachos de uvas maduras. O substantivo “uvas” assim é uma âncora, que
faz com que o leitor compreenda, pelo contexto, que se trata de cachos de uva e
não de cachos de quaisquer outras frutas.

A anáfora indireta também possibilita a progressão referencial. O adjetivo


“verdes”, na fala da raposa (“– Uvas verdes, só para cachorro.”), recategoriza as
uvas. A recategorização é uma estratégia própria da progressão referencial. A
“raposa” do primeiro parágrafo também é recategorizada pela expressão nominal
“matreiro bicho”. Essa expressão é correferencial, pois “matreiro bicho” se refere à
raposa, mas não é cossignificativa, já que “raposa” e “matreiro bicho” não possuem
o mesmo significado.

Nessa passagem, há outro exemplo de anáfora, uma das estratégias mais


utilizadas na progressão referencial. Além disso, a raposa é, na mesma frase,
também categorizada pela expressão verbal “torceu o focinho”. Essa expressão,
que é, na verdade, o predicado da oração (predicado verbal), também possibilita
a progressão referencial no texto. O substantivo bicho nessa mesma expressão é
um hiperônimo, pois se trata de um substantivo genérico do qual “raposa” é um
exemplo específico. Um determinado tipo de bicho, com características próprias
que outras espécies de bichos não possuem.

Em nível semântico, talvez possa ser feita uma analogia com o ato dos
seres humanos de “torcer o nariz”, para demonstrar, por meio da referência e
da expressão facial, desdém por alguma coisa. Isso colabora para a progressão
referencial e para que o leitor crie uma “imagem mental” da raposa, possível
através do discurso. Vale ressaltar o que foi dito acima sobre “objetos de discurso”,
mostrando que os elementos da fábula não fazem parte da realidade, ou, para
existirem discursivamente, não precisam fazer parte da realidade. Nota-se, nessa
passagem, do ponto de vista da referenciação, a estratégia de personificação,
já que é atribuída à raposa (um animal) a ação de “torcer o focinho”, uma ação
própria da expressão de desdém dos seres humanos, quando torcem o nariz. No
trecho “E nisto deu o vento e uma folha caiu”, também ocorre anáfora indireta, pois
se subentende que uma folha da parreira caiu, embora o substantivo parreira não
apareça nessa passagem do texto. Pode-se dizer, ainda, que nesse trecho há uma
relação de meronímia (relação parte/todo expressa pela relação folha/planta, pois,
neste sentido, uma folha é parte de uma planta). Pode-se considerar a meronímia
como um tipo de anáfora indireta. No trecho em estudo, a palavra “folha” atua
como uma âncora, pois retoma a ideia de planta, parreira e uvas. A contração
“nisto” que, neste caso, possui valor adverbial de tempo (nisto seria o mesmo que
“neste momento”) faz referência a toda a situação anteriormente descrita no texto.

112 Referenciação e Progressão Referencial


T6

Há, portanto, através da contração “nisto”, um exemplo de encapsulamento. O


encapsulamento, por retomar uma ideia anteriormente explícita, é uma estratégia
de progressão referencial. Assim, por meio dessa estratégia, evita-se a repetição
exaustiva de termos e ideias no texto.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia a dissertação Representação Anafórica: as Anáforas Não-


Correferenciais no livro Didático de Língua Portuguesa, de Lidiane de Morais
Diógenes. Disponível em:

<http://bdtd.bczm.ufrn.br//tde_arquivos/20/TDE-2006-11-27T080148Z-415/
Publico/LidianeMD.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013. Nela, a autora analisa referência
e referenciação e discorre sobre anáforas correferenciais e não correferenciais.

• Leia o artigo “Estratégias de progressão referencial em uma reportagem da


Revista Época”, escrito por Leandro R. A. Diniz da Unicamp. Nele o autor analisa
um trecho da reportagem “Inteligência Corporal” da revista época, apresentando
a análise dos referentes e como acontece a progressão referencial. Disponível
em: <http://www.revistaaopedaletra.net/volumes/vol%206.1/Leandro_Rodrigues_
Alves_Diniz--Estrategias_de_progressao_referencial_em_uma_reportagem_da_
revista_Epoca.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• Assista aos vídeos das aulas 1 e 2 sobre Coesão Textual da Professora


Suzana Luz. A proposta de seu curso de redação é facilitar o aprendizado. Com
linguagem fácil e ágil, faz com que o aluno entenda os princípios de um bom
texto dissertativo, gênero textual cobrado na vida acadêmica. Assim você poderá
aprofundar os conhecimentos sobre o assunto deste tema. Disponíveis em:
(Parte1) <http://www.youtube.com/watch?v=Dug3MyWesus> e (Parte 2) <http://
www.youtube.com/watch?v=4aykPWG6QCg>. Acesso em: 18 nov. de 2013.

Referenciação e Progressão Referencial 113


T6

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Sobre os perigos da leitura

Nos tempos em que eu era professor da Unicamp, fui designado presidente da


comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um
sofrimento. Dizer esse entra, esse não entra é uma responsabilidade dolorida da
qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em 20 minutos de conversa,
decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas não havia alternativas. Essa
era a regra. Os candidatos amontoavam-se no corredor recordando o que haviam
lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí tive uma ideia que julguei
brilhante. Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos
uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava
trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais
deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!”. [...]

A reação dos candidatos, no entanto, não foi a esperada. Aconteceu o oposto:


pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre o que eles gostariam de falar, lhes
fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos
dos outros, tudo bem. Para isso, eles haviam sido treinados durante toda a sua
carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos – ah,
isso não lhes tinha sido ensinado!

Na verdade, nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se
interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela
cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes.

(Rubem Alves, adaptado. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/


sinapse/ult1063u687.shtml>. Acesso em: 18 nov. 2013.)

114 Referenciação e Progressão Referencial


T6

I- A palavra “a”, em ”[...] no entanto, não foi a esperada” (3º parágrafo), refere-se a

a) Candidatos.

b) Pergunta.

c) Reação.

d) Falar.

e) Gostaria.

II- A expressão “um vazio imenso” (3.º parágrafo) refere-se a

a) Candidatos.

b) Pânico.

c) Eles.

d) Reação.

e) Esse campo.

III- As palavras que, no 3º parágrafo, retomam o termo “os candidatos”, são:

a) Eles, outros, próprios.

b) Eles, isso, próprios.

c) Aquilo, eles, seus.

d) Eles, lhes, sua.

e) Aquilo, isso, próprios.

Questão 2

No texto a seguir, o referente “comida” faz a ativação ancorada de qual objeto


principal?

No consultório médico, a mulher pergunta:

– Doutor, o que eu preciso fazer para emagrecer?

Referenciação e Progressão Referencial 115


T6

– Basta a senhora mover a cabeça da esquerda para a direita e da direita para a


esquerda.

– Só isso? Quantas vezes, doutor?

– Todas as vezes que lhe oferecerem comida!

a) Consultório médico.

b) Mulher.

c) Doutor.

d) Emagrecer.

e) Cabeça.

Questão 3

“Eu tinha um desejo que não me abandonava nem quando estava nas situações
mais agradáveis. Era um desejo inusitado, que as pessoas, em geral, encaravam
com zombaria. Um desejo de ir à Lua na primeira astronave brasileira [...]”.

No texto, as locuções “um desejo”, “um desejo inusitado” e “um desejo de ir à Lua”:

a) Representam rótulos retrospectivos.

b) Fazem retomadas utilizando formas de valor pronominal.

c) Constituem anáforas indiretas.

d) Acarretam a desfocalização do objeto de discurso.

e) Fazem referenciação por meio de expressões nominais indefinidas, com função


anafórica.

Questão 4

Assinale a alternativa em que as palavras destacadas constituem a retomada do


objeto de discurso por meio de pronomes ou outras formas de valor pronominal.

a) Trouxe um estojo de maquiagem para Sarinha brincar. Ela o adorou.

b) Quando foi que Romero saiu de casa?

116 Referenciação e Progressão Referencial


T6

c) Eles todos estavam muito apáticos, mas foi só falar em viagem que a animação
tomou conta do grupo.

d) Enquanto faziam os exercícios de matemática, os alunos permaneceram bem


quietos na sala de aula.

e) Ao entrar em casa, ela correu para seu quarto, na esperança de encontrar ali
uma carta.

Questão 5

Leia os seguintes enunciados:

I – Referenciação é o nome que se dá às diversas formas de introdução, no texto,


de novas entidades ou referentes.

II – A retomada de referentes mais adiante no texto, ou seu uso como base para a
introdução de novos referentes, é denominada progressão referencial.

III – A anáfora é o mecanismo linguístico empregado para apontar ou remeter a


elementos presentes no texto ou inferíveis a partir deste.

Estão corretos:

a) Apenas os enunciados I e II.

b) Apenas o enunciado II.

c) Apenas o enunciado III.

d) Apenas os enunciados I e III.

e) Todos os enunciados.

Questão 6

Além de mecanismo linguístico empregado para remeter ou apontar a elementos


presentes no texto, o vocábulo “anáfora” também representa uma “figura de
linguagem” que consiste na “repetição” de palavras ou locuções em frases ou versos
(CAMPEDELLI; SOUZA, 2011, p. 617). Tendo em mente essa figura de linguagem,
quais palavras ou locuções caracterizam anáfora nos versos a seguir?

Referenciação e Progressão Referencial 117


T6

Não: não digas nada!

Supor o que dirá

A tua boca velada

É ouvi-lo já

É ouvi-lo melhor

Do que o dirias

O que és não vem à flor

Das frases e dos dias

PESSOA, Fernando. Mensagem. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 185.

Questão 7

Leia o texto e depois responda ao que se pede:

As coisas mudaram muito em termos do que achamos necessário fazer para


manter nossos filhos seguros. Um exemplo: só 10% das crianças americanas vão
para a escola sozinhas hoje em dia.

Mesmo quando vão de ônibus, são levadas pelos pais até a porta do veículo.
Chegou a ponto de colocarem à venda vagas que dão o direito de o pai parar
o carro bem em frente à porta na hora de levar e buscar os filhos. Os pais se
acham ótimos porque gastam algumas centenas de dólares na segurança das
crianças. Mas o que você realmente fez pelo seu filho? Se o seu filho está numa
cadeira de rodas, você vai querer estacionar em frente à porta. Essa é a vaga
normalmente reservada aos portadores de deficiência. Então, você assegurou ao
seu filho saudável a chance de ser tratado como um inválido. Isso é considerado
um exemplo de paternidade hoje em dia.

(IstoÉ, 22/07/2009)

A palavra “isso”, destacada na última linha do texto, retoma qual fato anteriormente
mencionado?

118 Referenciação e Progressão Referencial


T6

Questão 8

Considere o texto seguinte para responder à questão:

A desigualdade persistente entre o que chamavam o primeiro e o terceiro mundo


mantém com relativa vigência alguns de seus postulados.Mas ainda que as decisões
e benefícios dos intercâmbios se concentrem nas burguesias das metrópoles,
novos processos tornam mais complexa a assimetria: a descentralização das
empresas, a simultaneidade planetária da informação e a adequação de certos
saberes e imagens internacionais aos conhecimentos e hábitos de cada povo. A
disseminação dos produtos simbólicos pela eletrônica e pela telemática, o uso
de satélites e computadores na difusão cultural também impedem de continuar
vendo os confrontos dos países periféricos como combates frontais com nações
geograficamente definidas.

(CANCLINI, N. G. Culturas híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade.


Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa P. Cintrão, p. 310, com adaptações)

No desenvolvimento do texto, a ideia de “terceiro mundo” é retomada por qual


termo?

Questão 9

Leia o texto e depois responda ao que se pede:

Quanto veneno tem nossa comida?

Desde que os pesticidas sintéticos começaram a ser produzidos em larga escala,


na década de 1940, há dúvidas sobre o perigo para a saúde humana. No campo,
em contato direto com agrotóxicos, alguns trabalhadores rurais apresentaram
intoxicações sérias. Para avaliar o risco de gente que apenas consome os alimentos,
cientistas costumam fazer testes com ratos e cães, alimentados com doses altas
desses venenos. A partir do resultado desses testes e da análise de alimentos in
natura (para determinar o grau de resíduos do pesticida na comida), a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece os valores máximos de uso dos
agrotóxicos para cada cultura. Esses valores têm sido desrespeitados, segundo
as amostras da Anvisa. Alguns alimentos têm excesso de resíduos, outros têm
resíduos de agrotóxicos que nem deveriam estar lá. Esses excessos, isoladamente,
não são tão prejudiciais, porque em geral não ultrapassam os limites que o corpo
humano aguenta. O maior problema é que eles se somam – ninguém come

Referenciação e Progressão Referencial 119


T6

apenas um tipo de alimento.

(Francine Lima, Revista Época, 09.08.2010)

Para avaliar o risco de gente que apenas consome os alimentos, cientistas


costumam fazer testes com ratos e cães, alimentados com doses altas desses
venenos. A expressão em destaque refere-se a que termos no texto?

Questão 10

No texto a seguir, o referente “Plano de Previdência Privada” é desfocalizado de


que forma?

Um Plano de Previdência Privada não é barato. Principalmente no Brasil, em


que ainda é um produto utilizado por uma minoria da população. No início de
2008, menos de 20% dos brasileiros contavam com um PGBL ou com um VGBL.
Quanto mais se popu-larizarem, maior será a oferta de produtos com taxas de
administração e carregamento menores.

Porém, as vantagens oferecidas por um Plano Gerador de Benefícios Livres são


para ser desperdiçadas por poucos. Um das vantagens é a tributação reduzida a
apenas 10% após dez anos de plano, para quem optar pela tributação regressiva.
Investi¬mentos convencionais sofrem a alíquota de 15%, salvo algumas exceções
que abordarei adiante. OK, a maior parte dessa vantagem desaparece na taxa
de carregamento, que é a mordida que o plano dá a cada aplicação feita pelo
poupador. Mas essa taxa varia muito de plano para plano, existindo tanto planos
com taxa igual a zero, quanto planos que cobram mais de 10%.

(CERBASI, Gustavo. Investimentos inteligentes. Rio de Janeiro: Thomas Nelson


Brasil, 2008. p.79.)

FINALIZANDO

Neste tema, você aprendeu que a referenciação consiste nas diversas formas
de inserir novas entidades ou referentes no texto e que a progressão referencial é a
retomada de um referente mais adiante, ou seu uso como base para a introdução
de novos referentes.

Descobriu que, na construção de referentes textuais, estão envolvidas as


estratégias de introdução ou construção, de retomada ou manutenção e de

120 Referenciação e Progressão Referencial


T6

desfocalização.

O estudo revelou que os referentes podem ser introduzidos por ativação


ancorada, mediante rotulação, e não ancorada, pelo uso de anáforas; e que a
retomada ou manutenção tem por estratégias ou uso de pronomes ou outras
formas de valor pronominal e o uso de expressões nominais definidas ou indefinidas.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Referenciação e Progressão Referencial 121


T6

122 Referenciação e Progressão Referencial


T6

REFERÊNCIAS

CAMPEDELLI, Samira Youssef; SOUZA, Jésus Barbosa. Português: literatura,


produção de textos e gramática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

KOCH, I. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2013.

KOCH, I. V.; MARCUSCHI, L. A. A progressão referencial na produção discursiva.


DELTA, n. 14, São Paulo, 1998.

LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Brasiliense, 1922.

MARCUSCHI, Luis Antônio. Anáfora indireta: O barco textual e suas âncoras.


Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005.

MONDADA, Lorenza; DUBOIS, Danièle. Construção dos objetos do discurso e


categorização: Uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE,
Mônica; RODRIGUES, Bernadete Biasi; CIULLA, Alena (org). Referenciação clássicos
da linguística. São Paulo: Contexto, 2005.

GLOSSÁRIO

Correferenciação: a correferenciação caracteriza-se pela retomada do referente


como o mesmo indivíduo ou objeto já introduzido. A progressão referencial
através da estratégia de correferenciação envolve a referenciação especificada,
que implica manutenção referencial e alguns casos da referenciação inferida que
implicam refocalização do referente (KOCH; MARCUSCHI, 1998, p. 15).

Encapsulamento: o termo “encapsulamento” designa uma propriedade das


“nominalizações” que, ao concentrarem em si uma sequência de informação
veiculada anteriormente no texto (não claramente delimitada), sintetizam-na
predicativamente, categorizando-a na forma de um substantivo.

Esfaimada: diz-se daquele que está com muita fome; faminto; esfomeado:
“Chegou em casa esfaimado”.

Interfrástico: parte do sistema gramatical da língua, que dará a duas ou mais


sequências o estatuto de texto. A perspectiva são os pronomes, que a partir deles,

Referenciação e Progressão Referencial 123


T6

vão permitir que uma sequência de frases se torne um texto. Exemplo: “Paulo e
Pedro são excelentes advogados. Eles se formaram na academia do largo de São
Francisco”. Note que o pronome é que traz coerência e coesão à frase que pode
se tornar um texto se continuado.

Hiperônimo: o uso de um hiperônimo com função anafórica pode ter a função


de retomar um termo pouco usual, atualizando, assim, os conhecimentos do
interlocutor. A hiperonímia é a vinculação em que, em um idioma, se estabelecem
expressões nominais, com base na menor especificidade do significado de uma
delas em relação à outra. Assim, por exemplo, “pessoa” está em uma relação de
hiperonímia com “mulher”.

Meronímia: a meronímia tem sido objeto de estudo de diferentes áreas da


Linguística no âmbito das quais responde a motivações diversas, como atestam
vários estudos. Embora haja nesses estudos algumas diferenças relativamente
à delimitação do conceito, aos tipos de meronímia propostos e às estruturas
linguísticas que os expressam, a definição deste fenômeno linguístico como uma
relação semântica cuja essência reside em considerar que uma unidade léxica é
parte de uma outra unidade léxica é consensual, assim como a necessidade de a
destacar do conjunto de relações semânticas que envolvem a ideia de inclusão.

124 Referenciação e Progressão Referencial


Tema 7

Funções das Expressões


Nominais Referenciais – Parte 1

POR DENTRO DO TEMA

Expressões Nominais Referenciais no Texto Escrito – 1

Uma maneira produtiva de estabelecimento da referenciação é o uso de


expressões nominais definidas. Essas expressões são formas linguísticas formadas
por determinantes definidos, que acompanham um nome. Nas mais diversas
formas de interação existem muitas possibilidades de caracterizar um referente,
pois o produtor textual pode enfatizar em um dado referente o que ele deseja
ressaltar, o que vai depender das intenções do locutor. Segundo Koch (2004, p.
68-69), “o uso de uma descrição definida implica sempre uma escolha dentre as
propriedades ou qualidades capazes de caracterizar o referente, escolha esta que
será feita, em cada contexto, em função do projeto de dizer do produtor do texto”.

As expressões nominais referenciais tem sido objeto de estudo em diversas


pesquisas, elas desempenham funções cognitivo-discursivas de suma importância
na construção do sentido do texto, dentre elas pode-se elencar as seguintes:

• Ativação/reativação na memória

Em muitos textos, encontram-se referentes que são ativados (ou reativados) na


memória do interlocutor por meio de expressões nominais referenciais que fazem
remissão a algum elemento presente (ou sugerido) no cotexto precedente. Com
isso, elas promovem uma refocalização do referente, pois, ao mesmo tempo em
que recategorizam informações já conhecidas, apresentam informações novas.
Por esse motivo, são consideradas formas híbridas: têm função referenciadora e
predicativa, uma vez que veiculam informações dadas e novas. Exemplo de função
referenciadora: “Eles começaram a briga na fila e continuaram na sala. A professora
ouviu os gritos do corredor e voltou correndo”. Pode-se notar que a expressão
destacada é forma híbrida: encontra-se ancorada em um segmento anterior e,
T7

concomitantemente, permite a continuidade do texto. Nesse exemplo, a expressão


os gritos está ancorada nas informações anteriores (“eles começaram a briga na
fila e continuaram na sala”). Embora seja uma informação nova, a introdução
desse novo objeto do discurso (os gritos) não causa surpresa no leitor, já que está
ancorada na informação anterior (a briga), que ativou um frame do qual gritos
podem fazer parte. Exemplo de função predicativa: “A menina pegou as bonecas
e a bola e foi para o clube. De repente uma música alta fez com que ela parasse a
brincadeira”. Aqui nesse exemplo, observa-se que a expressão a brincadeira lança
um novo referente, o qual está ancorado no cotexto precedente (“a menina pegou
as bonecas e a bola e foi para o clube”). Como foram mencionados brinquedos no
cotexto precedente, é possível inferir que eles seriam utilizados para realizar uma
brincadeira. Quando este objeto do discurso (a brincadeira) surge, pela primeira
vez no texto, ele não se apresenta como uma informação essencialmente nova,
uma vez que já havia sido ativada na memória do leitor (SILVA, 2010, adaptado).

• Encapsulamento (sumarização) e rotulação

Algumas expressões nominais referenciais operam um encapsulamento de


informações, presentes em segmentos anteriores, transformando em expressões
nominais as predicações feitas no cotexto precedente. Assim, elas sintetizam
informações que as precedem, as quais se constituem como informações
suporte. Desse modo, uma parte do cotexto é transformada em um novo objeto
de discurso, que, geralmente, apresenta um termo genérico como nome-núcleo,
o qual depende do cotexto para ser compreendido.

Exemplo 1: O homem saiu de casa cedo, mas chegou atrasado no trabalho.


Ele perdeu o ônibus que sempre pegava porque teve que parar para pegar as
moedas que caíram da mão dele. Ele ficou com tanta raiva que contou esse fato
no trabalho.

Exemplo 2: Era uma vez um homem muito rico, que viu seu filho ficar muito
doente, piorar muito, ir para os médicos e hospitais mais caros e acabar morrendo
no final. Essa desgraça deixou o homem muito infeliz. Um dia ele passou pela frente
de uma casa muito pobre e viu um homem humilde com seus filhos, reunidos para
o jantar. O homem rico viu essa cena e ficou com inveja do homem pobre.

Nesses exemplos, constata-se que esse fato, essa desgraça, essa cena,
encapsulam o cotexto precedente, criando expressões nominais referenciais
com nomes-núcleo inespecíficos, cuja compreensão depende dessa associação
com o cotexto. As expressões em destaque se constituem como objetos
discursivamente construídos, os quais não podem ser interpretados tendo em vista
supostas estruturas “objetivas” da realidade, uma vez que se configuram como
estruturações impostas à realidade por meio da percepção. Com isso, percebe-se
que a percepção cria esses referentes; afinal, a forma como esses fenômenos são

126 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


T7

apreendidos pela interpretação humana é fundamental para o desenvolvimento de


conceitos abstratos dentro da cena enunciativa (SILVA, 2010, adaptado).

• Organização macroestrutural

Outra importante função exercida pelas expressões nominais referenciais diz


respeito ao encerramento de uma etapa textual, por meio do encapsulamento de
um segmento anterior, a fim de que se possa passar a um novo estágio.

Exemplo:

O álbum de figurinhas

Era uma vez um menino chamado Matheus. Um dia ele saiu com o pai
e ganhou um álbum para colar figuras. Todo dia Matheus ganhava um real do
pai para comprar um pacote de figurinhas. Essa diversão durou uma semana. O
menino estava bem feliz, mas aí ele viu que Pedro ganhava dois reais todos os
dias para comprar figurinhas. Aí Matheus também queria ganhar o que seu amigo
ganhava e começou a chorar toda vez que ganhava um real porque queria ganhar
dois. Essa situação deixou os pais de Matheus com raiva e eles acharam que ele
tava passando dos limites. Aí eles pararam de dar dinheiro para Matheus comprar
figurinhas. Essa decisão deixou Matheus triste, pois ele não conseguiu completar
seu álbum.

Moral: melhor um passarinho na mão do que dois voando.

Logo, as formas nominais essa diversão, essa situação e essa decisão realizam
o encapsulamento de uma parte do texto, sinalizando o fechamento dessa parte,
que é mantida na informação nova. Sendo assim, ocorre uma mudança no tópico
discursivo, mas a continuidade tópica é mantida, ocorrendo simultaneamente
um movimento de retroação e um de progressão textual. Evidencia-se, então, a
importância dessas expressões nominais na marcação de parágrafos, uma vez que
contribuem para a estruturação do texto (SILVA, 2010, adaptado).

Atualização de conhecimentos por meio de retomadas realizadas pelo uso de


um hiperônimo

Na tessitura textual, um termo pode ser retomado por seu hiperônimo, que,
mesmo desconhecido do interlocutor (ou não atualizado em sua memória
discursiva), pode ser inferido com base nas pistas textuais.

Exemplo 1: Era uma vez uma comunidade onde todos os pássaros viviam felizes.
Eles ajudavam uns aos outros e todos se davam bem. Só que lá vivia também um
urubu muito rico que não fazia nada por ninguém. A ave de rapina só pensava nela

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 127


T7

mesma aí um dia o pássaro malvado ficou preso numa armadilha e pediu ajuda aos
outros pássaros.

Exemplo 2: Era uma vez um macaco que fez amizade com dois peixes, uma
tartaruga um jacaré e dois caranguejos. Quando a maré baixava, o macaco ia
conversar com esses animais marinhos.

Com o uso dos hiperônimos a ave de rapina e esses animais marinhos, os


conhecimentos do interlocutor podem ser ampliados ou atualizados.

No próximo tema será dada a continuidade sobre a funções das expressões


nominais referenciais na construção do sentido do texto (SILVA, 2010, adaptado).

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “Construção de sentidos por formas nominais referenciais:


anáforas associativas; rotulações; e (re) categorizações” escrito por Maria Angélica
de Oliveira Penna. Ele trata das funções das formas nominais referenciais na
progressão textual. Insere-se em uma visão sociocognitivista da linguagem e
concebe a referenciação como atividade discursiva (KOCH; MARCHUSCHI, 2005),
decorrente de uma negociação que se dá entre coenunciadores, com vistas à
construção do sentido. Isso implica dizer que os sentidos são construídos por
processos estratégicos que envolvem uma inserção de autor e leitor/ouvinte em
uma mesma moldura comunicativa que os torna capazes de acionar conhecimentos
diversos na busca de significações que tornem a comunicação eficiente. Disponível
em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-
estudos-2006/sistema06/298.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia o artigo “A construção da referenciação em redações de alunos da


escola pública: um estudo de caso” escrito por Priscila B. S. do Nascimento. O
presente texto apresenta algumas considerações a respeito da referenciação
em redações de alunos de uma escola pública, localizada no município
de Anguera (BA). Disponível em: <http://www.inventario.ufba.br/08/A%20
constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20referencia%C3%A7%C3%A3o%20corrigido.
pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013.

128 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


T7

Vídeos

• Assista ao vídeo “Aula 1 Enunciação - Conceito de enunciação” com o


professor José Luiz Fiorin, que explica as três categorias da enunciação: a pessoa,
o tempo e o espaço. Ele também explica o conceito de enunciação, partindo
da teoria linguística do francês Émile Benveniste. Assim você poderá aprofundar
melhor seu aprendizado sobre enunciação. Disponível em: <http://www.youtube.
com/watch?v=RQzJaFYiqhc>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Assista ao vídeo “Aula 2 – categoria de pessoa” com o professor José Luiz


Fiorin, que explica o que todos nós aprendemos na escola, isto é, que existem a
1ª, 2ª, 3ª pessoas do singular e do plural. Pela teoria de Benveniste, essas são as
pessoas do discurso, os parceiros da enunciação. Disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=Htrw8tTmigY>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Assista ao vídeo “Aula 3 – Categoria de tempo” com o professor José Luiz


Fiorin, que mostra a diferença entre o tempo físico e o tempo linguístico. O tempo
linguístico é uma construção da linguagem e, portanto, o agora da enunciação
pode ser posto em qualquer lugar dentro do tempo físico, buscando a criação de
sentidos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Z6HUcpg8NoQ>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Leia os seguintes enunciados:

I – Grupos de refugiados chegam diariamente dos países em estado de convulsão


social e guerra interna. São pessoas famintas, maltrapilhas, desesperadas.

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 129


T7

II – Hoje de manhã, Libório trouxe um cacho de bananas. Compreendo sua boa


vontade, mas o problema é que as frutas estavam verdes.

III – No início da noite, ouvi o grito do pavão. Olhei assustado para o lado das
gaiolas, pois nunca imaginara que seria tão esquisito e desafinado o som emitido
por uma ave tão bonita.

Qual função das expressões nominais se evidencia em todos eles?

a) Organização macroestrutural com marcação de parágrafos.

b) Recategorização.

c) Rotulação.

d) Atualização de conhecimentos com uso de hiperônimo.

e) Função predicativa.

Questão 2

Analise e responda:

Para esse trabalho, você precisará utilizar uma caneta, uma prancheta e um bloco
de papel em que fará as anotações diárias. Todo esse material será fornecido pela
empresa contratante.

A informação anterior usa o hiperônimo “material” para:

a) Englobar os hipônimos “caneta”, “prancheta” e “bloco de papel”.

b) Substituir os sinônimos “caneta”, “prancheta” e “bloco de papel”.

c) Evitar a ambiguidade de “caneta”, “prancheta” e “bloco de papel”.

d) Desfazer a polissemia de “caneta”, “prancheta” e “bloco de papel”.

e) Ampliar a conotatividade de “caneta”, “prancheta” e “bloco de papel”.

Questão 3

Considere a construção dos referentes textuais, em que são envolvidas estratégias


de referenciação como a introdução, a retomada, a desfocalização. A respeito
dessas estratégias, analise as alternativas a seguir e marque a correta:

a) Por meio da introdução (manutenção), um objeto que já está presente no texto

130 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


T7

é retomado por meio de uma forma referencial, permanecendo em foco.

b) Por meio da retomada, um novo objeto de discurso é introduzido, passando a


ocupar a posição focal.

c) Por meio da introdução (construção), um objeto que até então não foi
mencionado é introduzido no texto, de modo que a expressão linguística que o
representa é colocada em foco, ficando o objeto em evidência no modelo textual.

d) Por meio da desfocalização, objeto é colocado em foco, permanece em estado


de ativação total, ou seja, ele continua disponível para utilização imediata sempre
que necessário.

e) Por meio da focalização, objeto é colocado em foco, permanece em estado de


ativação total, ou seja, ele continua disponível para utilização imediata sempre que
necessário.

Questão 4

Em qual das alternativas a seguir o vocábulo “tudo” exerce função de


encapsulamento?

a) Isso é tudo.

b) Tudo que eu quero é tirar férias!

c) A noite límpida e sem lua, as estrelas luzindo fortemente no céu rural, a brisa
fresca, os sons dos insetos, o aconchego em torno da lareira, tudo contribuía para
a elevação da alma e o contentamento do espírito.

d) Tudo é nada, mas um nada tão importante que abrange o Universo real ou
fantástico.

e) Enfim, quando tudo o mais não der certo, ofereça-lhe flores, dê um sorriso
resignado e procure outras paisagens.

Questão 5

No texto a seguir, qual a função das expressões “edifício geológico do país” e


“maciços antigos” em relação ao trecho “ossatura rochosa, em geral composta de
terrenos antigos”?

É bem sabido que as paisagens naturais de um bloco continental qualquer


derivam de uma intrincada combinação de fatos geológicos e fisiográficos. No

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 131


T7

caso brasileiro, há uma associação muito íntima entre a ossatura rochosa, em


geral composta de terrenos antigos parcialmente recobertos por sedimentos de
diversas idades, e a ação dos climas tropicais domi¬nantemente úmidos. (...)

O edifício geológico do país é formado por uma espécie de mosaico de terrenos


antigos e extensas bacias sedimentares, soerguidas a planos altimétricos diversos.
(...)

Os maciços antigos, constituídos por massas rochosas rígidas, resultam em nosso


país num vasto conjunto de planaltos de cristalinos, serras e escarpas locais,
enquanto as bacias sedimentares associadas ou não a basaltos dão origem a
gigantescos planaltos típicos (...).

(AB’SABER, Aziz N. et al., 2010).

a) Organização estrutural, com marcação de parágrafos.

b) Refocalização.

c) Atualização de conhecimentos por meio de anáforas.

d) Rotulação.

e) Sumarização.

As questões 6, 7 e 8 referem-se ao texto a seguir:

Os polos Norte e Sul eram completamente desconhecidos no início do século XX.


Até que Clements Markham, presidente da Sociedade Geográfica Real do Reino
Unido e explorador, cujo sonho era que a Antártida fosse conquistada por seu país,
iniciou a primeira expedição britânica ao continente.

O comando da missão foi confiado ao tenente Robert Falcon Scott, que havia
viajado à África e às Antilhas, mas jamais posto os pés em regiões polares – o
que não o impediu de aceitar o desafio com incansável entusiasmo. O Discovery,
navio da expedição, partiu da Inglaterra em 31 de julho de 1901 e chegou à baía
McMurdo, na Antártida, no dia 8 de fevereiro de 1902.

A aventura foi um fracasso em relação à meta estabelecida, mas para Scott foi um
êxito, na medida em que os homens resistiram até o limite de suas forças.

No fim das contas, pouco importou o escorbuto, os cães sacrificados, a inutilidade


dos esquis ou a falta de víveres, pois a Union Jack, bandeira do Império Britânico,
havia sido hasteada em um ponto mais próximo ao Polo Sul.

Trecho adaptado de VERNAY, Pierre. A trágica corrida ao Polo Sul. Disponível em:

132 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


T7

<http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_tragica_corrida_rumo_ao_
polo_sul_imprimir.html>. Acesso em: 18 de nov.2013.

Questão 6

Qual a função exercida pelos referentes “missão” e “aventura”?

Questão 7

No segundo parágrafo, o vocábulo “Discovery” é usado para encapsular a expressão


nominal “navio da expedição”. Qual é a sumarização efetuada de forma semelhante
no terceiro parágrafo?

Questão 8

No segundo parágrafo, qual relação pode ser estabelecida entre os referentes


“missão” e “desafio”?

Questão 9

Quando ocorre a desfocalização?

Questão 10

No texto a seguir, a refocalização da expressão nominal “vazamento de óleo” e de


sua contenção é feita diversas vezes, de forma irônica. Identifique-as.

O vazamento de óleo de uma plataforma da companhia Chevron na Bacia de


Campos está tomando proporções maiores do que as inicialmente informadas. De
acordo com geógrafos independentes ligados ao Greenpeace, as fotos feitas por
satélite mostram que a extensão do acidente é enorme. “O vazamento já é maior
do que o do Enem”, afirmou o coordenador do Greenpeace, Johnny Lettuce.

A petrolífera garante que vai conseguir conter o vazamento e já sugeriu uma


parceria a empresas de absorventes femininos para auxiliar a companhia na
empreitada. Falta apenas decidir se vão usar o sempre seca sem abas ou o noturno
com abas.

No Rio começa a surgir o movimento para dividir, além dos royalties, também o

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 133


T7

vazamento. O traficante Nem disse que gostaria de aprender com a petrolífera. “Se
eu soubesse vazar como eles eu não estaria nessa situação.”

(FERNANDES, Nelito. Vazamento na Bacia de Campos já é maior que o do Enem.


Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/
vazamento-na-bacia-de-campos-ja-e-maior-que-o-do-enem-nelito-fernandes.
html>. Acesso em: 18 de nov. 2013.)

FINALIZANDO

As expressões nominais referenciais desempenham funções cognitivo-


discursivas que se mostram relevantes na construção do sentido do texto. Algumas
delas foram estudadas neste tema. No próximo, serão analisadas outras funções.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

134 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


T7

REFERÊNCIAS

AB’SABER, Aziz N. et al. (coordenação de Sérgio Buarque de Holanda). A época


colonial: do descobrimento à expansão territorial. Vol 1. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2010, p. 70.

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004.

KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São


Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2013.

ORLANDI, Eni. Discurso e Leitura. 6. ed. Campinas, SP: Cortez, 2001.

KOCH, I. V.; MARCUSCHI, L. A. A progressão referencial na produção discursiva.


DELTA, n. 14, São Paulo, 1998.

SILVA, V.R. Marcela. Expressões nominais referenciais em narrativas infantis:


funções cognitivodiscursivas envolvidas na construção de objetos-de-discurso.
Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 87-103, jul./dez. 2010.

GLOSSÁRIO

Cognitivo-discursivas: a cognição é mais do que simplesmente a aquisição de


conhecimento e, consequentemente, a nossa melhor adaptação ao meio – é
também um mecanismo de conversão do que é captado para o nosso modo
de ser interno. Ela é um processo pelo qual o ser humano interage com os seus
semelhantes e com o meio em que vive, sem perder a sua identidade existencial.
Ela começa com a captação dos sentidos e logo em seguida ocorre a percepção. É,
portanto, um processo de conhecimento, que tem como material a informação do
meio em que vivemos e o que já está registrado na nossa memória. Já “a formação
discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada, ou seja, a
partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada, determina o
que pode e o que deve ser dito” (ORLANDI, 2001). As palavras não têm um sentido
nelas mesmas, seus sentidos são derivados das formações discursivas em que
elas se inscrevem. As formações discursivas, então, representam no discurso as
formações ideológicas, e o sentido será determinado ideologicamente. As palavras
mudam de sentido de acordo com a posição de quem as emprega. Sendo assim,

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1 135


T7

tudo que é dito tem um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. A
ideologia produz seus efeitos no discurso, materializando-se nele. Há, assim, uma
relação recíproca entre ideologia e linguagem.

Frame: frames (palavra do inglês que significa quadros, molduras) (FÁVERO, 2004,
p. 63) correspondem a modelos cognitivos globais, elementos de conhecimento
que “emolduram” a constituição de um texto e que são ativados por sua leitura,
e contêm o conhecimento comum sobre um conceito primário (geralmente
situações estereotipadas). Por exemplo, em linguagem jurídica, temos como
frames as noções de tribunal, contrato, despejo, assistência judiciária gratuita etc.
Um frame pode ser concebido como um intertexto de conhecimento geral, isto
é, mesmo leigos acerca da linguagem jurídica sabem a que se referem os seus
frames, porque correspondem a entidades relacionados à vida do cidadão.

Remissão: ação ou efeito de remeter; direcionar o leitor para outras partes de um


texto, de uma obra dentre outros.

136 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 1


Tema 8

Funções das Expressões


Nominais Referenciais – Parte 2

POR DENTRO DO TEMA

Expressões Nominais Referenciais no Texto Escrito – Parte 2

Sabe-se que para a construção do sentido do texto muitos fatores são levados
em consideração. As expressões nominais referenciais são responsáveis, em grande
parte, por fazer com que o sentido do texto seja significativo para o leitor. Dando
continuidade ao tema anterior, agora você verá mais algumas das expressões
nominais referenciais.

• Especificação por meio da sequência hiperônimo/hipônimo

Uma função das expressões nominais referenciais pode ser observada na


especificação por meio da sequência hiperônimo/hipônimo, denominada anáfora
especificadora, frequentemente introduzida por artigo indefinido, como ocorre
com as expressões “um tremor de terra” e “um terremoto” neste texto:

Novo tremor de terra atinge o Paquistão

Um novo tremor de terra de 6.8 na escala Richter atingiu o Paquistão neste


sábado, deixando pelo menos 12 mortos e uma dezena de feridos. No início da
semana, um terremoto deixou mais de 350 vítimas e destruiu diversos vilarejos [...].

Disponível em:<http://www.portugues.rfi.fr/mundo/20130928-novo-tremor-
de-terra-atinge-o-paquistao>. Acesso em: 18 nov. 2013.

Relembrando que hiperônimo e hipônimos são termos de um mesmo campo


semântico, um refere-se ao gênero e o outro à espécie. Exemplo: flor é hiperônimo
de rosa, cravo, violeta etc. e estes são hipônimos.
T8

• Construção de paráfrases anafóricas definicionais e didáticas

Se houver necessidade de elaborar definições, as expressões nominais podem


ser utilizadas na forma de paráfrases anafóricas definicionais e didáticas. Nas
paráfrases definicionais, a sequência apresenta primeiro o definiendum e depois o
definiens, isto é, o termo técnico a ser definido é seguido pela respectiva definição.
No texto a seguir, as locuções “quantidade demandada” e “lei da demanda” são
seguidas pelas respectivas definições:

A quantidade demandada de um bem qualquer é a quantidade desse bem


que os compradores desejam e podem comprar. Como veremos, são muitas as
coisas que determinam a quantidade demandada de qualquer bem, mas, quando
se analisa o funcionamento dos mercados, há uma determinante que representa
um papel central: o preço do bem. Se o preço do sorvete subir para $ 20 a bola,
você comprará menos sorvete. Poderá, por exemplo, comprar frozen yogurt em
vez de sorvete. Se o preço do sorvete cair para $ 0,20 a bola, você comprará mais
sorvete. Essa relação entre preço e quantidade demandada se aplica à maioria dos
bens existentes na economia e, na verdade, é tão universal que os economistas a
chamam lei da demanda: com tudo o mais mantido constante, quando o preço de
um bem aumenta, sua quantidade demandada diminui; quando o preço diminui,
a quantidade demandada aumenta. (MANKIW, 2009).

A paráfrase anafórica didática inverte a sequência, apresentando primeiro o


definens e, depois, o definiendum. No texto adiante, o autor antecipa o definens
“Nas enchentes os peixes [...] desova” para depois indicar o definiendum “piracema”:

Nas enchentes os peixes sobem até a parte mais alta dos rios para a desova:
este é o fenômeno denominado piracema. Nesse período, a pesca é proibida, para
assegurar a sustentabilidade das espécies. Os peixes jovens, que permanecem
nos campos cobertos de água durante toda a fase de crescimento, encontram
verdadeiros berçários nas áreas inundadas, desfrutando de alimentação e espaço
necessários para a sua sobrevivência.

Disponível em: <http://www.tomdopantanal.org.br/o_pantanal/aguas/


enchentes_piracema.asp>. Acesso em: 18 nov.2013.

• Introdução de informações novas

138 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

É possível caracterizar melhor o referente utilizando expressões nominais


(definidas ou indefinidas), que introduzem novas informações no texto.

Exemplo: Essa diversão durou uma semana. A menina estava bem feliz, mas ela
viu que Felipe ganhava duas moedas todos os dias para colocar no cofrinho. Beth
também queria ganhar o que seu irmão ganhava e começou a chorar toda vez que
ganhava apenas uma moeda porque queria ganhar duas.

Nesse exemplo, constata-se que seu irmão, à proporção que faz referência à
informação de que Felipe ganhava duas moedas, introduz uma informação nova:
Felipe é irmão de Beth. Com isso, o referente ganha novas informações.

• Orientação argumentativa

Muitas expressões nominais indicam uma direção argumentativa. Essas


expressões podem ser metafóricas ou não. Confira os exemplos adaptados a partir
de fábulas (SILVA, 2010).

O milionário egoísta

Era uma vez uma comunidade onde todos viviam felizes. Eles ajudavam uns
aos outros e todos se davam bem. Só que lá vivia também um homem muito rico
que não fazia nada por ninguém. O indivíduo só pensava nele mesmo, um belo dia
o homem malvado ficou doente e pediu ajuda aos seus vizinhos. As pessoas nem
ligaram para os apelos do homem e foram cuidar de seus afazeres.

Moral: É dando que se recebe.

O médico

Era uma vez um médico que queria ganhar muito dinheiro. O homem ambicioso
só queria ganhar cada vez mais e nunca tinha tempo para sua família. Um dia o
filho dele acordou meio mole e pediu para o pai ver se ele precisava de algum
remédio. Mas o médico ganancioso disse que tinha uma consulta e não podia se
atrasar. Ele foi trabalhar e o filho ficou em casa doente.

Moral: em casa de ferreiro, o espeto é de pau.

Nos exemplos analisados, percebe-se que as expressões o homem malvado,


o homem ambicioso, o médico ganancioso não exercem somente a função de
referir, mas fazem uma avaliação do referente, expressando juízos de valor.

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 139


T8

• Categorização metaenunciativa de um ato de enunciação

As expressões nominais definidas também podem ser utilizadas para que seja
feita uma avaliação (ou categorização) do enunciado produzido. Isso pode ocorrer
por meio da classificação da própria entidade linguística pela qual o conteúdo se
realiza (com o uso de expressões que apresentam termos como frase, parágrafo
etc. como nomes-núcleo), bem como por meio da classificação da ação praticada
pelo próprio autor ou por uma outra pessoa, o que envolverá uma reflexão sobre
o dizer (de que resultam expressões cujos nomes-núcleo podem ser declaração,
protesto, apelo, etc.). Exemplo: “Todos ficaram tristes, mas o homem disse que ele ia
encontrar o bilhete e eles iam morar numa mansão bem bonita. Ninguém acreditou
nessa promessa, mas um dia o homem chegou com um carro importado para
levá-los para morar na mansão, pois havia encontrado o bilhete”. Nesse exemplo,
o objeto do discurso nessa promessa foi construído e categorizado conforme a
percepção do autor do texto em relação ao ato enunciativo realizado.

Assim pode-se afirmar que são múltiplas as funções das expressões nominais
referenciais, para cuja compreensão é necessária a interação de diversos níveis de
conhecimentos, sejam esses de ordem linguística, interacional, histórica, social,
cognitiva, etc. Nesse sentido, pode-se concluir que as palavras não refletem os
entes do mundo, de tal forma que o referente não pode ser considerado um reflexo
de estruturas da realidade objetiva, mas o produto da maneira como percebemos
e interpretamos o mundo (SILVA, 2010).

AGORA É A SUA VEZ

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o texto “A Semântica Lexical e as Relações de Sentido: Sinonímia,


Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia”. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/
xiiicnlf/03/03.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013. Nele, os autores discorrem sobre a
relação entre as teorias da semântica lexical e a prática docente, questionando
a importância de uma visão crítica sobre as abordagens apresentadas nos livros
didáticos.

140 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

• Leia o artigo “Expressões Nominais e rótulos: um exame através dos


gêneros crônica de opinião e carta dos leitores” escrito por Ana Cláudia Machado
dos Santos. Nele a autora examina o emprego de expressões nominais e
rótulos, observando sua funcionalidade na construção argumentativa do texto,
assim como sua contribuição para o acompanhamento do projeto de dizer do
produtor e o encaminhamento de sentidos possíveis a serem construídos pelo
leitor, ou seja, examina o processamento dos mecanismos de referenciação no
percurso interativo autor-texto-leitor. Para desenvolver a proposta, a autora analisa
a associação entre os rótulos; como recurso sumarizador e organizador dos
conteúdos precedentes ou subsequentes, investindo ao texto uma orientação
argumentativa, e o gênero opinativo. Disponível em: <http://www.revistaicarahy.
uff.br/revista/html/numeros/1/dlingua/ANA_SANTOS.pdf>. Acesso em: 18 nov.
2013.

Vídeos

• “Hiperônimos e Hipônimos”. Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=Qy3JenHRi2Q>. Acesso em: 27 out. 2013. Nele, são apresentadas,
de forma esquemática e com grande número de ilustrações, as relações de
hiperonímia e hiponímia entre referentes diversos.

• “Garoto faz Discurso após conseguir andar de Bicicleta”. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=P_gmRyJkWyc>. Acesso em: 18 nov. 2013.
Nele, um garoto fica extremamente empolgado após conseguir andar de bicicleta
e faz um discurso emocionante e, em linguagem infantil, apresenta orientação
argumentativa.

• “Jô Soares Definição de Amor para Crianças de 4 a 8 anos”. Disponível


em: <http://www.youtube.com/watch?v=DESEUoNuhxQ>. Acesso em: 13 nov.
2013. Nele, o comediante Jô Soares apresenta diversas anáforas definicionais de
crianças a respeito do amor.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 141


T8

se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Leia a reportagem a seguir e depois responda o que se pede:

Frutas da estação têm melhor preço e mais qualidade

Na Ceagesp, em São Paulo, consumidor encontra excelente preços dos produtos


comercializados em plena safra. Manga da variedade Tommy é um dos produtos
da estação Frutas como laranja, limão, melancia, figo, manga tommy, banana
nanica, maracujá, maçã gala são ótimas opções de compra no verão. Nessa época,
elas podem ser encontradas a bons preços no atacado e com alta qualidade
no Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), maior central de abastecimento da
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

De dezembro para janeiro, os preços das frutas da estação baixaram na central


de distribuição. O limão, que custava R$ 2,32 o quilo, agora está R$ 1,04, o que
representa uma economia de 55,2% para o consumidor. O maracujá passou de
3,76 para R$ 2,45, com uma queda de quase 35%. Figo e maçã registraram baixa
de até 30% nos valores por quilo. A melancia registrou menos 9,6% e a laranja
menos 8,5%. A banana nanica ficou 2,7% mais barata.

De acordo com o economista da Ceagesp, Flávio Godas, também há muitas


alternativas de compra de hortaliças, que permanecem com os valores estáveis.
“As chuvas pontuais no cinturão verde de São Paulo não afetaram a quantidade
ofertada do setor e o consumidor encontra diversos preços atrativos em itens
como alface, repolho, agrião, couve, escarola e acelga”, analisa Godas. Pimentão,
beterraba, cebola e mandioca são os legumes com melhores preços nessa época
do ano, apesar de o setor ter sofrido com as perdas na produção nos estados do
Rio de Janeiro e Minas Gerais devido às fortes chuvas.

 istoricamente, o verão tem como característica chuvas quase diárias e altas


H
temperaturas, o que prejudica bastante as hortaliças.

Até o final desta estação, a tendência é de elevação dos preços nos setores de
legumes e verduras. A qualidade dos produtos, principalmente das folhagens
e legumes mais sensíveis, pode apresentar problemas. A perda de qualidade,
invariavelmente, acarreta redução do volume ofertado e aumento dos preços.
Segundo Godas, em contrapartida, as frutas em plena safra devem permanecer
com excelentes preços.

142 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

Disponível em: <http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT29051


7-18078,00.html>. Acesso em 18 de nov. de 2013.

Apresente a definição de hiperônimo e hipônimo e retire exemplos do texto,


relacionando-os.

Questão 2

Qual função das expressões referenciais pode ser encontrada entre “uma nova
sonda para explorar Marte” e “veículo”?

A Agência Espacial dos EUA, a NASA, prepara uma nova sonda para explorar Marte.
O veículo, que lançado no sábado (dia 26), vai estudar em profundidade a química
e a geologia do local. Para isso, terá que demonstrar uma habilidade “incomum” a
veículos espaciais: a capacidade de escalar um elevado de 5 mil metros de altura
no relevo do Planeta Vermelho.

Disponível em: <http://hypescience.com/veiculo-espacial-da-nasa-vai-escalar-


montanhas-de-marte/>. Acesso em: 18 nov.2013.

a) Anáfora especificadora.

b) Paráfrase anafórica didática.

c) Categorização metaenunciativa.

d) Introdução de informações novas.

e) Orientação argumentativa.

Questão 3

Na Desciclopédia, encontra-se o seguinte verbete zombeteiro a respeito de cerveja.


Qual função das expressões referenciais pode ser encontrada nele?

A cerveja (também conhecida como água benta) é uma bebida cuja composição
atômica é: 90% de Cervum e os outros 10% de Álcool. Além de ser uma das bebidas
mais antigas que deixa o homem na manguaça, em países ocidentais costuma ser
uma das mais consumidas. Ainda que certos países tenham outras bebidas como
seu símbolo do alcoolismo, a velha cerva sempre se supera. Além da facilidade em
encontrá-la, afinal qualquer boteco – por mais meia-boca e pé sujo que seja – tem
cerva, seu preço é um atrativo em regiões normalmente urbanas.

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 143


T8

Devido a sua facilidade de obten¬ção e aceitação social, a cerveja costuma ser a


primeira cana errada que o cidadão toma. De bebericos em festas de amigos aos
14-16 anos, até os porres ho¬méricos dos 18, a cerva sempre está por perto.

Disponível em: <http://desciclopedia.ws/wiki/Cerveja>. Acesso em: 18 nov.2013.

a) Anáfora especificadora.

b) Paráfrase anafórica definicional.

c) Categorização metaenunciativa.

d) Introdução de informações novas.

e) Orientação argumentativa.

Questão 4

No texto a seguir, qual função das expressão referencial “simpatia insuperável”?

Julie Andrews foi escolhida por Walt Disney, quando este estava assistindo uma
peça na Broadway, a famosa Camelot. Ela já era conhecida no teatro, por outra
peça, intitulada “My Fair Lady”, e não queria fazer o filme porque estava grávida.
Mas Disney deu um jeito de adiar as filmagens e a contratou. Assim, ela estreou
no cinema em grande estilo, com uma simpatia insuperável e até ganhan¬do o
Oscar. No ano seguinte (1965), ela ficou mundialmente famosa com o estrondoso
sucesso de A Noviça Rebelde (o filme felicidade do cinema!).

a) Anáfora especificadora.

b) Paráfrase anafórica definicional.

c) Categorização metaenunciativa.

d) Introdução de informações novas.

e) Orientação argumentativa.

Questão 5

No texto a seguir, qual função das expressões referenciais existe entre “um animal”
e “Essa cadelinha soviética”?

144 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

Cadela Laika

Data do voo - 3/11/1957

País - União Soviética

Objetivo da viagem - Saber se um animal era capaz de permanecer na órbita da


Terra

Essa cadelinha soviética entrou para a posteridade como o primeiro animal a fazer
um voo na órbita da Terra. Ela foi a única tripulante da nave Sputnik 2, mas não
resistiu à experiência e morreu durante a missão. Depois dela, vários cães fizeram
voos orbitais. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/que-
animais-ja-foram-mandados-para-o-espaco>. Acesso em: 18 nov. 2013.

a) Anáfora especificadora.

b) Paráfrase anafórica definicional.

c) Paráfrase anafórica didática.

d) Introdução de informações novas.

e) Orientação argumentativa.

Questão 6

Organize os termos seguintes de acordo com as relações de hiperonímia e


hiponímia: professor, criança, economista, profissional, menor, servidor público,
menino, adolescente.

Questão 7

As entradas, os vocábulos, em um dicionário são definidas por meio de verbetes.


Considere o seguinte verbete extraído do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio:

“bravura: [De bravo + ura]. Substantivo feminino. 1. Qualidade ou caráter de bravo.


2. Ação de bravo.”

Com base no texto anterior, qual a função linguística das entradas e dos verbetes em
um dicionário? No vocábulo transcrito, quantas definições podem ser observadas?

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 145


T8

Questão 8

Identifique, no texto a seguir, as expressões nominais que exercem a função de


introduzir informações novas a respeito da locução “paradoxo do brasileiro”.

O paradoxo do brasileiro é o seguinte. Cada um de nós isoladamente tem o


sentimento e a crença sincera de estar muito acima de tudo isso que aí está.
Ninguém aceita, ninguém aguenta mais: nenhum de nós pactua com o mar de
lama, o deboche e a vergonha da nossa vida pública e comunitária. O problema é
que, ao mesmo tempo, o resultado final de todos nós juntos é precisamente tudo
isso que aí está! A autoimagem de cada uma das partes – a ideia que cada brasileiro
gosta de nutrir de si mesmo – não bate com a realidade do todo melancólico e
exasperador chamado Brasil.

(GIANNETTI, 2007)

Questão 9

Identifique a expressão que carrega orientação argumentativa no texto seguinte:

Com direção de Wesley e assistência de direção de Marcelo Carrasco, os atores:


Emília Marcílo,Renan Rangel, Livia Galdêncio, Nilmara Gomes e Gabriela Chiari
em “MULHERES EM CRISE” representa com exatidão, graça e muita alegria o
conflituoso, difícil e complexo Universo Feminino. Helena é uma mulher madura,
independente e divorciada.

Odeia o cargo e a carga de “mulher moderna” e sai em busca de um novo


amor junto com suas amigas Tamiris, Nanda e Clara. Na tentativa de se livrar da
tenebrosa solidão, vítima do feminismo avassalador que a tortura diariamente, ela
vive as mais variadas crises com todos os seus dilemas e conflitos cotidianos:
depressão, solidão, vaidade, fragilidade, baixa auto-estima, problemas conjugais,
sexuais, existenciais... Entre outros esquecidos aqui.

Disponível em: <http://ahgente.blogspot.com.br/2009/09/mulheres-em-crise.


html>. Acesso em: 18 nov.2013.

Questão 10

No texto a seguir, está construída uma paráfrase anafórica definicional. Indique-a.

146 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

Podemos considerar o bullying como um fenômeno novo, porque vem sendo


objeto de investigação e de estudos nas últimas décadas, despertando a atenção
da sociedade para as suas consequências nefastas, uma vez que se evidencia
pela “desigualdade entre iguais”, resultando num processo em que os “valentões”
projetam sua agressividade com requintes de perversidade e de forma oculta
dentro de um mesmo contexto escolar. Por outro lado, considera-se o bullying
como um fenômeno bastante antigo, por se tratar de uma forma de violência
que sempre existiu nas escolas – onde os “valentões” continuam oprimindo e
ameaçando suas vítimas, por motivos banais – e que até hoje ocorre despercebida
da maioria dos profissionais da educação.

Definimos o bullying como um comportamento cruel intrínseco nas relações


interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de
diversão e prazer, através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar
e intimidar. Diversos estudiosos vêm dando suas definições e contribuições, ao
longo do tempo, com respeito a esse tipo de comportamento. Porém, todas as
definições convergem para a incapacidade da vítima em se defender. Apontamos
também, aliado a essa tendência, o fato de que a vítima não consegue motivar
outras pessoas a agirem em sua defesa. Portanto, o bullying é um conceito
específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras
formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias,
dentre elas, talvez a mais grave, a propriedade de causar traumas ao psiquismo de
suas vítimas.

(FANTE, 2005)

FINALIZANDO

Nesta segunda parte do tópico “Funções das Expressões Nominais Referenciais”,


você tomou conhecimento das relações de hiperonímia e hiponímia na construção
de anáforas especificadoras. Aprendeu também que, ao elaborar definições,
é possível construir paráfrases anafóricas definicionais e didáticas, conforme
o definiendum esteja posicionado antes ou depois do definens. Verificou que
a anáfora nominal pode ser empregada para introdução de informações novas
e que termos ou expressões auxiliam na orientação argumentativa. Por fim,
compreendeu que um ato de enunciação pode ser encapsulado na forma de
categorização metaenunciativa.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 147


T8

148 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


T8

REFERÊNCIAS

FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar
para a paz. 2. ed. Rev. e ampl. Campinas: Verus, 2005.

GIANNETTI, Eduardo. Vícios privados, benefícios públicos? A ética na riqueza das


nações. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

KOCH, I. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2013.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Centage Learning, 2009.

SILVA, V.R. Marcela. Expressões nominais referenciais em narrativas infantis:


funções cognitivodiscursivas envolvidas na construçãode objetos-de-discurso.
Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 87-103, jul./dez. 2010.

GLOSSÁRIO

Categorização: é o processo pelo qual ideias e objetos são reconhecidos,


diferenciados e classificados. Em linhas gerais, a categorização consiste em
organizar os objetos de um dado universo em grupos ou categorias, com um
propósito específico. A categorização é um mecanismo fundamental para a razão
e a comunicação humana, estabelecendo bases para muitos dos mais importantes
processos mentais, tais como a percepção a representação, a linguagem, a lógica
e a aprendizagem.

Definiens: é o conjunto de termos ou conceitos que vão definir (o definiendum)


chamado de definiens. Geralmente um definiens é composto por termos ou
conceitos irmãos ou gerais ao termo que está sendo definido. O termo pode ter
muitos sentidos diferentes. Para cada sentido ou significado, um definiens pode ser
estabelecido através de uma série de palavras que definem o termo (ou esclarece
a intenção do falante).

Definiendum: parte constitutiva de uma definição: o termo que designa o objeto a

Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2 149


T8

ser determinado. Uma definição é um enunciado que explica o significado de um


termo (uma palavra, frase ou um conjunto de símbolos). O termo ou conceito que
será definido é chamado de definiendum.

Interacional: formas de interação por meio da linguagem que engloba os


conhecimentos. Permite-nos reconhecer os objetivos ou propósitos pretendidos
pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional.

150 Funções das Expressões Nominais Referenciais – Parte 2


Tema 9

Fio Discursivo: A Sequência no


Texto

POR DENTRO DO TEMA

A produção do texto escrito muitas vezes oferece dificuldades na sua elaboração,


os alunos enfrentam problemas para organizar na escrita suas ideias e construir um
texto com coerência e coesão. Além disso, o texto produzido por uma grande
maioria de alunos não apresenta um fio discursivo que conduz adequadamente
a progressão ou a sequenciação textual. Isso não acontece na oralidade, pois se
expressam usando a linguagem coloquial. Acontece que na linguagem oral o
falante se expressa não só através da fala, mas também através de gestos, sinais e
expressões. Esses recursos não são explorados na modalidade escrita, pois ela tem
normas próprias, como regras de ortografia, pontuação que não são reconhecidas
na fala. Não adianta saber que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-
se com o sucesso dos objetivos da produção textual, como a interação entre os
interlocutores autor-texto-leitor. Nesse sentido, para que o discurso tenha êxito,
ele deve construir um todo significativo. Devem existir elementos que estabeleçam
ligação entre as partes, isto é, que confiram coesão ao discurso e que tenham uma
progressão textual coerente.

Então para que você conheça um pouco mais sobre como tecer um texto
escrito, é importante relembrar a origem da palavra texto do latim “textum” que
significa “tecido”, “entrelaçamento”. Não se pode esquecer que escrever um texto
é o mesmo que tecer. A partir dessa ideia, falamos em textura de um texto: que é
a rede de relações que garantem sua coesão.

Quando vamos escrever um texto nos baseamos em quatro elementos


centrais: a repetição, a progressão, a não contradição e a relação. Todas essas
partes compõem o texto. Elas surgem uma após a outra, relacionando-se com o
que já foi dito ou com o que se vai dizer.
T9

Repetição

Ao longo de um texto coerente ocorrem repetições, retomadas de elementos.


Essa retomada é normalmente feita por pronomes ou por palavras e expressões
equivalentes ou sinônimas. Também podemos repetir a mesma palavra ou
expressão, o que deve ser feito com cuidado, a fim de que o texto não seja
prejudicado.

Progressão

Num texto coerente, devemos sempre acrescentar novas informações ao


que já foi dito. A progressão complementa a repetição: esta garante a retomada
de elementos passados; aquela garante que o texto não se limite a repetir
indefinidamente o que já foi colocado. Dessa forma, equilibramos o que já foi
dito com o que se vai dizer, garantindo a continuidade do tema e a progressão do
sentido.

Não contradição

Num texto coerente, não devem surgir elementos que contradigam aquilo que
já foi considerado falso, ou vice-versa. Esse tipo de contradição só é tolerado se
for intencional. Não se deve confundir a não contradição com o contraste, pois
a aproximação de ideias e fatos contrastantes é um recurso muito frequente no
desenvolvimento da argumentação.

Relação

Num texto coerente, os fatos e conceitos devem estar relacionados. Essa


relação deve ser suficiente para justificar sua inclusão num mesmo texto. Para que
se avalie o grau de relação dos elementos que vão construir o texto, é importante
organizá-lo esquematicamente antes de escrever. Feito o esquema, é importante
observar se a aproximação das ideias que serão transmitidas é realmente eficaz.

Esses quatro itens (repetição, progressão, não contradição e relação) podem


ajudar a avaliar o grau de coesão dos textos – os que serão lidos e os que serão
escritos. A configuração final do texto depende ainda de outros fatores, como o
canal de comunicação, o perfil do leitor e as finalidades pretendidas pelo autor.

Todo o conjunto de estratégias utilizadas pelo redator para fazer o texto progredir
sem perder o fio discursivo é chamado de sequenciação textual. A sequenciação
pode ser feita com ou sem recorrências. As “recorrências” podem incidir sobre
termos, estruturas, conteúdos semânticos, recursos fonológicos, tempo e aspecto
verbal.

A “recorrência de termos” consiste na repetição de um mesmo item lexical, por


exemplo, em “bate, bate, bate, bate sem parar”. Na reiteração dos termos, há um

152 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

acréscimo de sentido. Compare-se a diferença entre “coma, eu já disse!” e “Coma,


eu já disse, coma, coma, coma!”. A repetição do verbo “comer” no segundo
enunciado denuncia uma exasperação muito maior em relação ao primeiro.

A “recorrência de estruturas” ocorre por meio de paralelismo sintático, isto é,


pela utilização de uma mesma estrutura sintática, preenchida a cada vez com itens
lexicais diferentes. É uma estratégia adequada para discursos enfáticos. Exemplo:
Ela vende balas e biscoitos.

• Os termos coordenados são: “balas” e “biscoitos”. Observe que esses


termos estão unidos pela conjunção “e” e apresentam a mesma função sintática
na sentença: ambos são objetos do verbo “vender”.

• O paralelismo sintático encontra-se na semelhança dos termos


coordenados: veja que tanto a palavra “balas” quanto a palavra “biscoitos” são
expressões nominais simples, ou seja, elas se apresentam, na sentença, em uma
estrutura sintática idêntica.

A “recorrência de conteúdos semânticos” é feita por meio de paráfrases, nas


quais um mesmo conteúdo semântico é apresentado em formas estruturais
diferentes, muitas vezes valendo-se de certas expressões linguísticas que propiciam
a introdução de paráfrases, como “isto é”, “ou seja”, “quer dizer”, “ou melhor”, “em
outras palavras”, “em síntese”, “em resumo”, “dito de outra forma”. Nesse sentido, a
“paráfrase” é muito útil para ajustar, reformular, desenvolver, sintetizar ou dar maior
precisão ao conteúdo que está sendo reapresentado. Exemplo: João gosta de uva
e de maçã verde.

• É possível entender sem dificuldade a relação semântica entre as expressões


“uva” e “maçã verde”: são frutas de que João gosta.

Agora veja: Ele gosta de livros de ficção e de ovo mexido.

• Nesse exemplo, os termos “livros de ficção” e “ovo mexido” não constituem


uma sequência lógica e esperada na frase. Temos dificuldade de relacionar a
presença de ambos os termos na forma como foram apresentados. Esse é um
típico exemplo de falta de paralelismo semântico.

A “recorrência de recursos fonológicos e/ou suprassegmentais” consiste no


emprego de uma invariante fonológica, com igualdade de metro, ritmo, rima,
assonância, aliterações. Observe os versos de Fernando Pessoa, nele notamos a
semelhança de sons em palavras próximas, consonantais, ou aliterações.

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 153


T9

O poeta é um fingidor:

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

A “recorrência de tempo e aspecto verbal” indica ao leitor se a sequência deve


ser interpretada como comentário ou relato, uma vez que os tempos verbais
pertencem a dois grandes grupos: o tempo para narrar, relatar, e o tempo para
comentar, opinar. Dentro de cada um desses grupos, há o “tempo básico”, que não
expressa perspectiva, apenas sinaliza a ocorrência de relato ou comentário. Além
dele, há tempos com “perspectiva retrospectiva”, usado para eventos anteriores ao
tempo-base, e tempos com “perspectiva prospectiva”, empregado para eventos
posteriores ao tempo-base.

A coesão textual é propiciada também pela “sequenciação sem recorrência”,


feita mediante procedimentos de manutenção temática e por progressão temática
linear, com tema constante, com temas derivados ou com desenvolvimento de
um rema subdividido.

O “procedimento de manutenção temática” garante a coerência do texto em


relação ao tema pelo emprego de termos pertencentes a um mesmo campo
lexical, que permitem ativar um frame, um quadro, um esquema cognitivo na
memória do leitor da mensagem. Permitem, ainda, interpretar outros elementos
do texto de acordo com o frame colocado.

A “progressão temática”, por sua vez, evidencia a sequenciação do texto


por meio de dois blocos comunicativos, denominados tema (tópico) e rema
(comentário). Em um enunciado, “tema” ou “tópico” é o elemento base da
comunicação, aquilo de que se fala; “rema” é o que se diz a respeito do tema. O
rema transporta informação nova, introduzida no texto pela primeira vez, a respeito
do tema. Embora seja comum que o tema e o rema coincidam com o sujeito e
o predicado da oração, com estes não se confundem. Assim é que em “À noite,
costumo dormir bem se houver silêncio”, o tema ou tópico é a locução “À noite”,
a respeito da qual é feito o comentário ou rema “costumo dormir bem se houver
silêncio”.

A progressão temática será “linear” quando, ao longo do texto, o rema ou


comentário de um enunciado passa a tema ou tópico do enunciado seguinte;
apresentará “tema constante” na medida em que um só tema ou tópico é acrescido
de vários remas ou comentários, em enunciados subsequentes; será feita com
“temas derivados” quando derivar temas parciais de um hipertema; dar-se-á por

154 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

“desenvolvimento de um rema subdividido” quando novos remas ou comentários


surgem a partir de um rema superordenado.

O desenvolvimento do texto que se faz pelo inter-relacionamento de enunciados


sucessivos, com ou sem elementos explícitos de ligação, é denominado
“encadeamento”.

Conforme exista ou não um articulador entre os enunciados sucessivos,


tem-se o “encadeamento por conexão” e o “encadeamento por justaposição”,
respectivamente, cada um deles se apresentando em variadas formas de
textualização.

Eventualmente, a interação entre autor e leitor ocorre pela passagem por meio
de vários assuntos, de vários temas ou tópicos, que podem ser agrupados em
blocos cada vez mais abrangentes, fenômeno que se denomina “progressão/
continuidade tópica”. Essa complexidade permite denominar os enunciados de
nível mais baixo de “segmentos tópicos” que, agrupados, compõem “subtópicos”,
os quais podem ser reunidos em “quadros tópicos” que, por sua vez, ficarão
aglomerados em um supertópico.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “A Construção do Texto: Coesão e Coerência Textuais:


Conceito de Tópico”, de Maria Lúcia Mexias Simon. Disponível em: <http://www.
filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_texto.pdf>. Acesso em: 18 nov.
2013. Nele, a autora analisa o conjunto de características que fazem de um texto
uma estrutura bem-construída, e não uma sequência de frases.

• Leia o estudo “A Coesão Textual e a Charge”, de Verônica Palmira Salme


de Aragão. Disponível em:<http://www.filologia.org.br/xicnlf/6/a_coesao_
textual_e_a_charge.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013. O artigo analisa os diversos
recursos que ocorrem no âmbito da coesão textual nas charges. Propõe que esse
processo de correferenciação no gênero exerce, além do papel de relacionar um
signo a um referente extratextual, o de ligar diferentes campos semânticos.

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 155


T9

Vídeos

• Assista ao vídeo “G1 - Saiba mais sobre tempos verbais”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=yt8UEB-2iAU>. Acesso em: 18 nov. 2013.
Trata do uso literal e do uso não literal dos tempos verbais. O professor faz uma
explanação do assunto trazendo exemplos.

• Assista ao vídeo “Leitura e escrita de textos argumentativos”. Nele a


professora explica como construir e organizar o texto argumentativo, tanto na
argumentação oral quanto na escrita. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=F-WhE2dK0u4>. Acesso em:18 nov. de 2013.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Qual dos enunciados a seguir faz sequenciação com recorrência de termos?

a) Para o Pará sem parar!, exclamou rindo a criança.

b) “Lá de trás de minha casa

Tem um pé de umbu butando

Umbu verde, umbu maduro,

Umbu seco, umbu secando” (do filme “Central do Brasil”).

c) “Bem que eu me lembro, a gente sentado ali

Na grama do aterro sob o céu

156 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

Ob... observando estrelas, junto a fogueirinha de papel

Quentar o frio, requentar o pão, e comer com você

Os pés de manhã, pisar o chão

Eu sei, a barra de viver, mas se Deus quiser

Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Tudo, tudo, tudo vai dar pé

Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Tudo, tudo, tudo vai dar pé” (Gilberto Gil).

d) Enquanto espera, Lúcia se desespera. Bem diziam que a vida de mulher grávida
era plena de esperança. Ela só não tinha ideia de que fosse assim.

e) Repete se for homem!, exclamou Maricota. E ele não só repetiu, mas repetiu
com todos os detalhes. Repetiu com ênfase, com gosto, com vontade de mostrar
a ela tudo o que a moça recusava enxergar.

Questão 2

Assinale a alternativa correta, tomando por base o texto e a sequenciação por


recorrência de tempo e aspecto verbal:

As crianças o adoravam, mas ele não gostava delas; seu pensamento esta¬va
distante. Tudo o que elas podiam fazer nunca o impacientava. Frio, justo, impassível
e, entretanto, amado, pois sua chegada tinha de certa maneira expulso o tédio da
casa, foi um bom preceptor.

Quanto a ele, só sentia ódio e horror pela alta sociedade em que era admitido, é
verdade que no fim da mesa, o que talvez explique seu ódio e horror. Houve certos
jantares de gala em que mal pôde conter sua raiva por tudo o que o cercava. Num
dia de São Luís, o Sr. Valenod pontificava em casa do Sr. de Rênal e Julien esteve
a pique de se trair. Salvou-se saindo para o jardim, com o pretexto de ir ver as
crianças. “Quantos louvores à pro¬bidade!”, exclamou em pensamento. “Parece
que é a única virtude. Entre¬tanto, que consideração, que respeito servil por um
homem que evidente-mente duplicou e triplicou sua fortuna desde que passou
a administrar os bens dos pobres! Apostaria que lucra mesmo com os fundos
destinados às crianças abandonadas, esses infelizes cuja miséria é ainda mais
sagrada que a dos outros! Ah, monstros! Monstros! Mesmo eu sou uma espécie
de criança abandonada, odiada pelo pai, pelos irmãos, por toda a família.”

(STENDHAL, 2003, p. 31).

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 157


T9

a) Os tempos verbais foram todos utilizados sob perspectiva zero.

b) No enunciado “Salvou-se saindo para o jardim, com o pretexto de ir ver as


crianças”, o tempo verbal, pretérito perfeito do indicativo, indica ao leitor que se
trata do segundo plano da narrativa.

c) O tempo verbal empregado todas as vezes no pretérito permite concluir que a


perspectiva do texto é prospectiva.

d) Na verdade, o texto não faz sequenciação por meio de recorrência de tempo e


aspecto verbal.

e) Há tempos verbais utilizados para narrar, como adoravam, gostava, expulso,


sentia, conter, salvou-se, e tempos verbais empregados para opinar, como em
parece, duplicou, triplicou, apostaria, lucra.

Questão 3

Qual das alternativas a seguir apresenta encadeamento por conexão mediante


relação lógico-semântica de disjunção?

a) Não quero mais saber de amar, nem de sofrer por amor.

b) São tantas lágrimas e tantos ais e tanto desfalecer que nem sei como parar.

c) E quem nunca sofreu por amor? Essa pergunta me atormenta.

d) Parece que se eu encontrasse a resposta, encontraria a porta do paraíso. Ou


seria a do inferno?

e) Se pudesse tentar mais uma vez, conseguiria viver em paz?

Questão 4:

Leia o texto e assinale a alternativa correta.

Dioniso (Baco, para os romanos) é um dos deuses mais populares da mitologia


clássica na história da arte. Deus do vinho e dos vegetais, é associado às festas, à
dança e aos desregramentos, ou seja, a tudo aquilo que deixa o homem fora das
regras da vida cotidiana. Filho de Zeus (Júpiter) e Sêmele, sofreu as perseguições de
Hera (Juno). Em suas viagens para fugir à ira da deusa, Dioniso semeou as vinhas,
tornando-se assim o deus da viticultura. Sua história se mescla á de Ariadne, a qual,
abandonada por Teseu, é colhida pelo deus e torna-se sua mulher. Sua figura é uma
presença constante nos vasos e nos relevos antigos, que o representam portanto

158 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

uma coroa de folhas de hera ou de parreira e rodeado por ninfas, silenos, sátiros
e mênades. Dionizo tem grande fortuna na estatuária e na pintura renascentistas,
barrocas e de outras épocas. Michelangelo, Bellini, Ticiano, Carracci, Caravaggio,
Guido Reni e Poussin são apenas alguns dos artistas que dedicaram obras a esse
deus.

(MAGALHÃES, 2007. p. 464).

a) O texto apresenta progressão tópica, na qual a organização dos enunciados é


feita por meio de hierarquia tópica.

b) O conjunto textual está encadeado por justaposição.

c) Está evidenciada, em todo o texto, a sequenciação textual por recorrência de


estruturas ou paralelismo sintático.

d) É preponderante o emprego de paráfrases.

e) O tema é Dioniso e todo o restante do texto constitui-se de sucessivos remas.

Questão 5

Considere o texto a seguir:

Situe-se, situe-se. Hoje a técnica de na¬vegação por satélite permite que tanto
barcos em alto-mar como táxis na rua saibam sempre exatamente onde estão,
e não podemos ficar atrás deles. Como não estamos ligados a satélites, temos
de suprir as nossas próprias coordena¬das e renová-las diariamente. Vamos lá.
(VERÍSSIMO, 2008. p. 27).

Pode-se afirmar que o período “Como não estamos [...] diariamente” encadeia-se
com o anterior por conexão, feita por relação lógico-semântica de:

a) Causalidade.

b) Comparação.

c) Conjunção de argumentos.

d) Justificação ou explicação.

e) Conclusão.

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 159


T9

Questão 6

O texto a seguir utiliza diversas estratégias de sequenciação textual. Analise como


elas foram empregadas. A seguir, exponha, por escrito, três dessas estratégias.

Só quem conhece a Ana Maria é que pode dizer quão faladeira ela é. Faladeira não
no sentido de fofoqueira, mas no sentido exato da palavra: ela fala, fala, fala, fala
pela boca, pelos cotovelos, pelos olhos, pelos quatro cantos do mundo, em casa,
na rua, na escola...

Como nem tudo é perfeito, seus pais, ao contrário, são pessoas quietas, mais
caladas, daquelas que só falam quando precisam. Azar dela que adora perguntar,
responder, explicar, pedir, mandar, chamar, cantar, exclamar... Azar deles, que a
todo instante ouvem Ana Maria perguntando, explicando, pedindo, chamando,
falando, respondendo, xingando...

[...].

Bem... foi assim, por causa dessa sua xeretice sem fim, que ela criou a maior
confusão em sua casa. De tanto ouvir no rádio e na televisão notícias sobre greve,
“greve aqui, greve ali, greve acolá, greve de professores, greve de lixeiros...” ela
perguntou ao pai:

– Pai, o que é greve?

O pai até sabia o que era, mas achava que não era assunto para filha pequena.

– Isso não é coisa pra você saber, menina! (GARCIA, 2009. p. 28-29).

Leia o texto seguinte para responder as questões 7 e 8.

Enquanto a mudança não chegava, o jeito era ir empurrando com a barriga,


tocando a escola como dava, com meia dúzia de tostões furados recolhidos dos
pais. Quando chovia, chovia tanto dentro quanto fora da escola. Todas as noites,
faltavam lâmpadas, que se queimavam com muita frequência por causa da má
qualidade da instalação elétrica. Os sanitários viviam entupidos e malcheirosos. O
mobiliário arrebentado, as salas sujas e cheias de buracos. E, junto com tudo isso,
havia ainda o problema do mato e da grama em volta da escola.

[...].

Mas a situação foi se agravando: o mato subindo, a grama crescendo e todo


mundo reclamando. Foi então que a diretora resolveu marcar uma reunião com
pais e professores para dar um jeito no problema do mato e da grama. Reunião
marcada, sempre as mesmas pessoas presentes, ela explicou, explicou e pediu

160 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

ajuda, soluções, sugestões. (GARCIA, 2009. p. 41-42).

Questão 7

Analise a sequenciação por recorrência de tempo e aspecto verbal e, em seguida,


responda de que forma é feito o encadeamento do texto no primeiro parágrafo?
Por quê?

Questão 8

De que forma é feito o encadeamento no último período do texto? Por quê?

Leia o texto seguinte para responder as questões 9 e 10.

Na canção “Vox populi”, a cantora Ana Carolina reclama do tanto que o povo fala:

O povo fala, o povo fala mesmo,

O povo fala, o povo fala mesmo.

Andam dizendo que eu meto a mão,

Eu toco forte, eu furo o couro, eu mando bala,

Eu meto a cara, mas eu não fujo do combate.

Eu jogo duro brigo feio, mando a lima,

Sonho alto, quero muito e nada me sufoca,

Mas nada disso me provoca.

E comentam que eu corro o mundo,

Invento moda, caio dentro,

E nada disso me entristece,

é gente que não me conhece.

Questão 9

Nos dois primeiros versos, qual é a forma de sequenciação utilizada? Por quê? Na
canção, há algum encadeamento? Por quê?

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 161


T9

Questão 10

No verso “Andam dizendo que eu meto a mão”, o que é tema e que é rema?

FINALIZANDO

O conjunto das atividades realizadas pelo locutor para fazer o texto progredir,
mantendo o fio discursivo, é denominado sequenciação textual, a qual pode ser
feita com recorrências, que são repetições de termos, de estruturas (paralelismo
sintático) ou de conteúdos semânticos (paráfrase), de recursos fonológicos,
de tempo e aspecto verbal. A sequenciação feita sem recorrências ocorre por
procedimentos de manutenção temática e por progressão temática (tema/tópico
e rema/comentário). O encadeamento também propicia o desenvolvimento do
texto, seja por justaposição, seja por conexão. Eventualmente, são utilizadas a
progressão e a continuidade tópica, quando a interação entre emissor e receptor
da mensagem ocorre em torno de vários assuntos.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

162 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


T9

REFERÊNCIAS

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais.9. ed. São Paulo: Ática, 2004.

GARCIA, Edson Gabriel. Treze contos. 23. ed. São Paulo: Atual, 2009.

KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São


Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2013.

ORLANDI, Eni. Discurso e Leitura. 6. ed. Campinas: Cortez, 2001.

MAGALHÃES, Roberto Carvalho de. O grande livro da mitologia: a mitologia clássica


nas artes visuais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

STENDHAL. O vermelho e o negro. São Paulo: Nova Cultural, 2003.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro e o que nós temos a ver com isso.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

GLOSSÁRIO

Argumentação: argumentar é a capacidade de relacionar fatos, teses, estudos,


opiniões, problemas e possíveis soluções a fim de embasar determinado
pensamento ou ideia. Um texto argumentativo sempre é feito visando um
destinatário. O objetivo desse tipo de texto é convencer, persuadir, levar o leitor a
seguir uma linha de raciocínio e a concordar com ela. Para que a argumentação
seja convincente, é necessário levar o leitor a um “beco sem saída”, onde ele seja
obrigado a concordar com os argumentos expostos.

Intencional: que se refere a ou com intenção de; realizado de propósito; feito


propositalmente; intencionado: crítica intencional.

Linguagem coloquial: a linguagem coloquial, informal ou popular é uma linguagem


utilizada no cotidiano em que não se exige a atenção total da gramática, de modo
que haja mais fluidez na comunicação oral. Na linguagem informal usam-se muitas
gírias e palavras que na linguagem formal não estão registradas ou tem outro
significado. Em contrapartida a linguagem formal ou culta é aquela que carrega

Fio Discursivo: A Sequência no Texto 163


T9

consigo a rigidez das normas gramaticais.

Linguagem oral: os falantes não escrevem exatamente como falam, pois a fala
apresenta como características uma maior liberdade no discurso, já que não
necessita ser planejada; pode ser redundante; enfática; usando timbre, entonação
e pausas de acordo com a retórica – essas características são representadas na
língua escrita por meio de pontuações. É importante salientar que a língua oral e a
língua escrita se completam.

Tolerado: permitido de forma tácita; que se deixou passar; suportado; aceitado;


admitido; consentido.

164 Fio Discursivo: A Sequência no Texto


Tema 10

Coerência Textual: Um
Princípio de Interpretabilidade

POR DENTRO DO TEMA

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade

A construção textual sempre é feita a partir de uma intencionalidade, seja


para informar, emocionar, convencer, esclarecer, orientar, seja para criar efeitos
artísticos por meio da combinação e seleção de palavras etc. Nesse sentido, o texto
tem a função de impressionar o leitor, isto é, o leitor ao visualizar o texto, antes
mesmo de iniciar a leitura, pode utilizar-se de estratégias que poderão auxiliá-lo
na busca das pistas sobre a intenção que aquele texto quer passar. O leitor, então,
cria expectativas e formula hipóteses que serão confirmadas ou não do decorrer
da leitura.

Assim, se um texto, por exemplo, for um artigo de jornal ou revista, pode-se de


imediato identificar que se trata de um texto informativo, seja na área econômica,
social, política, artística, religiosa ou científica. Caso trate de uma ficção, a intenção
expressa poderá ser artística, emotiva. Desse modo, percebe-se que cada autor
possui características próprias. E, caso conheça o autor, antes mesmo de ler o
texto deste, o leitor terá uma noção do que vai ler, ou, até mesmo se ler apenas o
título, este já terá uma noção inicial de que assunto se trata.

Geralmente os textos nascem do conhecimento de mundo que o autor tem


durante uma experiência de vida. Como ele escreve na intenção de alguém ler,
é necessário haver a interação entre autor/leitor, ou seja, o leitor deve da mesma
maneira que o autor utilizar seu conhecimento de mundo, conhecimentos prévios
que ajudarão a interpretar a mensagem passada. Acontece que, muitas vezes,
não se consegue entender um texto em razão de o leitor não ter nunca lido um
acontecimento de mundo sobre o qual o texto trata, ou não viveu o conhecimento
de mundo que o escritor deseja transmitir. Por isso a construção textual deve ser
T10

considerada coerente aos olhos do leitor. Assim pode-se afirmar que a coerência
textual é o instrumento que o autor vai usar para conseguir encaixar as “peças” do
texto e dar um sentido completo a ele.

Nessa perspectiva, Koch e Travaglia (1995, p. 31) consideram que

[...] coerência é algo que se estabelece na interlocução, na


interação entre dois usuários (da Língua) numa dada situação.
Possivelmente em função disso, Charolles, (1979, p. 81)
afirmou que a coerência lógica textual seria a qualidade que
têm os textos pela qual os falantes reconhecem como bem
formados, dentro do mundo possível [...].

Assim pode-se afirmar que a boa formação de um texto ocorre quando os


falantes têm a possibilidade de recuperarem o sentido dele. Isso ocorre através da
coerência como princípio de interpretabilidade, que depende da capacidade de
cada leitor em compreender o texto por meio de sua interação com o mesmo. Para
isso, o leitor utiliza estratégias durante o ato de ler, como, por exemplo, a inferência,
que possibilita tirar conclusões de uma ou mais proposições já conhecidas pelo
receptor, o que será verídico se essas conclusões estiverem contidas explicitamente
ou implicitamente nas premissas, possibilitando por completo o entendimento do
enunciado.

Enfim, um texto, tanto oral quanto escrito, deve ser formado por:

• Uma unidade de linguagem em uso: nela estão expressas as intenções


do produtor, o contexto social em que se estabelece a comunicação, o jogo de
imagens, de postura e o tipo de informação a ser veiculada, ou seja, o autor nesse
caso utiliza o seu conhecimento de mundo para argumentar seu texto.

• Uma unidade semântica (de significado): o texto deve ser minuciosamente


trabalhado pelo enunciador, no propósito de atingir seu objetivo específico, que
é o entendimento por completo da mensagem a ser transmitida para o seu leitor.

• Uma unidade formal: os elementos linguísticos que fazem parte do texto


devem estar ligados uns com os outros para propiciar a ideia a ser transmitida, isso
graças à coesão.

Essas três características são responsáveis por aquilo que se chama de


textualidade, com base nas quais se garante que o texto seja um texto e não um
simples amontoado de frases sem relação entre elas.

166 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

Por isso, a afirmação de que a coerência é responsável pelo sentido do texto


envolve fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a interpretabilidade do
texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Um texto é
coerente quando compatível com o conhecimento de mundo do leitor. Observar
a coerência é importante, pois permite perceber que um texto não existe em si
mesmo, mas se constrói na relação autor-leitor-mundo. Cada palavra tem seu
sentido individual, quando elas se relacionam, elas constroem um outro sentido.
O mesmo raciocínio vale para as frases, os parágrafos e até os textos. Cada um
desses elementos tem um sentido individual e um tipo de relacionamento com
os demais. Caso essas relações sejam feitas da maneira correta, obtém-se uma
mensagem, um conteúdo semântico compreensível.

Então, para que a coerência ocorra em um texto, as ideias devem se completar.


Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma concatenação de
ideias entre as frases, elas acabarão se contradizendo ou quebrando uma linha
de raciocínio. Quando isso acontece, diz-se que houve uma quebra de coerência
textual. A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto
e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão textual,
ou seja, a compreensão de um texto é mais bem capturada com o auxílio de
conectivos, preposições etc.

Em outras palavras, coerência é a unidade do texto. Um texto coerente é um


conjunto harmônico, em que suas partes se inter-relacionam de tal modo que o
desenvolvimento de uma ideia depende do desenvolvimento anterior de outra.

A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se


estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com
que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto,
ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada
à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à
capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste
texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a
coerência é global. (KOCH; TRAVAGLIA, 2001, p. 21).

Destacam-se, a seguir, os diversos tipos de coerência apresentados pelas


autoras Ingedore Koch e Vanda Elias (2013):

a) Coerência sintática: é manifestada pelo domínio lexical de cada indivíduo,


isto é, o uso de conectivos, pronomes, expressões de ligação entre termos das
orações e outros.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 167


T10

b) Coerência semântica: refere-se às relações de sentido entre as estruturas


(palavras, expressões) de um texto. É o cuidado para não entrar em contradição
com as informações apresentadas no texto.

c) Coerência temática: pela qual todos os conteúdos expostos no texto devem


ficar explicitados em seu desenvolvimento.

d) Coerência pragmática: relaciona-se com a adequação do texto à situação


comunicativa.

e) Coerência estilística: é a escolha da variedade (ou registro) de uma língua


adequada à situação comunicativa conforme cada situação apresentada. Observa-
se a melhor forma de interação entre o produtor da mensagem com o receptor.

f) Coerência genérica: está relacionada com o gênero textual de acordo com o


propósito a que se destina.

A coerência exige que o pensamento se articule período a período, formando o


todo. É um olhar para trás e adiante constantemente. Para isso é necessário, antes
de mais nada, a coerência interna da própria frase, depois de frase para frase e, na
sequência, de um parágrafo ligando-se a outro de maneira ordenada e lógica até
formar o todo: o texto completo.

Dessa forma, a transição de um parágrafo para outro deve visar à continuidade


da mensagem. A ideia expressa em um período anterior precisa de seguimento
lógico da narrativa, sem que haja mudanças bruscas ou junção desordenada de
orações. Por isso, o uso de expressões e conjunções para ligar os períodos é
fundamental para o texto coerente.

Observe os exemplos e verifique como ocorre a ruptura da coerência textual:

“No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará, Fortaleza, não


pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar”

“Estão derrubando muitas árvores e por isso a floresta consegue sobreviver.”

A falta de coerência em um texto é facilmente percebida por um falante da


língua, mas não é tão simples notá-la quando é você quem escreve. A coerência é
a correspondência entre as ideias do texto de forma lógica.

Quando o entendimento de determinado texto é comprometido, imediatamente


alguém pode afirmar que ele está incoerente. Na maioria das vezes essa pessoa
está certa ao fazer essa afirmação, mas não podemos achar que as dificuldades
de organização das ideias se resumem à coerência ou a coesão. É certo que elas
facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para resolver todos os

168 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

problemas. O que nos resta é nos atualizarmos constantemente para podermos


ter um maior domínio do processo de produção textual.

ACOMPANHE NA WEB

Quer saber mais sobre o assunto?

Então:

Sites

• Leia o artigo “Falar e Escrever, eis a Questão!” de João Gabriel de Lima.


Nele há várias explicações sobre como expressar-se em português com clareza
e correção, o que, como se sabe, é uma das maiores dificuldades dos brasileiros,
além de apresentar a importância da escrita correta. A boa notícia é que muitos
estão conscientes disso e querem melhorar. Disponível em: <http://veja.abril.com.
br/071101/p_104.html>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Leia o artigo “A construção do texto coesão e coerência textuais conceito


de tópicos” escrito por Maria Lúcia Mexias Simon. No texto, a autora traz explicações
sobre a construção textual e a importância da coesão e da coerência como fatores
primordiais na construção do texto. Disponível em:

<http://moodle.stoa.usp.br/file.php/587/textos/a_construcao_do_texto.pdf>.
Acesso em: 18 nov. 2013.

Vídeos

• Assista ao vídeo “Coesão e Coerência”, no qual há explicação sobre a


coesão e coerência e suas implicações no texto, sendo apresentados exemplos
que poderão auxiliar você no entendimento do assunto estudado. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=zPaa4pVCTp0>. Acesso em: 18 nov. 2013.

• Assista ao vídeo “Interpretação - parte 1: Coesão e Coerência”, no qual


o professor Antonio Carlos Alves, que ministra aulas de Língua Portuguesa para

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 169


T10

concursos, expõe de maneira clara o assunto sobre coesão e coerência, explicando


como esses itens são responsáveis pela construção do texto. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=kAiMGfcH1do>. Acesso em: 18 nov. 2013.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:

Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das
questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo
para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão.
Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas
ao tema.

Questão 1

Os fragmentos a seguir constituem parágrafos de um texto, mas não estão


ordenados. Ordene-os de forma coerente e coesa e assinale a resposta com a
sequência correta:

1. O motorista dizia: “isso aqui é tudo de Renan, isso aqui de Lira, isso aqui de fulano,
sicrano”. Eu olhava e só via vazios com algumas almas penadas nas estradas. “E isso
aqui é do MST.”

2. Você já viajou pelo interior de Alagoas? Há alguns meses eu fui de carro até uma
cidade a apenas uma hora e meia de Maceió. Parecia um deserto vermelho de
barro, pontilhado de miseráveis vilarejos de uma só rua.

3. Andamos meia hora sem ver casas, nem plantações, além de algumas usinas
desativadas. Era o silêncio da miséria, a paz do nada, onde vagam os vassalos do
feudalismo nordestino. Aqueles municípios paralíticos já são catástrofes secas, só
que silenciosas, paradas no tempo.

4. Só nos restou a solidariedade, mas como sentir a dor de um pobre homem


catando comida na lama para dar ao filho chorando no colo? Dizendo o que? “Aí
que horror?” A solidariedade tinha de vir antes para proteger aqueles brasileiros
raquíticos, famintos, analfabetos, que só são procurados pelos donos do nordeste
para votos ou para serem “laranjas” em roubalheiras das oligarquias.

170 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

5. De repente, esta tragédia fixa, quase invisível, se transformou em uma tragédia


bruta e retumbante. Ai, o verdadeiro Brasil apareceu diante de nós: abandonado,
sem verbas, só usadas por interesses políticos do governo.

(Fonte: Arnaldo Jabor, em <http://colunas.jg.globo.com/


arnaldojabor/2010/06/30/o silencio-da-miseria-onde-vagam-os-vassalos-do-
feudalismo-nordestino/>)

a) 2, 1, 3, 5, 4

b) 5, 4, 3, 2, 1.

c) 2, 1, 4, 3, 5.

d) 3, 2, 5, 4, 1.

e) 2, 1, 5, 4, 3.

Questão 2

Considere as seguintes sentenças.

I. Inúmeros grupos de trabalhadores têm seus salários defasados, ainda que a


inflação esteja controlada.

II. Lugar de criança é na escola, entretanto há inúmeras crianças fora dela.

III. Embora os mananciais de águas no Brasil sejam enormes, onde há natureza


devemos preservar.

Qual(ais) sentença(s) anterior(es) apresenta(m) problema de coerência?

a) I e II.

b) II e III.

c) Somente a I.

d) Somente a II.

e) Somente a III.

Questão 3

Assinale a opção que preenche, de forma coesa e coerente, as lacunas do texto


abaixo.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 171


T10

O fenômeno da globalização econômica ocasionou uma série ampla e complexa


de mudanças sociais no nível interno e externo da sociedade, afetando, em
especial, o poder regulador do Estado. _________________ a estonteante rapidez
e abrangência _________ tais mudanças ocorrem, é preciso considerar que em
qualquer sociedade, em todos os tempos, a mudança existiu como algo inerente
ao sistema social.

(Adaptado de texto da Revista do TCU, n. 82)

a) Não obstante – com que.

b) Portanto – de que.

c) De maneira que – a que.

d) Porquanto – ao que.

e) Quando – de que.

Questão 4

Assinale a opção que não constitui uma articulação coesa e coerente para as duas
partes do texto.

O capital humano é a grande âncora do desenvolvimento na Sociedade de


Serviços, alimentada pelo conhecimento, pela informação e pela comunicação,
que se configuram como peças-chave na economia e na sociedade do século XXI.
___________ no mundo pós-moderno, um país ou uma comunidade equivale à
sua densidade e potencial educacional, cultural e científico-tecnológico, capazes
de gerar serviços, informações, conhecimentos e bens tangíveis e intangíveis, que
criem as condições necessárias para inovar, criar, inventar. (Aspásia Camargo, “Um
novo paradigma de desenvolvimento”).

a) Diante dessas considerações,

b) É necessário considerar a ideia oposta de que,

c) Partindo-se dessas premissas,

d) Tendo como pressupostos essas afirmações,

e) Aceitando-se essa premissa, é preciso considerar que,

172 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

Questão 5

Leia o texto e assinale a alternativa correta:

O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava fazer


uma forte marcação no meio campo e tentar lançamentos para Victor Simões,
isolado entre os zagueiros rubro-negros. Mesmo com mais posse de bola, o
time dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de chegar à área alvinegra por
causa do bloqueio montado pelo Botafogo na frente da sua área. No entanto, na
primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Após cruzamento da direita de Ibson, a
zaga alvinegra rebateu a bola de cabeça para o meio da área. Kléberson apareceu
na jogada e cabeceou por cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas
costas da defesa e empurrou para o fundo da rede quase que em cima da linha:

Flamengo 1 a 0.

Disponível em: <http://www.momentodofutebol.com/2009/05/flamengo-


tricampeao-carioca-em-2009.html> (adaptado).

O texto que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol,
realizado em 2009, contém vários conectivos, sendo que:

a) Após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter


rebatido a bola de cabeça.

b) Enquanto tem um significado alternativo uma vez que conecta duas opções
possíveis para serem aplicadas no jogo.

c) No entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos observados no


jogo em ordem cronológica de ocorrência.

d) Mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter dificuldade
não é algo naturalmente esperado.

e) Por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo


motivaram o Botafogo a fazer um bloqueio.

Leia o texto seguinte para responder as questões 6 e 7.

A regreção da redassão

Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso.


Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.

– Mas, minha senhora – desculpei-me –, eu não sou professor.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 173


T10

– Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.

– A culpa não é deles. A falha é do ensino.

– Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve
muito bem.

– Obrigado – agradeci –, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e
nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao
revisor.

– Não faz mal – insistiu –, o senhor vem e traz um revisor.

Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar –, eu não tenho o menor jeito
com crianças.

– E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.

Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não
deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi
de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jornal
as declarações de um diretor da faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito
mal”. Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram:
acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que
já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém
escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.

Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um


coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem
árvore.

– Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante
brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a
concorrência e me garante emprego por mais dez anos.

– Engano seu – disse ele. - A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que
mudar de profissão.

– Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance
eu tenho de sobreviver.

– E você sabe por que essa geração não sabe escrever?

– Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis.

– Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E
quando o perder completamente, você vai escrever para quem?

174 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as
utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num
açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do
Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de
estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer
às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:

– Por favor, amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.

– Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que
leio é a bula de remédio.

– E a senhorita não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma


universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.

– O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto?
Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.

– E o senhor, não está interessado nuns textos?

– É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?

– E o senhor, vai? Leva três e paga um.

– Deixa eu ver o tamanho - pediu ele.

Assustou-se com o tamanho do texto:

– O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho
tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?

Não há dúvidas: o estudante brasileiro não sabe escrever. Não sabe escrever
porque não lê. E não lendo, também desaprende a falar [...].

[...] tudo isso me faz pensar que estamos muito mais perto do que se imaginava.
Tudo isso me faz pensar que estamos muito mais perto do que se imaginava da
Idade da Pedra. A prosseguir nessa gravação, ou a regredir nessa progressão, não
demora muito, estaremos todos de tacape na mão reinventando os hieróglifos.
Neste dia, então, a palavra escrever ganhará uma nova grafia: ex-crever.”

(NOVAES, 1976).

Questão 6

Explique o título do texto.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 175


T10

Questão 7

Comente o que o autor quis dizer com: “ex-crever”.

Questão 8

Leia o texto 1:

João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também
os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da
Relatividade o espaço é curvo. A geometria rimaniana dá conta desse fenômeno.
(MARCUSCHI, 1982, p. 31).

Leia o texto 2:

[...]

Lá dentro havia uma fumaça espessa que não deixava que víssemos ninguém.Meu
colega foi à cozinha, deixando-me sozinho. Fiquei encostado na parede da sala,
observando as pessoas que lá estavam. Na festa, havia pessoas de todos os tipos:
ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas etc. [...]. (PLATÃO; FIORIN, 1996, p.
397).

O que torna esses textos confusos, incoerentes?

Questão 9

A coesão integra um dos requisitos imprescindíveis à construção de todo e


qualquer texto. Há, portanto, alguns elementos que funcionam como principais
agentes nesse processo, com vistas a fazer com que a mensagem se materialize de
forma clara e precisa. Assim sendo, o texto que ora se evidencia a seguir carece de
tais elementos, e sua principal tarefa é apontá-los, tendo como base os exemplos
sugeridos.

Muito suor, pouca descoberta

O trabalho do arqueólogo tem emoções, sim. ________ não pense em Indiana


Jones, bandidos e tesouros. É verdade ________ os arqueólogos passam um bom
tempo em lugares excitantes, como pirâmides e ruínas. ________ as emoções
acontecem mesmo é nos laboratórios, ________ identificam a importância das

176 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

coisas que acharam nos sítios arqueológicos. ________, é preciso persistência


para encarar a profissão, ________ os resultados demoram, e muita gente passa
a vida estudando sem fazer grandes descobertas. No Brasil, é necessário fazer
pós-graduação, ________ não há faculdade de Arqueologia. ________, é preciso
gostar de viver sem rotina, ________ o arqueólogo passa meses no laboratório
e outros em campo. O prêmio é fazer descobertas que mudam a história. (Super
for Kids, nº 1).

porque – mas – eles – pois – portanto – mas – além disso – que – porque – quando

Questão 10

Somente a coesão não é suficiente para que haja sentido no texto. Esse é o papel
da coerência, e coerência se relaciona intimamente a contexto.

Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento de cada lacuna


correspondente provoca defeito de coesão e incoerência nos sentidos do texto.

1- A violência no País há muito ultrapassou todos os limites. ___1___ dados recentes


mostram o Brasil como um dos países mais violentos do mundo, levando-se em
conta o risco de morte por homicídio.

2- Em 1980, tínhamos uma média de, aproximadamente, doze homicídios por


cem mil habitantes. ___2___, nas duas décadas seguintes, o grau de violência
intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do índice verificado
em 1980 – 121,6% –, ___3___, ao final dos anos 90 foi superado o patamar de
25 homicídios por cem mil habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade de
trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a cada queda de 1% do PIB a violência
crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e 1990.

3- Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostram que os custos


da violência consumiram, apenas no setor saúde, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997.
___5___ a vitimização letal se distribui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens
pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a
própria vida o preço da escalada da violência no Brasil.(Adaptado de <http://www.
brasil.gov.br/acoes.htm>).

a) 1 – Tanto é assim que.

b) 2 – Lamentavelmente.

c) 3 – ou seja.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 177


T10

d) 4 – Simultaneamente.

e) 5 – Se bem que.

FINALIZANDO

Nesta aula, você estudou sobre coerência textual e a importância de organizar


os pensamentos de maneira lógica e coerente para poder passá-los para o papel.
Um texto coerente é aquele que segue uma linha lógica do raciocínio, respeitando
as normas da língua, além de fazer as conexões necessárias entre os vários
enunciados de um texto, em uma associação íntima de relações e sentidos de
suas partes.

É fundamental que os documentos escritos e produzidos pelo professor


apresentem o texto claro e objetivo, sendo este coerente e sem ambiguidades,
uma vez que eles serão apreciados por vários alunos.

Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de
acessar seu desafio profissional e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons
estudos!

178 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


T10

REFERÊNCIAS

KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.

______. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.

______. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1995.

______. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2001.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2013.

NOVAES, C. E. Os mistérios do aquém. 2. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1976.

MARCUSCHI, L. A. A linguística do texto: o que é e como se faz. Recife, UFPE, 1982.

PLATÃO S. F.; FIORIN L. J. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo, Ática,
1996.

REVISTA DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. R. TCU, Brasília, v. 30, n. 82, out./


dez. 1999. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/
comunidades/biblioteca_tcu/biblioteca_digital/REVISTA0082.pdf>. Acesso em: 18
nov. 2013.

GLOSSÁRIO

Concatenação: colocar em ordem, prender, encadear. A concatenação é uma


operação binária, definida sobre uma linguagem, a qual associa a cada par de
palavras uma palavra formada pela justaposição da primeira com a segunda. Uma
concatenação é denotada pela justaposição dos símbolos que representam as
palavras componentes.

Conectivos: além da constante referência entre palavras do texto, observa-se na


coesão a propriedade de unir termos e orações por meio de conectivos, que são
representados, na Gramática, por inúmeras palavras e expressões. A escolha errada
desses conectivos pode ocasionar a deturpação do sentido do texto.

Inteligibilidade: capacidade de perceber e compreender bem as coisas, dada toda


a complexidade e multiplicidade do nosso mundo.

Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade 179


T10

Interpretabilidade: de modo geral, pode-se dizer que a coerência é o ponto


de partida da interpretabilidade e da compreensão de qualquer texto: é ela que
garante o “sentido” que um autor quer passar para um leitor, o qual, por sua vez,
terá condições de atribuir um sentido ao que leu. Essa interpretabilidade depende
de vários fatores como, por exemplo, a organização dos elementos linguísticos de
um texto (conhecimento linguístico), a situação em que um texto foi produzido e/
ou recebido (conhecimento do mundo), os pontos comuns entre o emissor e o
receptor (conhecimento partilhado).

Proposições: é um termo usado em lógica para descrever o conteúdo de asserções.


Uma asserção é um conteúdo que pode ser tomado como verdadeiro ou falso.
Asserções são abstrações de sentenças não linguísticas que as constituem. A
natureza das proposições é altamente controversa entre filósofos, muitos dos
quais são céticos sobre a existência de proposições. Muitos lógicos preferem
evitar o uso do termo proposição em favor de usar sentença. Diferentes sentenças
podem expressar a mesma proposição quando têm o mesmo significado. Por
exemplo, “A neve é branca” e “Snow is white” são sentenças diferentes, mas ambas
dizem a mesma coisa, a saber, que a neve é branca. Logo, expressam a mesma
proposição. Outro exemplo de sentença que expressa a mesma proposição que as
anteriores é “A precipitação de pequenos cristais de água congelada é branca”, pois
“precipitação de pequenos cristais de água congelada” é a definição de “neve”. Na
lógica aristotélica uma proposição é um tipo particular de sentença, a saber, aquela
que afirma ou nega um predicado de um sujeito.

180 Coerência Textual: Um Princípio de Interpretabilidade


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